A crise segue afetando as universidades públicas brasileiras. O documento discute (1) como a universidade pública vem sendo adaptada às reformas privatizantes dos governos, (2) a precarização dos trabalhadores universitários, e (3) a necessidade de um movimento estudantil independente e combativo para defender a democratização da universidade pública.
1. IFCH – 40 anos, pa ra onde va mos?
Em busca Basta No último semestre o IFCH participou de uma im- deira de contratação de professores (se esquecendo dos
portante greve encabeçada pelas estaduais paulistas. funcionários), os próprios departamentos do IFCH já
da vivência universitária de perseguição Nosso motivo central: combater a Univesp.
Ao longo do semestre, no entanto, diante de diver-
cavam sua cova.
A Comissão de Vagas Docentes (CVD - ligada à rei-
A proibição de festas se grupos de discussões, encontros, aos que lutam! sos outros problemas, como a entrada da PM no campus
da USP e uma crise da (anti)democracia das instâncias de-
toria) disponibilizará, para o ano de 2010, 40 novas vagas
de contratação docente para toda a Unicamp. Essas
encaixa numa política de cercea- reuniões, festas, movimentos ar-
mento dos direitos estudantis. tísticos, políticos e culturais. Passa- cisórias dessa universidade, outro problema, há muito vagas, cabe lembrar, serão disputadas pelas 22 unidades
Muito já viemos falando do tempo latente no IFCH, se manifestou com força: o des- da Universidade. Só o IFCH, segundo cálculo feito pelos
Essa política está aliada à dissemi- mos, atualmente, por uma
processo histórico de desmonte monte de nosso instituto e das Ciências Humanas em geral. departamentos, precisaria de 32 novas contratações nos
nação de catracas, cercas, câme- marginalização dos direitos que
que vem sofrendo o IFCH. Sabe- Mesmo com o fim da greve, um sentimento de in- próximos 2 anos – isto para que linhas de pesquisa que
ras, à cobrança de aluguéis e taxas cabem a nós estudantes, já que é
mos, entretanto, e com a mesma conclusão se manteve. Ao tempo em que o caixão que existem hoje em nosso instituto não deixem de existir. O
dentro da universidade, e à maior cada vez mais difícil abrir espaços
clareza, que a burocracia universitá- levantamos apodrece, nossa biblioteca é inundada, do- pedido que será enviado pela Congregação do IFCH re-
intransigência dos seguranças de debate e discussão, com rela-
ria dá uma batalha ferrenha não só cumentos de nosso arquivo (AEL) são comidos por cupins quisitando 32 novas vagas só para nosso Instituto será ob-
com qualquer reunião estudantil . ção à utilização de espaços públi-
para esconder tal barbaridade, mas (sobrepondo o esquecimento à memória do movimento viamente negado e engavetado pelo nosso
A restrição da universidade en- cos e ao movimento estudantil.
também para perseguir as vozes dos trabalhadores) e funcionários têm de trabalhar cada excelentíssimo REItor Fernando Costa.
quanto espaço público por uma A realização do IFCHSTOCK IV
que não se calam na defesa da uni- dia mais e sob piores condições, seu caso mais latente: a Outro ponto importante diz respeito ao funcio-
política autoritária da reitoria está se enquadra nos princípios cita-
versidade pública, democrática e a terceirização. Essa grave situação já era reconhecida in- namento dos órgãos decisórios de nosso Instituto. A de-
cada vez mais evidente, uma vez dos e defendidos. Frisamos nosso
serviço da sociedade, que em um clusive pela Direção do Instituto em seu programa polí- mocracia, como sabemos, nunca foi o forte. Isso fica mais
que esta se nega a debater com apoio ao IFCHSTOCK: como movi-
primeiro momento significa com- tico antes de ser eleita. evidente se olharmos para a composição da Congrega-
os estudantes a realização dessas mento, considerando o direito de
bater e colocar às claras o desman- O reconhecimento da situação, no entanto, não ção (órgão máximo de deliberação do IFCH), onde os pro-
atividades culturais, se restrin- nos reunir, de dialogar e de pro-
telamento do pouco que resta ou fez com que a maioria de nossos professores e a atual Di- fessores têm 70% de representantes, os funcionários 15%
gindo apenas a proibiílas e a criar duzir social e intelectualmente;
respira. É desta perspectiva que na reção do IFCH se colocassem decididamente em uma luta e os estudantes 15%.
instrumentos para punir quem as como evento, já que abre espaço
última semana o trabalhador do política que extrapolasse os mecanismos institucionais, A necessidade de um novo Estatuto e de uma
organiza. de divulgação do trabalho de gru-
AEL, o Mário, sofreu, e vem so- que há longa data vêm se mostrando um canal de refe- ampla discussão sobre a democracia em nosso Instituto já
Defendemos que a vivên- pos de produção cultural; como
frendo, um processo de persegui- rendamento das políticas da Reitoria. foram levantadas inclusive pela própria Direção, em sua
cia universitária não se limita ape- luta, indo contra as várias formas
ção e de intimidação por parte da A reformulação de nosso currículo de acordo com retórica carta programa.
nas às salas de aula, bibliotecas, de repressão instituídas a toda a
direção do nosso instituto frente a a falta de professores (como aconteceu com o currículo Nós, da chapa Terra em Transe, reivindicamos
projetos e pesquisas; vivência uni- comunidade acadêmica.
seus posicionamentos políticos de da Ciências Sociais já em andamento para os calouros de o processo de luta política que vêm sendo construído
versitária também é caracterizada
defesa dessa universidade e, espe- 2009) deixa evidente a fraqueza dessa forma de atuação contra o desmanche de nosso instituto, das ciências
por interações sociais, dadas por
cificamente, do seu local de traba- política adaptada à burocracia universitária - vale ressaltar humanas e da universidade pública brasileira.
lho, o AEL. que na História não faltaram iniciativas neste sentido, com Convidamos todos os estudantes que se preo-
Ao mesmo tempo o traba- propostas de retiradas de matérias de Teoria entre outras; cupam com o futuro de nosso Instituto a não apenas
lhador Cícero, que até pouco dedi- o problema é que a carga horária da curso de História já votarem em nossa chapa, mas, mais importante do
cava suas horas diárias na está próxima do limite mínimo permitido, o que dá pouca que isto, a participarem das reuniões do Centro Aca-
construção da nossa tão saudosa maleabilidade para reformas curriculares nesta lógica. En- dêmico e dos diversos outros espaços de construção
expansão da biblioteca, foi demi- quanto que reconhecem os problemas e levantam a ban- política.
tido (e vem sendo perseguido) sim-
plesmente por vender
churrasquinho nas festas do IFCH
para interar o pão de seus dois fi-
lhos.
Nossa chapa, Terra em
Transe, se levanta incondicional-
mente em defesa desses trabalha-
dores, e queremos ser voz ativa na
campanha pela reincorporação dos
companheiros. Nenhuma persegui-
ção aos lutadores e trabalhadores
que constroem e colocam de pé a
nossa universidade! Basta de perse-
guição ao Mário! Readmissão ime-
diata do Cícero!
http://terraemtranse.blogspot.com
2. A crise segue sendo
A universidade pública, como parte do pro- tudantes. Para isso, achamos que é importante que o movimento estudantil para as Universidades, com garan-
jeto de sociedade destes governos, é adaptada às re- CACH seja uma entidade militante, que se envolva numa tia de financiamento público, abertura de vagas presen-
formas privatizantes e a lógica mercadológica, como luta intensa pela democratização da universidade, para ciais, políticas de permanência estudantil e contratação
desca rrega da a reforma universitária de Lula, que instaura as PPPs (par-
cerias público-privadas), regulamentando a privatização
abrir as portas da universidade pública para os filhos dos
trabalhadores e, nesse sentido, construir um movimento
de professores, para que os filh@s da classe trabalhadora
possam estudar aqui.
sobre as costas da pesquisa e a extinção da extensão social, transformada estudantil que atue cotidianamente visando construir
Um CACH contra
em extensão às empresas e prestação de serviços. Assim uma resposta aos ataques que as universidades vêm so-
como sua versão estadual, implantada por Serra, a exem- frendo, como os projetos de expansão irresponsável, dos
dos trabalhado res plo dos Decretos de 2007 que quebravam o tripé pes- governos e reitorias. Trata-se, portanto, de construir um
quisa-ensino-extensão e destruíam a autonomia
universitária. Tanto Lula quanto Serra aprofundam a pre-
CA nas lutas, nos debates, nos momentos de vivência uni-
versitária, mas sem perder de vista que devemos levar
o m achismo,
Completamos o primeiro ano de uma crise eco-
nômica de proporções históricas, desde o início compa-
rável à de 29. Os governos e a mídia se esforçam para
carização das universidades via políticas falaciosas de au-
mento de vagas, como o REUNI, que não garante
uma proposta política num sentido claro construir o
CACH enquanto uma entidade que se preocupa com os o racism o e a homofobia
esconder a verdadeira magnitude desta crise, utilizando estrutura necessária para a expansão, e via ensino a dis- principais problemas colocados pela conjuntura univer-
engodos como “Brasil blindado”, “marolinha”, ou o mais re- tância como UNIVESP e UAB. sitária atual. Ao contrário do que muitos pen-
cente, “a crise já passou”. Porém, cerca de 18 trilhões de A política anti-operária destes governos também Levando isso em conta, vemos mais do que nunca ne- sam, o machismo, a homofobia e
dólares foram usados para salvar empresas, houve cortes está expressa na precarização dos trabalhadores dentro cessidade de construir um movimento estudantil que seja o racismo também se expres-
de verbas de serviço público, reestruturação produtiva e das Universidades. Além da redução do corpo de funcio- oposição a União Nacional dos Estudantes (UNE), enti- sam nas universidades. Estas,
demissões de trabalhadores pelo mundo todo. Todos são nários e da retirada de direitos, todo o quadro do funcio- dade que há tempos vem defendendo os projetos go- tidas como espaço privile-
exemplos de como, permanentemente, os custos da nalismo é desmontado por medidas como terceirização, vernistas. Essa entidade se mostra cada vez mais afastada giado de reflexão e pensa-
crise são jogados sobre as costas dos trabalhadores. que precariza e divide profundamente os trabalhadores. do movimento estudantil combativo e em defesa da uni- mento crítico, são muitas
E para se implementar os ataques é necessário reprimir versidade pública e de qualidade. vezes palco de casos absur-
os que lutam. É nesse sentido que vem a crescente re- As lutas do movimento estudantil contra o REUNI dos de preconceito e
pressão aos trabalhadores e aos movimentos sociais: os de Lula, contra a UNIVESP de Serra e contra os decretos de opressão.
massacres nas favelas e a campanha pela criminalização 2007 que barrava a autonomia universitária foram lutas O recente escândalo da
do MST. E nas universidades, voltam a utilizar da força po- travadas por fora da UNE, e muitas vezes se chocavam Uniban, em que uma estudante que usava um vestido
licial e cercear cada vez mais os espaços, como mostra a com ela. tido como “inadequado” quase foi agredida por seus
proibição de festas. Apenas neste ano vimos: polícia, bom- Por isso é fundamental uma entidade representa- próprios colegas, chegando a ser expulsa pela direção
bas de gás e balas de borracha na USP, demissão do Bran- tiva anti-governista que possa organizar a lutas do movi- da universidade é a prova mais gritante disso.
dão, multa ao SINTUSP. mento estudantil de maneira democrática, respeitando e Nas universidades públicas não é diferente. Há al-
Nós, da chapa Terra em Transe, acreditamos fomentando os fóruns de discussão e deliberação como guns meses estudantes da Unesp de Araraquara sofreram
que frente a isso é preciso que os estudantes, em as assembléias. com assédios sexuais dentro da moradia e, na Unicamp,
aliança com os trabalhadores e com os setores mais Nesse sentido é necessário construir uma enti- todos sabemos que o cotidianamente acontecem estu-
Apesar do discurso do governo Lula, este fenômeno oprimidos da sociedade, levantem-se para responder dade nacional que se proponha a unificar os estudantes pros dentro do campus, além dos casos de assédio moral
ocorre também no Brasil. Até o momento, a transferência de forma independente a todos esses ataques, con- das universidades e escolas secundaristas com os profes- contra trabalhadoras, estudantes e professoras.
de dinheiro público, demissões, redução do IPI, redução trapondo ao cenário de crise, precarização da vida e sores do ensino básico e universitário, com os trabalha- Na nossa moradia, as estudantes mães passam
de jornadas com redução salarial só foram capazes de repressão, outro projeto, que parta dos nossos inte- dores da universidade e fora dela e com os movimentos por situações constrangedoras durante a seleção para os
contornar a crise, sem resolvê-la. resses e anseios. sociais. estúdios (casas para famílias), tendo que provar que pos-
Também não se pode dizer que o Brasil se torna Desse ponto de vista, achamos importante que o suem uma relação estável.
A impo rtância da
menos dependente dos países centrais. A economia bra- CACH promova debates no próximo ano sobre a reorga- Nas relações de trabalho, o machismo e o racismo
sileira, apesar de relativa recuperação, continua depen- nização do movimento estudantil e, tendo em vista a con- também se expressam, não por acaso a maior parte das
cepção acima apresentada, defendemos a construção da funções mais precarizadas nas universidades, e tam-
entidade militante
dente e especializada como exportadora de
commodities. Lula e PT semeiam as ilusões de progresso, ANEL (Assembléia Nacional dos Estudantes - Livre), que bém fora delas, são exercidas por mulheres negras, as
quando na realidade implementam uma política de ata- é uma entidade jovem, fundada em um Congresso Na- terceirizadas que limpam o IFCH são um exemplo disso.
que aos trabalhadores e atrelamento da economia na-
cional com multinacionais e países imperialistas. O PT
pa ra a construção da cional em Junho de 2009, que contou com a presença de
muitos estudantes, DCE’s e CA’s do país inteiro, insatisfei-
Para nós, membros da chapa Terra em Transe, é
fundamental que o movimento estudantil de conjunto e
Universidade
tentará aprofundar esse discurso “progressista” se tos com a UNE e dispostos a construir uma entidade que suas entidades, como os centros acadêmicos, impulsio-
apoiando em políticas como o REUNI e a criação da PE- seja independente financeiramente e politicamente dos nem a auto-organização dos negros, das mulheres e dos
governos e das reitorias. GLBTT, além de tomarem toda a luta contra as opressões
que queremos!
TROSAL, para se diferenciar de setores como o PSDB e o
DEM, abertamente elitistas e privatizantes. Uma polariza- Precisamos de uma entidade que garanta a uni- como sua. Nesse sentido, o CACH deve ser uma enti-
ção só aparente, pois, no fundo, cada um a sua forma con- dade e auto-organização dos que lutam contra o governo dade militante contra o racismo, o machismo e a ho-
tinua atendendo aos interesses capitalistas em Nossa chapa tem a perspectiva de promover o e seus projetos de precarização e privatização. E que ela- mofobia, levantando as bandeiras e as demandas
detrimento dos trabalhadores. debate sobre os interesses e as reais necessidades dos es- bore um projeto de educação que coloque a pauta do desses setores, sendo um espaço permanente de ex-