SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 2
Baixar para ler offline
| 31DOMINGO, 28 DE JANEIRO DE 2018
Economia.
| 30DOMINGO, 28 DE JANEIRO DE 2018
Editora: Joyce Meriguetti z jmeriguetti@redegazeta.com.br
WhatsApp: (27) 98135.8261 | Telefone: (27) 3321.8327
ATENDIMENTO AO ASSINANTE: (27) 3321-8699
Aeroportômetro
dias de atraso para a conclusão da obra
1 2 4
PRODUÇÃO FAMILIAR
Pequenos produtores ganham destaque com grãos de qualidade
SIUMARA GONÇALVES
sfgoncacalves@redegazeta.com.br
As grandes fazendas capi-
xabas fizeram do Espírito
Santoumdosmaiorespro-
dutores de café do Brasil,
masagorasãoospequenos
produtores que têm proje-
tado o Estado no seleto
grupo dos grãos especiais
que têm conquistado reco-
nhecimento internacional
pela qualidade da bebida.
Um desses produtores é
JoséCarlosVelten,41anos.
Fruto do esforço e trabalho
domeeiroemumaterrada
qual ele não é o dono, saiu
um dos melhores grãos do
Estado em 2017.
A lavoura que ele e a fa-
mília cuidam, localizada no
distritodeAltoNovaAlmei-
da, em Marechal Floriano,
RegiãodasMontanhascapi-
xabas,ultrapassouasbarrei-
ras do país por causa da sua
qualidade e sabor especial,
despertando a atenção até
de compradores de países
como Japão e Jamaica.
A colheira é entorno de
150 sacas de café por ano,
sendo que de 40% a 50%
desse total são compostos
por grãos especiais. “É um
orgulho ver que o que eu
produzifoipremiadoepode
ganhar o mundo. Cresci
nessemeioe,hoje,meustrês
filhos me ajudam. O mais
velho,quetem18anos,quer
fazer agronomia e ficar por
aqui”, revelou José Carlos.
Afamíliadeleéumadas
131 mil que produzem ca-
fé no Estado. Segundo da-
dos do Instituto Capixaba
de Pesquisa, Assistência
Técnica e Extensão Rural
(Incaper), o número re-
presenta 73% da agricul-
tura familiar capixaba.
AssimcomoocafédoJo-
sé Carlos está conquistando
espaçonomercadoexterno,
segundooConselhodosEx-
portadoresdeCafédoBrasil
(Cecafé), há uma procura
crescente pelos grãos brasi-
leiros de alta qualidade.
Os cafés diferenciados,
aqueles que têm qualidade
superior ou algum tipo de
certificado de práticas sus-
tentáveis, foram responsá-
veispor5,1milhõesdesacas
de 60 quilos vendidas ao
mercado externo, o que re-
presentou16,7%dototalde
MARCELOPREST
Estevão Denizar (à direita) e o filho
produzem cafés especiais para exportação
grãosexportadospeloBrasil
em todo o ano passado.
Dentro dessa categoria
estão os cafés especiais, cu-
jo valor de mercado é mais
elevado. Em 2017, o país
exportou105,5milsacasde
arábica tipo especial, que
foramvendidas,emmédia,
a US$ 221,75 cada. Já o do
tipo bebida mole, como é
chamado o café com nota
maiselevadaentreosgrãos
especiais, foram exporta-
dos 7,8 mil sacas a US$
277,63 cada, em média.
DE PAI PARA FILHO
A família Douro cultiva
café arábica há gerações. O
Estadovirouacasadosbisa-
vósdoprodutorEstevãoDe-
nizarDouro,55anos,quan-
do eleschegaramdaItáliae
da Alemanha, há mais de
um século e meio. Hoje, o
cafeicultorexportaacultura
da família para Japão, Ho-
landaeInglaterra.Comoele
mesmo disse: “plantar é
uma tradição da família”.
Apropriedadede42hec-
taresficanaregiãodeVictor
Hugo, em Marechal Floria-
no.Dessaárea,dezhectares
são destinados ao plantio
dos grãos e, por ano, ele,
doisfilhoseaesposaprodu-
zem 250 sacas de café.
Em média, a saca da be-
bidaRio-dequalidadeinfe-
rior-écomercializadanare-
giãopor,nomáximo,R$400
a saca. Já os especiais são
mais valorizados. Devido às
boascolocaçõesemprêmios
municipaiseestaduaisqueo
produto teve, um dos lotes
chegou a ser vendido por
R$ 1,3 milcadasaca.
Para agregar valor ao
que produz, em 2014, co-
meçou a comprar alguns
equipamentosparatorrare
moer os grãos. Hoje, além
de comercializar a saca,
vende direto para o consu-
midorfinalemembalagens
de 250 e 500 gramas.
UNIÃO
Vender a produção por
um bom preço garante ao
produtorlucroparaqueele
possa investir no ano se-
guinte. O cafeicultor Ed-
marBusato,42,sabedissoe
busca um valor melhor pa-
ra a vender o que ele e a fa-
mília produzem. Ele faz
partedaCooperativaAgro-
pecuária Centro Serrana
(Coopeavi) e, dependendo
daofertaquerecebe,vende
para a cooperativa ou para
uma corretora de café.
“Teve um café especial
quechegueiavenderumlo-
te por R$ 1,7 mil a saca no
ano passado porque ele
conquistou 91 pontos (em
uma escala de 0 a 100) na
qualificação. Um outro lote
vendiaR$1,5milparaaco-
operativa”, revelou.
De acordo com Giliarde
Cardoso, gerente do Negó-
cio Café da Coopeavi, cerca
de7,8milprodutoresdecafé
fazem parte do grupo. “O
nossotrabalhoédepadroni-
zação do café conforme as
exigências do mercado in-
ternacional, levando o café
doprodutorparaoexterior”,
disse.Ocafééexportadopa-
ra Itália, Alemanha, Rússia,
Estados Unidos, Holanda,
China, Suíça e Singapura.
Ainda segundo Cardoso,
oscafésexportadossãoven-
didos com rastreabilidade,
“umavezqueopúblicocon-
sumidor de cafés especiais
desejasaberaprocedênciae
a história dos produtores
por trás da embalagem”.
CAPARAÓ
Nãoésóocafédasmon-
tanhasquesãopremiadose
conquistam os cinco conti-
nentes. Em Dores do Rio
Preto, na Região do Capa-
raó, um café sem agrotóxi-
cos vem conquistando seu
espaço.Emdezhectaresde
plantaçãonoEspíritoSanto
e20emMinasGerais,oca-
feicultor Afonso Lacerda,
45, produz 750 sacas do
grão de conilon por ano.
Elejáganhoucercade40
prêmios,entrenacionais,es-
taduais e municipais, em oi-
to anos. “As premiações têm
uma credibilidade muito
boa.Issofacilitaconquistaro
mercado. O mundo do café
está todo ali olhando e,
quando tenho destaque, a
procura é maior”, diz o pro-
dutor Afonso Lacerda,45.
NÚMEROS DO CAFÉ DE QUALIDADE
PADRONIZAÇÃO
“O nosso trabalho é
de padronização
conforme as
exigências do mercado
internacional, levando
o café do produtor
para o exterior”
GILIARDE CARDOSO
GERENTE DO NEGÓCIO
CAFÉ DA COOPEAVI
MARCELO PREST
Edmar Busato já chegou a vender uma saca de café especial por R$ 1,7 mil
O mais
importante não
é o dinheiro da
premiação, mas
o prazer de ter
feito um
produto bom e
ser reconhecido,
quem sabe pelo
mundo todo.
Meus netos
verão o meu
certificado”
—
JOSÉ CARLOS VELTEN
PRODUTOR, 41 ANOS
A diferença no
café começa
com o trabalho
diário com os
pés, depois a
colheita e a
pós-colheita.
E temos uma
terra fértil, de
altitude boa
para o grão”
—
EDMAR BUSATO
CAFEICULTOR, 42 ANOS
CAFÉ CAPIXABA
COM DESTINO
INTERNACIONAL
Café de José
Carlos Velten
tem qualidade e
sabor especial
MARCELO PREST
DOMINGO, 28 DE JANEIRO DE 2018 ECONOMIA | 32
PRODUÇÃO FAMILIAR
MARCELO PREST
SIUMARA GONÇALVES
sfgoncacalves@redegazeta.com.br
Umcafécomaromaesabor
agradáveis, brando e doce
naturalmente. Essas são al-
gumascaracterísticasdoca-
féespecial.Mas,entreeleeo
produtocomum,aqueleque
todo mundo compra no su-
permercado e faz em casa,
alémdaqualidade,háoutra
grande diferença: o preço.
Umasacadocaféconilones-
pecial,porexemplo,chegaa
custaraté34%amaisquea
do grão tradicional.
O preço de venda dos
grãos corresponde à quali-
dadedabebidaereforçama
valorização que esses grãos
possuem no mercado. Se-
gundo os dados do Conse-
lhodosExportadoresdeCa-
fé do Brasil, em 2017, en-
quantooconilontradicional
foi vendido, em média, a
US$152,44asaca,ocafées-
pecial foi comercializado a
US$231,97,emmédia,asa-
ca, uma diferença de quase
US$ 80 entre os dois tipos.
Já no caso do arábica, a
diferença é um pouco me-
nor, mas ainda assim mais
valorizado que o produto
comum.Em2017,asacado
cafétradicionalfoiexporta-
da, em média, a US$
159,62,enquantoasacado
grão especial foi vendido,
em média, a US$ 221,75.
CONSUMO
Segundoopresidentedo
CentrodeComérciodeCafé
de Vitória (CCCV), Jorge
Luiz Nicchio, o aumento na
procuraporcafésespeciaisé
umafortetendênciaemfun-
ção das grandes cafeterias
do mundo inteiro, que op-
tamporcafésdiferenciados.
Paraele,esseéumcaminho
sem volta, já que “cada vez
mais o consumidor comum
também tem procurado es-
ses cafés diferenciados”.
Segundo Nicchio, o ca-
fé especial, por ser vendi-
doaumpreçomaiorqueo
normal, gera mais receita
para produtores e o país.
Para se ter uma ideia do
aumento na procura pela
bebida de qualidade, en-
quantoomercadodeexpor-
tação do grão comum cres-
ce entre 1,5% e 1,8% ao
ano,odecafésespeciaisestá
crescendoacimade15%ao
ano, explicou Silvio Leite,
consultor de qualidade de
cafés especiais.
“Os grãos de qualidade e
premiadossãomaisvisados
e ganham o exterior. Quan-
do um comprador leva esse
caféespecialeoutrospaíses
reagem bem ao produto, é
natural que a demanda por
ele aumente”, explica.
SABOR CAPIXABA
Edecafédequalidadeo
Espírito Santo entende,
tantoqueumprodutoará-
bicadoEstadofiguraentre
os mais caros do mundo.
Ele foi produzido em Do-
mingos Martins e, em
2017, foi leiloado a R$ 39
mil a saca.
Segundo Silvio Leite, os
grãoscapixabassãoumpou-
co mais adocicados e têm
uma acidez mais marcante.
“Os melhores lotes capixa-
bas são de colheita tardia.
Quantomaistempolevaen-
treafloraçãoatéofrutoficar
em ponto de colheita, signi-
ficaqueamaturaçãovaide-
morar mais porque a fruta
vai amadurecer mais deva-
gar. Essa maturação mais
lenta provoca doçura e aci-
dez no grão. Com isso, cada
produto tem sua caracterís-
tica específica”, explica.
SAIBA MAIS
t O que é um café especial?
Café com elevada
qualidade de bebida. Para
ser considerado especial,
um café precisa ter
classificação mínima de
80 pontos, de acordo
com a metodologia SCAA
criada pela Specialty
Coffee Association of
America (Associação
Americana de Café
Especiais - SCAA). Em
alguns casos, ele também
é chamado de gourmet.
t Como ele é avaliado?
Por meio da prova. Nela,
dez diferentes atributos
do café são verificados e
recebem uma nota
individual de zero a dez
pontos cada um, como:
fragrância e aroma,
uniformidade, ausência de
defeitos, doçura, sabor,
acidez, corpo e geral.
t Quanto já chegou a
custar?
No final do ano passado,
uma saca de 60 quilos
de café arábica natural
produzido região de
Pedra Azul, em
Domingos Martins, foi
vendido a R$ 39 mil em
um leilão. Foi o maior
preço pago no mundo.
t Os preços dos café são
diferentes?
Quanto maior for a nota do
grão, segundo a
metodologia SCAA, mais
caro ele vai ser. Uma
bebida Rio, como é
chamado os grãos
tradicionais, vai custar
menos que a feita de grãos
especiais. Ou seja, quanto
mais refinado for a bebida,
mais caro vai ser o café.
/LILILOKAOFICIAL LILILOKAOFICIAL
CAFÉS
ESPECIAIS
TÊM MAIS
VALOR
Saca de conilon especial custa até 34% mais que o grão tradicional
Café especial possui
aroma e sabores
diferenciados

Mais conteúdo relacionado

Mais de Paulo André Colucci Kawasaki

Mais de Paulo André Colucci Kawasaki (20)

Cecafe relatorio-mensal-maio-2018
Cecafe relatorio-mensal-maio-2018Cecafe relatorio-mensal-maio-2018
Cecafe relatorio-mensal-maio-2018
 
Clipping cnc 11062018
Clipping cnc 11062018Clipping cnc 11062018
Clipping cnc 11062018
 
Clipping cnc 07062018
Clipping cnc 07062018Clipping cnc 07062018
Clipping cnc 07062018
 
Clipping cnc 06062018
Clipping cnc 06062018Clipping cnc 06062018
Clipping cnc 06062018
 
Clipping cnc 05062018
Clipping cnc 05062018Clipping cnc 05062018
Clipping cnc 05062018
 
Clipping cnc 04062018
Clipping cnc 04062018Clipping cnc 04062018
Clipping cnc 04062018
 
Clipping cnc 28052018
Clipping cnc 28052018Clipping cnc 28052018
Clipping cnc 28052018
 
Clipping cnc 22e23052018
Clipping cnc 22e23052018Clipping cnc 22e23052018
Clipping cnc 22e23052018
 
Clipping cnc 21052018
Clipping cnc 21052018Clipping cnc 21052018
Clipping cnc 21052018
 
Clipping cnc 15e16052018
Clipping cnc   15e16052018Clipping cnc   15e16052018
Clipping cnc 15e16052018
 
Clipping cnc 14052018
Clipping cnc 14052018Clipping cnc 14052018
Clipping cnc 14052018
 
Clipping cnc 09052018
Clipping cnc 09052018Clipping cnc 09052018
Clipping cnc 09052018
 
Clipping cnc 18042018
Clipping cnc 18042018Clipping cnc 18042018
Clipping cnc 18042018
 
Clipping cnc 17042018
Clipping cnc 17042018Clipping cnc 17042018
Clipping cnc 17042018
 
Clipping cnc 12042018
Clipping cnc 12042018Clipping cnc 12042018
Clipping cnc 12042018
 
Clipping cnc 11042018
Clipping cnc 11042018Clipping cnc 11042018
Clipping cnc 11042018
 
Clipping cnc 10042018
Clipping cnc 10042018Clipping cnc 10042018
Clipping cnc 10042018
 
Clipping cnc 09042018
Clipping cnc 09042018Clipping cnc 09042018
Clipping cnc 09042018
 
Clipping cnc 03042018
Clipping cnc 03042018Clipping cnc 03042018
Clipping cnc 03042018
 
Clipping cnc 02042018
Clipping cnc 02042018Clipping cnc 02042018
Clipping cnc 02042018
 

28.01.2018 cafes especiais

  • 1. | 31DOMINGO, 28 DE JANEIRO DE 2018 Economia. | 30DOMINGO, 28 DE JANEIRO DE 2018 Editora: Joyce Meriguetti z jmeriguetti@redegazeta.com.br WhatsApp: (27) 98135.8261 | Telefone: (27) 3321.8327 ATENDIMENTO AO ASSINANTE: (27) 3321-8699 Aeroportômetro dias de atraso para a conclusão da obra 1 2 4 PRODUÇÃO FAMILIAR Pequenos produtores ganham destaque com grãos de qualidade SIUMARA GONÇALVES sfgoncacalves@redegazeta.com.br As grandes fazendas capi- xabas fizeram do Espírito Santoumdosmaiorespro- dutores de café do Brasil, masagorasãoospequenos produtores que têm proje- tado o Estado no seleto grupo dos grãos especiais que têm conquistado reco- nhecimento internacional pela qualidade da bebida. Um desses produtores é JoséCarlosVelten,41anos. Fruto do esforço e trabalho domeeiroemumaterrada qual ele não é o dono, saiu um dos melhores grãos do Estado em 2017. A lavoura que ele e a fa- mília cuidam, localizada no distritodeAltoNovaAlmei- da, em Marechal Floriano, RegiãodasMontanhascapi- xabas,ultrapassouasbarrei- ras do país por causa da sua qualidade e sabor especial, despertando a atenção até de compradores de países como Japão e Jamaica. A colheira é entorno de 150 sacas de café por ano, sendo que de 40% a 50% desse total são compostos por grãos especiais. “É um orgulho ver que o que eu produzifoipremiadoepode ganhar o mundo. Cresci nessemeioe,hoje,meustrês filhos me ajudam. O mais velho,quetem18anos,quer fazer agronomia e ficar por aqui”, revelou José Carlos. Afamíliadeleéumadas 131 mil que produzem ca- fé no Estado. Segundo da- dos do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), o número re- presenta 73% da agricul- tura familiar capixaba. AssimcomoocafédoJo- sé Carlos está conquistando espaçonomercadoexterno, segundooConselhodosEx- portadoresdeCafédoBrasil (Cecafé), há uma procura crescente pelos grãos brasi- leiros de alta qualidade. Os cafés diferenciados, aqueles que têm qualidade superior ou algum tipo de certificado de práticas sus- tentáveis, foram responsá- veispor5,1milhõesdesacas de 60 quilos vendidas ao mercado externo, o que re- presentou16,7%dototalde MARCELOPREST Estevão Denizar (à direita) e o filho produzem cafés especiais para exportação grãosexportadospeloBrasil em todo o ano passado. Dentro dessa categoria estão os cafés especiais, cu- jo valor de mercado é mais elevado. Em 2017, o país exportou105,5milsacasde arábica tipo especial, que foramvendidas,emmédia, a US$ 221,75 cada. Já o do tipo bebida mole, como é chamado o café com nota maiselevadaentreosgrãos especiais, foram exporta- dos 7,8 mil sacas a US$ 277,63 cada, em média. DE PAI PARA FILHO A família Douro cultiva café arábica há gerações. O Estadovirouacasadosbisa- vósdoprodutorEstevãoDe- nizarDouro,55anos,quan- do eleschegaramdaItáliae da Alemanha, há mais de um século e meio. Hoje, o cafeicultorexportaacultura da família para Japão, Ho- landaeInglaterra.Comoele mesmo disse: “plantar é uma tradição da família”. Apropriedadede42hec- taresficanaregiãodeVictor Hugo, em Marechal Floria- no.Dessaárea,dezhectares são destinados ao plantio dos grãos e, por ano, ele, doisfilhoseaesposaprodu- zem 250 sacas de café. Em média, a saca da be- bidaRio-dequalidadeinfe- rior-écomercializadanare- giãopor,nomáximo,R$400 a saca. Já os especiais são mais valorizados. Devido às boascolocaçõesemprêmios municipaiseestaduaisqueo produto teve, um dos lotes chegou a ser vendido por R$ 1,3 milcadasaca. Para agregar valor ao que produz, em 2014, co- meçou a comprar alguns equipamentosparatorrare moer os grãos. Hoje, além de comercializar a saca, vende direto para o consu- midorfinalemembalagens de 250 e 500 gramas. UNIÃO Vender a produção por um bom preço garante ao produtorlucroparaqueele possa investir no ano se- guinte. O cafeicultor Ed- marBusato,42,sabedissoe busca um valor melhor pa- ra a vender o que ele e a fa- mília produzem. Ele faz partedaCooperativaAgro- pecuária Centro Serrana (Coopeavi) e, dependendo daofertaquerecebe,vende para a cooperativa ou para uma corretora de café. “Teve um café especial quechegueiavenderumlo- te por R$ 1,7 mil a saca no ano passado porque ele conquistou 91 pontos (em uma escala de 0 a 100) na qualificação. Um outro lote vendiaR$1,5milparaaco- operativa”, revelou. De acordo com Giliarde Cardoso, gerente do Negó- cio Café da Coopeavi, cerca de7,8milprodutoresdecafé fazem parte do grupo. “O nossotrabalhoédepadroni- zação do café conforme as exigências do mercado in- ternacional, levando o café doprodutorparaoexterior”, disse.Ocafééexportadopa- ra Itália, Alemanha, Rússia, Estados Unidos, Holanda, China, Suíça e Singapura. Ainda segundo Cardoso, oscafésexportadossãoven- didos com rastreabilidade, “umavezqueopúblicocon- sumidor de cafés especiais desejasaberaprocedênciae a história dos produtores por trás da embalagem”. CAPARAÓ Nãoésóocafédasmon- tanhasquesãopremiadose conquistam os cinco conti- nentes. Em Dores do Rio Preto, na Região do Capa- raó, um café sem agrotóxi- cos vem conquistando seu espaço.Emdezhectaresde plantaçãonoEspíritoSanto e20emMinasGerais,oca- feicultor Afonso Lacerda, 45, produz 750 sacas do grão de conilon por ano. Elejáganhoucercade40 prêmios,entrenacionais,es- taduais e municipais, em oi- to anos. “As premiações têm uma credibilidade muito boa.Issofacilitaconquistaro mercado. O mundo do café está todo ali olhando e, quando tenho destaque, a procura é maior”, diz o pro- dutor Afonso Lacerda,45. NÚMEROS DO CAFÉ DE QUALIDADE PADRONIZAÇÃO “O nosso trabalho é de padronização conforme as exigências do mercado internacional, levando o café do produtor para o exterior” GILIARDE CARDOSO GERENTE DO NEGÓCIO CAFÉ DA COOPEAVI MARCELO PREST Edmar Busato já chegou a vender uma saca de café especial por R$ 1,7 mil O mais importante não é o dinheiro da premiação, mas o prazer de ter feito um produto bom e ser reconhecido, quem sabe pelo mundo todo. Meus netos verão o meu certificado” — JOSÉ CARLOS VELTEN PRODUTOR, 41 ANOS A diferença no café começa com o trabalho diário com os pés, depois a colheita e a pós-colheita. E temos uma terra fértil, de altitude boa para o grão” — EDMAR BUSATO CAFEICULTOR, 42 ANOS CAFÉ CAPIXABA COM DESTINO INTERNACIONAL Café de José Carlos Velten tem qualidade e sabor especial MARCELO PREST
  • 2. DOMINGO, 28 DE JANEIRO DE 2018 ECONOMIA | 32 PRODUÇÃO FAMILIAR MARCELO PREST SIUMARA GONÇALVES sfgoncacalves@redegazeta.com.br Umcafécomaromaesabor agradáveis, brando e doce naturalmente. Essas são al- gumascaracterísticasdoca- féespecial.Mas,entreeleeo produtocomum,aqueleque todo mundo compra no su- permercado e faz em casa, alémdaqualidade,háoutra grande diferença: o preço. Umasacadocaféconilones- pecial,porexemplo,chegaa custaraté34%amaisquea do grão tradicional. O preço de venda dos grãos corresponde à quali- dadedabebidaereforçama valorização que esses grãos possuem no mercado. Se- gundo os dados do Conse- lhodosExportadoresdeCa- fé do Brasil, em 2017, en- quantooconilontradicional foi vendido, em média, a US$152,44asaca,ocafées- pecial foi comercializado a US$231,97,emmédia,asa- ca, uma diferença de quase US$ 80 entre os dois tipos. Já no caso do arábica, a diferença é um pouco me- nor, mas ainda assim mais valorizado que o produto comum.Em2017,asacado cafétradicionalfoiexporta- da, em média, a US$ 159,62,enquantoasacado grão especial foi vendido, em média, a US$ 221,75. CONSUMO Segundoopresidentedo CentrodeComérciodeCafé de Vitória (CCCV), Jorge Luiz Nicchio, o aumento na procuraporcafésespeciaisé umafortetendênciaemfun- ção das grandes cafeterias do mundo inteiro, que op- tamporcafésdiferenciados. Paraele,esseéumcaminho sem volta, já que “cada vez mais o consumidor comum também tem procurado es- ses cafés diferenciados”. Segundo Nicchio, o ca- fé especial, por ser vendi- doaumpreçomaiorqueo normal, gera mais receita para produtores e o país. Para se ter uma ideia do aumento na procura pela bebida de qualidade, en- quantoomercadodeexpor- tação do grão comum cres- ce entre 1,5% e 1,8% ao ano,odecafésespeciaisestá crescendoacimade15%ao ano, explicou Silvio Leite, consultor de qualidade de cafés especiais. “Os grãos de qualidade e premiadossãomaisvisados e ganham o exterior. Quan- do um comprador leva esse caféespecialeoutrospaíses reagem bem ao produto, é natural que a demanda por ele aumente”, explica. SABOR CAPIXABA Edecafédequalidadeo Espírito Santo entende, tantoqueumprodutoará- bicadoEstadofiguraentre os mais caros do mundo. Ele foi produzido em Do- mingos Martins e, em 2017, foi leiloado a R$ 39 mil a saca. Segundo Silvio Leite, os grãoscapixabassãoumpou- co mais adocicados e têm uma acidez mais marcante. “Os melhores lotes capixa- bas são de colheita tardia. Quantomaistempolevaen- treafloraçãoatéofrutoficar em ponto de colheita, signi- ficaqueamaturaçãovaide- morar mais porque a fruta vai amadurecer mais deva- gar. Essa maturação mais lenta provoca doçura e aci- dez no grão. Com isso, cada produto tem sua caracterís- tica específica”, explica. SAIBA MAIS t O que é um café especial? Café com elevada qualidade de bebida. Para ser considerado especial, um café precisa ter classificação mínima de 80 pontos, de acordo com a metodologia SCAA criada pela Specialty Coffee Association of America (Associação Americana de Café Especiais - SCAA). Em alguns casos, ele também é chamado de gourmet. t Como ele é avaliado? Por meio da prova. Nela, dez diferentes atributos do café são verificados e recebem uma nota individual de zero a dez pontos cada um, como: fragrância e aroma, uniformidade, ausência de defeitos, doçura, sabor, acidez, corpo e geral. t Quanto já chegou a custar? No final do ano passado, uma saca de 60 quilos de café arábica natural produzido região de Pedra Azul, em Domingos Martins, foi vendido a R$ 39 mil em um leilão. Foi o maior preço pago no mundo. t Os preços dos café são diferentes? Quanto maior for a nota do grão, segundo a metodologia SCAA, mais caro ele vai ser. Uma bebida Rio, como é chamado os grãos tradicionais, vai custar menos que a feita de grãos especiais. Ou seja, quanto mais refinado for a bebida, mais caro vai ser o café. /LILILOKAOFICIAL LILILOKAOFICIAL CAFÉS ESPECIAIS TÊM MAIS VALOR Saca de conilon especial custa até 34% mais que o grão tradicional Café especial possui aroma e sabores diferenciados