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UNIVERSIDADE POSITIVO
CURSO DE PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E CLÍNICA
LAIZ MARIA MASSUCHETTO
MARIA EMILIA SCHIFFER VEIGA TODESCHI
TELMA LUCIA MONTRUCCHIO ILKIU
O ACOMPANHAMENTO PSICOPEDAGÓGICO DIANTE DAS DIFICULDADES DE
APRENDIZAGEM
CURITIBA
2019
LAIZ MARIA MASSUCHETTO
MARIA EMILIA SCHIFFER VEIGA TODESCHI
TELMA LUCIA MONTRUCCHIO ILKIU
O ACOMPANHAMENTO PSICOPEDAGÓGICO DIANTE DAS DIFICULDADES DE
APRENDIZAGEM
Relatório de Conclusão de Curso apresentado ao
Curso de pós-graduação em Psicopedagogia
Institucional e Clínica, da Universidade Positivo,
como requisito parcial à obtenção do título de
Especialista.
Orientadora: Prof. Esp. Rosana Pessatti
CURITIBA
2019
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................3
1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .............................................................................4
1.1 A AQUISIÇÃO DA LEITURA E DA ESCRITA ......................................................4
1.2 O TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM OU
SEM HIPERATIVIDADE ......................................................................................6
1.3 A DISLEXIA COMO DISTÚRBIO DE LEITURA E DE ESCRITA ..........................7
1.4 AS FALHAS NO PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL ...............................7
1.5 O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DE ACORDO COM PIAGET ...................8
2. PROCESSO DIAGNÓSTICO .................................................................................9
2.1 CONTATO INICIAL ..............................................................................................9
2.2 QUEIXA ...............................................................................................................9
2.3 ENQUADRAMENTO ............................................................................................9
2.4 EOCA ..................................................................................................................10
2.5 ANÁLISE DA EOCA ............................................................................................10
3. PRIMEIRO SISTEMA DE HIPÓTESES ................................................................11
4. INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO ......................................................................12
4.1 APLICAÇÃO DAS PROVAS DO DIAGNÓSTICO OPERATÓRIO .......................12
4.2 APLICAÇÃO DAS PROVAS PROJETIVAS PSICOPEDAGÓGICAS ...................12
4.3 APLICAÇÃO DE OUTROS INSTRUMENTOS ....................................................12
4.4 ENTREVISTA HISTÓRICA (ANAMNESE) ..........................................................13
4.5 CONTATO COM A ESCOLA ...............................................................................14
5. SEGUNDO SISTEMA DE HIPÓTESES ................................................................15
5.1 ANÁLISE DAS PROVAS DO DIAGNÓSTICO OPERATÓRIO ............................15
5.2 ANÁLISE DAS PROVAS PROJETIVAS PSICOPEDAGÓGICAS ........................17
5.3 ANÁLISE DE OUTROS INSTRUMENTOS APLICADOS ....................................18
6. TERCEIRO SISTEMA DE HIPÓTESES ................................................................23
6.1 INFORME PSICOPEDAGÓGICO .......................................................................23
6.2 DEVOLUTIVA .....................................................................................................28
REFERÊNCIAS ........................................................................................................28
ANEXOS
3
INTRODUÇÃO
A Psicopedagogia é uma ciência que se dedica exclusivamente a
aprendizagem, levando em conta os fatores que facilitam e/ou dificultam o ato de
aprender, tanto em indivíduos neurotípicos como atípicos, pautando-se sempre nas
potencialidades de cada um. Assim, a prática psicopedagógica clínica tem a
finalidade de trabalhar em cima de um caso específico, a partir da escuta de sua
queixa e posterior avaliação.
Este trabalho consiste, então, em um relato fundamentado de um processo
de avaliação psicopedagógica realizado na Clínica de Psicologia da Universidade
Positivo. O enquadramento foi de 10 sessões realizadas em duas vezes semanais
subsequentes para atender o caso de A. L., estudante de sete anos de uma
determinada escola pública do município de Curitiba, pertencente ao Núcleo
Regional de Educação do Boa Vista.
Os pais de A. L. apresentaram como queixa a dificuldades de aprendizagem,
principalmente em relação à Língua Portuguesa, por ele ainda não ler e escrever
mesmo já estando no 3.º ano do ensino fundamental, além de ficar nervoso, ter
baixa autoestima e resistência às atividades escolares e tarefas de casa,
destacando pela escola a hipótese de dislexia.
O objetivo da avaliação psicopedagógica foi identificar e compreender os
processos cognitivos, orgânicos, emocionais, pedagógicos, culturais e sociais que
poderiam estar interferindo na aprendizagem de A. L. e para tal foram utilizados
diversos instrumentos de avaliação.
A escrita espontânea da criança foi acompanhada com base no estudo da
Psicogênese da Língua Escrita, de Emília Ferreiro e Ana Teberoski, e foram
aplicadas provas Piagetianas para conhecer as condições, funcionamento e o
desenvolvimento das funções lógicas do sujeito, permitindo também a investigação
do nível cognitivo em que o indivíduo se encontra.
Da mesma forma, a fim de investigar a rede de vínculos, foram aplicadas
técnicas projetivas psicopedagógicas. Por meio delas, foram avaliados os três
domínios: o escolar, o familiar e o consigo mesmo. Em cada um desses domínios,
guardando as diferenças individuais, foi possível reconhecer três níveis em relação
ao grau de consciência dos distintos aspectos que constituem o vínculo da
aprendizagem.
4
Para finalizar e aprimorar o processo avaliativo com A. L. outros meios de
avaliação foram igualmente aplicados e analisados, tais como o teste de
audibilização, de Clarissa Golberg, jogos, ditados semânticos e situações-problema
e, para melhor conhecer nosso objeto de estudo, foi realizada uma entrevista
histórica (anamnese) com a família.
Na sessão reservada para a visita à escola, foi conversado com a professora
do menino e descartada a hipótese de hipercinesia devido ao comportamento
tranquilo em sala de aula e, assim, fechamos o caso levantando um possível caso
de Transtorno de Déficit de Atenção sem hiperatividade, acompanhado de um Déficit
no Processamento Auditivo Central (DPAC) pelas respostas obtidas nos testes e
demais atividades durante as sessões.
Desse modo, a fundamentação teórica foi dividida em subtemas
descrevendo sobre a aquisição da leitura e da escrita, o transtorno do déficit de
atenção com ou sem hiperatividade, a dislexia como distúrbio de leitura e de escrita,
as falhas no processamento auditivo central e o desenvolvimento cognitivo de
acordo com Piaget. A tecitura da mesma foi elaborada com base nas ideias de
Ferreiro e Teberoski (1999), Cagliari (2010), Tomelin (2018), Teixeira (2013), Frota e
Pereira (2004), Abdo, Murphy e Schochat (2010) e Davis e Oliveira (1994).
A devolutiva para a família foi de fácil aceitação e reconhecimento da
necessidade de continuar o acompanhamento psicopedagógico, neuropediátrico e
fonológico, bem como já haviam manifestado interesse anterior.
Assim sendo, este trabalho não deixa de ser uma pesquisa de abordagem
qualitativa, tendo o caso como um todo – a criança, seus pais e escola/professora –
como fonte direta de dados e o pesquisador – avaliadoras – como seu principal
instrumento, segundo Lüdke e André (1986). E, por fim, também se constitui como
uma pesquisa de caráter descritivo, na qual pretende descrever com “exatidão” os
fatos e fenômenos de determinada realidade, tendo todos os envolvidos claramente
delimitados, juntamente com os objetivos de estudo, os termos e as variáveis, as
hipóteses, as questões de pesquisa, entre outros, de acordo com Triviños (1987).
1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
1.1 A AQUISIÇÃO DA LEITURA E DA ESCRITA
5
O processo de aprendizagem da leitura e da escrita é baseado, atualmente,
no estudo da Psicogênese da Língua Escrita, elaborada por Emília Ferreiro e Ana
Teberoski em 1986. Com A. L., que apresenta dificuldades em relação à aquisição
da leitura e da escrita, não foi diferente, pois a análise de sua escrita espontânea
também foi norteada em cima desse estudo, no qual, segundo Ferreiro e Teberoski
(1999), demonstra que os aprendizes elaboram hipóteses de como a escrita
alfabética funciona, passando por cinco níveis, também chamados de hipóteses:
icônico, pré-silábico, silábico, silábico-alfabético e alfabético.
Este trabalho será fundamentado a partir da hipótese pré-silábica que já é
uma escrita característica dos estudantes do ensino fundamental, então, nesse
período a criança ainda não entende que a escrita representa “pedaços sonoros”,
mas já compreende que para escrever se usam letras e, assim, utiliza letras
aleatórias e, algumas vezes, pode usar até números em sua escrita, de acordo com
Ferreiro e Teberoski (1999).
Já no nível silábico, as mesmas autoras afirmam que o estudante começa a
perceber que para cada sílaba falada se faz necessário uma letra. Neste período,
inicialmente, pode-se apresentar uma escrita silábica quantitativa ou sem valor
sonoro em que se coloca uma letra para cada sílaba sem se preocupar com o som
e, ainda nesta etapa, evolui-se para a escrita silábica qualitativa ou com valor
sonoro, começando a usar uma letra que corresponde aos sons contidos nas sílabas
da palavra. É possível usar só vogais, só consoantes ou mesclar o uso de vogais e
consoantes numa mesma palavra.
No próximo nível, o da escrita silábico-alfabético, Ferreiro e Teberoski (1999)
destacam que ora a criança coloca duas ou mais letras para escrever determinada
sílaba, ora volta a pensar conforme a hipótese silábica e põe apenas uma letra para
a sílaba inteira. E, finalmente, no nível alfabético, a criança escreve com muitos
erros ortográficos, mas seguindo o princípio de que é preciso colocar letras que
correspondem a cada um dos sons que aparecem na sílaba.
Os adultos alfabetizados estão tão familiarizados com a escrita que não
refletem sobre a sua complexidade, nem se dão conta de como a criança percebe
esta atividade, então, de acordo com Cagliari (2010), a criança se lança no mundo
da escrita fazendo inicialmente rabiscos, misturando linhas retas com linhas curvas.
Em seguida, ela passa a agrupar letras aleatoriamente, demonstrando que já possui
uma noção do que é a escrita, isto é, a criança já sabe que se escreve com
6
determinados sinais, mas ainda não percebe que tais sinais seguem uma ordem na
colocação para produzirem significados.
Segundo o autor, nessas tentativas, a criança procura representar o que ela
imagina que seja a escrita e, nesse momento, é importante deixá-la experimentar
como escrever as letras, dando-lhes tempo para processar sua aprendizagem.
Porém, muitos pais e educadores não permitem que a criança desenvolva seu
aprendizado da linguagem escrita como fez com o da fala e, dessa forma, ela fica
impedida de errar, tentar e corrigir. Assim, é interessante perceber que ao
desenvolver a sua linguagem oral, a criança apresenta “falhas” que são
perfeitamente aceitas pelos adultos, mas, ao entrar na escola, ela deve fazer tudo
“certo” desde o início.
Uma atividade fundamental desenvolvida pela escola é a leitura, pois ela
será sempre utilizada fora desse espaço. Nas palavras de Cagliari (2010, p.133):
A leitura é uma decifração e uma decodificação. O leitor deverá em primeiro
lugar decifrar a escrita, depois entender a linguagem encontrada, em
seguida decodificar todas as implicações que o texto tem e, finalmente
refletir sobre isso e formar o próprio conhecimento e opinião a respeito do
que leu.
Essas ideias apontadas por Cagliari (2010) fazem referência ao processo de
letramento que é requisito fundamental para uma aprendizagem eficaz, pois a
proposta de ensino atualmente é nada mais do que alfabetizar letrando.
1.2 O TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM OU SEM
HIPERATIVIDADE
Muitas crianças em idade escolar apresentam dificuldades de aprendizagem
e/ou socialização decorrentes de um déficit de atenção que pode ou não estar
associado à hiperatividade. De acordo com Tomelin (2018, p. 45):
O TDAH é uma condição diferenciada do neurodesenvolvimento.
Caracterizado por déficit de atenção, atividade física e mental excessiva,
impulsividade e dificuldade em controlar comportamentos. O TDAH é
dividido em três subtipos: predominantemente desatento;
predominantemente hiperativo-impulsivo e o tipo combinado. O TDAH ainda
pode apresentar graus, sendo leve, moderado e grave, e ter início ainda na
infância se estendendo até a vida adulta.
Segundo a autora, pessoas com TDAH comumente têm seu desempenho
escolar/acadêmico afetado. Isso enfatiza a necessidade de estar atento aos
aspectos de aprendizagem, identificando seu rendimento associado à condição para
7
compreender melhor o estudante e seu aprendizado. No caso de pessoas com
conduta desatenta, é comum a criança em idade escolar não concluir suas tarefas,
cometer erros por descuido, distrair-se com facilidade, não perceber que uma
pessoa está se dirigindo a elas, apresentar dificuldade para se organizar, perder ou
esquecer objetos e apresentar dificuldade em tarefas que exijam um esforço mental
prolongado.
1.3 A DISLEXIA COMO DISTÚRBIO DE LEITURA E DE ESCRITA
A suspeita de dislexia sugerida pela professora e pedagoga da escola,
também foi um fator observado nas sessões de avaliação de A. L., pois se realmente
diagnosticada a criança pode vir a ter grande dificuldade na leitura e na escrita.
Nesse caso, fundamenta-se a dislexia como “[...] um transtorno de aprendizagem
específico da leitura, caracterizado por dificuldade de reconhecimento de letras,
decodificação e soletração de palavras, decorrência de um comprometimento no
desenvolvimento de habilidades fonológicas” (TEIXEIRA, 2013, p. 227).
Segundo Teixeira (2013), crianças com dislexia apresentam dificuldade em
associar uma letra ao seu som e o processo de construção de frases é prejudicado
pelo fato de terem que formar os diferentes fonemas para construir as palavras.
Frequentemente, nas palavras do autor, os disléxicos apresentam:
[...] leitura lenta, monossílábica, com pouca entonação de voz e com
tropeços na leitura de palavras longas. Normalmente ocorre uma tentativa
de adivinhação de palavras, e muitas vezes existe a necessidade de uso do
contexto para se entender o que está sendo lido, não há dificuldade de
compreensão, evidenciando-se de que se trata de uma dificuldade
específica da leitura (TEIXEIRA, 2013, p. 228-229).
Ainda sobre a isso, o autor aborda que a criança com dislexia pode
apresentar na escola atraso na aquisição da linguagem, troca de letras na fala,
vocabulário abaixo do esperado para a idade, dificuldade em nomear e em aprender
o nome das letras, em memorizar tabuadas, perceber rimas, copiar do quadro e em
entender enunciados, enfim, também possui dificuldade na alfabetização, para
aprender a ler, escrever e soletrar.
1.4 AS FALHAS NO PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL
8
O processamento auditivo diz respeito à percepção auditiva e envolve
inúmeros mecanismos fisiológicos auditivos. Existe uma relação entre o Déficit de
Consciência Fonológica e desordem de processamento auditivo, pois “[...] a
integridade dos mecanismos fisiológicos auditivos exerce um papel fundamental na
percepção da fala, no aprendizado e na compreensão da linguagem e,
consequentemente, é pré-requisito na aquisição da leitura e da escrita” (FROTA E
PEREIRA, 2004, p. 2).
Na literatura especializada, há um consenso de que alterações nos aspectos
temporais estão presentes em crianças com problemas de linguagem e aquisição da
leitura e da escrita. Nesse sentido, é possível fazer relações com os apontamentos
de Abdo, Murphy e Schochat (2010) ao afirmarem que crianças com Déficit no
Processamento Auditivo Central (DPAC) apresentam “[...] dificuldade de atenção e
escuta, má adaptação comportamental, facilidade em se distrair, dificuldades em
seguir instruções e necessidade de um tempo maior que a média para completar
tarefas” (ABDO, MURPHY E SCHOCHAT, 2010, p. 26), características essas
observadas em A.L., nas quais se permite associar suas dificuldades ao Déficit do
Processamento Auditivo Central.
1.5 O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DE ACORDO COM PIAGET
Davis e Oliveira (1994) descreve que para Piaget o desenvolvimento
cognitivo do indivíduo ocorre através de constantes desequilíbrios e equilibrações.
Para se alcançar um novo estado de equilíbrio são acionados dois mecanismos, um
chamado de assimilação e outro de acomodação, sendo que o desenvolvimento
passa por quatro estágios ou etapas distintas: a sensório-motora, a pré-operatória, a
operatório-concreta e a operatório formal.
No trabalho clínico é fundamental observar quando “[...] a criança no período
operatório, não tem noção de conservação. Para ela, mudando-se a aparência do
objeto, muda-se também a quantidade, o volume, a massa e o peso do mesmo”
(DAVIS E OLIVEIRA, 1994, p. 43).
Já no estágio operatório-concreto se começa a construir conceitos, criando
as estruturas lógicas. Assim, explica-se que “[...] o pensamento é denominado
operatório porque é reversível: o sujeito pode retornar, mentalmente, ao ponto de
partida.” (DAVIS E OLIVEIRA, 1994, p. 43). Desse modo, somente agora o indivíduo
9
percebe que uma determinada quantidade de massinha não se altera se a forma do
objeto mudar, pois o pensamento se baseia mais no raciocínio que na compreensão.
Ainda não consegue pensar abstratamente, mas já pode ordenar, seriar e classificar,
considerando uma etapa que vai dos 7 aos 11 anos.
2. PROCESSO DIAGNÓSTICO
2.1 CONTATO INICIAL
O nome do A. L. constava em uma lista de espera para atendimento
psicopedagógico na Clínica de Psicologia da Universidade Positivo, então o contato
inicial foi feito via telefonema da própria clínica aos pais de A. L. O primeiro contato
foi com o pai, agendando o dia e horário para colher a queixa.
2.2 QUEIXA
A procura por uma avaliação psicopedagógica veio dos pais que trouxeram
como queixa a dificuldade de A. L. em relação à aprendizagem, principalmente em
Língua Portuguesa, pois ele ainda não consegue ler e escrever, mesmo já estando
no 3.º ano do ensino fundamental de uma determinada escola pública da Rede
Municipal de Ensino de Curitiba, pertencente ao Núcleo Regional de Educação do
Boa Vista, em que o sistema é baseado em Ciclos de Aprendizagem. Nesse
sistema, o Ciclo I é composto pelo 1.º, 2.º e 3.º ano e o Ciclo II é composto pelo 4.º e
5.º ano, havendo retenção sempre no último ano do ciclo, como no caso de A. L.,
caso não se alfabetize até o fim desse ano, sendo essa mais uma justificativa pela
procura psicopedagógica. Foi comentado pelo pai que ele fica nervoso, tem baixa
autoestima e resistência em relação às atividades escolares e tarefas de casa. A
escola também comentou com a família sobre a hipótese de dislexia.
2.3 ENQUADRAMENTO
No primeiro atendimento aos pais de A. L. ficaram estabelecidos os dias e
horários das sessões com início no dia 03 de maio de 2019. Definiu-se que as
sessões aconteceriam duas vezes por semana, sempre nas terças-feiras às 19
10
horas e nas sextas-feiras às 18 horas, totalizando 10 sessões. Dessas dez sessões,
sete foram realizadas com A. L. para avaliação e as demais foram divididas: uma
para o contato com a escola e as outras duas com a família. Com a família, a
primeira sessão foi para colher a queixa e a última para fazer a devolutiva e entrega
do informe psicopedagógico.
A última sessão ocorreu no dia 7 de junho de 2019.
2.4 EOCA
Com o objetivo de realizar o reconhecimento das dificuldades, o prognóstico
e as indicações para o caso, o processo diagnóstico envolveu uma série de passos,
o qual teve início com a Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem (EOCA),
elaborada pelo professor argentino Jorge Visca.
A EOCA é utilizada como ponto de partida em todo processo de
investigação diagnóstica das dificuldades de aprendizagem e tem por objetivo
estudar as manifestações cognitivo-afetivas da conduta do entrevistado em situação
de aprendizagem. Permite ainda obter uma visão conjugada e um primeiro sistema
de hipóteses, bem como os pontos de alerta que devem ser verificados no processo
de avaliação.
Este instrumento trata-se em uma entrevista estruturada que põe em
evidência o aprendizado e pode ser realizado com quaisquer materiais, dependendo
da idade do educando e da queixa. Os objetos são deixados sobre uma mesa,
organizados de tal forma que o entrevistado precise abrir as caixas de lápis, o
estojo, apontar, o lápis grafite sem ponta, enfim, procurar o que deseja, observando
todo material para decidir o que vai utilizar em sua produção.
2.5 ANÁLISE DA EOCA
Para realização da EOCA com A. L., as avaliadoras colocaram sobre a mesa
papéis coloridos, papel sulfite branco, lápis de cor, lápis grafite com e sem ponta,
apontador, borracha, giz de cera, cola colorida, glíter, tesoura, barbante, massinha
e revistas e deram a seguinte consigna: “Mostre algo que você já sabe fazer
usando os materiais”.
11
No primeiro momento, A. L. apresentou resistência em manipular os
materiais oferecidos. Disse que não gostava de nada do que estava sendo
disponibilizado e que não queria fazer a atividade proposta. Verbalizou que achava
que não sabia fazer nada. Então, devido a resistência do menino em relação a esta
proposta, foi sugerido pelas avaliadoras o jogo “Batalha dos nomes”. Esse jogo
consistia em pegar uma carta sem olhar, dizer o nome da figura e contar de
quantas sílabas esta palavra é formada. Ganharia aquele que tivesse a carta com
o maior número de sílabas. A. L. apresentou dificuldade para contar as sílabas das
palavras do jogo, mas logo compreendeu e participou bem. Também foi possível
observar que ele não sabia os nomes de animais comuns como “borboleta” e
“girafa”.
Somente após o jogo iniciou-se a EOCA e a consigna foi novamente
explicada. Foi solicitado que mostrasse algo que já sabia fazer utilizando os
materiais disponíveis. Nesse segundo momento, ele realizou um desenho com
lápis grafite de um campo de futebol e de dois jogadores: o Neymar e um colega da
escola chamado Miguelzinho. Depois, fez o desenho de um galo e de pintinhos e
disse que foi a mãe quem o ensinou a desenhar. Não quis pintar. Seu desenho foi
pouco elaborado, apagou várias vezes e aproximou bastante o rosto do papel
enquanto desenhava fazendo o traçado com força. No decorrer da sessão, falou
muito sobre cartinhas, futebol e o quanto gosta de jogar.
3. PRIMEIRO SISTEMA DE HIPÓTESES
 Baixa autoestima.
 Dificuldade de concentração / atenção.
 Fala bastante / não se concentra (tendência à Hiperatividade).
 Resistência em realizar atividades escolares, como manipular lápis, papel, giz
de cera e outros materiais.
 Dificuldade visual, pois aproximou muito o rosto da folha.
 Agressividade (traços fortes no desenho).
 Vínculo negativo com a aprendizagem.
 Sentimento de desvalorização em relação à aprendizagem.
 Não tem vínculos com os colegas da turma.
12
 Fantasia as suas narrativas (é muito bom no futebol, marca muitos gols, entre
outros).
 Dificuldade em relação ao processo de alfabetização.
4. INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO
4.1APLICAÇÃO DAS PROVAS DO DIAGNÓSTICO OPERATÓRIO
Em relação às Provas do Diagnóstico Operatório foram utilizadas:
 Provas de conservação de número, de volume e de massa.
 Prova de seriação (de bastonetes).
 Provas de classificação: dicotomia (mudança de critério) e de inclusão de
classes.
4.2APLICAÇÃO DAS PROVAS PROJETIVAS PSICOPEDAGÓGICAS
Para avaliar a área emocional foram utilizadas as seguintes provas
projetivas:
 Domínio consigo mesmo – “Fazendo o que mais gosto”.
 Domínio escolar – “Alguém que aprende e alguém que ensina” e “Eu com os
meus colegas”.
 Domínio familiar – “A planta da casa”.
4.3 APLICAÇÃO DE OUTROS INSTRUMENTOS
Para verificar o nível de aquisição da leitura e da escrita foram utilizados os
seguintes jogos:
 Jogo das rimas.
 Que brinquedo é esse?
 Lince.
 Batalha dos nomes.
 Bingo dos sons iniciais.
 Quem escreve é você.
13
Também foi feito ditado semântico, autoditado, leitura de imagens, de
palavras e frases.
Para verificar os conhecimentos matemáticos utilizou-se o jogo “Quem é o
Maior”, resolução de problemas, escrita de números e relação número/quantidade
com o material dourado.
Também foi usado o teste de audibilização.
4.4 ENTREVISTA HISTÓRICA (ANAMNESE)
Compareceram o pai e a mãe, demonstrando grande interesse e
preocupação em ajudar o filho a sanar e/ou diminuir as dificuldades apresentadas.
Os pais são separados, desde antes do nascimento de A. L., mas têm um bom
relacionamento enquanto pais.
A. L. mora com a mãe e vai à casa do pai algumas vezes na semana. A
cada 15 dias há alternância do menino passar o fim de semana na casa de um e de
outro. O pai mora com a avó paterna de A. L. e a mãe mora no mesmo terreno que
os avós maternos, portanto, ele tem grande convívio com avós e primos.
Alguns fatos relevantes observados na entrevista foram que ao nascer, A. L.
demorou muito tempo para chorar. A mãe não soube dizer se o médico precisou
reanimá-lo, mas notou uma movimentação por parte da equipe médica. Relatou que
ele chorou “bem fraquinho”. Ainda no berçário as professoras solicitaram aos pais
que o estimulassem a andar. Ele andou após os 18 meses, sem ter engatinhado.
Também começou a falar nessa idade e o desfralde foi tranquilo. Mamou no peito
até os 9 meses e logo que entrou no berçário fazia a complementação com a
mamadeira. Usou mamadeira até o final do ano passado, já com 7 anos.
Atualmente, A. L. dorme na cama com a mãe, embora sua cama fique no
mesmo quarto. Quando vai para a casa do pai, também dorme na cama dele.
Apresenta grande interesse por jogar futebol e fala bastante nesse assunto.
Também gosta muito de galinhas, desde muito pequeno, por causa da “Galinha
Pintadinha” e pediu para os avós que fizessem um galinheiro em casa. É ele quem
alimenta as galinhas e gosta muito de fazer isso. Os pais dizem que ele tem grande
interesse pelos animais e plantas e que gosta muito de ficar no quintal brincando.
Narraram que na escola os colegas ficavam rindo dele por falar muito sobre as
14
galinhas. Então a professora fez algumas atividades sobre o tema, nas quais A. L.
se saiu muito bem (inclusive problemas matemáticos).
Em casa não comenta sobre as atividades que fez na escola (exceto quando
fez as atividades sobre as galinhas). Não sabe dar recados da professora e nem dos
pais. Não conta uma história com coerência e nem com progressão dos fatos. Não
mantém a atenção em filmes, por exemplo. Não gosta de livros e a família não tem o
hábito de ler com ele.
Alimenta-se bem no almoço, mas não gosta dos lanches da escola. Come
com pressa, derruba a comida e o suco. É “estabanado” para segurar objetos. Tem
destreza para chutar bola e correr.
Há alguns meses, a partir do momento que começaram a investigar as
causas das suas dificuldades, os pais modificaram a maneira de tratar as tarefas de
casa e os estudos. Segundo eles, estão mais pacientes e, por isso, A. L. mostra-se
mais disposto e melhorou sua autoestima e confiança.
Desde o final do ano de 2018 até o momento, tem realizado investigações
sobre as dificuldades de aprendizagem apresentadas: fez avaliação psicológica, a
qual indicou “imaturidade cognitiva”. Não prosseguiu com a terapia psicológica.
Realizou avaliação fonoaudiológica, mas os pais não recordam qual foi o laudo.
Também não prosseguiu com a terapia.
No momento, está em processo de avaliação com o médico Neurologista, o
qual solicitou um determinado teste psicológico que ainda não foi feito e, assim, os
pais retornarão ao Psicólogo. Foi realizada avaliação oftalmológica e nada foi
detectado.
4.5 CONTATO COM A ESCOLA
Por meio do contato com a professora, na escola em que estuda, constatou-
se a preocupação com A. L. quanto ao seu desempenho acadêmico. Segundo relato
da professora regente, ele é um aluno muito educado, calmo, convive em harmonia
com seus colegas e tem um pequeno grupo de afinidade gerado pelo interesse por
futebol. Sua família é bastante participativa e comprometida com a aprendizagem. A
professora já ministrou aulas para A. L. no 1.º ano, quando já detectou alguma
dificuldade cognitiva. Durante as aulas fala pouco, mas gosta muito de conversar
com a professora sobre assuntos alheios aos da sala de aula. Nessas conversas, a
15
professora nota que algumas vezes perde o foco do assunto e não faz uma narrativa
linear.
Muitas vezes realiza as atividades com o apoio da professora corregente em
sala de aula. A regente envia para casa tarefas específicas adaptadas
especialmente para o aluno. Em sua produção, A. L. ainda oscila, visto que em certo
momento demonstra compreender determinado conteúdo, mas em outro parece não
lembrar mais. Quando percebe que não está acompanhando a compreensão da
lição, A. L. se cala e parece ficar entristecido. A professora teme que sua autoestima
seja abalada e, por isso, procura valorizar as suas conquistas. A professora e a
pedagoga suspeitam que possa ser um caso de dislexia.
5. SEGUNDO SISTEMA DE HIPÓTESES
 Baixa autoestima.
 Dificuldade de concentração / atenção.
 Fala bastante / não se concentra.
 Resistência em realizar atividades escolares, como manipular lápis, papel, giz
de cera e outros materiais.
 Vínculo negativo com a aprendizagem.
 Sentimento de desvalorização em relação à aprendizagem.
 Não mantém coerência e sequência lógica em suas narrativas.
 Dificuldade em relação ao processo de alfabetização.
5.1 ANÁLISE DAS PROVAS DO DIAGNÓSTICO OPERATÓRIO
Foram escolhidas algumas das Provas do Diagnóstico Operatório para
trabalhar com A. L., as quais melhor norteiam o processo de avaliação em virtude da
queixa recebida e do que já foi observado nas sessões: a prova de conservação de
número, de conservação de volume, de conservação de massa, a seriação de
bastonetes, a de dicotomia ou mudança de critério a de inclusão de classes.
Na prova de conservação de número A. L. não possui noção de conservação
de quantidade, pois afirmou que a quantidade de um conjunto é maior ou menor
quando a configuração espacial foi modificada. No início da prova, com as fichas
dispostas de forma simétrica, ao ser questionado sobre onde tinha mais, ele
16
respondeu que era igual. Em seguida, todas as vezes que as fichas de uma das
cores eram movimentadas, concluiu que ali havia mais. A. L. precisou contar as
fichas a cada movimento e o fez da seguinte forma: 1, 2, 3, 4, 5, 6 (de uma cor). E
disse: “Eu tenho 6 e você tem 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12” (contando todas as
fichas).
Em relação à prova de conservação de volume, demorou bastante tempo
conferindo se havia a mesma quantidade de líquido nos dois copos. Quando o
líquido era despejado em outro copo, sempre dizia que havia mais ou menos do que
antes. Assim, constatou-se que A. L. não possui noção de conservação pois,
considerou que a quantidade de água não é a mesma quando passada de um copo
para o outro.
A. L. também não apresentou noção de conservação de massa uma vez que
para ele a quantidade de massa se altera quando a bola é transformada.
Inicialmente, demorou um tempo para encontrar duas cores de massinha de modelar
que julgasse estarem exatamente do mesmo tamanho, embora todas as seis cores
apresentadas o tivessem. Quando a massinha foi alterada em sua forma, todas às
vezes afirmou que nesta havia mais massinha do que na outra que permanecia
intacta. Após o teste, não quis manusear as massinhas nem para brincar.
Na prova de seriação de bastonetes não apresentou muito interesse na
tarefa e parecia não compreender a consigna. Demorou em iniciar e fez algumas
tentativas sem ter êxito. Ao final, conseguiu colocar os palitos em certa sequência,
porém sem ter muita segurança no que fazia e sem se esforçar em fazer
corretamente. Seriou corretamente os palitos maiores e os menores, porém os “do
meio” ficaram sem sequência, demonstrando certa dificuldade.
Em relação às provas de classificação, na de dicotomia ou mudança de
critério, quando perguntado sobre as formas geométricas, disse que eram
quadrados e triângulos (e não círculos). Inicialmente, não compreendeu a consigna
e disse que não sabia fazer. Em seguida, quando lhe foi solicitado que formasse
dois “times” – remetendo ao futebol que lhe desperta bastante interesse –, começou
a separar aleatoriamente fazendo pares. A consigna foi repetida e, então, ele
começou a separar por cores, porém deixou duas peças no lado oposto. Quando lhe
foi perguntado que “times são esses?”, respondeu que eram os vermelhos e os
azuis e, apenas nesse momento, percebeu que havia duas peças azuis no lado das
vermelhas. Chamou os círculos de retângulos. Nesse sentido, observou-se que A. L.
17
não possui noção de classificação, pois tem dificuldade para separar em grupos de
acordo com atributos, não conseguindo realizar as atividades de dicotomia.
No entanto, o garoto apresentou noção de classificação em relação à prova
de inclusão de classes. Ao ser questionado sobre o que havia ali, não soube nomear
a girafa, significando que não conhece o animal. As questões foram respondidas
corretamente, dizendo que havia mais coelhos do que girafas e que havia mais
animais do que coelhos.
5.2 ANÁLISE DAS PROVAS PROJETIVAS PSICOPEDAGÓGICAS
As Técnicas Projetivas e as observações durante as sessões foram
utilizadas para avaliar a área emocional. Nessas situações, A. L. conversou muito e
ia narrando sobre o que desenhava. Por meio delas, percebeu-se que tem bom
vínculo com os colegas, contudo o vínculo com a aprendizagem necessita ser
reforçado. Mostrou também sua dificuldade em se perceber dentro de um sistema de
aprendizagem formal. Entre as Provas Projetivas Psicopedagógicas foi avaliado o
domínio consigo mesmo na prova “Fazendo o que mais gosto”, o domínio escolar
nas provas “Alguém que aprende e alguém que ensina” e “Eu com meus colegas” e,
para finalizar, o domínio familiar com “A planta da minha casa”.
Na prova de domínio consigo mesmo “Fazendo o que mais gosto”, não
precisou de muito tempo para saber o que queria desenhar, pois logo verbalizou que
gosta muito de futebol. Então, desenhou um campo de futebol ocupando toda a folha
e, em seguida, fez o jogador Neymar, ele próprio, um colega da escola e outros
jogadores que não nomeou. Concluiu e não narrou mais detalhes.
No teste projetivo sobre domínio escolar “Alguém que aprende e alguém que
ensina” fez um desenho muito pequeno, do lado esquerdo inferior da folha, podendo
indicar um vínculo negativo com a aprendizagem e um sentimento de
desvalorização. Disse que no desenho aparecia a professora Amanda que é a sua
professora regente e um menino, mas que não era ele. Narrou que a professora
rasga a folha do caderno de quem não faz a lição direito, mas que não rasga o
caderno dele. Apesar da demonstração do baixo vínculo com a aprendizagem, A. L.
desenhou o estudante e a docente lado a lado, fazendo traços bem fortes. Apagou
muitas vezes demorando, assim, para concluir o desenho.
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Em relação à prova de domínio escolar “Eu com os meus colegas”,
novamente desenhou um campo de futebol, com muitos jogadores incluindo ele
próprio e o jogador Neymar. Desenhou uma menina, dizendo ser a aplicadora do
teste, e que ela não sabia jogar futebol, pois era “perna mole”. Não quis falar sobre
os colegas que desenhou, quando perguntado sobre quem eram, dizia que não iria
contar. Devido a isso, levantou-se como hipótese de que para ele apenas as
pessoas do sexo masculino jogam bem futebol, que tem muitos amigos para formar
um jogo, mas ainda tem uma visão egocêntrica não desejando falar sobre eles,
apenas sobre si mesmo uma vez que construiu a imagem de ser um bom jogador
por se espelhar no craque Neymar.
No teste projetivo sobre o domínio familiar “A planta da casa”, não houve
muito interesse. Disse que era chato desenhar, mas que iria fazer e que as
avaliadoras teriam que adivinhar o que ele faria porque ele não iria contar nada.
Assim, ele desenhou rapidamente uma casa fazendo a cozinha. Relatou que era um
fogão de lenha para fazer galinha. Quando questionado sobre outras partes da casa
como o banheiro e o quarto, resolveu desenhar o banheiro e fez seu retrato tomando
banho. Do lado da casa fez uma árvore e o galinheiro. Falou sobre as galinhas, que
estava com fome e com vontade de comer galinha. Dessa forma, percebe-se que A.
L. reconhece as características do lugar onde mora e, faz grande referência as
galinhas devido ao contato e significado que elas têm na sua vida cotidiana.
5.3 ANÁLISE DE OUTROS INSTRUMENTOS APLICADOS
O processo de aquisição da leitura e da escrita de A. L. foi avaliado através
de jogos, atividades de avaliação do nível de leitura e escrita e outras atividades
variadas. Quanto à leitura, ele demonstrou muita dificuldade. Realizou a leitura de
algumas sílabas simples com apoio. Na escrita encontra-se no nível silábico
alfabético, em que escreve as palavras ora colocando duas ou mais letras para
escrever determinada sílaba, ora escrevendo uma única letra para representar uma
sílaba completa. Sua letra é legível.
Para elaborar pequenas frases ele se mostrou resistente. Não utilizou
elementos de coesão e o fez com uma escrita silábico-alfabética.
Foi lhe apresentado o jogo “Batalha dos nomes” que consistia em pegar uma
carta da mesa sem olhar, dizer o nome da figura e contar quantas sílabas sua
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palavra é formada, assim, ganharia aquele que tivesse a carta com o maior número
de sílabas. No início, A. L. teve dificuldade para contar as sílabas das palavras, mas
logo compreendeu o jogo e participou bem. Posteriormente, em relação ao “Jogo
das Rimas”, no qual deveria encontrar no tabuleiro uma figura que rimasse com a
carta que era retirada, ele não compreendeu a regra inicialmente, mas depois de
observar o jogo acabou por reconhecer as rimas e jogou com disposição e interesse.
No jogo “Quem escreve é você” demonstrou interesse em brincar. O
combinado era jogar o dado e escrever a imagem que aparecia na cartela e, então,
A. L. apresentou uma escrita silábico-alfabética ao escrever as palavras,
demonstrado da seguinte maneira:
NOME DO DESENHO DA CARTELA COMO A. L. ESCREVEU
OLHO OLO
MACACO MACOCA
CAVALO CAVALO
TABELA 1: ESCRITA DE FIGURA
FONTE: AS AUTORAS
No entanto, A. L. gostou bastante do Jogo Lince, já sabia jogar e disse que
iria vencer. Discurso este que estava presente em todas as sessões. Houve
entendimento das regras com facilidade, porém dificuldade para encontrar as
figuras. Após o jogo, foi proposto que escolhesse duas cartas do jogo e elaborasse
uma frase com cada uma. Observa-se na tabela uma escrita silábico-alfabética,
tanto com a figura do carro como com a carta do hipopótamo:
FIGURA DA CARTA ESCOLHIDA POR A. L. FRASE DO A. L. COM A FIGURA ESCOLHIDA
CARRO CARRO TO (O carro é bonito)
HIPOPÓTAMO IPPOTAMO EDE (O hipopótamo é grande)
TABELA 2: ESCRITA DE FRASE COM FIGURA
FONTE: AS AUTORAS
Em relação ao “Bingo dos sons iniciais”, o qual consistia em encontrar na
sua cartela uma figura (contendo a palavra escrita embaixo) que inicie com a mesma
sílaba da carta sorteada, não leu as palavras, mas reconheceu algumas sílabas
simples com apoio e identificou o som inicial das palavras.
20
Para a leitura de palavras foi usado o jogo da memória “Que brinquedo é
esse?”. O jogo apresenta cartas com imagens de brinquedos que devem ser
pareadas com as palavras correspondentes. Ao jogar, ele apresentou boa memória
para localizar as cartinhas, contudo não conseguiu ler as palavras. Foram
identificadas algumas sílabas simples com apoio. Em relação às fichas, não quis ler,
disse que não sabia e que era muito chato e, então, foi combinado que escolhesse
três palavras da ficha para ler. A. L. aceitou e escolheu as palavras, mas mesmo
com ajuda não conseguiu unir as sílabas para compreender as palavras. Segue as
palavras escolhidas e suas respectivas leituras:
PALAVRAS ESCOLHIDAS POR A. L. COMO A. L. LEU
GIRAFA GI (sozinho) + RA (com ajuda) = RATO
BORBOLETA BO (sozinho)
CABRITO TO (sozinho)
TABELA 3: LEITURA DE PALAVRAS
FONTE: AS AUTORAS
Para a leitura de frases, não demonstrou interesse e não queria fazer. Foi
combinado que se tentasse, poderia brincar com o jogo Lince. A. L. aceitou ler duas
frases, mencionadas a seguir:
FRASES APRESENTADAS COMO A. L. LEU
PAPAI CHUTA A BOLA P com A – PA
BOLA (sozinho)
O pato nada no rio pato (com ajuda)
TABELA 4: LEITURA DE FRASES
FONTE: AS AUTORAS
Na primeira frase apresentada não conseguiu ler o PAI, nem mesmo com
auxílio e identificou a palavra BOLA apontando para ela. Em seguida, foi
apresentada a frase ”O pato nada no rio” em letra script e foi dito que na escola já
usavam essa letra e que ele tinha um caderno de caligrafia. Disse ser muito bom
nisso, mas em nenhum momento usou a letra cursiva ou script nas suas produções.
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Para verificar o nível de escrita também foi realizado o ditado semântico e o
autoditado, ou seja, a leitura de imagens e escrita. A. L. realizou o ditado semântico
com rapidez. Distraiu-se em alguns momentos com conversas. Demonstrou
encontrar-se no nível silábico-alfabético para a escrita de palavras. Seguem na
tabela abaixo as palavras ditadas:
CAMPO SEMÂNTICO PALAVRAS DITADAS ESCRITA DO A. L.
ANIMAIS
HIPOPÓTAMO
TARTARUGA
GALINHA
PEIXE
GALO
LOBO
BOI
IPOTAMO
TATAGA
GALINHA
PSE
CALO
LOBO
BOLI
TABELA 5: DITADO SEMANTICO
FONTE: AS AUTORAS
No autoditado, também apresentou uma escrita silábico-alfabética conforme
indicado na tabela:
CAMPOS SEMÂNTICOS IMAGENS ESCRITA DO A. L.
ANIMAIS
DINOSSAURO
TARTARUGA
GALINHA
LEÃO
DINHORO
TATAGO
GALINHA
LEÃ
MEIOS DE
TRANSPORTE
BICICLETA
CAMINHÃO
BITA
CARRO
OBJETOS DE COZINHA
PANELA
FOGÃO
PALA
FOGO
FRUTAS
MELANCIA
MORANGO
LARANJA
MELA
MORGO
LARJA
NATUREZA FLOR FORE
TABELA 6: ESCRITA DE IMAGENS DE DIFERENTES CAMPOS SEMANTICOS
FONTE: AS AUTORAS
Durante as sessões também foi proposto o Teste de Audibilização, de
Clarissa Golberg, no qual se constatou falta de atenção e dificuldade em relação à
discriminação fonética, não identificando sílabas iguais e/ou diferentes. Ao realizar a
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tarefa de memória auditiva com a memorização de sequência de palavras, números
e frases, A. L. fez trocas e omissões dos itens. Não compreendeu as atividades de
organização sintático-semântica. Na conceituação e identificação dos absurdos, não
identificou todos os que foram apresentados.
Em relação ao teste, na discriminação fonética, acertou 11 de 24; na
memória de palavras acertou somente os grupos de três palavras; na memorização
de frases conseguiu lembrar das frases compostas por até 7 palavras; na memória
de dígitos lembrou das sequências de até 3 dígitos e duas de 4 dígitos. Nas demais,
não conseguiu êxito.
Em relação à análise e síntese auditiva (número de sílabas), acertou 5 das
10 palavras. Não compreendeu o teste de análise e síntese auditiva com as sílabas
misturadas.
Na conceituação e identificação de absurdos das 6 frases, percebeu os
absurdos em apenas 3, mas não explicou corretamente. Acertou uma delas, mas
não percebeu os absurdos de duas.
Para a identificação de objetos e situações acertou 3 das 5 situações. Na
definição da palavra (definir os objetos) acertou todos. Em relação à organização
sintático-semântica (formar frases com as palavras) não compreendeu a consigna,
mesmo sendo dado um exemplo.
Quanto aos problemas matemáticos, não conseguiu resolver e nem fez
muitas tentativas. Não tentou utilizar estratégias como: desenhar, contar nos dedos
ou outra. Apenas pensou por alguns segundos e registrou o numeral.
Na sequência, foi solicitado que resolvesse algumas situações-problemas.
No primeiro problema colocou rapidamente o número 10 como resposta, sem
desenhar nem armar alguma operação e quando questionado sobre como descobriu
disse que era fácil demais, mas não soube explicar, demonstrando assim dificuldade
para resolver. Já no segundo problema A. L. registrou como se fosse escrever a
linguagem matemática. Colocou o 25, deixou um espaço, escreveu o 21, fez mais
um espaço e escreveu 52, porém sem chegar ao resultado certo. E, ao final, apenas
disse que era preciso subtrair na primeira questão e somar na segunda, mas sem
desejo de pensar para fazer o que pedia.
Logo após, foi inserido um último jogo chamado “Jogo quem é o maior?”.
Nele precisava virar duas cartas numeradas e compor o número para ver quem
23
formava o maior, o que lhe despertou interesse e conseguiu reconhecer o maior e o
menor número em cada jogada.
Foi realizado um ditado de números e A. L. registrou corretamente alguns
numerais e identificou os números maiores em cada situação.
Na atividade final era para identificar os números representados pelos
desenhos do material dourado. Ele contou as dezenas, mas quando foi contar as
unidades em alguns momentos contava atribuindo a elas o valor 10 ou se perdia na
contagem, assim, demonstrou não ter domínio do Sistema de Numeração Decimal.
6. TERCEIRO SISTEMA DE HIPÓTESES
 Baixa autoestima.
 Dificuldade de concentração / atenção.
 Resistência em realizar atividades escolares, como manipular lápis, papel, giz
de cera e outros materiais.
 Vínculo negativo com a aprendizagem.
 Sentimento de desvalorização em relação à aprendizagem.
 Não mantém coerência e sequência lógica em suas narrativas.
 Dificuldade em relação ao processo de alfabetização.
 Dificuldade no raciocínio lógico-matemático.
6.1 INFORME PSICOPEDAGÓGICO
Dados de identificação
Nome: A. L.
Filiação: A. D. e V. L.
Idade: 7 anos e 7 meses
Data de nascimento: 07/10/2011
Escolaridade: 3.° ano do Ensino Fundamental
Instituição Escolar: Escola pública da Rede Municipal de Ensino de Curitiba,
pertencente ao Núcleo Regional de Educação do Boa Vista.
Motivo da procura
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A procura foi realizada pelos pais que trouxeram como queixa a dificuldade de
A. L. em relação à aprendizagem, principalmente em Língua Portuguesa, pois ainda
não consegue ler e escrever. Ele fica nervoso, tem baixa autoestima e resistência
em relação às atividades escolares e tarefas de casa. A escola comentou com a
família sobre a hipótese de dislexia.
Período de avaliação
A. L. iniciou a avaliação no dia 03 de maio de 2019, conforme solicitação dos
pais. Para tal avaliação foram realizadas 10 sessões.
Recursos utilizados
● Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem (EOCA).
● Provas do Diagnóstico Operatório.
● Técnicas Projetivas Psicopedagógicas.
● Teste de Audibilização.
● Avaliação do nível de aquisição da leitura e da escrita.
● Entrevista Histórica.
● Contato com a escola (professora regente).
Análise dos resultados
A. L. é o filho único e mora com a mãe, mas tem um bom convívio com o pai.
Durante o processo avaliativo mostrou-se comunicativo e simpático com as
avaliadoras. Porém, ficou agitado, desatento e resistente às atividades mais formais,
que remetem as escolares.
Dimensão da linguagem oral e escrita
Em relação ao processo de aquisição da leitura e da escrita, A. L. foi avaliado
através de jogos, atividades de avaliação do nível de leitura e escrita e outras
atividades variadas. Quanto a leitura, demonstrou muita dificuldade. Realizou a
leitura de algumas sílabas simples com apoio. Na escrita, encontra-se no nível
silábico-alfabético, em que escreve as palavras ora colocando duas ou mais letras
para escrever determinada sílaba, ora escrevendo uma letra para uma sílaba inteira.
Sua letra é legível.
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Para elaborar pequenas frases, mostrou-se resistente. Não utilizou elementos
de coesão e o fez com uma escrita silábico-alfabética.
Por meio do Teste de Audibilização (Clarissa Golberg), constatou-se falta de
atenção e dificuldade em relação à discriminação fonética, não identificando sílabas
iguais e/ou diferentes. Ao realizar a tarefa de memória auditiva, sendo na
memorização de sequência de palavras, números e frases, A. L. fez trocas e
omissões dos itens. Não compreendeu as atividades de organização sintático-
semântica. Na conceituação e identificação dos absurdos, não identificou todos os
que foram apresentados.
Dimensão cognitiva
Por meio das Provas do Diagnóstico Operatório Piagetianas, observou-se que
A. L. demonstrou um desempenho compatível ao Período Pré-Operatório, visto que
ainda não faz a conservação de quantidades, de massa e nem de líquidos, o que
seria esperado ao ano de ensino que cursa.
Já nas provas de classificação teve melhor desempenho, contudo não
expandiu suas ideias de forma clara e segura. Demonstrou dificuldade na
elaboração do pensamento, com respostas intuitivas e sem argumentação.
Nos problemas matemáticos apresentados não conseguiu resolver e nem fez
muitas tentativas. Embora sugerido, não tentou utilizar estratégias como desenhar,
contar nos dedos ou outras. Demonstrou que sabia quais eram as operações que
precisaria realizar (subtração e adição), porém apenas pensou por alguns segundos
e registrou o numeral.
Dimensão emocional e social
As Técnicas Projetivas e as observações durante as sessões foram utilizadas
para avaliar a área emocional. Nessas situações, A. L. conversou muito e ia
narrando sobre o que desenhava. Por meio delas, percebeu-se que tem bom vínculo
com os colegas, mas o vínculo com a aprendizagem necessita ser reforçado.
Mostrou também sua dificuldade em se perceber dentro de um sistema de
aprendizagem formal.
Dimensão familiar
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Ao realizar a entrevista histórica com os pais, foram obtidas informações
sobre a gestação e a primeira fase de desenvolvimento da sua vida. Os pais
informaram que A. L. demorou para andar e falar (após os 18 meses) e já no
berçário perceberam a necessidade de estimulá-lo a andar. Nas tarefas da escola
enviadas para casa, apresentava grande resistência, contudo há alguns meses, com
a mudança de postura dos pais, atualmente realiza essas tarefas com tranquilidade.
Não gosta de leituras e também não se interessa em assistir a filmes infantis.
Prefere brincar no quintal e gosta muito de jogar futebol e de cuidar dos animais,
pois tem em casa uma criação de galinhas.
Os pais buscam, além da avaliação psicopedagógica, uma avaliação
fonoaudiológica, neurológica e psicológica. Foi realizado exame oftalmológico e
nada foi detectado.
Contato com a escola
Por meio do contato com a professora, na escola em que estuda, constatou-
se a preocupação com A. L. quanto ao seu desempenho acadêmico. Segundo relato
da professora regente, é um estudante muito educado, calmo, convive em harmonia
com seus colegas e tem um pequeno grupo de afinidade gerado pelo interesse por
futebol. Sua família é bastante participativa e comprometida com a aprendizagem. A
professora já ministrou aulas para A. L. no 1.º ano, quando já detectou alguma
dificuldade cognitiva. Durante as aulas ele fala pouco, mas gosta muito de conversar
com a professora sobre assuntos alheios aos da sala de aula. Nessas conversas, a
professora nota que algumas vezes perde o foco do assunto e não faz uma narrativa
linear.
Muitas vezes realiza as atividades com o apoio da professora corregente em
sala de aula. A regente envia para casa tarefas específicas adaptadas
especialmente para o estudante. Em sua produção, A. L. ainda oscila, visto que num
momento demonstra compreender determinado conteúdo, mas em outro parece não
lembrar mais. Quando percebe que não está acompanhando a compreensão da
lição, A. L. se cala e parece ficar entristecido. A professora teme que sua autoestima
seja abalada e, por isso, procura valorizar as suas conquistas. A professora e a
pedagoga suspeitam que possa ser um caso de dislexia.
Síntese diagnóstica
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Com a finalização da avaliação, constatou-se que obstáculos funcionais,
emocionais e possivelmente orgânicos estão impedindo que o processo de ensino-
aprendizagem de A. L. evolua de forma gradativa e linear.
Indicações
Por meio da avaliação realizada, sugere-se um acompanhamento
psicopedagógico com frequência de duas vezes na semana para que A. L.
reconheça e compreenda como ocorre a sua aprendizagem, realize atividades que
resgatem a construção da sua consciência fonológica, oralidade, atividades que
envolvam leitura e escrita, além de desenvolver a construção do conceito de
números e de aprimorar o raciocínio lógico-matemático.
Paralelamente a este trabalho se faz necessária orientação aos pais para que
estimulem a oralidade, solicitando que A. L. narre acontecimentos do dia a dia de
forma linear e com sequência (o que aconteceu antes e depois), dê recados aos
familiares e à professora. Os pais também podem proporcionar estímulos à leitura de
pequenas histórias do seu interesse como momentos de relaxamento e de prazer
em família. Valorizar as suas conquistas e seu esforço se faz necessário para
desenvolver melhor a sua autonomia e, consequentemente, fortalecer a sua
autoestima.
Solicitamos o retorno dos resultados das avaliações que estão sendo
realizadas com Psicólogo, Fonoaudiólogo e Neurologista, para a escola e para o
Psicopedagogo que fará o acompanhamento, assim que estas sejam finalizadas.
Sugerimos avaliação fonoaudiológica para verificar suspeita de alteração no
processamento auditivo central bem como, avaliação neurológica, a fim de verificar
um possível déficit de atenção. Quanto a suspeita de dislexia, devido à idade de A.
L. e ele estar em processo de alfabetização, atualmente não consideramos esta
hipótese. Caso as dificuldades perdurem mesmo após as intervenções necessárias,
sugerimos nova avaliação.
Quanto à escola, sugere-se ao corpo docente envolvido no processo de
ensino-aprendizagem de A. L., que busque situações para que esteja envolvido e
focado em suas atividades escolares. Sugere-se também que A. L. esteja sentado
nas primeiras carteiras da sala de aula e que sejam retomadas as explicações para
que consiga compreender melhor os novos conteúdos. Sempre que possível,
manusear materiais concretos para que construa os conceitos matemáticos.
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Solicitamos que A. L. realize as avaliações em sala separada e/ou com a professora
auxiliar para que possa ler os enunciados à ele.
6.2 DEVOLUTIVA
Depois de concluída a avaliação, foi feita a devolutiva para a família e para a
escola onde A. L. estuda. Neste último encontro com a família, foi entregue o
informe psicopedagógico, o qual também permaneceu no prontuário de A. L. na
Clínica de Psicologia da Universidade Positivo. Os pais mostraram-se receptivos e
ansiosos em receber as orientações e compreenderam a necessidade de manter o
acompanhamento de A. L. em sessões de fonoaudiologia e psicopedagogia.
Inclusive a mãe já se mostrou disposta a iniciar imediatamente, visto que tem
convênio com esses profissionais por meio da empresa onde trabalha. Da mesma
maneira, darão continuidade às consultas com o neuropediatra que já consultaram
anteriormente, fazendo, assim, um trabalho conjunto e complementar entre todas
essas especificidades.
REFERÊNCIAS
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crianças com dislexia e transtorno do déficit de atenção e hiperatividade. Pró-Fono
Revista de Atualização Científica, p. 25-30, 2010. Disponível em:
<https://www.researchgate.net/publication/42589924_Hearing_abilities_in_children_
with_dyslexia_and_attention_deficit_hyperactivity_disorder>. Acesso em: 09 jul.
2019.
CID 10 – Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas
relacionados à saúde. Organização Mundial da Saúde. 8. ed. São Paulo: USP,
2000.
CAGLIARI, L. C. Alfabetização e Linguística. São Paulo: Scipione, 2010.
CANCELA, A. L. As implicações da dislexia no processo de aprendizagem na
perspectiva dos professores do 1º ciclo do ensino básico. 2014. 149f.
Dissertação (Mestrado em Ciências da Educação) – Universidade Fernando Pessoa,
Porto, 2014. Disponível em:
<https://bdigital.ufp.pt/bitstream/10284/4262/1/Disserta%C3%A7%C3%A3o_Mestrad
o_Anabela%20Cancela_ok.pdf>. Acesso em: 30 mar. 2018.
DAVIS, C.; OLIVEIRA, Z. D. Psicologia na Educação. São Paulo: Cortez, 1994.
29
FERREIRO, E.; TEBEROSKI, A. Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre:
Artmed, 1999.
FROTA, S.; PEREIRA, L. D. Processos temporais em crianças com déficit de
consciência fonológica. Revista Iberoamericana de Educación, n. 33/9, p. 1-12,
2004. Disponível em: <https://rieoei.org/historico/investigacion/763Frota.PDF>.
Acesso em: 09 jul. 2019.
TEIXEIRA, G. Transtornos escolares. Rio de Janeiro: Saraiva, 2013.
TOMELIN, K. N. Hora de Incluir: Primeiros passos para a inclusão no contexto
educacional. Curitiba: Positivo, 2018.
TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa
qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.
ANEXOS
FICHA DE FREQUÊNCIA DA PRÁTICA PSICOPEDAGÓGICA CLÍNICA
ENTREVISTA PSICOPEDAGÓGICA – FAMÍLIA
DADOS PESSOAIS
Nome: _____________________________________________ Idade ________ anos
Nascimento: ________/_________/____________ Sexo ( ) M ( ) F
Naturalidade (cidade): ______________________________________________________
Tem apelido? ( ) S ( ) N Qual?_________________________ Ele(a) gosta? ( ) S ( ) N
Por que tem esse apelido? __________________________________________________
End: ____________________________________________________________________
Bairro: _________________________________ Cidade: __________________________
Telefones para contato:
1) ______________________________________________________________________
2) ______________________________________________________________________
3) ______________________________________________________________________
Escola: _________________________________________________________________
Série que cursa:___________________ Prof: ___________________________________
Horário que estuda: ________________________________________________________
Pai: ______________________________________________________ Idade: _________
Estudou até: ___________________________ Profissão: __________________________
Mãe: ____________________________________________________ Idade: __________
Estudou até: ___________________________ Profissão: __________________________
Irmãos (nome e idade): _____________________________________________________
________________________________________________________________________
Esquema familiar: _________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
Convive com outros familiares? (Avós, tios, primos / com que idade?)
________________________________________________________________________
QUEIXA
Na escola:
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
Na família:
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
HISTÓRIA DE VIDA
CONCEPÇÃO
Gravidez desejada? ( ) S ( ) N
O casal ou de um dos pais precisou mudar muito a rotina? ( ) S ( ) N
Como foi a gestação? (Pré-natal, cuidados, doenças, sintomas, alimentação)
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
Como foi o parto? (Sofrimento fetal, má oxigenação, lesões)
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
AMAMENTAÇÃO (Defasagem, assimilação/acomodação, carga afetiva):
Mamou no peito? ( ) S ( ) N. Como foi a passagem do peito para mamadeira?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
E para papinha?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
Hoje tem hora para comer? ( ) S ( ) N
Come depressa? ( ) S ( ) N
Mastiga bem ( ) S ( ) N
Comem juntos? ( ) S ( ) N
Come vendo TV? ( ) S ( ) N
ELIMINAÇÃO
Com que idade parou de usar fraldas?
________________________________________________________________________
Como foi a passagem para o vaso sanitário (Segurava? Molhava a roupa? Brincava?
Chorava? Era repreendido?)
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
EVOLUÇÃO PSICOMOTORA
Ficou no cercadinho? ( ) S ( ) N
Engatinhou? ( ) S ( ) N. Com que idade andou? _________
Corria muito? ( ) S ( ) N
Como aprendeu a andar? ___________________________________________________
Mostrava-se corajoso(a) ao subir escada? ( ) S ( ) N
Era inseguro(a)? ( ) S ( ) N
Como evoluiu a coordenação dos movimentos finos? (Brinquedos, colher, rabiscos que
fazia)
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
E dos grandes músculos? (Chutar bola, correr, parquinho)
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
HOJE
É estabanado(a)? ( ) S ( ) N
Anda de bicicleta? ( ) S ( ) N
É agitado(a)? ( ) S ( ) N
Anda de patins? ( ) S ( ) N
Nada? ( ) S ( ) N
Sobe em árvores / trepa-trepa? ( ) S ( ) N
FALA
Com que idade começou a falar? __________ Com quem falava mais? _______________
Falavam para ele(a) repetir? ( ) S ( ) N
Quais foram as primeiras palavras? ___________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
Trocavas letras? ( ) S ( ) N
Quais? __________________________________________________________________
Falavam muito errado? ( ) S ( ) N
HOJE
Troca letras? ( ) S ( ) N
Fala muito (ansioso)? ( ) S ( ) N
Fala de uma forma que todos entendem? ( ) S ( ) N
Consegue dar recados? ( ) S ( ) N
Conta história/um caso/uma novela? ( ) S ( ) N. Você entende? ( ) S ( ) N
SONO
É agitado? ( ) S ( ) N É sonâmbulo? ( ) S ( ) N Tem pesadelos? ( ) S ( ) N
Dorme sozinho? ( ) S ( ) N. Ou com quem? ____________________________________
Tem medo de dormir sozinho? ( ) S ( ) N Enurese nortuna? ( ) S ( ) N
HISTÓRIA CLÍNICA
Ocorreram:
Bronquite? ( ) S ( ) N Alergia? ( ) S ( ) N Asma? ( ) S ( ) N
Viroses infantis? ( ) S ( ) N Internações? ( ) S ( ) N Cirurgias? ( ) S ( ) N
Outras Doenças? ( ) S ( ) N. Quais? __________________________________________
Tratamentos realizados (Fonoaudiólogo, psicólogo, neurologista ...)? ( ) S ( ) N
Qual: ___________________________________________________________________
Problemas de visão? ( ) S ( ) N Audição? ( ) S ( ) N
HISTÓRIA DA FAMÍLIA NUCLEAR
Fatos marcantes dos pais e irmãos (Antes, durante e depois da entrada do paciente na
família) _________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
ESTIMULAÇÃO
A criança tem acesso a:
Brinquedos pedagógicos? ( ) S ( ) N Jogos? ( ) S ( ) N
Revistas? ( ) S ( ) N Brinquedos eletrônicos? ( ) S ( ) N
Livros? ( ) S ( ) N Jornal? ( ) S ( ) N
De que atividades ele(a) participa:
Música? ( ) S ( ) N Dança? ( ) S ( ) N
Atividades artísticas? ( ) S ( ) N Esporte? ( ) S ( ) N
OUTRAS OBSERVAÇÕES QUE JULGAR IMPORTANTE:
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
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O ACOMPANHAMENTO PSICOPEDAGÓGICO DIANTE DAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM.pdf

  • 1. UNIVERSIDADE POSITIVO CURSO DE PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E CLÍNICA LAIZ MARIA MASSUCHETTO MARIA EMILIA SCHIFFER VEIGA TODESCHI TELMA LUCIA MONTRUCCHIO ILKIU O ACOMPANHAMENTO PSICOPEDAGÓGICO DIANTE DAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM CURITIBA 2019
  • 2. LAIZ MARIA MASSUCHETTO MARIA EMILIA SCHIFFER VEIGA TODESCHI TELMA LUCIA MONTRUCCHIO ILKIU O ACOMPANHAMENTO PSICOPEDAGÓGICO DIANTE DAS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM Relatório de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de pós-graduação em Psicopedagogia Institucional e Clínica, da Universidade Positivo, como requisito parcial à obtenção do título de Especialista. Orientadora: Prof. Esp. Rosana Pessatti CURITIBA 2019
  • 3. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ...........................................................................................................3 1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .............................................................................4 1.1 A AQUISIÇÃO DA LEITURA E DA ESCRITA ......................................................4 1.2 O TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM OU SEM HIPERATIVIDADE ......................................................................................6 1.3 A DISLEXIA COMO DISTÚRBIO DE LEITURA E DE ESCRITA ..........................7 1.4 AS FALHAS NO PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL ...............................7 1.5 O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DE ACORDO COM PIAGET ...................8 2. PROCESSO DIAGNÓSTICO .................................................................................9 2.1 CONTATO INICIAL ..............................................................................................9 2.2 QUEIXA ...............................................................................................................9 2.3 ENQUADRAMENTO ............................................................................................9 2.4 EOCA ..................................................................................................................10 2.5 ANÁLISE DA EOCA ............................................................................................10 3. PRIMEIRO SISTEMA DE HIPÓTESES ................................................................11 4. INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO ......................................................................12 4.1 APLICAÇÃO DAS PROVAS DO DIAGNÓSTICO OPERATÓRIO .......................12 4.2 APLICAÇÃO DAS PROVAS PROJETIVAS PSICOPEDAGÓGICAS ...................12 4.3 APLICAÇÃO DE OUTROS INSTRUMENTOS ....................................................12 4.4 ENTREVISTA HISTÓRICA (ANAMNESE) ..........................................................13 4.5 CONTATO COM A ESCOLA ...............................................................................14 5. SEGUNDO SISTEMA DE HIPÓTESES ................................................................15 5.1 ANÁLISE DAS PROVAS DO DIAGNÓSTICO OPERATÓRIO ............................15 5.2 ANÁLISE DAS PROVAS PROJETIVAS PSICOPEDAGÓGICAS ........................17 5.3 ANÁLISE DE OUTROS INSTRUMENTOS APLICADOS ....................................18 6. TERCEIRO SISTEMA DE HIPÓTESES ................................................................23 6.1 INFORME PSICOPEDAGÓGICO .......................................................................23 6.2 DEVOLUTIVA .....................................................................................................28 REFERÊNCIAS ........................................................................................................28 ANEXOS
  • 4. 3 INTRODUÇÃO A Psicopedagogia é uma ciência que se dedica exclusivamente a aprendizagem, levando em conta os fatores que facilitam e/ou dificultam o ato de aprender, tanto em indivíduos neurotípicos como atípicos, pautando-se sempre nas potencialidades de cada um. Assim, a prática psicopedagógica clínica tem a finalidade de trabalhar em cima de um caso específico, a partir da escuta de sua queixa e posterior avaliação. Este trabalho consiste, então, em um relato fundamentado de um processo de avaliação psicopedagógica realizado na Clínica de Psicologia da Universidade Positivo. O enquadramento foi de 10 sessões realizadas em duas vezes semanais subsequentes para atender o caso de A. L., estudante de sete anos de uma determinada escola pública do município de Curitiba, pertencente ao Núcleo Regional de Educação do Boa Vista. Os pais de A. L. apresentaram como queixa a dificuldades de aprendizagem, principalmente em relação à Língua Portuguesa, por ele ainda não ler e escrever mesmo já estando no 3.º ano do ensino fundamental, além de ficar nervoso, ter baixa autoestima e resistência às atividades escolares e tarefas de casa, destacando pela escola a hipótese de dislexia. O objetivo da avaliação psicopedagógica foi identificar e compreender os processos cognitivos, orgânicos, emocionais, pedagógicos, culturais e sociais que poderiam estar interferindo na aprendizagem de A. L. e para tal foram utilizados diversos instrumentos de avaliação. A escrita espontânea da criança foi acompanhada com base no estudo da Psicogênese da Língua Escrita, de Emília Ferreiro e Ana Teberoski, e foram aplicadas provas Piagetianas para conhecer as condições, funcionamento e o desenvolvimento das funções lógicas do sujeito, permitindo também a investigação do nível cognitivo em que o indivíduo se encontra. Da mesma forma, a fim de investigar a rede de vínculos, foram aplicadas técnicas projetivas psicopedagógicas. Por meio delas, foram avaliados os três domínios: o escolar, o familiar e o consigo mesmo. Em cada um desses domínios, guardando as diferenças individuais, foi possível reconhecer três níveis em relação ao grau de consciência dos distintos aspectos que constituem o vínculo da aprendizagem.
  • 5. 4 Para finalizar e aprimorar o processo avaliativo com A. L. outros meios de avaliação foram igualmente aplicados e analisados, tais como o teste de audibilização, de Clarissa Golberg, jogos, ditados semânticos e situações-problema e, para melhor conhecer nosso objeto de estudo, foi realizada uma entrevista histórica (anamnese) com a família. Na sessão reservada para a visita à escola, foi conversado com a professora do menino e descartada a hipótese de hipercinesia devido ao comportamento tranquilo em sala de aula e, assim, fechamos o caso levantando um possível caso de Transtorno de Déficit de Atenção sem hiperatividade, acompanhado de um Déficit no Processamento Auditivo Central (DPAC) pelas respostas obtidas nos testes e demais atividades durante as sessões. Desse modo, a fundamentação teórica foi dividida em subtemas descrevendo sobre a aquisição da leitura e da escrita, o transtorno do déficit de atenção com ou sem hiperatividade, a dislexia como distúrbio de leitura e de escrita, as falhas no processamento auditivo central e o desenvolvimento cognitivo de acordo com Piaget. A tecitura da mesma foi elaborada com base nas ideias de Ferreiro e Teberoski (1999), Cagliari (2010), Tomelin (2018), Teixeira (2013), Frota e Pereira (2004), Abdo, Murphy e Schochat (2010) e Davis e Oliveira (1994). A devolutiva para a família foi de fácil aceitação e reconhecimento da necessidade de continuar o acompanhamento psicopedagógico, neuropediátrico e fonológico, bem como já haviam manifestado interesse anterior. Assim sendo, este trabalho não deixa de ser uma pesquisa de abordagem qualitativa, tendo o caso como um todo – a criança, seus pais e escola/professora – como fonte direta de dados e o pesquisador – avaliadoras – como seu principal instrumento, segundo Lüdke e André (1986). E, por fim, também se constitui como uma pesquisa de caráter descritivo, na qual pretende descrever com “exatidão” os fatos e fenômenos de determinada realidade, tendo todos os envolvidos claramente delimitados, juntamente com os objetivos de estudo, os termos e as variáveis, as hipóteses, as questões de pesquisa, entre outros, de acordo com Triviños (1987). 1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 1.1 A AQUISIÇÃO DA LEITURA E DA ESCRITA
  • 6. 5 O processo de aprendizagem da leitura e da escrita é baseado, atualmente, no estudo da Psicogênese da Língua Escrita, elaborada por Emília Ferreiro e Ana Teberoski em 1986. Com A. L., que apresenta dificuldades em relação à aquisição da leitura e da escrita, não foi diferente, pois a análise de sua escrita espontânea também foi norteada em cima desse estudo, no qual, segundo Ferreiro e Teberoski (1999), demonstra que os aprendizes elaboram hipóteses de como a escrita alfabética funciona, passando por cinco níveis, também chamados de hipóteses: icônico, pré-silábico, silábico, silábico-alfabético e alfabético. Este trabalho será fundamentado a partir da hipótese pré-silábica que já é uma escrita característica dos estudantes do ensino fundamental, então, nesse período a criança ainda não entende que a escrita representa “pedaços sonoros”, mas já compreende que para escrever se usam letras e, assim, utiliza letras aleatórias e, algumas vezes, pode usar até números em sua escrita, de acordo com Ferreiro e Teberoski (1999). Já no nível silábico, as mesmas autoras afirmam que o estudante começa a perceber que para cada sílaba falada se faz necessário uma letra. Neste período, inicialmente, pode-se apresentar uma escrita silábica quantitativa ou sem valor sonoro em que se coloca uma letra para cada sílaba sem se preocupar com o som e, ainda nesta etapa, evolui-se para a escrita silábica qualitativa ou com valor sonoro, começando a usar uma letra que corresponde aos sons contidos nas sílabas da palavra. É possível usar só vogais, só consoantes ou mesclar o uso de vogais e consoantes numa mesma palavra. No próximo nível, o da escrita silábico-alfabético, Ferreiro e Teberoski (1999) destacam que ora a criança coloca duas ou mais letras para escrever determinada sílaba, ora volta a pensar conforme a hipótese silábica e põe apenas uma letra para a sílaba inteira. E, finalmente, no nível alfabético, a criança escreve com muitos erros ortográficos, mas seguindo o princípio de que é preciso colocar letras que correspondem a cada um dos sons que aparecem na sílaba. Os adultos alfabetizados estão tão familiarizados com a escrita que não refletem sobre a sua complexidade, nem se dão conta de como a criança percebe esta atividade, então, de acordo com Cagliari (2010), a criança se lança no mundo da escrita fazendo inicialmente rabiscos, misturando linhas retas com linhas curvas. Em seguida, ela passa a agrupar letras aleatoriamente, demonstrando que já possui uma noção do que é a escrita, isto é, a criança já sabe que se escreve com
  • 7. 6 determinados sinais, mas ainda não percebe que tais sinais seguem uma ordem na colocação para produzirem significados. Segundo o autor, nessas tentativas, a criança procura representar o que ela imagina que seja a escrita e, nesse momento, é importante deixá-la experimentar como escrever as letras, dando-lhes tempo para processar sua aprendizagem. Porém, muitos pais e educadores não permitem que a criança desenvolva seu aprendizado da linguagem escrita como fez com o da fala e, dessa forma, ela fica impedida de errar, tentar e corrigir. Assim, é interessante perceber que ao desenvolver a sua linguagem oral, a criança apresenta “falhas” que são perfeitamente aceitas pelos adultos, mas, ao entrar na escola, ela deve fazer tudo “certo” desde o início. Uma atividade fundamental desenvolvida pela escola é a leitura, pois ela será sempre utilizada fora desse espaço. Nas palavras de Cagliari (2010, p.133): A leitura é uma decifração e uma decodificação. O leitor deverá em primeiro lugar decifrar a escrita, depois entender a linguagem encontrada, em seguida decodificar todas as implicações que o texto tem e, finalmente refletir sobre isso e formar o próprio conhecimento e opinião a respeito do que leu. Essas ideias apontadas por Cagliari (2010) fazem referência ao processo de letramento que é requisito fundamental para uma aprendizagem eficaz, pois a proposta de ensino atualmente é nada mais do que alfabetizar letrando. 1.2 O TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO COM OU SEM HIPERATIVIDADE Muitas crianças em idade escolar apresentam dificuldades de aprendizagem e/ou socialização decorrentes de um déficit de atenção que pode ou não estar associado à hiperatividade. De acordo com Tomelin (2018, p. 45): O TDAH é uma condição diferenciada do neurodesenvolvimento. Caracterizado por déficit de atenção, atividade física e mental excessiva, impulsividade e dificuldade em controlar comportamentos. O TDAH é dividido em três subtipos: predominantemente desatento; predominantemente hiperativo-impulsivo e o tipo combinado. O TDAH ainda pode apresentar graus, sendo leve, moderado e grave, e ter início ainda na infância se estendendo até a vida adulta. Segundo a autora, pessoas com TDAH comumente têm seu desempenho escolar/acadêmico afetado. Isso enfatiza a necessidade de estar atento aos aspectos de aprendizagem, identificando seu rendimento associado à condição para
  • 8. 7 compreender melhor o estudante e seu aprendizado. No caso de pessoas com conduta desatenta, é comum a criança em idade escolar não concluir suas tarefas, cometer erros por descuido, distrair-se com facilidade, não perceber que uma pessoa está se dirigindo a elas, apresentar dificuldade para se organizar, perder ou esquecer objetos e apresentar dificuldade em tarefas que exijam um esforço mental prolongado. 1.3 A DISLEXIA COMO DISTÚRBIO DE LEITURA E DE ESCRITA A suspeita de dislexia sugerida pela professora e pedagoga da escola, também foi um fator observado nas sessões de avaliação de A. L., pois se realmente diagnosticada a criança pode vir a ter grande dificuldade na leitura e na escrita. Nesse caso, fundamenta-se a dislexia como “[...] um transtorno de aprendizagem específico da leitura, caracterizado por dificuldade de reconhecimento de letras, decodificação e soletração de palavras, decorrência de um comprometimento no desenvolvimento de habilidades fonológicas” (TEIXEIRA, 2013, p. 227). Segundo Teixeira (2013), crianças com dislexia apresentam dificuldade em associar uma letra ao seu som e o processo de construção de frases é prejudicado pelo fato de terem que formar os diferentes fonemas para construir as palavras. Frequentemente, nas palavras do autor, os disléxicos apresentam: [...] leitura lenta, monossílábica, com pouca entonação de voz e com tropeços na leitura de palavras longas. Normalmente ocorre uma tentativa de adivinhação de palavras, e muitas vezes existe a necessidade de uso do contexto para se entender o que está sendo lido, não há dificuldade de compreensão, evidenciando-se de que se trata de uma dificuldade específica da leitura (TEIXEIRA, 2013, p. 228-229). Ainda sobre a isso, o autor aborda que a criança com dislexia pode apresentar na escola atraso na aquisição da linguagem, troca de letras na fala, vocabulário abaixo do esperado para a idade, dificuldade em nomear e em aprender o nome das letras, em memorizar tabuadas, perceber rimas, copiar do quadro e em entender enunciados, enfim, também possui dificuldade na alfabetização, para aprender a ler, escrever e soletrar. 1.4 AS FALHAS NO PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL
  • 9. 8 O processamento auditivo diz respeito à percepção auditiva e envolve inúmeros mecanismos fisiológicos auditivos. Existe uma relação entre o Déficit de Consciência Fonológica e desordem de processamento auditivo, pois “[...] a integridade dos mecanismos fisiológicos auditivos exerce um papel fundamental na percepção da fala, no aprendizado e na compreensão da linguagem e, consequentemente, é pré-requisito na aquisição da leitura e da escrita” (FROTA E PEREIRA, 2004, p. 2). Na literatura especializada, há um consenso de que alterações nos aspectos temporais estão presentes em crianças com problemas de linguagem e aquisição da leitura e da escrita. Nesse sentido, é possível fazer relações com os apontamentos de Abdo, Murphy e Schochat (2010) ao afirmarem que crianças com Déficit no Processamento Auditivo Central (DPAC) apresentam “[...] dificuldade de atenção e escuta, má adaptação comportamental, facilidade em se distrair, dificuldades em seguir instruções e necessidade de um tempo maior que a média para completar tarefas” (ABDO, MURPHY E SCHOCHAT, 2010, p. 26), características essas observadas em A.L., nas quais se permite associar suas dificuldades ao Déficit do Processamento Auditivo Central. 1.5 O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DE ACORDO COM PIAGET Davis e Oliveira (1994) descreve que para Piaget o desenvolvimento cognitivo do indivíduo ocorre através de constantes desequilíbrios e equilibrações. Para se alcançar um novo estado de equilíbrio são acionados dois mecanismos, um chamado de assimilação e outro de acomodação, sendo que o desenvolvimento passa por quatro estágios ou etapas distintas: a sensório-motora, a pré-operatória, a operatório-concreta e a operatório formal. No trabalho clínico é fundamental observar quando “[...] a criança no período operatório, não tem noção de conservação. Para ela, mudando-se a aparência do objeto, muda-se também a quantidade, o volume, a massa e o peso do mesmo” (DAVIS E OLIVEIRA, 1994, p. 43). Já no estágio operatório-concreto se começa a construir conceitos, criando as estruturas lógicas. Assim, explica-se que “[...] o pensamento é denominado operatório porque é reversível: o sujeito pode retornar, mentalmente, ao ponto de partida.” (DAVIS E OLIVEIRA, 1994, p. 43). Desse modo, somente agora o indivíduo
  • 10. 9 percebe que uma determinada quantidade de massinha não se altera se a forma do objeto mudar, pois o pensamento se baseia mais no raciocínio que na compreensão. Ainda não consegue pensar abstratamente, mas já pode ordenar, seriar e classificar, considerando uma etapa que vai dos 7 aos 11 anos. 2. PROCESSO DIAGNÓSTICO 2.1 CONTATO INICIAL O nome do A. L. constava em uma lista de espera para atendimento psicopedagógico na Clínica de Psicologia da Universidade Positivo, então o contato inicial foi feito via telefonema da própria clínica aos pais de A. L. O primeiro contato foi com o pai, agendando o dia e horário para colher a queixa. 2.2 QUEIXA A procura por uma avaliação psicopedagógica veio dos pais que trouxeram como queixa a dificuldade de A. L. em relação à aprendizagem, principalmente em Língua Portuguesa, pois ele ainda não consegue ler e escrever, mesmo já estando no 3.º ano do ensino fundamental de uma determinada escola pública da Rede Municipal de Ensino de Curitiba, pertencente ao Núcleo Regional de Educação do Boa Vista, em que o sistema é baseado em Ciclos de Aprendizagem. Nesse sistema, o Ciclo I é composto pelo 1.º, 2.º e 3.º ano e o Ciclo II é composto pelo 4.º e 5.º ano, havendo retenção sempre no último ano do ciclo, como no caso de A. L., caso não se alfabetize até o fim desse ano, sendo essa mais uma justificativa pela procura psicopedagógica. Foi comentado pelo pai que ele fica nervoso, tem baixa autoestima e resistência em relação às atividades escolares e tarefas de casa. A escola também comentou com a família sobre a hipótese de dislexia. 2.3 ENQUADRAMENTO No primeiro atendimento aos pais de A. L. ficaram estabelecidos os dias e horários das sessões com início no dia 03 de maio de 2019. Definiu-se que as sessões aconteceriam duas vezes por semana, sempre nas terças-feiras às 19
  • 11. 10 horas e nas sextas-feiras às 18 horas, totalizando 10 sessões. Dessas dez sessões, sete foram realizadas com A. L. para avaliação e as demais foram divididas: uma para o contato com a escola e as outras duas com a família. Com a família, a primeira sessão foi para colher a queixa e a última para fazer a devolutiva e entrega do informe psicopedagógico. A última sessão ocorreu no dia 7 de junho de 2019. 2.4 EOCA Com o objetivo de realizar o reconhecimento das dificuldades, o prognóstico e as indicações para o caso, o processo diagnóstico envolveu uma série de passos, o qual teve início com a Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem (EOCA), elaborada pelo professor argentino Jorge Visca. A EOCA é utilizada como ponto de partida em todo processo de investigação diagnóstica das dificuldades de aprendizagem e tem por objetivo estudar as manifestações cognitivo-afetivas da conduta do entrevistado em situação de aprendizagem. Permite ainda obter uma visão conjugada e um primeiro sistema de hipóteses, bem como os pontos de alerta que devem ser verificados no processo de avaliação. Este instrumento trata-se em uma entrevista estruturada que põe em evidência o aprendizado e pode ser realizado com quaisquer materiais, dependendo da idade do educando e da queixa. Os objetos são deixados sobre uma mesa, organizados de tal forma que o entrevistado precise abrir as caixas de lápis, o estojo, apontar, o lápis grafite sem ponta, enfim, procurar o que deseja, observando todo material para decidir o que vai utilizar em sua produção. 2.5 ANÁLISE DA EOCA Para realização da EOCA com A. L., as avaliadoras colocaram sobre a mesa papéis coloridos, papel sulfite branco, lápis de cor, lápis grafite com e sem ponta, apontador, borracha, giz de cera, cola colorida, glíter, tesoura, barbante, massinha e revistas e deram a seguinte consigna: “Mostre algo que você já sabe fazer usando os materiais”.
  • 12. 11 No primeiro momento, A. L. apresentou resistência em manipular os materiais oferecidos. Disse que não gostava de nada do que estava sendo disponibilizado e que não queria fazer a atividade proposta. Verbalizou que achava que não sabia fazer nada. Então, devido a resistência do menino em relação a esta proposta, foi sugerido pelas avaliadoras o jogo “Batalha dos nomes”. Esse jogo consistia em pegar uma carta sem olhar, dizer o nome da figura e contar de quantas sílabas esta palavra é formada. Ganharia aquele que tivesse a carta com o maior número de sílabas. A. L. apresentou dificuldade para contar as sílabas das palavras do jogo, mas logo compreendeu e participou bem. Também foi possível observar que ele não sabia os nomes de animais comuns como “borboleta” e “girafa”. Somente após o jogo iniciou-se a EOCA e a consigna foi novamente explicada. Foi solicitado que mostrasse algo que já sabia fazer utilizando os materiais disponíveis. Nesse segundo momento, ele realizou um desenho com lápis grafite de um campo de futebol e de dois jogadores: o Neymar e um colega da escola chamado Miguelzinho. Depois, fez o desenho de um galo e de pintinhos e disse que foi a mãe quem o ensinou a desenhar. Não quis pintar. Seu desenho foi pouco elaborado, apagou várias vezes e aproximou bastante o rosto do papel enquanto desenhava fazendo o traçado com força. No decorrer da sessão, falou muito sobre cartinhas, futebol e o quanto gosta de jogar. 3. PRIMEIRO SISTEMA DE HIPÓTESES  Baixa autoestima.  Dificuldade de concentração / atenção.  Fala bastante / não se concentra (tendência à Hiperatividade).  Resistência em realizar atividades escolares, como manipular lápis, papel, giz de cera e outros materiais.  Dificuldade visual, pois aproximou muito o rosto da folha.  Agressividade (traços fortes no desenho).  Vínculo negativo com a aprendizagem.  Sentimento de desvalorização em relação à aprendizagem.  Não tem vínculos com os colegas da turma.
  • 13. 12  Fantasia as suas narrativas (é muito bom no futebol, marca muitos gols, entre outros).  Dificuldade em relação ao processo de alfabetização. 4. INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO 4.1APLICAÇÃO DAS PROVAS DO DIAGNÓSTICO OPERATÓRIO Em relação às Provas do Diagnóstico Operatório foram utilizadas:  Provas de conservação de número, de volume e de massa.  Prova de seriação (de bastonetes).  Provas de classificação: dicotomia (mudança de critério) e de inclusão de classes. 4.2APLICAÇÃO DAS PROVAS PROJETIVAS PSICOPEDAGÓGICAS Para avaliar a área emocional foram utilizadas as seguintes provas projetivas:  Domínio consigo mesmo – “Fazendo o que mais gosto”.  Domínio escolar – “Alguém que aprende e alguém que ensina” e “Eu com os meus colegas”.  Domínio familiar – “A planta da casa”. 4.3 APLICAÇÃO DE OUTROS INSTRUMENTOS Para verificar o nível de aquisição da leitura e da escrita foram utilizados os seguintes jogos:  Jogo das rimas.  Que brinquedo é esse?  Lince.  Batalha dos nomes.  Bingo dos sons iniciais.  Quem escreve é você.
  • 14. 13 Também foi feito ditado semântico, autoditado, leitura de imagens, de palavras e frases. Para verificar os conhecimentos matemáticos utilizou-se o jogo “Quem é o Maior”, resolução de problemas, escrita de números e relação número/quantidade com o material dourado. Também foi usado o teste de audibilização. 4.4 ENTREVISTA HISTÓRICA (ANAMNESE) Compareceram o pai e a mãe, demonstrando grande interesse e preocupação em ajudar o filho a sanar e/ou diminuir as dificuldades apresentadas. Os pais são separados, desde antes do nascimento de A. L., mas têm um bom relacionamento enquanto pais. A. L. mora com a mãe e vai à casa do pai algumas vezes na semana. A cada 15 dias há alternância do menino passar o fim de semana na casa de um e de outro. O pai mora com a avó paterna de A. L. e a mãe mora no mesmo terreno que os avós maternos, portanto, ele tem grande convívio com avós e primos. Alguns fatos relevantes observados na entrevista foram que ao nascer, A. L. demorou muito tempo para chorar. A mãe não soube dizer se o médico precisou reanimá-lo, mas notou uma movimentação por parte da equipe médica. Relatou que ele chorou “bem fraquinho”. Ainda no berçário as professoras solicitaram aos pais que o estimulassem a andar. Ele andou após os 18 meses, sem ter engatinhado. Também começou a falar nessa idade e o desfralde foi tranquilo. Mamou no peito até os 9 meses e logo que entrou no berçário fazia a complementação com a mamadeira. Usou mamadeira até o final do ano passado, já com 7 anos. Atualmente, A. L. dorme na cama com a mãe, embora sua cama fique no mesmo quarto. Quando vai para a casa do pai, também dorme na cama dele. Apresenta grande interesse por jogar futebol e fala bastante nesse assunto. Também gosta muito de galinhas, desde muito pequeno, por causa da “Galinha Pintadinha” e pediu para os avós que fizessem um galinheiro em casa. É ele quem alimenta as galinhas e gosta muito de fazer isso. Os pais dizem que ele tem grande interesse pelos animais e plantas e que gosta muito de ficar no quintal brincando. Narraram que na escola os colegas ficavam rindo dele por falar muito sobre as
  • 15. 14 galinhas. Então a professora fez algumas atividades sobre o tema, nas quais A. L. se saiu muito bem (inclusive problemas matemáticos). Em casa não comenta sobre as atividades que fez na escola (exceto quando fez as atividades sobre as galinhas). Não sabe dar recados da professora e nem dos pais. Não conta uma história com coerência e nem com progressão dos fatos. Não mantém a atenção em filmes, por exemplo. Não gosta de livros e a família não tem o hábito de ler com ele. Alimenta-se bem no almoço, mas não gosta dos lanches da escola. Come com pressa, derruba a comida e o suco. É “estabanado” para segurar objetos. Tem destreza para chutar bola e correr. Há alguns meses, a partir do momento que começaram a investigar as causas das suas dificuldades, os pais modificaram a maneira de tratar as tarefas de casa e os estudos. Segundo eles, estão mais pacientes e, por isso, A. L. mostra-se mais disposto e melhorou sua autoestima e confiança. Desde o final do ano de 2018 até o momento, tem realizado investigações sobre as dificuldades de aprendizagem apresentadas: fez avaliação psicológica, a qual indicou “imaturidade cognitiva”. Não prosseguiu com a terapia psicológica. Realizou avaliação fonoaudiológica, mas os pais não recordam qual foi o laudo. Também não prosseguiu com a terapia. No momento, está em processo de avaliação com o médico Neurologista, o qual solicitou um determinado teste psicológico que ainda não foi feito e, assim, os pais retornarão ao Psicólogo. Foi realizada avaliação oftalmológica e nada foi detectado. 4.5 CONTATO COM A ESCOLA Por meio do contato com a professora, na escola em que estuda, constatou- se a preocupação com A. L. quanto ao seu desempenho acadêmico. Segundo relato da professora regente, ele é um aluno muito educado, calmo, convive em harmonia com seus colegas e tem um pequeno grupo de afinidade gerado pelo interesse por futebol. Sua família é bastante participativa e comprometida com a aprendizagem. A professora já ministrou aulas para A. L. no 1.º ano, quando já detectou alguma dificuldade cognitiva. Durante as aulas fala pouco, mas gosta muito de conversar com a professora sobre assuntos alheios aos da sala de aula. Nessas conversas, a
  • 16. 15 professora nota que algumas vezes perde o foco do assunto e não faz uma narrativa linear. Muitas vezes realiza as atividades com o apoio da professora corregente em sala de aula. A regente envia para casa tarefas específicas adaptadas especialmente para o aluno. Em sua produção, A. L. ainda oscila, visto que em certo momento demonstra compreender determinado conteúdo, mas em outro parece não lembrar mais. Quando percebe que não está acompanhando a compreensão da lição, A. L. se cala e parece ficar entristecido. A professora teme que sua autoestima seja abalada e, por isso, procura valorizar as suas conquistas. A professora e a pedagoga suspeitam que possa ser um caso de dislexia. 5. SEGUNDO SISTEMA DE HIPÓTESES  Baixa autoestima.  Dificuldade de concentração / atenção.  Fala bastante / não se concentra.  Resistência em realizar atividades escolares, como manipular lápis, papel, giz de cera e outros materiais.  Vínculo negativo com a aprendizagem.  Sentimento de desvalorização em relação à aprendizagem.  Não mantém coerência e sequência lógica em suas narrativas.  Dificuldade em relação ao processo de alfabetização. 5.1 ANÁLISE DAS PROVAS DO DIAGNÓSTICO OPERATÓRIO Foram escolhidas algumas das Provas do Diagnóstico Operatório para trabalhar com A. L., as quais melhor norteiam o processo de avaliação em virtude da queixa recebida e do que já foi observado nas sessões: a prova de conservação de número, de conservação de volume, de conservação de massa, a seriação de bastonetes, a de dicotomia ou mudança de critério a de inclusão de classes. Na prova de conservação de número A. L. não possui noção de conservação de quantidade, pois afirmou que a quantidade de um conjunto é maior ou menor quando a configuração espacial foi modificada. No início da prova, com as fichas dispostas de forma simétrica, ao ser questionado sobre onde tinha mais, ele
  • 17. 16 respondeu que era igual. Em seguida, todas as vezes que as fichas de uma das cores eram movimentadas, concluiu que ali havia mais. A. L. precisou contar as fichas a cada movimento e o fez da seguinte forma: 1, 2, 3, 4, 5, 6 (de uma cor). E disse: “Eu tenho 6 e você tem 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12” (contando todas as fichas). Em relação à prova de conservação de volume, demorou bastante tempo conferindo se havia a mesma quantidade de líquido nos dois copos. Quando o líquido era despejado em outro copo, sempre dizia que havia mais ou menos do que antes. Assim, constatou-se que A. L. não possui noção de conservação pois, considerou que a quantidade de água não é a mesma quando passada de um copo para o outro. A. L. também não apresentou noção de conservação de massa uma vez que para ele a quantidade de massa se altera quando a bola é transformada. Inicialmente, demorou um tempo para encontrar duas cores de massinha de modelar que julgasse estarem exatamente do mesmo tamanho, embora todas as seis cores apresentadas o tivessem. Quando a massinha foi alterada em sua forma, todas às vezes afirmou que nesta havia mais massinha do que na outra que permanecia intacta. Após o teste, não quis manusear as massinhas nem para brincar. Na prova de seriação de bastonetes não apresentou muito interesse na tarefa e parecia não compreender a consigna. Demorou em iniciar e fez algumas tentativas sem ter êxito. Ao final, conseguiu colocar os palitos em certa sequência, porém sem ter muita segurança no que fazia e sem se esforçar em fazer corretamente. Seriou corretamente os palitos maiores e os menores, porém os “do meio” ficaram sem sequência, demonstrando certa dificuldade. Em relação às provas de classificação, na de dicotomia ou mudança de critério, quando perguntado sobre as formas geométricas, disse que eram quadrados e triângulos (e não círculos). Inicialmente, não compreendeu a consigna e disse que não sabia fazer. Em seguida, quando lhe foi solicitado que formasse dois “times” – remetendo ao futebol que lhe desperta bastante interesse –, começou a separar aleatoriamente fazendo pares. A consigna foi repetida e, então, ele começou a separar por cores, porém deixou duas peças no lado oposto. Quando lhe foi perguntado que “times são esses?”, respondeu que eram os vermelhos e os azuis e, apenas nesse momento, percebeu que havia duas peças azuis no lado das vermelhas. Chamou os círculos de retângulos. Nesse sentido, observou-se que A. L.
  • 18. 17 não possui noção de classificação, pois tem dificuldade para separar em grupos de acordo com atributos, não conseguindo realizar as atividades de dicotomia. No entanto, o garoto apresentou noção de classificação em relação à prova de inclusão de classes. Ao ser questionado sobre o que havia ali, não soube nomear a girafa, significando que não conhece o animal. As questões foram respondidas corretamente, dizendo que havia mais coelhos do que girafas e que havia mais animais do que coelhos. 5.2 ANÁLISE DAS PROVAS PROJETIVAS PSICOPEDAGÓGICAS As Técnicas Projetivas e as observações durante as sessões foram utilizadas para avaliar a área emocional. Nessas situações, A. L. conversou muito e ia narrando sobre o que desenhava. Por meio delas, percebeu-se que tem bom vínculo com os colegas, contudo o vínculo com a aprendizagem necessita ser reforçado. Mostrou também sua dificuldade em se perceber dentro de um sistema de aprendizagem formal. Entre as Provas Projetivas Psicopedagógicas foi avaliado o domínio consigo mesmo na prova “Fazendo o que mais gosto”, o domínio escolar nas provas “Alguém que aprende e alguém que ensina” e “Eu com meus colegas” e, para finalizar, o domínio familiar com “A planta da minha casa”. Na prova de domínio consigo mesmo “Fazendo o que mais gosto”, não precisou de muito tempo para saber o que queria desenhar, pois logo verbalizou que gosta muito de futebol. Então, desenhou um campo de futebol ocupando toda a folha e, em seguida, fez o jogador Neymar, ele próprio, um colega da escola e outros jogadores que não nomeou. Concluiu e não narrou mais detalhes. No teste projetivo sobre domínio escolar “Alguém que aprende e alguém que ensina” fez um desenho muito pequeno, do lado esquerdo inferior da folha, podendo indicar um vínculo negativo com a aprendizagem e um sentimento de desvalorização. Disse que no desenho aparecia a professora Amanda que é a sua professora regente e um menino, mas que não era ele. Narrou que a professora rasga a folha do caderno de quem não faz a lição direito, mas que não rasga o caderno dele. Apesar da demonstração do baixo vínculo com a aprendizagem, A. L. desenhou o estudante e a docente lado a lado, fazendo traços bem fortes. Apagou muitas vezes demorando, assim, para concluir o desenho.
  • 19. 18 Em relação à prova de domínio escolar “Eu com os meus colegas”, novamente desenhou um campo de futebol, com muitos jogadores incluindo ele próprio e o jogador Neymar. Desenhou uma menina, dizendo ser a aplicadora do teste, e que ela não sabia jogar futebol, pois era “perna mole”. Não quis falar sobre os colegas que desenhou, quando perguntado sobre quem eram, dizia que não iria contar. Devido a isso, levantou-se como hipótese de que para ele apenas as pessoas do sexo masculino jogam bem futebol, que tem muitos amigos para formar um jogo, mas ainda tem uma visão egocêntrica não desejando falar sobre eles, apenas sobre si mesmo uma vez que construiu a imagem de ser um bom jogador por se espelhar no craque Neymar. No teste projetivo sobre o domínio familiar “A planta da casa”, não houve muito interesse. Disse que era chato desenhar, mas que iria fazer e que as avaliadoras teriam que adivinhar o que ele faria porque ele não iria contar nada. Assim, ele desenhou rapidamente uma casa fazendo a cozinha. Relatou que era um fogão de lenha para fazer galinha. Quando questionado sobre outras partes da casa como o banheiro e o quarto, resolveu desenhar o banheiro e fez seu retrato tomando banho. Do lado da casa fez uma árvore e o galinheiro. Falou sobre as galinhas, que estava com fome e com vontade de comer galinha. Dessa forma, percebe-se que A. L. reconhece as características do lugar onde mora e, faz grande referência as galinhas devido ao contato e significado que elas têm na sua vida cotidiana. 5.3 ANÁLISE DE OUTROS INSTRUMENTOS APLICADOS O processo de aquisição da leitura e da escrita de A. L. foi avaliado através de jogos, atividades de avaliação do nível de leitura e escrita e outras atividades variadas. Quanto à leitura, ele demonstrou muita dificuldade. Realizou a leitura de algumas sílabas simples com apoio. Na escrita encontra-se no nível silábico alfabético, em que escreve as palavras ora colocando duas ou mais letras para escrever determinada sílaba, ora escrevendo uma única letra para representar uma sílaba completa. Sua letra é legível. Para elaborar pequenas frases ele se mostrou resistente. Não utilizou elementos de coesão e o fez com uma escrita silábico-alfabética. Foi lhe apresentado o jogo “Batalha dos nomes” que consistia em pegar uma carta da mesa sem olhar, dizer o nome da figura e contar quantas sílabas sua
  • 20. 19 palavra é formada, assim, ganharia aquele que tivesse a carta com o maior número de sílabas. No início, A. L. teve dificuldade para contar as sílabas das palavras, mas logo compreendeu o jogo e participou bem. Posteriormente, em relação ao “Jogo das Rimas”, no qual deveria encontrar no tabuleiro uma figura que rimasse com a carta que era retirada, ele não compreendeu a regra inicialmente, mas depois de observar o jogo acabou por reconhecer as rimas e jogou com disposição e interesse. No jogo “Quem escreve é você” demonstrou interesse em brincar. O combinado era jogar o dado e escrever a imagem que aparecia na cartela e, então, A. L. apresentou uma escrita silábico-alfabética ao escrever as palavras, demonstrado da seguinte maneira: NOME DO DESENHO DA CARTELA COMO A. L. ESCREVEU OLHO OLO MACACO MACOCA CAVALO CAVALO TABELA 1: ESCRITA DE FIGURA FONTE: AS AUTORAS No entanto, A. L. gostou bastante do Jogo Lince, já sabia jogar e disse que iria vencer. Discurso este que estava presente em todas as sessões. Houve entendimento das regras com facilidade, porém dificuldade para encontrar as figuras. Após o jogo, foi proposto que escolhesse duas cartas do jogo e elaborasse uma frase com cada uma. Observa-se na tabela uma escrita silábico-alfabética, tanto com a figura do carro como com a carta do hipopótamo: FIGURA DA CARTA ESCOLHIDA POR A. L. FRASE DO A. L. COM A FIGURA ESCOLHIDA CARRO CARRO TO (O carro é bonito) HIPOPÓTAMO IPPOTAMO EDE (O hipopótamo é grande) TABELA 2: ESCRITA DE FRASE COM FIGURA FONTE: AS AUTORAS Em relação ao “Bingo dos sons iniciais”, o qual consistia em encontrar na sua cartela uma figura (contendo a palavra escrita embaixo) que inicie com a mesma sílaba da carta sorteada, não leu as palavras, mas reconheceu algumas sílabas simples com apoio e identificou o som inicial das palavras.
  • 21. 20 Para a leitura de palavras foi usado o jogo da memória “Que brinquedo é esse?”. O jogo apresenta cartas com imagens de brinquedos que devem ser pareadas com as palavras correspondentes. Ao jogar, ele apresentou boa memória para localizar as cartinhas, contudo não conseguiu ler as palavras. Foram identificadas algumas sílabas simples com apoio. Em relação às fichas, não quis ler, disse que não sabia e que era muito chato e, então, foi combinado que escolhesse três palavras da ficha para ler. A. L. aceitou e escolheu as palavras, mas mesmo com ajuda não conseguiu unir as sílabas para compreender as palavras. Segue as palavras escolhidas e suas respectivas leituras: PALAVRAS ESCOLHIDAS POR A. L. COMO A. L. LEU GIRAFA GI (sozinho) + RA (com ajuda) = RATO BORBOLETA BO (sozinho) CABRITO TO (sozinho) TABELA 3: LEITURA DE PALAVRAS FONTE: AS AUTORAS Para a leitura de frases, não demonstrou interesse e não queria fazer. Foi combinado que se tentasse, poderia brincar com o jogo Lince. A. L. aceitou ler duas frases, mencionadas a seguir: FRASES APRESENTADAS COMO A. L. LEU PAPAI CHUTA A BOLA P com A – PA BOLA (sozinho) O pato nada no rio pato (com ajuda) TABELA 4: LEITURA DE FRASES FONTE: AS AUTORAS Na primeira frase apresentada não conseguiu ler o PAI, nem mesmo com auxílio e identificou a palavra BOLA apontando para ela. Em seguida, foi apresentada a frase ”O pato nada no rio” em letra script e foi dito que na escola já usavam essa letra e que ele tinha um caderno de caligrafia. Disse ser muito bom nisso, mas em nenhum momento usou a letra cursiva ou script nas suas produções.
  • 22. 21 Para verificar o nível de escrita também foi realizado o ditado semântico e o autoditado, ou seja, a leitura de imagens e escrita. A. L. realizou o ditado semântico com rapidez. Distraiu-se em alguns momentos com conversas. Demonstrou encontrar-se no nível silábico-alfabético para a escrita de palavras. Seguem na tabela abaixo as palavras ditadas: CAMPO SEMÂNTICO PALAVRAS DITADAS ESCRITA DO A. L. ANIMAIS HIPOPÓTAMO TARTARUGA GALINHA PEIXE GALO LOBO BOI IPOTAMO TATAGA GALINHA PSE CALO LOBO BOLI TABELA 5: DITADO SEMANTICO FONTE: AS AUTORAS No autoditado, também apresentou uma escrita silábico-alfabética conforme indicado na tabela: CAMPOS SEMÂNTICOS IMAGENS ESCRITA DO A. L. ANIMAIS DINOSSAURO TARTARUGA GALINHA LEÃO DINHORO TATAGO GALINHA LEÃ MEIOS DE TRANSPORTE BICICLETA CAMINHÃO BITA CARRO OBJETOS DE COZINHA PANELA FOGÃO PALA FOGO FRUTAS MELANCIA MORANGO LARANJA MELA MORGO LARJA NATUREZA FLOR FORE TABELA 6: ESCRITA DE IMAGENS DE DIFERENTES CAMPOS SEMANTICOS FONTE: AS AUTORAS Durante as sessões também foi proposto o Teste de Audibilização, de Clarissa Golberg, no qual se constatou falta de atenção e dificuldade em relação à discriminação fonética, não identificando sílabas iguais e/ou diferentes. Ao realizar a
  • 23. 22 tarefa de memória auditiva com a memorização de sequência de palavras, números e frases, A. L. fez trocas e omissões dos itens. Não compreendeu as atividades de organização sintático-semântica. Na conceituação e identificação dos absurdos, não identificou todos os que foram apresentados. Em relação ao teste, na discriminação fonética, acertou 11 de 24; na memória de palavras acertou somente os grupos de três palavras; na memorização de frases conseguiu lembrar das frases compostas por até 7 palavras; na memória de dígitos lembrou das sequências de até 3 dígitos e duas de 4 dígitos. Nas demais, não conseguiu êxito. Em relação à análise e síntese auditiva (número de sílabas), acertou 5 das 10 palavras. Não compreendeu o teste de análise e síntese auditiva com as sílabas misturadas. Na conceituação e identificação de absurdos das 6 frases, percebeu os absurdos em apenas 3, mas não explicou corretamente. Acertou uma delas, mas não percebeu os absurdos de duas. Para a identificação de objetos e situações acertou 3 das 5 situações. Na definição da palavra (definir os objetos) acertou todos. Em relação à organização sintático-semântica (formar frases com as palavras) não compreendeu a consigna, mesmo sendo dado um exemplo. Quanto aos problemas matemáticos, não conseguiu resolver e nem fez muitas tentativas. Não tentou utilizar estratégias como: desenhar, contar nos dedos ou outra. Apenas pensou por alguns segundos e registrou o numeral. Na sequência, foi solicitado que resolvesse algumas situações-problemas. No primeiro problema colocou rapidamente o número 10 como resposta, sem desenhar nem armar alguma operação e quando questionado sobre como descobriu disse que era fácil demais, mas não soube explicar, demonstrando assim dificuldade para resolver. Já no segundo problema A. L. registrou como se fosse escrever a linguagem matemática. Colocou o 25, deixou um espaço, escreveu o 21, fez mais um espaço e escreveu 52, porém sem chegar ao resultado certo. E, ao final, apenas disse que era preciso subtrair na primeira questão e somar na segunda, mas sem desejo de pensar para fazer o que pedia. Logo após, foi inserido um último jogo chamado “Jogo quem é o maior?”. Nele precisava virar duas cartas numeradas e compor o número para ver quem
  • 24. 23 formava o maior, o que lhe despertou interesse e conseguiu reconhecer o maior e o menor número em cada jogada. Foi realizado um ditado de números e A. L. registrou corretamente alguns numerais e identificou os números maiores em cada situação. Na atividade final era para identificar os números representados pelos desenhos do material dourado. Ele contou as dezenas, mas quando foi contar as unidades em alguns momentos contava atribuindo a elas o valor 10 ou se perdia na contagem, assim, demonstrou não ter domínio do Sistema de Numeração Decimal. 6. TERCEIRO SISTEMA DE HIPÓTESES  Baixa autoestima.  Dificuldade de concentração / atenção.  Resistência em realizar atividades escolares, como manipular lápis, papel, giz de cera e outros materiais.  Vínculo negativo com a aprendizagem.  Sentimento de desvalorização em relação à aprendizagem.  Não mantém coerência e sequência lógica em suas narrativas.  Dificuldade em relação ao processo de alfabetização.  Dificuldade no raciocínio lógico-matemático. 6.1 INFORME PSICOPEDAGÓGICO Dados de identificação Nome: A. L. Filiação: A. D. e V. L. Idade: 7 anos e 7 meses Data de nascimento: 07/10/2011 Escolaridade: 3.° ano do Ensino Fundamental Instituição Escolar: Escola pública da Rede Municipal de Ensino de Curitiba, pertencente ao Núcleo Regional de Educação do Boa Vista. Motivo da procura
  • 25. 24 A procura foi realizada pelos pais que trouxeram como queixa a dificuldade de A. L. em relação à aprendizagem, principalmente em Língua Portuguesa, pois ainda não consegue ler e escrever. Ele fica nervoso, tem baixa autoestima e resistência em relação às atividades escolares e tarefas de casa. A escola comentou com a família sobre a hipótese de dislexia. Período de avaliação A. L. iniciou a avaliação no dia 03 de maio de 2019, conforme solicitação dos pais. Para tal avaliação foram realizadas 10 sessões. Recursos utilizados ● Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem (EOCA). ● Provas do Diagnóstico Operatório. ● Técnicas Projetivas Psicopedagógicas. ● Teste de Audibilização. ● Avaliação do nível de aquisição da leitura e da escrita. ● Entrevista Histórica. ● Contato com a escola (professora regente). Análise dos resultados A. L. é o filho único e mora com a mãe, mas tem um bom convívio com o pai. Durante o processo avaliativo mostrou-se comunicativo e simpático com as avaliadoras. Porém, ficou agitado, desatento e resistente às atividades mais formais, que remetem as escolares. Dimensão da linguagem oral e escrita Em relação ao processo de aquisição da leitura e da escrita, A. L. foi avaliado através de jogos, atividades de avaliação do nível de leitura e escrita e outras atividades variadas. Quanto a leitura, demonstrou muita dificuldade. Realizou a leitura de algumas sílabas simples com apoio. Na escrita, encontra-se no nível silábico-alfabético, em que escreve as palavras ora colocando duas ou mais letras para escrever determinada sílaba, ora escrevendo uma letra para uma sílaba inteira. Sua letra é legível.
  • 26. 25 Para elaborar pequenas frases, mostrou-se resistente. Não utilizou elementos de coesão e o fez com uma escrita silábico-alfabética. Por meio do Teste de Audibilização (Clarissa Golberg), constatou-se falta de atenção e dificuldade em relação à discriminação fonética, não identificando sílabas iguais e/ou diferentes. Ao realizar a tarefa de memória auditiva, sendo na memorização de sequência de palavras, números e frases, A. L. fez trocas e omissões dos itens. Não compreendeu as atividades de organização sintático- semântica. Na conceituação e identificação dos absurdos, não identificou todos os que foram apresentados. Dimensão cognitiva Por meio das Provas do Diagnóstico Operatório Piagetianas, observou-se que A. L. demonstrou um desempenho compatível ao Período Pré-Operatório, visto que ainda não faz a conservação de quantidades, de massa e nem de líquidos, o que seria esperado ao ano de ensino que cursa. Já nas provas de classificação teve melhor desempenho, contudo não expandiu suas ideias de forma clara e segura. Demonstrou dificuldade na elaboração do pensamento, com respostas intuitivas e sem argumentação. Nos problemas matemáticos apresentados não conseguiu resolver e nem fez muitas tentativas. Embora sugerido, não tentou utilizar estratégias como desenhar, contar nos dedos ou outras. Demonstrou que sabia quais eram as operações que precisaria realizar (subtração e adição), porém apenas pensou por alguns segundos e registrou o numeral. Dimensão emocional e social As Técnicas Projetivas e as observações durante as sessões foram utilizadas para avaliar a área emocional. Nessas situações, A. L. conversou muito e ia narrando sobre o que desenhava. Por meio delas, percebeu-se que tem bom vínculo com os colegas, mas o vínculo com a aprendizagem necessita ser reforçado. Mostrou também sua dificuldade em se perceber dentro de um sistema de aprendizagem formal. Dimensão familiar
  • 27. 26 Ao realizar a entrevista histórica com os pais, foram obtidas informações sobre a gestação e a primeira fase de desenvolvimento da sua vida. Os pais informaram que A. L. demorou para andar e falar (após os 18 meses) e já no berçário perceberam a necessidade de estimulá-lo a andar. Nas tarefas da escola enviadas para casa, apresentava grande resistência, contudo há alguns meses, com a mudança de postura dos pais, atualmente realiza essas tarefas com tranquilidade. Não gosta de leituras e também não se interessa em assistir a filmes infantis. Prefere brincar no quintal e gosta muito de jogar futebol e de cuidar dos animais, pois tem em casa uma criação de galinhas. Os pais buscam, além da avaliação psicopedagógica, uma avaliação fonoaudiológica, neurológica e psicológica. Foi realizado exame oftalmológico e nada foi detectado. Contato com a escola Por meio do contato com a professora, na escola em que estuda, constatou- se a preocupação com A. L. quanto ao seu desempenho acadêmico. Segundo relato da professora regente, é um estudante muito educado, calmo, convive em harmonia com seus colegas e tem um pequeno grupo de afinidade gerado pelo interesse por futebol. Sua família é bastante participativa e comprometida com a aprendizagem. A professora já ministrou aulas para A. L. no 1.º ano, quando já detectou alguma dificuldade cognitiva. Durante as aulas ele fala pouco, mas gosta muito de conversar com a professora sobre assuntos alheios aos da sala de aula. Nessas conversas, a professora nota que algumas vezes perde o foco do assunto e não faz uma narrativa linear. Muitas vezes realiza as atividades com o apoio da professora corregente em sala de aula. A regente envia para casa tarefas específicas adaptadas especialmente para o estudante. Em sua produção, A. L. ainda oscila, visto que num momento demonstra compreender determinado conteúdo, mas em outro parece não lembrar mais. Quando percebe que não está acompanhando a compreensão da lição, A. L. se cala e parece ficar entristecido. A professora teme que sua autoestima seja abalada e, por isso, procura valorizar as suas conquistas. A professora e a pedagoga suspeitam que possa ser um caso de dislexia. Síntese diagnóstica
  • 28. 27 Com a finalização da avaliação, constatou-se que obstáculos funcionais, emocionais e possivelmente orgânicos estão impedindo que o processo de ensino- aprendizagem de A. L. evolua de forma gradativa e linear. Indicações Por meio da avaliação realizada, sugere-se um acompanhamento psicopedagógico com frequência de duas vezes na semana para que A. L. reconheça e compreenda como ocorre a sua aprendizagem, realize atividades que resgatem a construção da sua consciência fonológica, oralidade, atividades que envolvam leitura e escrita, além de desenvolver a construção do conceito de números e de aprimorar o raciocínio lógico-matemático. Paralelamente a este trabalho se faz necessária orientação aos pais para que estimulem a oralidade, solicitando que A. L. narre acontecimentos do dia a dia de forma linear e com sequência (o que aconteceu antes e depois), dê recados aos familiares e à professora. Os pais também podem proporcionar estímulos à leitura de pequenas histórias do seu interesse como momentos de relaxamento e de prazer em família. Valorizar as suas conquistas e seu esforço se faz necessário para desenvolver melhor a sua autonomia e, consequentemente, fortalecer a sua autoestima. Solicitamos o retorno dos resultados das avaliações que estão sendo realizadas com Psicólogo, Fonoaudiólogo e Neurologista, para a escola e para o Psicopedagogo que fará o acompanhamento, assim que estas sejam finalizadas. Sugerimos avaliação fonoaudiológica para verificar suspeita de alteração no processamento auditivo central bem como, avaliação neurológica, a fim de verificar um possível déficit de atenção. Quanto a suspeita de dislexia, devido à idade de A. L. e ele estar em processo de alfabetização, atualmente não consideramos esta hipótese. Caso as dificuldades perdurem mesmo após as intervenções necessárias, sugerimos nova avaliação. Quanto à escola, sugere-se ao corpo docente envolvido no processo de ensino-aprendizagem de A. L., que busque situações para que esteja envolvido e focado em suas atividades escolares. Sugere-se também que A. L. esteja sentado nas primeiras carteiras da sala de aula e que sejam retomadas as explicações para que consiga compreender melhor os novos conteúdos. Sempre que possível, manusear materiais concretos para que construa os conceitos matemáticos.
  • 29. 28 Solicitamos que A. L. realize as avaliações em sala separada e/ou com a professora auxiliar para que possa ler os enunciados à ele. 6.2 DEVOLUTIVA Depois de concluída a avaliação, foi feita a devolutiva para a família e para a escola onde A. L. estuda. Neste último encontro com a família, foi entregue o informe psicopedagógico, o qual também permaneceu no prontuário de A. L. na Clínica de Psicologia da Universidade Positivo. Os pais mostraram-se receptivos e ansiosos em receber as orientações e compreenderam a necessidade de manter o acompanhamento de A. L. em sessões de fonoaudiologia e psicopedagogia. Inclusive a mãe já se mostrou disposta a iniciar imediatamente, visto que tem convênio com esses profissionais por meio da empresa onde trabalha. Da mesma maneira, darão continuidade às consultas com o neuropediatra que já consultaram anteriormente, fazendo, assim, um trabalho conjunto e complementar entre todas essas especificidades. REFERÊNCIAS ABDO, A. G. R.; MURPHY, C. F. B.; SCHOCHAT, E. Habilidades auditivas em crianças com dislexia e transtorno do déficit de atenção e hiperatividade. Pró-Fono Revista de Atualização Científica, p. 25-30, 2010. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/42589924_Hearing_abilities_in_children_ with_dyslexia_and_attention_deficit_hyperactivity_disorder>. Acesso em: 09 jul. 2019. CID 10 – Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas relacionados à saúde. Organização Mundial da Saúde. 8. ed. São Paulo: USP, 2000. CAGLIARI, L. C. Alfabetização e Linguística. São Paulo: Scipione, 2010. CANCELA, A. L. As implicações da dislexia no processo de aprendizagem na perspectiva dos professores do 1º ciclo do ensino básico. 2014. 149f. Dissertação (Mestrado em Ciências da Educação) – Universidade Fernando Pessoa, Porto, 2014. Disponível em: <https://bdigital.ufp.pt/bitstream/10284/4262/1/Disserta%C3%A7%C3%A3o_Mestrad o_Anabela%20Cancela_ok.pdf>. Acesso em: 30 mar. 2018. DAVIS, C.; OLIVEIRA, Z. D. Psicologia na Educação. São Paulo: Cortez, 1994.
  • 30. 29 FERREIRO, E.; TEBEROSKI, A. Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre: Artmed, 1999. FROTA, S.; PEREIRA, L. D. Processos temporais em crianças com déficit de consciência fonológica. Revista Iberoamericana de Educación, n. 33/9, p. 1-12, 2004. Disponível em: <https://rieoei.org/historico/investigacion/763Frota.PDF>. Acesso em: 09 jul. 2019. TEIXEIRA, G. Transtornos escolares. Rio de Janeiro: Saraiva, 2013. TOMELIN, K. N. Hora de Incluir: Primeiros passos para a inclusão no contexto educacional. Curitiba: Positivo, 2018. TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.
  • 31. ANEXOS FICHA DE FREQUÊNCIA DA PRÁTICA PSICOPEDAGÓGICA CLÍNICA
  • 32. ENTREVISTA PSICOPEDAGÓGICA – FAMÍLIA DADOS PESSOAIS Nome: _____________________________________________ Idade ________ anos Nascimento: ________/_________/____________ Sexo ( ) M ( ) F Naturalidade (cidade): ______________________________________________________ Tem apelido? ( ) S ( ) N Qual?_________________________ Ele(a) gosta? ( ) S ( ) N Por que tem esse apelido? __________________________________________________ End: ____________________________________________________________________ Bairro: _________________________________ Cidade: __________________________ Telefones para contato: 1) ______________________________________________________________________ 2) ______________________________________________________________________ 3) ______________________________________________________________________ Escola: _________________________________________________________________ Série que cursa:___________________ Prof: ___________________________________ Horário que estuda: ________________________________________________________ Pai: ______________________________________________________ Idade: _________ Estudou até: ___________________________ Profissão: __________________________ Mãe: ____________________________________________________ Idade: __________ Estudou até: ___________________________ Profissão: __________________________ Irmãos (nome e idade): _____________________________________________________ ________________________________________________________________________ Esquema familiar: _________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ Convive com outros familiares? (Avós, tios, primos / com que idade?) ________________________________________________________________________ QUEIXA Na escola: ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ Na família: ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________
  • 33. HISTÓRIA DE VIDA CONCEPÇÃO Gravidez desejada? ( ) S ( ) N O casal ou de um dos pais precisou mudar muito a rotina? ( ) S ( ) N Como foi a gestação? (Pré-natal, cuidados, doenças, sintomas, alimentação) ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ Como foi o parto? (Sofrimento fetal, má oxigenação, lesões) ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ AMAMENTAÇÃO (Defasagem, assimilação/acomodação, carga afetiva): Mamou no peito? ( ) S ( ) N. Como foi a passagem do peito para mamadeira? ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ E para papinha? ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ Hoje tem hora para comer? ( ) S ( ) N Come depressa? ( ) S ( ) N Mastiga bem ( ) S ( ) N Comem juntos? ( ) S ( ) N Come vendo TV? ( ) S ( ) N ELIMINAÇÃO Com que idade parou de usar fraldas? ________________________________________________________________________ Como foi a passagem para o vaso sanitário (Segurava? Molhava a roupa? Brincava? Chorava? Era repreendido?) ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ EVOLUÇÃO PSICOMOTORA Ficou no cercadinho? ( ) S ( ) N Engatinhou? ( ) S ( ) N. Com que idade andou? _________
  • 34. Corria muito? ( ) S ( ) N Como aprendeu a andar? ___________________________________________________ Mostrava-se corajoso(a) ao subir escada? ( ) S ( ) N Era inseguro(a)? ( ) S ( ) N Como evoluiu a coordenação dos movimentos finos? (Brinquedos, colher, rabiscos que fazia) ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ E dos grandes músculos? (Chutar bola, correr, parquinho) ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ HOJE É estabanado(a)? ( ) S ( ) N Anda de bicicleta? ( ) S ( ) N É agitado(a)? ( ) S ( ) N Anda de patins? ( ) S ( ) N Nada? ( ) S ( ) N Sobe em árvores / trepa-trepa? ( ) S ( ) N FALA Com que idade começou a falar? __________ Com quem falava mais? _______________ Falavam para ele(a) repetir? ( ) S ( ) N Quais foram as primeiras palavras? ___________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ Trocavas letras? ( ) S ( ) N Quais? __________________________________________________________________ Falavam muito errado? ( ) S ( ) N HOJE Troca letras? ( ) S ( ) N Fala muito (ansioso)? ( ) S ( ) N Fala de uma forma que todos entendem? ( ) S ( ) N Consegue dar recados? ( ) S ( ) N Conta história/um caso/uma novela? ( ) S ( ) N. Você entende? ( ) S ( ) N SONO É agitado? ( ) S ( ) N É sonâmbulo? ( ) S ( ) N Tem pesadelos? ( ) S ( ) N Dorme sozinho? ( ) S ( ) N. Ou com quem? ____________________________________ Tem medo de dormir sozinho? ( ) S ( ) N Enurese nortuna? ( ) S ( ) N HISTÓRIA CLÍNICA Ocorreram: Bronquite? ( ) S ( ) N Alergia? ( ) S ( ) N Asma? ( ) S ( ) N
  • 35. Viroses infantis? ( ) S ( ) N Internações? ( ) S ( ) N Cirurgias? ( ) S ( ) N Outras Doenças? ( ) S ( ) N. Quais? __________________________________________ Tratamentos realizados (Fonoaudiólogo, psicólogo, neurologista ...)? ( ) S ( ) N Qual: ___________________________________________________________________ Problemas de visão? ( ) S ( ) N Audição? ( ) S ( ) N HISTÓRIA DA FAMÍLIA NUCLEAR Fatos marcantes dos pais e irmãos (Antes, durante e depois da entrada do paciente na família) _________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ESTIMULAÇÃO A criança tem acesso a: Brinquedos pedagógicos? ( ) S ( ) N Jogos? ( ) S ( ) N Revistas? ( ) S ( ) N Brinquedos eletrônicos? ( ) S ( ) N Livros? ( ) S ( ) N Jornal? ( ) S ( ) N De que atividades ele(a) participa: Música? ( ) S ( ) N Dança? ( ) S ( ) N Atividades artísticas? ( ) S ( ) N Esporte? ( ) S ( ) N OUTRAS OBSERVAÇÕES QUE JULGAR IMPORTANTE: ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ Data: ______/ ______/ ______
  • 36. PRODUTO DA EOCA FEITO POR A. L.
  • 37. PROVA PIAGETIANA PSICOPEDAGÓGICA REALIZADA POR A. L. DOMÍNIO CONSIGO MESMO – “FAZENDO O QUE MAIS GOSTO”
  • 38. PROVA PIAGETIANA PSICOPEDAGÓGICA REALIZADA POR A. L. DOMÍNIO ESCOLAR – “ALGUÉM QUE APRENDE E ALGUÉM QUE ENSINA”
  • 39. PROVA PIAGETIANA PSICOPEDAGÓGICA REALIZADA POR A. L. DOMÍNIO ESCOLAR – “EU COM MEUS COLEGAS”
  • 40. PROVA PIAGETIANA PSICOPEDAGÓGICA REALIZADA POR A. L. DOMÍNIO FAMÍLIAR – “A PLANTA DA MINHA CASA”
  • 43. DITADO DE NÚMEROS E NÚMERO MAIOR
  • 44. LEITURA DE REPRESENTAÇÃO NO MATERIAL DOURADO