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BRIZOLA O ÚLTIMO HERÓI GAÚCHO
Juliano Luiz Baumgarten, Mateus Gozzi1
Resumo: Em meados de Agosto de 1961 Jânio Quadros renunciou ao cargo de presidente,
segundo a Constituição seu sucessor deveria ser seu vice, João Goulart que não estava no país
no momento da renúncia. Conspirações militares tentaram se levantar em golpe alegando que
a viagem de Jango a China era uma pretensão comunista, a ser implantada no Brasil. Onde só
é interrompida pela coragem e por que não de um herói? Chamado Leonel Brizola, que
construiu a chamada Campanha da Legalidade que se conseguiu com a ajuda do levante do
povo e atos de bravuras interromper um golpe militar tão eminente, em uma época que o
conservadorismo civil não se constrangia em buscar tutela Fardada.
Palavras Chaves: Brizola, Campanha da Legalidade, Herói, Rio Grande do Sul, Povo.
INTRODUÇÃO
Iremos abordar o tema da Campanha da Legalidade onde Leonel Brizola poderia ser
considerado um herói nacional, pela sua luta em prol da Constituição, onde manteve uma
resistência civil com a ajuda do povo e militarmente fraca em um contexto social a beira de
eclodir uma guerra civil tudo isso para garantir a posse do vice-presidente do Brasil João
Goulart. Mostraremos um exemplo de uma das últimas gerações e manifestação de bravura
que o Rio Grande do Sul e Brasil viram.
11 RENÚNCIA DE JÂNIO QUADROS
Após passar por um período turbulento e instável em seu governo Jânio Quadros, não
suportou e acabou renunciando ao seu cargo de presidente da República. Deixando o poder,
na esperança de que seus aliados políticos e o povo fizessem um movimento, que o
conduzisse de volta ao poder, de uma forma heróica, assim como Jango assumiria. O
pensamento de Jânio Quadros, quando renunciou ao cargo de presidente da República,de
acordo com Barros,
O renunciante confiava nas massas despolitizadas, no temor dos militares e da
direita em geral com a “ameaça” da posse do herdeiro de Getúlio, Jango, e ainda
acreditava que os políticos udenistas o socorreriam para continuar participando do
ministério presidencial [...] (BARROS,1999, p.58).
1
Graduandos em Licenciatura em História pela Universidade de Caxias do Sul.
Em meio a Guerra Fria, Jânio Quadros não soube agradar a esquerda, nem a direita
que lhe levou ao poder. Dias antes da renúncia o presidente recebeu um embaixador norte
americano, que lhe fez perguntas pertinentes e Jânio acabou se irritando e ordenou que o
embaixador saísse. Certo tempo depois, John Kennedy, enviaria ao Brasil um comissário
especial, Adolf Berle Jr.Que sondou o presidente sobre a possível invasão a baía dos
Porcos,os EUA contavam com a ajuda do Brasil,para invadirem Cuba,Jânio negou.Logo após
este episódio ,Jânio organizou um comitiva a conferência de Punta del Leste ,nele foram o
governador Leonel Brizola ,Clemente Mariani ,ministro da fazenda ,assessorado por Roberto
Campos.Nesta conferência das Américas ,Brizola aplaudiu Che Guevara e elogiou pela
Revolução Cubana,e de vez o Brasil não atacaria Cuba,de maneira alguma,desagradando os
EUA.Após a volta da comitiva brasileira da conferência ,Jânio tratou de pedir para que o vice
presidente João Goulart,fizesse uma viajem de negócios na China e pela União Soviética.
O cargo seria assumido pelo vice-presidente João Goulart, popularmente conhecido
como Jango. O vice-presidente estava em uma viagem de negócios na China. Fato que fora
considerado como o momento certo, para dar o golpe na Constituição e assumir o controle do
país. O exército ao saber da renúncia de Jânio Quadros já planejava o golpe há tempo, desde a
era Vargas, inclusive o próprio Getúlio se matou para adiar o golpe, em outro momento o
Marechal Lott, lançou um manifesto que garantiu a posse de Juscelino Kubitschek assim
Carlos Bastos nos contou em entrevista.O pensamento dos generais a respeito da posse de
João Goulart, assim que ele assumisse ao cargo ele implantaria o comunismo no Brasil, como
na China, onde o vice-presidente estava de viajem. Caso Jango voltasse ao Brasil, seria preso
ou morto.
Mas este pensamento, militar se deu a uma série de movimentos, opostos da política
brasileira, do até então presidente Jânio Quadros fizera. Jânio condecorou Ernesto Che
Guevara, um dos lideres da Revolução Cubana, ocorrida em 1959, inimigo número 1 dos
Estados Unidos, aliado político brasileiro desde a época da Era Vargas.
O atual ministro da economia cubana foi homenageado pelas mãos do próprio
presidente Jânio, com uma condecoração. A condecoração intitulada pela Grã Cruz da Ordem
do Cruzeiro do Sul. Considerado até hoje na História do Brasil, como a maior condecoração a
um estrangeiro.
Além do mais um dos apoiadores de sua candidatura, Carlos Lacerda companheiro
partidário, jornalista e governador do estado da Guanabara, o atacou e todos os dias em seu
jornal Tribuna da Imprensa constantemente atacava o presidente, discordando da política
nacional e externa, como Juremir Machado da Silva, fala em seu livro Vozes da Legalidade:
Política e Imaginário na Era do Rádio, Carlos Lacerda foi um corvo inescrupuloso, um dos
maiores golpistas da história. Alias um dos principais culpados pela morte de Getúlio Vargas
em 54 e também da renúncia de Jânio Quadros. Em seu livro, O Poder das Idéias ,o corvo
dispara um capitulo ,intitulado A crise de agosto,se referindo as criticas que fizera na
televisão ao então atual presidente Jânio.Ele próprio dizia:
[...] É injurioso supor que o presidente da República não tenha percebido a
enormidade do êrro de sua política exterior. O que é lícito não só supor mas
deduzir,pelo que êle me disse e pelo que está fazendo ,é que,pela primeira vez neste
País-e talvez não erre dizendo,é que,pela primeira vez na vida de uma nação
democrática- a política exterior se faz para seguir e obedecer a propósitos da política
doméstica.O grave,o perigoso-mais que perigoso ameaçador-,é que uma nação que
tem interesses permanentes,,tem constantes de que não se afasta em vão.Não SAP
sómente tradições.As tradições nacionais chamam-se assim ,porque são realidades
permanentes de um País formado na liberdade,no respeito,sim,à autodeterminação e
por isso mesmo no horror àquela que falsifica a liberdade que têm os povos de
dispor dos seus destinos,chamados govêrnos a ditadura que se lhes impõem pela
força.(LACERDA 1963,p.339).
Após uma série de criticas feitas na televisão por Lacerda, Jânio Quadros, decide
renunciar ao cargo, no dia 25 de agosto de 1961,não suportando mais a pressão. Jânio que
viria no dia seguinte para o Rio Grande do Sul abrir a Expointer ficou aguardando a resposta
do povo e de seus aliados políticos, que não apareceram, Jânio decepcionado, partiu para
Londres em exílio político.
O mesmo Jânio que havia sido eleito, pelo povo com a maioria dos votos, aquele
Jânio, que fazia sua campanha eleitoral com um sanduíche de mortadela no bolso para que o
povo pensasse que ele fizesse parte da camada popular, que fosse um cidadão simples,
humilde, o professor de língua portuguesa, o homem que já havia sido eleito deputado federal,
prefeito, o responsável por acabar com as rinhas de galo, proibir desfiles de miss na TV,
proibir o biquíni,aquele que havia se candidatado com o lema varre,varre, vassourinha,
prometendo acabar com a corrupção do governo JK, o governo anterior Via seu curto governo
de apenas sete meses desmoronar.
2 CAMPANHA DA LEGALIDADE
A notícia que viria a abalar o estado veio, durante as comemorações do dia do
soldado ,quando um oficial se aproximou do comandante Machado Lopes,que mudou a sua
fisionomia, esse foi o primeiro passo. O instinto do governador que viria a montar uma rede
enorme em prol da democracia veio à tona. Ao saber da renúncia Brizola telefonou para o
comandante Machado Lopes, e nesta conversa o até então governador da época,pediu que
medidas ele tomaria diante deste situação,ele simplesmente respondeu que ele era um militar
e ele iria ficar ao lado do exército.Brizola que não tinha nada de bobo,percebendo que havia
um “cheiro de golpe no ar”,ao perceber os planos do exército se manifestou através de uma
carta direcionada ao povo do Rio Grande do Sul e ao Brasil,que segundo estudos de Barbosa
apresentados em A Rebelião da Legalidade, dizia:
[...] Cumpre-nos reafirmar nossa inalterável posição ao lado da legalidade
constitucional. Não pactuamos com golpes ou violência contra ordem constitucional
e contra a liberdade pública. Se atual Constituição não satisfaz, em muitos de seus
aspectos, desejamos o seu aprimoramento e não a sua supressão, o que representaria
uma regressão ao obscurantismo. (BARBOSA 2002, p.34).
Após se manifestar através da carta, Brizola se reúne com a Brigada Militar de Porto
Alegre. O clima de tensão se espalhou pelo Piratini. O Palácio Piratini passou a ser cercado
por Brigadianos e ao redor dele se montou uma barricada feita por sacos de areia.
Assim que o Palácio passou a ser protegido pela Brigada, imediatamente Brizola, se
mudou as pressas com a sua família para o Palácio. “Sede do governo gaúcho, o Palácio
Piratini parecia, com efeito, preparado para a guerra” (PILAGALLO, 2004, p.27). Era o inicio
da resistência.
O Ministro da Guerra Odylio Denys, ao saber que o governador resistiria e lutaria a
favor da posse do vice-presidente, mandou fechar praticamente todas as rádios do estado, a
única que sobrou foi a Rádio Guaíba. Porem Brizola juntamente com a Brigada Militar na
manhã de 27 de agosto, em acordo feito, com o proprietário Caldas Júnior, decretou que a
rádio seria usada em favor do estado. Transferindo a rádio ao porão do Palácio Piratini.
Assim que Brizola conseguiu um acordo com Caldas Júnior sobre a rádio, as chances
de a Legalidade ir adiante aumentaram, pois através da então chamada “Cadeia da
Legalidade”, Brizola viria a proferir, discursos calorosos, patrióticos e emocionantes,
chamando o povo a participar deste, momento histórico, um momento de luta, que ficaria
guardado na memória popular. O povo não hesitou e aderiu totalmente ao apelo feito pelo
governador, e se instalou em frente ao Palácio. Com o mesmo sentimento de luta o povo
apoiou incondicionalmente Brizola, lembrando a Revolução de 30, onde Getúlio conseguiu a
mobilização total do povo.
O Historiador, Sociólogo e Jornalista, Juremir Machado da Silva, em seu livro Vozes
da Legalidade: Política e Imaginário na Era do Rádio fala que a adesão do povo fora tanto, e
o sentimento patriótico enorme, num Estado marcado por ideais, Maragatos e Chimangos se
uniram em favor da Legalidade, assim como Grêmio e Inter. O povo teve extrema
importância, assim nos contou Carlos Bastos, na entrevista,quando viram um tanque do
exército se aproximar eles ,carregaram bancos de concreto que estavam na praça para
bloquear a rua.
O III Exército do General Machado Lopez, reagiu e as ordens vindas do Ministro da
Guerra Odylio Denys, eram de bombardear o Palácio, e acabar com a resistência do
governador do estado. Além do bombardeio ao Palácio uma força-tarefa da Marinha, estava a
caminho e desembarcaria no Litoral do estado, em Torres. A base aérea de Canoas estava
recrutada para receber ordens vindas do exército. Então Brizola com o uso do rádio proferiu
mais um de seus marcantes e inesquecíveis discursos.
Povo de Porto Alegre, meus amigos do Rio Grande do Sul! Não desejo sacrificar
ninguém, mas venham para a frente deste Palácio, numa demonstração de protesto
contra essa loucura e esse desatino. Venham, e se eles quiserem cometer essa
chacina, retirem-se, mas eu não me retirarei e aqui ficarei até o fim. Poderei ser
esmagado. Poderei ser destruído. Poderei ser morto. Eu a minha esposa e muitos
amigos civis e militares do Rio Grande do Sul. Não importa. Ficará o nosso protesto,
lavando a honra desta Nação. Aqui resistiremos até o fim. A morte é melhor do que
vida sem honra, sem dignidade e sem glória. Aqui ficaremos até o fim. Podem atirar.
Que decolem os jatos! Que atirem os armamentos que tiverem comprado à custa da
fome e do sacrifício do povo! Joguem essas armas contra este povo. Já fomos
dominados pelos trustes e monopólios norte-americanos. Estaremos aqui para
morrer, se necessário. Um dia. nossos filhos e irmãos farão a independência do
nosso povo! Um abraço, meu povo querido! Se não puder falar mais, será porque
não me foi possível! Todos sabem o que estou fazendo! Adeus, meu Rio Grande
querido! Pode ser este, realmente, o nosso adeus! Mas aqui estaremos para cumprir
o nosso dever.(BRIZOLA,
<http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=630>).
O bombardeio não aconteceu, graças aos Sargentos da Força Aérea Brasileira, que
foram contra e impediram que o pior acontecesse. Um dos jornais de circulação na época o,
Última Hora, noticiava na capa que os sargentos da FAB haviam impedido o bombardeio.
Então entrou em cena uma peça fundamental que pesaria muito a favor da Legalidade, o
general Machado Lopez se dirigiu ao Palácio e atendeu ao pedido do governador Brizola e do
povo e acabou aderindo a Campanha, e nesse mesmo momento não era só o General Machado
Lopez e sim todo o III Exército que agora era a favor da posse legal de João Goulart. O
comando da Brigada Militar foi passado para o Machado Lopez, o General que agora lutava
em favor da Legalidade. Porém incontente com o que soubera o Ministro da Guerra reage
contra o III Exército, mas pouco adianta.
Sendo então cumprida a lei, graças a Campanha da Legalidade, liderada por Brizola.
O professor Joaquim Felizardo em seu livro A Legalidade Último Levante Gaúcho,dizia,
[...] No período de formação histórica, povoado de guerras e revoluções,
sedimentara-se uma mentalidade audaz, alicerçada no orgulho regional, na coragem
e heroísmo dos indivíduos face a situações dramáticas.Brizola foi o último porta-voz
dessa referência cultural.Soube apelar para os valores do inconsciente coletivo,para
os fundamentos de um imaginário entranhado em todo o Rio Grande do Sul.Não à-
toa,na coreografia do levante de 1961,cavalarianos armados de lanças e facões
ocuparam lugar de destaque.Eram como personagens de um romance histórico de
Érico Veríssimo,Bombachas,chimarrão e outros símbolos gaúchos multiplicavam-se
na Praça da Matriz,em Porto Alegre.Constituíam,por assim dizer,os adornos
nostalgicamente épicos da Legalidade(Felizardo 1988, p.65).
Quando Jango chegou a Porto Alegre, onde havia uma imensidão defronte ao Palácio
o aguardando, a Legalidade estava prestes a chegar ao fim, mesmo após Jango ter aceitado o
parlamentarismo, a Legalidade, comanda por Brizola o levaria ao poder.
Longe da historiografia oficial, a Legalidade ganharia a memória popular (Cf.
FELIZARDO 1988, p.65).
Assim Brizola o menino pobre, conseguiu, através de seu ato de bravura e de
coragem que contou com a ajuda do povo, garantir a posse de João Goulart. Brizola é digno
de ser considerado o último herói gaúcho.
3 POSSE DE JOÃO GOULART
Enquanto todo o país, principalmente o Rio Grande Sul vivia esse clima de Guerra
no país, um dos protagonistas da História, fazia várias escalas em outros países, para que esse
clima todo acabasse e pudesse assumir ao seu cargo. Passaram vários dias até que enfim,
Jango desembarcou em Porto Alegre, onde foi recebido com extremo alvoroço pela multidão
que o aguardava. Jango foi obrigado a fazer estas escalas, pois caso pisasse em solo brasileiro
seria preso, outro risco era de que o avião em que ele voltava fosse bombardeado. A situação
era crítica. Enquanto Jango não chegava o povo na saía da frente do Palácio Piratini.
Pouco antes de chegar a Porto Alegre, Jango se encontrou com Tancredo Neves, ex-
ministro do governo Vargas em Montevidéu, onde teve uma reunião, a reunião que mudaria
todo o sentido da Legalidade. João Goulart aceitou a chamada solução parlamentarista, que
consistia em assumir a Presidência da República, porem com seus poderes limitados,
divididos entre os parlamentares. Em seu livro a Rebelião da Legalidade, Vivaldo Barbosa diz
sobre a ação aceita por Jango:
[...] Não era o que queria Brizola e os que lutaram pela legalidade: o poder exercido
por um presidente ungido no impulso de uma rebelião popular. Seu poder
transformador seria muito diferente. O Congresso acabou pondo fim às esperanças
de uma presidência transformadora no Brasil, como quiseram as forças
conservadoras dentro do Congresso e como habilmente conduziram o processo.
(Barbosa 2002, p.313).
Mesmo após aceitar a solução parlamentarista, a sua decisão lhe custaria caro. Ao
avisar Brizola sobre sua decisão. O governador foi contra, tinha um segundo plano para que
Jango resistisse e assumisse com os poderes plenos,assim como fora eleito, mas acabou
aceitando a sua decisão por respeito, os estudantes e a população assim que souberam da
escolha feita por João Goulart, recolheram todos os cartazes e decepcionados vaiaram Jango.
Mas não foi a única reação Brizola também ficou decepcionado, juntamente com toda a
impressão que acompanhava a campanha desde que ela havia iniciado.
Partindo para Brasília, para sua posse, que quase não aconteceu, Sargentos da FAB, a
Força Aérea Brasileira, tentaram derrubar o avião de João Goulart, em uma chamada
Operação Mosquito, por pouco ela não deu certo, graças a Praças que conseguiram impedir
que o pior acontecesse.
Mas foi só em sete de setembro, no dia da Independência do Brasil que João Goulart,
aquele fazendeiro que havia aceitado a solução parlamentarista, para que não fosse derramado
sangue inocente, subiu no palanque e conseguiu assumir legitimamente com presidente da
República, porem com poderes limitados. Graças ajuda de seu cunhado o governador Brizola,
que montou uma rede especial, a Rede da Legalidade, para que isso fosse cumprido, e
também contou com a ajuda do povo que, optou por resistir junto com Brizola,para que a
ordem Constitucional se cumprisse,sendo um movimento inédito na América Latina.
4 BRIZOLA COM HERÓI DA LEGALIDADE
Segundo Carlos Bastos, testemunha ocular de todo acontecimento da Campanha da
Legalidade, que ficou junto com a resistência gaúcha entrincheirados no palácio Piratini em
Porto Alegre, Brizola só não se tornou reconhecido como herói nacional devido à campanha
da impressa de direita, principalmente a Rede Globo e as revistas como a Veja, que sempre
que falaram na renúncia de Jânio Quadros, logo falaram da posse de João Goulart e acabaram
por deixar de lado a questão da Legalidade.
Esta mídia sempre influenciou e continua influenciando a mente de muitos
brasileiros, mostrando a visão de uma elite dominante em nosso país, e não mostra em miúdos
detalhes históricos tão importantes como esse, para esse reconhecimento ser tão forte como
um herói nacional seja reconhecido em âmbito nacional. Não iremos entrar em questões
políticas, e partidos de direita ou de esquerda, focamos este trabalho nas façanhas de um
governador cujos feitos modificaram profundamente o futuro da história de um país, e
coragem tamanha de enfrentamento que poria sua vida a cima de questões ideológicas apenas
seguindo o que a constituição defendia coisa jamais vista na América Latina desde então. Mas
será que esses feitos podem ser classificados como um ato de coragem comparado a de um
herói?
Antes de respondermos essa pergunta é preciso ter em mente qual o significado de
um herói. Heróis são símbolos de identificação coletiva, ou seja, são aquelas pessoas
reconhecidas através de seus feitos, por um país ou região, ocorrendo, entre eles, uma
identificação. É possível pensar em uma nação que não tenha heróis? Já adiantamos a resposta
dizendo que não, pois os heróis são fortes instrumentos para atingir a cabeça e o coração dos
cidadãos em prol da legitimação de um regime político, por isso podemos ver claramente a
posição da maior parte da mídia da época de não ver com bons olhos a Campanha da
Legalidade, assim, não há nação sem o seu respectivo herói. Na verdade, o herói nacional não
é jamais uma entidade acabada, mas sim uma realidade em permanente construção, quer
dizer, uma figura suficientemente maleável para poder ser ajustada a novas necessidades e
justificações.
Depois, nas situações de crise, nos momentos onde as certezas cedem lugar à dúvida
e ao temor, o apelo ao herói vai ao sentido da reconciliação da nação com o seu passado.
Devemos, portanto entender o herói no contexto de uma luta simbólica pela definição da
“verdade que convém à nação” ((Decreto nº 21103 de 7 de Abril de 1932, cit. in Medina, s.d.:
45-47)). Ele é, pois uma espécie de „bem raro‟, por cuja apropriação pode passar a
legitimação de um discurso de poder e, afinal, a legitimação da própria ação política.Existem
dois tipos de herói: aqueles que surgem espontaneamente das lutas realizadas como e aqueles
de menor impacto popular e que, portanto, tiveram um empurrãozinho para a promoção da
figura.É nesse último perfil que se encaixa o herói Tiradentes, que contribuiu para a
construção de sua imagem foi o que se sucedeu à publicação da obra de Joaquim Norberto de
Souza Silva, História da Conjuração Mineira. Norberto teve acesso a documentos, nunca
antes estudados sobre a Inconfidência e apontou Tiradentes como figura secundária no
movimento. A partir da publicação de Norberto, intensificaram-se as alusões de Tiradentes
com Cristo. Ter sido traído e morto por lutar pela salvação do povo, da/pátria que foram
características presentes na vida dessas duas figuras. A partir daí as representações imagéticas
foram cada vez mais se assemelhando. Dessa forma, Tiradentes estava cada vez mais presente
no imaginário dos brasileiros, e aos poucos todos iam se identificando com esse homem.
Começaram a ligar Tiradentes às principais transformações pelas quais passava o país: a
Independência, a Abolição e a República. A sua aceitação veio, assim, acompanhada de sua
transformação em herói. E no primeiro perfil, através das lutas realizadas e documentadas
que se encaixa Leonel Brizola, mas não reconhecido, foi com a força do povo gaúcho e
brasileiro que Leonel Brizola liderou o maior movimento cívico-militar de resistência
democrática da história contemporânea do Brasil. Foi uma das primeiras grandes lições de
civismo que este grande líder legou ao Brasil. E a maior prova disso está em um dos trechos
emocionantes de sua fala na rede da Legalidade, naquele longínquo, mas sempre lembrado
1961, quando transformou o Palácio Piratini numa “cidadela da liberdade”. “Poderei ser
esmagado. Poderei ser destruído. Poderei ser morto. Não importa. Aqui resistiremos até o fim.
A morte é melhor que a vida sem honra, sem dignidade e sem glória.”. Palavras comprovadas
também na entrevista do Carlos Bastos quando perguntado sobre se Brizola sem o apoio do 3º
exército ainda assim enfrentaria todo um país armado e treinado apenas com alguns civis e
soldados da brigada militar, sua resposta foi contundente “Com certeza a idéia era de que
Brizola ou cumprisse o que havia prometido ou ficaria para morrer.”
Ao analisar a história de vida de Brizola, principalmente na época da Campanha da
Legalidade, podemos defini-lo como um herói? A resposta mais simples é sim, pois herói
possui habilidades excepcionais, mas humanamente possíveis. A construção de um herói é um
processo político e histórico. Afirma determinada tradição com o objetivo de manter a
unidade de um grupo social. Pois a continuidade do passado na memória coletiva e no
presente da sociedade necessita de suportes que podem ser materiais ou simbólicos.Para
legitimação dos sistemas políticos é comum a utilização do culto aos heróis. De acordo com
José Murilo de Carvalho,
Heróis são símbolos poderosos, encarnações de idéias e aspirações, pontos de
referência, fulcros de identificação coletiva. São por isso, instrumentos eficazes para
atingir a cabeça e o coração dos cidadãos a serviço da legitimação de regimes
políticos. Não há regime que promova o culto de seus heróis e não possua seu
panteão cívico [...](Carvalho1990, p.55)
A construção do herói não é, porém, arbitrária. Sempre há influência dos governos,
mídia e a identificação do povo com o herói ou símbolo nacional.
Hoje, os estudos em História vislumbram novas formas de reconstruir o passado,
valorizando as minorias e o cotidiano como forma de deixar o passado vivo e atuante na
memória coletiva. Dessa forma, o herói mártir que dá sua vida por uma causa se torna cada
dia mais distante da realidade dos fatos. As pessoas se identificam com os “heróis” que
batalham dia-a-dia em suas vidas comuns, sem grandes feitos, apenas sobrevivendo na maior
das batalhas, o cotidiano. Assim, cada grupo social tem os heróis que se aproximam daquilo
que acreditam, de seus ideais e convicções religiosas, mas percebe-se a forte influência da
História Tradicional no apontamento dos heróis e suas causas.
A educação formal ainda se baseia na concepção tradicional da história, onde há a
necessidade dos heróis e onde pequenos grupos sociais não têm valorização dentro dos livros
didáticos. Dessa forma, é público a forte valorização da história dos povos europeus em
detrimento dos povos indígenas, africanos e até mesmo da História Nacional. É repensando a
maneira de fazer educação que a sociedade e os heróis do dia-a-dia serão valorizados, caso
Brizola tivesse sido morto em algum bombardeio defendendo seus ideais, seria muito mais
fácil colocá-lo no panteão dos heróis nacionais, mas como continuou com sua vida política,
não agradando a todos, esse momento está e passou em “branco” através do currículo escolar,
fazendo esse momento quando lembrado como um simples ato, coisa que é ínfera do tamanho
da influência que o país levou, como atrasando, em três anos um golpe militar, enfrentando e
criando inimigos poderosos a todo instante, e não pararia por ali, pois caso João Goulart não
tivesse aceito o parlamentarismo Brizola iria a diante de Brasília se fosse preciso, pregar a
Constituição, então através desses simples atos, demonstrou ser um herói, que foi em parte
esquecido na ditadura durante seu exílio, e futura vida política, mas isso jamais devia se
perder durante o tempo, e nem ser ocultado a verdade de sua bravura lutando contra o seu
próprio país.
Joaquim Felizardo em sua obra A Legalidade Último Levante Gaúcho, aponta a
Campanha da Legalidade como o Último Levante da Era do Rádio, e o Primeiro grande
levante de um homem impondo seu nome. Em uma revista comemorativa dos 50 anos da
Campanha da Legalidade, feita pelo PDT, Luis Fernando Veríssimo descreve,
[...] Temos muitos exemplos no nosso passado de figuras destemidas que fizeram
história com suas convicções, seu voluntarismo e sua liderança. Não há por que
duvidar desses heróis épicos, mas o passado,como se sabe,é um lugar brumoso, onde
muitas vezes a legenda se confunde com a verdade. O único exemplo que a nossa
geração teve de bravura assim-presenciada, confirmada, inquestionável-foi o do
Brizola em 1961. No caso, a legenda é verdade. (apud VERÍSSIMO, Legalidade,
2011, p.7)
Assim, Leonel de Moura Brizola que um dia decidiu deixar a pequena cidade de
Carazinho localizada no interior do Rio Grande do Sul, partir para a capital ,para alguns anos
depois,fazer uma das maiores proezas do nosso estado,capaz de unir Maragatos e
Chimangos,Colorados e Gremistas,pelo bem de uma nação.Pelo cumprimento da ordem
Constitucional,a posse de João Goulart.Resistindo bravamente a favor da ordem e do
dever.Brizola não só pode como deve ser considerado o Último Herói Gaúcho.
CONCLUSÃO
Através desta pesquisa conseguimos configurar atos de bravuras e coragem que
iniciou com Leonel Brizola e foi abraçado pelo povo, onde a historiografia da Campanha da
Legalidade mostra que esse herói conseguiu evitar massacre de civis e adiar um golpe militar
em três anos, que aceleraria reformas retrógradas em um país ainda cruelmente desigual, em
uma época onde heróis eram raros e utópicos na visão do populismo, Brizola desconstruiria
uma visão de um país sem rumo e deu esperança a esse povo tão necessitado de ações de
bravuras e heroísmo. Brizola o último herói gaúcho.
REFERÊNCIAS
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2011.Entrevista a Juliano Luiz Baumgarten.
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Rio de Janeiro: FGV, 2002.
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http://blogs.estadao.com.br/arquivo/2011/09/05/brizola-e-a-campanha-p. Acesso em:7 de
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CARONE, Edgar.A República Liberal II evolução política (1945-1964). São Paulo: Difel,
1985.
CARVALHO, José Murilo de. A Formação das Almas:O imaginário da República no
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http://erisantoscastro.blogspot.com/2011/08/brizola-heroi-nacional.html. Acesso em:20 de
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CORREIO DO POVO, Porto Alegre, 18 de agosto a 7 de setembro de 2011.
CUNHA, Luís -A nação nas malhas da sua identidade: o Estado Novo e a construção da
identidade nacional, trabalho de síntese apresentado para efeito de prestação de provas de
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KUHN, Dione. Brizola da legalidade ao exílio. Porto Alegre: RBS, 2004.
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Brizola o último herói gaúcho artigo

  • 1. BRIZOLA O ÚLTIMO HERÓI GAÚCHO Juliano Luiz Baumgarten, Mateus Gozzi1 Resumo: Em meados de Agosto de 1961 Jânio Quadros renunciou ao cargo de presidente, segundo a Constituição seu sucessor deveria ser seu vice, João Goulart que não estava no país no momento da renúncia. Conspirações militares tentaram se levantar em golpe alegando que a viagem de Jango a China era uma pretensão comunista, a ser implantada no Brasil. Onde só é interrompida pela coragem e por que não de um herói? Chamado Leonel Brizola, que construiu a chamada Campanha da Legalidade que se conseguiu com a ajuda do levante do povo e atos de bravuras interromper um golpe militar tão eminente, em uma época que o conservadorismo civil não se constrangia em buscar tutela Fardada. Palavras Chaves: Brizola, Campanha da Legalidade, Herói, Rio Grande do Sul, Povo. INTRODUÇÃO Iremos abordar o tema da Campanha da Legalidade onde Leonel Brizola poderia ser considerado um herói nacional, pela sua luta em prol da Constituição, onde manteve uma resistência civil com a ajuda do povo e militarmente fraca em um contexto social a beira de eclodir uma guerra civil tudo isso para garantir a posse do vice-presidente do Brasil João Goulart. Mostraremos um exemplo de uma das últimas gerações e manifestação de bravura que o Rio Grande do Sul e Brasil viram. 11 RENÚNCIA DE JÂNIO QUADROS Após passar por um período turbulento e instável em seu governo Jânio Quadros, não suportou e acabou renunciando ao seu cargo de presidente da República. Deixando o poder, na esperança de que seus aliados políticos e o povo fizessem um movimento, que o conduzisse de volta ao poder, de uma forma heróica, assim como Jango assumiria. O pensamento de Jânio Quadros, quando renunciou ao cargo de presidente da República,de acordo com Barros, O renunciante confiava nas massas despolitizadas, no temor dos militares e da direita em geral com a “ameaça” da posse do herdeiro de Getúlio, Jango, e ainda acreditava que os políticos udenistas o socorreriam para continuar participando do ministério presidencial [...] (BARROS,1999, p.58). 1 Graduandos em Licenciatura em História pela Universidade de Caxias do Sul.
  • 2. Em meio a Guerra Fria, Jânio Quadros não soube agradar a esquerda, nem a direita que lhe levou ao poder. Dias antes da renúncia o presidente recebeu um embaixador norte americano, que lhe fez perguntas pertinentes e Jânio acabou se irritando e ordenou que o embaixador saísse. Certo tempo depois, John Kennedy, enviaria ao Brasil um comissário especial, Adolf Berle Jr.Que sondou o presidente sobre a possível invasão a baía dos Porcos,os EUA contavam com a ajuda do Brasil,para invadirem Cuba,Jânio negou.Logo após este episódio ,Jânio organizou um comitiva a conferência de Punta del Leste ,nele foram o governador Leonel Brizola ,Clemente Mariani ,ministro da fazenda ,assessorado por Roberto Campos.Nesta conferência das Américas ,Brizola aplaudiu Che Guevara e elogiou pela Revolução Cubana,e de vez o Brasil não atacaria Cuba,de maneira alguma,desagradando os EUA.Após a volta da comitiva brasileira da conferência ,Jânio tratou de pedir para que o vice presidente João Goulart,fizesse uma viajem de negócios na China e pela União Soviética. O cargo seria assumido pelo vice-presidente João Goulart, popularmente conhecido como Jango. O vice-presidente estava em uma viagem de negócios na China. Fato que fora considerado como o momento certo, para dar o golpe na Constituição e assumir o controle do país. O exército ao saber da renúncia de Jânio Quadros já planejava o golpe há tempo, desde a era Vargas, inclusive o próprio Getúlio se matou para adiar o golpe, em outro momento o Marechal Lott, lançou um manifesto que garantiu a posse de Juscelino Kubitschek assim Carlos Bastos nos contou em entrevista.O pensamento dos generais a respeito da posse de João Goulart, assim que ele assumisse ao cargo ele implantaria o comunismo no Brasil, como na China, onde o vice-presidente estava de viajem. Caso Jango voltasse ao Brasil, seria preso ou morto. Mas este pensamento, militar se deu a uma série de movimentos, opostos da política brasileira, do até então presidente Jânio Quadros fizera. Jânio condecorou Ernesto Che Guevara, um dos lideres da Revolução Cubana, ocorrida em 1959, inimigo número 1 dos Estados Unidos, aliado político brasileiro desde a época da Era Vargas. O atual ministro da economia cubana foi homenageado pelas mãos do próprio presidente Jânio, com uma condecoração. A condecoração intitulada pela Grã Cruz da Ordem do Cruzeiro do Sul. Considerado até hoje na História do Brasil, como a maior condecoração a um estrangeiro. Além do mais um dos apoiadores de sua candidatura, Carlos Lacerda companheiro partidário, jornalista e governador do estado da Guanabara, o atacou e todos os dias em seu jornal Tribuna da Imprensa constantemente atacava o presidente, discordando da política nacional e externa, como Juremir Machado da Silva, fala em seu livro Vozes da Legalidade:
  • 3. Política e Imaginário na Era do Rádio, Carlos Lacerda foi um corvo inescrupuloso, um dos maiores golpistas da história. Alias um dos principais culpados pela morte de Getúlio Vargas em 54 e também da renúncia de Jânio Quadros. Em seu livro, O Poder das Idéias ,o corvo dispara um capitulo ,intitulado A crise de agosto,se referindo as criticas que fizera na televisão ao então atual presidente Jânio.Ele próprio dizia: [...] É injurioso supor que o presidente da República não tenha percebido a enormidade do êrro de sua política exterior. O que é lícito não só supor mas deduzir,pelo que êle me disse e pelo que está fazendo ,é que,pela primeira vez neste País-e talvez não erre dizendo,é que,pela primeira vez na vida de uma nação democrática- a política exterior se faz para seguir e obedecer a propósitos da política doméstica.O grave,o perigoso-mais que perigoso ameaçador-,é que uma nação que tem interesses permanentes,,tem constantes de que não se afasta em vão.Não SAP sómente tradições.As tradições nacionais chamam-se assim ,porque são realidades permanentes de um País formado na liberdade,no respeito,sim,à autodeterminação e por isso mesmo no horror àquela que falsifica a liberdade que têm os povos de dispor dos seus destinos,chamados govêrnos a ditadura que se lhes impõem pela força.(LACERDA 1963,p.339). Após uma série de criticas feitas na televisão por Lacerda, Jânio Quadros, decide renunciar ao cargo, no dia 25 de agosto de 1961,não suportando mais a pressão. Jânio que viria no dia seguinte para o Rio Grande do Sul abrir a Expointer ficou aguardando a resposta do povo e de seus aliados políticos, que não apareceram, Jânio decepcionado, partiu para Londres em exílio político. O mesmo Jânio que havia sido eleito, pelo povo com a maioria dos votos, aquele Jânio, que fazia sua campanha eleitoral com um sanduíche de mortadela no bolso para que o povo pensasse que ele fizesse parte da camada popular, que fosse um cidadão simples, humilde, o professor de língua portuguesa, o homem que já havia sido eleito deputado federal, prefeito, o responsável por acabar com as rinhas de galo, proibir desfiles de miss na TV, proibir o biquíni,aquele que havia se candidatado com o lema varre,varre, vassourinha, prometendo acabar com a corrupção do governo JK, o governo anterior Via seu curto governo de apenas sete meses desmoronar. 2 CAMPANHA DA LEGALIDADE A notícia que viria a abalar o estado veio, durante as comemorações do dia do soldado ,quando um oficial se aproximou do comandante Machado Lopes,que mudou a sua fisionomia, esse foi o primeiro passo. O instinto do governador que viria a montar uma rede enorme em prol da democracia veio à tona. Ao saber da renúncia Brizola telefonou para o comandante Machado Lopes, e nesta conversa o até então governador da época,pediu que
  • 4. medidas ele tomaria diante deste situação,ele simplesmente respondeu que ele era um militar e ele iria ficar ao lado do exército.Brizola que não tinha nada de bobo,percebendo que havia um “cheiro de golpe no ar”,ao perceber os planos do exército se manifestou através de uma carta direcionada ao povo do Rio Grande do Sul e ao Brasil,que segundo estudos de Barbosa apresentados em A Rebelião da Legalidade, dizia: [...] Cumpre-nos reafirmar nossa inalterável posição ao lado da legalidade constitucional. Não pactuamos com golpes ou violência contra ordem constitucional e contra a liberdade pública. Se atual Constituição não satisfaz, em muitos de seus aspectos, desejamos o seu aprimoramento e não a sua supressão, o que representaria uma regressão ao obscurantismo. (BARBOSA 2002, p.34). Após se manifestar através da carta, Brizola se reúne com a Brigada Militar de Porto Alegre. O clima de tensão se espalhou pelo Piratini. O Palácio Piratini passou a ser cercado por Brigadianos e ao redor dele se montou uma barricada feita por sacos de areia. Assim que o Palácio passou a ser protegido pela Brigada, imediatamente Brizola, se mudou as pressas com a sua família para o Palácio. “Sede do governo gaúcho, o Palácio Piratini parecia, com efeito, preparado para a guerra” (PILAGALLO, 2004, p.27). Era o inicio da resistência. O Ministro da Guerra Odylio Denys, ao saber que o governador resistiria e lutaria a favor da posse do vice-presidente, mandou fechar praticamente todas as rádios do estado, a única que sobrou foi a Rádio Guaíba. Porem Brizola juntamente com a Brigada Militar na manhã de 27 de agosto, em acordo feito, com o proprietário Caldas Júnior, decretou que a rádio seria usada em favor do estado. Transferindo a rádio ao porão do Palácio Piratini. Assim que Brizola conseguiu um acordo com Caldas Júnior sobre a rádio, as chances de a Legalidade ir adiante aumentaram, pois através da então chamada “Cadeia da Legalidade”, Brizola viria a proferir, discursos calorosos, patrióticos e emocionantes, chamando o povo a participar deste, momento histórico, um momento de luta, que ficaria guardado na memória popular. O povo não hesitou e aderiu totalmente ao apelo feito pelo governador, e se instalou em frente ao Palácio. Com o mesmo sentimento de luta o povo apoiou incondicionalmente Brizola, lembrando a Revolução de 30, onde Getúlio conseguiu a mobilização total do povo. O Historiador, Sociólogo e Jornalista, Juremir Machado da Silva, em seu livro Vozes da Legalidade: Política e Imaginário na Era do Rádio fala que a adesão do povo fora tanto, e o sentimento patriótico enorme, num Estado marcado por ideais, Maragatos e Chimangos se uniram em favor da Legalidade, assim como Grêmio e Inter. O povo teve extrema importância, assim nos contou Carlos Bastos, na entrevista,quando viram um tanque do
  • 5. exército se aproximar eles ,carregaram bancos de concreto que estavam na praça para bloquear a rua. O III Exército do General Machado Lopez, reagiu e as ordens vindas do Ministro da Guerra Odylio Denys, eram de bombardear o Palácio, e acabar com a resistência do governador do estado. Além do bombardeio ao Palácio uma força-tarefa da Marinha, estava a caminho e desembarcaria no Litoral do estado, em Torres. A base aérea de Canoas estava recrutada para receber ordens vindas do exército. Então Brizola com o uso do rádio proferiu mais um de seus marcantes e inesquecíveis discursos. Povo de Porto Alegre, meus amigos do Rio Grande do Sul! Não desejo sacrificar ninguém, mas venham para a frente deste Palácio, numa demonstração de protesto contra essa loucura e esse desatino. Venham, e se eles quiserem cometer essa chacina, retirem-se, mas eu não me retirarei e aqui ficarei até o fim. Poderei ser esmagado. Poderei ser destruído. Poderei ser morto. Eu a minha esposa e muitos amigos civis e militares do Rio Grande do Sul. Não importa. Ficará o nosso protesto, lavando a honra desta Nação. Aqui resistiremos até o fim. A morte é melhor do que vida sem honra, sem dignidade e sem glória. Aqui ficaremos até o fim. Podem atirar. Que decolem os jatos! Que atirem os armamentos que tiverem comprado à custa da fome e do sacrifício do povo! Joguem essas armas contra este povo. Já fomos dominados pelos trustes e monopólios norte-americanos. Estaremos aqui para morrer, se necessário. Um dia. nossos filhos e irmãos farão a independência do nosso povo! Um abraço, meu povo querido! Se não puder falar mais, será porque não me foi possível! Todos sabem o que estou fazendo! Adeus, meu Rio Grande querido! Pode ser este, realmente, o nosso adeus! Mas aqui estaremos para cumprir o nosso dever.(BRIZOLA, <http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=630>). O bombardeio não aconteceu, graças aos Sargentos da Força Aérea Brasileira, que foram contra e impediram que o pior acontecesse. Um dos jornais de circulação na época o, Última Hora, noticiava na capa que os sargentos da FAB haviam impedido o bombardeio. Então entrou em cena uma peça fundamental que pesaria muito a favor da Legalidade, o general Machado Lopez se dirigiu ao Palácio e atendeu ao pedido do governador Brizola e do povo e acabou aderindo a Campanha, e nesse mesmo momento não era só o General Machado Lopez e sim todo o III Exército que agora era a favor da posse legal de João Goulart. O comando da Brigada Militar foi passado para o Machado Lopez, o General que agora lutava em favor da Legalidade. Porém incontente com o que soubera o Ministro da Guerra reage contra o III Exército, mas pouco adianta. Sendo então cumprida a lei, graças a Campanha da Legalidade, liderada por Brizola. O professor Joaquim Felizardo em seu livro A Legalidade Último Levante Gaúcho,dizia, [...] No período de formação histórica, povoado de guerras e revoluções, sedimentara-se uma mentalidade audaz, alicerçada no orgulho regional, na coragem e heroísmo dos indivíduos face a situações dramáticas.Brizola foi o último porta-voz dessa referência cultural.Soube apelar para os valores do inconsciente coletivo,para
  • 6. os fundamentos de um imaginário entranhado em todo o Rio Grande do Sul.Não à- toa,na coreografia do levante de 1961,cavalarianos armados de lanças e facões ocuparam lugar de destaque.Eram como personagens de um romance histórico de Érico Veríssimo,Bombachas,chimarrão e outros símbolos gaúchos multiplicavam-se na Praça da Matriz,em Porto Alegre.Constituíam,por assim dizer,os adornos nostalgicamente épicos da Legalidade(Felizardo 1988, p.65). Quando Jango chegou a Porto Alegre, onde havia uma imensidão defronte ao Palácio o aguardando, a Legalidade estava prestes a chegar ao fim, mesmo após Jango ter aceitado o parlamentarismo, a Legalidade, comanda por Brizola o levaria ao poder. Longe da historiografia oficial, a Legalidade ganharia a memória popular (Cf. FELIZARDO 1988, p.65). Assim Brizola o menino pobre, conseguiu, através de seu ato de bravura e de coragem que contou com a ajuda do povo, garantir a posse de João Goulart. Brizola é digno de ser considerado o último herói gaúcho. 3 POSSE DE JOÃO GOULART Enquanto todo o país, principalmente o Rio Grande Sul vivia esse clima de Guerra no país, um dos protagonistas da História, fazia várias escalas em outros países, para que esse clima todo acabasse e pudesse assumir ao seu cargo. Passaram vários dias até que enfim, Jango desembarcou em Porto Alegre, onde foi recebido com extremo alvoroço pela multidão que o aguardava. Jango foi obrigado a fazer estas escalas, pois caso pisasse em solo brasileiro seria preso, outro risco era de que o avião em que ele voltava fosse bombardeado. A situação era crítica. Enquanto Jango não chegava o povo na saía da frente do Palácio Piratini. Pouco antes de chegar a Porto Alegre, Jango se encontrou com Tancredo Neves, ex- ministro do governo Vargas em Montevidéu, onde teve uma reunião, a reunião que mudaria todo o sentido da Legalidade. João Goulart aceitou a chamada solução parlamentarista, que consistia em assumir a Presidência da República, porem com seus poderes limitados, divididos entre os parlamentares. Em seu livro a Rebelião da Legalidade, Vivaldo Barbosa diz sobre a ação aceita por Jango: [...] Não era o que queria Brizola e os que lutaram pela legalidade: o poder exercido por um presidente ungido no impulso de uma rebelião popular. Seu poder transformador seria muito diferente. O Congresso acabou pondo fim às esperanças de uma presidência transformadora no Brasil, como quiseram as forças conservadoras dentro do Congresso e como habilmente conduziram o processo. (Barbosa 2002, p.313).
  • 7. Mesmo após aceitar a solução parlamentarista, a sua decisão lhe custaria caro. Ao avisar Brizola sobre sua decisão. O governador foi contra, tinha um segundo plano para que Jango resistisse e assumisse com os poderes plenos,assim como fora eleito, mas acabou aceitando a sua decisão por respeito, os estudantes e a população assim que souberam da escolha feita por João Goulart, recolheram todos os cartazes e decepcionados vaiaram Jango. Mas não foi a única reação Brizola também ficou decepcionado, juntamente com toda a impressão que acompanhava a campanha desde que ela havia iniciado. Partindo para Brasília, para sua posse, que quase não aconteceu, Sargentos da FAB, a Força Aérea Brasileira, tentaram derrubar o avião de João Goulart, em uma chamada Operação Mosquito, por pouco ela não deu certo, graças a Praças que conseguiram impedir que o pior acontecesse. Mas foi só em sete de setembro, no dia da Independência do Brasil que João Goulart, aquele fazendeiro que havia aceitado a solução parlamentarista, para que não fosse derramado sangue inocente, subiu no palanque e conseguiu assumir legitimamente com presidente da República, porem com poderes limitados. Graças ajuda de seu cunhado o governador Brizola, que montou uma rede especial, a Rede da Legalidade, para que isso fosse cumprido, e também contou com a ajuda do povo que, optou por resistir junto com Brizola,para que a ordem Constitucional se cumprisse,sendo um movimento inédito na América Latina. 4 BRIZOLA COM HERÓI DA LEGALIDADE Segundo Carlos Bastos, testemunha ocular de todo acontecimento da Campanha da Legalidade, que ficou junto com a resistência gaúcha entrincheirados no palácio Piratini em Porto Alegre, Brizola só não se tornou reconhecido como herói nacional devido à campanha da impressa de direita, principalmente a Rede Globo e as revistas como a Veja, que sempre que falaram na renúncia de Jânio Quadros, logo falaram da posse de João Goulart e acabaram por deixar de lado a questão da Legalidade. Esta mídia sempre influenciou e continua influenciando a mente de muitos brasileiros, mostrando a visão de uma elite dominante em nosso país, e não mostra em miúdos detalhes históricos tão importantes como esse, para esse reconhecimento ser tão forte como um herói nacional seja reconhecido em âmbito nacional. Não iremos entrar em questões políticas, e partidos de direita ou de esquerda, focamos este trabalho nas façanhas de um governador cujos feitos modificaram profundamente o futuro da história de um país, e coragem tamanha de enfrentamento que poria sua vida a cima de questões ideológicas apenas
  • 8. seguindo o que a constituição defendia coisa jamais vista na América Latina desde então. Mas será que esses feitos podem ser classificados como um ato de coragem comparado a de um herói? Antes de respondermos essa pergunta é preciso ter em mente qual o significado de um herói. Heróis são símbolos de identificação coletiva, ou seja, são aquelas pessoas reconhecidas através de seus feitos, por um país ou região, ocorrendo, entre eles, uma identificação. É possível pensar em uma nação que não tenha heróis? Já adiantamos a resposta dizendo que não, pois os heróis são fortes instrumentos para atingir a cabeça e o coração dos cidadãos em prol da legitimação de um regime político, por isso podemos ver claramente a posição da maior parte da mídia da época de não ver com bons olhos a Campanha da Legalidade, assim, não há nação sem o seu respectivo herói. Na verdade, o herói nacional não é jamais uma entidade acabada, mas sim uma realidade em permanente construção, quer dizer, uma figura suficientemente maleável para poder ser ajustada a novas necessidades e justificações. Depois, nas situações de crise, nos momentos onde as certezas cedem lugar à dúvida e ao temor, o apelo ao herói vai ao sentido da reconciliação da nação com o seu passado. Devemos, portanto entender o herói no contexto de uma luta simbólica pela definição da “verdade que convém à nação” ((Decreto nº 21103 de 7 de Abril de 1932, cit. in Medina, s.d.: 45-47)). Ele é, pois uma espécie de „bem raro‟, por cuja apropriação pode passar a legitimação de um discurso de poder e, afinal, a legitimação da própria ação política.Existem dois tipos de herói: aqueles que surgem espontaneamente das lutas realizadas como e aqueles de menor impacto popular e que, portanto, tiveram um empurrãozinho para a promoção da figura.É nesse último perfil que se encaixa o herói Tiradentes, que contribuiu para a construção de sua imagem foi o que se sucedeu à publicação da obra de Joaquim Norberto de Souza Silva, História da Conjuração Mineira. Norberto teve acesso a documentos, nunca antes estudados sobre a Inconfidência e apontou Tiradentes como figura secundária no movimento. A partir da publicação de Norberto, intensificaram-se as alusões de Tiradentes com Cristo. Ter sido traído e morto por lutar pela salvação do povo, da/pátria que foram características presentes na vida dessas duas figuras. A partir daí as representações imagéticas foram cada vez mais se assemelhando. Dessa forma, Tiradentes estava cada vez mais presente no imaginário dos brasileiros, e aos poucos todos iam se identificando com esse homem. Começaram a ligar Tiradentes às principais transformações pelas quais passava o país: a Independência, a Abolição e a República. A sua aceitação veio, assim, acompanhada de sua transformação em herói. E no primeiro perfil, através das lutas realizadas e documentadas
  • 9. que se encaixa Leonel Brizola, mas não reconhecido, foi com a força do povo gaúcho e brasileiro que Leonel Brizola liderou o maior movimento cívico-militar de resistência democrática da história contemporânea do Brasil. Foi uma das primeiras grandes lições de civismo que este grande líder legou ao Brasil. E a maior prova disso está em um dos trechos emocionantes de sua fala na rede da Legalidade, naquele longínquo, mas sempre lembrado 1961, quando transformou o Palácio Piratini numa “cidadela da liberdade”. “Poderei ser esmagado. Poderei ser destruído. Poderei ser morto. Não importa. Aqui resistiremos até o fim. A morte é melhor que a vida sem honra, sem dignidade e sem glória.”. Palavras comprovadas também na entrevista do Carlos Bastos quando perguntado sobre se Brizola sem o apoio do 3º exército ainda assim enfrentaria todo um país armado e treinado apenas com alguns civis e soldados da brigada militar, sua resposta foi contundente “Com certeza a idéia era de que Brizola ou cumprisse o que havia prometido ou ficaria para morrer.” Ao analisar a história de vida de Brizola, principalmente na época da Campanha da Legalidade, podemos defini-lo como um herói? A resposta mais simples é sim, pois herói possui habilidades excepcionais, mas humanamente possíveis. A construção de um herói é um processo político e histórico. Afirma determinada tradição com o objetivo de manter a unidade de um grupo social. Pois a continuidade do passado na memória coletiva e no presente da sociedade necessita de suportes que podem ser materiais ou simbólicos.Para legitimação dos sistemas políticos é comum a utilização do culto aos heróis. De acordo com José Murilo de Carvalho, Heróis são símbolos poderosos, encarnações de idéias e aspirações, pontos de referência, fulcros de identificação coletiva. São por isso, instrumentos eficazes para atingir a cabeça e o coração dos cidadãos a serviço da legitimação de regimes políticos. Não há regime que promova o culto de seus heróis e não possua seu panteão cívico [...](Carvalho1990, p.55) A construção do herói não é, porém, arbitrária. Sempre há influência dos governos, mídia e a identificação do povo com o herói ou símbolo nacional. Hoje, os estudos em História vislumbram novas formas de reconstruir o passado, valorizando as minorias e o cotidiano como forma de deixar o passado vivo e atuante na memória coletiva. Dessa forma, o herói mártir que dá sua vida por uma causa se torna cada dia mais distante da realidade dos fatos. As pessoas se identificam com os “heróis” que batalham dia-a-dia em suas vidas comuns, sem grandes feitos, apenas sobrevivendo na maior das batalhas, o cotidiano. Assim, cada grupo social tem os heróis que se aproximam daquilo que acreditam, de seus ideais e convicções religiosas, mas percebe-se a forte influência da História Tradicional no apontamento dos heróis e suas causas.
  • 10. A educação formal ainda se baseia na concepção tradicional da história, onde há a necessidade dos heróis e onde pequenos grupos sociais não têm valorização dentro dos livros didáticos. Dessa forma, é público a forte valorização da história dos povos europeus em detrimento dos povos indígenas, africanos e até mesmo da História Nacional. É repensando a maneira de fazer educação que a sociedade e os heróis do dia-a-dia serão valorizados, caso Brizola tivesse sido morto em algum bombardeio defendendo seus ideais, seria muito mais fácil colocá-lo no panteão dos heróis nacionais, mas como continuou com sua vida política, não agradando a todos, esse momento está e passou em “branco” através do currículo escolar, fazendo esse momento quando lembrado como um simples ato, coisa que é ínfera do tamanho da influência que o país levou, como atrasando, em três anos um golpe militar, enfrentando e criando inimigos poderosos a todo instante, e não pararia por ali, pois caso João Goulart não tivesse aceito o parlamentarismo Brizola iria a diante de Brasília se fosse preciso, pregar a Constituição, então através desses simples atos, demonstrou ser um herói, que foi em parte esquecido na ditadura durante seu exílio, e futura vida política, mas isso jamais devia se perder durante o tempo, e nem ser ocultado a verdade de sua bravura lutando contra o seu próprio país. Joaquim Felizardo em sua obra A Legalidade Último Levante Gaúcho, aponta a Campanha da Legalidade como o Último Levante da Era do Rádio, e o Primeiro grande levante de um homem impondo seu nome. Em uma revista comemorativa dos 50 anos da Campanha da Legalidade, feita pelo PDT, Luis Fernando Veríssimo descreve, [...] Temos muitos exemplos no nosso passado de figuras destemidas que fizeram história com suas convicções, seu voluntarismo e sua liderança. Não há por que duvidar desses heróis épicos, mas o passado,como se sabe,é um lugar brumoso, onde muitas vezes a legenda se confunde com a verdade. O único exemplo que a nossa geração teve de bravura assim-presenciada, confirmada, inquestionável-foi o do Brizola em 1961. No caso, a legenda é verdade. (apud VERÍSSIMO, Legalidade, 2011, p.7) Assim, Leonel de Moura Brizola que um dia decidiu deixar a pequena cidade de Carazinho localizada no interior do Rio Grande do Sul, partir para a capital ,para alguns anos depois,fazer uma das maiores proezas do nosso estado,capaz de unir Maragatos e Chimangos,Colorados e Gremistas,pelo bem de uma nação.Pelo cumprimento da ordem Constitucional,a posse de João Goulart.Resistindo bravamente a favor da ordem e do dever.Brizola não só pode como deve ser considerado o Último Herói Gaúcho. CONCLUSÃO
  • 11. Através desta pesquisa conseguimos configurar atos de bravuras e coragem que iniciou com Leonel Brizola e foi abraçado pelo povo, onde a historiografia da Campanha da Legalidade mostra que esse herói conseguiu evitar massacre de civis e adiar um golpe militar em três anos, que aceleraria reformas retrógradas em um país ainda cruelmente desigual, em uma época onde heróis eram raros e utópicos na visão do populismo, Brizola desconstruiria uma visão de um país sem rumo e deu esperança a esse povo tão necessitado de ações de bravuras e heroísmo. Brizola o último herói gaúcho. REFERÊNCIAS BASTOS, Carlos,Henrique.Campanha da Legalidade.Porto Alegre,10 novembro 2011.Entrevista a Juliano Luiz Baumgarten. BARBOSA, Vivaldo. A Rebelião da Legalidade: documentos, pronunciamentos, noticiário. Rio de Janeiro: FGV, 2002. BARROS, Edgar Luiz de. O Brasil de 1945 a 1964. São Paulo: Contexto, 1999. BATISTA, Lizbeth. Brizola e a campanha da Legalidade. Estadão, disponível em, http://blogs.estadao.com.br/arquivo/2011/09/05/brizola-e-a-campanha-p. Acesso em:7 de setembro de 2011. CARONE, Edgar.A República Liberal II evolução política (1945-1964). São Paulo: Difel, 1985. CARVALHO, José Murilo de. A Formação das Almas:O imaginário da República no Brasil.São Paulo: Companhia das Letras, 1990. CASTRO, Eri. Brizola herói nacional, disponível em http://erisantoscastro.blogspot.com/2011/08/brizola-heroi-nacional.html. Acesso em:20 de setembro de 2011. CORREIO DO POVO, Porto Alegre, 18 de agosto a 7 de setembro de 2011. CUNHA, Luís -A nação nas malhas da sua identidade: o Estado Novo e a construção da identidade nacional, trabalho de síntese apresentado para efeito de prestação de provas de aptidão pedagógica e capacidade científica, Braga, Universidade do Minho, 1994. FELIZARDO, Joaquim. A Legalidade último levante gaúcho. 2 ed.Porto Alegre:UFRGS,1988. GUIMARAENS, Rafael, VASCONCELLOS, A Porto; STRICHER, Ricardo e QUINTANA, Sérgio (orgs). Legalidade 25 anos, a resistência popular que levou Jango ao poder. Porto Alegre: Redactor, 1986
  • 12. KUHN, Dione. Brizola da legalidade ao exílio. Porto Alegre: RBS, 2004. KEFFER,William.Doze dias que abalaram o Rio Grande-Levante e informação:Guaíba a rádio da Legalidade.Porto Alegre:Record,2011. LACERDA,Carlos.O poder das idéias.Rio de Janeiro:Record,1963. LETRAS, Recanto, das. O Herói e seu dever moral:o que ele é?Por que ele se torna um? disponível em http://www.recantodasletras.com.br/artigos/533177: Acesso em: 11 de setembro de 2011. MAIA, Francis. A Campanha da Legalidade, disponível em http://www.pdtrs.com.br/legalidade-50-anos/329-a-campanha-da-legalidade.html. Acesso em: 7 de setembro de 2011. MARKUN,Paulo,HAMILTON,Duda.1961 O Brasil entre a ditadura e a guerra civil.São Paulo:Benvirá,2011. NOTÍCIAS,Imperatriz, Heróis nacionais: uma construção, disponível em http://www.imperatriznoticias.com.br/artigos-e-resenhas/2314-herois-nacionais-uma- construcao. Acesso em: 11 de setembro de 2011. PARMEGGIANI, Eduardo. 50 anos da Legalidade, disponível em http://www.radiodigitalnews.com.br/?p=5617. Acesso em: 29 de setembro de 2011. PASSOS, Ubirajara. Brizola e a Legalidade, disponível em http://upassos.wordpress.com/2007/08/26/brizola-e-a-campanha-da-legalidade. Acesso em:24 de agosto de 2011. PEIXOTO, Felipe. 50 Anos da cadeia da legalidade. Blog do Felipe Peixoto, disponível em http://blog.felipepeixoto.com.br/50-anos-da-cadeia-da-legalidade/2011/08/. Acesso em:19 de agosto de 2011. PILAGALLO, Oscar. A História do Brasil no século 20(1960-1980). São Paulo: Publifolha, 2004. REVISTA LEGALIDADE 50 ANOS.Porto Alegre:Partido Democrático Trabalhista,Diretório Estadual,2011. SILVA, Hélio e CARNEIRO, Maria Cecília R.1964golpe ou contragolpe?3ed. Porto Alegre: 1978. SILVA, Juremir Machado da.Vozes da Legalidade:Política e Imaginário na Era do Rádio.4 ed.Porto Alegre:Sulina,2011.
  • 13. SOUSA, Rainer. João Goulart, disponível em http://www.brasilescola.com/historiab/joao- goulart.htm. Acesso em: 11 de setembro de 2011.