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Gramado de Priscas Eras
É uma obra que retrata lembranças resgatadas por meio de antigas fotos, acrescidas
da memória de pessoas que foram contemporâneas ou relacionadas aos
personagens que habitaram tais casas.
É um resgate histórico conectado à riquíssima arquitetura dos pioneiros do turismo e
da vida local, acrescido da licenciosidade artística de um Designer apaixonado por
detalhes, e que conhece, como poucos, a história desta belíssima cidade.
Pacard resgata estilos e arquitetura dos modelos, com base em fotos amareladas
pelos anos, e faz correções, com o olhar saudoso destes personagens e seus
descendentes, e acrescenta seu olhar sobre a beleza dos ambientes neles retratados.
Sobre Gramado
Gramado, a mais conhecida cidade turística do Brasil, com uma população de cerca
de 35 mil habitantes, recebe aproximadamente 6 milhões de turistas, anualmente,
que gastam em média 80 dólares per capita.
É escassa a oferta de literatura de interesse histórico de Gramado, que possa
despertar encantamento no leitor de fora do círculo familiar do gramadense, para
que mostre, ao mesmo tempo, um retrato em cores do passado, por razões óbvias,
quanto da história relacionada aos ambientes destas imagens.
Desta forma, uma obra que ofereça uma proposta literário-visual completa,
certamente despertará o interesse e curiosidade, em não apenas olhar, mas em
guardar, pesquisar, examinar, com olhar acurado e investigador, até mesmo
buscando corrigir eventuais discrepâncias no detalhamento estético e arquitetônico a
que se propõe o autor.
É um investimento com retorno de longa durabilidade institucional
PS: Nem todas as casas são identificadas. Fica por conta da imaginação e das
memórias do leitor em investigar com os familiares mais antigos, o reconhecimento
do lugar..
Imagens by Pacard
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Tenho cerca de dez livros publicados. Este será, então, o undécimo, ou ônzimo ,
“ ”
como diriam os antigos. Os antigos, é disso mesmo que trata este trabalho. Não
apenas das casas onde moravam, mas de como poderiam ou teriam sido lindas,
aconchegantes, cheias de vida, e consequentemente, de alegria, e de esperança. Hoje,
muitas, talvez, a maioria destas casas, já não existem mais. Em seu lugar, imponentes
prédios, lojas sofisticadas, hotéis luxuosos, restaurantes que oferecem comidas do
mundo, para quem visita Gramado com a esperança de que o mundo se curve ao
romantismo daquilo que espera de uma pequenina cidade desenhada por
montanhas, cujas paredes são emolduradas por flores, e estradas alcatifadas
por pétallas de lembranças. Isso estava planejado havia muito tempo, desde que ouvi
alguém dizendo que faltavam livros que contassem as coisas pitorescas de Gramado.
Nesse pensamento, já publiquei o livro: Gente de Gramado que não será nome de
“
rua (Ille Vert Editora, 2020), onde relato noventa e nova causos do pitoresco de
”
Gramado. Mas era
pouco, pois faltavam imagens, que revigorassem estas lembranças, e foi assim que
decidi compor esta obra, que espero ser a primeira deste gênero, a ser seguida por
outras mais.
Fui resgatar o passado de um modo sublime, e certamente você, ou alguém de sua
família, que em algum tempo do passado, teve relação com Gramado, irá identificar-
se, e mergulhar nos sabores, cores, e perfumes dos tempos de antanho, das
lembranças de priscas eras.
Pacard - 2021
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Imagens by Pacard
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Imagens by Pacard
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Hospital de Caridade Santa Teresinha
Onde tudo começa, pode ser também onde tudo termina. Um hospital é onde as dores e as
alegrias se fundem com a empatia pelo sofrimento, e o conforto pela generosidade podem
acontecer. Eis o primeiro hospital de Gramado: Hospital de Caridade Santa Teresinha.
Foi na década de 1920, que um empresário chamado Valentim Puhl, cujos registros se
perderam em algum almoxarifado do tempo. É isso o que sei do início, mas do que veio
depois, ah sim, isso eu vou contar.
Durante certo tempo, só havia este hospital no Quinto Distrito de Taquara, inicialmente
chamada de Taquara do Mundo Novo, reduzindo para Mundo Novo, e depois, Gramado.
Um médico, alemão, chamado Dr. Ricardo Stürmhoeffel, que atuou em Gramado nas
primeiras décadas do século vinte (saliento que não tenho compromisso com datas, mas
com pessoas e suas casas, nesse livro), acredito que por sua influência, um sujeito chamado
Valentim Puhl, do qual desconheço qualquer outrareferência, senão pelas memórias de
minha avó, maria Elisa Dias Cardoso, construiu o Hospital Santa Teresinha, que mais tarde,
por conveniência fiscal, tornou-se uma associação filantrópica, e passou a ser denominado:
Hospital de “ Caridade Santa Teresinha”. A história contada por minha avó, não sei se é fiel
aos fatou ou não, mas como dizia ela própria: “Vou te vender pelo preço que comprei!”, isto
é, “serei fiel ao que conheço, do jeito que me foi contado. Reza a lenda que o médico chefe
era o Dr Karl Nelz, e que Dr Erico Albrecht era ainda residente de medicina, trabalhando
como assistente de Nelz. Em um daqueles dias que as coisas não andam muito bem, por
algum desentendimento, Nelz demitiu Erico, e continuou sozinho no hospital.
Passado certo tempo, e já formado, Erico casou com a filha de um importante empresário
de Porto Alegre.
Durante o periodo de graduação em Medicina, foi trabalhar como médico residente no
pequenino hospital de Gramado, sob o comando do Dr Carlos Nelz. Por essas coisas da vida,
houve, ao que contavam minha avó, um desentendimento entre eles, e Erico foi dispensado.
Imagens by Pacard
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Pouco tempo depois, já formado, e casado, Erico recebe um presente pelo sogro, que
mudaria sua vida e a vida de muitos: O Hospital Santa Teresinha, do quinto distrito de
Taquara, a perfumada Gramado. E como é natural do Ser Humando, em suas desavenças,
dessa vez, o demitido foi o Dr Nelz. Erico passa a clinicar e realizar cirurgias em seu novo
hospital, enquanto Nelz atende em sua casa, até que a comunidade constrói, para que ele
também trabalhe, o Hospital São Miguel, este, ligado à uma ordem religiosa.
Não quero aqui entrar nos detalhes, porque, como saliento, não sou historiador, e o objetivo
desta obra é mostrar as casas e algum pitoresco de seus contemporâneos, nada além disso.
Mas é isso que eu sei, porque me foi contado por quem sabia antes, e mais do que eu.
Eu tinha cerca de dezesseis anos de idade, e por convicção religiosa, de cunho pacifista,
minha orientação era de não receber treinamento com armas, que ensinasse a matar,
durante o serviço militar, e a única forma de evitar esse compromisso, sem deixar de servir à
pátria, seria na condição de enfermeiro . Ora, naquele tempo, cair na água, e fazer
“ ”
tchumbum , era considerado um peixe, então saber aplicar uma injeção, e trocar um
“ ”
curativo, poderia ser perfeitamente um auxiliar de enfermagem, se tivesse recebido um
cursinho breve para essa finalidade.
A organização religiosa á qual eu era filiado, mantinha hospitais famosos no Brasil, e um, no
Rio de Janeiro, oferecia cursos de Socorrista Padioleiro que são aqueles soldados que
“ ”
passam pelas fileiras de feridos, juntando os vivos, e os carregando até à enfermaria de
campanha, para que fossem tratados. Esse era o padrão aceitável de enfermeiro no serviço
militar.
Decidido a fazer isso, procurei pelo Dr. Theodoro Alexandre Albrecht, Cardiologista, e filho do
Dr Erico, que também atendia naquele hospital, e expliquei a situação. Ele ficou de falar com
o pai dele, e me daria retorno na semana seguinte. Passados alguns dias, nos encontramos
da piscina do Gramado tênis Clube, e ele confirmou que eu havia sido aceito, e deveria ir
naquele mesmo dia, conversar com Dr Erico, em seu consultório. Em lá chegando, fui
recebido amavelmente pelo velho doutor, que olhou pra mim e disse:
- Quando você entra em férias no seu trabalho? (Nesse tempo, eu era escultor no
“ ”
Artesanato Gramadense, e estava chegando o meu período de férias, mês de abril).
- Segunda feira que vem, eu entro em férias, doutor!
“ ”
- Então quero você aqui na terça feira, com calça branca, camisa branca, cueca branca,
meia branca, sapado branco, jaleco branco, unha cortada e feita , cabelo cortado, e banho
“ ”
tomado!”
Naquele mesmo dia, fui à loja e comprei tudo o que era preciso, e minha mãe costurou pra
mim um jaleco do estilo Dr. Kildare, elegante, bem desenhando, e naquela terça-feira, cedo,
eu apareci no hospital para trabalhar. Olhando pra mim com um sorriso de canto,
perguntou:
- Trouxe a mala com roupas?
“ ”
- Não! Era pra trazer?:
“
- Sim, onde você acha que vai ficar no próximo mês?
“ ”
E assim passou correndo aquele mês, onde aprendi de tudo o que um menino com dezesseis
anos poderia aprender e fazer, em um mês, dentro de um hospital de interior, sob a
supervisão de dois grandes médicos, e uma equipe de enfermagem chefiada pela
enfermeira Inge Deppe, e sub-chefiada por Hilda Weber. Inge era formada em enfermagem,
e Hilda era prática.
Imagens by Pacard
GRAMADO de priscas erasVolume 1
9
O Hospital
Construído com tijolos maciços, grandes, tinha os assoalhos dos três pisos de madeira, o que
obrigava às pessoas a comedirem o andar, pois fazia um barulho insuportável para quem
estava em convalescença, nos quartos espalhados pelo corredor.
Quando trabalhei lá, havia um avanço nos fundos, em direção ao norte, que era chamado de
Parte Nova , mas falemos apenas da parte original, a que está retratada nas ilustrações.
“ ”
Esta parte, era composta do térreo, que ficava abaixo do nível da rua em frente, e ao nível
da rua lateral, que tinha um declive. Também tinha um sótão, com seis quartos, que
ocupavam o subtelhado, cujas janelas eram instaladas em Gaiutas . Cada gaiuta então,
“ ”
correspondia a um aposento. Foi no quarto de número nove, da gaiuta central, que meu avô,
Assis Brasil Cardoso, expirou. Mas tem coisas boas aí tambe´m, pois foi nesse hospital que
nasceu meu filho Michael. E assim foi lá quem nasceram penso que algumas milhares de
crianças, muitos dos quais, estão lendo isso agora..
O Hospital foi construído em um tempo, e de um modo, que os problemas futuros foram
deixados para o acaso resolver, e um destes graves problemas, era a drenagem. Como foi
construído sobre uma bacia, de fundo rochoso, a água da chuva ficava empoçada debaixo
do assoalho da cozinha e dos quartos das residentes. Muitas foram as vezes que ouvi o Dr
Erico dizendo que daria um terreno a quem desse uma solução naquele banhado. Ninguém
ganhou o terreno, e anos mais tarde o hospital foi vendido, e por fim, foi fechado, e o local foi
transformado em um moderno condomínio.
A velha casa em estilo alemão, construída pelo Valentim Puhl, deu seu lugar à quem pudesse
servir e resistir mais do que ele resistiu.
O velho Hospital do Doutor Erico, será um lugar onde as lembranças de vida e morte se
“
mesclam, e quem dele se recorda, tem uma história pra contar. Essa é apenas uma das
minhas.
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Vamos colorir Gramado?
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Imagens by Pacard
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Imagens by Pacard
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Imagens by Pacard
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Este empresário era fabricante de fogões, e muito abastado, e
o presente de casamento ao casal, foi o hospital de Gramado.
Assumindo, então, a direção do estabelecimento, Erico tem
sua revanche, e demite Nelz, que passa a trabalhar, e atender
seus pacientes, na sua casa. Por esse motivo, então, um grupo,
da comunidade local, ligado à igreja católica, adquires um
terreno, e constrói outro hospital, para ficar aos cuidados de
Nelz. Nasce aí uma rivalidade que dualiza a comunidade até o
fim dos anos 70, onde, ou você era atendido por Erico, ou era
atendido pelos Nelz. Esta rivalidade, segundo lembro,
estendia-se também no viés político. O certo era que, tanto os
Nelz, quanto os Albrecht (Erico, e seu filho Theodoro Alexandre,
Cardiologista), eram médicos de capacidade única, cujos
pacientes jamais questionaram sua habilidade e empenho no
serviço da medicina. Esta rivalidade beneficiou Gramado, e
hoje, o local onde estava o Hospital Santa teresinha, deu lugar
a um condomínio residencial e comercial, porque a vida tem
pressa e a civilização precisa de espaço.
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Algumas pérolas do Hospital
A Noiva
Era voz corrente da equipe de enfermagem, que uma
belíssima moça, vestida de noiva, costumava circular pelos
corredores na parte de baixo, onde ficava a cozinha e os
quartos das funcionárias, especialmente pela cozinha, e pela
parte de trás, do lado de fora, onde ficava o necrotério.
Fui atendente de enfermagem por um ano, e em meus
plantões noturnos, com frequência, trabalhava sozinho.
Sabendo disso, pouco antes de se retirarem, elas se juntavam
onde eu estava, e contavam lorotas escabrosas sobre a tal
“noiva” passeadeira.
A bem da verdade, vi algumas pessoas passeando às
escondidas, vez ou outra, mas parecia-me que a ideia de
noivado nem passava na cabeça delas. Era só festa mesmo,
confraternização, a dois.
Arcelino
Com raras exceções, quase sempre, a garnde maioria da equipe de trabalho do
Hospiatl, era feminina. Trabalhei lá duas vezes: Como atendente de enfermagem, e o
administrador era Harry Wilson Fleck. E quando administrei o hospital, algunas anos
mais tarde, com exceção do Arcelino, eu era o bendito entre as moçoilas. Arcelino
cumpria as funções de responsável pelo jardim, e isso fazia com maestria, pois era
um sacerdócio o seu zelo pela cerca-viva de ciprestes, sempre bem aparada.
Cuidava também de uma pequena horta de temperos, que atendia as necessidades
da cozinha, e também ele, Arcelino, colhia os legumes que plantava. Também criava
umas galinhas, mas apenas para coletar os ovos, pois Arcelino tinha um amor imenso
pelos animaizinhos. Certa ocasião, apareceu com uma sabiá que tinha a asinha
machucada, para que as enfermeiras tratassem do bichinho. Fazia coisas assim, mas
tinha um gênio sinistro, quando era contrariado por alguma coisa. Não era sempre,
era bondoso, gentil, cordato, e só perdia as estribeiras, quando mexessem com seus
animaizinhos. Lembro que trabalhava conosco uma cozinheira, a Delfina, a quem
chamávamos de Pina . Mão de anjo nas panelas, tanto que ela trabalhou comigo
“ ”
na primeira vez que estive lá, e depois saiu, mas quando voltei, na condiçãon de
administrador, fui buscá-la de onde estava, como cozinheira de um restaurante,
comivi ela com dinheiro, oferecendo a metade do que ganhava naquele lugar, e ela
aceitou correndo. Voltou a cozinhar pros doentes, e pra equipe do hospital. As coisas
eram assim, no improviso, mas davam certo. Pois foi no dia em que Pina preparou o
prato reforçado do Arcelino, e colocou nele dois rechoncudos pedaços de frango.
Quando recebeu o prato, e viu o frango, olhou com desconfiança, mas não disse
nada. E nem precisava, pois uma enfermeira muito debochada, que estava perto
falou:
- Suas galinhas são deliciosas, Arcelino! Ai, pra que disse isso Arcelino espatifou o
…
prato na parede e queria matar a cozinheira, que se não fosse socorrida, o causo
seria outro No fim, deu tudo certo.
…
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“Filho da puta! Filho da puta!”
Nunca ouvi o Dr Erico pronunciar um único palavrão. Era um
homem elegante, polido, com um vernáculo prolixo, e dotado
de muita altivez no trato com as pessoas. Até quando passava
uma carraspana em alguém, era com polidez, com nobreza.
Mesmo quando ria de alguma coisa, ele o fazia com muita
polidez. Falava baixo, tinha voz grave, e uma perfeita dicção e
jamais o vi dando gargalhas escandalosas. Jamais. E nem por
isso, pedia seu bom humor, quase britânico, no modo de
expressá-lo. Então, ele não falava palavrão. Isto é, até o dia em
que estava no ambulatório, tentando extrair um espinho de
Sucará, uma árvore dura, cujo tronco é cercado de esponhos
que chegam até quatro centpimetor de comprimento, e que
possuem fisgas, como um anzol, fazendo com que, uma vez
cravado na vítima, ele não deslize para fora, sem muito
esforço e dor. Tanto é assim, que diziam que ele “caminha” na
carne, ou seja, com o movimento muscular, o espinho avança,
e por causa das fisgas, não consegue voltar sem intervenção.
Assim, um espinho que entra no punho, pode, em pouco
tempo, estar cerca de cinco centimetros braço adentro, e só
pode ser retirado por um método muito dolorido, de permitir
que infecione o local, para que o ferimento abra e promova o
expurgo do invasor, pois há ainda o agravante que o espinho
mimetize, ou seja, assuma a cor do ambiente, tornando-se de
dicícil localização.
Pois foi na tentativa de extrair um espinho do punho de um
paciente, que o doutor sai quase aos pulos, empunhando uma
pinça, com um espinho na ponta, extraído, e berrando:
- “Filho da puta! Filho da puta!” Esse eu venci!
E venceu mesmo. Foi aí que ele explicou o relato acima.
Aplaudimos e nos orgulhamos no nosso chefe cirurgião.
18
Reencontro de irmãs
Os dias em um hospital são um tanto
enfadonhos, tanto para os pacientes,
quanto para seus acompanhantes, pois,
embora sob efeito de medicamentos, em
muitos casos, e por isso repousam, os
acompanhantes ficam ao lado, contando
ladrilhos, ou sentando e levantando, para
acelerar as horas.
Não é incomum, que pacientes fossem
passear pelos quartos, visitando outros
pacientes, e confortando-os um pouco,
também.
Numa destas tardes monótonas, uma
senhora, que acompanhava o filho,
recém operado, foi passear pelos
quartos vizinhos, e travou amizade com
outra senhora, acamada, e a prosa
andou à lo largo, até que em dado
momento, naquelas corriqueiras
perguntas sobre origens de uma e de
outras, deram por conta de que
eram...irmãs, separadas por cerca de
vinte anos.
Era comum, que as famílias pobres, do
interior do município, com muitos filhos
para sustentar, enviassem um ou mais
filhos, para trabalhar como domésticas,
ou em outras atividades, para os
meninos, a partir de dez ou doze anos de
idade. Foi o que aconteceu ali. E nunca
mais souberam da filha. Não, até aquele
momento.
Eu sei que foi assim, porque eu estava lá,
e eu vi isso acontecer.
Muitas lembranças
Publiquei uma imagem de meus
desenhos em 3D, em um grupo de
amigos, e foi enorme a repercussão, de
pessoas que queriam dar seus
testemunhos, que enriquecem o saber
da memória afetiva que une as pessoas
com os lugares. Quando falo que quero
mostrar como seriam as casas, quando
eram novas, estou dizendo que nestas
casas, transitaram, viveram, sonharam,
muitas pessoas. E o Hospital de Caridade
santa teresinha tem essa
particularidade, de unir pobres e ricos na
mesma arquitetura.
Imagens de Internet
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GRAMADO de priscas erasVolume 1
21
O Hospital dos Puhl
Primeiros estudos, que aos poucos, e à medida em que conversava com os
personagens mencionados a seguir, eram esclarecidos: Localização de janelas, portas,
varanda, e combinados com a fotografia de um fragmento da casa, que mostrou-me
o caramanchão de Glicínias, que sugeriu então as cores da casa.
Esta história precisa ser contada com um pouco mais de detalhes, pois desenhar esta
casa, foi um exercício de tentativa e erro, com base apenas, inicialmente, nas
informações de duas pessoas, a quem irei aqui descrever com enorme gratidão: Ilse
Miguelina Puhl, e Dirceu Hugo Daros.
Esta história começa quando, ao desenhar o Hospital de Caridade Santa teresinha,
das páginas anteriores, minhas lembranças chegavam à uma informação, a mim
passada, pela minha avó, Maria Elisa Dias Cardoso, e também pelo Dr. Erico Albrecht,
Médico e dono do hospital, por muito tempo. Diziam eles que aquele hospital havia
sido construído por um certo Valentim Puhl. E era tudo o que era dito. E nada se sabia
de João Valentim Puhl, até aqui. Percoirri (virtualmente) os mais idosos de meus
grupos nas redes sociais, perguntando se alguém sabia alguma coisa sobre Valentim
Puhl, mas a resposta er um grande vazio. Um amigo, mais velho que eu, Sergio
Bertoja, disse que ouviu sua mãe, dona Lacy Bertoja, dizer, que havia uma família
Puhl, em Gramado, mas que fora embora nos anos 50. E era toda a informação que
eu tinha.
22
Determinado a encontrar, no mínimo, alguma referência ao Valentim Puhl, fui
procurar no Facebook, como também no Google, por este nome e nome da família,
ao que aparecem em localidades distintas, sobrenomes Puhl . Encontrei então
“ ”
uma comunidade desta família, e solicitei ingresso, justificando minha ousadia de
invadir seu espaço. Prontamente fui aceito, e enviei as imagens do hospital e mais
outras, a apresentação do livro, e contei a história, e também a razão desta busca.
Travei amizade com um membro da família, sr Celso Puhl, que contou-me que são
da região do município de Santo Cristo, no Rio Grande do Sul, e que ele, celsom
morava em santa Rosa, a terra da Xuxa (está neste livro a casa de Bernardina
“ ”
Meneghel, (tia da Xuxa) que morou em Gramado), mas que nunca tinha ouvido
falar de Valentim. Celso prometeu-me visitar um parente que tem um livro de
genealogia da família, mas ficou nisso. Não prosperou a informação.
Enquanto isso, conheci outra pessoa, também da família Puhl, que relatou
conhecer um parente do João Valentim Puhl. E pouco tempo depois, adicionou-me
no whatsapp, outro Celso Puhl, mas que não tinha nenhuma ligação (talvez
distante apenas) com o primeiro Celso, e numa breve conversa, contou-me que
era neto de João Valentim, filho de dona Ilse Miguelina Puhl, com 96 anos de idade,
e perfeitamente lúcida, simpática, gentil. Em poucos instantes, estávamos numa
live, onde perguntei muitas coisas, e ouvi a seguinte história:
Meus pais moravam em São Sebastião do Caí, e mudaram para Linha Imperial,
”
em Nova Petrópolis contou Ilse. Meu pai era alfaiate, e minha mãe, Lúcia
” – “
Matilde Puhl era paciente do Dr Carlos Nelz. Era aminha mãe, a grande
empreendedora, dinâmica, da família Stürmer. Foi a partir dessa amizade,
incentivada pelo Dr Nelz, que meus pais alugaram uma casa da família Daros
(Augusto Daros), e nela, montaram um pequeno hospital, com cerca de oito
quartos.”
A conversa seguiu por mais alguns minutos, e ficou marcado um novo encontro,
em outra oportunidade. Porém, embora com estas ricas informações, infelizmente,
dona Ilse não dispunha de uma fotografia desta casa. Mas, como acaso não é algo
em que eu acredito, a palavra-chave para localizar outras informações eram o
sobrenome: Daros! Augusto Daros, era o avô da saudosa historiadora Marília
Daros, e de seu ainda saudável irmão, Dirceu, que tornou-se um grande
colaborador deste trabalho, trazendo memórias valiosas sobre outras casas e
histórias aqui levantadas. E em cheio, acertado: Dirceu sabia da casa, e mais ainda,
havia morado por sete anos no lugar, pois assim que foi concluído o novo hospital,
Hugo e Soely Daros, foram morar na casa. Dirceu, então, relatou que havia oito
quartos na parte de cima da casa, o que combinou com a informação de Dona
Ilse, sobre os oito quartos. Mas Dirceu foi ainda mais preciso, informando que os
quartos estavam na parte de cima, o que chamamos de Sótão.
Foi assim, que, juntando as informações e observações que eu já havia coletado
sobre os padrões arquitetônicos da Gramado da primeira metade do século XX, e
aventurei-me a traçar a volumetria da casa, uma vez que não haviam fotos
disponíveis com esta informação. Isso feito, enviei ao Celso Puhl, para que
mostrasse à mãe, e pudesse ela, corrigir os detalhes, já com um esboço na frente.
Dona Ilse confirmou que, sim, de acordo com suas lembranças, a casa erra assim
mesmo.
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Determinado a encontrar, no mínimo, alguma referência ao Valentim Puhl, fui
procurar no Facebook, como também no Google, por este nome e nome da família,
ao que aparecem em localidades distintas, sobrenomes Puhl . Encontrei então
“ ”
uma comunidade desta família, e solicitei ingresso, justificando minha ousadia de
invadir seu espaço. Prontamente fui aceito, e enviei as imagens do hospital e mais
outras, a apresentação do livro, e contei a história, e também a razão desta busca.
Travei amizade com um membro da família, sr Celso Puhl, que contou-me que são
da região do município de Santo Cristo, no Rio Grande do Sul, e que ele, celsom
morava em santa Rosa, a terra da Xuxa (está neste livro a casa de Bernardina
“ ”
Meneghel, (tia da Xuxa) que morou em Gramado), mas que nunca tinha ouvido
falar de Valentim. Celso prometeu-me visitar um parente que tem um livro de
genealogia da família, mas ficou nisso. Não prosperou a informação.
Enquanto isso, conheci outra pessoa, também da família Puhl, que relatou
conhecer um parente do João Valentim Puhl. E pouco tempo depois, adicionou-me
no whatsapp, outro Celso Puhl, mas que não tinha nenhuma ligação (talvez
distante apenas) com o primeiro Celso, e numa breve conversa, contou-me que
era neto de João Valentim, filho de dona Ilse Miguelina Puhl, com 96 anos de idade,
e perfeitamente lúcida, simpática, gentil. Em poucos instantes, estávamos numa
live, onde perguntei muitas coisas, e ouvi a seguinte história:
Meus pais moravam em São Sebastião do Caí, e mudaram para Linha Imperial,
”
em Nova Petrópolis contou Ilse. Meu pai era alfaiate, e minha mãe, Lúcia
” – “
Matilde Puhl era paciente do Dr Carlos Nelz. Era aminha mãe, a grande
empreendedora, dinâmica, da família Stürmer. Foi a partir dessa amizade,
incentivada pelo Dr Nelz, que meus pais alugaram uma casa da família Daros
(Augusto Daros), e nela, montaram um pequeno hospital, com cerca de oito
quartos.”
A conversa seguiu por mais alguns minutos, e ficou marcado um novo encontro,
em outra oportunidade. Porém, embora com estas ricas informações, infelizmente,
dona Ilse não dispunha de uma fotografia desta casa. Mas, como acaso não é algo
em que eu acredito, a palavra-chave para localizar outras informações eram o
sobrenome: Daros! Augusto Daros, era o avô da saudosa historiadora Marília
Daros, e de seu ainda saudável irmão, Dirceu, que tornou-se um grande
colaborador deste trabalho, trazendo memórias valiosas sobre outras casas e
histórias aqui levantadas. E em cheio, acertado: Dirceu sabia da casa, e mais ainda,
havia morado por sete anos no lugar, pois assim que foi concluído o novo hospital,
Hugo e Soely Daros, foram morar na casa. Dirceu, então, relatou que havia oito
quartos na parte de cima da casa, o que combinou com a informação de Dona
Ilse, sobre os oito quartos. Mas Dirceu foi ainda mais preciso, informando que os
quartos estavam na parte de cima, o que chamamos de Sótão.
Foi assim, que, juntando as informações e observações que eu já havia coletado
sobre os padrões arquitetônicos da Gramado da primeira metade do século XX, e
aventurei-me a traçar a volumetria da casa, uma vez que não haviam fotos
disponíveis com esta informação. Isso feito, enviei ao Celso Puhl, para que
mostrasse à mãe, e pudesse ela, corrigir os detalhes, já com um esboço na frente.
Dona Ilse confirmou que, sim, de acordo com suas lembranças, a casa erra assim
mesmo.
E assim, Gramado já sabe um pouco mais de sua história quase esquecida.
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Augusto Da Ros, Italiano de
Treviso, casado com
Angelina Nicoletti Da Ros
( Irmão do Major Nicoletti,
fundador de Gramado ) e
foi o proprietário desta
casa depois do Hospítal e
após a morte dos dois,
ficou para os herdeiros e
moramos até o ano de
1.949 quando os mudamos
na propriedade vizinha ao
meu Padrinho Benno
Ruschel da Farmácia
Galeno.
(Dirceu Daros)
(D) Dona Ilse Miguelina Puhl, filha
mais nova de João Valentim Puhl
Dirceu Hugo daros, o velho
goleiro do Botafogo de Riberão
Preto, que nasceu na casa.
25
Esta é a única foto remanescente, que mostra a família Phul diante do novo Hospital
Santa teresinha.
26
Primeiro estudo da casa, ainda sem nenhuma
informação, exceto que havia oito quartos, no sótão.
27
Você pode escolher o ângulo da casa e encomendar, em alta resolução, com
efeitos artísticos, ou cores naturais, para imprimir e emoldurar. Também pode
solicitar em traços, para imprimir e pintar.
Contate com a editora Ille Vert (48) 999 61 1546 whatsapp apenas
28
O Açougue dos Benetti
Vitório Benetti era um descendente de italianos, com cara de açougueiro descendente de
italianos. E era isso mesmo. Açougueiro, por vocação.
Quando conheci o lugar, no início dos anos 60, do século passado (ah, como sou velho), era
um dos açougues, que nesse tempo, eram chamados de Picador , assim como os armazéns
“ ”
e bares, eram chamados de Venda, ou bodega , os atendentes eram os bodegueiros, ou
“ ” “
caixeiros , e vendiam de tudo um pouco.
”
Este açougue da imagem, foi de vários açougueiros, mas vou contar dois pitorescos de dois
deles: Tóio Benetti, e Ivâ de Oliveira.
“ ”
Muito antes disso, porém, tomei conhecimento, enquanto pesquisava, que a casa fora um
pequeno armazém, de propriedade deo Sr Alcides Arend. Esta informação foi dada por um
de sesu filhos, Erico Romeu Arend.
Nesse tempo, a Vigilância Sanitária não era muito zelosa, e os açougueiros aproveitavam a
falta de movimento em algumas horas, e faziam linguíça. Para isso, moíam a carne e
empilhavam no balcão de atendimento. Uma montanha de carne, temperada, esperando
ser envelopada para defumação.
Numa feita, chega lá um cidadão, que batia papo à lo largo, como Tóio , e quando este
“ ”
virava as costas, o indivíduo enfiava a munheca na montanha de carne, sacava um lote da
mercadoria, e enfiava no bolso da bombacha. Depois, comprou seu bifinho, e saiu,
abastecido, com os bolsos estufados de recheio de linguiça.
Outro causo, deu-se quando o meu saudoso amigo Ivã de Oliveira, era açougueiro. Era
cortês e gentil com todos. Um dia, estava atendendo um jornalista famoso, que tinha casa
em Gramado, um sujeito fino, reservado, e enquanto aguardava o preparo de sua
encomenda, um bêbado contumaz, acalorou-se de amores pelo visitante, e desatou a
enaltecer as virtudes de coimer um Jacú véio com farinha de mío . O pobre Ivã não sabia
“ ”
onde enfiar a cara, de tanta vergonha. Mas, bater boca com um xarope é mau negócio, e Ivã
não era um mau negociante.
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Vamos colorir Gramado?
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32
Casarão da Borges
A casa pertenceu à família Castilhos, e quando a conheci, morava lá Dona Alice Castilhos,
funcionária pública da Prefeitura, conhecida como Tia Alice , uma pessoa doce e meiga, que
“ ”
tratava à todos om elegância. Fomos colegas, no tempo em que trabalhei da Secretaria de
Turismo, e a conheci bem. Era dona de um fusquinha cor de café com leite, que, ao que
soube, ficou de herança ao seu sobrinho João Alfredo, o “Fedoca , que foi Prefeito do
”
município, seguindo os passos do seu pai, Walter Bertolucci.
Mais tarde, foi alugado para uma artista plástica, que trabalhou durante muitos anos com
cerâmica artesanal, na parte de cima da casa.
O porão foi palco de duas boates, até a década de 70, e depois, fui utilizado como
restaurante especializado em Queijos e Vinhos, o Chez Pierre, do saudoso amigo, Pedro
Gobbi, o Pierre .
“ ”
A especialidade da casa eram o Fondue, e a Raclette, uma bandeja com picles, embutidos
picados, e queijo derretido.
Em 1978, foi realizado um filme entre Gramado e Canela,pela Linx Filmes e Editora Planeta,
dirigido por Walter hugo Khoury, com atores conhecidos no elenco, como Rosina
Malbouisson, e a italiana Paola Morra. Nesse tempo, eu trabalhava como assessor de
turismo, e fui designado pelo prefeito Nelson Dinnebier, a acompanhar e auxiliar a produção
do filme, intermediando locações, e o que fosse necessário no ambiente local. Então, além de
ganhar um saboroso cachê, e boca livre nos melhores resuatrantes da cidade, pelo tempo
da produção, quase sessenta dias, nosso local favorito era o Chez Pierre, ao qual, os diretores
da Linx não lembravam do nome da raclette, e a chamavam de Tarraqueta . Assim, o Chez
“ ”
Pierre, era também chamado, pelo grupo, de Tarraqueta .
“ ”
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Vamos colorir Gramado?
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Artesanato Gramadense
Este lugar e bem mais que uma lembrança arquitetônica, que nem estilo tem, senão
algumas caixas de tijolos cobertas com telhas de fibrocimento. A questão não é o estilo,
mas o conteúdo, que povoa a memória de quem passou por lá, e a falta de memória de
quem não o conheceu.
No início dos anos 60, chegaram à Gramado, os alemães, imigrantes, Elisabeth e Erich
Rosenfed. Ela, artista pl´pastica, premiada, e ele, funcionário de uma Cia. Alemã de
tecnologia.
Eram proprietários das terras. Na localidade do Caracol, inclusive onde fica a Cascata, e
venderam, comprando a terra de Gramado, que tinha cerca de 100 metros de frente,
talvez mais, por cerca de um quilômetro, no sentido norte. Havia mato, arroio, cascata,
campo, aclives e depressões, e sobre o alto de uma colina, construíram a casa, que se vê,
aos fundos.
Elisabeth, tinha um Fusca branco, e Erich, passeava com seu elegante Simca Chambord,
pela cidade, além de seu inseparável cachimbo, que denunciava sua presença simpática,
por onde passava.
Eçisabeth era muito brincalhona,e adorava passar trotes, no dia primeiro de abril. Era
generosa, e conheço relatos e testemunhos de pessoas a quem ela estendeu a mão, até
mesmo financeiramente. Adorava contar histórias, especialmente as histórias vividas por
pessoas de suas relações, que vieram para o Brasil, fugindo dos horrores da guerra. Eram
pessoas cultas. Lembro de um piano de meia cauda, preto, que foi vendido para um
médico local, e substituído por outro de quarto de cauda, muito lindo, que ficava na sala
da casa.
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Eu desconheço a razão, mas esta é uma das raras fotografias que mostra Elisabeth, e não é
por falta delas, pois bem recordo que ela gostava de fotografar e ser fotografada no seu
cotidiano. Enfim, uma lástimas, que tenha se sublimado nos espólios, o remanescente
material e memorial destas pessoas e lugar. Apelo então `minha, e de outrem, memórias,
para alguns pitorescos.
Gramado era já visitada por pessoas de diversos lugares, especialmente Porto Alegre, e São
Paulo. Não posso deixar de mencionar que o Instituto balneo Lodoterápico, da família Nelz,
contribuiu para a internacionalização da cidade. Mas sobre estes, falarei em outro capítulo.
Quando começou, Elisabeth tinha um pequenino atelier na garagem do chalé onde morava.
Logo, percebeu que precisava ampliar suas possibilidades criativas, e construiu um pequeno
atelier (aliás, foi a primeira vez que ouvi palavras como: Mosaico, Atelier, e Artesanato).
Neste atelier, contratou um especialista em fornos, um tal de Olímpio, e com ele, veio um
assistente, o Nelson Tenher. Olímpio termiou a tarefa, e foi embora. Mas Nelson ficou, e ficou
tanto tempo, que muitos anos depois, bem de vida, já, comprou a propriedade particular
onde moraram Elisabeth e Erich (ou Erico) Rosenfeld.
O negócio de cerâmica não prosperou, pois já havia uma amiga de Elisabeth, uma senhora
egressa de um campo de prisioneiros pelos nazistas, chamada Wanda Ductzynka,ceramista,
e nunca irei saber, mas quero presumir que Elisabeth não quis promover concorrência com a
amiga.
Amigos, aliás, não faltava aos Rosenfeld. Logo, foi construída a casa maior, e o chalé, passou
a ser a casa de hóspedes, onde os Rosenfeld recebiam artistas, eruditos, de Porto Alegre e
São paulo. Alguns também da Alemanha.
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Elisabeth comprou um Tear de madeira para tecer tapetes de lã, que era comprada dos
fazendeiros de São Francisco de Paula, mas a lã chegava suja, da mesma forma que era
tosada, assim, precisava ser lavada, e era minha avó, maria Elisa, quem fazia esse serviço.
Na foto ao lado,o terreno dos fundos da casa, um imenso gramado, bem cuidado, que
terminava numa mata e esta estendia-se até à rua dos Abraão, que jhoje, liga o Bairro
Moura ao Dutra.
O cidadão ao fundo, era o Seu Joanão, um preto velho que tinha carregado sotaque de
italiano. Uma criatura de doçura e mansidão, que jamais vi igual. Sempre sorrindo,
conversava com simplicidade, e cuidava daquele jardim como se cuida de uma criança. Seu
Joanão tinha um filho adotivo, Alcindo Portulan, que foi marceneiro no Artesanato
Gramadense.
O tear foi a sensação da vizinhança, que se amontoava à porta do pequenino atelier, já
ampliado, para acomodar a engenhoca, jamais vista por aquele povo (eu também era
daquele povo). Uma especialista, vindo de São Paulo, Dona Carla Blum, foi encarregada de
montar o tear, e treinar pessoas para a nova atividade do já afamado atelier de Elisabeth
Rosenfeld.
O trabalho era reconhecido, e a cada dia apareciam mais pessoas dos arredores,
oferecendo seus préstimos serviçais à Dona Rosenfela , como diziam os mais simplices, que
“ ”
tinham um certo brilho no olhar, ao vislumbrar um emprego, um aprendizado para os filhos,e
um futuro mais digno para a família.
E o Artesanato só crescia. O estacionamento, externo, cascalhado, ficava abarrotado de
carros, com placas de Porto Alegre, caxias do Sul, Novo hamburgo. Os negócios
prosperavam, e Elisabet inventou um modo de permitir que seus colaboradores também
prosperassem.
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Foto tirada por
Elisabeth
Rosenfeld,
No dia 2 de
Novembro de
1967, quando
Ocorreu um
Eclipse Total do
Sol.
Na foto, Maria
Elisa Dias
Cardoso,
E João Portulan
(Joanão)
Elisabeth então contratou pessoas com certo refinamento, para colocá-las à frente do
atendimento aos visitantes. Tais colaboradores, Elisabeth recusava-se de chamar de
vendedores , mas os chamava de Recepcionistas .
“ ” “ ”
As pessoas recebiam nas fábricas, o seu salário, e era tudo. Os Rosenfeld inovaram, pelo
menos lá. Os colaboradores recebiam religiosamente a cada quinze dias, uma parcela do
salário, e recebiam ainda, um adicional, um prêmio coletivo pelo desempenho do grupo, ao
que chamavam de Gorjeta . Assim, enquanto existiu o Artesanato Gramadense, sob a
“ ”
direção dos Rosenfeld, e ainda depois, pelo casal Rubim,pagava os melhores salários da
categoria na cidade.
De tempos em tempos, era oferecido um churrasco coletivos, extensivo às famílias, e mais
que uma confraternização, todos recebiam prêmios por merecimento.
Estes eventos eram oportunidades culturais, ao que, ao longo do crescimento, e da
construção de mais prédios, formando quase uma vila, Elisabeth construiu um, em especial,
que chamou de Teatrinho . Todas as unidades recebiam nomes, mas o Teatrinho era um
“ ” “ ”
teatro em miniatura, com direito à cochia, palco, e auditório.
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A Torre
Era costume, que as casas tivessem uma despensa de alimentos, reservada para conservas
e estoque de cereais, bebidas e outros alimentos menos perecíveis, antes da popularização
dos mercados, e dos congeladores domésticos. Assim, compotas e doces de frutas,
conservas em vinagre e sal, ou mesmo secos, eram guardados em locais menos acessíveis,
ao dia a dia da lida na cozinha.
Elisabeth tinha um lugar assim. Ficava no porão da torre da caixa d água, que tinha um
’
quartinho onde eram guardadas ferramentas de jardim, e no chão, um alçapão discreto,
dava lugar ao porão, onde estava guardado um tesouro de especiarias e guloseimas.
Foram os netos dos Rosenfeld, Ricardo e Mônica, meus amiguinhos de infância, que ingressei
para o mundo do crime, cujo alvo era o porão das compotas. Traçávamos muitos planos, uso
de máscaras, lanterna, mapas, para efetuarmos a abordagem aos calabouço onde eram
feitas prisioneiras as latas e os vidros de conserva, que ansiavam por sua libertação, pelos
valentes cavaleiros da comilança. Na verdade, isso foi feito apenas uma, talvez duas vezes,
pois o serviço de contra-espionagem e a segurança do complexo, denunciaram nossas
investidas, após descobrirem vidros abertos, e comprovarem por especialistas, que ratos não
tinham tecnologia para abrirem Vidros-Veeck com os dentinhos. Assim, para frustração de
“ ”
nossos planos criminosos, foi nos oferecida a oportunidade para que nos servíssemos, à
vontade, na dispensa convencional da cozinha de Dona Elisabeth. Paciência. Vida que segue.
O crime perdeu talentos valiosos.
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Os Artesãos
Eu nunca tinha ouvido a palavra Artesanato , até então, assim como também desconhecia
“ ”
a palavra Atelier , Tear Mosaico , e até Doce de Leite , senão quando passei a frequentar
“ ” “ ” ” “ ”
o círculo social e cultural de Elisabeth Rosenfeld.
Mais que fazer arte ou artesanato, Elisabeth motivava as pessoas a que se tornassem hábeis
e também criativos. Grande parte da arte que ela trouxe ao mundo, dizia respeito às
pessoas. Onde muitos viam pobreza, Elisabeth viu pessoas. Onde muitos viam pessoas,
Elisabeth viu talentos. Onde muitos viam talentos, Elisabeth viu um futuro. E as pessoas
abriram os olhos e viram oportunidades.
Assim, Elisabeth demonstrava em sua obra, nos desenhos, nos entalhes, nos mosaicos,
grafias pictóricas antropomórficas, onde o Homem e o Ambiente se mesclavam. O painel ao
lado, ainda existe, colado sobre uma parede de um dos espaços, hoje em ruínas, que mostra
o dia a dia de seu trabalho de artesanato, e as pessoas que participavam dele.
O menino agachadinho, cardando lã, era eu. Na bancada, estavam, ela própria, pintando,e
nos teares acima, basta saber quem eram as primeiras colaboradoras, que seus nomes
estarão ali, e assim com os escultores, os marceneiros, e os fiadoresde lã para os teares.
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Maria Elisa Dias Cardoso
Nasceu em Gramado, no dia 28 de julho de 1911, em uma casa que ficava onde mais tarde
veio a ser a sede do Instituto Balneo e Lodoterápico, ou Motel Balneário, na Avenida Borges
de Medeiros, cujas terras, à época, pertenciam à sua mãe, maria Francisca, filha de Tristão
de Oliveira.
Tais terras, compreendiam todo o morro central, desde a área do parque Knorr, ao sul, ao
Mato Queimado, ao norte. Desconheço a precisão dos limites das terras, sei apenas que as
terras que compreendiam o Morro dos cabritos e adjacências, pertencia à Maria Elisa, e a
casa onde nasceu minha mãe, Ester, ficava no lugar onde hoje se encontra o Centro de
Eventos. Cheguei a conhecer esta casa, mas a anterior, não mais. A terra foi vendida aos
Nelz, e ali onde estava a casa, instalou-se o restaurante, que desenhei e irei descrever mais
adiante.l
Esta casa da imagem, até o momento em que escrevo isso, ainda está de pé, com a única
alteração, da pintura, pois Maria Elisa nunca permitiu que sua casa fosse pintada.
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Não sei dizer o motivo dessa negativa estética, mas o que ela dizia à mim era que, por
morarmos num rancho feio, nunca sofreríamos de inveja ou cobiça, e que nenhum ladrão
teria coragem de invadir nossa casa, pois seria bem capaz de condoer-se e ainda deixar
algum donativo. Dizia isso, e dava risada, à solta.
Gramado é uma cidade com características peculiares, e sua distinção remonta à esse
tempo, aos dias de minha juventude, nos anos 70. Vivi nesta casa até os 21 anos de idade, e
dela saí para casar e buscar outro rumo para minha vida. Porém, apesar de ser simples, feia,
quase um rancho, jamais fui discriminado por morar ali, tampouco tive vergonha de levar
amigos, ou convidados de outras classes sociais para compartilhar com eles, o cuscuz, os
bolinhos fritos, o chá de mate, ou as iguarias rústicas que minha avó, de uma hospitalidade
ímpar, oferecia à todos que cometessem a ousadia de passar à frente da casa, sem chegar
para dois dedos de prosa, e uma infalível relação de respeito e amizade duradoura.
A casa tinha três quartos, sala, cozinha, área de serviço, e banheiro. Isso mesmo! A casa
tinha um banheiro. Isso era fantástico, pois pouco tempo antes, quando estava instalada em
um terreninho de uns cem metros quadrados, onde depois foi construída um dos prédios do
Artesanato Gramadense. Lá tinha só uma patente, do lado de fora, e o banho era de bacia,
na cozinha, ou no quarto.
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Eu nunca soube quem morava nesta casa. Passava por lá, olhava, da rua, lá embaixo, e
parava para observar o tamanho do capricho com este aprazível chalé, de nítida influência
alemã, em sua arquitetura, ao que não sei dizer se, pelos moradores, ou do carpinteiro que a
construiu. Notável que sofreu modificações, acréscimos, como o gazebo de vidro, protegido
por cortinas, e uma cerca aqui, um muro ali, não projetados, mas adaptados.
São, porém, estes puxadinhos e acréscimos, que deram o charme do lugar, somado às flores
penduradas na parede, os corações na barra da parede, e a vegetação do barrnaco à
frente, separando a casa, da rua.
Lamentavelmente o inexorável canto de sereia do progresso, carrega lembranças como
essa, para as páginas da memória, que aqui ouso reproduzir, não como estava nos últimos
anos, mas como poderia ter sido, quando ainda corriam crianças à sua volta, e pousavam
pássaros no seu telhado.
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Arlindo e Ercilda de Oliveira,
Arlindo foi, durante muitos anos, o chefe de manutenção, da Prefeitura de Gramado.
Quando o conheci, era o Eletricista chefe, e foi nessa condição que contribuiu para que
Gramado pudesse ser vista em sua sublimidade, também à noite, quando a rua principal já
estava ajardinada, porém, às escuras, Um sistema de suportes para lâmpadas na via
pública eram caros, e a Prefeitura apenas começava os seus primeiros anos, após a
emancipação.
Como precisava iluminar a rua, e a verba estava limitada, Arlindo reuniu sua equipe, e com
os equipamentos artesanais que tinha à mão, passou a fabricar os suportes das lâmpadas
fluorescentes, e assim Gramado foi mostrada após o pôr-do-sol, em toda a sua beleza.
A casa dos Oliveira (Arlindo e ..)foi edificada por volta de 1965, e corresponde a um estilo
…
bastante predominante nesse tempo. Foi construída pelo próprio Arlindo, com ajuda do
sogro, e de um carpinteiro contratado.
As tãbuas no sentido horizontal alinhadas, já desenhavam um novo conceito, mais simples,
mais leve, do que as tábuas machanfradas , isto é, sobrepostas, como eram aplicadas até
“ ”
bem pouco tempo antes, permitiam um desenho mais elegante, diferente das tábuas
verticais, seja em sistema macho e fêmea , ou alinhadas e arrematadas com mata-juntas,
“ ”
o que era utilizado em casas mais humildes.
Já o oitão da casa, era desenhado em estilo espinha de peixe , com madeiras diagonais
“ ”
partindo do centro em direção às extremidades.
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Esta singela casa não existe mais. Pertenceu ao casal Adail e Zaira Castilhos. Fica (ainda)
junto à entrada da Vila São Pedro, uma residência de veraneio, no alto do morro, cerdado de
mata nativa, no centro de Gramado.
Adail de Castilhos foi um simpático desportista e talentoiso violonista e seresteiro da cidade.
Nos últimos anos de Vida, Adail, nos últimos anos de vida, era Corretor de Seguros, mas sua
biografia é bastante ligada ao esporte, especialmente ao futebol de Gramado.
Como musicista, tocava violão e compunha um grupo de seresteiros que animavam as
reuniões de amigos pelo tempo que já se foi.
A casa é uma edificação bastante simples, e recebeu adições, ao que se mostra na imagem.
Era uma típica casa citadina dos anos 60 e 70, em Gramado.
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Tio Março e Tiní
Marcílio Andrade Cardoso, e Irani casagrande Cardoso, chamados carinhosamente de Tio
“
Março, e Tiní , eram pessoas ímpares.
”
Vou contar um pouco do que conheço de sua história, mas especialmente, da parte em que
nos ligamos à essa narrativa.
Marcílio era contado entre quatroze filhos de Manoel Ignácio Cardoso e Maria Emilia de
Andrade. Trabalhava com madeiras, especialmente pinheiro Araucária. Junto com seus
irmãos, Horácio, e Ademar, era comerciante. Sobre os demais irmãos, falarei em outra
oportunidade. Agora quero discorrer sobre nossa história de família entrelaçada com Tio
Março e Tiní. Falarei mais deles, do que da casa, pois a casa fala por si mesma. Um chalé de
madeira, de tábuas horizontais, que acomodou muito da minha história pessoal. Esse tipo de
chalé, já comentei em outras descrições, era bastante comum em Gramado, pela mão de
obra e estilo dos carpinteiros, e pela disponibilidade dos materiais empregados, resumidos à
telhas francezes, tijolos maciços, e madeira de pinheiro. Algumas eram caiadas, as mais
humildes, com tábuas verticais, espaçadas, para dilatação, cujas frestas eram fechadas por
tiras finas de madeira, denominadas de Matajuntas . Eram assim. Já as casas de famílias
“ ”
um pouco mais abastadas, eram de madeiras mais nobre, conhecida como de Primeira,
“
Segunda, Terceira , isto é, classificação contada a partir da base da árvore, em direção aos
”
galhos, e do cerne (miolo) em direção à casca (Alburno), mais clara, pois o cerne,
avermelhado, era rico em resinas, e mais suscetível à rachaduras, apenar da durabilidade
ser muito maior. Assim, mesclavam-se as funções das madeiras em uma casa, por exemplo,
usando o cerne como parte estrutural (caibros, tirantes), e as paredes com material mais
limpo, sem nós ou manchas vermelhas da resina.
Assim era então a casa dos Cardoso. Mas vamos à história das pessoas de dentro desta
casa, em especial.
A chegada à Gramado de minha família
Gramado, nos anos 40 do século XX, eram uma pequenina aldeia, um distrido isolado, de
uma cidade maior, que era Taquara. Não vou me estender nisso, porque já existem muita
literatura a respeito do fato, mas vou relacioná-los à minha família próxima, com os
Cardoso.
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Tini e Osvaldina
Tio Março Tiní
Osvaldina e Fúcio
Pelo bem das boas lembranças,
falarei sobre Osvaldina e Fúcio, um
casal de pessoas gentis, que
moravam em uma casinha, nos
fundos de uma oficina que fabricava
carrocerias de caminha, daquele tipo
com laterais enfeitadas, que não se
vê mais por aí.
Fúcio, cujo nome eu, e todas as
pessoas a quem consultei, também
não sabem como se chamava
aquele italianão corpulento e
generoso, de dócil trato, e simpático
com as crianças. Fúcio era ferreiro, e
trabalhava em sua ferraria, que
ficava atrás da casa onde morava,
com sua esposa Osvaldina. Também
desconheço o sobvrenome desta
mulher que nos tratava com voz de
tia e doçura de mãe. Osvaldina
“ ”
trabalhava nos cuidados da casa e
da cozinha, em especial, dos
Cardoso, e em suas horas vagas, era
confeiteira, com fama de estar entre
as melhores da época, em Gramado.
Já comi algumas das tortas da
Osvaldina, e bem, eu era criança,
mas lembro bem de coisas que comi
e não gostei, o que não foi o caso das
guloseimas de Osvaldina.
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Quem morou no interior, até cerca de 1975, talvez mais, certamente conheceu, ou até
foi aluno, de uma Brizoleta . Devo dizer, em benefício da verdade, que passar por
“ ”
uma experiência em uma Brizoleta, significa, sentar-se em classes (carteiras)
compartilhadas, antigamente, com quatro ou cinco alunos, e mais tarde, menores, de
dois a dois. A sala de aula, era dividida (simbolicamente) em duas, e em casos mais
raros, três classes letivas em uma única sala, compartilhando a mesma professora.
Pobre alma, que respondia uma questão da segunda série, a um aluno da quarta
série, enquanto o pirralho da primeira série, ainda em fase de alfabetização, pede pra
ser levado na patente (capunga mesmo), que ficava a alguns passos atrás da escola,
junto ao mato.
Ter sido aluno em uma escolinha Brizoleta, é ter um carretel de histórias inventadas
para contar, porque, aparentemente, era um lkugar onde a vida andava de lado,
porque pra trás é impossivel, pelo menos pelas atuais leis da física.
Nas diversas localidades de Gramado, as Brizoletas eram o ambiente de decisões
comunitárias, onde professores e pais dos alunos, reuniam-se, como ainda fazem hoje,
para decidirem sobre o conserto do caminho barrento entre o mato, ou a horta
coletiva, para fortalecer a merenda da meninada.
Minha mãe, senhora dona Ester Cardoso, foi professora de três Brizoletas, e também
diretora de uma delas, na Vila Moura, onde morávamos. Tempos bicudos aqueles,
mas memoráveis.
Relatarei de minhas vivências então, na Escola Olidio Moura, pertencente ao
Município. Recordo de um momento, onde decidiram realizar uma festa comunitária,
para amealhar recursos, para adquirir um fogão e umas panelas, para aquecer a sala
de aula, e também reparar umas sopas para enriquecer o cardápio de nutrientes da
rapaziada.
Uma particularidade interessante: Minha mãe, (a senhora diretora, no caso), exigia
que levássemos um calçado para chegarmos à escola, caminhando pelo barro e
poças de lama, e lá, deixássemos outro, um chinelo (chamavamos pelo feminino:
“Chinela , que calçávamos, após lavarmos os pés à entrada.
“
em geral, a escola era meio malcheirosa, fedidinha mesmo, mas nossa escola não era
assim. O cheiro que sentíamos, era da sopa de couve bem temperada, cozinhando no
panelão, lá no fundo. Eu não sei quanto aos demais, mas eu aprendi muita coisa nesse
tempo, e acho que das Brizoletas pelo Rio Grande afora, saíram muitos doutores. Não
sei de nenhum, mas tenho convicção que sim.
Bem, e o que aconteceu à Brizoleta da Vila Moura? Ora, aconteceu o que aconteceu
com todas: Foram trocadas por construções maiores, com banheiro, em lugar de
latrina, e paredes de alvenaria. De resto, as professoras e professores, continuaram os
mesmos, pois, ah sim, eu mesmo dizer isso: Escola não é a casa, mas quem nela
estuda e ensina. O resto é tábua e tijolo.
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Mas eu não terminei de falar das Brizoletas. Não mesmo. Porque recordar é viver
(super original isso, eu mesmo que pensei, sozinho). Então, o que se aprendia nas
Brizoletas?
Quem pensou na Cartilha do Guri . E Estrada Iluminada , pronto!. Acertou!
“ ” “ ”
Sim, o atlas era o Google Earth da época. A gente já sabia disso, mas preferia esperar
para que chegasse o Earth, pra dizer: A Terra não é plana!
“ ”
E os professores eram (desde minhas lembranças):
Geni Cavichion, Ester Cardoso (Diretora), Orlanda Valentini. É possovel que nesse
tempo, alguma professora substituta tenha ocupado a cátedra (agora peguei
pesado), mas recordo dessas jovens. Com carinho;
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Olídio Elias de Moura, e Maria José Dias
Tristão José Francisco de Oliveira, o patriarca, era pai de Maria Francisca de Oliveira,
que foi casada com Victor Pereira Dias. Victor tinha seis filhas moçoilas, e um filho
varão. As moças, receberam os seguintes nomes:
Margarida Pereira Dias; Maria Lucinda Dias; Maria José Dias, Leonor Pereira Dias, Lina
Pereira Dias, e Maria Elisa Dias. O varão, chamava-se João Victor Pereira Dias.
Percebe-se que há algo diferente nos nomes, pois as moças, que se chamavam
Maria, não levavam o sobrenome Pereira. Isso acontecia, porque eram descendentes
de Cristãos Novos, isto é, aqueles judeus que foram cristianizados à força, para
fugirem da inquisição. Tais judeus, ocultaram-se sob o disfarce de cristãos, a princípio,
e para evitarem serem traídos pela desatenção, decidiram se tornarem mais
“
cristãos que os cristãos , mas mantendo costumes secretos que os identificavam
”
entre si, e os protegiam de futuras perseguições. Assim, dar nomes diferentes aos
membros da família, representava uma possibilidade de que, se fossem apanhados,
alguns poderiam ser salvos, por apresentarem nomes distintos.
Maria José Dias, era, então irmã de minha avó, maria Elisa Dias, ambas Marias,
chamadas de Ilizia, e Zezé , pelos familiares.
“ ”
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Olídio não era abastado. Trabalhava como peão do sogro, que era tropeiro de mulas,
e fazia comércio entre Laguna, SC, subindo e descendo pela Serra do Umbu, Pinto, ou
do Itaimbezinho, costeando o litoral, Era um sujeito de boa índole, paciente e um pai
bonachão. Contava-me o primo Hananísio Elias de Moura, filho de Olídio, que jamais
recebera uma reprimenda dura de seu pai, e nunca tomou surra, que era
perfeitamente comum naquele tempo. Jamais. Lembra com muito carinho de seu
velho pai.
Tia Zezé, por sua vez, ensinou-me a ler (eu conto isso no livro “Gente de Gramado que
não será nome de rua . Eu digo que fui
” “adestrado à leitura , pois ela tinha latinhas de
”
alimentos, e apontava para as palavras, e perguntava:
- Que letra é essa, meu fio?
E à medida que eu respondia e acertava a palavra, era recompensado com um
fristique , um lance, que poderia ser uma batata doce com leite gordo, um pão com
“ ”
linguiça, ou outra guloseima qualquer.
Faço questão de registrar com carinho estas pessoas, pelo que representaram na
minha vida, mas também em sua comunidade, pois não é em vão que há um bairro
com o nome da família.
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Amélia Kraemer
Eu a conheci, já em avançada idade, ela. Não eu. Isso foi, então, em priscas eras,
quando Amélia vivia neste aconchegante chalé, localizado no alto do morro, em um
terreno lindeiro, ao norte, com o Hospital Arcanjo São Miguel, e ao sul, e a Oeste, com
o Parque Knorr. Eram dois hectares de mata nativa e vista deslumbrante. Para chegar
à casa, um único acesso, pela rua Theobaldo Fleck, que terminava exatamente no
portão desta propriedade.
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Améia era da família proprietária
Quem tem mais de sessenta anos, vai lembrar
com carinho do Almanaque Iza , do
“ ”
Laboratório Kraemer, e também de seus
produtos.
A edição de 2003 deste almanaque, ilustra, em
sua capa, a fachada do Mundo a Vapor, de
Canela.
Bem verdade é que os padrões eram diferentes
de hoje. Veja por exemplo, este anúncio
feminino dos anos 50 (de outro laboratório).
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Arlindo e Ercilda de Oliveira
Arlindo de Oliveira, foi, durante muitos anos, o Eletricista-Dhefe, e depois, Chefe de
Manutenção da Prefeitura de Gramado.
Conta Áureo de Oliveira, o filho de Arlindo, que Ercilda chegou à Gramado, por volta
de 1945 ou 1946, já com oito anos de idade, e conheceu Arlindo, em um baile, lá na
Linha Café, em Três Coroas, no final dos anos 50.
Foi na gestão do primeiro prefeito de Gramado, Walter Bertolucci, que Arlindo foi
convidado a trabalhar na prefeitura, na função de eletricista. Nesse tempo, conta
Áureo, que a prefeitura tinha um orçamento muito escasso, e precisava investir em
iluminação pública. Foi aí que Arlindo e sua equipe resolveram o desafio, de forma
doméstica, e muito eficiente: fabricaram, na própria oficina da prefeitura, as calhas de
iluniação pública.
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Arlindo e Ercilda de Oliveira
Arlindo de Oliveira, foi, durante muitos anos, o Eletricista-Dhefe, e depois, Chefe de
Manutenção da Prefeitura de Gramado.
Conta Áureo de Oliveira, o filho de Arlindo, que Ercilda chegou à Gramado, por volta
de 1945 ou 1946, já com oito anos de idade, e conheceu Arlindo, em um baile, lá na
Linha Café, em Três Coroas, no final dos anos 50.
Foi na gestão do primeiro prefeito de Gramado, Walter Bertolucci, que Arlindo foi
convidado a trabalhar na prefeitura, na função de eletricista. Nesse tempo, conta
Áureo, que a prefeitura tinha um orçamento muito escasso, e precisava investir em
iluminação pública. Foi aí que Arlindo e sua equipe resolveram o desafio, de forma
doméstica, e muito eficiente: fabricaram, na própria oficina da prefeitura, as calhas
de iluniação pública.
Quando fui trabalhar na Secretaria de Turismo de Gramado, que nesse tempo era
responsável por todos os eventos turísticos e culturais do municipio, o trabalho er
braçal, analógico, muito, mas muito caseiro e criativo. Uns ajudavam os outros, e
nesse espírito colaborativos, foram realizados muitos eventos e atividades voltadas
ao turismo e à cultura de Gramado. E em todos, Arlindo e sua equipe, eram
fundamentais na parte estrutural dos equipamentos, cenários, palcos, iluminação, e
reparos, gambiarras, que se faziam necessários para o bom êxito dos trabalhos.
Sempre solícito e colaborativo, Arlindo era aquele parceiro de agradável companhia
nos tempos em que tínhamos que nos desdobrar para suprir a mão de obra
necessária para que aquilo que se via em Gramado, pelo turista, e pelo cidadão
(muitos eventos eram exclusivamente locais), desse continuidade.
Em meados dos anos 80, já me aventurando no empreendedorismo, aluguei uma
parte da casa de Arlindo e Ercilda, e montei minha pequenina loja de móveis sob
medida, onde fui muito bem sucedido, porque foi em 1985 que o então Plano Sarney
“ ”
entrou em vigor, e o trabalho chegava de caminhão, tanto que tinha. Claro, que fogo
de palha ilumina, mas não dura, e em 1986, veio o plano Sarney II , e perdi tudo e
“ ”
mais um pouco. Mas, enfim, não é pra me queixar que escrevi isso, mas para lembrar
de minha participação no espaço deste lindo chalé dos Oliveira. Por essas coisas da
vida, Áureo, um dos filhos do casal, trabalhou comigo na loja, e hoje é um grande
Designer de Interiores.
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Vamos colorir Gramado?
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Arnaldo Schmidt
Esta casa pertenceu ao Sr Arnaldo Schmidt, que foi mecânico da já extinta, Empresa
Floresta de Transportes Ltda, uma companhia de transportes de passageiros, que
atendia toda a região, desde vacaria, passando por Bom Jesus, São Francisco de
Paula, Caxias do Sul, Gramado, canela, e assim, seguindo até Porto Alegre.
Este espaço obteve a importante colaboração da minha amiga e colega de trabalho,
por certo tempo, Noeli Benetti, que vem a ser (como diziam os antigos) Benetti, por
parte de pai, Daniel, e Schmidt, por parte da mãe, Alice.
Aliás, haviam dois Daniel , conhecidos na região: O Daniel da Alice e o Daniel da
“ ” “ ” “
Pila . Ambos eram Benetti, por isso, o adjetivo adicional do matrimônio de cada um.
”
Daniel da Pila, era carpinteiro, dos bons, e Daniel da Alice, era marceneiro, também
dos bons. Mas esta casa não era de nenhum dos dois, mas de um cunhado do Daniel
“
da Alice , vizinho também.
”
Percebe-se pelo estilo da casa, que eram pessoam com certas posses, digamos,
medianas, porque a colocação das madeiras no sentido horizontal, acrescido do
ornamento da coluna de canto da área de entrada, o caimento do telhado, que,
apesar de não mostrar janela na frente, por suposição, teria um janela no oitão
traseiro.
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Vamos colorir Gramado?
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Vamos colorir Gramado?
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Na foto acima, a família benetti, em momento de confraternização. As duas moças
à esquerda, são minhas primas, Ilse e Semilda Pereira Dias, filhas de João Victor
Pereira Dias, e Maria Benetti, filha de Joaquim Benetti.
É bastante farto o material disponível no acerto de Noeli, e sua memória prodigiosa,
contribui no reconhecimento das imagens que recebi, para enriquecimento desta
obra.
Conta Noeli, que seus bisavós vieram da Itália, e as imagens mostram as casas onde
viviam seus ancestrais de além mar.
Seu bisavô, Gioacchino Benetti (Joaquim), veio da Itália, e as imagens correspondem
à casa onde morou, com sua família (bastante numerosa, como parece).
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Servidores da Pátria, em foto oficial diante do Tiro de Guerra de Gramado. Meu avô
Assis Brasil Cardoso, também serviu neste destacamento. Aqui na foto, em algum
lugar, está um dos Benetti, mas serei honesto, não sei dizer quem é quem ali. Fica o
desafio ao leitor.
Equipe que construiu a
Escola da Linha Bonita.
A relação dos nomes foi
ditada por Elsa Schmitt
Benetti.
1 Carlos Loesch
–
2 João Fiorese
–
3 Henrique Yanel
–
4 Júlio Appel
–
5 Professor Bellin
–
6 Balduíno Meiners
–
7 Carlos Klemmer
–
8 Luís Rama
–
9 Guilherme Schmitt
–
10 Francisco Fiorese
–
11 Alberto Manorow
–
12 Nicolau Schmitt Filho
–
(Avô da Noeli, Nailor e
Valmor Benetti)
Ainda familiares dos Benetti e Schmitt:
Carlos Kelp (Irmão da Luísa Schmitt)
Lina Schranck Kilp
Helga, Filha
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Pedro candiago e Bernardina Meneghe (Candiago)l
Desconheço a origem desta família. Só o que lembro é que Bernardina Meneghel era
mãe de uma moça, chamada Lucinda, que estudava na Escola Normal Danton
Corrêa da Silva, em Canela, e foi colega da minha mãe. Ambas se formaram
professoras, mas Lucinda, até onde sei, nunca exerceu, pois tão logo estava formada,
casou-se com um talk de Ricardo Frizo, que era funcionário do CONTUR, de Canela, e
logo depois fundou um pequeno semanário, que chamou de Jornal Nova Época.
O esposo de Bernardina era Candiago, e tinha, além da Lucinda, outro filho, o Arlindo.
Quando foram embora, a casa foi alugada e durante muitos anos, foi uma loja de
vinhos, dos irmãos Luchi. E é tudo o que sei dizer.
Eu devo confessar que algumas casas poderiam receber um banho
de loja, e se tornarem mais alegrinhas, é ou não é? O que são
algumas latinhas de tinta, e umas horas com pincel, para dar um
belo sorriso a um chalé?
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Não há muito que eu possa dizer sobre a Casa do Major, que já não tenha sido dito,
escrito, sobrescrito, carimbado e publicado pela saudosa Marilia Daros Franzen, em
sua literatura minuciosa e requintada pela precisão dos fatos, mesmo porque o Major
Nicoletti, que emprestou, através da história, seu nome à principal praça de
Gramado, é um ancestral seu, acho que bisavô, algo assim.
Minha relação com o tal Major Nicoletti, é quase nenhuma, com exceção que meu
bisavô e ele eram compadres, pela rebentinha que era minha avó, de cuja, era o tal
Major, padrinho. Mas tirando isso, tudo o que resta dele nas minhas lembranças, são
histórias e fábulas, alimentadas pelo imaginário, por ter sido ele um intendente, á
época em que Intendente tinha poder de vida e morte sobre determinada
comunidade, onde sua principal função era apaziguar, isto é, fazer o que tivesse que
ser feito para acalmar os ânimos dos mal intencionados. O resto são fábulas, haja
vista que não existem provas, senão circunstanciais, pelo tempo e lugar em que
viviam, e quando dizem que ele era valente, disso eu não duvido, pois ninbguém
chegaria ao posto de Major, e receberia a incunbência de levar a ordem ao brejão do
alto da serra, chamado de Quinto Distrito de Gramado do Mundo Novo. Bem
pomposo mesmo. E o Major mandava nisso tudo. Na palavra ou no chumbo.
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Não, assim, que eu não leve a serio as coisas. Levo, e muito, mas algumas coisas
excedem minha maturidade, e não tenho coragem de dispensar uma piada pronta.
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Houve casos de casas citadas por outras pessoas, ou mesmo de minhas lembranças,
das quais não tive a sorte de encontrar registros, fotos, nada que me permita
reproduzir, ao menos a volumetria, distribuição de portas e janelas. Mesmo assim, eu
ouso mergulhar nas escassas informações, e a partir destas, reconstruir um cenário
que permita lembrar como poderia ter sido aquela casa, e principalmente, lembrar
que sim, existiu tal casa. Presto assim minha homenagem às casas que
desapareceram do espaço e da memória das pessoas, mas que abrigaram pessoas, e
estas pessoas amaram, sorriram, choraram, sofreram, sonharam, edificaram, e
fizeram sua parte no mundo para o mundo que temos hoje tivesse sua vez.
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Esta casa não foi desenhada a partir de fotos, mas de memórias apenas. Porém,
havia um estilo, bastante clássico, e utilizado entre os anos 40 e 60 do século XX, que
teve sua representatividade em Gramado, em casas de diversos proprietários.
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Casa dos Abdalla
Eu não de ter visto uma placa indicativa nesta casa. Nunca vi. Mastinha, um letreiro,
que foi tirado antes da minha aparição no cenário. Era uma loja de armarinhos e
miudezas, e nem poderia ser diferente, afinal, ali moravam os Abdalla, Sirios, ou
Libaneses, que eram chamados de Turcos . Não eram turcos, e nem havria porque
“ ”
tuscos emigrarem para o Brasil, na época em que ainda dominavam metade do
Oriente Médio e parte da Europa, pelo Império Otomano. Mas essa é outra história. O
que importa é que os imigrandes dos países atingidos por calamidades ou guerras,
obtinham passaporte turco, e como tal eram denominados, no registro de sua
imigração no Brasil. Então, para todos os efeitos, eram legalmente, turcos.
Mas lembro com bastante nitidez, que lá dentro havia umas três, talvez mais, mesas
de Bilhar, enormes. Lembro vagamente de um balcão, à direita da entrada, e no salão
central, as mesas, esparsas. Nunca vi ninguém jogando, talvez pelo horário que eu
entrei, a casa estivesse fechada para fregueses, mas imagino que à noite seria o local
do happy hour dos boêmios. Só imagino, porque ver, eu não vi.
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Pois falar de cinema, é entrar em um portal da imaginação emprestada pelos atores,
diretores, roteiristas, bilheteiros, lanterninhas (aí lembro do Seu Quintino, marido da
Dona Cantides, Barbeiro e lanterninha do Cine Embaixador, também do Paulo
Cavallin, e do Flávio Schenkel, que também tomavam conta da bilheteria e de evitar
rebuliço dos espectadores), enfim, de todos os que participam dessa sensacional
indústria de fantasias.
- Quero agradecer ao diretor, aos roteiristas, à equipe de maquiagem, e à mamãe,
“
que sempre me incentivou a não desistir, e dedico esse Oscar…”
Bem, eu não ganhjeio Oscar nenhum, nem fui ator, diretor, roteirista ou bilheteiro, nem
mesmo pipoqueiro ou vendedor de balas. Eu era apenas um espectador, que contava
os pila pra me divertir nas noites de sábado ou tardes de domingo.
Ah, mas isso foi bem mais tarde, no Cine Embaixador. Agora estou falando do Cine
Splendid, do Cláudio Pasqual, que ficava ao lado do Café Cacique, também de sua
propriedade. Era lá mesmo, o centro nervoso de Gramado, onde tudo era decidido.
Mas falarei do café mais adiante. Fiquemos pelo Cine Splendid, por ora.
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Imagens: Internet
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  • 1. 1
  • 2. 2
  • 3. Gramado de Priscas Eras É uma obra que retrata lembranças resgatadas por meio de antigas fotos, acrescidas da memória de pessoas que foram contemporâneas ou relacionadas aos personagens que habitaram tais casas. É um resgate histórico conectado à riquíssima arquitetura dos pioneiros do turismo e da vida local, acrescido da licenciosidade artística de um Designer apaixonado por detalhes, e que conhece, como poucos, a história desta belíssima cidade. Pacard resgata estilos e arquitetura dos modelos, com base em fotos amareladas pelos anos, e faz correções, com o olhar saudoso destes personagens e seus descendentes, e acrescenta seu olhar sobre a beleza dos ambientes neles retratados. Sobre Gramado Gramado, a mais conhecida cidade turística do Brasil, com uma população de cerca de 35 mil habitantes, recebe aproximadamente 6 milhões de turistas, anualmente, que gastam em média 80 dólares per capita. É escassa a oferta de literatura de interesse histórico de Gramado, que possa despertar encantamento no leitor de fora do círculo familiar do gramadense, para que mostre, ao mesmo tempo, um retrato em cores do passado, por razões óbvias, quanto da história relacionada aos ambientes destas imagens. Desta forma, uma obra que ofereça uma proposta literário-visual completa, certamente despertará o interesse e curiosidade, em não apenas olhar, mas em guardar, pesquisar, examinar, com olhar acurado e investigador, até mesmo buscando corrigir eventuais discrepâncias no detalhamento estético e arquitetônico a que se propõe o autor. É um investimento com retorno de longa durabilidade institucional PS: Nem todas as casas são identificadas. Fica por conta da imaginação e das memórias do leitor em investigar com os familiares mais antigos, o reconhecimento do lugar.. Imagens by Pacard 3
  • 4. Tenho cerca de dez livros publicados. Este será, então, o undécimo, ou ônzimo , “ ” como diriam os antigos. Os antigos, é disso mesmo que trata este trabalho. Não apenas das casas onde moravam, mas de como poderiam ou teriam sido lindas, aconchegantes, cheias de vida, e consequentemente, de alegria, e de esperança. Hoje, muitas, talvez, a maioria destas casas, já não existem mais. Em seu lugar, imponentes prédios, lojas sofisticadas, hotéis luxuosos, restaurantes que oferecem comidas do mundo, para quem visita Gramado com a esperança de que o mundo se curve ao romantismo daquilo que espera de uma pequenina cidade desenhada por montanhas, cujas paredes são emolduradas por flores, e estradas alcatifadas por pétallas de lembranças. Isso estava planejado havia muito tempo, desde que ouvi alguém dizendo que faltavam livros que contassem as coisas pitorescas de Gramado. Nesse pensamento, já publiquei o livro: Gente de Gramado que não será nome de “ rua (Ille Vert Editora, 2020), onde relato noventa e nova causos do pitoresco de ” Gramado. Mas era pouco, pois faltavam imagens, que revigorassem estas lembranças, e foi assim que decidi compor esta obra, que espero ser a primeira deste gênero, a ser seguida por outras mais. Fui resgatar o passado de um modo sublime, e certamente você, ou alguém de sua família, que em algum tempo do passado, teve relação com Gramado, irá identificar- se, e mergulhar nos sabores, cores, e perfumes dos tempos de antanho, das lembranças de priscas eras. Pacard - 2021 3 4
  • 8. Hospital de Caridade Santa Teresinha Onde tudo começa, pode ser também onde tudo termina. Um hospital é onde as dores e as alegrias se fundem com a empatia pelo sofrimento, e o conforto pela generosidade podem acontecer. Eis o primeiro hospital de Gramado: Hospital de Caridade Santa Teresinha. Foi na década de 1920, que um empresário chamado Valentim Puhl, cujos registros se perderam em algum almoxarifado do tempo. É isso o que sei do início, mas do que veio depois, ah sim, isso eu vou contar. Durante certo tempo, só havia este hospital no Quinto Distrito de Taquara, inicialmente chamada de Taquara do Mundo Novo, reduzindo para Mundo Novo, e depois, Gramado. Um médico, alemão, chamado Dr. Ricardo Stürmhoeffel, que atuou em Gramado nas primeiras décadas do século vinte (saliento que não tenho compromisso com datas, mas com pessoas e suas casas, nesse livro), acredito que por sua influência, um sujeito chamado Valentim Puhl, do qual desconheço qualquer outrareferência, senão pelas memórias de minha avó, maria Elisa Dias Cardoso, construiu o Hospital Santa Teresinha, que mais tarde, por conveniência fiscal, tornou-se uma associação filantrópica, e passou a ser denominado: Hospital de “ Caridade Santa Teresinha”. A história contada por minha avó, não sei se é fiel aos fatou ou não, mas como dizia ela própria: “Vou te vender pelo preço que comprei!”, isto é, “serei fiel ao que conheço, do jeito que me foi contado. Reza a lenda que o médico chefe era o Dr Karl Nelz, e que Dr Erico Albrecht era ainda residente de medicina, trabalhando como assistente de Nelz. Em um daqueles dias que as coisas não andam muito bem, por algum desentendimento, Nelz demitiu Erico, e continuou sozinho no hospital. Passado certo tempo, e já formado, Erico casou com a filha de um importante empresário de Porto Alegre. Durante o periodo de graduação em Medicina, foi trabalhar como médico residente no pequenino hospital de Gramado, sob o comando do Dr Carlos Nelz. Por essas coisas da vida, houve, ao que contavam minha avó, um desentendimento entre eles, e Erico foi dispensado. Imagens by Pacard 8
  • 9. Pouco tempo depois, já formado, e casado, Erico recebe um presente pelo sogro, que mudaria sua vida e a vida de muitos: O Hospital Santa Teresinha, do quinto distrito de Taquara, a perfumada Gramado. E como é natural do Ser Humando, em suas desavenças, dessa vez, o demitido foi o Dr Nelz. Erico passa a clinicar e realizar cirurgias em seu novo hospital, enquanto Nelz atende em sua casa, até que a comunidade constrói, para que ele também trabalhe, o Hospital São Miguel, este, ligado à uma ordem religiosa. Não quero aqui entrar nos detalhes, porque, como saliento, não sou historiador, e o objetivo desta obra é mostrar as casas e algum pitoresco de seus contemporâneos, nada além disso. Mas é isso que eu sei, porque me foi contado por quem sabia antes, e mais do que eu. Eu tinha cerca de dezesseis anos de idade, e por convicção religiosa, de cunho pacifista, minha orientação era de não receber treinamento com armas, que ensinasse a matar, durante o serviço militar, e a única forma de evitar esse compromisso, sem deixar de servir à pátria, seria na condição de enfermeiro . Ora, naquele tempo, cair na água, e fazer “ ” tchumbum , era considerado um peixe, então saber aplicar uma injeção, e trocar um “ ” curativo, poderia ser perfeitamente um auxiliar de enfermagem, se tivesse recebido um cursinho breve para essa finalidade. A organização religiosa á qual eu era filiado, mantinha hospitais famosos no Brasil, e um, no Rio de Janeiro, oferecia cursos de Socorrista Padioleiro que são aqueles soldados que “ ” passam pelas fileiras de feridos, juntando os vivos, e os carregando até à enfermaria de campanha, para que fossem tratados. Esse era o padrão aceitável de enfermeiro no serviço militar. Decidido a fazer isso, procurei pelo Dr. Theodoro Alexandre Albrecht, Cardiologista, e filho do Dr Erico, que também atendia naquele hospital, e expliquei a situação. Ele ficou de falar com o pai dele, e me daria retorno na semana seguinte. Passados alguns dias, nos encontramos da piscina do Gramado tênis Clube, e ele confirmou que eu havia sido aceito, e deveria ir naquele mesmo dia, conversar com Dr Erico, em seu consultório. Em lá chegando, fui recebido amavelmente pelo velho doutor, que olhou pra mim e disse: - Quando você entra em férias no seu trabalho? (Nesse tempo, eu era escultor no “ ” Artesanato Gramadense, e estava chegando o meu período de férias, mês de abril). - Segunda feira que vem, eu entro em férias, doutor! “ ” - Então quero você aqui na terça feira, com calça branca, camisa branca, cueca branca, meia branca, sapado branco, jaleco branco, unha cortada e feita , cabelo cortado, e banho “ ” tomado!” Naquele mesmo dia, fui à loja e comprei tudo o que era preciso, e minha mãe costurou pra mim um jaleco do estilo Dr. Kildare, elegante, bem desenhando, e naquela terça-feira, cedo, eu apareci no hospital para trabalhar. Olhando pra mim com um sorriso de canto, perguntou: - Trouxe a mala com roupas? “ ” - Não! Era pra trazer?: “ - Sim, onde você acha que vai ficar no próximo mês? “ ” E assim passou correndo aquele mês, onde aprendi de tudo o que um menino com dezesseis anos poderia aprender e fazer, em um mês, dentro de um hospital de interior, sob a supervisão de dois grandes médicos, e uma equipe de enfermagem chefiada pela enfermeira Inge Deppe, e sub-chefiada por Hilda Weber. Inge era formada em enfermagem, e Hilda era prática. Imagens by Pacard GRAMADO de priscas erasVolume 1 9
  • 10. O Hospital Construído com tijolos maciços, grandes, tinha os assoalhos dos três pisos de madeira, o que obrigava às pessoas a comedirem o andar, pois fazia um barulho insuportável para quem estava em convalescença, nos quartos espalhados pelo corredor. Quando trabalhei lá, havia um avanço nos fundos, em direção ao norte, que era chamado de Parte Nova , mas falemos apenas da parte original, a que está retratada nas ilustrações. “ ” Esta parte, era composta do térreo, que ficava abaixo do nível da rua em frente, e ao nível da rua lateral, que tinha um declive. Também tinha um sótão, com seis quartos, que ocupavam o subtelhado, cujas janelas eram instaladas em Gaiutas . Cada gaiuta então, “ ” correspondia a um aposento. Foi no quarto de número nove, da gaiuta central, que meu avô, Assis Brasil Cardoso, expirou. Mas tem coisas boas aí tambe´m, pois foi nesse hospital que nasceu meu filho Michael. E assim foi lá quem nasceram penso que algumas milhares de crianças, muitos dos quais, estão lendo isso agora.. O Hospital foi construído em um tempo, e de um modo, que os problemas futuros foram deixados para o acaso resolver, e um destes graves problemas, era a drenagem. Como foi construído sobre uma bacia, de fundo rochoso, a água da chuva ficava empoçada debaixo do assoalho da cozinha e dos quartos das residentes. Muitas foram as vezes que ouvi o Dr Erico dizendo que daria um terreno a quem desse uma solução naquele banhado. Ninguém ganhou o terreno, e anos mais tarde o hospital foi vendido, e por fim, foi fechado, e o local foi transformado em um moderno condomínio. A velha casa em estilo alemão, construída pelo Valentim Puhl, deu seu lugar à quem pudesse servir e resistir mais do que ele resistiu. O velho Hospital do Doutor Erico, será um lugar onde as lembranças de vida e morte se “ mesclam, e quem dele se recorda, tem uma história pra contar. Essa é apenas uma das minhas. 10
  • 15. Este empresário era fabricante de fogões, e muito abastado, e o presente de casamento ao casal, foi o hospital de Gramado. Assumindo, então, a direção do estabelecimento, Erico tem sua revanche, e demite Nelz, que passa a trabalhar, e atender seus pacientes, na sua casa. Por esse motivo, então, um grupo, da comunidade local, ligado à igreja católica, adquires um terreno, e constrói outro hospital, para ficar aos cuidados de Nelz. Nasce aí uma rivalidade que dualiza a comunidade até o fim dos anos 70, onde, ou você era atendido por Erico, ou era atendido pelos Nelz. Esta rivalidade, segundo lembro, estendia-se também no viés político. O certo era que, tanto os Nelz, quanto os Albrecht (Erico, e seu filho Theodoro Alexandre, Cardiologista), eram médicos de capacidade única, cujos pacientes jamais questionaram sua habilidade e empenho no serviço da medicina. Esta rivalidade beneficiou Gramado, e hoje, o local onde estava o Hospital Santa teresinha, deu lugar a um condomínio residencial e comercial, porque a vida tem pressa e a civilização precisa de espaço. 15
  • 16. 16 Algumas pérolas do Hospital A Noiva Era voz corrente da equipe de enfermagem, que uma belíssima moça, vestida de noiva, costumava circular pelos corredores na parte de baixo, onde ficava a cozinha e os quartos das funcionárias, especialmente pela cozinha, e pela parte de trás, do lado de fora, onde ficava o necrotério. Fui atendente de enfermagem por um ano, e em meus plantões noturnos, com frequência, trabalhava sozinho. Sabendo disso, pouco antes de se retirarem, elas se juntavam onde eu estava, e contavam lorotas escabrosas sobre a tal “noiva” passeadeira. A bem da verdade, vi algumas pessoas passeando às escondidas, vez ou outra, mas parecia-me que a ideia de noivado nem passava na cabeça delas. Era só festa mesmo, confraternização, a dois.
  • 17. Arcelino Com raras exceções, quase sempre, a garnde maioria da equipe de trabalho do Hospiatl, era feminina. Trabalhei lá duas vezes: Como atendente de enfermagem, e o administrador era Harry Wilson Fleck. E quando administrei o hospital, algunas anos mais tarde, com exceção do Arcelino, eu era o bendito entre as moçoilas. Arcelino cumpria as funções de responsável pelo jardim, e isso fazia com maestria, pois era um sacerdócio o seu zelo pela cerca-viva de ciprestes, sempre bem aparada. Cuidava também de uma pequena horta de temperos, que atendia as necessidades da cozinha, e também ele, Arcelino, colhia os legumes que plantava. Também criava umas galinhas, mas apenas para coletar os ovos, pois Arcelino tinha um amor imenso pelos animaizinhos. Certa ocasião, apareceu com uma sabiá que tinha a asinha machucada, para que as enfermeiras tratassem do bichinho. Fazia coisas assim, mas tinha um gênio sinistro, quando era contrariado por alguma coisa. Não era sempre, era bondoso, gentil, cordato, e só perdia as estribeiras, quando mexessem com seus animaizinhos. Lembro que trabalhava conosco uma cozinheira, a Delfina, a quem chamávamos de Pina . Mão de anjo nas panelas, tanto que ela trabalhou comigo “ ” na primeira vez que estive lá, e depois saiu, mas quando voltei, na condiçãon de administrador, fui buscá-la de onde estava, como cozinheira de um restaurante, comivi ela com dinheiro, oferecendo a metade do que ganhava naquele lugar, e ela aceitou correndo. Voltou a cozinhar pros doentes, e pra equipe do hospital. As coisas eram assim, no improviso, mas davam certo. Pois foi no dia em que Pina preparou o prato reforçado do Arcelino, e colocou nele dois rechoncudos pedaços de frango. Quando recebeu o prato, e viu o frango, olhou com desconfiança, mas não disse nada. E nem precisava, pois uma enfermeira muito debochada, que estava perto falou: - Suas galinhas são deliciosas, Arcelino! Ai, pra que disse isso Arcelino espatifou o … prato na parede e queria matar a cozinheira, que se não fosse socorrida, o causo seria outro No fim, deu tudo certo. … 17
  • 18. “Filho da puta! Filho da puta!” Nunca ouvi o Dr Erico pronunciar um único palavrão. Era um homem elegante, polido, com um vernáculo prolixo, e dotado de muita altivez no trato com as pessoas. Até quando passava uma carraspana em alguém, era com polidez, com nobreza. Mesmo quando ria de alguma coisa, ele o fazia com muita polidez. Falava baixo, tinha voz grave, e uma perfeita dicção e jamais o vi dando gargalhas escandalosas. Jamais. E nem por isso, pedia seu bom humor, quase britânico, no modo de expressá-lo. Então, ele não falava palavrão. Isto é, até o dia em que estava no ambulatório, tentando extrair um espinho de Sucará, uma árvore dura, cujo tronco é cercado de esponhos que chegam até quatro centpimetor de comprimento, e que possuem fisgas, como um anzol, fazendo com que, uma vez cravado na vítima, ele não deslize para fora, sem muito esforço e dor. Tanto é assim, que diziam que ele “caminha” na carne, ou seja, com o movimento muscular, o espinho avança, e por causa das fisgas, não consegue voltar sem intervenção. Assim, um espinho que entra no punho, pode, em pouco tempo, estar cerca de cinco centimetros braço adentro, e só pode ser retirado por um método muito dolorido, de permitir que infecione o local, para que o ferimento abra e promova o expurgo do invasor, pois há ainda o agravante que o espinho mimetize, ou seja, assuma a cor do ambiente, tornando-se de dicícil localização. Pois foi na tentativa de extrair um espinho do punho de um paciente, que o doutor sai quase aos pulos, empunhando uma pinça, com um espinho na ponta, extraído, e berrando: - “Filho da puta! Filho da puta!” Esse eu venci! E venceu mesmo. Foi aí que ele explicou o relato acima. Aplaudimos e nos orgulhamos no nosso chefe cirurgião. 18
  • 19. Reencontro de irmãs Os dias em um hospital são um tanto enfadonhos, tanto para os pacientes, quanto para seus acompanhantes, pois, embora sob efeito de medicamentos, em muitos casos, e por isso repousam, os acompanhantes ficam ao lado, contando ladrilhos, ou sentando e levantando, para acelerar as horas. Não é incomum, que pacientes fossem passear pelos quartos, visitando outros pacientes, e confortando-os um pouco, também. Numa destas tardes monótonas, uma senhora, que acompanhava o filho, recém operado, foi passear pelos quartos vizinhos, e travou amizade com outra senhora, acamada, e a prosa andou à lo largo, até que em dado momento, naquelas corriqueiras perguntas sobre origens de uma e de outras, deram por conta de que eram...irmãs, separadas por cerca de vinte anos. Era comum, que as famílias pobres, do interior do município, com muitos filhos para sustentar, enviassem um ou mais filhos, para trabalhar como domésticas, ou em outras atividades, para os meninos, a partir de dez ou doze anos de idade. Foi o que aconteceu ali. E nunca mais souberam da filha. Não, até aquele momento. Eu sei que foi assim, porque eu estava lá, e eu vi isso acontecer. Muitas lembranças Publiquei uma imagem de meus desenhos em 3D, em um grupo de amigos, e foi enorme a repercussão, de pessoas que queriam dar seus testemunhos, que enriquecem o saber da memória afetiva que une as pessoas com os lugares. Quando falo que quero mostrar como seriam as casas, quando eram novas, estou dizendo que nestas casas, transitaram, viveram, sonharam, muitas pessoas. E o Hospital de Caridade santa teresinha tem essa particularidade, de unir pobres e ricos na mesma arquitetura. Imagens de Internet 19
  • 20. 20
  • 21. GRAMADO de priscas erasVolume 1 21 O Hospital dos Puhl Primeiros estudos, que aos poucos, e à medida em que conversava com os personagens mencionados a seguir, eram esclarecidos: Localização de janelas, portas, varanda, e combinados com a fotografia de um fragmento da casa, que mostrou-me o caramanchão de Glicínias, que sugeriu então as cores da casa.
  • 22. Esta história precisa ser contada com um pouco mais de detalhes, pois desenhar esta casa, foi um exercício de tentativa e erro, com base apenas, inicialmente, nas informações de duas pessoas, a quem irei aqui descrever com enorme gratidão: Ilse Miguelina Puhl, e Dirceu Hugo Daros. Esta história começa quando, ao desenhar o Hospital de Caridade Santa teresinha, das páginas anteriores, minhas lembranças chegavam à uma informação, a mim passada, pela minha avó, Maria Elisa Dias Cardoso, e também pelo Dr. Erico Albrecht, Médico e dono do hospital, por muito tempo. Diziam eles que aquele hospital havia sido construído por um certo Valentim Puhl. E era tudo o que era dito. E nada se sabia de João Valentim Puhl, até aqui. Percoirri (virtualmente) os mais idosos de meus grupos nas redes sociais, perguntando se alguém sabia alguma coisa sobre Valentim Puhl, mas a resposta er um grande vazio. Um amigo, mais velho que eu, Sergio Bertoja, disse que ouviu sua mãe, dona Lacy Bertoja, dizer, que havia uma família Puhl, em Gramado, mas que fora embora nos anos 50. E era toda a informação que eu tinha. 22
  • 23. Determinado a encontrar, no mínimo, alguma referência ao Valentim Puhl, fui procurar no Facebook, como também no Google, por este nome e nome da família, ao que aparecem em localidades distintas, sobrenomes Puhl . Encontrei então “ ” uma comunidade desta família, e solicitei ingresso, justificando minha ousadia de invadir seu espaço. Prontamente fui aceito, e enviei as imagens do hospital e mais outras, a apresentação do livro, e contei a história, e também a razão desta busca. Travei amizade com um membro da família, sr Celso Puhl, que contou-me que são da região do município de Santo Cristo, no Rio Grande do Sul, e que ele, celsom morava em santa Rosa, a terra da Xuxa (está neste livro a casa de Bernardina “ ” Meneghel, (tia da Xuxa) que morou em Gramado), mas que nunca tinha ouvido falar de Valentim. Celso prometeu-me visitar um parente que tem um livro de genealogia da família, mas ficou nisso. Não prosperou a informação. Enquanto isso, conheci outra pessoa, também da família Puhl, que relatou conhecer um parente do João Valentim Puhl. E pouco tempo depois, adicionou-me no whatsapp, outro Celso Puhl, mas que não tinha nenhuma ligação (talvez distante apenas) com o primeiro Celso, e numa breve conversa, contou-me que era neto de João Valentim, filho de dona Ilse Miguelina Puhl, com 96 anos de idade, e perfeitamente lúcida, simpática, gentil. Em poucos instantes, estávamos numa live, onde perguntei muitas coisas, e ouvi a seguinte história: Meus pais moravam em São Sebastião do Caí, e mudaram para Linha Imperial, ” em Nova Petrópolis contou Ilse. Meu pai era alfaiate, e minha mãe, Lúcia ” – “ Matilde Puhl era paciente do Dr Carlos Nelz. Era aminha mãe, a grande empreendedora, dinâmica, da família Stürmer. Foi a partir dessa amizade, incentivada pelo Dr Nelz, que meus pais alugaram uma casa da família Daros (Augusto Daros), e nela, montaram um pequeno hospital, com cerca de oito quartos.” A conversa seguiu por mais alguns minutos, e ficou marcado um novo encontro, em outra oportunidade. Porém, embora com estas ricas informações, infelizmente, dona Ilse não dispunha de uma fotografia desta casa. Mas, como acaso não é algo em que eu acredito, a palavra-chave para localizar outras informações eram o sobrenome: Daros! Augusto Daros, era o avô da saudosa historiadora Marília Daros, e de seu ainda saudável irmão, Dirceu, que tornou-se um grande colaborador deste trabalho, trazendo memórias valiosas sobre outras casas e histórias aqui levantadas. E em cheio, acertado: Dirceu sabia da casa, e mais ainda, havia morado por sete anos no lugar, pois assim que foi concluído o novo hospital, Hugo e Soely Daros, foram morar na casa. Dirceu, então, relatou que havia oito quartos na parte de cima da casa, o que combinou com a informação de Dona Ilse, sobre os oito quartos. Mas Dirceu foi ainda mais preciso, informando que os quartos estavam na parte de cima, o que chamamos de Sótão. Foi assim, que, juntando as informações e observações que eu já havia coletado sobre os padrões arquitetônicos da Gramado da primeira metade do século XX, e aventurei-me a traçar a volumetria da casa, uma vez que não haviam fotos disponíveis com esta informação. Isso feito, enviei ao Celso Puhl, para que mostrasse à mãe, e pudesse ela, corrigir os detalhes, já com um esboço na frente. Dona Ilse confirmou que, sim, de acordo com suas lembranças, a casa erra assim mesmo. 23
  • 24. Determinado a encontrar, no mínimo, alguma referência ao Valentim Puhl, fui procurar no Facebook, como também no Google, por este nome e nome da família, ao que aparecem em localidades distintas, sobrenomes Puhl . Encontrei então “ ” uma comunidade desta família, e solicitei ingresso, justificando minha ousadia de invadir seu espaço. Prontamente fui aceito, e enviei as imagens do hospital e mais outras, a apresentação do livro, e contei a história, e também a razão desta busca. Travei amizade com um membro da família, sr Celso Puhl, que contou-me que são da região do município de Santo Cristo, no Rio Grande do Sul, e que ele, celsom morava em santa Rosa, a terra da Xuxa (está neste livro a casa de Bernardina “ ” Meneghel, (tia da Xuxa) que morou em Gramado), mas que nunca tinha ouvido falar de Valentim. Celso prometeu-me visitar um parente que tem um livro de genealogia da família, mas ficou nisso. Não prosperou a informação. Enquanto isso, conheci outra pessoa, também da família Puhl, que relatou conhecer um parente do João Valentim Puhl. E pouco tempo depois, adicionou-me no whatsapp, outro Celso Puhl, mas que não tinha nenhuma ligação (talvez distante apenas) com o primeiro Celso, e numa breve conversa, contou-me que era neto de João Valentim, filho de dona Ilse Miguelina Puhl, com 96 anos de idade, e perfeitamente lúcida, simpática, gentil. Em poucos instantes, estávamos numa live, onde perguntei muitas coisas, e ouvi a seguinte história: Meus pais moravam em São Sebastião do Caí, e mudaram para Linha Imperial, ” em Nova Petrópolis contou Ilse. Meu pai era alfaiate, e minha mãe, Lúcia ” – “ Matilde Puhl era paciente do Dr Carlos Nelz. Era aminha mãe, a grande empreendedora, dinâmica, da família Stürmer. Foi a partir dessa amizade, incentivada pelo Dr Nelz, que meus pais alugaram uma casa da família Daros (Augusto Daros), e nela, montaram um pequeno hospital, com cerca de oito quartos.” A conversa seguiu por mais alguns minutos, e ficou marcado um novo encontro, em outra oportunidade. Porém, embora com estas ricas informações, infelizmente, dona Ilse não dispunha de uma fotografia desta casa. Mas, como acaso não é algo em que eu acredito, a palavra-chave para localizar outras informações eram o sobrenome: Daros! Augusto Daros, era o avô da saudosa historiadora Marília Daros, e de seu ainda saudável irmão, Dirceu, que tornou-se um grande colaborador deste trabalho, trazendo memórias valiosas sobre outras casas e histórias aqui levantadas. E em cheio, acertado: Dirceu sabia da casa, e mais ainda, havia morado por sete anos no lugar, pois assim que foi concluído o novo hospital, Hugo e Soely Daros, foram morar na casa. Dirceu, então, relatou que havia oito quartos na parte de cima da casa, o que combinou com a informação de Dona Ilse, sobre os oito quartos. Mas Dirceu foi ainda mais preciso, informando que os quartos estavam na parte de cima, o que chamamos de Sótão. Foi assim, que, juntando as informações e observações que eu já havia coletado sobre os padrões arquitetônicos da Gramado da primeira metade do século XX, e aventurei-me a traçar a volumetria da casa, uma vez que não haviam fotos disponíveis com esta informação. Isso feito, enviei ao Celso Puhl, para que mostrasse à mãe, e pudesse ela, corrigir os detalhes, já com um esboço na frente. Dona Ilse confirmou que, sim, de acordo com suas lembranças, a casa erra assim mesmo. E assim, Gramado já sabe um pouco mais de sua história quase esquecida. 24
  • 25. Augusto Da Ros, Italiano de Treviso, casado com Angelina Nicoletti Da Ros ( Irmão do Major Nicoletti, fundador de Gramado ) e foi o proprietário desta casa depois do Hospítal e após a morte dos dois, ficou para os herdeiros e moramos até o ano de 1.949 quando os mudamos na propriedade vizinha ao meu Padrinho Benno Ruschel da Farmácia Galeno. (Dirceu Daros) (D) Dona Ilse Miguelina Puhl, filha mais nova de João Valentim Puhl Dirceu Hugo daros, o velho goleiro do Botafogo de Riberão Preto, que nasceu na casa. 25
  • 26. Esta é a única foto remanescente, que mostra a família Phul diante do novo Hospital Santa teresinha. 26
  • 27. Primeiro estudo da casa, ainda sem nenhuma informação, exceto que havia oito quartos, no sótão. 27
  • 28. Você pode escolher o ângulo da casa e encomendar, em alta resolução, com efeitos artísticos, ou cores naturais, para imprimir e emoldurar. Também pode solicitar em traços, para imprimir e pintar. Contate com a editora Ille Vert (48) 999 61 1546 whatsapp apenas 28
  • 29. O Açougue dos Benetti Vitório Benetti era um descendente de italianos, com cara de açougueiro descendente de italianos. E era isso mesmo. Açougueiro, por vocação. Quando conheci o lugar, no início dos anos 60, do século passado (ah, como sou velho), era um dos açougues, que nesse tempo, eram chamados de Picador , assim como os armazéns “ ” e bares, eram chamados de Venda, ou bodega , os atendentes eram os bodegueiros, ou “ ” “ caixeiros , e vendiam de tudo um pouco. ” Este açougue da imagem, foi de vários açougueiros, mas vou contar dois pitorescos de dois deles: Tóio Benetti, e Ivâ de Oliveira. “ ” Muito antes disso, porém, tomei conhecimento, enquanto pesquisava, que a casa fora um pequeno armazém, de propriedade deo Sr Alcides Arend. Esta informação foi dada por um de sesu filhos, Erico Romeu Arend. Nesse tempo, a Vigilância Sanitária não era muito zelosa, e os açougueiros aproveitavam a falta de movimento em algumas horas, e faziam linguíça. Para isso, moíam a carne e empilhavam no balcão de atendimento. Uma montanha de carne, temperada, esperando ser envelopada para defumação. Numa feita, chega lá um cidadão, que batia papo à lo largo, como Tóio , e quando este “ ” virava as costas, o indivíduo enfiava a munheca na montanha de carne, sacava um lote da mercadoria, e enfiava no bolso da bombacha. Depois, comprou seu bifinho, e saiu, abastecido, com os bolsos estufados de recheio de linguiça. Outro causo, deu-se quando o meu saudoso amigo Ivã de Oliveira, era açougueiro. Era cortês e gentil com todos. Um dia, estava atendendo um jornalista famoso, que tinha casa em Gramado, um sujeito fino, reservado, e enquanto aguardava o preparo de sua encomenda, um bêbado contumaz, acalorou-se de amores pelo visitante, e desatou a enaltecer as virtudes de coimer um Jacú véio com farinha de mío . O pobre Ivã não sabia “ ” onde enfiar a cara, de tanta vergonha. Mas, bater boca com um xarope é mau negócio, e Ivã não era um mau negociante. 29
  • 31. 31
  • 32. 32
  • 33. Casarão da Borges A casa pertenceu à família Castilhos, e quando a conheci, morava lá Dona Alice Castilhos, funcionária pública da Prefeitura, conhecida como Tia Alice , uma pessoa doce e meiga, que “ ” tratava à todos om elegância. Fomos colegas, no tempo em que trabalhei da Secretaria de Turismo, e a conheci bem. Era dona de um fusquinha cor de café com leite, que, ao que soube, ficou de herança ao seu sobrinho João Alfredo, o “Fedoca , que foi Prefeito do ” município, seguindo os passos do seu pai, Walter Bertolucci. Mais tarde, foi alugado para uma artista plástica, que trabalhou durante muitos anos com cerâmica artesanal, na parte de cima da casa. O porão foi palco de duas boates, até a década de 70, e depois, fui utilizado como restaurante especializado em Queijos e Vinhos, o Chez Pierre, do saudoso amigo, Pedro Gobbi, o Pierre . “ ” A especialidade da casa eram o Fondue, e a Raclette, uma bandeja com picles, embutidos picados, e queijo derretido. Em 1978, foi realizado um filme entre Gramado e Canela,pela Linx Filmes e Editora Planeta, dirigido por Walter hugo Khoury, com atores conhecidos no elenco, como Rosina Malbouisson, e a italiana Paola Morra. Nesse tempo, eu trabalhava como assessor de turismo, e fui designado pelo prefeito Nelson Dinnebier, a acompanhar e auxiliar a produção do filme, intermediando locações, e o que fosse necessário no ambiente local. Então, além de ganhar um saboroso cachê, e boca livre nos melhores resuatrantes da cidade, pelo tempo da produção, quase sessenta dias, nosso local favorito era o Chez Pierre, ao qual, os diretores da Linx não lembravam do nome da raclette, e a chamavam de Tarraqueta . Assim, o Chez “ ” Pierre, era também chamado, pelo grupo, de Tarraqueta . “ ” 33
  • 35. Artesanato Gramadense Este lugar e bem mais que uma lembrança arquitetônica, que nem estilo tem, senão algumas caixas de tijolos cobertas com telhas de fibrocimento. A questão não é o estilo, mas o conteúdo, que povoa a memória de quem passou por lá, e a falta de memória de quem não o conheceu. No início dos anos 60, chegaram à Gramado, os alemães, imigrantes, Elisabeth e Erich Rosenfed. Ela, artista pl´pastica, premiada, e ele, funcionário de uma Cia. Alemã de tecnologia. Eram proprietários das terras. Na localidade do Caracol, inclusive onde fica a Cascata, e venderam, comprando a terra de Gramado, que tinha cerca de 100 metros de frente, talvez mais, por cerca de um quilômetro, no sentido norte. Havia mato, arroio, cascata, campo, aclives e depressões, e sobre o alto de uma colina, construíram a casa, que se vê, aos fundos. Elisabeth, tinha um Fusca branco, e Erich, passeava com seu elegante Simca Chambord, pela cidade, além de seu inseparável cachimbo, que denunciava sua presença simpática, por onde passava. Eçisabeth era muito brincalhona,e adorava passar trotes, no dia primeiro de abril. Era generosa, e conheço relatos e testemunhos de pessoas a quem ela estendeu a mão, até mesmo financeiramente. Adorava contar histórias, especialmente as histórias vividas por pessoas de suas relações, que vieram para o Brasil, fugindo dos horrores da guerra. Eram pessoas cultas. Lembro de um piano de meia cauda, preto, que foi vendido para um médico local, e substituído por outro de quarto de cauda, muito lindo, que ficava na sala da casa. 35
  • 36. Eu desconheço a razão, mas esta é uma das raras fotografias que mostra Elisabeth, e não é por falta delas, pois bem recordo que ela gostava de fotografar e ser fotografada no seu cotidiano. Enfim, uma lástimas, que tenha se sublimado nos espólios, o remanescente material e memorial destas pessoas e lugar. Apelo então `minha, e de outrem, memórias, para alguns pitorescos. Gramado era já visitada por pessoas de diversos lugares, especialmente Porto Alegre, e São Paulo. Não posso deixar de mencionar que o Instituto balneo Lodoterápico, da família Nelz, contribuiu para a internacionalização da cidade. Mas sobre estes, falarei em outro capítulo. Quando começou, Elisabeth tinha um pequenino atelier na garagem do chalé onde morava. Logo, percebeu que precisava ampliar suas possibilidades criativas, e construiu um pequeno atelier (aliás, foi a primeira vez que ouvi palavras como: Mosaico, Atelier, e Artesanato). Neste atelier, contratou um especialista em fornos, um tal de Olímpio, e com ele, veio um assistente, o Nelson Tenher. Olímpio termiou a tarefa, e foi embora. Mas Nelson ficou, e ficou tanto tempo, que muitos anos depois, bem de vida, já, comprou a propriedade particular onde moraram Elisabeth e Erich (ou Erico) Rosenfeld. O negócio de cerâmica não prosperou, pois já havia uma amiga de Elisabeth, uma senhora egressa de um campo de prisioneiros pelos nazistas, chamada Wanda Ductzynka,ceramista, e nunca irei saber, mas quero presumir que Elisabeth não quis promover concorrência com a amiga. Amigos, aliás, não faltava aos Rosenfeld. Logo, foi construída a casa maior, e o chalé, passou a ser a casa de hóspedes, onde os Rosenfeld recebiam artistas, eruditos, de Porto Alegre e São paulo. Alguns também da Alemanha. 36
  • 37. Elisabeth comprou um Tear de madeira para tecer tapetes de lã, que era comprada dos fazendeiros de São Francisco de Paula, mas a lã chegava suja, da mesma forma que era tosada, assim, precisava ser lavada, e era minha avó, maria Elisa, quem fazia esse serviço. Na foto ao lado,o terreno dos fundos da casa, um imenso gramado, bem cuidado, que terminava numa mata e esta estendia-se até à rua dos Abraão, que jhoje, liga o Bairro Moura ao Dutra. O cidadão ao fundo, era o Seu Joanão, um preto velho que tinha carregado sotaque de italiano. Uma criatura de doçura e mansidão, que jamais vi igual. Sempre sorrindo, conversava com simplicidade, e cuidava daquele jardim como se cuida de uma criança. Seu Joanão tinha um filho adotivo, Alcindo Portulan, que foi marceneiro no Artesanato Gramadense. O tear foi a sensação da vizinhança, que se amontoava à porta do pequenino atelier, já ampliado, para acomodar a engenhoca, jamais vista por aquele povo (eu também era daquele povo). Uma especialista, vindo de São Paulo, Dona Carla Blum, foi encarregada de montar o tear, e treinar pessoas para a nova atividade do já afamado atelier de Elisabeth Rosenfeld. O trabalho era reconhecido, e a cada dia apareciam mais pessoas dos arredores, oferecendo seus préstimos serviçais à Dona Rosenfela , como diziam os mais simplices, que “ ” tinham um certo brilho no olhar, ao vislumbrar um emprego, um aprendizado para os filhos,e um futuro mais digno para a família. E o Artesanato só crescia. O estacionamento, externo, cascalhado, ficava abarrotado de carros, com placas de Porto Alegre, caxias do Sul, Novo hamburgo. Os negócios prosperavam, e Elisabet inventou um modo de permitir que seus colaboradores também prosperassem. 37 Foto tirada por Elisabeth Rosenfeld, No dia 2 de Novembro de 1967, quando Ocorreu um Eclipse Total do Sol. Na foto, Maria Elisa Dias Cardoso, E João Portulan (Joanão)
  • 38. Elisabeth então contratou pessoas com certo refinamento, para colocá-las à frente do atendimento aos visitantes. Tais colaboradores, Elisabeth recusava-se de chamar de vendedores , mas os chamava de Recepcionistas . “ ” “ ” As pessoas recebiam nas fábricas, o seu salário, e era tudo. Os Rosenfeld inovaram, pelo menos lá. Os colaboradores recebiam religiosamente a cada quinze dias, uma parcela do salário, e recebiam ainda, um adicional, um prêmio coletivo pelo desempenho do grupo, ao que chamavam de Gorjeta . Assim, enquanto existiu o Artesanato Gramadense, sob a “ ” direção dos Rosenfeld, e ainda depois, pelo casal Rubim,pagava os melhores salários da categoria na cidade. De tempos em tempos, era oferecido um churrasco coletivos, extensivo às famílias, e mais que uma confraternização, todos recebiam prêmios por merecimento. Estes eventos eram oportunidades culturais, ao que, ao longo do crescimento, e da construção de mais prédios, formando quase uma vila, Elisabeth construiu um, em especial, que chamou de Teatrinho . Todas as unidades recebiam nomes, mas o Teatrinho era um “ ” “ ” teatro em miniatura, com direito à cochia, palco, e auditório. 38
  • 39. A Torre Era costume, que as casas tivessem uma despensa de alimentos, reservada para conservas e estoque de cereais, bebidas e outros alimentos menos perecíveis, antes da popularização dos mercados, e dos congeladores domésticos. Assim, compotas e doces de frutas, conservas em vinagre e sal, ou mesmo secos, eram guardados em locais menos acessíveis, ao dia a dia da lida na cozinha. Elisabeth tinha um lugar assim. Ficava no porão da torre da caixa d água, que tinha um ’ quartinho onde eram guardadas ferramentas de jardim, e no chão, um alçapão discreto, dava lugar ao porão, onde estava guardado um tesouro de especiarias e guloseimas. Foram os netos dos Rosenfeld, Ricardo e Mônica, meus amiguinhos de infância, que ingressei para o mundo do crime, cujo alvo era o porão das compotas. Traçávamos muitos planos, uso de máscaras, lanterna, mapas, para efetuarmos a abordagem aos calabouço onde eram feitas prisioneiras as latas e os vidros de conserva, que ansiavam por sua libertação, pelos valentes cavaleiros da comilança. Na verdade, isso foi feito apenas uma, talvez duas vezes, pois o serviço de contra-espionagem e a segurança do complexo, denunciaram nossas investidas, após descobrirem vidros abertos, e comprovarem por especialistas, que ratos não tinham tecnologia para abrirem Vidros-Veeck com os dentinhos. Assim, para frustração de “ ” nossos planos criminosos, foi nos oferecida a oportunidade para que nos servíssemos, à vontade, na dispensa convencional da cozinha de Dona Elisabeth. Paciência. Vida que segue. O crime perdeu talentos valiosos. 39
  • 40. Os Artesãos Eu nunca tinha ouvido a palavra Artesanato , até então, assim como também desconhecia “ ” a palavra Atelier , Tear Mosaico , e até Doce de Leite , senão quando passei a frequentar “ ” “ ” ” “ ” o círculo social e cultural de Elisabeth Rosenfeld. Mais que fazer arte ou artesanato, Elisabeth motivava as pessoas a que se tornassem hábeis e também criativos. Grande parte da arte que ela trouxe ao mundo, dizia respeito às pessoas. Onde muitos viam pobreza, Elisabeth viu pessoas. Onde muitos viam pessoas, Elisabeth viu talentos. Onde muitos viam talentos, Elisabeth viu um futuro. E as pessoas abriram os olhos e viram oportunidades. Assim, Elisabeth demonstrava em sua obra, nos desenhos, nos entalhes, nos mosaicos, grafias pictóricas antropomórficas, onde o Homem e o Ambiente se mesclavam. O painel ao lado, ainda existe, colado sobre uma parede de um dos espaços, hoje em ruínas, que mostra o dia a dia de seu trabalho de artesanato, e as pessoas que participavam dele. O menino agachadinho, cardando lã, era eu. Na bancada, estavam, ela própria, pintando,e nos teares acima, basta saber quem eram as primeiras colaboradoras, que seus nomes estarão ali, e assim com os escultores, os marceneiros, e os fiadoresde lã para os teares. 40
  • 42. Maria Elisa Dias Cardoso Nasceu em Gramado, no dia 28 de julho de 1911, em uma casa que ficava onde mais tarde veio a ser a sede do Instituto Balneo e Lodoterápico, ou Motel Balneário, na Avenida Borges de Medeiros, cujas terras, à época, pertenciam à sua mãe, maria Francisca, filha de Tristão de Oliveira. Tais terras, compreendiam todo o morro central, desde a área do parque Knorr, ao sul, ao Mato Queimado, ao norte. Desconheço a precisão dos limites das terras, sei apenas que as terras que compreendiam o Morro dos cabritos e adjacências, pertencia à Maria Elisa, e a casa onde nasceu minha mãe, Ester, ficava no lugar onde hoje se encontra o Centro de Eventos. Cheguei a conhecer esta casa, mas a anterior, não mais. A terra foi vendida aos Nelz, e ali onde estava a casa, instalou-se o restaurante, que desenhei e irei descrever mais adiante.l Esta casa da imagem, até o momento em que escrevo isso, ainda está de pé, com a única alteração, da pintura, pois Maria Elisa nunca permitiu que sua casa fosse pintada. 42
  • 43. Não sei dizer o motivo dessa negativa estética, mas o que ela dizia à mim era que, por morarmos num rancho feio, nunca sofreríamos de inveja ou cobiça, e que nenhum ladrão teria coragem de invadir nossa casa, pois seria bem capaz de condoer-se e ainda deixar algum donativo. Dizia isso, e dava risada, à solta. Gramado é uma cidade com características peculiares, e sua distinção remonta à esse tempo, aos dias de minha juventude, nos anos 70. Vivi nesta casa até os 21 anos de idade, e dela saí para casar e buscar outro rumo para minha vida. Porém, apesar de ser simples, feia, quase um rancho, jamais fui discriminado por morar ali, tampouco tive vergonha de levar amigos, ou convidados de outras classes sociais para compartilhar com eles, o cuscuz, os bolinhos fritos, o chá de mate, ou as iguarias rústicas que minha avó, de uma hospitalidade ímpar, oferecia à todos que cometessem a ousadia de passar à frente da casa, sem chegar para dois dedos de prosa, e uma infalível relação de respeito e amizade duradoura. A casa tinha três quartos, sala, cozinha, área de serviço, e banheiro. Isso mesmo! A casa tinha um banheiro. Isso era fantástico, pois pouco tempo antes, quando estava instalada em um terreninho de uns cem metros quadrados, onde depois foi construída um dos prédios do Artesanato Gramadense. Lá tinha só uma patente, do lado de fora, e o banho era de bacia, na cozinha, ou no quarto. 43
  • 45. Eu nunca soube quem morava nesta casa. Passava por lá, olhava, da rua, lá embaixo, e parava para observar o tamanho do capricho com este aprazível chalé, de nítida influência alemã, em sua arquitetura, ao que não sei dizer se, pelos moradores, ou do carpinteiro que a construiu. Notável que sofreu modificações, acréscimos, como o gazebo de vidro, protegido por cortinas, e uma cerca aqui, um muro ali, não projetados, mas adaptados. São, porém, estes puxadinhos e acréscimos, que deram o charme do lugar, somado às flores penduradas na parede, os corações na barra da parede, e a vegetação do barrnaco à frente, separando a casa, da rua. Lamentavelmente o inexorável canto de sereia do progresso, carrega lembranças como essa, para as páginas da memória, que aqui ouso reproduzir, não como estava nos últimos anos, mas como poderia ter sido, quando ainda corriam crianças à sua volta, e pousavam pássaros no seu telhado. 45
  • 47. Arlindo e Ercilda de Oliveira, Arlindo foi, durante muitos anos, o chefe de manutenção, da Prefeitura de Gramado. Quando o conheci, era o Eletricista chefe, e foi nessa condição que contribuiu para que Gramado pudesse ser vista em sua sublimidade, também à noite, quando a rua principal já estava ajardinada, porém, às escuras, Um sistema de suportes para lâmpadas na via pública eram caros, e a Prefeitura apenas começava os seus primeiros anos, após a emancipação. Como precisava iluminar a rua, e a verba estava limitada, Arlindo reuniu sua equipe, e com os equipamentos artesanais que tinha à mão, passou a fabricar os suportes das lâmpadas fluorescentes, e assim Gramado foi mostrada após o pôr-do-sol, em toda a sua beleza. A casa dos Oliveira (Arlindo e ..)foi edificada por volta de 1965, e corresponde a um estilo … bastante predominante nesse tempo. Foi construída pelo próprio Arlindo, com ajuda do sogro, e de um carpinteiro contratado. As tãbuas no sentido horizontal alinhadas, já desenhavam um novo conceito, mais simples, mais leve, do que as tábuas machanfradas , isto é, sobrepostas, como eram aplicadas até “ ” bem pouco tempo antes, permitiam um desenho mais elegante, diferente das tábuas verticais, seja em sistema macho e fêmea , ou alinhadas e arrematadas com mata-juntas, “ ” o que era utilizado em casas mais humildes. Já o oitão da casa, era desenhado em estilo espinha de peixe , com madeiras diagonais “ ” partindo do centro em direção às extremidades. 47
  • 49. Esta singela casa não existe mais. Pertenceu ao casal Adail e Zaira Castilhos. Fica (ainda) junto à entrada da Vila São Pedro, uma residência de veraneio, no alto do morro, cerdado de mata nativa, no centro de Gramado. Adail de Castilhos foi um simpático desportista e talentoiso violonista e seresteiro da cidade. Nos últimos anos de Vida, Adail, nos últimos anos de vida, era Corretor de Seguros, mas sua biografia é bastante ligada ao esporte, especialmente ao futebol de Gramado. Como musicista, tocava violão e compunha um grupo de seresteiros que animavam as reuniões de amigos pelo tempo que já se foi. A casa é uma edificação bastante simples, e recebeu adições, ao que se mostra na imagem. Era uma típica casa citadina dos anos 60 e 70, em Gramado. 49 49
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  • 55. Tio Março e Tiní Marcílio Andrade Cardoso, e Irani casagrande Cardoso, chamados carinhosamente de Tio “ Março, e Tiní , eram pessoas ímpares. ” Vou contar um pouco do que conheço de sua história, mas especialmente, da parte em que nos ligamos à essa narrativa. Marcílio era contado entre quatroze filhos de Manoel Ignácio Cardoso e Maria Emilia de Andrade. Trabalhava com madeiras, especialmente pinheiro Araucária. Junto com seus irmãos, Horácio, e Ademar, era comerciante. Sobre os demais irmãos, falarei em outra oportunidade. Agora quero discorrer sobre nossa história de família entrelaçada com Tio Março e Tiní. Falarei mais deles, do que da casa, pois a casa fala por si mesma. Um chalé de madeira, de tábuas horizontais, que acomodou muito da minha história pessoal. Esse tipo de chalé, já comentei em outras descrições, era bastante comum em Gramado, pela mão de obra e estilo dos carpinteiros, e pela disponibilidade dos materiais empregados, resumidos à telhas francezes, tijolos maciços, e madeira de pinheiro. Algumas eram caiadas, as mais humildes, com tábuas verticais, espaçadas, para dilatação, cujas frestas eram fechadas por tiras finas de madeira, denominadas de Matajuntas . Eram assim. Já as casas de famílias “ ” um pouco mais abastadas, eram de madeiras mais nobre, conhecida como de Primeira, “ Segunda, Terceira , isto é, classificação contada a partir da base da árvore, em direção aos ” galhos, e do cerne (miolo) em direção à casca (Alburno), mais clara, pois o cerne, avermelhado, era rico em resinas, e mais suscetível à rachaduras, apenar da durabilidade ser muito maior. Assim, mesclavam-se as funções das madeiras em uma casa, por exemplo, usando o cerne como parte estrutural (caibros, tirantes), e as paredes com material mais limpo, sem nós ou manchas vermelhas da resina. Assim era então a casa dos Cardoso. Mas vamos à história das pessoas de dentro desta casa, em especial. A chegada à Gramado de minha família Gramado, nos anos 40 do século XX, eram uma pequenina aldeia, um distrido isolado, de uma cidade maior, que era Taquara. Não vou me estender nisso, porque já existem muita literatura a respeito do fato, mas vou relacioná-los à minha família próxima, com os Cardoso. 55
  • 56. Tini e Osvaldina Tio Março Tiní Osvaldina e Fúcio Pelo bem das boas lembranças, falarei sobre Osvaldina e Fúcio, um casal de pessoas gentis, que moravam em uma casinha, nos fundos de uma oficina que fabricava carrocerias de caminha, daquele tipo com laterais enfeitadas, que não se vê mais por aí. Fúcio, cujo nome eu, e todas as pessoas a quem consultei, também não sabem como se chamava aquele italianão corpulento e generoso, de dócil trato, e simpático com as crianças. Fúcio era ferreiro, e trabalhava em sua ferraria, que ficava atrás da casa onde morava, com sua esposa Osvaldina. Também desconheço o sobvrenome desta mulher que nos tratava com voz de tia e doçura de mãe. Osvaldina “ ” trabalhava nos cuidados da casa e da cozinha, em especial, dos Cardoso, e em suas horas vagas, era confeiteira, com fama de estar entre as melhores da época, em Gramado. Já comi algumas das tortas da Osvaldina, e bem, eu era criança, mas lembro bem de coisas que comi e não gostei, o que não foi o caso das guloseimas de Osvaldina. 56
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  • 65. 65 Quem morou no interior, até cerca de 1975, talvez mais, certamente conheceu, ou até foi aluno, de uma Brizoleta . Devo dizer, em benefício da verdade, que passar por “ ” uma experiência em uma Brizoleta, significa, sentar-se em classes (carteiras) compartilhadas, antigamente, com quatro ou cinco alunos, e mais tarde, menores, de dois a dois. A sala de aula, era dividida (simbolicamente) em duas, e em casos mais raros, três classes letivas em uma única sala, compartilhando a mesma professora. Pobre alma, que respondia uma questão da segunda série, a um aluno da quarta série, enquanto o pirralho da primeira série, ainda em fase de alfabetização, pede pra ser levado na patente (capunga mesmo), que ficava a alguns passos atrás da escola, junto ao mato. Ter sido aluno em uma escolinha Brizoleta, é ter um carretel de histórias inventadas para contar, porque, aparentemente, era um lkugar onde a vida andava de lado, porque pra trás é impossivel, pelo menos pelas atuais leis da física. Nas diversas localidades de Gramado, as Brizoletas eram o ambiente de decisões comunitárias, onde professores e pais dos alunos, reuniam-se, como ainda fazem hoje, para decidirem sobre o conserto do caminho barrento entre o mato, ou a horta coletiva, para fortalecer a merenda da meninada. Minha mãe, senhora dona Ester Cardoso, foi professora de três Brizoletas, e também diretora de uma delas, na Vila Moura, onde morávamos. Tempos bicudos aqueles, mas memoráveis. Relatarei de minhas vivências então, na Escola Olidio Moura, pertencente ao Município. Recordo de um momento, onde decidiram realizar uma festa comunitária, para amealhar recursos, para adquirir um fogão e umas panelas, para aquecer a sala de aula, e também reparar umas sopas para enriquecer o cardápio de nutrientes da rapaziada. Uma particularidade interessante: Minha mãe, (a senhora diretora, no caso), exigia que levássemos um calçado para chegarmos à escola, caminhando pelo barro e poças de lama, e lá, deixássemos outro, um chinelo (chamavamos pelo feminino: “Chinela , que calçávamos, após lavarmos os pés à entrada. “ em geral, a escola era meio malcheirosa, fedidinha mesmo, mas nossa escola não era assim. O cheiro que sentíamos, era da sopa de couve bem temperada, cozinhando no panelão, lá no fundo. Eu não sei quanto aos demais, mas eu aprendi muita coisa nesse tempo, e acho que das Brizoletas pelo Rio Grande afora, saíram muitos doutores. Não sei de nenhum, mas tenho convicção que sim. Bem, e o que aconteceu à Brizoleta da Vila Moura? Ora, aconteceu o que aconteceu com todas: Foram trocadas por construções maiores, com banheiro, em lugar de latrina, e paredes de alvenaria. De resto, as professoras e professores, continuaram os mesmos, pois, ah sim, eu mesmo dizer isso: Escola não é a casa, mas quem nela estuda e ensina. O resto é tábua e tijolo.
  • 66. 66 Mas eu não terminei de falar das Brizoletas. Não mesmo. Porque recordar é viver (super original isso, eu mesmo que pensei, sozinho). Então, o que se aprendia nas Brizoletas? Quem pensou na Cartilha do Guri . E Estrada Iluminada , pronto!. Acertou! “ ” “ ” Sim, o atlas era o Google Earth da época. A gente já sabia disso, mas preferia esperar para que chegasse o Earth, pra dizer: A Terra não é plana! “ ” E os professores eram (desde minhas lembranças): Geni Cavichion, Ester Cardoso (Diretora), Orlanda Valentini. É possovel que nesse tempo, alguma professora substituta tenha ocupado a cátedra (agora peguei pesado), mas recordo dessas jovens. Com carinho;
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  • 68. 68 Olídio Elias de Moura, e Maria José Dias Tristão José Francisco de Oliveira, o patriarca, era pai de Maria Francisca de Oliveira, que foi casada com Victor Pereira Dias. Victor tinha seis filhas moçoilas, e um filho varão. As moças, receberam os seguintes nomes: Margarida Pereira Dias; Maria Lucinda Dias; Maria José Dias, Leonor Pereira Dias, Lina Pereira Dias, e Maria Elisa Dias. O varão, chamava-se João Victor Pereira Dias. Percebe-se que há algo diferente nos nomes, pois as moças, que se chamavam Maria, não levavam o sobrenome Pereira. Isso acontecia, porque eram descendentes de Cristãos Novos, isto é, aqueles judeus que foram cristianizados à força, para fugirem da inquisição. Tais judeus, ocultaram-se sob o disfarce de cristãos, a princípio, e para evitarem serem traídos pela desatenção, decidiram se tornarem mais “ cristãos que os cristãos , mas mantendo costumes secretos que os identificavam ” entre si, e os protegiam de futuras perseguições. Assim, dar nomes diferentes aos membros da família, representava uma possibilidade de que, se fossem apanhados, alguns poderiam ser salvos, por apresentarem nomes distintos. Maria José Dias, era, então irmã de minha avó, maria Elisa Dias, ambas Marias, chamadas de Ilizia, e Zezé , pelos familiares. “ ”
  • 69. 69 Olídio não era abastado. Trabalhava como peão do sogro, que era tropeiro de mulas, e fazia comércio entre Laguna, SC, subindo e descendo pela Serra do Umbu, Pinto, ou do Itaimbezinho, costeando o litoral, Era um sujeito de boa índole, paciente e um pai bonachão. Contava-me o primo Hananísio Elias de Moura, filho de Olídio, que jamais recebera uma reprimenda dura de seu pai, e nunca tomou surra, que era perfeitamente comum naquele tempo. Jamais. Lembra com muito carinho de seu velho pai. Tia Zezé, por sua vez, ensinou-me a ler (eu conto isso no livro “Gente de Gramado que não será nome de rua . Eu digo que fui ” “adestrado à leitura , pois ela tinha latinhas de ” alimentos, e apontava para as palavras, e perguntava: - Que letra é essa, meu fio? E à medida que eu respondia e acertava a palavra, era recompensado com um fristique , um lance, que poderia ser uma batata doce com leite gordo, um pão com “ ” linguiça, ou outra guloseima qualquer. Faço questão de registrar com carinho estas pessoas, pelo que representaram na minha vida, mas também em sua comunidade, pois não é em vão que há um bairro com o nome da família.
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  • 79. Amélia Kraemer Eu a conheci, já em avançada idade, ela. Não eu. Isso foi, então, em priscas eras, quando Amélia vivia neste aconchegante chalé, localizado no alto do morro, em um terreno lindeiro, ao norte, com o Hospital Arcanjo São Miguel, e ao sul, e a Oeste, com o Parque Knorr. Eram dois hectares de mata nativa e vista deslumbrante. Para chegar à casa, um único acesso, pela rua Theobaldo Fleck, que terminava exatamente no portão desta propriedade. 79
  • 80. Améia era da família proprietária Quem tem mais de sessenta anos, vai lembrar com carinho do Almanaque Iza , do “ ” Laboratório Kraemer, e também de seus produtos. A edição de 2003 deste almanaque, ilustra, em sua capa, a fachada do Mundo a Vapor, de Canela. Bem verdade é que os padrões eram diferentes de hoje. Veja por exemplo, este anúncio feminino dos anos 50 (de outro laboratório). 80
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  • 83. Arlindo e Ercilda de Oliveira Arlindo de Oliveira, foi, durante muitos anos, o Eletricista-Dhefe, e depois, Chefe de Manutenção da Prefeitura de Gramado. Conta Áureo de Oliveira, o filho de Arlindo, que Ercilda chegou à Gramado, por volta de 1945 ou 1946, já com oito anos de idade, e conheceu Arlindo, em um baile, lá na Linha Café, em Três Coroas, no final dos anos 50. Foi na gestão do primeiro prefeito de Gramado, Walter Bertolucci, que Arlindo foi convidado a trabalhar na prefeitura, na função de eletricista. Nesse tempo, conta Áureo, que a prefeitura tinha um orçamento muito escasso, e precisava investir em iluminação pública. Foi aí que Arlindo e sua equipe resolveram o desafio, de forma doméstica, e muito eficiente: fabricaram, na própria oficina da prefeitura, as calhas de iluniação pública. 83
  • 84. Arlindo e Ercilda de Oliveira Arlindo de Oliveira, foi, durante muitos anos, o Eletricista-Dhefe, e depois, Chefe de Manutenção da Prefeitura de Gramado. Conta Áureo de Oliveira, o filho de Arlindo, que Ercilda chegou à Gramado, por volta de 1945 ou 1946, já com oito anos de idade, e conheceu Arlindo, em um baile, lá na Linha Café, em Três Coroas, no final dos anos 50. Foi na gestão do primeiro prefeito de Gramado, Walter Bertolucci, que Arlindo foi convidado a trabalhar na prefeitura, na função de eletricista. Nesse tempo, conta Áureo, que a prefeitura tinha um orçamento muito escasso, e precisava investir em iluminação pública. Foi aí que Arlindo e sua equipe resolveram o desafio, de forma doméstica, e muito eficiente: fabricaram, na própria oficina da prefeitura, as calhas de iluniação pública. Quando fui trabalhar na Secretaria de Turismo de Gramado, que nesse tempo era responsável por todos os eventos turísticos e culturais do municipio, o trabalho er braçal, analógico, muito, mas muito caseiro e criativo. Uns ajudavam os outros, e nesse espírito colaborativos, foram realizados muitos eventos e atividades voltadas ao turismo e à cultura de Gramado. E em todos, Arlindo e sua equipe, eram fundamentais na parte estrutural dos equipamentos, cenários, palcos, iluminação, e reparos, gambiarras, que se faziam necessários para o bom êxito dos trabalhos. Sempre solícito e colaborativo, Arlindo era aquele parceiro de agradável companhia nos tempos em que tínhamos que nos desdobrar para suprir a mão de obra necessária para que aquilo que se via em Gramado, pelo turista, e pelo cidadão (muitos eventos eram exclusivamente locais), desse continuidade. Em meados dos anos 80, já me aventurando no empreendedorismo, aluguei uma parte da casa de Arlindo e Ercilda, e montei minha pequenina loja de móveis sob medida, onde fui muito bem sucedido, porque foi em 1985 que o então Plano Sarney “ ” entrou em vigor, e o trabalho chegava de caminhão, tanto que tinha. Claro, que fogo de palha ilumina, mas não dura, e em 1986, veio o plano Sarney II , e perdi tudo e “ ” mais um pouco. Mas, enfim, não é pra me queixar que escrevi isso, mas para lembrar de minha participação no espaço deste lindo chalé dos Oliveira. Por essas coisas da vida, Áureo, um dos filhos do casal, trabalhou comigo na loja, e hoje é um grande Designer de Interiores. 84
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  • 90. Arnaldo Schmidt Esta casa pertenceu ao Sr Arnaldo Schmidt, que foi mecânico da já extinta, Empresa Floresta de Transportes Ltda, uma companhia de transportes de passageiros, que atendia toda a região, desde vacaria, passando por Bom Jesus, São Francisco de Paula, Caxias do Sul, Gramado, canela, e assim, seguindo até Porto Alegre. Este espaço obteve a importante colaboração da minha amiga e colega de trabalho, por certo tempo, Noeli Benetti, que vem a ser (como diziam os antigos) Benetti, por parte de pai, Daniel, e Schmidt, por parte da mãe, Alice. Aliás, haviam dois Daniel , conhecidos na região: O Daniel da Alice e o Daniel da “ ” “ ” “ Pila . Ambos eram Benetti, por isso, o adjetivo adicional do matrimônio de cada um. ” Daniel da Pila, era carpinteiro, dos bons, e Daniel da Alice, era marceneiro, também dos bons. Mas esta casa não era de nenhum dos dois, mas de um cunhado do Daniel “ da Alice , vizinho também. ” Percebe-se pelo estilo da casa, que eram pessoam com certas posses, digamos, medianas, porque a colocação das madeiras no sentido horizontal, acrescido do ornamento da coluna de canto da área de entrada, o caimento do telhado, que, apesar de não mostrar janela na frente, por suposição, teria um janela no oitão traseiro. 90
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  • 97. Na foto acima, a família benetti, em momento de confraternização. As duas moças à esquerda, são minhas primas, Ilse e Semilda Pereira Dias, filhas de João Victor Pereira Dias, e Maria Benetti, filha de Joaquim Benetti. É bastante farto o material disponível no acerto de Noeli, e sua memória prodigiosa, contribui no reconhecimento das imagens que recebi, para enriquecimento desta obra. Conta Noeli, que seus bisavós vieram da Itália, e as imagens mostram as casas onde viviam seus ancestrais de além mar. Seu bisavô, Gioacchino Benetti (Joaquim), veio da Itália, e as imagens correspondem à casa onde morou, com sua família (bastante numerosa, como parece). 97
  • 98. Servidores da Pátria, em foto oficial diante do Tiro de Guerra de Gramado. Meu avô Assis Brasil Cardoso, também serviu neste destacamento. Aqui na foto, em algum lugar, está um dos Benetti, mas serei honesto, não sei dizer quem é quem ali. Fica o desafio ao leitor. Equipe que construiu a Escola da Linha Bonita. A relação dos nomes foi ditada por Elsa Schmitt Benetti. 1 Carlos Loesch – 2 João Fiorese – 3 Henrique Yanel – 4 Júlio Appel – 5 Professor Bellin – 6 Balduíno Meiners – 7 Carlos Klemmer – 8 Luís Rama – 9 Guilherme Schmitt – 10 Francisco Fiorese – 11 Alberto Manorow – 12 Nicolau Schmitt Filho – (Avô da Noeli, Nailor e Valmor Benetti) Ainda familiares dos Benetti e Schmitt: Carlos Kelp (Irmão da Luísa Schmitt) Lina Schranck Kilp Helga, Filha 98
  • 99. Pedro candiago e Bernardina Meneghe (Candiago)l Desconheço a origem desta família. Só o que lembro é que Bernardina Meneghel era mãe de uma moça, chamada Lucinda, que estudava na Escola Normal Danton Corrêa da Silva, em Canela, e foi colega da minha mãe. Ambas se formaram professoras, mas Lucinda, até onde sei, nunca exerceu, pois tão logo estava formada, casou-se com um talk de Ricardo Frizo, que era funcionário do CONTUR, de Canela, e logo depois fundou um pequeno semanário, que chamou de Jornal Nova Época. O esposo de Bernardina era Candiago, e tinha, além da Lucinda, outro filho, o Arlindo. Quando foram embora, a casa foi alugada e durante muitos anos, foi uma loja de vinhos, dos irmãos Luchi. E é tudo o que sei dizer. Eu devo confessar que algumas casas poderiam receber um banho de loja, e se tornarem mais alegrinhas, é ou não é? O que são algumas latinhas de tinta, e umas horas com pincel, para dar um belo sorriso a um chalé? 99
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  • 102. Não há muito que eu possa dizer sobre a Casa do Major, que já não tenha sido dito, escrito, sobrescrito, carimbado e publicado pela saudosa Marilia Daros Franzen, em sua literatura minuciosa e requintada pela precisão dos fatos, mesmo porque o Major Nicoletti, que emprestou, através da história, seu nome à principal praça de Gramado, é um ancestral seu, acho que bisavô, algo assim. Minha relação com o tal Major Nicoletti, é quase nenhuma, com exceção que meu bisavô e ele eram compadres, pela rebentinha que era minha avó, de cuja, era o tal Major, padrinho. Mas tirando isso, tudo o que resta dele nas minhas lembranças, são histórias e fábulas, alimentadas pelo imaginário, por ter sido ele um intendente, á época em que Intendente tinha poder de vida e morte sobre determinada comunidade, onde sua principal função era apaziguar, isto é, fazer o que tivesse que ser feito para acalmar os ânimos dos mal intencionados. O resto são fábulas, haja vista que não existem provas, senão circunstanciais, pelo tempo e lugar em que viviam, e quando dizem que ele era valente, disso eu não duvido, pois ninbguém chegaria ao posto de Major, e receberia a incunbência de levar a ordem ao brejão do alto da serra, chamado de Quinto Distrito de Gramado do Mundo Novo. Bem pomposo mesmo. E o Major mandava nisso tudo. Na palavra ou no chumbo. 102 102
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  • 106. Não, assim, que eu não leve a serio as coisas. Levo, e muito, mas algumas coisas excedem minha maturidade, e não tenho coragem de dispensar uma piada pronta. 106
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  • 110. Houve casos de casas citadas por outras pessoas, ou mesmo de minhas lembranças, das quais não tive a sorte de encontrar registros, fotos, nada que me permita reproduzir, ao menos a volumetria, distribuição de portas e janelas. Mesmo assim, eu ouso mergulhar nas escassas informações, e a partir destas, reconstruir um cenário que permita lembrar como poderia ter sido aquela casa, e principalmente, lembrar que sim, existiu tal casa. Presto assim minha homenagem às casas que desapareceram do espaço e da memória das pessoas, mas que abrigaram pessoas, e estas pessoas amaram, sorriram, choraram, sofreram, sonharam, edificaram, e fizeram sua parte no mundo para o mundo que temos hoje tivesse sua vez. 110
  • 111. Esta casa não foi desenhada a partir de fotos, mas de memórias apenas. Porém, havia um estilo, bastante clássico, e utilizado entre os anos 40 e 60 do século XX, que teve sua representatividade em Gramado, em casas de diversos proprietários. 111
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  • 113. Casa dos Abdalla Eu não de ter visto uma placa indicativa nesta casa. Nunca vi. Mastinha, um letreiro, que foi tirado antes da minha aparição no cenário. Era uma loja de armarinhos e miudezas, e nem poderia ser diferente, afinal, ali moravam os Abdalla, Sirios, ou Libaneses, que eram chamados de Turcos . Não eram turcos, e nem havria porque “ ” tuscos emigrarem para o Brasil, na época em que ainda dominavam metade do Oriente Médio e parte da Europa, pelo Império Otomano. Mas essa é outra história. O que importa é que os imigrandes dos países atingidos por calamidades ou guerras, obtinham passaporte turco, e como tal eram denominados, no registro de sua imigração no Brasil. Então, para todos os efeitos, eram legalmente, turcos. Mas lembro com bastante nitidez, que lá dentro havia umas três, talvez mais, mesas de Bilhar, enormes. Lembro vagamente de um balcão, à direita da entrada, e no salão central, as mesas, esparsas. Nunca vi ninguém jogando, talvez pelo horário que eu entrei, a casa estivesse fechada para fregueses, mas imagino que à noite seria o local do happy hour dos boêmios. Só imagino, porque ver, eu não vi. 113
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  • 147. Pois falar de cinema, é entrar em um portal da imaginação emprestada pelos atores, diretores, roteiristas, bilheteiros, lanterninhas (aí lembro do Seu Quintino, marido da Dona Cantides, Barbeiro e lanterninha do Cine Embaixador, também do Paulo Cavallin, e do Flávio Schenkel, que também tomavam conta da bilheteria e de evitar rebuliço dos espectadores), enfim, de todos os que participam dessa sensacional indústria de fantasias. - Quero agradecer ao diretor, aos roteiristas, à equipe de maquiagem, e à mamãe, “ que sempre me incentivou a não desistir, e dedico esse Oscar…” Bem, eu não ganhjeio Oscar nenhum, nem fui ator, diretor, roteirista ou bilheteiro, nem mesmo pipoqueiro ou vendedor de balas. Eu era apenas um espectador, que contava os pila pra me divertir nas noites de sábado ou tardes de domingo. Ah, mas isso foi bem mais tarde, no Cine Embaixador. Agora estou falando do Cine Splendid, do Cláudio Pasqual, que ficava ao lado do Café Cacique, também de sua propriedade. Era lá mesmo, o centro nervoso de Gramado, onde tudo era decidido. Mas falarei do café mais adiante. Fiquemos pelo Cine Splendid, por ora. 147
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