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Diário do Minho
TERÇA-FEIRA, 10 de abril de 2012                                     Entrevista                                                                             www.diariodominho.pt                  15

Entrevista Diário do Minho/Rádio FF a António Marques, presidente da AIMinho

Sem riqueza não há emprego
                                                                                                                                                                     DR
A entrevista pode ser ou-         AM   O tecido empresarial não                                                                                                           dade. Há duas ou três áreas
vida integralmente no site        é todo igual. A nossa região é                                                                                                          que passam com distinção: o
da Rádio FF, em www.fa-           marcada pela indústria. O in-                                                                                                           têxtil, embora haja algumas
cfil.braga.ucp.pt                 dustrial pensa, habitualmente,                                                                                                          empresas em dificuldade; o
                                  que o importante é produzir.                                                                                                            calçado, que apanha margi-
     Luís da Silva Pereira                                                                                                                                                nalmente a nossa região; e a
                                  Mas começou a perceber que,
     Luísa Magalhães/FF
                                  afinal, o importante não é só                                                                                                           metalomecânica pura. Estão
                                  produzir. Percebeu que tam-                                                                                                             relativamente bem. Digo rela-
Luísa Magalhães (LM) – Dr.        bém é importante vender, e                                                                                                              tivamente porque podem al-
António Marques, é uma            com lucro, não obstante as ten-                                                                                                         guns empresários ouvir ou ler
honra tê-lo aos microfones        dências em Portugal para con-                                                                                                           o que estamos a dizer e dis-
do Periscópio da Rádio F.F.       denar o que é lucro. O país só                                                                                                          cordar. Sei que há dificulda-
Lançamos o desafio de con-        será bom se tiver muito lucro,                                                                                                          des, mas, neste enquadramen-
versar com os alunos da Fa-       feito com ética, com trabalho,                                                                                                          to, está a correr relativamen-
culdade de Filosofia, com os      cumprindo as regras, ao con-                                                                                                            te bem.
leitores do Diário do Minho       trário de alguns fundamenta-
e, principalmente, com todo       listas que ideologicamente de-                                                                                                          LM  Então em que área é que
o tecido social que está de-      fendem o contrário.                                                                                                                     as coisas estão a correr
pendente da área empresa-                                                                                                                                                 mal?
rial que a AIMinho engloba.       LM   Não é possível defender                                                                                                            AM O que está a correr pior é

A primeira pergunta é inevi-      a falta de lucro…                                                                                                                       o setor da construção e obras
tável: como é ser o presiden-     AM É claro, mas há muita gen-                                                                                                           públicas.
                                                                     António Marques, presidente da AIMinho
te da AIMinho?                    te que pensa que o país sai
António Marques (AM) – An-        da situação em que está sem        proximidades da empresa. Co-     mundo onde não estamos em         te, as empresas querem ven-       LM   E não virá a ultrapassar
tes de responder, quero saudar,   riqueza. Sem riqueza não há        municar é algo decisivo, até     atividades protegidas.            der, mas não há clientes com      a crise, como a ultrapassou
na sua pessoa, a Universidade     emprego. Algumas pessoas           nos maus momentos.                                                 rendimento disponível.            o setor têxtil?
Católica e saudar que se faça     estão tolhidas por uma ideo-                                        LM  E quanto às áreas?                                              AM O têxtil arrepiou caminho.

algo de excelência, sobretu-      logia que já morreu há mui-        LM  Sobretudo nos maus mo-       AM  Quanto às áreas, não lhe      LM   E o financiamento da         Os empresários viraram-se
do, fora de Lisboa, dos gran-     tas dezenas de anos. O em-         mentos…                          posso dizer quais é que vivem     economia?                         para as novas tecnologias, os
des centros. Braga e a região     presário finalmente percebeu       AM Sobretudo nos maus mo-        momentos bons. Para fazer o       AM Associada à descida da         novos produtos, os têxteis téc-
bem merecem. O tema “comu-        que é preciso produzir, pro-       mentos. É importante e deci-     enquadramento: em maio de         procura, há uma quebra no fi-     nicos. Começaram a olhar para
nicação empresarial” tem esta-    duzir bem, com qualidade,          sivo saber comunicar. A AIMi-    2011, o antigo Governo assi-      nanciamento da economia.          a moda, para os novos merca-
do ausente das nossas iniciati-   com eficiência. E é preciso ven-   nho tem feito o que, às vezes,   nou o memorando com a Troi-       Porquê? Os mercados disse-        dos, começaram a produzir
vas e da atividade empresarial.   der com boa margem. Vender         as pessoas não percecionam       ka, que tem três obrigações:      ram que Portugal estava ao        com outra qualidade. No cal-
Para iniciar a resposta “Como     aqui ou lá fora. Chama-se a        como algo importante na de-      pôr as contas públicas em or-     nível do lixo. Qual foi a con-    çado, a mesma coisa, sobretu-
é ser presidente da Associa-      isso exportação e internacio-      fesa dos seus empresários: pôr   dem, recapitalizar e estabili-    sequência? Foi que perdemos       do no calçado emblemático,
ção Empresarial do Minho?”, é     nalização das empresas, ou         em cima da mesa um tema          zar o sistema financeiro e, fi-   a oportunidade de nos finan-      porque o made in Portugal não
algo muito simples e pragmá-      dos seus produtos. Mas há um       que se chama comunicação         nalmente, as reformas estru-      ciarmos no exterior. O setor      passava no estrangeiro. O
tico. É uma honra representar     aspeto que me parece impor-        permanente. A única pessoa       turais. São os três pratos do     empresarial do Estado e as        made in Italy era, de facto, o
um tecido empresarial que tem     tante e cuja falta penaliza mui-   que contratei para os quadros    menu da Troika. O que é que       empresas públicas que esta-       valor acrescentado. O mesmo
coisas muito boas. Criamos ri-    to a região. A área empresa-       da associação foi para a comu-   aconteceu depois disso? Com       vam endividadas a bancos es-      par de sapatos made in Portu-
queza e emprego. Temos em-        rial não pensa ainda em quan-      nicação e imagem, porque re-     as medidas de austeridade,        trangeiros tiveram que liqui-     gal ou made in Italy tinha va-
presários de excelência, temos    to é importante comunicar          puto que é algo decisivo para    associadas à falta de financia-   dar as suas responsabilidades.    lores completamente diferen-
coisas que são mostráveis em      com os clientes, com os for-       as organizações. Só defende-     mento da economia, estamos        Onde foram buscar o dinhei-       tes, em desfavor de Portugal.
qualquer parte do mundo. Por      necedores, com os trabalha-        mos as nossas empresas se for-   hoje em grandes dificuldades.     ro? Como não tinham depó-         Hoje não é assim. Porquê? Por-
essas razões, é um encanto ser    dores, comunicar com os            mos capazes de comunicar. É      Porquê? Porque o mercado          sito a prazo tiveram que ir pe-   que o calçado tem uma asso-
presidente da AIMinho.            stakeholders, os que vivem nas     assim que vencemos num           global desceu e, internamen-      dir à banca portuguesa. Esse      ciação empresarial de excelên-
                                                                                                                                        dinheiro fugiu da economia,       cia, um centro tecnológico de
LM  Em relação a este tecido                                                                                                            do tecido produtivo. Passada      calçado de excelência, e os




                                  “
empresarial que a AIMinho                                                                                                               meia dúzia de meses, a aus-       empresários perceberam que
cobre, quais são as áreas que                                                                                                           teridade, por um lado, a falta    era preciso antecipar o tema
                                          Hoje, made in Portugal passa bem em qualquer                                                                                    em devido tempo.
estão em pior situação? Que                                                                                                             de financiamento por outro,
soluções há para resolver
                                                       mercado do mundo                                                                 está a levar a que a maior par-
esta crise?

                                                                                                                              ”         te das áreas esteja em dificul-              Continua na página 16
16                         www.diariodominho.pt                                     Entrevista                                                                                      Diário do Minho
                                                                                                                                                                     TERÇA-FEIRA, 10 de abril de 2012




Quem não comunicar bem
não passa na malha dos negócios
                                                                                                                                                                      DR
Continuação da página 15                                                                                                                                                   radas. Os empresários foram
                                                                                                                                                                           induzidos em erro durante dé-
LM  São, portanto, os parâ-
                                                                                                                                                                           cadas. Temos empresários no-
metros de qualidade que es-
                                                                                                                                                                           táveis, com um instinto fatal
tão em causa.
                                                                                                                                                                           para o negócio. São do me-
AM Os parâmetros de qualida-
                                                                                                                                                                           lhor que há no mundo. Mas
de, da moda, dos modelos…
                                                                                                                                                                           o facto de eu, institucional-
                                                                                                                                                                           mente, ser o presidente da As-
LM   O preço, não?
                                                                                                                                                                           sociação Industrial do Minho
AM   O preço, sim. Hoje um par
                                                                                                                                                                           obriga-me a dizer que não há
de sapatos está ao nível do
                                                                                                                                                                           empresários nem empresas
preço de Itália. Além da qua-
                                                                                                                                                                           continuadamente competiti-
lidade que sempre tivemos,
                                                                                                                                                                           vas, se não houver um país
conseguimos pôr em cima do
                                                                                                                                                                           continuadamente competiti-
produto a moda, o design, a
                                                                                                                                                                           vo. E o meu país não o é.
tecnologia, pusemos a marca.
Hoje made in Portugal passa                                                                                                                                                LM   Está a referir-se aos fa-
bem em qualquer mercado
                                                                                                                                                                           tores de produção?
do mundo. É comparável com                                                                                                                                                 AM Não vou falar naquela la-
Itália. Estamos a falar de dois
                                                                                                                                                                           dainha da legislação laboral,
setores que são exportáveis,
                                                                                                                                                                           que muito ofende os sindica-
o têxtil e o calçado exportam
                                                                                                                                                                           tos, nem no preço da energia.
muito.
                                                                                                                                                                           Falo, por exemplo, nesta pou-
                                                                                                                                                                           ca vergonha que é pagar o
LM  Continuo a pensar que
                                                                                                                                                                           IVA ao Estado, passados uns
para o desenvolvimento des-
                                                                                                                                                                           dias, e só receber do meu
sa área também terá contri-        António Marques e Luísa Magalhães, produtora do programa Periscópio
                                                                                                                                                                           cliente passados 3, 4 meses,
buído muito uma boa estra-
                                                                                                                                                                           1 ano. Às vezes nem recebo
tégia de comunicação.
                                                                                                                                                                           porque as coisas correm mal.



                                   “
AM Quem não comunicar
                                                                                                                                                                           Uma empresa que venda um
bem, e temos excelentes                        Mais do que nunca, a comunicação tem que estar                                                                              milhão de euros, tem que en-
exemplos em Braga de boa
comunicação, quem não co-
                                                    na agenda de cada uma das empresas                                                                                     tregar, passados dias, ao Esta-



                                                                                                                                                                 ”
                                                                                                                                                                           do sabe quanto? Hoje, pela
municar bem não passa na
                                                                                                                                                                           taxa dos 23, tem que entre-
malha dos negócios. E comu-
                                                                                                                                                                           gar 230 mil euros, mas prova-
nicar não é só pôr um anún-
                                                                                                                                                                           velmente só vai receber do
cio no Diário do Minho. Tenho      que nunca, a comunicação        não achar que é importante.         rio tem de comunicar bem.          os banqueiros. É importantís-
                                                                                                                                                                           seu cliente daqui a 4 ou 6 me-
que ajustar a minha comuni-        tem que estar na agenda de      Mas comunicar é algo instru-        Comunicar com os trabalha-         simo falar até com a família,
                                                                                                                                                                           ses. As empresas não têm te-
cação aos vários públicos. Se      cada uma das empresas, para     mental para esta tarefa nobre       dores e as estruturas sindicais.   com os colegas de administra-
                                                                                                                                                                           souraria para aguentar isto.
é um público institucional, se     ter sucesso.                    que é produzir, vender, criar ri-   Eu sei que alguns sindicatos       ção. Isto é comunicar.
é particular…                                                      queza, criar emprego. Tenho a       não estão do lado da empre-                                         LM  Exige um músculo finan-
                                   LM   A Faculdade de Filosofia   certeza de que grande parte         sa. Dizer do lado da empresa       LM  É comunicação interna.
                                                                                                                                                                           ceiro muito grande.
LM  Chama-se dominar pro-          espera ter uma boa respos-      dos empresários não quer ou-        é dizer do lado dos trabalha-      O problema está em conven-       AM Exatamente. É a parte fis-
tocolos.                           ta dos empresários da re-       vir falar do tema. Há-de repa-      dores, do empresário, da equi-     cer os empresários que, mui-
                                                                                                                                                                           cal que continua a esmagar as
AM Exatamente. Hoje como           gião, no sentido de oferecer    rar que, quando a crise apare-      pa. Ao contrário do que alguns     tas vezes, o seu grande pro-
                                                                                                                                                                           empresas e as pessoas. Retira-
nunca, recomendaria à minha        às pequenas e médias em-        ce, a publicidade baixa auto-       defendem, retomando Karl           blema é um problema inter-
                                                                                                                                                                           -lhes competitividade. Hoje, os
região, já que a Católica o faz,   presas a possibilidade de ga-   maticamente, mas temos que          Marx, já não vivemos em luta       no e é esse que tem de ser
                                                                                                                                                                           organismos do Estado, que são
e provavelmente a preços mui-      nhar um instrumento de          fazer um grande esforço.            de classes. Hoje trabalhamos       resolvido primeiro.
                                                                                                                                                                           pagos pelos nossos impostos,
to ajustados à carteira de to-     formação em termos de co-                                           em equipa, em cooperação.          AM Mas eu diria também ou-
                                                                                                                                                                           pessoas e empresas, têm como
dos, recomendaria que olhas-       municação e estratégia que      LM  A publicidade é apenas          Trabalhadores, empresários,        tra coisa. Não me sinto bem
                                                                                                                                                                           passatempo porem pedras no
sem para a comunicação como        lhes permita uma visão de       um dos aspetos da comuni-           clientes, fazemos parte de uma     quando se trata mal os em-
                                                                                                                                                                           caminho. Sou acionista de uma
forma de chegar aos negó-          futuro.                         cação.                              equipa que tem de marcar go-       presários. Hoje, em Portugal,
                                                                                                                                                                           empresa têxtil que demorou
cios. Num mercado em crise,        AM Totalmente de acordo com     AM Claro. A publicidade deve        los, criar riqueza e emprego. É    tudo o que acontece é culpa
                                                                                                                                                                           mais de 10 anos a ser licen-
se faço coisas boas, tenho de      este aspeto da comunicação      surgir de uma política de co-       importantíssimo ter uma boa        dos empresários. Estou nos
                                                                                                                                                                           ciada...
as comunicar ao mercado in-        empresarial. Em momentos de     municação. Quando as coisas         comunicação com os sindica-        antípodas desta visão. Tive-
terno e ao externo. Mais do        crise, os empresários podem     correm mal é que o empresá-         tos, com os fornecedores, com      mos foi políticas públicas er-              Continua na página 17
Diário do Minho
TERÇA-FEIRA, 10 de abril de 2012                                                        Entrevista                                               www.diariodominho.pt                           17


Já não vivemos em luta de classes
                                                                                                                                                                    DR
Continuação da página 16           facilidades que aqui não vou       sível? Acha normal, em deter-                                                                      sassossego intelectual em que
                                   comentar... Devo dizer ainda       minadas ruas de Braga, casas                                                                       vivemos. Por que é que a área
LM  Isso é uma burocracia in-      que Portugal não controla          brutais e a pessoa não paga                                                                        política não está interessada
compreensível...                   bem. Tem de facilitar as pes-      praticamente IRS? É preciso                                                                        nisto? Não vou responder. Te-
AM Por que é que a porta do        soas e as atividades econó-        ter a coragem política para,                                                                       nho a minha resposta, mas
balneário dos trabalhadores        micas, mas também de ter           de uma vez por todas, ver o                                                                        não vou responder.
que abria para a esquerda          mão pesada para quem pre-          que se passa. Como é que
tem que abrir para a direita?      varica. Por exemplo, acha nor-     ando de Mercedes ou de Fer-                                                                        LM   Há respostas que não
Mais dois anos. Arranjamos         mal alunos universitários de       rari, tenho a casa que tenho                                                                       podem ser transcritas, as-
pequenos problemas que é           BMW e Mercedes terem bol-          e não pago impostos? De                                                                            sim, com tanta transparên-
para depois criarmos algumas       sas de estudo? Como é pos-         onde é que vem esse dinhei-                                                                        cia. Dr. António Marques de-
                                                                                                                                                                         pois de esta intervenção ca-
                                                                                                                                                                         lorosa, revolucionária e ho-
                                                                                                                                                                         nesta…

     Braga, em termos
                                                                                                                                                                         AM E autêntica!


                                                                                                         Instalações da AIMinho
                                                                                                                                                                         LM   E autêntica, resta-nos
     de construção, desapareceu                                                                         ro? É por isso que eu defen-
                                                                                                        do a criminalização do enri-
                                                                                                                                         que as finanças não fazem
                                                                                                                                         uma análise das verdadeiras
                                                                                                                                                                         agradecer a sua presença
                                                                                                                                                                         aos nossos microfones, e de-
                                                                                                        quecimento ilícito não só dos    fortunas, ou dos sinais exte-   sejar que, à frente da Asso-
     LM   O que é que se passou no setor da         LM  Estamos a falar, portanto, de estratégia
     construção?                                    empresarial?                                        políticos, mas de todos. Se      riores de riqueza?              ciação Industrial do Minho,
     AM No setor da construção não fomos ca-        AM Estamos a falar de estratégia. Braga, em         tenho um património de X                                         continue a estar uma pes-
     pazes de antecipar. A responsabilidade é       termos de construção, desapareceu. São              milhões, tenho que provar de     LM  Contas feitas, acabáva-     soa que defende os princí-
     dos governos, das câmaras, das associações     pequenas obras as que existem. Mas não é            onde é que vem o dinheiro.       mos por equilibrar as ba-       pios e os valores de uma
     empresariais, que não tiveram capacidade       só Braga, é o Minho, é o Norte, é o país.           Se se fizer isso, grande parte   lanças do Estado sem a          forma tão aguerrida e tão
     para convencer os seus clientes. E é também    Não há dinheiro para as grandes obras
                                                                                                        da corrupção acaba em Por-       Troika.                         honesta. Muito obrigada.
     dos empresários. Quando digo que o setor       públicas. Essa é uma razão de o investimen-
     não é exportável quero dizer que não posso     to público e o PIB estarem a cair. Como não         tugal. Eu sou dos que enten-     AM Podíamos descer o IVA, o     AM Felicito a Universidade Ca-

     fazer apartamentos aqui e depois exportá-      temos possibilidade de fazer grandes obras,         dem que, para não esmagar        IRC, o IRS e dividíamos o es-   tólica e sobretudo a Faculda-
     -los. É só para o mercado interno, um mer-     restam as pequenas obras de proximidade             as pessoas e as empresas, te-    forço por todos. Mas o mais     de de Filosofia por este em-
     cado curto, que se esgota facilmente. Já em    que, lamentavelmente, o Governo não está            mos que recolher dados so-       importante é acabar com a       penho numa área tão impor-
     2003/2004 estava preocupado com o setor.       a pôr na agenda. Mas tem que pôr, urgen-            bre quem faz vida faustosa e     corrupção. Há coisas que se     tante para as nossas empre-
     Via em Braga, Famalicão Barcelos – em          temente. Podem salvar algumas pequenas
     Guimarães, menos – o “vende-se”, “vende-se”,                                                       não se sabe de onde é que        dizem, boatos, rumores, e não   sas e que muito contribuirá
                                                    empresas da nossa região e do país, que
     “vende-se”. Os empresários do setor da         são importantes para a riqueza e sobretudo          vem o dinheiro. Por que é        podemos continuar neste de-     para o seu sucesso.
     construção não perceberam a mensagem,          para o emprego.
     antecipando a correção do mercado. Mais                                                            Pub

     tarde, há três, quatro anos, a associação      LM   Mas qual é a solução?
     começou a desenhar um projeto que veio a       AM   A solução é as empresas ganharem
     dar no cluster da construção. O cluster da     músculo e massa crítica para ir para o exte-
     construção não chega a 40 empresas. São        rior. Para isso não podem ir sozinhas, não
     empresas de novas tecnologias, de energias,    temos dimensão. Nenhuma empresa, por
     enfim, é muito mais vasto que a construção     exemplo, na região do Minho tem capaci-
     e obras públicas. Tem uma visão muito mais     dade para, isoladamente, assumir grandes
     em banda larga.                                projetos no exterior. É isto que os empresá-
                                                    rios, de uma vez por todas, têm de perceber.
     LM Esse cluster foi feito na sequência de
                                                    Se não perceberem, não vão sobreviver.
     um projeto da Associação Empresarial do
     Minho…                                         LM  Mas há grandes empresas de constru-
     AM Sim, desenvolveu-se no sentido de
                                                    ção!
     conquistar as empresas internacionais.         AM São grandes, mas são pequenas no
     Porquê? Eu posso exportar lençóis e sapa-      mundo. Se é para ir para o exterior, temos
     tos, mas não posso exportar prédios.           que ter juízo na cabeça e perceber que, so-
     Posso exportar experiência e mão de obra       zinho, não chego lá. É esta a esperança que
     qualificada. Se vou para Angola, levo daqui    eu tenho: que os empresários, colocando os
     alguns trabalhadores, mas a grande parte       olhos naquilo que a sua associação regional
     vai ser de Angola, como é evidente. Ainda      e outras associações estão a fazer, percebam
     hoje lamento os empresários não terem          a ideia do cluster, de criar massa crítica, criar
     tido a inteligência e a coragem de sair da     músculo, preparar as pessoas para a inter-
     sua zona cómoda, da sua empresa. Têm de        nacionalização. Porque internacionalizar no
     ter mais músculo, de caminhar no sentido       Irão não é a mesma coisa que na Rússia ou
     da concentração da empresa, da concen-         na França. Uns mercados exigem pessoas
     tração de estruturas, para irem para o         com determinado perfil, e outros mercados
     exterior.                                      exigem pessoas com outro perfil.

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Entrevista AIMinho: Comunicação decisiva em tempos difíceis

  • 1. Diário do Minho TERÇA-FEIRA, 10 de abril de 2012 Entrevista www.diariodominho.pt 15 Entrevista Diário do Minho/Rádio FF a António Marques, presidente da AIMinho Sem riqueza não há emprego DR A entrevista pode ser ou- AM O tecido empresarial não dade. Há duas ou três áreas vida integralmente no site é todo igual. A nossa região é que passam com distinção: o da Rádio FF, em www.fa- marcada pela indústria. O in- têxtil, embora haja algumas cfil.braga.ucp.pt dustrial pensa, habitualmente, empresas em dificuldade; o que o importante é produzir. calçado, que apanha margi- Luís da Silva Pereira nalmente a nossa região; e a Mas começou a perceber que, Luísa Magalhães/FF afinal, o importante não é só metalomecânica pura. Estão produzir. Percebeu que tam- relativamente bem. Digo rela- Luísa Magalhães (LM) – Dr. bém é importante vender, e tivamente porque podem al- António Marques, é uma com lucro, não obstante as ten- guns empresários ouvir ou ler honra tê-lo aos microfones dências em Portugal para con- o que estamos a dizer e dis- do Periscópio da Rádio F.F. denar o que é lucro. O país só cordar. Sei que há dificulda- Lançamos o desafio de con- será bom se tiver muito lucro, des, mas, neste enquadramen- versar com os alunos da Fa- feito com ética, com trabalho, to, está a correr relativamen- culdade de Filosofia, com os cumprindo as regras, ao con- te bem. leitores do Diário do Minho trário de alguns fundamenta- e, principalmente, com todo listas que ideologicamente de- LM Então em que área é que o tecido social que está de- fendem o contrário. as coisas estão a correr pendente da área empresa- mal? rial que a AIMinho engloba. LM Não é possível defender AM O que está a correr pior é A primeira pergunta é inevi- a falta de lucro… o setor da construção e obras tável: como é ser o presiden- AM É claro, mas há muita gen- públicas. António Marques, presidente da AIMinho te da AIMinho? te que pensa que o país sai António Marques (AM) – An- da situação em que está sem proximidades da empresa. Co- mundo onde não estamos em te, as empresas querem ven- LM E não virá a ultrapassar tes de responder, quero saudar, riqueza. Sem riqueza não há municar é algo decisivo, até atividades protegidas. der, mas não há clientes com a crise, como a ultrapassou na sua pessoa, a Universidade emprego. Algumas pessoas nos maus momentos. rendimento disponível. o setor têxtil? Católica e saudar que se faça estão tolhidas por uma ideo- LM E quanto às áreas? AM O têxtil arrepiou caminho. algo de excelência, sobretu- logia que já morreu há mui- LM Sobretudo nos maus mo- AM Quanto às áreas, não lhe LM E o financiamento da Os empresários viraram-se do, fora de Lisboa, dos gran- tas dezenas de anos. O em- mentos… posso dizer quais é que vivem economia? para as novas tecnologias, os des centros. Braga e a região presário finalmente percebeu AM Sobretudo nos maus mo- momentos bons. Para fazer o AM Associada à descida da novos produtos, os têxteis téc- bem merecem. O tema “comu- que é preciso produzir, pro- mentos. É importante e deci- enquadramento: em maio de procura, há uma quebra no fi- nicos. Começaram a olhar para nicação empresarial” tem esta- duzir bem, com qualidade, sivo saber comunicar. A AIMi- 2011, o antigo Governo assi- nanciamento da economia. a moda, para os novos merca- do ausente das nossas iniciati- com eficiência. E é preciso ven- nho tem feito o que, às vezes, nou o memorando com a Troi- Porquê? Os mercados disse- dos, começaram a produzir vas e da atividade empresarial. der com boa margem. Vender as pessoas não percecionam ka, que tem três obrigações: ram que Portugal estava ao com outra qualidade. No cal- Para iniciar a resposta “Como aqui ou lá fora. Chama-se a como algo importante na de- pôr as contas públicas em or- nível do lixo. Qual foi a con- çado, a mesma coisa, sobretu- é ser presidente da Associa- isso exportação e internacio- fesa dos seus empresários: pôr dem, recapitalizar e estabili- sequência? Foi que perdemos do no calçado emblemático, ção Empresarial do Minho?”, é nalização das empresas, ou em cima da mesa um tema zar o sistema financeiro e, fi- a oportunidade de nos finan- porque o made in Portugal não algo muito simples e pragmá- dos seus produtos. Mas há um que se chama comunicação nalmente, as reformas estru- ciarmos no exterior. O setor passava no estrangeiro. O tico. É uma honra representar aspeto que me parece impor- permanente. A única pessoa turais. São os três pratos do empresarial do Estado e as made in Italy era, de facto, o um tecido empresarial que tem tante e cuja falta penaliza mui- que contratei para os quadros menu da Troika. O que é que empresas públicas que esta- valor acrescentado. O mesmo coisas muito boas. Criamos ri- to a região. A área empresa- da associação foi para a comu- aconteceu depois disso? Com vam endividadas a bancos es- par de sapatos made in Portu- queza e emprego. Temos em- rial não pensa ainda em quan- nicação e imagem, porque re- as medidas de austeridade, trangeiros tiveram que liqui- gal ou made in Italy tinha va- presários de excelência, temos to é importante comunicar puto que é algo decisivo para associadas à falta de financia- dar as suas responsabilidades. lores completamente diferen- coisas que são mostráveis em com os clientes, com os for- as organizações. Só defende- mento da economia, estamos Onde foram buscar o dinhei- tes, em desfavor de Portugal. qualquer parte do mundo. Por necedores, com os trabalha- mos as nossas empresas se for- hoje em grandes dificuldades. ro? Como não tinham depó- Hoje não é assim. Porquê? Por- essas razões, é um encanto ser dores, comunicar com os mos capazes de comunicar. É Porquê? Porque o mercado sito a prazo tiveram que ir pe- que o calçado tem uma asso- presidente da AIMinho. stakeholders, os que vivem nas assim que vencemos num global desceu e, internamen- dir à banca portuguesa. Esse ciação empresarial de excelên- dinheiro fugiu da economia, cia, um centro tecnológico de LM Em relação a este tecido do tecido produtivo. Passada calçado de excelência, e os “ empresarial que a AIMinho meia dúzia de meses, a aus- empresários perceberam que cobre, quais são as áreas que teridade, por um lado, a falta era preciso antecipar o tema Hoje, made in Portugal passa bem em qualquer em devido tempo. estão em pior situação? Que de financiamento por outro, soluções há para resolver mercado do mundo está a levar a que a maior par- esta crise? ” te das áreas esteja em dificul- Continua na página 16
  • 2. 16 www.diariodominho.pt Entrevista Diário do Minho TERÇA-FEIRA, 10 de abril de 2012 Quem não comunicar bem não passa na malha dos negócios DR Continuação da página 15 radas. Os empresários foram induzidos em erro durante dé- LM São, portanto, os parâ- cadas. Temos empresários no- metros de qualidade que es- táveis, com um instinto fatal tão em causa. para o negócio. São do me- AM Os parâmetros de qualida- lhor que há no mundo. Mas de, da moda, dos modelos… o facto de eu, institucional- mente, ser o presidente da As- LM O preço, não? sociação Industrial do Minho AM O preço, sim. Hoje um par obriga-me a dizer que não há de sapatos está ao nível do empresários nem empresas preço de Itália. Além da qua- continuadamente competiti- lidade que sempre tivemos, vas, se não houver um país conseguimos pôr em cima do continuadamente competiti- produto a moda, o design, a vo. E o meu país não o é. tecnologia, pusemos a marca. Hoje made in Portugal passa LM Está a referir-se aos fa- bem em qualquer mercado tores de produção? do mundo. É comparável com AM Não vou falar naquela la- Itália. Estamos a falar de dois dainha da legislação laboral, setores que são exportáveis, que muito ofende os sindica- o têxtil e o calçado exportam tos, nem no preço da energia. muito. Falo, por exemplo, nesta pou- ca vergonha que é pagar o LM Continuo a pensar que IVA ao Estado, passados uns para o desenvolvimento des- dias, e só receber do meu sa área também terá contri- António Marques e Luísa Magalhães, produtora do programa Periscópio cliente passados 3, 4 meses, buído muito uma boa estra- 1 ano. Às vezes nem recebo tégia de comunicação. porque as coisas correm mal. “ AM Quem não comunicar Uma empresa que venda um bem, e temos excelentes Mais do que nunca, a comunicação tem que estar milhão de euros, tem que en- exemplos em Braga de boa comunicação, quem não co- na agenda de cada uma das empresas tregar, passados dias, ao Esta- ” do sabe quanto? Hoje, pela municar bem não passa na taxa dos 23, tem que entre- malha dos negócios. E comu- gar 230 mil euros, mas prova- nicar não é só pôr um anún- velmente só vai receber do cio no Diário do Minho. Tenho que nunca, a comunicação não achar que é importante. rio tem de comunicar bem. os banqueiros. É importantís- seu cliente daqui a 4 ou 6 me- que ajustar a minha comuni- tem que estar na agenda de Mas comunicar é algo instru- Comunicar com os trabalha- simo falar até com a família, ses. As empresas não têm te- cação aos vários públicos. Se cada uma das empresas, para mental para esta tarefa nobre dores e as estruturas sindicais. com os colegas de administra- souraria para aguentar isto. é um público institucional, se ter sucesso. que é produzir, vender, criar ri- Eu sei que alguns sindicatos ção. Isto é comunicar. é particular… queza, criar emprego. Tenho a não estão do lado da empre- LM Exige um músculo finan- LM A Faculdade de Filosofia certeza de que grande parte sa. Dizer do lado da empresa LM É comunicação interna. ceiro muito grande. LM Chama-se dominar pro- espera ter uma boa respos- dos empresários não quer ou- é dizer do lado dos trabalha- O problema está em conven- AM Exatamente. É a parte fis- tocolos. ta dos empresários da re- vir falar do tema. Há-de repa- dores, do empresário, da equi- cer os empresários que, mui- cal que continua a esmagar as AM Exatamente. Hoje como gião, no sentido de oferecer rar que, quando a crise apare- pa. Ao contrário do que alguns tas vezes, o seu grande pro- empresas e as pessoas. Retira- nunca, recomendaria à minha às pequenas e médias em- ce, a publicidade baixa auto- defendem, retomando Karl blema é um problema inter- -lhes competitividade. Hoje, os região, já que a Católica o faz, presas a possibilidade de ga- maticamente, mas temos que Marx, já não vivemos em luta no e é esse que tem de ser organismos do Estado, que são e provavelmente a preços mui- nhar um instrumento de fazer um grande esforço. de classes. Hoje trabalhamos resolvido primeiro. pagos pelos nossos impostos, to ajustados à carteira de to- formação em termos de co- em equipa, em cooperação. AM Mas eu diria também ou- pessoas e empresas, têm como dos, recomendaria que olhas- municação e estratégia que LM A publicidade é apenas Trabalhadores, empresários, tra coisa. Não me sinto bem passatempo porem pedras no sem para a comunicação como lhes permita uma visão de um dos aspetos da comuni- clientes, fazemos parte de uma quando se trata mal os em- caminho. Sou acionista de uma forma de chegar aos negó- futuro. cação. equipa que tem de marcar go- presários. Hoje, em Portugal, empresa têxtil que demorou cios. Num mercado em crise, AM Totalmente de acordo com AM Claro. A publicidade deve los, criar riqueza e emprego. É tudo o que acontece é culpa mais de 10 anos a ser licen- se faço coisas boas, tenho de este aspeto da comunicação surgir de uma política de co- importantíssimo ter uma boa dos empresários. Estou nos ciada... as comunicar ao mercado in- empresarial. Em momentos de municação. Quando as coisas comunicação com os sindica- antípodas desta visão. Tive- terno e ao externo. Mais do crise, os empresários podem correm mal é que o empresá- tos, com os fornecedores, com mos foi políticas públicas er- Continua na página 17
  • 3. Diário do Minho TERÇA-FEIRA, 10 de abril de 2012 Entrevista www.diariodominho.pt 17 Já não vivemos em luta de classes DR Continuação da página 16 facilidades que aqui não vou sível? Acha normal, em deter- sassossego intelectual em que comentar... Devo dizer ainda minadas ruas de Braga, casas vivemos. Por que é que a área LM Isso é uma burocracia in- que Portugal não controla brutais e a pessoa não paga política não está interessada compreensível... bem. Tem de facilitar as pes- praticamente IRS? É preciso nisto? Não vou responder. Te- AM Por que é que a porta do soas e as atividades econó- ter a coragem política para, nho a minha resposta, mas balneário dos trabalhadores micas, mas também de ter de uma vez por todas, ver o não vou responder. que abria para a esquerda mão pesada para quem pre- que se passa. Como é que tem que abrir para a direita? varica. Por exemplo, acha nor- ando de Mercedes ou de Fer- LM Há respostas que não Mais dois anos. Arranjamos mal alunos universitários de rari, tenho a casa que tenho podem ser transcritas, as- pequenos problemas que é BMW e Mercedes terem bol- e não pago impostos? De sim, com tanta transparên- para depois criarmos algumas sas de estudo? Como é pos- onde é que vem esse dinhei- cia. Dr. António Marques de- pois de esta intervenção ca- lorosa, revolucionária e ho- nesta… Braga, em termos AM E autêntica! Instalações da AIMinho LM E autêntica, resta-nos de construção, desapareceu ro? É por isso que eu defen- do a criminalização do enri- que as finanças não fazem uma análise das verdadeiras agradecer a sua presença aos nossos microfones, e de- quecimento ilícito não só dos fortunas, ou dos sinais exte- sejar que, à frente da Asso- LM O que é que se passou no setor da LM Estamos a falar, portanto, de estratégia construção? empresarial? políticos, mas de todos. Se riores de riqueza? ciação Industrial do Minho, AM No setor da construção não fomos ca- AM Estamos a falar de estratégia. Braga, em tenho um património de X continue a estar uma pes- pazes de antecipar. A responsabilidade é termos de construção, desapareceu. São milhões, tenho que provar de LM Contas feitas, acabáva- soa que defende os princí- dos governos, das câmaras, das associações pequenas obras as que existem. Mas não é onde é que vem o dinheiro. mos por equilibrar as ba- pios e os valores de uma empresariais, que não tiveram capacidade só Braga, é o Minho, é o Norte, é o país. Se se fizer isso, grande parte lanças do Estado sem a forma tão aguerrida e tão para convencer os seus clientes. E é também Não há dinheiro para as grandes obras da corrupção acaba em Por- Troika. honesta. Muito obrigada. dos empresários. Quando digo que o setor públicas. Essa é uma razão de o investimen- não é exportável quero dizer que não posso to público e o PIB estarem a cair. Como não tugal. Eu sou dos que enten- AM Podíamos descer o IVA, o AM Felicito a Universidade Ca- fazer apartamentos aqui e depois exportá- temos possibilidade de fazer grandes obras, dem que, para não esmagar IRC, o IRS e dividíamos o es- tólica e sobretudo a Faculda- -los. É só para o mercado interno, um mer- restam as pequenas obras de proximidade as pessoas e as empresas, te- forço por todos. Mas o mais de de Filosofia por este em- cado curto, que se esgota facilmente. Já em que, lamentavelmente, o Governo não está mos que recolher dados so- importante é acabar com a penho numa área tão impor- 2003/2004 estava preocupado com o setor. a pôr na agenda. Mas tem que pôr, urgen- bre quem faz vida faustosa e corrupção. Há coisas que se tante para as nossas empre- Via em Braga, Famalicão Barcelos – em temente. Podem salvar algumas pequenas Guimarães, menos – o “vende-se”, “vende-se”, não se sabe de onde é que dizem, boatos, rumores, e não sas e que muito contribuirá empresas da nossa região e do país, que “vende-se”. Os empresários do setor da são importantes para a riqueza e sobretudo vem o dinheiro. Por que é podemos continuar neste de- para o seu sucesso. construção não perceberam a mensagem, para o emprego. antecipando a correção do mercado. Mais Pub tarde, há três, quatro anos, a associação LM Mas qual é a solução? começou a desenhar um projeto que veio a AM A solução é as empresas ganharem dar no cluster da construção. O cluster da músculo e massa crítica para ir para o exte- construção não chega a 40 empresas. São rior. Para isso não podem ir sozinhas, não empresas de novas tecnologias, de energias, temos dimensão. Nenhuma empresa, por enfim, é muito mais vasto que a construção exemplo, na região do Minho tem capaci- e obras públicas. Tem uma visão muito mais dade para, isoladamente, assumir grandes em banda larga. projetos no exterior. É isto que os empresá- rios, de uma vez por todas, têm de perceber. LM Esse cluster foi feito na sequência de Se não perceberem, não vão sobreviver. um projeto da Associação Empresarial do Minho… LM Mas há grandes empresas de constru- AM Sim, desenvolveu-se no sentido de ção! conquistar as empresas internacionais. AM São grandes, mas são pequenas no Porquê? Eu posso exportar lençóis e sapa- mundo. Se é para ir para o exterior, temos tos, mas não posso exportar prédios. que ter juízo na cabeça e perceber que, so- Posso exportar experiência e mão de obra zinho, não chego lá. É esta a esperança que qualificada. Se vou para Angola, levo daqui eu tenho: que os empresários, colocando os alguns trabalhadores, mas a grande parte olhos naquilo que a sua associação regional vai ser de Angola, como é evidente. Ainda e outras associações estão a fazer, percebam hoje lamento os empresários não terem a ideia do cluster, de criar massa crítica, criar tido a inteligência e a coragem de sair da músculo, preparar as pessoas para a inter- sua zona cómoda, da sua empresa. Têm de nacionalização. Porque internacionalizar no ter mais músculo, de caminhar no sentido Irão não é a mesma coisa que na Rússia ou da concentração da empresa, da concen- na França. Uns mercados exigem pessoas tração de estruturas, para irem para o com determinado perfil, e outros mercados exterior. exigem pessoas com outro perfil.