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Questão 130                                           CURSO E COLÉGIO


A substituição do haver por ter em construções existenciais , no portugues doi Brasil,
corresponde a um dos processos mais característicos da hiostória da língua
portuguesa, paralelo ao que já ocorrera em relação à ampliação do domínio de ter na
área semântica de “ posse” , no final da fase arcaica. Mattos e Siva (2001:136) analisa
as vitórias de ter sobre haver e discute a emergencia de ter existencial, tomando por
base a obra pedagógica de João de Barros. Em textos escritos nos anos quarenta e
cinquenta do século XVI, encontram-se evidencias , embora raras, tanto de ter
“existencial”, não mencionado pelos clássicos estudos de sintaxe histórica, quanto de
haver como verbo existencial com concordância, lembrado por Ivo Castro ,e anotado
como “novidade” no século XVIII por Said Ali.
Como se vê , nada é categórico e um purismo estreito só revela um conhecimento
deficiente da língua. Há maios perguntas que respostas. Pode-se conceber uma
norma única e prescritiva? É válido confundir o bom uso e a norma da própria língua e
dessa forma fazer uma avaliação crtica e hierarquizante de outros usos e, através
deles, dos usuários? Substitui-se uma norma por outra?
    CALLOU,D.A propósito de norma, correção e preconceito linguistico:do presente para o passado. IN: Cadernos de
                       Letras da UFF, n. 36, 2008. Disponível em : www.uff.br. Acesso em :26 fev 2012 (adaptado)


Para a autora, a substituição de “haver” por “ter” em diferentes contextos evidencia
que
A) O estabelecimento de uma norma prescinde de uma pesquisa histórica.
B) Os estudos clássicos de sintaxe histórica enfatizam a variação e a mudança na
   língua.
C) A avaliação crítica e hierarquizante dos usos da língua fundamenta a definição da
   norma.
D) A adoção de uma única norma revela uma atitude adequada para os estudos
   linguisticos.
E) Os comportamentos puristas são prejudiciais à compreensão da constituição
   linguistica.

       Alternativa: E                                                              CURSO E COLÉGIO



Embora o uso do verbo “ter” no sentido de “haver” seja considerado inadequado para
alguns gramáticos mais puristas, podemos perceber, a partir de alguns estudos da
linguística histórica, que esse tipo de uso era adequado e frequente em séculos
anteriores. A alternativa E é a correta, pois salienta que o comportamento purista na
língua apenas lega preconceitos e hierarquizações equivocadas aos seus falantes.

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A substituição de 'haver' por 'ter' na história da língua portuguesa

  • 1. Questão 130 CURSO E COLÉGIO A substituição do haver por ter em construções existenciais , no portugues doi Brasil, corresponde a um dos processos mais característicos da hiostória da língua portuguesa, paralelo ao que já ocorrera em relação à ampliação do domínio de ter na área semântica de “ posse” , no final da fase arcaica. Mattos e Siva (2001:136) analisa as vitórias de ter sobre haver e discute a emergencia de ter existencial, tomando por base a obra pedagógica de João de Barros. Em textos escritos nos anos quarenta e cinquenta do século XVI, encontram-se evidencias , embora raras, tanto de ter “existencial”, não mencionado pelos clássicos estudos de sintaxe histórica, quanto de haver como verbo existencial com concordância, lembrado por Ivo Castro ,e anotado como “novidade” no século XVIII por Said Ali. Como se vê , nada é categórico e um purismo estreito só revela um conhecimento deficiente da língua. Há maios perguntas que respostas. Pode-se conceber uma norma única e prescritiva? É válido confundir o bom uso e a norma da própria língua e dessa forma fazer uma avaliação crtica e hierarquizante de outros usos e, através deles, dos usuários? Substitui-se uma norma por outra? CALLOU,D.A propósito de norma, correção e preconceito linguistico:do presente para o passado. IN: Cadernos de Letras da UFF, n. 36, 2008. Disponível em : www.uff.br. Acesso em :26 fev 2012 (adaptado) Para a autora, a substituição de “haver” por “ter” em diferentes contextos evidencia que A) O estabelecimento de uma norma prescinde de uma pesquisa histórica. B) Os estudos clássicos de sintaxe histórica enfatizam a variação e a mudança na língua. C) A avaliação crítica e hierarquizante dos usos da língua fundamenta a definição da norma. D) A adoção de uma única norma revela uma atitude adequada para os estudos linguisticos. E) Os comportamentos puristas são prejudiciais à compreensão da constituição linguistica. Alternativa: E CURSO E COLÉGIO Embora o uso do verbo “ter” no sentido de “haver” seja considerado inadequado para alguns gramáticos mais puristas, podemos perceber, a partir de alguns estudos da linguística histórica, que esse tipo de uso era adequado e frequente em séculos anteriores. A alternativa E é a correta, pois salienta que o comportamento purista na língua apenas lega preconceitos e hierarquizações equivocadas aos seus falantes.