O documento apresenta os principais aspectos da aliança feita por Deus com Abraão, conhecida como Dispensação da Promessa. Deus prometeu fazer de Abraão uma grande nação, dar-lhe a terra de Canaã e abençoá-lo. Essas promessas definiram o propósito divino com Israel e influenciaram o destino de muitas nações através dos séculos.
2. Aufilυ da AlioÚ du
(Da Academia Evangélica de Letras do Brasil)
Vinte e quatro estudos proféticos
extraídos dos livros de Daniel
e Apocalipse.
Θ
CPAO
4. Todos os direitos reservados. Copyright 1999 para a língua portuguesa da Casa
Publicadora das Assembléias de Deus.
Capa e projeto gráfico: Eduardo Souza
Diagramação: Rodrigo Fernandes
Revisão de provas: Leila Teixeira
236 - Escatologia
Almeida, Abraão de
ALMm Manual de Profecia Bíblica.../Abraão de Almeida
Ia ed. - Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1999.
p.264 cm. 14x21
ISBN 85-263-0241-8
1. Escatologia 2. Estudo Bíblico
CDD
230 - Escatologia
Casa Publicadora das Assembléias de Deus
Caixa Postal 331
20001-970, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
I a edição/1999
5. Sumário
Introdução............................................................................5
Capítulo 1
O Popósito Divino com Israel...............................................7
Capítulo 2
Queda e Restauração de Israel............................................. 1
9
Capítulo 3
Babilônia, o Primeiro Império Mundial................................37
Capítulo 4
O Simbólico Urso Destruidor.............................................47
Capítulo 5
O Rei Valente e seu Sonho Dourado.................................. 55
Capítulo 6
Os Reinos do Norte e do Sul.............................................69
Capítulo 7
Roma, a Potência Férrea.......................................................79
Capítulo 8
A Odisséia da Raça Judaica..................................................89
Capítulo 9
O Tempo do Fim ................................................................. 1
0
1
Capítulo 10
O Rapto da Igreja.................................................................1
1
3
6. Capítulo 1
1
As Bodas do Cordeiro......................................................... 1
2
1
Capítulo 12
A Grande Tribulação...........................................................129
Capítulo 13
Passará a Igreja pela Grande Tribulação..............................137
Capítulo 14
Os Selos................................................................................1
5
1
Capítulo 1
5
As Trombetas...................................................................... 159
Capítulo 16
As Taças...............................................................................173
Capítulo 17
O Anticristo........................................................................187
Capítulo 18
O Falso Profeta.................................................................200
Capítulo 1
9
A Volta de Jesus.................................................................207
Capítulo 20
O Julgamento das Nações................................................. 219
Capítulo 2
1
A Ordem das Ressurreições..............................................225
Capítulo 22
Milênio, o Almejado Reino Vindouro................................ 231
Capítulo 23
O Juízo Final.......................................................................243
Capítulo 24
O Perfeito Estado Eterno..................................................253
7. Numa hora em que são tão raros os escritores de
fato e muito poucos os que se dão a pensar... Numa hora
em que a maior parte de nossa literatura é importada e as
novas publicações, quase sempre traduzidas, tomam o ca-
ráter da superficialidade, sem 0 sentido maior que 0 objeti-
vo material e imediatista do rápido retorno do capital com
lucro... Numa hora assim, tristemente, volto-me para o meu
Deus e dou-lhe graças por sua vida e mente entregues ao
Senhor, e mais que tudo, pela graça que lhe deu de comu-
nicar, via seus escritos, tão patente, clara e espontanea-
mente, os mistérios da revelação do Senhor”.
“Seu trabalho de pesquisa é de valor; seus subsídios
de história, especialmente relacionada ao centro proféti-
co dos acontecimentos finais — o Oriente Médio — tam-
bém o são, especialmente aos estudiosos dos últimos dias.
“Sua atualidade é inequívoca, já que vivemos o
estertor da história. É 0 momento do fim. Jesus está che-
gando e o glorioso destino da Igreja está por se cumprir.
“Sua maneira de expor é própria dos escritores na-
tos, com a relevante realidade da iluminação do Espírito
do Senhor”.
Silas Gonçalves
(De uma carta.)
8. 1
0 Propósito Divino
com Israel
Israel é uma prova concreta de que Deus existe. Apesar
de humilhado, perseguido, banido, massacrado, quase
destruído por vezes, e isso durante milênios, vive ainda
Israel!
9. enhum estudo sério da escatologia bíblica
pode ignorar o povo de Israel ou colocá-lo
em plano secundário, tendo em vista o que
Jesus afirmou: “Olhai para a figueira, e para todas as
árvores” (Lucas 21:29). Israel é como o relógio de Deus,
a indicar o passar do tempo desta presente dispensação
da graça de Deus.
Não se pode negar a influência de Israel no destino
dos povos. A promessa feita por Deus aAbrão em Gênesis
12.3: “Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei
os que te amaldiçoarem” tem sido rigorosa e admiravel-
mente cumprida através dos séculos, até os nossos dias.
As nações que apóiam e protegem os israelitas são prós-
peras e abençoadas, ao passo que as que os perseguem
são sempre castigadas: ou desaparecem, ou estagnam,
ou são humilhadas, e, invariavelmente, perdem a bên-
ção divina.
Israel é também uma afirmação viva de que um poder
supremo, um poder inteligente, um poder que planeja,
cuida, e executa, dirige os destinos deste mundo. Certo
imperador alemão, religioso, mas não crente; “protetor” da
fé, mas não salvo, na sua hora de morte teve a presença de
um sacerdote luterano que procurava incutir-lhe na men-
te a fé salvadora. A esse religioso desafiou 0 imperador:
— Dá-me uma prova da existência de Deus.
— O povo judeu, Majestade! — respondeu sem vaci-
lar 0 sacerdote.
10. 10 Manual de Profecia Bíblica
Sim, Israel é uma prova concreta de que Deus existe.
Apesar de humilhado, perseguido, banido, massacrado,
quase destruído por vezes, e isso durante milênios, vive ain-
da Israel! E agora vive como nação poderosa e próspera.
Israel vive ainda porque tem, dada por Deus, uma missão a
cumprir no fim do Século Presente — não pode desaparecer.
Se Israel é uma prova irrefutável da existência de Deus;
se Israel influi no destino das nações, quiçá no das pesso-
as, então é preciso estudar com profundidade a vida des-
se povo, mas estudá-la em todas as suas faces, para co-
nhecer as mais estranhas e verdadeiras circunstâncias,
que servem de roteiro para as pessoas e as nações.
O cidadão moderno necessita, para enfrentar a
diversificada era em que vivemos, de ser uma pessoa bem
informada, e, hodiernamente, nenhuma educação se com-
pleta sem 0 estudo desse povo que constitui 0 milagre do
século — O Estado de Israel — um país com cerca de 6
milhões e meio de habitantes cercado por mais de cem
milhões de inimigos que, apesar de lhe moverem, há dé-
cadas, e com o indisfarçável apoio da maioria das nações,
uma guerra contínua e cruel, não conseguem destruí-lo.
Esse Israel se firma como 0 inequívoco sinal dos tem-
pos. A Bíblia avisa: “Quando virdes acontecer estas coi-
sas...” O prometido reinado messiânico sobre Israel se
aproxima e o lugar do Messias está vago, pois, providen-
cialmente, 0 atual governo de Israel não possui rei: eles,
inconscientemente, aguardam 0 Rei Jesus, e para Ele
reservam 0 trono.
A DISPENSAÇÃO DA PROMESSA
Para melhor compreendermos o importante papel
de Israel no plano divino, temos de primeiramente co-
nhecer 0 pai dessa nação e as promessas que Deus fez
a ele e a seus filhos durante a Dispensação da Promes-
sa, que vai de 2090 a 1875 a.C., bem como as ameaças
11. 11
O Propósito Divino com Israel
contidas na aliança da Lei, celebrada no Sinai 430 anos
mais tarde.
Condições iniciais. As circunstâncias em que Abraão
recebeu a Dispensação da Promessa foram as melhores pos-
síveis. Em primeiro lugar, Deus 0 escolheu como 0 tronco de
uma raça especial no cumprimento de seu plano. Em segun-
do lugar, Deus prometeu o Messias através de Abraão. Em
terceiro lugar, Deus prometeu dar a terra de Canaã em he-
rança eterna ã família de Abraão, como base de seu futuro
trabalho missionário mundial. Em quarto lugar, Deus pro-
meteu revelar-se através de Abraão e da sua descendência:
Estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua
descendência no decurso das suas gerações, aliança per-
pétua, para ser 0 teu Deus, e da tua descendência. Dar-
te-ei e à tua descendência a terra das tuas peregrina-
ções, toda a terra de Canaã, em possessão perpétua, e
serei o seu Deus (Gênesis 17:7-8).
O propósito divino. A história de Israel é o relato fiel do
cumprimento das profecias bíblicas a respeito desse povo
singular, desde a aliança que Deus fez com Abraão durante
a Dispensação da Promessa, conforme Gênesis 12:1-4. Nes-
sa aliança, Deus prometeu: “De ti farei uma grande nação”.
Esta promessa se cumpriu de três maneiras distintas:
Primeiramente em Ismael, que é o pai dos árabes atra-
vés de Maalate (ou Basamate) e Esaú: “Foi, Esaú, à casa
de Ismael e, além das mulheres que já possuía, tomou
por mulher a Maalate, filha de Ismael, filho de Abraão,
irmã de Nebaiote” (Gênesis 28:9). (Leia-se também
Gênesis 25:13; 36:3,13). Em segundo lugar, na sua pos-
teridade natural, como “o pó da terra” (Gênesis 13:16;
João 8.37), ou seja, os hebreus.
Finalmente, na sua posteridade espiritual, como “as
estrelas do céu” (Gênesis 22:17), isto é, todos os homens
de fé, quer sejam judeus ou gentios: “Essa é a razão por
12. 12 Manual de Profecia Bíblica
que provém da fé, para que seja segundo a graça, a fim
de que seja firme a promessa para toda a descendência,
não somente ao que está no regime da lei, mas também
ao que é da fé que teve Abraão” (Romanos 4:16). “Ora, as
promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente.
Não diz: E aos descendentes, como se falando de muitos,
porém como de um só: E ao teu descendente, que é Cris-
to” (Gálatas 3:16). (Vejam: também estas outras passa-
gens: João 8:39; Romanos 9:7-8; Gálatas 3;6-7.)
Aqui se confirma a promessa de redenção da aliança
adâmica, conforme Gênesis 3:15: “Porei inimizade entre ti
e a tua mulher, entre a tua descendência e o seu descen-
dente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás 0 calcanhar”.
“E te abençoarei”.Abênção divina na vida de Abraão
se revela no plano material: “Toda esta terra que vês, hei
de dar a ti, e à tua descendência, para sempre”. “Então
ele [Eliezer] disse: Sou servo de Abraão. O Senhor tem
abençoado muito ao meu senhor, e ele se tem engrande-
cido. Deu-lhe ovelhas e bois, e prata e ouro, e servos e
servas, e camelos e jumentos” (Gênesis 13:15; 24:34-
35). E também no plano espiritual: “Creu Abraão no Se-
nhor, e isso lhe foi imputado para justiça” (Gênesis 15:6.
Veja também João 8:56).
“E te engrandecerei o nome”.Abraão tem 0 seu nome
entre os maiores vultos da história universal, especialmen-
te no judaísmo, no cristianismo e no islamismo. A grande-
za de Abraão é devida às características da sua dignidade:
deixou o lar e os amigos para atender à chamada de Deus;
deu a Ló o direito de escolher a terra; derrotou os reis
despojadores de Sodoma; deu 0 dízimo de tudo a Melquise-
deque; rejeitou receber presentes pelos serviços prestados,
e dispôs-se a oferecer a Deus seu filhoúnico, Isaque (Gênesis
12:4; 13:9; 14:14-15,20,23; Hebreus 11:17).
13. O Propósito Divino com Israel 13
Em tudo isso vemos obediência, altruísmo, coragem,
benevolência, incorruptibilidade, e fé, além de uma vida
de oração (Gênesis 18:23-33).
“
E tu serás uma bênção”.Aversão de Meredsous traz:
Έ tu serás uma fonte de bênçãos”. Milhões de pessoas, em
todo 0 mundo e em todoas as épocas, têm sido abençoadas
mediante as promessas feitas ao patriarca Abraão.
“
Abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoa-
rei os que te amaldiçoarem”. Esta profecia tem sido
rigorosamente cumprida através dos séculos, particu-
larmente na dispersão e na restauração de Israel. Os
povos que perseguiram os judeus têm sofrido um grande
fracasso, enquanto os que os têm protegido, prosperam.
Essa profecia tem-se realizado em muitos povos. Um bom
exemplo é a Inglaterrra, que poibiu a entrada dos judeus na
Palestinaquando elesmais precisavam escapar à polícianazista
na Europa, e logo perdeu o seu império. Também 0 Brasil, que
depois de tomar o partido dos inimigos de Israel no início dos
anos setenta, por causa do petróleo, viu 0 seu milagre econômi-
co transformar-se, em pouco tempo, em uma das maiores dívi-
das externas do mundo. Finalmente, países perseguidores dos
judeus, como o Iraque e o Irã, que até meados de 1984já havi-
am registrado, nos campos de batalha, cerca de um milhão e
meio de baixas, entre mortos e feridos. Muitos outros exemplos
há na história antiga e recente, e entre eles a Rússia.
A DISPENSAÇÃO DA LEI
Esta dispensação foi estabelecida em meio a grandes
sinais e prodígios. Nenhum outro povo, em toda a histó-
ria do homem, experimentou condições mais favoráveis
do que Israel. Havia visível manifestação da presença de
Deus no Egito, no deserto, na travessia do mar Verme-
lho e no Sinai:
14. 14 Manual de Profecia Bíblica
Então o anjo de Deus, que ia adiante do exército
de Israel, se retirou e se pôs atrás deles. Também a
coluna de nuvem se retirou de diante deles, e se pôs
atrás, e ia entre 0 acampamento dos egípcios e 0 acam-
pamento de Israel. A nuvem era escuridade para aque-
les, e para este esclarecia a noite; de maneira que em
toda a noite este e aqueles não puderam aproximar-se
(Êxodo 14:19-20)
Deus sarou as enfermidades de Israel e deu-lhe as
riquezas do Egito; falou-lhes audivelmente e deu-lhes
revelações; forneceu-lhes um completo código de leis e
deu-lhes muitas promessas, e, finalmente, deu-lhes o
evangelho (Êxodo 12:25; 15:26; 23:25; Deuteronômio
5:22-24; Gálatas 3:8; Hebreus 4:2).
O propósito divino. O desejo de Deus com a aliança
da Lei era provar os israelitas, para ver se eles lhe obede-
ceriam e trariam completa destruição das raças de gigan-
tes pela espada, em virtude de os pecados desses povos já
haverem enchido a medida da paciência de Deus; trazer o
Messias ao mundo através da pura linhagem adâmica,
em cumprimento a Gênesis 3:15, e, finalmente, estabele-
cer um sistema de sacrifícios que mostrasse, nos mini-
mos detalhes, a hediondez do pecado e a necessidade da
morte expiatória do Messias (Gênesis 15:16).
A Dispensação da Lei cobre 0 longo período do
Sinai ao Calvário, e nela todos os homens são conde-
nados por haverem todos pecado. A nação de Israel
não suportou as provas a que foi submetida debaixo
da Lei, e quebrou seu compromisso de Êxodo 19:8,
constante do seu solene juramento: “Tudo o que 0
Senhor falou, faremos”; que foi levado à presença de
Deus: “E Moisés relatou ao Senhor as palavras do
povo”. Por isso vieram os juízos dos cativeiros assírio
e babilônico.
15. O Propósito Divino com Israel 15
A DISPENSAÇÃO DA GRAÇA
O estabelecimento da Dispensação da Graça ocorreu
na “plenitude dos tempos”, quando, por toda parte, era
patente a falência da filosofia, da religião e da política em
seus esforços para melhorar a vida humana. Um retrato
dessa época nos é apresentado por Benjamim Scott:
É impossível descrever toda a miséria moral duma
religião (pagã) cujos deuses eram debochados, bêbados,
fratricidas, prostitutos e assassinos, e cujos templos eram
lupanares e antros dos piores vícios, chegando alguns a
só serem tolerados fora das cidades (Vitruvio, 1.7). Seus
espetáculos — as horríveis pugnas de gladiadores e cenas
impuras — o Catão caserneiro não podia presenciar. Suas
procissões eram cortejos de indecências. Seus altares não
raro se tingiam de sangue humano. Suas festas, as céle-
bres bacanais e saturnais: cujo ritual era o vício, e cujos
sacerdotes e sacerdotisas... (temos de descer um véu para
esconder suas simples funções sacerdotais).
No tempo de Augusto, 0 casamento tinha caído em
desuso. Se existia, era apenas para tornar a mulher es-
crava. A esposa tinha de trabalhar; as concubinas e cor-
tesãs é que eram as amigas do seu senhor. Mas tudo isto
não é ainda 0 mais negro do quadro. Não há um único
dos vícios que provocaram a extinção dos cananeus ou
que fizeram vir do Céu 0 fogo vingador sobre as cidades
da planície, que não suje o retrato que a história registra
de quase todos os imperadores, estadistas, poetas e filó-
sofos da Roma Antiga e da Grécia Clássica. A lepra mo-
ral corrompia tudo e a todos. A crueldade campeava tan-
to quanto a sensualidade. A escravatura era universal.
Sócrates era uma exceção.1
É neste mundo tenebroso que Jesus se manifesta como
0 “Sol da Justiça”, com a mais pura de todas as doutrinas: a
fé cristã, anunciada com autoridade e confirmada com gran-
des sinais e prodígios, inclusive pelos discípulos e apóstolos.
16. 16 Manual de Profecia Bíblica
O propósito divino. Na Dispensação da Graça, o pro-
pósito divino é salvar todo aquele que crê em Jesus, tan-
to judeus como gentios, e chamar para fora do mundo
esse povo especial, firmando a sua Igreja: “Porque Deus
amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho
unigênito, para que todo 0 que nele crê não pereça, mas
tenha a vida eterna” (João 3:16). Έ a vida eterna é esta:
que te conheçam a ti, 0 único Deus verdadeiro, e a Jesus
Cristo, a quem enviaste” (João 17:3).2
ISRAEL REJEITA O MESSIAS
A Dispensação da Graça começou com a morte
expiatória de Jesus (João 19:30), e terminará no Arreba-
tamento da Igreja. Em todo esse período, os israelitas,
como nação, estão cortados, postos de lado, até que en-
tre a plenitude dos gentios. A causa da rejeição temporá-
ria de Israel foi a sua recusa em crer no Messias, embora
tivessem sido preparados para a fé durante séculos. Por
rejeitarem Jesus e perseguirem a Igreja, os judeus fo-
ram deixados de lado e as Boas-Novas de salvação pro-
clamadas aso gentios (Mateus 21:33-46).
A queda e a elevação de Israel foram profetizadas por
Simeão: “Simeão os abençoou e disse a Maria, mãe do
menino: Eis que este menino está destinado tanto para
ruína como para levantamento de muitos em Israel, e para
ser alvo de contradição” (Lucas 2:34). Notem a ordem:
ruína e levantamento, diferente da história de outras na-
ções, que segue a ordem inversa: elevação e queda. Assim
foi com países como: Egito, Assíria, Babilônia, Medo-Persa,
Grécia, Roma, Alemanha e muitos outros.
OsJuízos divinos, Jesus, referindo-se à profecia da Pedra
rejeitada pelos edificadores (Salmos 118:22-24; Isaías 28:16),
disse que todo aquele que caísse sobre ela seria feito em pe-
daços (Mateus 21:44). Isso seria também o cumprimento de
Daniel 9:26: “Depois das sessenta e duas semanas será mor-
17. O Propósito Divino com Israel J '/’
to o Ungido, ejá não estará; e o povo de um príncipe, que há
de vir, destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será num
dilúvio, e até ao fimhaverá guerra; desolações são determina-
das”, e também de Amós 9:9: “Porque eis que darei ordens, e
sacudirei a casa de Israel entre todas as nações, assim como
se sacode o trigo no crivo, sem que caia na terra um só grão”.
Por haver rejeitado a João (Mateus 3:7); a Jesus
(Mateus 11:11-27; 12:1-50; 23:1-39); e aos primeiros
discípulos (Atos 4:1-31; 6:8 a 7:59 etc.), Israel foi
destruído como nação e disperso entre os povos (Mateus
24:1-3; Lucas 21:20-24). Isso ocorreu nas duas guerras
contra os romanos, de 67 a 70 e de 132 a 135 d.C.
A situação atual dosjudeus. A Bíblia afirma com clare-
za que Deus não rejeitou Israel para sempre. Pela sua de-
sobediência, esse povo foi endurecido. O mesmo sol que
derrete a manteiga, endurece o barro. Ao opor-se Israel
aos desígnios de Deus, foi então atirado ao juízo divino.
Deus se recusa àquele que o recusa (Romanos 11.7-10).
O propósito primário de Deus, trazer os gentios ao
arrependimento, não poderia deixar de ser alcançado por
culpa de Israel. Ao haver rejeitado o Evangelho, Israel se
tornara num obstáculo ao plano divino, e por isso teve
de ser removido. O apóstolo Paulo explica que, pela trans-
gressão dos judeus, veio a salvação aos gentios, para pó-
los em ciúmes (Romanos 11:11).
Mas Deus, que por amor não quer excluir ninguém,
pretende recolocar Israel no centro da sua soberana von-
tade, e isso ocorrerá quando 0 remanescente fiel conver-
ter-se ao Messias Jesus, no final da Grande Tribulação.
18. 2
Quedae Restauração
de Israel
E vos espalharei entre as nações e desembainharei a
espada atrás de vós; e as vossas cidades serão
desertas... Trarei de volta do exílio o meu povo Israel;
reedificarão as cidades assoladas, e nelas habitarão
(Deuteronômio 28:25; Amós 9:14).
19. ste capítulo é um resumo do que escrevi em
Israel Gogue e o Anticristo, também edita-
do pela CPAD, onde trato com muito mais
detalhes da dispersão dos israelitas e da sua presente
restauração.
Poucas semanas após a morte de Jesus, Jerusalém,
centro espiritual de todos os judeus da diáspora roma-
na, abarrotava-se de peregrinos que ali compareciam
anualmente, às centenas de milhares, por ocasião das
festividades da Páscoa e do Pentecoste — pontos altos
do culto judaico. O evangelista Lucas testifica esse fato
quando descreve a descida do Espírito Santo no Dia de
Pentecoste:
E em Jerusalém estavam habitando judeus, varões
religiosos de todas nações que estão debaixo do céu...
Partos e medos, elam itas e os que habitavam na
Mesopotamia, e Judéia e Capadócia, Ponto e Ásia e Frigia
e Panfília, Egito e partes da Líbia, junto a Cirene, e foras-
teiros romanos (tanto judeus como prosélitos), cretenses
e árabes... (Atos 2:5,9-11).
Semanas antes do Pentecoste, Jesus havia sido pre-
so, julgado e crucificado numa atmosfera carregada de
religiosidade e inflamada de um nacionalismo ardente e
doentio. Foi assim, num momento de incontido ódio a
Cristo e a sua mensagem, que os israelitas responderam
a Pilatos: “O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos
filhos” (Mateus 27:25).
20. 22 Manual de Profecia Bíblica
Conscientes ou não, os israelitas rejeitavam o Messias
tão ansiosamente esperado, e atraíam sobre si e seus fi-
lhos as conseqüências terríveis de tão trágica escolha, como
disse 0 Senhor a Moisés:
Eu lhes suscitarei um profeta do meio de seus irmãos,
semelhante a ti; porei as minhas palavras na sua boca, e
ele lhes falará tudo 0 que eu lhe ordenar. Eu mesmo pedirei
contas de todo aquele que não ouvir as minhas palavras,
que ele falar em meu nome (Deuteronômio 18:18-19).
O advento do Cristianismo não apagou a chama nacio-
nalista dos judeus, que continuavam sua trama secreta e
multiplicavam os atentados violentos contra seus
dominadores, tornando impossível qualquer solução pacíli-
ca a partir de maio de 66. Então as autoridades romanas
reagiram pelas armas na tentativa de sufocar a rebelião or-
ganizada, que pretendia assumir 0 controle de todo 0 país.
Nero mesmo planejou esmagar a revolta, depois que
os rebeldes aniquilaram as guarnições romanas do mar
Morto e de Antônia. Várias e sangrentas batalhas trava-
ram-se nas cidades de Galiléia, com elevado número de
baixas em ambos os lados, mas prevalecendo sempre a
férrea Roma, cujas legiões lutavam bravamente sob o
comando de Vespasiano.
Após o suicídio de Nero, foi Vespasiano aclamado
Imperador romano, mas este deixou a última etapa da
guerra aos cuidados de seu filho Tito. Este, na Páscoa
do ano 70, ordenou o início do cerco de Jerusalém, de-
terminando a construção de uma muralha de estacas
ao redor da cidade, de sete quilômetros de comprimen-
to, levantada em apenas três dias, a fim de impedir a
fuga dos sitiados e forçá-los à rendição. Cumpriam-se
as palavras de Jesus:
Porque dias virão sobre ti, em que os teus inimigos
te cercarão de trincheiras, e te sitiarão e te estreitarão de
21. 23
Queda e Restauração de Israel
todas as bandas e te derribarao, a ti e aos teus filhos que
dentro de ti estiverem... (Lucas 19:43-44).
O terrível sítio de Jerusalém durou cinco meses de
sofrimentos indescritíveis. Nesse período, 600 mil ca-
dáveres foram lançados para fora dos muros da cida-
de. A peste e a fome encarregavam-se de dizimar cen-
tenas de pessoas diariamente, e muitas se punham a
caminho da sepultura antes mesmo de chegada a sua
hora. Quando a cidade caiu, contou-se cerca de um
milhão e cem mil mortos, e apenas por uma das suas
portas foram retirados 115 mil cadáveres.
Dos 97 mil sobreviventes, a maior parte foi levada
para Roma, muitos foram presenteados às províncias
do império para que morressem como gladiadores nas
arenas, em espetáculos públicos, e milhares de outros
seguiram para trabalhos forçados no Egito.
Com relação à cidade e ao grande templo de
Herodes, a predição de Jesus não poderia ser mais
minuciosa: os alicerces dos edifícios foram removidos,
inclusive os do templo, e toda a sua área ficou nivela-
da. Não ficou ali “pedra sobre pedra” (Lucas 19:44).
De 132 a 135, os judeus tentaram de novo sacudir
de sobre si o pesado jugo romano, e de novo a teimosia
dos israelitas os leva à beira de um extermínio total.
Cerca de 580 mil homens caíram somente nas bata-
lhas, e outros milhares pereceram de inanição na ci-
dade fortificada de Betar, enquanto resistiam valente-
mente à implacável destruição levada a efeito pelos
soldados romanos.
De novo, os mercados de escravos abarrotaram-se
de judeus. Jerusalém foi reconstruída como uma cida-
de tipicamente pagã. Adriano proibiu a prática do juda-
ísmo, sob pena de morte. Akiba foi capturado e esfola-
do vivo e, ao morrer, exclamou: “Ouvi, Israel, o Senhor
é nosso Deus, o Senhor é 0 único”. As autoridades ro-
22. 24 Manual de Profecia Bíblica
manas mudaram o nome da Judéia para Síria Filistéia,
de onde derivou a moderna palavra Palestina.
CRUZADAS, PESTE NEGRA ETC.
Humilhados, diminuídos e marginalizados, os rema-
nescentes judeus dedicaram-se ao comércio e trocaram
suas ambições políticas pelas conquistas do espírito,
transferindo 0 centro da sua cultura da Judéia para
Babilônia, onde os comentários e as interpretações da
Bíblia formaram mais tarde o famoso Talmude.
Vivendo em paz e dedicadas ao livre comércio, as co-
munidades israelitas em várias partes do mundo chegaram a
ser prósperas. Porém, no ano 681, na cidade deToledo, a Igreja
Romana começou a impor-lhes restrições. A superstição e o
baixo nível espiritual, a que desceu o cristianismo nominal
durante a Idade Média, ocuparam-se de fazer 0 resto.
No ano 1096, foi organizada em Clermont, França, a
primeira guerra da cruz contra os maometanos ocupan-
tes dos lugares santos da Palestina. Os cruzados coman-
dados pelo mercenário francês Guilherme abateram-se
sobre as comunidades judaicas da Renânia, de Treveris,
de Espira e de Worms, além de outros lugares.
As hordas sanguinárias arrastaram homens, mulhe-
res e crianças aos templos católicos para serem batizados
à força, mas a maioria preferiu pagar com a vida sua fide-
lidade aos milenares princípios do judaísmo. Raciocina-
vam os irmãos peregrinos que, antes de exterminar os
sarracenos no Oriente, precisavam eliminar no Ocidente
os descendentes daqueles que crucificaram 0 Filho de Deus.
Entre os anos de 1350, irrompeu devastadora a morte
negra, uma peste virulenta que matou um terço de toda a
população da Europa. Mais uma vez a superstição, o com-
plexo anti-semita e a ignorância encarregaram-se de lan-
çar toda a culpa da desgraça sobre os judeus.
23. 25
Queda e Restauração de Israel
Apesar de o papa Clemente VI inocentar os judeus,
afirmando que eles morriam tão bem da peste como os
cristãos, 0 fanatismo falou mais alto que a razão, e a ruí-
na veio como uma tempestade: em mais de 350 cidades
européias os infelizes israelitas foram mortos à pauladas,
afogados, queimados vivos, enforcados e estrangulados.
MQUISIÇÃO E GUETOS
Infamante, sob todos os pontos de vista, foi 0 martí-
rio dos judeus na Espanha e em Portugal durante a vi-
gência da Inquisição. Só em Toledo, em poucas sema-
nas, foram queimados vivos 2.400 homens, acusados de
infidelidade ao catolicismo. Os que se diziam arrependidos
da sua falsa conversão alcançavam a “misericórdia” de
um estrangulamento vivo antes de atirados às chamas
“purificadoras”.
Em Portugal, esse nefasto tribunal foi implantado em
1536, e agindo contra os judeus com tamanha cruelda-
de que o papa Paulo II enviou um protesto, e 0 Concilio
de Trento teve de se ocupar da sanha bárbara dos
inquisidores lusos.
Mas 0 ódio aos judeus não começou com a Inquisição
e nem era uma característica exclusiva dos inquisidores,
pois, emanado dos poderes eclesiásticos, ele transbor-
dava nas massas fanatizadas, resultando sempre em
sangrentos morticínios.
O anti-semitismo, todavia, não desapareceu com as
Cruzadas e nem com a nefanda Inquisição, mas conti-
nuou atuante em muitas partes do mundo. Nos países do
oriente europeu, os apóstolos da “última fé verdadeira”
fizeram inveja aos inquisidores espanhóis e portugueses.
Referindo-se a esse sombrio acontecimento, o sábio
judeu de Volínia, Natan ben Moshe Hannover, que se
salvou fugindo para Amsterdã, publicou em 1653, em
24. 26 Manual de Profecia Bíblica
Veneza, um relato, em hebraico, informando 0 mundo
como morriam os judeus na Polônia, à mão dos cossacos
e ucranianos:
Arrancavam-lhes a pele, e a carne jogavam aos cães;
cortavam-lhes as mãos e 0 pés, e deixavam à morte os
corpos assim mutilados; rasgavam as crianças pelas per-
nas; assavam os nenês e obrigavam as mães a engolir a
carne dos seus rebentos; abriam ventre de mulheres grá-
vidas e com 0 feto que arrancavam batiam no rosto das
vítimas; a muitas punham gatos vivos nos ventres aber-
tos, e costuravam o corpo com 0 gato dentro, cortando
das infelizes as mãos para que não pudessem arrancar o
animal, nem dar cabo de sua existência”.3
A luta desesperada dos judeus pela conservação do
seu território não pode ser compreendida sem 0 pano de
fundo da História. Os sucessos nas guerras com os ára-
bes, a invasão do Líbano em perseguição aos inimigos
palestinos e 0 isolamento cada vez maior de seu país no
contexto das nações têm suas raízes nos muitos sofri-
mentos da Diáspora, na qual os guetos tornaram-se 0
principal símbolo da odiosa e humilhante segregação
racial e religiosa de que foram vítimas.
Mas os guetos não se tornaram apenas o símbolo da
perversidade humana, pois muitos deles se transforma-
ram literalm ente em verdadeiras sep u ltu ras de
numerosíssimas comunidades, como o de Varsóvia, por
exemplo.
Uma das profecias acerca da restauração nacional
dos judeus diz: “Assim diz 0 Senhor Jeová: Eis que eu
abrirei as vossas sepulturas, e vos farei sair das vossas
sepulturas, ó povo meu, e vos trarei à terra de Israel. E
sabereis que eu sou o Senhor, quando eu abrir as vossas
sepulturas, e vos fizer sair das vossas sepulturas, ó povo
meu” (Ezequiel 37:12-13).
25. 27
Queda e Restauração de Israel
Nenhuma outra figura dos modernos guetos, de onde
muitos judeus têm saído para a sua pátria, poderia ser
mais adequada do que uma sepultura. Em sentido es-
trito, gueto define um bairro judeu, uma área delimita-
da por lei para ser habitada somente porjudeus. O nome
deriva da fundição, ou Guetto, em Veneza, onde os ju-
deus dali foram segregados em 1517. A idéia, entretan-
to, de segregação dos judeus, implícita na primeira le-
gislação da Igreja Romana, remonta aos Concílios de
Latrão de 1179 e 1215, que proibiram judeus e cristãos
de viverem juntos.
Os nazistas levaram os guetos sistematicamente
à inanição, e qualquer assistência possível somente
podia ser financiada às expensas dos próprios judeus.
A despeito de indigência e de desmoralização, os ju-
deus mantinham uma atividade cultural intensa, es-
colas e auxílio mútuo. Dessa resistência moral nas-
ceram as revoltas de 1943. O extermínio metódico dos
guetos começou com a sucessiva remoção de grupos
para aniquilamento, em 1941. O gueto de Varsóvia
foi liqüidado em 1943, e os restantes por volta de
1944.
O HOLOCAUSTO
Construído em 1933, o campo de concentração de
Dachau, Alemanha, foi a prisão de dezenas de milhares
de judeus durante a Segunda Grande Guerra. Em 1966,
0 Governo alemão instalou no local um mostruário dos
horrores ali praticados, e tornou obrigatória a visita de
colegiais de nível médio, para que não esqueçam a que
ponto chegou 0 desvario nazista.
Entre os dois fornos crematórios há uma estátua
de bronze representando um prisioneiro de Dachau:
um homem esquelético, faces encaveiradas, roupas
26. 28 Manual de Profecia Bíblica
esfarrapadas e cabeça raspada. Uma legenda, coloca-
da ao pé da estátua, é um angustiante grito de alerta
à raça humana. Diz a inscrição:
À memória das vítimas de todos os campos de concen-
tração; como expiação dos crimes cometidos nesses cam-
pos; para advertência à humanidade e instrução a todos os
visitantes; pela paz das classes e das raças; para salvar a
honra da nossa Nação, e pela comunidade dos povos.
Nesse local sombrio, morreram homens e mulhe-
res, depois de suportarem as mais variadas formas de
tortura, estudadas minuciosamente pelos carrascos.
Havia nesse campo o local dos fuzilamentos, a barraca
das experiências médicas (onde novas drogas eram tes-
tadas em cobaias humanas!), a barraca das punições
especiais com suplícios e agonias, a forca e a câmara
de gás.
E que falar de Birkenau e Gleiwitz? No primeiro cam-
po, as enormes filas de condenados caminhavam para den-
tro do forno crematório, não sem antes serem aspergidas
de gasolina para se consumirem mais depressa. No se-
gundo, uma esteira transportadora, guardada por solda-
dos atentos e cães treinados, levava os condenados dire-
tamente à fornalha, vivos! Eles eram atirados sobre a ve-
loz esteira por outrosjudeus do trabalho forçado, os quais,
por sua vez, depois de exaustos, seguiam 0 mesmo trági-
co destino de seus irmãos!
A matança era tão intensa em todos os campos de
concentração nazistas, que estes só não conseguiram
levar a cabo a sua solução final do problema judaico
porque perderam a guerra!
RENASCE ISRAEL
A história de Israel é a história de um povo e de
um lugar, unidos, separados, sempre e sempre... Ne-
27. 29
Queda e Restauraçao de Israel
nhum drama de amantes separados e reunidos nova-
mente é mais romântico que a história desta gente e
de sua terra natal.
A Bíblia trata, de maneira inconfundível, das angústi-
as desse povo entre as nações: Έ vos espalharei entre as
nações e desembainharei a espada atrás de vós; e a vossa
terra será assolada, e as vossas cidades serão desertas...
E, quanto aos que de vós ficarem, eu meterei tal pavor
nos seus corações, nas terras dos seus inimigos, que o
sonido duma folha movida os perseguirá... e não podereis
parar diante dos vossos inimigos” (Levítico 26:33,36-37).
Mais adiante, continua a Palavra de Deus: “O Se-
nhor te fará cair diante dos teus inimigos... o fruto da
tua terra e todo 0 teu trabalho comerá um povo que nunca
conheceste; e tu serás oprimido e quebrantado todos os
dias... e serás por pasmo, por ditado, e por fábula entre
todos os povos a que 0 Senhor te levará” (Deuteronômio
28:25,33,37).
É impressionante como tais predições tenham sido
tão rigorosamente cumpridas. Mas assim como, findan-
do a noite, surge a manhã de um novo dia, a aurora
raiaria também para o povo judeu, porque também o
Senhor prometeu: “E demais disto também, estando eles
na terra dos seus inimigos, não os rejeitarei, nem me
enfadarei deles, para consumi-los...” (Levítico 26:44).
O retorno dos judeus a sua terra começou precaria-
mente no século passado, em conseqüência dos horro-
rosos pogroms, ou massacres, praticados livremente con-
tra esse povo nos guetos de centenas de cidades euro-
péias e, principalmente, na Rússia. Cada grupo de imi-
gração era conhecido como Aliyah, palavra que significa
“subida”, extraída da expressão bíblica “subindo para
Jerusalém”.
Em 2 de novembro de 1917, a Inglaterra inclina-se a
favor do sionismo, através da declaração do ministro dos
28. 30 Manual de Profecia Bíblica
negócios exteriores do governo britânico, Balfuor, sub-
metida ao gabinete de ministros daquele país e por ele
aprovada. Esse famoso documento foi responsável por
muitas reviravoltas políticas em todo o mundo e princi-
palmente no Oriente Médio.
Animados por essa prom essa, o movimento
imigratório aumentou consideravelmente, em cumpri-
mento à profecia bíblica:
Eremoverei 0cativeirodomeu povoIsrael, ereediíicarão
as cidades assoladas, enelas habitarão, eplantarão vinhas,
e beberão o seu vinho e farão pomares, e lhes comerão o
fruto. E os plantarei na sua terra, e não serão mais arran-
cados da sua terra que lhes dei, diz 0 Senhor teu Deus... E
vos tomarei dentre as nações, evos congregarei de todos os
países, e vos trarei para a vossa terra... E dirão: Essa terra
assolada ficou como 0jardim do Éden; e as cidades solitá-
rias, e assoladas, e destruídas, estão fortalecidas e habita-
das (Amós 9:14-15; Ezequiel 36:24,35).
Falando da terra de Israel e de seu povo, assim afir-
ma a Declaração da Independência, lida à nação no dia
15 de maio de 1948, no mesmo dia em que os britânicos
deixavam o país e as nações árabes iniciavam a primeira
guerra oficial não declarada ao novo Estado:
Aqui se forjou sua personalidade espiritual, religio-
sa e nacional. Aqui tem vivido como povo livre e sobera-
no. Aqui tem legado ao mundo 0 eterno Livro dos Livros.
DEUS LUTA POR ISRAEL
Naquele tempo, os egípcios serão como mulheres, e
tremerão e temerão por causa do movimento da mão do
Senhor dos Exércitos, porque ela se há de mover contra
eles. E a terra de Judá será um espanto para 0 Egito...
(Isaías 19:16,17).
29. 31
Queda e Restauração de Israel
Embora a ONU tenha determinado a partilha da Pa-
lestina em dois estados — Israel e Jordânia — os judeus
Iiveram de garantir 0 seu direito de propriedade da terra
às suas próprias custas. A guerra começou no dia da
partida dos britânicos, 14 de maio de 1948, e mais uma
vez o pequeno 1
’Davi” teve de defrontar-se com o gigante
“Golias”. Poucos acreditavam que 0 novo Estado duras-
se duas semanas. Como poderiam 700 mil judeus, mal
armados, proteger cidades desguarnecidas contra mais
de trinta milhões de ferozes inimigos equipados com o
mais moderno material bélico?
Conta Meyer Levin que os comandantes árabes já
escolhiam as casas de Tel-Aviv que pretendiam ocupar.
Às tropas foram prometidos os despojos da guerra: mu-
lheres e produto do saque. Mas nada disso aconteceu.
Batidos vergonhosamente em todas as frentes de
batalha pelo minúsculo mas heróico povo israelita, os
países árabes consolavam-se uns aos outros dizendo que
haviam perdido a batalha mas não a guerra. Esta, real-
mente, transferiu-se dos campos da Palestina para as
tribunas das organizações internacionais, de onde a nova
nação judaica foi alvo das maiores intrigas e ameaças
por parte dos seus inimigos feridos e humilhados.
Acreditando na feroz ameaça de seus irmãos de san-
gue, muitos árabes residentes em Israel, ao iniciar-se o
conflito de 1948, abandonaram 0 país para que os ju-
deus fossem varridos e exterminados. Porém, como tal
não ocorreu, esses deslocados foram mantidos fora de
Israel, para fins de propaganda política.
Em 1956, todo o ódio árabe, alimentado dia a dia des-
de 1948, transborda-se. Nasser apodera-se do canal de Suez
e ameaça Israel. Já por diversas vezes gritara ele que have-
ria de vingar sua derrota de 1948, empurrando os judeus
até 0 mar. Mas o primeiro ministro, Ben-Gurion, resolveu
atacar primeiro, numa rápida e fulminante campanha. E
30. 32 Manual de Profecia Bíblica
os israelenses, comandados por Moshe Dayan, limparam o
Sinai, localizando e destruindo as bases inimigas onde en-
contraram vastos depósitos de armas russas.
As derrotas de 1948 e 1956 não bastaram para
que os povos árabes aceitassem a realidade inegável da
existência de Israel como nação e da sua firme determi-
nação de manter a independência do país mesmo às eus-
tas de enormes sacrifícios.
Armados pelas grandes potências e estimulados por
seus governos belicosos, os árabes, liderados pelo ditador
egípcio Gamai Abdel Nasser, planejaram e tentaram, em
junho de 1967, a destruição do Estado judaico. Foram
seis dias de medo e apreensão em todo o mundo, de terrí-
vel surpresa e humilhação para os invasores e de grandes
e inesquecíveis glórias para a jovem nação israelense.
Os prejuízos sofridos pelos árabes, em preciosas
vidas humanas e em caríssimo armamento, foram deve-
ras impressionantes. Nos seis dias de guerra, morreram
10 mil egípcios, 15 miljordanianos e milhares de assírios,
iraquianos e combatentes de outros países. Somente 0
Egito perdeu 400 aviões, 600 tanques e milhares de pe-
ças de artilharia, munições, armas leves e veículos, supe-
rando o valor de um bilhão e meio de dólares! Em toda a
guerra apenas 700 soldados judeus perderam a vida.
Como resultado de mais este confronto bélico, Jeru-
salém passou inteiramente para 0 domínio israelita no
dia 8 de junho. A sua reunificação pôs termo a uma sé-
rie de restrições impostas pelas autoridades jordanianas
aos cristãos, tais como: proibindo a aquisição de terras
na cidade ou em seus arredores; obrigando os membros
da Irmandade e ao Santo Sepulcro a tornarem-se cida-
dãos jordanianos, sendo eles gregos desde o século VI;
exigindo dos cristãos a guarda dos dias de repouso se-
manai dos muçulmanos; abolindo as isenções de impos-
tos a que tinham direito as instituições cristãs.
31. 33
Queda e Restauração de Israel
ASSOMBRO E MILAGRE
As vitórias dos judeus têm sido um assombro para o
mundo. Como pode uma pequena nação, habitada por
menos de três milhões de pessoas, levar à bancarrota
nada menos que quatorze países aliados, com uma po-
pulação superior a 100 milhões?
Nenhuma resposta, fora da Bíblia Sagrada, pode sa-
tisfazer plenamente a razão humana. A Palavra de Deus
fala com uma clareza meridiana dos últimos sucessos
israelenses no Oriente Médio:
E os plantarei na sua terra, e não serão mais arran-
cados da sua terra que lhe dei, diz o Senhor teu Deus
(Amós 9:15).
Naquele tempo os egípcios serão como mulheres e
tremerão e temerão por causa do movimento da mão do
Senhor dos Exércitos, porque ele há de se mover contra
eles. E a terra de Judá será um espanto para 0 Egito;
todo aquele a quem isso se anunciar se assombrará, por
causa do propósito do Senhor dos Exércitos, do que de-
terminou contra eles (Isaías 19:16-17).
Nesses dois textos, a Palavra de Deus afirma que osju-
deus seriam plantados na sua terra, de onde não serão mais
arrancados, e que os egípcios seriam como mulheres diante
de Israel. Quão à risca essas palavras têm sido cumpridas!
O medo dos soldados egípcios diante do exército is-
raelense tem sido tão grande que, muitas vezes, os ju-
deus não encontraram a mínima resistência. Na Guer-
ra dos Seis Dias, alguns pára-quedistas, que partiram
com a missão de desalojar o inimigo de uma posição
estratégica, chegaram ao local como turistas, porque
os egípcios fugiram sem disparar um só tiro!
O surpreendente resultado das guerras árabe-israe-
lenses não pode ser atribuído somente ao treinamento
rigoroso dos batalhões e à eficiência das armas de Israel.
32. 34 Manual de Profecia Bíblica
Na guerra do Yom Kipur, por exemplo, só o Egito lançou
700 mil homens na batalha, assessorados por 2.500 tan-
ques, 650 aviões e 150 baterias de mísseis antiaéreos.
E, apesar de todo esse gigantesco aparato militar, foram
duramente batidos.
Levando em conta todo o esforço bélico dos árabes e
mais o fator surpresa, muita gente afirmou que só um
milagre poderia salvar Israel. E o milagre aconteceu. Os
judeus foram vitoriosos e muitos voltaram dos campos
de batalha convertidos e relatando os milagres que ti-
nham visto com seus próprios olhos.
Muitos soldados contaram que, em situações difíceis,
quando já não havia nenhuma possibilidade de sobrevi-
vência, “um varão de branco apareceu por alguns se-
gundos entre as fileiras, e os egípcios, tomados de re-
pentino assombro, fugiram em debandada”.
Os milagres realmente aconteceram no Oriente Mé-
dio, em razão da presença ali do povo de Israel. Mesmo
não aceitando a informação de que os OVNIs realmente
existam e de que os mesmos sejam pilotados por anjos,
temos de reconhecer que houve, de fato, a ocorrência de
coisas espantosas em favor dos israelitas, facilitando-
lhes as vitórias em todos os campos de batalha.
A EXPANSÃO TERRITORIAL
Israel defende a necessidade de fronteiras seguras
para seu país, e suas últimas mudanças políticas vie-
ram reforçar ainda mais essa posição. Atraiçoado várias
vezes por seus vizinhos, abandonado por seus aliados e
mais de uma vez deixado à sua própria sorte pelos orga-
nismos internacionais, o país hebreu sabe dos riscos que
corre e, por isso mesmo, age segundo 0 seu próprio cri-
tério de segurança.
Mas existe outro aspecto do problema palestino, qua-
se sempre desconhecido e negligenciado pelas grandes
33. 35
Queda e Restauração de Israel
potências: a escatologia bíblica. Em realidade, a Bíblia
1mo é compulsada pelos políticos em busca de uma res-
posta aos mistérios que envolvem a descendência de
Abraão. Como justificar a sobrevivência desse povo per-
seguido durante tantos séculos e 0 seu retorno à Terra
Santa, senão pela ação de um Deus Eterno?
E para tornar em fato histórico 0 que prometeu, Deus
se serve até mesmo dos inimigos do seu povo, como acon-
teceu após a Segunda Grande Guerra. A então União So-
viética, tradicional opressora de três milhões de judeus
radicados em seu território, movimentou-se diplomatica-
mente pela criação do Estado judeu na Palestina, e este
Estado nasceu num só dia, 29 de novembro de 1947, por
deliberação da Assembléia Geral da ONU, presidida pelo
chanceler brasileiro Osvaldo Aranha. Cumpria-se Isaías
66.8: “Pode, acaso, nascer uma terra num só dia”?
Como é sabido, a intenção russa na ocasião era a de
estabelecer no Oriente Médio uma base de influência via
Israel, mas foi lograda. Então voltou-se para os árabes, ar-
mou-os e os empurrou para sucessivas guerras contra os
judeus, resultando na ampliação territorial destes em pre-
juízos daqueles. O povo judeu, amado por Deus por causa
das promessas, nunca mais será arrancado da sua terra.
Mas a colonização israelita dos territórios tomados
aos árabes não deve ser encarada apenas do ponto de
vista da segurança do país judaico, pois tem raízes na
profecia bíblica. A terra dada por Deus aos filhos de Is-
rael nunca foi por estes ocupada em toda a sua plenitu-
de. Ela é ainda mais extensa do que a atual área sob o
domínio israelense, conforme Deuteronômio 1:7.
A Palavra de Deus não falha!
34. 0 Primeiro
Mundial
Simbolizados na Bíblia pelo ouro e por um leão
alado, os caldeus triunfaram rapidamente sobre
egípcios, assírios, fenícios e árabes, e construíram
a mais rica metrópole do mundo Antigo.
35. mandamento de Jesus de olharmos pri-
meiramente para a figueira, que tipifica
Israel, é seguido de outro: “...e para todas
as árvores”(Lucas 21:29), que significa as nações gentílicas
em geral, especialmente as que se relacionam com Israel.
A fim de olharmos para essas árvores temos de deixar
o moderno Israel de nossos dias e retroceder aos tempos
dos profetas, especialmente Daniel, que com suas visões
recheadas de impressionantes detalhes, trata da suces-
são dos domínios dos gentios até 0 estabelecimento por
Deus de um reino que será estabelecido para sempre.
Sucedendo ao domínio assírio, o período caldeu de
Babilônia começou em 626 a.C., quando Nabopolassar,
partindo do golfo pérsico, ocupou o trono babilônico a
22 de novembro. Auxiliados pelos medos, os caldeus fo-
ram infringindo sucessivas derrotas aos assírios, toman-
do-lhes as cidades de Sallar por volta de 623, Assur em
614, e Nínive dois anos depois, em 612 a.C.
Após suas vitoriosas campanhas contra a Síria e di-
versas tribos do Norte, entre os anos 609 e 606
Nabopolassar confiou seu exército a Nabucodonosor, seu
príncipe herdeiro, que combateu os egípcios em Kumuhi
e Q uram ati, derrotando-os definitivam ente em
Carquemis, nos meses de maio e junho de 606.
Enquanto ainda estava na Palestina recebendo a su-
jeição de outros povos, inclusive de Judá, ao tempo do
rei Jeoiaquim, ouviu a notícia da morte do pai (15 de
agosto de 605 a.C.), “e imediatamente atravessou 0 de-
36. 40 Manual de Profecia Bíblica
serto para tomar as mãos de Bel, e, assim, reivindicar
oficialmente o trono, a 6 de setembro de 605 a.C.” 4
Por ocasião da sujeição da Judéia ao império de
Babilônia, Nabucodonosor ordenou a Aspenaz, chefe de
seus eunucos, que trouxesse alguns dos filhos de Israel,
da linhagem real e dos nobres, jovens em quem não hou-
vesse defeito algum, formosos de parecer, e instruídos
em toda a sabedoria, sábios em ciência, e versados no
conhecimento, e que tivessem habilidade para viver no
palácio do rei, a fim de que fossem ensinados nas letras
e na língua dos caldeus. O rei lhes determinou a ração
de cada dia, da porção do manjar do rei, e do vinho que
ele bebia, e que assim fossem criados por três anos, para
que no fim deles pudessem estar diante do rei. Entre
eles se achavam, dos filhos de Judã, Daniel, Hananias,
Misael e Azarias (Daniel 1:3-6).
Os jovens hebreus rejeitaram as iguarias reais por
ferirem os princípios bíblicos, pois tratava-se de alimen-
tos consagrados à idolatria, e “a estes quatro jovens Deus
deu o conhecimento e a inteligência em toda cultura e
sabedoria. E Daniel tornou-se entendido em todas as vi-
sões e em todos os sonhos” (v. 17).
A ESTÁTUA PROFÉTICA
Depois de ver consolidado 0 seu reino, Nabucodonosor
teve, certa noite, um impressionante sonho. Viu uma
grande estátua que tinha a cabeça de ouro, o peito e os
braços de prata, o ventre e as coxas de cobre, as pernas
ide ferro, e os pés em parte de barro e em parte de ferro.
O rei estava olhando quando uma pedra foi cortada, sem
mãos, e feriu a estátua nos pés, reduzindo-a a pó, para o
qual não se achou lugar. E a pedra, por sua vez, tornou-
se num grande monte que encheu toda a terra.
Ao despertar na manhã seguinte, aos quatro jo-
vens Deus deu o conhecimento e a inteligência em toda
37. Babilônia, o Primeiro Império Mundial 4 1
cultura e sabedoria. E Daniel tornou-se entendido em
Iodas as visões e em todos os sonhos. Nabucodonosor
convocou seus sábios, astrólogos e adivinhos e exigiu
deles que lhe contassem o sonho e dessem a sua in-
lerpretação.
Então os astrólogos disseram ao rei em siríaco: Ó
rei, vive eternamente! Dize 0 sonho a teus servos, e dare-
mos a interpretação. Respondeu 0 rei aos astrólogos: É
esta a minha decisão: Se não me fizerdes saber 0 sonho e
a sua interpretação, sereis despedaçados, e as vossas
casas serão feitas um monturo (2:4-5).
Os sábios de Babilônia, incapazes de atender ao rei,
foram condenados à morte, estando também na lista
negra Daniel e seus companheiros, por certo Azarias,
Misael e Ananias. Ao saber do decreto real, Daniel foi a
Arioque, chefe da guarda do rei:
Por que se apressa tanto 0 mandado da parte do rei?
Então Arioque explicou 0 caso a Daniel. Ao que Daniel se
apresentou ao rei e pediu que lhe desse tempo, para que
pudesse dar a interpretação. Então Daniel foipara sua casa,
e fez saber 0 caso a Hananias, Misael e Azarias, seus com-
panheiros, para que pedissemmisericórdia ao Deus do céu,
sobre este mistério, a fim de que Daniel e seus companhei-
ros não perecessem, com 0 resto dos sábios de Babilônia.
Então foi revelado 0 mistério a Daniel numa visão de noite,
pelo que Daniel louvou o Deus do céu (2:15-19).
De posse do segredo, Daniel procurou a Arioque e
este depressa introduziu ojovem hebreu na presença do
rei. Disse Daniel: “Tu, ó rei, estavas olhando, e viste uma
grande estátua. Esta estátua, que era grande e cujo es-
plendor era excelente, estava em pé diante de ti, e a sua
aparência era terrível” (v. 31).
Depois de descrever a visão, Daniel passa a inter-
pretar-lhe os diversos símbolos:
38. 42 Manual de Profecia Bíblica
Tu, ó rei, és rei de reis, a quem 0 Deus do céu deu 0
reino, 0 poder, a força e a majestade, em cujas mãos ele
entregou os filhos dos homens, onde quer que habitem,
os animais do campo e as aves do céu, e fez que dominas-
ses sobre todos eles; tu és a cabeça de ouro (w. 37-38).
A CABEÇA DE OURO
A profecia que estamos considerando trata da domi-
nação dos gentios desde que Judá deixou de ser um rei-
no, em 605 a.C., até o futuro estabelecimento do Milê-
nio. A Palavra de Deus não prevê para todo esse longo
período mais do que quatro reinos mundiais, sendo o
primeiros deles justamente o de Babilônia: “Tu és a ca-
beça de ouro”, disse Daniel a Nabucodonosor.
O império babilônico recebeu na Bíblia Sagrada o título
de “a jóia dos reinos, a glória e o orgulho dos caldeus”, e sua
capital foi chamada de “cidade dourada” (Isaías 13:19; 14:4).
A grandeza do reino dos caldeus pode ser medida
pelas dimensões de sua capital:
Eraentãoa maiorea maismodernametrópoledaqueletem-
po, ocupandoumaáreade576quilômetrosquadrados, com96de
perímetro, ou seja 24decadalado. Muitasruas, de 45 metrosde
largurapor24kmdecomprimento, dividiamluxuososquarteirões
comexuberantesjardinsesuntuosasresidências,magníficospalá-
dos e gigantescos templos. Um destes templos, dedicado a Bel,
mediacincoquilômetrosdecircunferência, eumdospaláciosreais
ocupavauma área superiora 12quilômetrosquadrados.5
Algumas das descobertas dos arqueólogos, que têm
trabalhado na área da famosa cidade desde o final do
século passado, são de fato impressionantes:
• Uma muralha de mais de vinte e dois quilômetros
de comprimento e 42 metros de largura, que circundava
a parte principal da cidade.
39. Babilônia, o Primeiro Império Mundial 43
• Muitas portas, sendo a mais impressionante de-
las a de Istar, com seus 575 dragões, touros, e leões
esmaltados.
י A “rua processional”, que entrava na cidade pela
porta de Istar ao norte, passava pelo palácio real, e a
seguir atravessava diretamente a parte principal da ci-
dade até o templo de Marduque, que detinha 0 título de
“O Criador e Rei do Universo”.
• O magnífico palácio decorado de Nabucodonosor,
com seu salão, onde se encontrava o trono e um salão
para banquetes medindo 17 metros de largura por 51
metros de comprimento.
• A base e 0 contorno da Torre de Babel, conhecida
como E-Temen-an-ki, (a casa da plataforma, base do céu e
da terra), a qual supõe-se tenha sido as ruínas da
infortunada torre referida no livro de Gênesis.
• As grandes ruínas de uma área quadrangular,
compostas de criptas abobadadas ou sótãos reforçados
com arcos de ladrilho, e cobertas de terras e escombros.
Os escavadores acreditam que essas ruínas são os res-
tos da estrutura da base dos famosos Jardins Suspensos
— uma das sete maravilhas do mundo Antigo.
י Cerca de trezentos tabletes cuneiformes que rela-
tavam principalmente a distribuição de azeite e cevada
aos cativos e aos trabalhadores especializados, proce-
dentes de muitas nações que viviam em Babilônia e seus
arredores, entre os anos 595 e 570 a.C.6
Tão assombrosamente fecundo era esse país que
Heródoto evita relatar tudo que vira em Babilônia, temen-
do não ser acreditado. De fato, essa grande metrópole in-
ventou um alfabeto, resolveu problemas de aritmética,
inventou instrumentos para medição do tempo, descobriu
a arte de polir, gravar e perfurar pedras preciosas; alcan-
çou grande progresso nas artes têxteis, aprendeu a re-
produzir fielmente os contornos de homens e animais, es-
40. 44 Manual de Profecia Bíblica
tudou com êxito o movimento dos astros, concebeu a idéia
da gramática como ciência e elaborou um sistema de leis
civis. Em grande parte, a cultura dos gregos provinha de
Babilônia.
Há outras profecias relacionadas com o império
Babilônico em Daniel:
Quatro animais grandes, diferentes uns dos outros,
subiam do mar. O primeiro era como leão, e tinha asas
de águia. Eu olhei até que lhe foram arrancadas as asas,
e foi levantado da terra, e posto em pé como um homem,
e foi-lhe dado um coração de homem (7:3-4).
Geralmente, em textos proféticos (especialmente de
Daniel), animais simbolizam reinos: leão (Babilônia),
Daniel 7:4: urso e carneiro (o reino unido da Média e da
Pérsia), Daniel 7:5; 8:3,20: leopardo e bode (Grécia),
Daniel 7:6; 8:5,21; animal terrível e espantoso, com dez
chifres (Roma), Daniel 7:7; Apocalipse 17:3. Mar ou águas
simbolizam povos, Daniel 7:3; Apocalipse 17:5; ventos
representam guerras, Jeremias 4:11; 25:32; Hc 1:11.
Asas, rapidez, Daniel 7:4; Habacuque 1:6-8. Chifres ou
pontas, reinos, Daniel 7:7,24; 8:7-9. Braços significam
ajuda, exércitos, Daniel 11:31.
Acerca dos caldeus, eis o que registram outros profetas:
Já um leão subiu da sua ramada; um destruidor das
nações se pôs em marcha. Ele já partiu, e saiu do seu
lugar para fazer da tua terra uma desolação, a fim de
que as tuas cidades sejam destruídas, e ninguém nelas
habite (Jeremias 4:7). Suscito os caldeus, nação feroz e
impetuosa, que marcha sobre a largura da terra, para se
apoderar de moradas que não são suas. Ela é terrível e
pavorosa; dela mesma sai 0 seu juízo e a sua dignidade.
Os seus cavalos são mais ligeiros do que os leopardos, e
mais ferozes do que os lobos à tarde. Os seus cavaleiros
espalham-se por toda a parte; os seus cavaleiros vêm de
41. Babilônia, o Primeiro Império Mundial 45
longe. Voam como águia que se apressa a devorar
(Habacuque 1:6-8).
Assim diz o Senhor: Vede! Ele voa como a águia, e
estende as suas asas sobre Moabe (Jeremias 48:40). As-
sim diz 0 Senhor Deus: Uma grande águia, de grandes
asas, de farta plumagem, cheia de penas de várias cores,
veio ao Líbano e levou 0 mais alto ramo de um cedro
(Ezequiel 17:3).
Ao referir-se a Nabucodonosor, um escritor disse que
o império era ele, e ele era 0 império:
Como supremo e absoluto, sua corte não era mais
que mera fantasia; seus cortesões nada pesavam nas
decisões que ele tomava. Era 0 tudo, a majestade su-
prema dum cetro que cobria vitorioso inteiramente 0
orbe conhecido e habitado. Além disso, desempenhou
Nabucodonosor uma administração que conservou as
nações todas em harmonia, bem como sob completa
segurança e proteção. E, mais ainda, jamais a história
registrou um soberano político no trono do mundo mai-
or do que ele. Ele a todos sobrepujou em glória, gran-
deza e majestade. Assim, achou por bem Deus, que
lhe dera todo o poder e a glória de que era senhor,
honrá-lo no símbolo da cabeça de “ouro fino” da está-
tua de seu impressionante sonho inspirado, ainda que
ela representasse com toda a evidência o império caldeu
neobabilõnico.
E é surpreendente notar que a interpretação de
Daniel ignorou por completo, não somente os reis que
precederam Nabucodonosor no trono de Babilônia como
também os que lhe sucederam. Sim, só ele foi levado
em alta conta pelo Céu naquele trono do mundo. Todos
os demais que ali se assentaram, praticamente nada
representam aos olhos daquEle que é a suprema auto-
ridade na terra e no céu. Em toda a terra e em toda a
história não houve outro potentado que governasse o
mundo tão a contento de Deus.7
42. 46 Manual de Profecia Bíblica
Os babilônios mantiveram 0 domínio mundial desde
612 a.C., quando Nínive, a capital dos assírios, foi toma-
da por Nabopolassar. Esse primeiro império durou até
15 de outubro de 539 a.C., pois no dia seguinte os medo-
persas assumiram a supremacia mundial.
43. 4
0 Simbolico
Urso Destruidor
Coligados, os medos e persas venceram os caldeus
eform aram um vasto império, porém, inferior ao de
Babilônia, como previu Daniel.
44. ando seqüência à interpretação do sonho
de Nabucodonosor, disse Daniel: “Depois
de ti se levantará outro reino, inferior ao
teu” (Daniel 2:39). Esse segundo império está simboliza-
do na estátua pelo peito e braços de prata, metal inferior
ao ouro.
Na visão dos animais, Daniel viu o segundo governo
"semelhante a um urso, o qual se levantou de um lado,
tendo na boca três costelas entre os dentes, e foi-lhe dito:
Levanta-te, devora muita carne”(Daniel 7:5).
Embora 0 urso não seja 0 rei dos animais, atinge maior
estatura e peso que o leão. Diz-se que sua maior espécie foi
encontrada na Média, país montanhoso, acidentado e frio.
Os seus 42 dentes, as suas formidáveis e grandes garras
aguçadas, 0 seu grande peso, a sua coragem e a sua astú-
cia, fazem-no grandemente terrível. No que respeito à sua
crueldade, ferocidade e sede de sangue, não tem rival. Ao
andar, não rapidamente, senta a planta do pé no chão (ao
contrário dos pés do cachorro e do leão), dando a impres-
são de amassar tudo onde que quer pise ou passe, como se
fora um rolo compressor que tudo arrasa.
É em seus pés que reside a sua maior força de domí-
nio e destruição... Assim, seu tríplice poder, concentrado
em seu peso, sua boca e seus pés, faz do urso o segundo
em seu reino, só vencido pelo leão após renhida batalha.
Não podendo 0 urso ser 0 rei dos quadrúpedes, parece
pretender sê-lo. Não alcançando, todavia, supremacia ab-
soluta, é obrigado a cometer destruição para impor-se,
como se supremo fora, sem contudo lograr o seu objetivo.
45. 50 Manual de Profecia Bíblica
Neste terrível animal carniceiro e destruidor, fora 0 impé-
rio Medo-Persa figurado pela revelação.8
De fato, os soberanos medo-persas, inábeis para go-
vernar o mundo, cometeram as maiores e mais vis atro-
cidades. Em suas conquistas procuraram vencer, não
mediante categorias bélicas, mas pela avalanche de suas
tropas, daí o massacre a quaisquer povos que lhes opu-
sessem a menor resistência. Somente para o transporte
de víveres, usavam os persas uma frota de 1.200 barcos,
com uma tripulação de 300 mil homens!
Os exércitos medo-persas passaram à história como
profundamente sanguinários, devoradores de muita car-
ne, conforme anunciava a profecia. Afirma-se que Tomires,
rainha dos citas, mandou cortar a cabeça de Ciro e mer-
gulhou-a num odre cheio de sangue humano, dizendo:
“Farta-te de sangue, de que sempre viveste sequioso”.
As três costelas entre os dentes do urso, bem como
as três direções em que 0 carneiro dava marradas, signi-
ficam as três primeiras presas: Babilônia, Egito e Lídia
(Daniel 8:4).
O CARNEIRO COM DOIS CHIFRES
Mais adiante o profeta vê 0 mesmo império na figura
de outro animal:
No terceiro ano do reinado do rei Belsazar apareceu-
-me uma visão, a mim, Daniel, depois daquela que me apa-
receu no princípio. Na visão que tive, vi que eu estava na
cidadela de Susã, na província de Elão; na visão eu estava
junto ao rio Ulai. Levantei os olhos, e vi um carneiro que
estava diante do rio, 0 qual tinha dois chifres, e os dois
chifres eram altos. Um dos chifres era mais alto do que 0
outro, e 0 mais alto subiu por último. Vi que 0 carneiro
dava marradas para 0 ocidente, para 0 norte e para 0 sul.
46. O Simbólico Urso Destruidor 5 1
Nenhum animal podia estar diante dele, nem havia quem
pudesse livrar-se das suas mãos. Ele fazia conforme a sua
vontade, e se engrandecia (Daniel 8:1-4).
Esta visão do carneiro Daniel teve por volta do ano 553
a.C., cerca de 14 anos antes da queda de Babilônia. É signi-
licativo que o profeta se achasse em Susã, a capital da Pérsia,
pois a visão relacionava-se diretamente com os persas.
Trazendo mais luzes sobre as visões anteriores, da
segunda parte da estátua e do urso, o carneiro apre-
senta-se com dois chifres, símbolos da Média e da
Pérsia. O fato de a mais alta subir por último significa
que Dario, embora tenha primeiramente ocupado 0 tro-
no, perdeu-0 para Ciro na batalha de Passargade, 0
que elevou os persas sobre os medos: “Um dos chifres
era mais alto do que o outro, e o mais alto subiu por
último” (Daniel 8:3).
Na explicação dada pelo anjo a Daniel não há qual-
quer dúvida: “Aquele carneiro que viste com dois chifres
são os reis da Média e da Pérsia” (Daniel 8:20).
BELSAZAR E A QUEDA DE BABILÔNIA
No ano 539 a.C., na mesma noite em que Belsazar
banqueteava-se com mil de seus grandes e dava lou-
vores aos deuses pagãos, profanando os vasos sagra-
dos do templo de Salomão, caiu 0 império babilônico.
A sentença divina na caiadura da parede: “Mene,
Mene, Tequel Ufarsim”, cumpriu-se horas depois de
explicada por Daniel. Mene: Contou Deus o teu reino,
e o acabou. Tequel: Pesado foste na balança, e foste
achado em falta. Peres: Dividido foi.o teu reino, e deu-
se aos medos e aos persas (Daniel 5:25-28). “Naquela
mesma noite foi morto Belsazar, rei dos caldeus, e
Dario, o medo, ocupou o reino, com a idade de ses-
senta e dois anos” (Daniel 5:30-31).
47. 52 Manual de Profecia Bíblica
Há uma interessante nota na Bíblia de Figueiredo,
versão clássica, acerca da filiação de Belsazar, nome que
também pode ser grafado como Baltasar.
O rei Baltasar é, segundo a opinião mais provável, o
filho do último rei de Babilónia, Nabonide; pelo menos
Nabonide, nas suas inscrições, diz-nos que teve um filho
chamado Baltasar. Este último não era rei, mas exercia
o poder supremo, porque o seu pai o tinha associado ao
governo e recomendara-lhe a defesa de Babilónia, de onde
estava ausente por ocasião do cerco de Ciro.
Os racionalistas têm se servido da história de Baltasar.
Contudo, as descobertas modernas referem-se à existên
cia do filho de Nabonide, por nome Baltasar, ao contrário
do que sustentou Halevy, que entendia que Nabonide e
Baltasar eram uma só pessoa... Os cilindros de Nabonide,
em argila, encontrados em Mugheir, a antiga Ur, nos qua
tro ângulos do Templo de Sim (a Lua), hoje existentes no
Museu Britânico, claramente referem a existência de um
filho de Nabonide, Baltasar, Bei-sar-usur, filho do rei.
Assim sabemos acerca de Baltasar o seguinte: pelas ins
crições, que o filho primogénito de Nabonide se chamava
Baltasar; porXenofonte, que Nabonide nãovoltou a Babilónia
depoisdasuadestruição, refugiando-seemBorsipa;porDaniel,
que Baltasar governavaem Babilónia, como sendo opersona
gem do governo. Pode desejar-se acordo mais completo entre
testemunhos provenientes de origens tão diversas?
CIRO, O UNGIDO DE DEUS
Pelo menos uns duzentos anos antes de os persas
surgirem no cenário mundial, seus famosos reis já esta
vam profetizados na Bíblia:
[Eu sou oSenhor] que digode Ciro: Émeu pastor, e cum
prirá tudo o que me apraz; ele dirá de Jerusalém: Ela será
reedificada, e dotemplo: Será fundado. Assimdizo Senhor ao
48. O Simbólico Urso Destruidor 53
seu ungido, a Ciro, a quemtomopelamão direita, para abater
as nações diante de sua face, e descingir os lombos dos reis,
para abrir diante dele as portas, e as portas não se fecharão:
Eu ireiadiante deti, e endireitareioscaminhostortos; que
brarei as portas debronze, e despedaçarei os ferrolhosde ferro.
Dar-te-ei os tesouros das trevas, eas riquezas encobertas, para
que possas saber que eu sou oSenhor, oDeus de Israel, que te
chamapeloteu nome. Poramor demeu serroJacó, ede Israel,
meu eleito, eu techamopeloteu nome, ponho-teoteu sobreno
me, ainda que não me conheces (Isaías44:28; 45:1-4).
Acerca dessa interessante profecia, observa o Dr.
Scofield:
Este é o único caso em que a palavra ungido, em união
com a expressão meu pastor, que é também um título
messiânico, assinala Ciro como a assombrosa exceção de
que um gentio seja tipo de Cristo. Os pontos de comparação
são os seguintes: ambos, Cristo e Ciro, são conquistadores
dos inimigos de Israel (Isaías 45:1; Apocalipse 19:19-21);
ambos restauram a cidade santa (Isaías 44:28; Zacarias
14:11); por meio de ambos o nome do único Deus verdadei
ro é glorificado (Isaías 45:6; 1Coríntios 15:28).
Com Ciro inaugurou-se uma nova política em relação
aos povos conquistados. Apesar da crueldade com que lida
va com seus inimigos, Ciro tratou seus súditos com consi
deração, conquistando-os como amigos. Por seus famosos
decretos, promulgados no segundo ano de seu governo, per
mitiu a volta de todos os povos às suas próprias terras. Pa
rece que, de modo especial, o famoso imperador dos persas
favoreceu os judeus, concedendo-lhes generosa ajuda.
CAMPANHAS CONTRA OS GREGOS
O capítulo onze de Daniel tem sido dividido, para efei
to de estudos, em quatro partes:
• Versos 1-4, osreisda Pérsiaeoterceiroimpério até a sua
divisão em quatro partes, após a morte deAlexandre, oGrande;
49. 54 Manual de Profecia Bíblica
• Versos 5-20, os reis do Norte e do Sul (Síria e Egito);
• Versos 21-35, o reinado de Antíoco Epifânio;
• Versos 36-45, o Anticristo, no final dos tempos.
A primeira parte, de que nos ocupamos aqui, abrange
o período de 539 a.C., desde a tomada de Babilónia pelos
medos e persas, até 424 a.C., quando faleceu Artaxerxes
Longímanos. O texto bíblico diz: “Ainda três reis se levan
tarão na Pérsia, e o quarto será cumulado de grandes ri
quezas mais do que todos. E, tendo-se fortalecido por meio
das suas riquezas, agitará a todos contra o reino da Grécia.
Os reis mencionados nesse texto foram Cambises,
Pseudo Smerdis e Dario Histaspes, considerando que a vi
são fora dada no ano terceiro de Cri, conforme Daniel 10:1.
O quarto rei foi Xerxes I, imensamente rico, que invadiu a
Grécia nos anos 483 a 480, conhecido no livro de Ester
como Assuero. Tanto a Bíblia como a história grega falam
dele como sendo homem sensual, devasso, déspota, insidi
oso e cruel. Assuero ocupou o trono no ano 486.
De acordo com John D. Davis, no segundo ano de
seu reinado subjugou os egípcios que se haviam revolta
do contra Dario, e quatro anos mais tarde preparou um
imenso exército e invadiu a Grécia, mas foi obrigado a
retroceder depois da batalha de Salamina, onde a sua
esquadra foi aniquilada por uma pequena frota grega em
480 a.C. A mãe de Xerxes, Atossa, era filha de Ciro.
Convém salientar que o Assuero que aparece em
Esdras 4:6 não é o mesmo de Ester, mas sim Cambises,
que reinou de 529 a 521 a.C. É também o mesmo Cambises
quem aparece em Esdras 4:7 com o nome de Artaxerxes.
O que aparece em Esdras 7:1, já ao tempo de Esdras, por
volta de 458 a.C., é Artaxerxes Longímanos, o que permi
tiu a Esdras e Neemias levarem um grande número de
judeus de volta a Jerusalém e reconstruírem as muralhas
da cidade santa, (Esdras 7:11-28). Ele o último impera
dor persa mencionado no Antigo Testamento.
50. 5
0 Rei Valente
e seu Sonho Dourado
Um reino sem fronteiras, sem guerras e sem crises
económicas, tal como sonhou Alexandre, somente
será realidade quando o Messias reinar.
51. eferindo-se ao reino grego, anunciou o
profeta: “E um terceiro reino, de bron
ze, o qual terá domínio sobre toda a ter
ra (Daniel 2:39b).
Nos capítulos 7 e 8 de Daniel, lemos:
Depois disto, continuei olhando, e vi outro animal,
semelhante a um leopardo, e tinha quatro asas de ave
nas costas. Este animal tinha quatro cabeças, e foi-lhe
dado domínio...
Estando eu considerando, vi que um bode vinha do
ocidente sobre toda a terra, mas sem tocar no chão, e
aquele bode tinha um chifre notável entre os olhos.
Dirigiu-se ao carneiro que tinha os dois chifres, ao qual
eu tinha visto diante do rio, e correu contra ele no furor
da sua força. Vi-o chegar perto do carneiro, e, irritado
contra ele, o feriu e lhe quebrou os dois chifres, pois não
havia força no carneiro para lhe resistir: em seguida o
bode o lançou por terra e o pisou aos pés, e não houve
quem pudesse livrar o carneiro do seu poder.
O bode se engrandeceu sobremaneira; estando, po
rém, na sua maior força, aquele grande chifre foi que
brado, e subiram no seu lugar quatro também notáveis,
para os quatro ventos do céu (Daniel 7:6; 8:5-8).
É interessante notar que, assim como o leão foi o
animal adotado pelos babilónicos como o símbolo de seu
império, o bode serviu para identificar o poderio grego,
como emblema do poder real.
52. 58 Manual de Profecia Bíblica
O bode é muito apropriadamente típico do império
grego ou macedônio, porque os macedônios, a princípio,
mais ou menos 200 anos antes de Daniel, eram chama
dos aegeadae, ou povo do bode; e, nessa ocasião, como
referem autores pagãos, Caranus, seu primeiro rei, indo
com uma grande multidão de gregos à procura de novas
habitações na Macedonia, foi mandado pelo oráculo to
mar os bodes como seus guias para o império, e, mais
tarde, vendo um rebanho de bodes a fugir de uma vio
lenta tempestade, seguiu-os até Edessa, e ali fixou a sede
do seu império; fez dos bodes suas insígnias ou estan
dartes, e chamou a cidade Aegeae, ou “cidade do bode”.
Esta observação é semelhantemente devida ao
excelentíssimo Sr. Mede; e a isto pode-se acrescentar que
a cidade Aegeae, ou Aegae, foi o lugar de sepultamento
usual dos reis macedônios. É também muito notável que
o filho de Alexandre, de Roxama, chamou-se Alexandre
Aegus, ou “filho do bode”; e alguns dos sucessores de
Alexandre são representados em suas moedas com chi
fres de bode.9
Outros importantes testemunhos acerca do bode
como símbolo dos gregos estão no Museu Britânico. As
moedas macedônias, de cerca de 25 séculos, trazem no
seu reverso a figura de um bode. Também na mitologia
grega aparece o deus Pan, filho de Hermes e da ninfa
Dryope, representado com chifres, corpo e pés de bode
da cintura para baixo. Finalmente, o mar Egeu, que ba
nha a Macedonia e a Grécia, significa mar do bode.
O império grego está representado pelo ventre e co
xas de cobre, pelo leopardo com quatro asas e pelo bode
que vinha do Ocidente sem tocar no chão, o qual tinha
uma ponta notável entre os olhos. As asas falam da rapi
dez das conquistas de Alexandre, o bode que partiu do
Ocidente “sem tocar no chão”. O serem quatro asas sig
nifica o desmembramento do império em quatro dinasti
as independentes.
53. O Rei Valente e seu Sonho Dourado 59
A mesma significação têm as quatro cabeças do leo
pardo e as quatro pontas que se levantam do bode, ao
cair-lhe a primeira, a grande ponta. A Palavra de Deus é
claríssima: “Mas o bode peludo é o rei da Grécia, e o
chifre grande que tinha entre os olhos é o primeiro rei. O
ler sido quebrado, levantando-se quatro em seu lugar,
significa que quatro reinos se levantarão da mesma na
ção, mas não com a força dele” (Daniel 8:21-22).
CARTAS FAMOSAS
Ficou célebre a correspondência trocada entre Ale
xandre e Dario III, tam bém conhecido por Dario
Codomano, filho de Artaxerxes II, o qual começou a rei
nar no mesmo ano que Alexandre, ou seja, em 336 a.C.
A primeira carta de Dario a Alexandre diz o seguinte:
Desta capital dos reis da terra: Enquanto o sol bri
lhar sobre a cabeça de Iskander Alexandre, o salteador
etc. etc., saiba ele que o Rei dos Céus me outorgou o
domínio da terra, e que oTodo-Poderoso me concedeu os
quatro quartos da superfície dela. Distinguiu-me outros-
sim a providência com a dignidade, a majestade e a gló
ria, e com um sem conta de campeões e confederados.
Chegou ao nosso conhecimento que reunistes uma
corja de ladrões e réprobos, a multidão dos quais a tal
ponto vos escaldou a imaginação que vos propusestes,
com a ajuda deles, disputar a coroa e o trono, devastar o
nosso reino e destruir o nosso país e o nosso povo.
Tais resoluções são, em sua crueldade, perfeitamente
consistentes com a fatuidade dos homens de Room. Mas,
é melhor para o vosso bem que, ao lerdes estas linhas
regresseis imediatamente do lugar até onde chegastes.
Quanto ao vosso movimento criminoso, não tenhais
receio da nossa majestade e punição, pois não entrastes
ainda para o número daqueles que nos merecem vingan
ça ou castigo. Olhai bem! Mando-vos um cofre cheio de
ouro e um burro carregado de sésamo no propósito de
54. 60 Manual de Profecia Bíblica
dar-vos uma idéia da extensão da minha riqueza e poder.
Mando-vos também um chicote e uma bola: a última para
que vos entretenhais com um brinquedo próprio da vossa
idade; o primeiro para servir ao vosso castigo.
Ao receber essa carta, ordenou Alexandre que fos
sem presos e executados os embaixadores que a tinham
trazido. Mas estes lhe suplicaram misericórdia e foram
finalmente atendidos. Regressaram para o seu país le
vando a seguinte resposta de Alexandre a Dario:
De Su-ul-Kurnain Alexandre àquele que pretende ser
o rei dos reis; que se julga temido pelas próprias hostes
celestes; e que se considera a luz de todos os habitantes
do mundo! Como se pode então dignar tão alta pessoa de
temer um inimigo tão desprezível como Iskander?
Não saberá Dará Dario que o Senhor Onipotente ou
torga poder e domínio a quem bem lhe apraz? E também
que quando um fraco mortal se julga um deus e vence
dor das hostes celestes a indignação do Todo-Poderoso
lhe reduz a ruína o reino?
Como pode um indivíduo destinado à morte e à de
composição ser um deus, ele a quem lhe tomam o reino e
que deixa para outros os prazeres deste mundo?
Olhai! Decidi travar batalha convosco e para isso mar
cho na direção de vossas terras. Confesso-me fraco e hu
milde servo de Deus, a quem ofereço as minhas preces
para que me conceda a vitória e o triunfo, e a quem adoro.
Com a carta em que fizestes tamanho alarde dos
vossos poderes e me enviastes um chicote, uma bola,
um cofre cheio de ouro e um burro carregado de sésamo;
tudo isso agradeço à boa fortuna e considero como si
nais auspiciosos. O chicote significa que serei o instru
mento do vosso castigo e me tornarei o vosso governa
dor, preceptor e diretor. A bola indica que a superfície
da terra e a circunferência do globo obedecerão ao lu
gar-tenentes. Ocofre de ouro, que é uma parte do vosso
tesouro, denota que as vossas riquezas me serão
55. O Rei Valente e seu Sonho Dourado 61
transferidas muito breve. E quanto ao sésamo, embora
os seus grãos sejam tão numerosos, todavia é macio ao
tato e de todos os géneros de alimento o menos nocivo e
desagradável.
Em retribuição vos envio um saco de mostarda para
provardes e reconhecerdes o amargor da minha vitó
ria. E não obstante vos terdes exaltado com tamanha
presunção, soberbo da grandeza do vosso reino e pre
tendendo ser uma divindade na terra, ousando mesmo
comparar-vos à majestade celeste, eu verdadeiramen
te é que sou vosso senhor supremo; e embora vos
tenhais esforçado por me alarmar com a enumeração
do vosso poder e dos vossos recursos em homens e
armas; todavia confio na intervenção da Divina Provi
dência que hei de ver a vossa jactância reprovada por
todo o género humano; e que na mesma proporção em
que vos exaltastes vos humilhará o Senhor e me con
cederá a vitória sobre vós. No Senhor está a minha fé e
a minha confiança. Adeus!
Depois da troca dessas cartas, os dois exércitos se
defrontaram em Faristã, onde os persas sofreram
fragorosa derrota. Dario fugiu para além do Eufrates, e
foi reunir um exército ainda mais numeroso. Tentou ne
gociar com Alexandre, oferecendo-lhe pela paz a metade
do seu reino, mas Alexandre, contra a opinião de seus
generais, preferiu arriscar as suas tropas em nova bata
lha e ganhar toda a Pérsia. Eis a resposta que mandou à
proposta de Dario:
Dario:
Dario (Dario, oGrande, derrotado emMaratona), (Dario,
o Grande, por cujo nome sois chamado) devastou, se a his
tória diz a verdade, todas as cidades gregas da costa do
Helesponto; todas as colónias jónias deste lado. Nem se
contentou ele com isso, mas, atravessando o mar com um
vasto exército, executou uma segunda invasão; sendo, po
56. 62 Manual de Profecia Bíblica
rém, vencido no mar, retirou-se, deixando lá o general
Mardônio, o qual em sua ausência deveria saquear toda a
Grécia, talar-lhe os férteis campos e arrasar-lhe as flores
centes cidades.
Acrescente-se a isso a morte de meu pai Felipe, cujos
assassinos corrompestes e subornastes vilmente coma pro
messa de grande soma em dinheiro.
Assimcomeçaisumaguerraeassimcovardementealevais
avante, tentando assassinar aqueles que tremeis de encon
trar no campo debatalha; testemunho disso são os mil talen
tos que oferecestes a quem quisesse ser o meu assassino,
mesmo quando estáveis conduzindo contra mim um tama
nho exército. Por conseguinte, a guerra em que estou atual-
mente empenhado é em minha própria defesa; e os deuses,
dando o triunfo às minhas armas e permitindo-me conquis
tar grande parte dovosso império, manifestaram ajustiça da
minha causa. Bati-vos no campo da luta; e, embora não me
sinta obrigado pela honra nem pela gratidão a atender-vos
no que quer que seja, todavia vos prometo, se vierdes a mim
da maneira que exige a vossa condição, darei liberdade a vos
saesposaeavossosfilhos, mesmosemnenhumpenhor. Como
conquistador levastes uma lição; vereis ainda como sei tratar
comhonra aqueles a quem venço. Se no entanto duvidais de
vossa segurança aqui, prometo-vos que tereis uma escolta
para vos guardar de qualquer atentado.
Entrementes, toda vez que tiverdes ocasião de escre
ver a Alexandre, lembrai-vos de que vos dirigis a quem não
somente é rei, mas também o vosso rei.1
0
Finalmente, em 21 de setembro de 331 a.C., aprovei-
tando-se de um eclipse lunar, o exército macedônio, co
mandado por Alexandre, atravessou o Tigre, e de novo a
Grécia e a Pérsia se defrontaram em Arbela (ou Gaugamela)
numa das batalhas decisivas da História. Novamente, a
vitória coube a Alexandre, e desta vez lhe trouxe, na idade
de vinte e cinco anos, a supremacia indisputável sobre a
maior parte do mundo então conhecido. Mais uma vez em
fuga, Dario foi morto por um dos seus sátrapas.
57. O Rei Valente e seu Sonho Dourado 63
O SONHO DE ALEXANDRE
Alexandre Magno nasceu era Pela, em 356 a.C. e mor
reu em Babilónia, em 323 a.C. Filho de Felipe II e Olímpia,
assume o trono em 336 a.C., após o assassinato do pai, e
um ano depois, no Congresso Pan-helênico de Corinto, é
aclamado general de todas as forças gregas.
Com um exército de 35.000 infantes, 5.000 cavaleiros
c uma frota de 169 navios, vence o exército persa às mar
gens do rio Granico, ocupa a Frigia, em cuja capital, Górdio,
corta um nó complicado que, segundo a tradição, daria a
quem o desembaraçasse o império da Ásia. Em 333, na
planície de Isso, vence novamente os persas. A caminho do
Egito, Tiro e Gaza são vencidas e arrasadas. É recebido no
Egito como filho dos faraós; funda a cidade de Alexandria
no delta do Nilo e ataca os exércitos do rei persa Dario III
em Arbela (ou Gaugamela), no ano 331, derrotando defini
tivamente o império Medo-Persa. Cumprindo a profecia
bíblica, que previa para o terceiro reino um “domínio sobre
toda a terra”, em 327 a.C., após a conquista do Oriente
Médio e do Norte da África, invade a índia.
Alexandre, entre os 13 e 16 anos de idade, teve como
mestre o famoso Aristóteles, que lhe despertou o inte
resse para a Filosofia, a Medicina e a investigação cientí
fica. Oseu grande mérito foi o de unificar o mundo grego
e difundir o helenismo, criando assim um mundo novo.
Com sua forte personalidade, Alexandre Magno passou
à História como o mais famoso conquistador da antigui
dade. Reinou 12 anos e oito meses. Faleceu aos 33 anos,
vítima de uma febre violenta, após prolongado banquete
e muita bebida. Dele disse Orlando Boyer:
Elejá estava à porta de qualquer cidade para conquistá-
la, antes mesmo de alguém saber que tinha saído de seu
palácio... Alexandre tinha o grande alvo de fazer do mundo
inteiro uma só nação, a Alexandrilândia. Não poderia ha-
58. 64 Manual de Profecia Bíblica
ver mais guerras nem carestia, porque não haveria mais
estrangeiros nem fronteiras, e todos os homens, assim,
podiam gozar paz e prosperidade. (Era o seu sonho doura
do, mas só há um que pode realizá-lo: Jesus Cristo) Ale
xandre, ainda muito novo, dominou omundo inteiro e cho
rou porque não havia outros reinos a conquistar!"
ALEXANDRE E OS JUDEUS
A grande ponta do bode significa não o primeiro mo
narca, mas o primeiro reino dominado sucessivamente
por Alexandre Magno, por seu irmão Arideu e por seus
dois filhos, Alexandre e Hércules. Já o “rei valente” de
Daniel 11:3-4 aponta para o primeiro imperador da
Grécia, Alexandre. Este fez do povo judeu o alvo de sua
especial consideração, pois, ao aproximar-se de Jerusa
lém, o sumo sacerdote saiu-lhe ao encontro mostrando
as profecias bíblicas que indicavam o triunfo dos gregos
sobre os medo-persas e, especialmente, o papel que o
grande general macedônio deveria cumprir no plano di
vino. Vejamos o que registrou o grande historiador ju
deu, Flávio Josefo:
Quando se soube que ele já estava perto, o Grão-
sacrificador (o sumo sacerdote) acompanhado pelos ou
tros sacrificadores e por todo o povo, foi ao seu encontro,
com essa pompa tão santa e tão diferente da das outras
nações, até o lugar denominado Sapha, que em grego
significa mirante, porque de lá se podem ver a cidade de
Jerusalém e otemplo. Os fenícios e os caldeus, que esta
vam no exército de Alexandre, não duvidaram de que na
cólera em que ele se achava contra os judeus ele lhes
permitiria saquear Jerusalém e daria um castigo exem
plar ao Grão-sacrificador.
Mas aconteceu justamente o contrário, pois o sobe
rano apenas viu aquela grande multidão de homens ves
tidos de branco, os sacrificadores revestidos com seus
59. O Rei Valente e seu Sonho Dourado 65
paramentos de linho e o Grão-sacrificador, com seu éfode,
de cor azul adornado de ouro e a tiara sobre a cabeça,
com uma lâmina de ouro sobre a qual estava escrito o
nome de Deus, aproximou-se sozinho dele, adorou aquele
augusto nome e saudou o Grão-sacrificador, ao qual nin
guém ainda havia saudado. Então os judeus reuniram-
se em redor de Alexandre e elevaram a voz, para desejar-
lhe toda a sorte de felicidade e de prosperidade. Mas os
reis da Síria e os outros grandes, que o acompanhavam,
ficaram surpresos de tal espanto, que julgaram que ele
tinha perdido o juízo. Parmênio, que gozava de grande
prestígio, perguntou-lhe como ele, que era adorado em
todo o mundo, adorava o Grão-sacrificador dos judeus.
“Não é a ele”, respondeu Alexandre, “ao Grão-
sacrificador, que eu adoro, mas é a Deus de quem ele é
ministro. Pois quando eu ainda estava na Macedonia e
imaginava como poderia conquistar a Ásia, Deus me apa
receu em sonhos com esses mesmos hábitos e me exor
tou a nada temer. Disse-me que passasse corajosamente
o estreito do Helesponto e garantiu-me que ele estaria à
frente do meu exército e me faria conquistar o império
dos persas. Eis por que jamais tenho visto antes a nin
guém vestido de trajes semelhantes àquele com que ele
me apareceu em sonho. Não posso duvidar de que foi por
ordem de Deus que empreendi esta guerra, e assim ven
cerei a Dario, destruirei o império dos persas e todas as
coisas suceder-me-ão segundo os meus desejos”.
Alexandre, depois de ter assim respondido a Parmênio,
abraçou o Grão-sacrificador e os outros sacrificadores;
caminhou depois no meio deles até Jerusalém, subiu ao
templo, ofereceu sacrifícios a Deus da maneira como o
Grão-sacrificador lhe dissera fazer. O Soberano Pontífice
mostrou-lhe em seguida o livro de Daniel, no qual estava
escrito que um príncipe grego destruiria o império dos
persas e disse-lhe que não duvidava de que era ele a quem
a profecia fazia menção. Alexandre ficou contente; no dia
seguinte, mandou reunir o povo e ordenou-lhe que dis
sesse que favores desejava receber dele.
60. 66 Manual de Profecia Bíblica
Falando pelo povo, o Grão-sacrificador respondeu-
lhe que eles lhe suplicavam permitir-lhes viver segundo
as leis deles e as leis de seus antepassados, e isentá-los
no sétimo ano do tributo, o qual lhe pagariam durante os
outros seis anos. Ele concedeu-lhes. Tendo-lhe ainda,
eles pedido que os judeus que moravam em Babilónia e
na Média gozassem dos mesmos favores, Alexandre opro
meteu com grande bondade, e disse que se alguns dese
jassem servir no exército grego, ele permitiria que os cons-
critos vivessem segundo a própria religião e costumes.
Vários então se alistaram.1
2
OS QUATRO REINOS QUE SE
REDUZIRAM A DOIS
No capítulo 11 de Daniel, versos 3 e 4, as profecias
acerca de Alexandre complementam as anteriores: “De
pois se levantará um rei valente, que reinará com grande
domínio, e fará o que lhe aprouver. Mas, estando ele em
pé, o seu reino será quebrado, e será repartido para os
quatro ventos do céu. Não passará à sua posteridade, nem
terá o mesmo poder com que reinou, porque o seu reino
será arrancado, e passará a outros”.
Os “quatro ventos do céu” são as quatro dinastias in
dependentes em que se dividiu o império de Alexandre, em
301 a.C., na batalha de Ipsus: Ptolomeu, filho de Lago, no
Sul, ficou com o Egito e mais tarde obteve Chipre;
Cassandro, no Oeste, ficou com a Macedonia, Tessalia e
Grécia; Selêuco Nicanor, no Leste, com Babilónia, Síria e
todo o Oriente; Lisímaco, no Norte, reinou sobre a Trácia e
a Capadócia.
Os versos 5 e 20, do capítulo 11, de Daniel, falam de
uma guerra prolongada entre os reis da Síria e do Egito. O
primeiro desses versos é assim explicado por Sir Isac Newton:
Demétrio, filho de Antígono, conservou apenas uma
pequena parte dos domínios paternos, e por fim perdeu
61. O Rei Valente e seu Sonho Dourado 67
Chipre para Ptolomeu. Mas depois do assassinato de Ale
xandre, filho e sucessor de Cassandro, rei da Macedonia,
Demétrio apoderou-se desse reino no ano de 454 de
Nabonassar (294 a.C.). Algum tempo depois, quando pre
parava um grande exército para reconquistar os domíni
os de seu pai na Ásia, Selêuco, Ptolomeu, Lisímaco e Pirro,
rei do Épiro, ligaram-se contra ele, invadindo a
Macedonia, corromperam o exército de Demétrio, pondo
o rei em fuga. Em seguida, apoderaram-se do seu reino e
o dividiram com Lisímaco. Sete meses após, Lisímaco
venceu a Pirro, tomou-lhe a Macedonia e a susteve du
rante cinco anos e meio, unindo-a ao reino de Trácia.
Em suas guerras contra Antígono e Demétrio,
Lisímaco lhes havia tomado a Cária, a Lídia e a Frigia.
Ele tinha ainda um tesouro em Pérgamo, num caste
lo no topo de uma colina cónica na Frigia, perto do
rio Caicus, cuja guarda havia confiado a um tal
Filatero, que a princípio lhe foi fiel, mas por fim se
revoltou contra ele, no último ano de seu reinado,
pois Lisímaco, instigado por sua esposa Arsinoé, co
meçou assassinando seu próprio filho Agatocles e
depois diversos outros que o choravam. A viúva de
Agatocles fugiu com os filhos e alguns amigos, e pe
diu a Selêuco que guerreasse a Lisímaco. Diante dis
so, Filatero, que era acusado de ter sido o assassino
de Agatocles, pela própria Arsinoé, pôs-se em armas
ao lado de Selêuco.
Nessa ocasião, Selêuco deu batalha a Lisímaco na
Frigia; este morreu na batalha e Selêuco tomou o seu
reino no ano 465 de Nabonassar (283 a.C.).
Assim o império dos gregos, que inicialmente se ha
via dividido em quatro, reduziu-se novamente a dois rei
nos notáveis os quais são chamados por Daniel de os
reinos do Sul e do Norte. Então Ptolomeu reinava sobre o
Egito, a Líbia, a Etiópia, a Arábia, a Fenícia, a Celesíria e
Chipre; e Selêuco, tendo unido três dos quatro reinos,
tinha um domínio pouco inferior ao do império persa,
conquistado por Alexandre Magno... 1
3
62. 6
Os Reinos
do Norte e do Sul
Com a repentina morte de Alexandre, seus
domínios se dividiram primeiramente em quatro
reinos que, por sua vez, se reduziram a dois.
63. s versos 6 a 20 do capítulo 11 de Daniel,
tratam das lutas entre os Selêucidas, reis
do Norte, e os Ptolomeus, reis do Sul. O
fato de Daniel, mais de três séculos antes, haver descri
to, com tantas minúcias, a história desses reinos, só pode
ser explicado à luz da Palavra de Deus, que afirma: “Pois
a profecia nunca foi produzida por vontade dos homens,
mas os homens santos da parte de Deus falaram movi
dos pelo Espírito Santo” (2 Pedro 1:21).
Eis o texto bíblico:
Mas ao cabo de alguns anos, eles se aliarão; a filha
do rei do Sul virá ao rei do Norte para fazer um tratado.
Ela, porém, não conservará a força de seu braço, nem ele
persistirá, nem o seu braço, porque ela será entregue, e
os que a tiverem trazido, e seu pai, e o que a fortalecia
naqueles tempos.
Mas do renovo das suas raízes um se levantará em
seu lugar, e virá com o exército, e entrará nas fortalezas
do rei do Norte, e agirá contra elas, e prevalecerá. Tam
bém os seus deuses com a multidão das suas imagens
de fundição, com os seus objetos preciosos de prata e
ouro, levará cativos para o Egito. Por alguns anos ele
persistirá contra o rei do Norte.
Então o rei do reino do Norte invadirá o reino do rei
do Sul, mas voltará para a sua terra. Os seus filhos in
tervirão e reunirão um grande exército, que virá apres
sadamente, arrasará tudo como uma inundação
irresistível, e levará a guerra até a sua fortaleza.
64. Então o rei do Sul se irritará, e sairá, e pelejará con
tra ele, contra o rei do Norte, que porá em campo um
grande exército, mas o seu exército será entregue nas
mãos daquele. Quando o seu exército for levado, o rei do
Sul se encherá de orgulho, e derrubará miríades, mas
não prevalecerá. Porque o rei do Norte voltará, e porá em
campo um exército maior do que oprimeiro, e ao cabo de
tempos, isto é, de anos, virá à pressa com grande exérci
to e abundantes provisões.
Naqueles tempos muitos se levantarão contra o rei
do Sul. Os violentos dentre o teu povo se levantarão, em
cumprimento da visão, mas eles cairão. O rei do Norte
virá, e levantará baluartes, e tomará uma cidade
fortificada. As forças do Sul não poderão subsistir, nem
o seu povo escolhido, pois não haverá força que possa
subsistir. O que há de vir contra ele fará segundo a sua
vontade; ninguém poderá resistir diante dele. Estará na
terra gloriosa, e terá o poder de destruí-la. Firmará o
propósito de vir com a força de todo o seu reino, e fará
uma aliança com o rei do Sul. E lhe dará uma jovem em
casamento a fim de destruir o reino, mas seus planos
não vingarão, nem serão para sua vantagem.
Depois virará o seu rosto para as ilhas, e tomará mui
tas, mas um príncipe fará cessar o seu opróbrio contra
ele, e ainda fará recair sobre ele o seu opróbrio. Virará
então o seu rosto para as fortalezas da sua própria terra,
mas tropeçará, e cairá, e não será achado. Em seu lugar
se levantará quem fará passar um exator de tributo pela
glória do reino, mas em poucos dias será destruído, e
isto sem ira e sem batalha.
CUMPRIMENTO FIEL DA PROFECIA
Os 15 versículos citados abrangem um período de
aproximadamente um século, começando por volta de
250 a.C. O comentário seguinte, de McNair, refere-se a
esse texto, cuja leitura sugerimos ao leitor, a fim de me
lhor compreender o seu cumprimento histórico:
72 Manual de Profecia Bíblica
65. Os Reinos do Norte e do Sul 73
Os dois que fazem aliança são os reis do Norte (a
divisão Síria do império grego) e do Sul (Egito).
Esta aliança só foi efetuada pelo casamento da
filha do rei do Sul, a princesa egípcia Berenice, filha
de Ptolomeu II a Antíoco Theos, o rei do Norte. A com
binação foi que Antíoco teria de divorciar-se de sua
esposa e fazer de um dos filhos de Berenice o herdei
ro do reino. Este convénio acabou num desastre.
Quando Ptolomeu morreu, Antíoco Theos, em 247 a.C.,
chamou sua esposa anterior. Berenice e seu filho fo
ram envenenados, e o filho da primeira esposa,
Gallinicus, foi posto no trono como Selêuco II. “Mas
ao cabo de alguns anos, eles se aliarão; a filha do rei
do Sul virá ao rei do Norte para fazer um tratado. Ela,
porém, não conservará a força de seu braço, nem ele
persistirá, nem o seu braço, porque ela será entre
gue, e os que a tiverem trazido, e seu pai, e o que a
fortalecia naqueles tempos” (Daniel 11:6).
Ptolomeu III Euergetes (246-221 a.C.), irmão de
Berenice, que sucedeu a seu pai Ptolomeu II, invadiu o
território da Síria até a Ásia Menor e por algum tempo
ocupou a própria Antioquia, reacendendo, assim , a
guerra entre os dois reinos. Como vingança pelo as
sassinato de sua irmã, matou a esposa de Antíoco
Theos. Diz a Bíblia: “Mas do renovo das suas raízes
um se levantará em seu lugar, e virá com o exército, e
entrará nas fortalezas do rei do Norte, e agirá contra
elas, e prevalecerá” (Daniel 11:7).
Cumprindo tudo o que estava profetizado a seu res
peito, Ptolomeu IIIEuergetes voltou ao Egito levando qua
tro mil talentos de ouro, 40 mil talentos de prata e dois
mil e quinhentos ídolos e vasos sagrados, dos quais mui
tos tinham sido arrebatados à Pérsia por Bambises. No
ano 240 a.C., Selêuco Calicino invadiu o Egito e voltou
derrotado. Sua frota pereceu numa terrível tempestade.
Os filhos de Selêuco Calicino, Selêuco III (226-223
a.C. e Antíoco, o Grande (223-187 a.C.) guerrearam con
tra o Egito. Oprimeiro atacou, sem sucesso, as provínci-
66. 74 Manual de Profecia Bíblica
as) egípcias na Ásia Menor; o segundo, também conheci
do porAntíoco III, invadiu o Egito sem muita oposição da
parte de Ptolomeu Filopáter. Em 218 a.C., numa outra
investida contra o Egito, Antíoco tomou a fortaleza de
Gaza. Eis a profecia bíblica respeito desses fatos:
Também os seus deuses com a multidão das suas
imagens de fundição, com os seus objetos preciosos de
prata e ouro, levará cativos para o Egito. Por alguns
anos ele persistirá contra o rei do Norte. Então o rei do
reino do Norte invadirá o reino do rei do Sul, mas vol
tará para a sua terra. Os seus filhos intervirão e reuni
rão um grande exército, que virá apressadamente, ar
rasará tudo como uma inundação irresistível, e levará
a guerra até a sua fortaleza (w. 8-10).
JUDÁ E AS GUERRAS GREGAS
No ano seguinte à queda de Gaza, Ptolomeu,
Filopáter, graças a um poderoso exército, vence Antíoco,
o Grande, na batalha de Ráfia, a sudoeste de Gaza, e
sacrifica em Jerusalém. Pelo fato de haver sido impe
dido de entrar no lugar santíssimo do templo, tenta
destruir os judeus de Alexandria. Cerca de 14 anos
mais tarde, Antíoco, o Grande, tenta mais uma vez
derrotar o Egito, porém falha.
Então o rei do Sul se irritará, e sairá, e pelejará contra
ele, contra o rei do Norte, que porá em campo um grande
exército, mas oseu exército será entregue nas mãos daquele.
Quando o seu exército for levado, o rei do Sul se encherá de
orgulho, e derrubará miríades, mas não prevalecerá. Porque
orei do Nortevoltará, e porá em campo um exércitomaior do
que o primeiro, e ao cabo de tempos, isto é, de anos, virá à
pressa com grande exército e abundantes provisões.
Naqueles tempos muitos se levantarão contra o rei
do Sul. Os violentos dentre o teu povo se levantarão, em
cumprimento da visão, mas eles cairão (w. 11-14).