O documento descreve a exposição de arte ambiental do artista plástico Frans Krajcberg na Estação Cabo Branco. A obra de Krajcberg expressa sua revolta contra a destruição da natureza e a violência contra o homem. O texto fornece detalhes biográficos sobre o artista, incluindo seu nascimento na Polônia, a perda de sua família no Holocausto e sua imigração para o Brasil após a Segunda Guerra Mundial.
1. VISITA À ESTAÇÃO CABO BRANCO
Exposição de arte ambiental do
artista Frans Krajcberg
NATUREZA EXTREMA
E.M.E.F. Antônio Santos Coelho Neto
2. Um pouco sobre o artista
A voz do artista é baixa. É por meio de sua obra que o artista plástico Frans Krajcberg grita. "Grito
contra as injustiças e a violência contra a vida, contra o homem, contra a natureza", diz. "Espero que este grito
seja entendido."
A revolta de Krajcberg transforma em obra artística qualquer tronco de árvore queimada ou cipó
arrancado de mangues e abandonado na praia. Não há como não ouvir o grito diante dos galhos que se abrem
como braços decepados a pedir abrigo. Hoje, ele não gosta mais de viajar. "Há quatro anos fui ao Acre e chorei
de tristeza, chorei como criança ao ver tanto massacre," lamenta. "Tem de mudar o nome de Mato Grosso, pois
nem mato fino tem mais; tem que mudar o nome do Brasil porque pau-brasil não tem mais". A obra é o reflexo
da vida. Filho de comerciantes judeus, Krajcberg nasceu em Kozienice, na Polônia, em 1921, no amargo
rescaldo da 1.ª Guerra Mundial. A invasão da Polônia pela Alemanha, no início da 2.ª Guerra, pega-o longe de
casa. Tinha 18 anos. Volta correndo, mas tarde. Nunca mais viu o pai, a mãe, os dois irmãos e as duas irmãs,
presos e conduzidos para campos de concentração. "Sou um homem queimado", autodefine-se.
Os anos de guerra o levaram para muitas regiões da Europa, como integrante de grupos de
resistência. Terminado o conflito, já com a visão internacionalista das artes, ele segue justamente para
Stuttgart, na Alemanha, para estudar com Willi Baumeister. Em 1947, está em Paris, sem trabalho e sem
condições de estudar. É quando o Brasil, conhecido então como o Novo Mundo ganha Frans Krajcberg. Graças
ao pintor Marc Chagall, que lhe paga a passagem de terceira classe.
Primeiro o Rio, depois São Paulo. Na capital paulista, consegue emprego, mas foram anos sofridos,
sem projeção artística, com telas cinzas, quase monocromáticas, que reproduziam seu estado de espírito. A
depressão tomou conta. A revolta cresceu. "Depois da guerra eu fugia do homem", lembra. O reencontro
aconteceu em Telêmaco Borba (PR), na Fazenda Monte Alegre, da família Klabin, em 1952. "Foi o primeiro calor
humano que eu tanto precisava", emociona-se. "Senti que estava perto de uma família." Na natureza
encontrou respostas. "Ela me mostrou tudo e nunca me perguntou de onde vinha, que religião tinha, de que
nacionalidade sou." Mas parte de sua nova família começou a ser dizimada na década de 50. Até agora, ele
demonstrava sua revolta em exposições itinerantes. Espera que as permanentes gritem alto.