1. INFORME MENSAL Zai Gezunt
Ano 2 Setembro de 2.015 No
18
Editores- Rio de Janeiro: Genni Blank / São Paulo: Samuel Belk
Nossos poetas: Mordco Gebirtig (1877-1942)
Mordco Gebirtig é considerado o ultimo e autentico poeta popular da comunidade judia polonesa. Esta
sofrida comunidade conseguiu apesar dos pogroms e constantes atos antissemitas da Polônia, de antes da
segunda guerra mundial, criar e desenvolver sua cultura e produzir os maiores expoentes artísticos e
literários da época.
Gebirtig nasceu em 4 de maio de l877, na cidade de Cracóvia onde passou a maior parte de sua vida.
Trabalhou desde jovem como marceneiro e viveu em extrema pobreza com sua família.
Suas canções foram criadas durante o trabalho, na oficina de marcenaria que mantinha em casa, tendo sido
musicadas através de assobio ou dedilhando o piano. As notas musicais foram registradas pelo seu
conterrâneo, o músico Julius Hoffman.
Sua filha Léa apresentava as canções em concertos e assim elas foram se tornando conhecidas não somente
em Cracóvia, sua cidade natal, como em outras cidades polonesas. Ele foi assassinado por um soldado
nazista em 4 de junho de l942.
O poeta Mordco Gebirtig, criou obras importantes que se disseminaram pelo mundo judaico. Suas canções
constituem um mosaico de sofrimentos, de alegria e de esperança e abordam temas como: o amor, a vida
familiar, mãe e filho, costumes e tradições, bem como a pobreza de seu povo, que ele descreveu com grande
realidade e tristeza.
Uma das mais conhecidas canções do poeta e trovador Mordco Gebirtig foi Avreiml Malvicher, onde ele nos
dá um panorama do shteitl onde vivia, em tudo semelhante aos demais shteilach da Europa Oriental
lembrados pelo grande escritor Sholem Aleichem. As personagens dos contos de Sholem Aleichem
circulavam no imaginário Kasrilevski, que representava o protótipo dos shteilach judaicos.
O autor nos mostra um menino, órfão de pai, que abandona o lar porque sua mãe vivia em estado de
pobreza e sem condições de sustentá-lo.
O personagem de Gebirtig torna-se um menino de rua. Para sobreviver, rouba pão, razão pela qual vai para a
cadeia, onde apanha. Gebirtig antevendo sua morte sugere na última estrofe o epitáfio de seu túmulo, que é
bastante significativo e merece uma reflexão sobre a solução dessa tragédia social do menor abandonado:
Avreiml o Malandro Avreiml Marvicher
Sem um lar, fiquei na minha infância On a heim bin ich iung geblibn
A fome me expulsou de casa S’hot di noit mir aroisgetribn
Quando eu ainda não tinha 13 anos Ven ich hob nokh kein draitsn ior gehat
Em terras estranhas, longe do olhar materno In der fremd, vait fun mames oign
Fui educado na imundice da rua Hot in shmutz mich di gas dertsoign
Onde me tornei um rapaz honrado Gevorn is fun mir a voiler iat
1
2. Eu sou Avreiml o malandro habilidoso Ich bin Avreiml der feikster marvicher
Um grande artista, trabalho ligeiro e na certeza A groiser kinstler, charbet laicht un zicher
Na primeira vez, até a morte irei lembrar Dos ershte mol, chvel es gedenken bizn toit
Entrei na prisão por um pão surrupiar Arain in tfise far lachenen a broit,oi, oi
Não vou ao mercado como os rapazes ordinários Ch’for nisht oif markn vi iene proste iatn
Mordo somente gente indecente e sovina. Ch’tzup nor bai karge, shmutzike magnatn,
Fico satisfeito quando agarro uma pessoa assim Ch’bin zich mechaie ven chap aza magnat
Eu sou Avreiml, porem um rapaz honrado Ich bin Avreiml, gor a voiler iat
Em terras estranhas não tinha como viver In der fremd, nisht gehat tzum lebn
Pedia pão, um pobre ainda dava Gebetn broit, an oremer flegt noch gebn
Mas os indivíduo que estão sempre saciados, Nor iene lait,vos zenen tomid zat,
Muitas vezes me enxotavam com varão, Flegn oft traibn mich mit tsorn,
Está crescendo um ladrão, é o destino S’vakst a ganev, s’is mekuiem gevorn
Ladrão sou, porem um rapaz honrado. A ganev bin ich, nor a voiler iat.
Eu sou Avreiml, o malandro habilidoso Ich bin Avreiml, der feikster marvicher,
Um grande artista, trabalho ligeiro e na certeza A groiser kinstler, ch’arbet laicht un zicher,
Garoto pequeno, entre as grades entrei A iat a kleiner, arain in kutshement,
Sai um rapaz malvado, um talento raro. Arois a mazik,a zeltener talent, Oi, Oi
Não vou ao mercado como os rapazes ordinários Ch’for nisht oif markn, vi iene proste iatn
Mordo somente gente indecente e sovina Ch’tzup nor bai karge, shmutzike magnatn,
Gosto de gente, de brincadeiras e de guloseimas. Ch’ob lib a mentshn, a mildn, a nash-brat,
Eu sou Avreiml, porem um rapaz honrado. Ich bin Avreiml gor a voiler iat.
Esta brincadeira não irá demorar muito Shoin nisht lang vet dos shpil gedoiern
Doente das pancadas, recebidas entre as grades Krank fun klep, gift fun tfise moiern,
Eu gostaria de ter somente um único desejo, Nor ain bakoshe, ch’volt azoi gevolt-
Depois da minha morte, um dia eu almejo Noch main toit, in a tog a tribn,
Estar escrito em meu túmulo, Zol oif main matseive shtein geshribn
Com letras grandes e douradas Mit oisies groise un fun gold:
Aqui jaz Avreiml, o malandro habilidoso Do ligt Avreiml, der feikster marvicher,
Com certeza teria sido um grande homem A mentsh a groiser geven volt fun im zicher,
Homem honrado, com coração e sentimento A mentsh a fainer, mit hartz, mit a gefil,
Homem puro como Deus sozinho deseja, A mentsh a rainer,vi got alein nor vil, oi, oi,
Se ele estivesse sob os olhares maternos Ven iber im volt gevacht di mames oign
Se não tivesse sido educado pela rua imunda Ven svolt di fintstere gas im nisht dertsoign
E se quando criança tivesse tido um pai. Ven nor als kint, er a tate volt gehat
Aqui jaz Avreiml, aquele rapaz honrado. Do ligt Avreiml, iener voiler iat.
Edição especial dedicada ao poeta Mordco Gebirtig
Zai Gezunt-Edição do Grupo Amigos do Ídiche Site: www.facebook.com/groups/amigosdoidiche Email:
amigos@amigosdoidiche.com.br --- belk@uol.com.br
2