1. | 31DOMINGO, 28 DE JANEIRO DE 2018
Economia.
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PRODUÇÃO FAMILIAR
Pequenos produtores ganham destaque com grãos de qualidade
SIUMARA GONÇALVES
sfgoncacalves@redegazeta.com.br
As grandes fazendas capi-
xabas fizeram do Espírito
Santoumdosmaiorespro-
dutores de café do Brasil,
masagorasãoospequenos
produtores que têm proje-
tado o Estado no seleto
grupo dos grãos especiais
que têm conquistado reco-
nhecimento internacional
pela qualidade da bebida.
Um desses produtores é
JoséCarlosVelten,41anos.
Fruto do esforço e trabalho
domeeiroemumaterrada
qual ele não é o dono, saiu
um dos melhores grãos do
Estado em 2017.
A lavoura que ele e a fa-
mília cuidam, localizada no
distritodeAltoNovaAlmei-
da, em Marechal Floriano,
RegiãodasMontanhascapi-
xabas,ultrapassouasbarrei-
ras do país por causa da sua
qualidade e sabor especial,
despertando a atenção até
de compradores de países
como Japão e Jamaica.
A colheira é entorno de
150 sacas de café por ano,
sendo que de 40% a 50%
desse total são compostos
por grãos especiais. “É um
orgulho ver que o que eu
produzifoipremiadoepode
ganhar o mundo. Cresci
nessemeioe,hoje,meustrês
filhos me ajudam. O mais
velho,quetem18anos,quer
fazer agronomia e ficar por
aqui”, revelou José Carlos.
Afamíliadeleéumadas
131 mil que produzem ca-
fé no Estado. Segundo da-
dos do Instituto Capixaba
de Pesquisa, Assistência
Técnica e Extensão Rural
(Incaper), o número re-
presenta 73% da agricul-
tura familiar capixaba.
AssimcomoocafédoJo-
sé Carlos está conquistando
espaçonomercadoexterno,
segundooConselhodosEx-
portadoresdeCafédoBrasil
(Cecafé), há uma procura
crescente pelos grãos brasi-
leiros de alta qualidade.
Os cafés diferenciados,
aqueles que têm qualidade
superior ou algum tipo de
certificado de práticas sus-
tentáveis, foram responsá-
veispor5,1milhõesdesacas
de 60 quilos vendidas ao
mercado externo, o que re-
presentou16,7%dototalde
MARCELOPREST
Estevão Denizar (à direita) e o filho
produzem cafés especiais para exportação
grãosexportadospeloBrasil
em todo o ano passado.
Dentro dessa categoria
estão os cafés especiais, cu-
jo valor de mercado é mais
elevado. Em 2017, o país
exportou105,5milsacasde
arábica tipo especial, que
foramvendidas,emmédia,
a US$ 221,75 cada. Já o do
tipo bebida mole, como é
chamado o café com nota
maiselevadaentreosgrãos
especiais, foram exporta-
dos 7,8 mil sacas a US$
277,63 cada, em média.
DE PAI PARA FILHO
A família Douro cultiva
café arábica há gerações. O
Estadovirouacasadosbisa-
vósdoprodutorEstevãoDe-
nizarDouro,55anos,quan-
do eleschegaramdaItáliae
da Alemanha, há mais de
um século e meio. Hoje, o
cafeicultorexportaacultura
da família para Japão, Ho-
landaeInglaterra.Comoele
mesmo disse: “plantar é
uma tradição da família”.
Apropriedadede42hec-
taresficanaregiãodeVictor
Hugo, em Marechal Floria-
no.Dessaárea,dezhectares
são destinados ao plantio
dos grãos e, por ano, ele,
doisfilhoseaesposaprodu-
zem 250 sacas de café.
Em média, a saca da be-
bidaRio-dequalidadeinfe-
rior-écomercializadanare-
giãopor,nomáximo,R$400
a saca. Já os especiais são
mais valorizados. Devido às
boascolocaçõesemprêmios
municipaiseestaduaisqueo
produto teve, um dos lotes
chegou a ser vendido por
R$ 1,3 milcadasaca.
Para agregar valor ao
que produz, em 2014, co-
meçou a comprar alguns
equipamentosparatorrare
moer os grãos. Hoje, além
de comercializar a saca,
vende direto para o consu-
midorfinalemembalagens
de 250 e 500 gramas.
UNIÃO
Vender a produção por
um bom preço garante ao
produtorlucroparaqueele
possa investir no ano se-
guinte. O cafeicultor Ed-
marBusato,42,sabedissoe
busca um valor melhor pa-
ra a vender o que ele e a fa-
mília produzem. Ele faz
partedaCooperativaAgro-
pecuária Centro Serrana
(Coopeavi) e, dependendo
daofertaquerecebe,vende
para a cooperativa ou para
uma corretora de café.
“Teve um café especial
quechegueiavenderumlo-
te por R$ 1,7 mil a saca no
ano passado porque ele
conquistou 91 pontos (em
uma escala de 0 a 100) na
qualificação. Um outro lote
vendiaR$1,5milparaaco-
operativa”, revelou.
De acordo com Giliarde
Cardoso, gerente do Negó-
cio Café da Coopeavi, cerca
de7,8milprodutoresdecafé
fazem parte do grupo. “O
nossotrabalhoédepadroni-
zação do café conforme as
exigências do mercado in-
ternacional, levando o café
doprodutorparaoexterior”,
disse.Ocafééexportadopa-
ra Itália, Alemanha, Rússia,
Estados Unidos, Holanda,
China, Suíça e Singapura.
Ainda segundo Cardoso,
oscafésexportadossãoven-
didos com rastreabilidade,
“umavezqueopúblicocon-
sumidor de cafés especiais
desejasaberaprocedênciae
a história dos produtores
por trás da embalagem”.
CAPARAÓ
Nãoésóocafédasmon-
tanhasquesãopremiadose
conquistam os cinco conti-
nentes. Em Dores do Rio
Preto, na Região do Capa-
raó, um café sem agrotóxi-
cos vem conquistando seu
espaço.Emdezhectaresde
plantaçãonoEspíritoSanto
e20emMinasGerais,oca-
feicultor Afonso Lacerda,
45, produz 750 sacas do
grão de conilon por ano.
Elejáganhoucercade40
prêmios,entrenacionais,es-
taduais e municipais, em oi-
to anos. “As premiações têm
uma credibilidade muito
boa.Issofacilitaconquistaro
mercado. O mundo do café
está todo ali olhando e,
quando tenho destaque, a
procura é maior”, diz o pro-
dutor Afonso Lacerda,45.
NÚMEROS DO CAFÉ DE QUALIDADE
PADRONIZAÇÃO
“O nosso trabalho é
de padronização
conforme as
exigências do mercado
internacional, levando
o café do produtor
para o exterior”
GILIARDE CARDOSO
GERENTE DO NEGÓCIO
CAFÉ DA COOPEAVI
MARCELO PREST
Edmar Busato já chegou a vender uma saca de café especial por R$ 1,7 mil
O mais
importante não
é o dinheiro da
premiação, mas
o prazer de ter
feito um
produto bom e
ser reconhecido,
quem sabe pelo
mundo todo.
Meus netos
verão o meu
certificado”
—
JOSÉ CARLOS VELTEN
PRODUTOR, 41 ANOS
A diferença no
café começa
com o trabalho
diário com os
pés, depois a
colheita e a
pós-colheita.
E temos uma
terra fértil, de
altitude boa
para o grão”
—
EDMAR BUSATO
CAFEICULTOR, 42 ANOS
CAFÉ CAPIXABA
COM DESTINO
INTERNACIONAL
Café de José
Carlos Velten
tem qualidade e
sabor especial
MARCELO PREST
2. DOMINGO, 28 DE JANEIRO DE 2018 ECONOMIA | 32
PRODUÇÃO FAMILIAR
MARCELO PREST
SIUMARA GONÇALVES
sfgoncacalves@redegazeta.com.br
Umcafécomaromaesabor
agradáveis, brando e doce
naturalmente. Essas são al-
gumascaracterísticasdoca-
féespecial.Mas,entreeleeo
produtocomum,aqueleque
todo mundo compra no su-
permercado e faz em casa,
alémdaqualidade,háoutra
grande diferença: o preço.
Umasacadocaféconilones-
pecial,porexemplo,chegaa
custaraté34%amaisquea
do grão tradicional.
O preço de venda dos
grãos corresponde à quali-
dadedabebidaereforçama
valorização que esses grãos
possuem no mercado. Se-
gundo os dados do Conse-
lhodosExportadoresdeCa-
fé do Brasil, em 2017, en-
quantooconilontradicional
foi vendido, em média, a
US$152,44asaca,ocafées-
pecial foi comercializado a
US$231,97,emmédia,asa-
ca, uma diferença de quase
US$ 80 entre os dois tipos.
Já no caso do arábica, a
diferença é um pouco me-
nor, mas ainda assim mais
valorizado que o produto
comum.Em2017,asacado
cafétradicionalfoiexporta-
da, em média, a US$
159,62,enquantoasacado
grão especial foi vendido,
em média, a US$ 221,75.
CONSUMO
Segundoopresidentedo
CentrodeComérciodeCafé
de Vitória (CCCV), Jorge
Luiz Nicchio, o aumento na
procuraporcafésespeciaisé
umafortetendênciaemfun-
ção das grandes cafeterias
do mundo inteiro, que op-
tamporcafésdiferenciados.
Paraele,esseéumcaminho
sem volta, já que “cada vez
mais o consumidor comum
também tem procurado es-
ses cafés diferenciados”.
Segundo Nicchio, o ca-
fé especial, por ser vendi-
doaumpreçomaiorqueo
normal, gera mais receita
para produtores e o país.
Para se ter uma ideia do
aumento na procura pela
bebida de qualidade, en-
quantoomercadodeexpor-
tação do grão comum cres-
ce entre 1,5% e 1,8% ao
ano,odecafésespeciaisestá
crescendoacimade15%ao
ano, explicou Silvio Leite,
consultor de qualidade de
cafés especiais.
“Os grãos de qualidade e
premiadossãomaisvisados
e ganham o exterior. Quan-
do um comprador leva esse
caféespecialeoutrospaíses
reagem bem ao produto, é
natural que a demanda por
ele aumente”, explica.
SABOR CAPIXABA
Edecafédequalidadeo
Espírito Santo entende,
tantoqueumprodutoará-
bicadoEstadofiguraentre
os mais caros do mundo.
Ele foi produzido em Do-
mingos Martins e, em
2017, foi leiloado a R$ 39
mil a saca.
Segundo Silvio Leite, os
grãoscapixabassãoumpou-
co mais adocicados e têm
uma acidez mais marcante.
“Os melhores lotes capixa-
bas são de colheita tardia.
Quantomaistempolevaen-
treafloraçãoatéofrutoficar
em ponto de colheita, signi-
ficaqueamaturaçãovaide-
morar mais porque a fruta
vai amadurecer mais deva-
gar. Essa maturação mais
lenta provoca doçura e aci-
dez no grão. Com isso, cada
produto tem sua caracterís-
tica específica”, explica.
SAIBA MAIS
t O que é um café especial?
Café com elevada
qualidade de bebida. Para
ser considerado especial,
um café precisa ter
classificação mínima de
80 pontos, de acordo
com a metodologia SCAA
criada pela Specialty
Coffee Association of
America (Associação
Americana de Café
Especiais - SCAA). Em
alguns casos, ele também
é chamado de gourmet.
t Como ele é avaliado?
Por meio da prova. Nela,
dez diferentes atributos
do café são verificados e
recebem uma nota
individual de zero a dez
pontos cada um, como:
fragrância e aroma,
uniformidade, ausência de
defeitos, doçura, sabor,
acidez, corpo e geral.
t Quanto já chegou a
custar?
No final do ano passado,
uma saca de 60 quilos
de café arábica natural
produzido região de
Pedra Azul, em
Domingos Martins, foi
vendido a R$ 39 mil em
um leilão. Foi o maior
preço pago no mundo.
t Os preços dos café são
diferentes?
Quanto maior for a nota do
grão, segundo a
metodologia SCAA, mais
caro ele vai ser. Uma
bebida Rio, como é
chamado os grãos
tradicionais, vai custar
menos que a feita de grãos
especiais. Ou seja, quanto
mais refinado for a bebida,
mais caro vai ser o café.
/LILILOKAOFICIAL LILILOKAOFICIAL
CAFÉS
ESPECIAIS
TÊM MAIS
VALOR
Saca de conilon especial custa até 34% mais que o grão tradicional
Café especial possui
aroma e sabores
diferenciados