1. SEMANA DA LEITURA
2010
Leitor:
João Gonçalves
Agrupamento de. Escolas Júlio Brandão
Acompanhante
EB1 Conde de S. Cosme
Turma 14 Ana Catarina Meira
2. A Miséria e a Morte
XIV - E assim vive a Miséria
Por Jorge Pimentel (Fevereiro de 2010) Com promessa bem firmada
Enquanto o mundo for mundo
I - Queixava-se a tia Miséria
Da sua desgraça tamanha,
Não será incomodada.
De ser pobre, de ser velha
E da saúde (que não há!) XV - E concedido o desejo,
Não permitir a façanha, Alterada sua sorte
De à pereira da horta Vemos pelo mundo inteiro
Subir como um rapaz Bem amigas, de mãos dadas,
E nela encher um cabaz Estas duas almas penadas
De fruta que se coma,
Seja madura, seja verde,
Que são a Miséria e a Morte.
Seja boa, seja má.
II - E dos rapazes se queixa
Que, malandros, a atormentam
Pois nos altos ramos se sentam
Texto de Jorge Pimentel, tendo por base diversas
E da velha (que não os deixa)
Riem e troçam com maldade recolhas da tradição oral e outras tantas leituras como:
Enquanto os bolsos e o papo Teófilo Braga e Alexandre Parafita
Vão enchendo à vontade.
III – E a velha bem se zanga
Mas nada pode fazer
Pois, de um salto, a garotada
Parte, de barriga inchada,
Pelos campos, a correr.
3. IV – Um dia vem um pedinte,
XII - A Morte trepou à pereira À velha, pedir abrigo.
E esta, sem hesitar
E ficou presa nos ramos Por uma fresta do postigo,
Até que, da aldeia inteira Mandou o mendigo voltar
E de todo o mundo também, Ao caminho que trazia,
Vieram gentes em prantos Dizendo que não havia,
Pedir à velha que a solte Em sua casa, onde ficar.
Do feitiço que a retém.
V – Insistia o mendigo
Que só uma enxerga pedia
XIII - A velha disse que não Para uma noite dormir,
Sem hesitar um momento. Pois que logo, ao amanhecer,
Não libertaria a Morte, Haveria de partir
Até que esta, em juramento E ao caminho voltar.
Alterasse a sua sorte. E à velha prometia
Um desejo conceder
Se o deixasse ficar.
V – Ao ouvir esta promessa
A velha teve uma ideia
(Que, por sinal, bem malvada.)
Abriu a porta depressa
E pensou que poderia
Usar o desejo do pobre
Para prender a garotada
Que à pereira subia.
4. VI – E assim aconteceu! IX - Passaram dias e meses
Os petizes da aldeia E numa noite de luar
Tiveram a triste ideia A velha ouviu chamar
De, à pereira, trepar. Pelo seu nome, na rua.
E na descida dos ramos Viu, à claridade da lua
Sentiram-se enredar A figura negra da Morte
Por lianas que prendiam Que lhe indica sua sorte
Suas pernas e seus braços E antes da noite findar
Sem os poderem soltar. A teria que levar.
VII – Pediram ajuda à velha X – A velha rogou à Morte
Para poderem descer Antes que a sua hora viesse,
E esta os fez prometer Da sua pereira querida,
Que nas peras da sua pereira Uma pêra lhe colhesse,
Não haviam de tocar. Agora amadurecida.
VIII – Assim, sob juramento, XI – É que ela, de tão velha
Foram embora, os rapazes Não podia lá subir
Depois de encherem p’rá velha E de desejos morria
Ali, naquele momento, Se uma pêra não comia.
O total de dois cabazes E ainda haviam de dizer
Com os frutos da pereira. Que veio a Morte de longe
Matar uma velha já morta
Por não resistir a desejos,
De uma pêra comer.