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CAPA
Impaciência,imediatismo,inquietude...Essestermossoam
familiares?Naspróximaspáginas,mãescontamcomo
lidamcomapressadosfilhoseespecialistasexplicampor
queelessecomportamassim.Senasuacasatudotem
desernahora,vejaporqueensinaraesperarvaifazer
diferençanavidadascriançasagoraeláparaafrente
ESPERAR
PARA QUÊ?
Reportagem Maria Clara Vieira // Fotos Eduardo Colesi //
Produção de objetos Carime Martins // Colaboração Naíma Saleh
2524
A blogueira do Huffington Post Annmarie Kelly-Harbaugh conta à CRESCER
o que motivou o artigo em que defende por que seus filhos precisam ver TV
Quando você percebeu que seus filhos não sabiam esperar?
Não temos TV em casa. Então, notei essa impaciência pela primeira vez na
casa da avó deles. Eles estavam vendo Toy Story e Lizzie (5 anos) e Henry (2)
não conseguiam entender por que o filme ficava “parando”. Eles estavam
confusos com os comerciais que interrompiam os personagens. E pergunta-
vam se eu podia acelerar ou pular os comerciais – e eu não podia!
Alguma vez você imaginou que ver Netflix ou Amazon causaria isso?
Nunca! Meus filhos só assistem a Netflix e Amazon aos fins de semana ou
quando viajamos – sempre gostei da ideia da portabilidade da televisão on-
line. Quando eu era criança, lembro que meu musical favorito era O Mágico
de Oz, que eu via uma vez por ano pela TV. Se perdesse, tinha de esperar o
ano seguinte! Isso é inimaginável para os meus filhos.
Como você ensina a eles que precisam esperar às vezes?
Se você descobrir como fazer isso, me diga, OK? Eu me considero um pou-
co arbitrária, mas escolho o que eles devem esperar. Minha filha mais velha
(Katie, 9 anos), por exemplo, quer fazer piercing na orelha. Digo que ela de-
ve esperar até os 16. Sou antiquada. Ainda escrevemos cartões de agradeci-
mento pelos presentes que eles ganham, senão, não podem usá-los.
Seus filhos podem usar gadgets a hora que querem?
Temos um tablet que é dividido por toda a família. Quando eles terminam
de fazer suas tarefas de casa, podem usá-lo por curtos períodos de tempo.
Quero que eles sejam crianças – brinquem lá fora, dancem, pulem, andem
de bicicleta, se sujem… E vejam a tecnologia como um método ocasional de
entretenimento, mas não um ponto central de suas vidas.
“ESPERAR É INIMAGINÁVEL
PARAMEUS FILHOS”
CAPA
Esperar. Vai dizer que não é essa a pri-
meira grande lição que pais e mães
aprendem? Você ficou na expectativa
para saber o sexo do bebê, pelos nove
meses de gestação, pela dilatação, a pri-
meira mamada, o engatinhar, o andar,
o falar, o comer com autonomia, o ler
e o escrever... Enfim, aguardar as con-
quistas de seu filho rumo ao crescimen-
to.Apesardetodaapaciênciaqueavida
requer, nem sempre esse processo é cla-
ro. Em meio à correria moderna, de um
dia para o outro, os pais podem perce-
berqueacriançanãocompreendebemo
significadodapalavra“espera”.Novoca-
bulário dela, tudo é para a mesma hora.
E isso pode trazer consequências não só
agora, mas para a vida dela lá na frente.
Pormotivosdiversos–docontatocom
asnovastecnologiasàsuperproteçãodos
familiares –, há crianças que têm resis-
tência para entender que tudo requer
tempoefazpartedeumprocesso.“Meu
filho, João Pedro, 2 anos e 9 meses, tem
umasedeenormedeviver.Eletemmui-
ta pressa para tudo. Eu sou calma, mas
sempre trabalhei fora, o que tornou mi-
nhavidacorrida.Achoquemeufilhoen-
trounesseritmo”,contaaadvogadaLígia
Cristovam de Moraes, 32 anos.
aomaislevetoque?Paraessesnovosha-
bitantesdaTerra,esperarparececoisade
outra era e de outro mundo.
Foi o que aconteceu na casa da blo-
gueira Annmarie Kelly-Harbaugh, 41
anos, mãe de Katie, 9, Lizzie, 5, e Hen-
ry,2,quealevouaescreveroarti-
go “Why My Kids Need to Watch
More TV” (Por que Meus Filhos
Precisam Assistir Mais TV, em
tradução livre), para o Huffington
Post. Seus filhos estavam na casa
dos avós e nunca tinham visto os
programasdaTVaberta.Ficaram
indignadosporterdeesperaroco-
mercial passar – para eles, aquela
eraumaintromissãonãoconsenti-
da. O episódio fez Annmarie pen-
sar sobre como seus filhos não ti-
nham mais paciência, que viviam
uma infância muito diferente da
sua – que foi a de esperar pelo fil-
me preferido, pela música na rá-
dio, para sair com os amigos... E
queseupapelcomomãeeradizer:
“Vádevagar”.Atémesmoparaper-
mitir que eles sejam crianças por
um pouco mais de tempo (vejaen-
trevista ao lado).
Há uma corrente de estudiosos
sociaisqueserefereaosnascidosa
partir de 2010 como “Geração Al-
fa”. “Essa será a mais tecnológica
e com maior poder de influência.
Há 2,5 milhões de alfas nascendo
semanalmente no mundo”, afir-
ma à CRESCER o pensador e pes-
quisador social australiano Mark
McCrindle, que defende o uso do
termo. Segundo ele, essas crian-
ças são multitarefas e multiplata-
formas,ouseja,fazemmilativida-
desaomesmotempoeemdiversos
meios, além de terem as telas dos
dispositivoseletrônicoscomoprin-
cipalveículodedisseminaçãoere-
cepção de conteúdo. Para elas, é normal
vivernessarealidadedetempofragmen-
tada, em que podemos parar a pesquisa
queestamosfazendonainternetparare-
alizar outra tarefa, ou pausar o filme
Ela percebe a aceleração do menino
em banalidades: se a mamadeira está
esquentando no micro-ondas, ele tira
antes de acabar o tempo estipulado; se
leva o cachorro passear, sai andando
sem esperar o bichinho terminar de fa-
zer xixi; se os pais pedem uma pizza,
começa a chorar porque quer comer na
mesma hora. “Na primeira vez que isso
aconteceu, eu e meu marido ficamos
preocupados. Achamos que ele estava
com muita fome e decidimos ir até a
pizzaria. João Pedro voltou para casa
com a pizza no colo, comendo no ca-
minho. Percebemos que aquilo não es-
tava certo”, diz Lígia.
Agora, ela explica ao filho que tudo
tem seu tempo. “Após algumas vezes,
ele tem absorvido. Mas ainda há estres-
se quando temos de passar por uma si-
tuação nova e que o deixa ansioso”, diz.
Além da rotina corrida, a mãe acredita
queoutrofatorcontribuiucomessecom-
portamento:apossibilidadedeverdese-
nhosanimadosnomomentoemquede-
sejar, sem precisar esperar o horário de
exibição.“Aprimeiravezqueelesedepa-
roucomoscomerciais,ficouirritado,foi
atrás de mim aos prantos dizendo que o
desenho tinha terminado. Eu disse que
o intervalo acabaria logo e que era pre-
ciso ter paciência.”
GERAÇÃO IMEDIATISTA
João Pedro não é o único nessa situação.
Ele faz parte de uma geração que nas-
ceu imersa no imediatismo, em uma so-
ciedade em que as pessoas estão sempre
conectadas e prontamente disponíveis
para falar com as outras, em que a tec-
nologia reduz etapas e acelera processos
e na qual não há paciência para esperar
por resultados a longo prazo. Para essas
crianças, é absolutamente normal com-
partilhar momentos nas redes sociais,
escolher músicas em dispositivos de áu-
dio, ver suas fotos na hora, assistir à TV
por internet sem intervalos, obter resul-
tados instantâneos em telas de tablets e
smartphones, ver a comida ficar pronta
emsegundosnomicro-ondas.Comonão
teraimpressãodequetudodevemesmo
funcionar assim, na hora que se deseja,
“QUANDO ELE QUER ALGO, TENHO
PEDIDO PARA ESPERAR UM POUCO,
MAS DEZ MINUTOS PARECEM
INTERMINÁVEIS.”
Keudma Costa, professora, 33 anos
No site Leia a tradução do artigo “Why My Kids Need to Watch More TV” , de Annmarie Kelly-Harbaugh.
2726
ças sofrendo e, às vezes, atropelam eta-
pas para minimizar frustrações. Mas
elas precisam descobrir maneiras de li-
dar com o que não as agrada. “Os pais
não devem se sentir culpados por não
prover os desejos na hora. O momento
em que não é possível atender de ime-
diato pode ser visto como uma oportu-
nidade para o filho se desenvolver e en-
contrar meios de lidar com a situação.”
Por volta de 6 anos, a criança já com-
preende que tudo é re-
sultado de um processo
– mas não custa praticar
a espera desde cedo, em
níveis crescentes de difi-
culdade. “É assim que se
desenvolve empatia, auto-
estima, autonomia, perse-
verança, paciência e a per-
cepçãodequeomundovai
além de si”, diz Tania.
Uma parte desse ime-
diatismo está relaciona-
do às características bioló-
gicas do amadurecimento
infantil, segundo o neuro-
pediatra Antonio Carlos de
Farias, do Hospital Peque-
no Príncipe (PR). “Mui-
tas crianças são impulsi-
vasporqueaindanãotêmo
controle inibitório da parte
frontal do cérebro. Isso co-
meça a mudar aos 4 ou 5
anos”, esclarece.
Caso o comportamen-
to persista além disso, é
preciso avaliar a situação.
Se ela está visivelmen-
te estressada, sente dores
recorrentes pelo corpo,
apresenta fobias, não quer ir para a es-
cola e tem medo de sair de casa, pode
ser que esteja caminhando para uma
patologia, explica Farias.
Quando isso acontece, um médico
identifica o que causa a ansiedade. O
problema pode ser trabalhado com tera-
pias, esportes e tratamentos cognitivos
para que a criança desenvolva habili-
CAPA
para intercalar outra atividade, ou mes-
moconversarcomalguémenquantores-
pondemos uma mensagem no celular.
Nãobastassetodaessaenxurradatec-
nológica, a vida em si está mais apressa-
da. As famílias estão cada vez menores,
com apenas um ou dois filhos. Antes, as
pessoastinhammuitosirmãos,e,nãora-
ro,primos,tioseavósconviviamnames-
ma casa, dando suporte à educação dos
menores, cada um de um jeito e na sua
velocidade. As crianças podiam assistir
à avó preparar um almoço, do descas-
car da primeira cebola ao servir na me-
sa, ou contar uma história no ritmo que
sua memória permitia. Talvez ajudar o
avô a fazer um reparo na casa ou ver o
tio confeccionar uma pipa para ela brin-
carmaistarde.Hoje,alémdareduçãode
processosepessoas,boapartedospaise
mãestrabalhaforaeconvivemenoscom
os filhos. “Com isso, eles se enchem de
culpa e recompensam a falta de tempo
atendendo a todos os seus pedidos”, ar-
gumenta o médico José Paulo Vascon-
cellos, do Departamento de Pediatria
do Comportamento e Desenvolvimen-
to da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Segundo ele, desde o primeiro dia de
vida,obebêjáécapazdeentender aes-
pera, mas isso depende de como os pais
lidam com o seu choro. Se eles pegam a
criança no colo ou oferecem o peito pa-
ra qualquer resmungo, estão ensinando
quetodasassuassolicitaçõesdevemser
atendidas de imediato. “Estamos falan-
do da capacidade de frustração. Os pais
que não deixam o filho chorar nem um
pouco formam uma criança que acredi-
ta que o mundo foi criado para ela. Só
que ela, certamente, enfrentará dificul-
dadessenãoentenderqueéapenasuma
entre 7 bilhões de habitantes no mun-
do”, diz Vasconcellos.
Seesperarécomplicadoatéparaadul-
tos, imagine para uma criança, que tem
menos vivência e experiência. Que o di-
ga o filho da professora Keudma Cos-
ta, 33 anos. Theodoro, 6, é carinhoso
e amoroso, mas, nas palavras da mãe,
também é imediatista, mandão e não
sabe esperar. “Ao pedir algo para nós,
ele sempre diz ‘agora’. Quando fazemos
refeições em restaurantes e ele termina,
querirlogoembora”,contaKeudma.Na
opiniãodela,ofatodeomeninoter nas-
cido prematuro fez com que a família ti-
vessecuidadosexcessivose,hoje,elenão
aceita a espera. “O que ele pedia, a gen-
te dava na hora, desde um copo de água
até um brinquedo. Tudo para atender às
suas necessidades. Meu filho começou
a achar que todos deviam viver em fun-
ção dele. Na escola, a professora diz que
ele não consegue ficar na fila na hora do
lanche. Se não é o primeiro, faz birra.”
NOVA ATITUDE
Theodoro passa a manhã no colégio e,
à tarde, sob os cuidados da babá, brin-
ca no computador, no tablet e assiste à
TV.Comojásabeler,acessaoscanaisde
vídeo sozinho e vê os desenhos na hora
quequer.Segundoamãe,elaeomarido
conversammuitocomofilhoeexplicam
quecadacoisatemseutempo,sóqueele
responde: “Mas eu não posso esperar. É
chato!”. Agora, para tentar reverter es-
se comportamento, os pais pararam de
atender a seus desejos na hora. “A gente
se preocupa muito com o tipo de adulto
que vamos formar para o mundo. Que-
remosmudarisso.Quandoelequeralgo,
tenho pedido para esperar, mas dez mi-
nutos parecem intermináveis para ele.”
Esperar é mesmo complicado. “Nas-
cemos com um espírito de sobrevivên-
ciaquenosimpulsionaaresolvernahora
tudooquevemoscomonecessidade.Es-
perar só parece razoável quando temos
umavisãomaisabrangentedasituação”,
explicaapsicólogaTaniaParis,presiden-
te da Associação pela Saúde Emocional
dasCrianças(Asec).Eladizqueosadul-
tos, em geral, não querem ver as crian-
“EU SOU
CALMA, MAS
SEMPRE
TRABALHEI
FORA, O QUE
TORNOU A
MINHAVIDA
CORRIDA. ACHO
QUE MEU FILHO
ENTROU NESSE
RITMO.”
Lígia Cristovam de Moraes,
advogada, 32 anos
Ninguém quer que o filho seja estressado
e ansioso, mas também não quer que se-
ja acomodado. Como encontrar o meio-ter-
mo? O neuropediatra Antonio Carlos de Fa-
rias, do Hospital Pequeno Príncipe (PR), diz
que rotinas agitadas e agendas superlota-
das, como se a criança fosse um pequeno
executivo, não condizem com a primeira in-
fância e contribuem para aumentar a ansie-
dade. “Se a agenda é corrida, é claro que a
criança terá noção de antecipação e poderá
ficar ansiosa. Por outro lado, ter um pouco
de ansiedade faz bem, para ensiná-la a não
se acomodar. É necessário considerar os li-
mites”, ensina. Ou seja, se o seu filho está fa-
zendo tudo por fazer, as notas não são boas
e ele não se dedica a nenhuma aula extra, é
preciso cuidado, pois ele pode estar sobre-
carregado. “A criança precisa se divertir com
as atividades. O ponto de equilíbrio é que
ela tenha o desempenho adequado e se sin-
ta feliz, interagindo socialmente.”
NEM 8 NEM 80
2928
se apoia em narrativas para estimular a
iogaentrecrianças.Focadasnoexercício
que estão fazendo, elas aprendem a se
concentrarnomomentoqueestãoviven-
ciando e a perceber melhor o ambiente,
sem ansiedade, dando a cada atividade
o tempo necessário para ser realizada.
Soares afirma que a prática pode co-
meçar aos 4 anos. A princípio, as aulas
duram,nomáximo,30minutos.“Oide-
al seria praticar todos os dias, mas duas
vezes por semana é um bom começo”,
diz. Na casa da pedagoga e professora
de ioga Cassia Parmeggiani, 32, a práti-
ca faz parte da rotina. “Quando a crian-
ça faz birra, ela é ótima para acalmar.
Antes de dormir e das provas, também
ajuda.Funcionamuitocommeusfilhos.
Sinto que a prática e as leituras de livros
relacionados ao tema os deixaram mais
concentrados na escola e nas atividades
do dia a dia”, relata ela, que é a mãe de
Kyron, 4 anos, e madrasta de Mirko, 13.
Na tentativa de acalmar os peque-
nos, vale também testar a meditação. A
ONGgaúchaMenteVivaacreditanopo-
der dessa prática para melhorar a quali-
dadedevidainfantiledifundeométodo
em escolas. “Pais e professores relatam
que os alunos começaram a se colo-
CAPA
dades como resiliência em situações ad-
versas. Se essas medidas não funciona-
rem, recorre-se a medicamentos.
E O FUTURO?
Porém, a maioria dos casos não requer
essetipodeintervençãoeestámaispara
uma mudança na postura dentro de ca-
sa. “O melhor que os pais podem fazer é
ensinar aos filhos a lidar com as conse-
quênciasdesuasprópriasescolhas,mas,
nos últimos 20 anos, parece que nos es-
quecemos disso. Fazemos até a lição de
casa para eles. Estamos errando. Esse
comportamento, somado à atu-
alrealidadeeconômica(defaci-
lidade de consumo) e à tecno-
logia avançada, potencializa a
questão do suprimento dos de-
sejos da criança, o que provoca
distorçõesimportantes”,explica
oconsultor,escritor,palestrante
eestudiosodeconflitosdegera-
ções Sidnei Oliveira.
Ele diz que a primeira gera-
ção que recebeu uma grande
dose desse protecionismo foi
a Y (pessoas que hoje têm en-
tre 15 e 35 anos). Muitos estão
no mercado de trabalho e cos-
tumam querer resultados e re-
conhecimento imediatos. Ou
seja, não têm paciência de es-
perar as coisas acontecerem e,
até por isso, trocam mais cons-
tantemente de emprego. Mesmo satis-
feitos com o trabalho, eles querem mu-
dar – seis meses a dois anos foi o prazo
dado para sair do emprego por quase
metade dos entrevistados em uma pes-
quisa da empresa britânica de consulto-
ria Deloitte, de 2009. É característica
também dessa geração ter relaciona-
mentos afetivos menos duradouros,
com troca mais frequente de parceiros.
“Todojoveméansioso,masageração
Y e, recentemente, a Z (menores de 15
anos), estão além do normal, pois não
sabem lidar com a frustração. Só que é
inevitávelquesefrustremnomundodo
trabalho.Precisamosdecicatrizespara
crescer, pois elas trazem aprendizados.
Claro que os pais não devem provocá-
-las trazendo sofrimento, mas também
não podem proteger seus filhos de tu-
do”, defende Oliveira.
Segundo o escritor, para criar adul-
tos equilibrados, os pais precisam ex-
plicar que não são seus assistentes pes-
soais. Isso significa que, se eles não
fizerem a lição ou esquecerem de ano-
tar o conteúdo da prova, terão de ar-
car com as consequências. No caso das
mais novas, uma forma de aprenderem
sobre causa e efeito, e ganharem res-
ponsabilidade, por exemplo, é deixar
com que procurem pelos seus brinque-
dos ou naninhas antes de os pais para-
rem tudo o que estão fazendo para en-
contrar o objeto no lugar do filho.
ENSINAR A ESPERAR
Atitudes simples como essas já ajudam
a amenizar o imediatismo e a ansieda-
dedascrianças.Muitasvezes,oqueelas
querem ao pedir algo e exigir que seja
feito naquela hora é simplesmente cha-
mar a atenção dos pais. E se elas sem-
pre são atendidas de imediato, o recado
querecebeméexatamenteeste:ésópe-
dir para ganhar. “Não é preciso dar pre-
sentes caros e a todo momento para que
umacriançagostedosadultosnempara
compensaralgumaculpa.Bastamatitu-
des simples no dia a dia que fortaleçam
o vínculo, como ler uma história, brin-
car no chão, fazer cócegas e dar atenção
a ela”, explica o pediatra Vasconcellos.
A tática da pedagoga Cristine Flo-
res, 27 anos, para deixar o filho Cris-
tóvão, 2 anos e 9 meses, mais calmo é
a conversa: ela explica que existe ho-
ra para tudo. As situações campeãs de
impaciência são quando ele quer brin-
car na praça e ir embora de restau-
rantes. “A comunicação, geralmente,
funciona. Mas utilizo também outros
recursos. Para ensinar sobre o horário
de dormir, por exemplo, comprei um
livro sobre a rotina de um urso até a
hora de ir para cama. Depois da leitu-
ra, fazíamos um exercício de lembrar
tudo que meu filho havia feito naquele
dia e eu dizia que outras coisas legais
aconteceriam no dia seguinte, mas,
para isso, era necessário dormir. Ago-
ra ele entendeu”, conta Cristine.
Limitar o acesso aos jogos eletrôni-
cos também é uma atitude que pode
reduzir a impulsividade e a ansiedade.
É claro, há games que têm abordagens
e desafios interessantes para as crian-
ças, mas os que contêm violência po-
dem piorar a situação. Vale salientar
a recomendação médica da Academia
Americana de Pediatria: até os 2 anos,
evitar o contato com as telas e, depois
disso, o uso diário se limita a, no máxi-
mo, duas horas. “Essa primeira fase da
vida é muito sensorial. Correr, pegar,
cheirar e testar os sentidos melhoram
as conexões cerebrais”, diz o neurope-
diatra Farias. O alerta da Agência In-
glesa de Saúde Pública é que crianças
que passam muito tempo na frente de
gadgets tendem a ter mais estresse, an-
siedade e depressão.
O uso das telas deve ser sempre mo-
derado e intercalado com brincadeiras
fora do mundo virtual. Passar horas se-
guidas sentado jogando, nem pensar.
E, à noite, próximo à hora de dormir,
é preferível evitar. “O uso noturno é
um forte estímulo para distúrbios do
sono”, alerta Farias. Um estudo da uni-
versidade canadense Dalhousie com-
provou que a presença de televisão,
computador, videogame e outros ele-
trônicos no quarto contribuem para a
ansiedade e inibem o sono. A pesqui-
sa mostrou que o cérebro relaciona o
quarto com esses objetos a um local
de lazer em vez de descanso.
TÁTICAS PARA ACALMAR
Outra opção contra o imediatismo é a
ioga. Pesquisadores da universidade ale-
mãdeLeipzigestudaram48criançasde
10anosedescobriramqueaiogamelho-
ra o equilíbrio emocional e diminui os
medos, o sentimento de desamparo e a
agressividade. “Com a prática, os exer-
cícios respiratórios ajudam na concen-
tração”, explica João Carlos Soares, cria-
dor do projeto Yoga com Histórias, que
“A COMUNICAÇÃO GERALMENTE
FUNCIONA. MAS UTILIZO OUTROS
RECURSOS, COMO DAR UM LIVRO
SOBRE O ASSUNTO.”
Cristine Flores, pedagoga, 27 anos
DOS BEBÊS
COM MENOS
DE 2 ANOS
USAM TABLETS
OU SMARTPHONES
Com o título acima, o livro mais recente do
especialista em conflitos de gerações Sidnei
Oliveira fala sobre a história real de seis jovens
que se formaram, tomaram decisões pessoais
e profissionais, mas não arcam com as conse-
quências (Integrare, R$ 34,90). “Eles já fizeram
muitas coisas, mas ainda não alcançaram o
que queriam. Por isso, terceirizam a culpa e se
vitimizam. Isso tem acontecido com a geração
Y e é um alerta para as próximas gerações.”
CONECTADOS, MAS
MUITO DISTRAÍDOS
38%
3130
SEIS DICAS PARADARÀS
CRIANÇAS NOÇÃO DETEMPO
Seufilhoachaqueumanopassaemdezminutos?Confiraassu-
gestões de Zena Eisenberg, especialista em educação infantil e
professora da PUC-Rio, para ele compreender melhor a espera
1
FAÇA UMA PIZZA EM CASA
Preparar com a criança alimentos que ela costuma encontrar já prontos,
como pão e pizza, é uma ótima maneira de mostrar que é necessário ter
dedicação, planejamento, trabalho e paciência para que as coisas se realizem: de
ir comprar os ingredientes no supermercado até esperar a massa assar. Seu filho
não só vivencia o processo, como vê o resultado concreto.
2
PLANTE UM PÉ DE FEIJÃO
Apartirde3anos,acriançajáécapazdeacompanharocrescimentodaplan-
ta,aindaquenãoconsigaentendê-lototalmente.Chameaatençãodoseufilho
paraasdiferentesetapas:aformaçãoderaízes,oaparecimentodobroto,dasfolhas,o
crescimento. E, claro, envolva-o nos cuidados: regar, deixar ao sol, pôr mais algodão.
3
REGISTRE A ROTINA
É por meio de suas obrigações diárias que a criança começa a entender que
os acontecimentos têm certa frequência e duração. Fotografe seu filho nas
principais tarefas do dia: acordando, escovando os dentes, tomando café da ma-
nhã, vestindo o uniforme. Imprima as fotos, monte um painel ou um varal e peça
para que ele coloque os eventos em ordem. Assim, ele adquire a noção do que vem
antes, depois e de tudo o que cabe em um dia.
4
CRIE UM CALENDÁRIO
Monteumgrandecalendárioanual,colocandoosprincipaisacontecimentos:
Carnaval, Páscoa, Natal, Dia das Crianças e aniversários de parentes e ami-
gos (você pode colocar pequenas fotos deles). A partir de 2 anos, a criança já começa
a contar. E ainda que não saiba quantificar com precisão, vai entender que falta mui-
totempoparaopróprioaniversárioquandovirtodosaquelesquadradosembranco...
5
DESMONTE OBJETOS
Deixar seu filho desconstruir um relógio ou um brinquedo velho dará a ele a
possibilidadedeverqueelesfuncionampormecanismos.Cadapeçaéimpor-
tante,temseupapeleprecisaestarnolugarexato,trabalhandoemconjunto.Seufilho
vai entender que algumas coisas são mais complexas do que ele imaginava.
6
NÃO DIGA “É RAPIDINHO”
Acriançaprecisademedidasmaisconcretas,emumalinguageminteligívele
relacionadaaouniversodela.Seoseufilhoquerbrincarenquantovocêvêum
filme,nãodiga:“Já,jáeuvou”ou“Espereumpouco”.Respondaquevaiassimqueofil-
meacabar.Paradarumadimensãoaindamaisprecisa,useprogramasdequeelegosta:
“VoudemorardoisepisódiosdaDora”ou“VocêprecisaesperarotempodoReiLeão”.
Você já se perguntou se o seu filho não quer
tudo para agora só para conseguir um pouco
de atenção? Algumas crianças pedem coisas
apenas para obter suas necessidades de afe-
to e cuidado. “Se sentir amada é muito im-
portante para a criança. O presente caro que
ela quer naquele momento pode ser uma
maneira simplista de resolver uma ques-
tão mais profunda”, esclarece a psicóloga
Tania Paris, da Asec. Para lidar com isso, os
pais devem estabelecer uma rotina de con-
versa com a criança, dedicando diariamen-
te um tempo para saber como foi o dia dela,
os sentimentos que ela vivenciou, como lida
com eles e se precisa de algum tipo de ajuda.
Esses momentos podem ser em uma refei-
ção de família ou antes de dormir, por exem-
plo. Geralmente, apenas com o novo hábi-
to de diálogo na família, a criança passa a se
sentir mais segura e apoiada, expressa me-
lhor os sentimentos e diminui a ansiedade.
ATENÇÃO E AMOR
carmaisnolugardooutroearefletirantesdetomar
algumaatitude”,afirmaRobertoMatheusDurli,di-
retor administrativo da ONG, que já atendeu mais
de 150 escolas em todo o país.
LúcioSausen,diretordaEscolaEstadualHiroshi-
ma, em Eldorado do Sul (RS), conta que desde que
o projeto começou, há quatro anos, houve grande
melhora na convivência entre os estudantes – em
sala, eles ficaram mais tranquilos e no recreio, me-
nos agitados.
“As brincadei-
ras mudaram.
Antes, a preferi-
daerabandidoe
polícia e eles fi-
cavam medin-
do forças. Ago-
ra, jogam bola,
brincam de es-
conde-esconde
e se divertem
com jogos de
tabuleiro.”
Um estudo
recente feito
nas escolas de
Gramado (RS)
que aderiram à
meditaçãocom-
prova que a prá-
tica auxilia di-
versos aspectos
nas crianças.
“Elasmelhoram
o vocabulário e
a velocidade de
pensamento,
prestam mais
atençãoeconse-
guem entender melhor informações implícitas nas
conversas”,relataHosanaAlvesGonçalves,umadas
autoras do estudo e mestranda da PUC-RS.
Conversas, brincadeiras, ioga, meditação, espor-
te, livros... Independentemente dos métodos para
promover bem-estar emocional nas crianças e di-
minuiraansiedadeeaimpaciênciadelas,tenhaem
mentequeéprecisofortalecersuaautoridadecomo
pai ou mãe. “Os pais precisam saber que têm o di-
reito de falar não”, afirma o pediatra Vasconcellos.
“Eles devem ponderar e dizer, de vez em quando:
‘Filho, eu te amo, mas você não vai ter o que quer
neste momento’.” Que tal tentar?
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  • 2. A blogueira do Huffington Post Annmarie Kelly-Harbaugh conta à CRESCER o que motivou o artigo em que defende por que seus filhos precisam ver TV Quando você percebeu que seus filhos não sabiam esperar? Não temos TV em casa. Então, notei essa impaciência pela primeira vez na casa da avó deles. Eles estavam vendo Toy Story e Lizzie (5 anos) e Henry (2) não conseguiam entender por que o filme ficava “parando”. Eles estavam confusos com os comerciais que interrompiam os personagens. E pergunta- vam se eu podia acelerar ou pular os comerciais – e eu não podia! Alguma vez você imaginou que ver Netflix ou Amazon causaria isso? Nunca! Meus filhos só assistem a Netflix e Amazon aos fins de semana ou quando viajamos – sempre gostei da ideia da portabilidade da televisão on- line. Quando eu era criança, lembro que meu musical favorito era O Mágico de Oz, que eu via uma vez por ano pela TV. Se perdesse, tinha de esperar o ano seguinte! Isso é inimaginável para os meus filhos. Como você ensina a eles que precisam esperar às vezes? Se você descobrir como fazer isso, me diga, OK? Eu me considero um pou- co arbitrária, mas escolho o que eles devem esperar. Minha filha mais velha (Katie, 9 anos), por exemplo, quer fazer piercing na orelha. Digo que ela de- ve esperar até os 16. Sou antiquada. Ainda escrevemos cartões de agradeci- mento pelos presentes que eles ganham, senão, não podem usá-los. Seus filhos podem usar gadgets a hora que querem? Temos um tablet que é dividido por toda a família. Quando eles terminam de fazer suas tarefas de casa, podem usá-lo por curtos períodos de tempo. Quero que eles sejam crianças – brinquem lá fora, dancem, pulem, andem de bicicleta, se sujem… E vejam a tecnologia como um método ocasional de entretenimento, mas não um ponto central de suas vidas. “ESPERAR É INIMAGINÁVEL PARAMEUS FILHOS” CAPA Esperar. Vai dizer que não é essa a pri- meira grande lição que pais e mães aprendem? Você ficou na expectativa para saber o sexo do bebê, pelos nove meses de gestação, pela dilatação, a pri- meira mamada, o engatinhar, o andar, o falar, o comer com autonomia, o ler e o escrever... Enfim, aguardar as con- quistas de seu filho rumo ao crescimen- to.Apesardetodaapaciênciaqueavida requer, nem sempre esse processo é cla- ro. Em meio à correria moderna, de um dia para o outro, os pais podem perce- berqueacriançanãocompreendebemo significadodapalavra“espera”.Novoca- bulário dela, tudo é para a mesma hora. E isso pode trazer consequências não só agora, mas para a vida dela lá na frente. Pormotivosdiversos–docontatocom asnovastecnologiasàsuperproteçãodos familiares –, há crianças que têm resis- tência para entender que tudo requer tempoefazpartedeumprocesso.“Meu filho, João Pedro, 2 anos e 9 meses, tem umasedeenormedeviver.Eletemmui- ta pressa para tudo. Eu sou calma, mas sempre trabalhei fora, o que tornou mi- nhavidacorrida.Achoquemeufilhoen- trounesseritmo”,contaaadvogadaLígia Cristovam de Moraes, 32 anos. aomaislevetoque?Paraessesnovosha- bitantesdaTerra,esperarparececoisade outra era e de outro mundo. Foi o que aconteceu na casa da blo- gueira Annmarie Kelly-Harbaugh, 41 anos, mãe de Katie, 9, Lizzie, 5, e Hen- ry,2,quealevouaescreveroarti- go “Why My Kids Need to Watch More TV” (Por que Meus Filhos Precisam Assistir Mais TV, em tradução livre), para o Huffington Post. Seus filhos estavam na casa dos avós e nunca tinham visto os programasdaTVaberta.Ficaram indignadosporterdeesperaroco- mercial passar – para eles, aquela eraumaintromissãonãoconsenti- da. O episódio fez Annmarie pen- sar sobre como seus filhos não ti- nham mais paciência, que viviam uma infância muito diferente da sua – que foi a de esperar pelo fil- me preferido, pela música na rá- dio, para sair com os amigos... E queseupapelcomomãeeradizer: “Vádevagar”.Atémesmoparaper- mitir que eles sejam crianças por um pouco mais de tempo (vejaen- trevista ao lado). Há uma corrente de estudiosos sociaisqueserefereaosnascidosa partir de 2010 como “Geração Al- fa”. “Essa será a mais tecnológica e com maior poder de influência. Há 2,5 milhões de alfas nascendo semanalmente no mundo”, afir- ma à CRESCER o pensador e pes- quisador social australiano Mark McCrindle, que defende o uso do termo. Segundo ele, essas crian- ças são multitarefas e multiplata- formas,ouseja,fazemmilativida- desaomesmotempoeemdiversos meios, além de terem as telas dos dispositivoseletrônicoscomoprin- cipalveículodedisseminaçãoere- cepção de conteúdo. Para elas, é normal vivernessarealidadedetempofragmen- tada, em que podemos parar a pesquisa queestamosfazendonainternetparare- alizar outra tarefa, ou pausar o filme Ela percebe a aceleração do menino em banalidades: se a mamadeira está esquentando no micro-ondas, ele tira antes de acabar o tempo estipulado; se leva o cachorro passear, sai andando sem esperar o bichinho terminar de fa- zer xixi; se os pais pedem uma pizza, começa a chorar porque quer comer na mesma hora. “Na primeira vez que isso aconteceu, eu e meu marido ficamos preocupados. Achamos que ele estava com muita fome e decidimos ir até a pizzaria. João Pedro voltou para casa com a pizza no colo, comendo no ca- minho. Percebemos que aquilo não es- tava certo”, diz Lígia. Agora, ela explica ao filho que tudo tem seu tempo. “Após algumas vezes, ele tem absorvido. Mas ainda há estres- se quando temos de passar por uma si- tuação nova e que o deixa ansioso”, diz. Além da rotina corrida, a mãe acredita queoutrofatorcontribuiucomessecom- portamento:apossibilidadedeverdese- nhosanimadosnomomentoemquede- sejar, sem precisar esperar o horário de exibição.“Aprimeiravezqueelesedepa- roucomoscomerciais,ficouirritado,foi atrás de mim aos prantos dizendo que o desenho tinha terminado. Eu disse que o intervalo acabaria logo e que era pre- ciso ter paciência.” GERAÇÃO IMEDIATISTA João Pedro não é o único nessa situação. Ele faz parte de uma geração que nas- ceu imersa no imediatismo, em uma so- ciedade em que as pessoas estão sempre conectadas e prontamente disponíveis para falar com as outras, em que a tec- nologia reduz etapas e acelera processos e na qual não há paciência para esperar por resultados a longo prazo. Para essas crianças, é absolutamente normal com- partilhar momentos nas redes sociais, escolher músicas em dispositivos de áu- dio, ver suas fotos na hora, assistir à TV por internet sem intervalos, obter resul- tados instantâneos em telas de tablets e smartphones, ver a comida ficar pronta emsegundosnomicro-ondas.Comonão teraimpressãodequetudodevemesmo funcionar assim, na hora que se deseja, “QUANDO ELE QUER ALGO, TENHO PEDIDO PARA ESPERAR UM POUCO, MAS DEZ MINUTOS PARECEM INTERMINÁVEIS.” Keudma Costa, professora, 33 anos No site Leia a tradução do artigo “Why My Kids Need to Watch More TV” , de Annmarie Kelly-Harbaugh. 2726
  • 3. ças sofrendo e, às vezes, atropelam eta- pas para minimizar frustrações. Mas elas precisam descobrir maneiras de li- dar com o que não as agrada. “Os pais não devem se sentir culpados por não prover os desejos na hora. O momento em que não é possível atender de ime- diato pode ser visto como uma oportu- nidade para o filho se desenvolver e en- contrar meios de lidar com a situação.” Por volta de 6 anos, a criança já com- preende que tudo é re- sultado de um processo – mas não custa praticar a espera desde cedo, em níveis crescentes de difi- culdade. “É assim que se desenvolve empatia, auto- estima, autonomia, perse- verança, paciência e a per- cepçãodequeomundovai além de si”, diz Tania. Uma parte desse ime- diatismo está relaciona- do às características bioló- gicas do amadurecimento infantil, segundo o neuro- pediatra Antonio Carlos de Farias, do Hospital Peque- no Príncipe (PR). “Mui- tas crianças são impulsi- vasporqueaindanãotêmo controle inibitório da parte frontal do cérebro. Isso co- meça a mudar aos 4 ou 5 anos”, esclarece. Caso o comportamen- to persista além disso, é preciso avaliar a situação. Se ela está visivelmen- te estressada, sente dores recorrentes pelo corpo, apresenta fobias, não quer ir para a es- cola e tem medo de sair de casa, pode ser que esteja caminhando para uma patologia, explica Farias. Quando isso acontece, um médico identifica o que causa a ansiedade. O problema pode ser trabalhado com tera- pias, esportes e tratamentos cognitivos para que a criança desenvolva habili- CAPA para intercalar outra atividade, ou mes- moconversarcomalguémenquantores- pondemos uma mensagem no celular. Nãobastassetodaessaenxurradatec- nológica, a vida em si está mais apressa- da. As famílias estão cada vez menores, com apenas um ou dois filhos. Antes, as pessoastinhammuitosirmãos,e,nãora- ro,primos,tioseavósconviviamnames- ma casa, dando suporte à educação dos menores, cada um de um jeito e na sua velocidade. As crianças podiam assistir à avó preparar um almoço, do descas- car da primeira cebola ao servir na me- sa, ou contar uma história no ritmo que sua memória permitia. Talvez ajudar o avô a fazer um reparo na casa ou ver o tio confeccionar uma pipa para ela brin- carmaistarde.Hoje,alémdareduçãode processosepessoas,boapartedospaise mãestrabalhaforaeconvivemenoscom os filhos. “Com isso, eles se enchem de culpa e recompensam a falta de tempo atendendo a todos os seus pedidos”, ar- gumenta o médico José Paulo Vascon- cellos, do Departamento de Pediatria do Comportamento e Desenvolvimen- to da Sociedade Brasileira de Pediatria. Segundo ele, desde o primeiro dia de vida,obebêjáécapazdeentender aes- pera, mas isso depende de como os pais lidam com o seu choro. Se eles pegam a criança no colo ou oferecem o peito pa- ra qualquer resmungo, estão ensinando quetodasassuassolicitaçõesdevemser atendidas de imediato. “Estamos falan- do da capacidade de frustração. Os pais que não deixam o filho chorar nem um pouco formam uma criança que acredi- ta que o mundo foi criado para ela. Só que ela, certamente, enfrentará dificul- dadessenãoentenderqueéapenasuma entre 7 bilhões de habitantes no mun- do”, diz Vasconcellos. Seesperarécomplicadoatéparaadul- tos, imagine para uma criança, que tem menos vivência e experiência. Que o di- ga o filho da professora Keudma Cos- ta, 33 anos. Theodoro, 6, é carinhoso e amoroso, mas, nas palavras da mãe, também é imediatista, mandão e não sabe esperar. “Ao pedir algo para nós, ele sempre diz ‘agora’. Quando fazemos refeições em restaurantes e ele termina, querirlogoembora”,contaKeudma.Na opiniãodela,ofatodeomeninoter nas- cido prematuro fez com que a família ti- vessecuidadosexcessivose,hoje,elenão aceita a espera. “O que ele pedia, a gen- te dava na hora, desde um copo de água até um brinquedo. Tudo para atender às suas necessidades. Meu filho começou a achar que todos deviam viver em fun- ção dele. Na escola, a professora diz que ele não consegue ficar na fila na hora do lanche. Se não é o primeiro, faz birra.” NOVA ATITUDE Theodoro passa a manhã no colégio e, à tarde, sob os cuidados da babá, brin- ca no computador, no tablet e assiste à TV.Comojásabeler,acessaoscanaisde vídeo sozinho e vê os desenhos na hora quequer.Segundoamãe,elaeomarido conversammuitocomofilhoeexplicam quecadacoisatemseutempo,sóqueele responde: “Mas eu não posso esperar. É chato!”. Agora, para tentar reverter es- se comportamento, os pais pararam de atender a seus desejos na hora. “A gente se preocupa muito com o tipo de adulto que vamos formar para o mundo. Que- remosmudarisso.Quandoelequeralgo, tenho pedido para esperar, mas dez mi- nutos parecem intermináveis para ele.” Esperar é mesmo complicado. “Nas- cemos com um espírito de sobrevivên- ciaquenosimpulsionaaresolvernahora tudooquevemoscomonecessidade.Es- perar só parece razoável quando temos umavisãomaisabrangentedasituação”, explicaapsicólogaTaniaParis,presiden- te da Associação pela Saúde Emocional dasCrianças(Asec).Eladizqueosadul- tos, em geral, não querem ver as crian- “EU SOU CALMA, MAS SEMPRE TRABALHEI FORA, O QUE TORNOU A MINHAVIDA CORRIDA. ACHO QUE MEU FILHO ENTROU NESSE RITMO.” Lígia Cristovam de Moraes, advogada, 32 anos Ninguém quer que o filho seja estressado e ansioso, mas também não quer que se- ja acomodado. Como encontrar o meio-ter- mo? O neuropediatra Antonio Carlos de Fa- rias, do Hospital Pequeno Príncipe (PR), diz que rotinas agitadas e agendas superlota- das, como se a criança fosse um pequeno executivo, não condizem com a primeira in- fância e contribuem para aumentar a ansie- dade. “Se a agenda é corrida, é claro que a criança terá noção de antecipação e poderá ficar ansiosa. Por outro lado, ter um pouco de ansiedade faz bem, para ensiná-la a não se acomodar. É necessário considerar os li- mites”, ensina. Ou seja, se o seu filho está fa- zendo tudo por fazer, as notas não são boas e ele não se dedica a nenhuma aula extra, é preciso cuidado, pois ele pode estar sobre- carregado. “A criança precisa se divertir com as atividades. O ponto de equilíbrio é que ela tenha o desempenho adequado e se sin- ta feliz, interagindo socialmente.” NEM 8 NEM 80 2928
  • 4. se apoia em narrativas para estimular a iogaentrecrianças.Focadasnoexercício que estão fazendo, elas aprendem a se concentrarnomomentoqueestãoviven- ciando e a perceber melhor o ambiente, sem ansiedade, dando a cada atividade o tempo necessário para ser realizada. Soares afirma que a prática pode co- meçar aos 4 anos. A princípio, as aulas duram,nomáximo,30minutos.“Oide- al seria praticar todos os dias, mas duas vezes por semana é um bom começo”, diz. Na casa da pedagoga e professora de ioga Cassia Parmeggiani, 32, a práti- ca faz parte da rotina. “Quando a crian- ça faz birra, ela é ótima para acalmar. Antes de dormir e das provas, também ajuda.Funcionamuitocommeusfilhos. Sinto que a prática e as leituras de livros relacionados ao tema os deixaram mais concentrados na escola e nas atividades do dia a dia”, relata ela, que é a mãe de Kyron, 4 anos, e madrasta de Mirko, 13. Na tentativa de acalmar os peque- nos, vale também testar a meditação. A ONGgaúchaMenteVivaacreditanopo- der dessa prática para melhorar a quali- dadedevidainfantiledifundeométodo em escolas. “Pais e professores relatam que os alunos começaram a se colo- CAPA dades como resiliência em situações ad- versas. Se essas medidas não funciona- rem, recorre-se a medicamentos. E O FUTURO? Porém, a maioria dos casos não requer essetipodeintervençãoeestámaispara uma mudança na postura dentro de ca- sa. “O melhor que os pais podem fazer é ensinar aos filhos a lidar com as conse- quênciasdesuasprópriasescolhas,mas, nos últimos 20 anos, parece que nos es- quecemos disso. Fazemos até a lição de casa para eles. Estamos errando. Esse comportamento, somado à atu- alrealidadeeconômica(defaci- lidade de consumo) e à tecno- logia avançada, potencializa a questão do suprimento dos de- sejos da criança, o que provoca distorçõesimportantes”,explica oconsultor,escritor,palestrante eestudiosodeconflitosdegera- ções Sidnei Oliveira. Ele diz que a primeira gera- ção que recebeu uma grande dose desse protecionismo foi a Y (pessoas que hoje têm en- tre 15 e 35 anos). Muitos estão no mercado de trabalho e cos- tumam querer resultados e re- conhecimento imediatos. Ou seja, não têm paciência de es- perar as coisas acontecerem e, até por isso, trocam mais cons- tantemente de emprego. Mesmo satis- feitos com o trabalho, eles querem mu- dar – seis meses a dois anos foi o prazo dado para sair do emprego por quase metade dos entrevistados em uma pes- quisa da empresa britânica de consulto- ria Deloitte, de 2009. É característica também dessa geração ter relaciona- mentos afetivos menos duradouros, com troca mais frequente de parceiros. “Todojoveméansioso,masageração Y e, recentemente, a Z (menores de 15 anos), estão além do normal, pois não sabem lidar com a frustração. Só que é inevitávelquesefrustremnomundodo trabalho.Precisamosdecicatrizespara crescer, pois elas trazem aprendizados. Claro que os pais não devem provocá- -las trazendo sofrimento, mas também não podem proteger seus filhos de tu- do”, defende Oliveira. Segundo o escritor, para criar adul- tos equilibrados, os pais precisam ex- plicar que não são seus assistentes pes- soais. Isso significa que, se eles não fizerem a lição ou esquecerem de ano- tar o conteúdo da prova, terão de ar- car com as consequências. No caso das mais novas, uma forma de aprenderem sobre causa e efeito, e ganharem res- ponsabilidade, por exemplo, é deixar com que procurem pelos seus brinque- dos ou naninhas antes de os pais para- rem tudo o que estão fazendo para en- contrar o objeto no lugar do filho. ENSINAR A ESPERAR Atitudes simples como essas já ajudam a amenizar o imediatismo e a ansieda- dedascrianças.Muitasvezes,oqueelas querem ao pedir algo e exigir que seja feito naquela hora é simplesmente cha- mar a atenção dos pais. E se elas sem- pre são atendidas de imediato, o recado querecebeméexatamenteeste:ésópe- dir para ganhar. “Não é preciso dar pre- sentes caros e a todo momento para que umacriançagostedosadultosnempara compensaralgumaculpa.Bastamatitu- des simples no dia a dia que fortaleçam o vínculo, como ler uma história, brin- car no chão, fazer cócegas e dar atenção a ela”, explica o pediatra Vasconcellos. A tática da pedagoga Cristine Flo- res, 27 anos, para deixar o filho Cris- tóvão, 2 anos e 9 meses, mais calmo é a conversa: ela explica que existe ho- ra para tudo. As situações campeãs de impaciência são quando ele quer brin- car na praça e ir embora de restau- rantes. “A comunicação, geralmente, funciona. Mas utilizo também outros recursos. Para ensinar sobre o horário de dormir, por exemplo, comprei um livro sobre a rotina de um urso até a hora de ir para cama. Depois da leitu- ra, fazíamos um exercício de lembrar tudo que meu filho havia feito naquele dia e eu dizia que outras coisas legais aconteceriam no dia seguinte, mas, para isso, era necessário dormir. Ago- ra ele entendeu”, conta Cristine. Limitar o acesso aos jogos eletrôni- cos também é uma atitude que pode reduzir a impulsividade e a ansiedade. É claro, há games que têm abordagens e desafios interessantes para as crian- ças, mas os que contêm violência po- dem piorar a situação. Vale salientar a recomendação médica da Academia Americana de Pediatria: até os 2 anos, evitar o contato com as telas e, depois disso, o uso diário se limita a, no máxi- mo, duas horas. “Essa primeira fase da vida é muito sensorial. Correr, pegar, cheirar e testar os sentidos melhoram as conexões cerebrais”, diz o neurope- diatra Farias. O alerta da Agência In- glesa de Saúde Pública é que crianças que passam muito tempo na frente de gadgets tendem a ter mais estresse, an- siedade e depressão. O uso das telas deve ser sempre mo- derado e intercalado com brincadeiras fora do mundo virtual. Passar horas se- guidas sentado jogando, nem pensar. E, à noite, próximo à hora de dormir, é preferível evitar. “O uso noturno é um forte estímulo para distúrbios do sono”, alerta Farias. Um estudo da uni- versidade canadense Dalhousie com- provou que a presença de televisão, computador, videogame e outros ele- trônicos no quarto contribuem para a ansiedade e inibem o sono. A pesqui- sa mostrou que o cérebro relaciona o quarto com esses objetos a um local de lazer em vez de descanso. TÁTICAS PARA ACALMAR Outra opção contra o imediatismo é a ioga. Pesquisadores da universidade ale- mãdeLeipzigestudaram48criançasde 10anosedescobriramqueaiogamelho- ra o equilíbrio emocional e diminui os medos, o sentimento de desamparo e a agressividade. “Com a prática, os exer- cícios respiratórios ajudam na concen- tração”, explica João Carlos Soares, cria- dor do projeto Yoga com Histórias, que “A COMUNICAÇÃO GERALMENTE FUNCIONA. MAS UTILIZO OUTROS RECURSOS, COMO DAR UM LIVRO SOBRE O ASSUNTO.” Cristine Flores, pedagoga, 27 anos DOS BEBÊS COM MENOS DE 2 ANOS USAM TABLETS OU SMARTPHONES Com o título acima, o livro mais recente do especialista em conflitos de gerações Sidnei Oliveira fala sobre a história real de seis jovens que se formaram, tomaram decisões pessoais e profissionais, mas não arcam com as conse- quências (Integrare, R$ 34,90). “Eles já fizeram muitas coisas, mas ainda não alcançaram o que queriam. Por isso, terceirizam a culpa e se vitimizam. Isso tem acontecido com a geração Y e é um alerta para as próximas gerações.” CONECTADOS, MAS MUITO DISTRAÍDOS 38% 3130
  • 5. SEIS DICAS PARADARÀS CRIANÇAS NOÇÃO DETEMPO Seufilhoachaqueumanopassaemdezminutos?Confiraassu- gestões de Zena Eisenberg, especialista em educação infantil e professora da PUC-Rio, para ele compreender melhor a espera 1 FAÇA UMA PIZZA EM CASA Preparar com a criança alimentos que ela costuma encontrar já prontos, como pão e pizza, é uma ótima maneira de mostrar que é necessário ter dedicação, planejamento, trabalho e paciência para que as coisas se realizem: de ir comprar os ingredientes no supermercado até esperar a massa assar. Seu filho não só vivencia o processo, como vê o resultado concreto. 2 PLANTE UM PÉ DE FEIJÃO Apartirde3anos,acriançajáécapazdeacompanharocrescimentodaplan- ta,aindaquenãoconsigaentendê-lototalmente.Chameaatençãodoseufilho paraasdiferentesetapas:aformaçãoderaízes,oaparecimentodobroto,dasfolhas,o crescimento. E, claro, envolva-o nos cuidados: regar, deixar ao sol, pôr mais algodão. 3 REGISTRE A ROTINA É por meio de suas obrigações diárias que a criança começa a entender que os acontecimentos têm certa frequência e duração. Fotografe seu filho nas principais tarefas do dia: acordando, escovando os dentes, tomando café da ma- nhã, vestindo o uniforme. Imprima as fotos, monte um painel ou um varal e peça para que ele coloque os eventos em ordem. Assim, ele adquire a noção do que vem antes, depois e de tudo o que cabe em um dia. 4 CRIE UM CALENDÁRIO Monteumgrandecalendárioanual,colocandoosprincipaisacontecimentos: Carnaval, Páscoa, Natal, Dia das Crianças e aniversários de parentes e ami- gos (você pode colocar pequenas fotos deles). A partir de 2 anos, a criança já começa a contar. E ainda que não saiba quantificar com precisão, vai entender que falta mui- totempoparaopróprioaniversárioquandovirtodosaquelesquadradosembranco... 5 DESMONTE OBJETOS Deixar seu filho desconstruir um relógio ou um brinquedo velho dará a ele a possibilidadedeverqueelesfuncionampormecanismos.Cadapeçaéimpor- tante,temseupapeleprecisaestarnolugarexato,trabalhandoemconjunto.Seufilho vai entender que algumas coisas são mais complexas do que ele imaginava. 6 NÃO DIGA “É RAPIDINHO” Acriançaprecisademedidasmaisconcretas,emumalinguageminteligívele relacionadaaouniversodela.Seoseufilhoquerbrincarenquantovocêvêum filme,nãodiga:“Já,jáeuvou”ou“Espereumpouco”.Respondaquevaiassimqueofil- meacabar.Paradarumadimensãoaindamaisprecisa,useprogramasdequeelegosta: “VoudemorardoisepisódiosdaDora”ou“VocêprecisaesperarotempodoReiLeão”. Você já se perguntou se o seu filho não quer tudo para agora só para conseguir um pouco de atenção? Algumas crianças pedem coisas apenas para obter suas necessidades de afe- to e cuidado. “Se sentir amada é muito im- portante para a criança. O presente caro que ela quer naquele momento pode ser uma maneira simplista de resolver uma ques- tão mais profunda”, esclarece a psicóloga Tania Paris, da Asec. Para lidar com isso, os pais devem estabelecer uma rotina de con- versa com a criança, dedicando diariamen- te um tempo para saber como foi o dia dela, os sentimentos que ela vivenciou, como lida com eles e se precisa de algum tipo de ajuda. Esses momentos podem ser em uma refei- ção de família ou antes de dormir, por exem- plo. Geralmente, apenas com o novo hábi- to de diálogo na família, a criança passa a se sentir mais segura e apoiada, expressa me- lhor os sentimentos e diminui a ansiedade. ATENÇÃO E AMOR carmaisnolugardooutroearefletirantesdetomar algumaatitude”,afirmaRobertoMatheusDurli,di- retor administrativo da ONG, que já atendeu mais de 150 escolas em todo o país. LúcioSausen,diretordaEscolaEstadualHiroshi- ma, em Eldorado do Sul (RS), conta que desde que o projeto começou, há quatro anos, houve grande melhora na convivência entre os estudantes – em sala, eles ficaram mais tranquilos e no recreio, me- nos agitados. “As brincadei- ras mudaram. Antes, a preferi- daerabandidoe polícia e eles fi- cavam medin- do forças. Ago- ra, jogam bola, brincam de es- conde-esconde e se divertem com jogos de tabuleiro.” Um estudo recente feito nas escolas de Gramado (RS) que aderiram à meditaçãocom- prova que a prá- tica auxilia di- versos aspectos nas crianças. “Elasmelhoram o vocabulário e a velocidade de pensamento, prestam mais atençãoeconse- guem entender melhor informações implícitas nas conversas”,relataHosanaAlvesGonçalves,umadas autoras do estudo e mestranda da PUC-RS. Conversas, brincadeiras, ioga, meditação, espor- te, livros... Independentemente dos métodos para promover bem-estar emocional nas crianças e di- minuiraansiedadeeaimpaciênciadelas,tenhaem mentequeéprecisofortalecersuaautoridadecomo pai ou mãe. “Os pais precisam saber que têm o di- reito de falar não”, afirma o pediatra Vasconcellos. “Eles devem ponderar e dizer, de vez em quando: ‘Filho, eu te amo, mas você não vai ter o que quer neste momento’.” Que tal tentar? 3332