O discípulo pergunta ao mestre monge sobre o sentido da vida. O monge aponta para um pano sujo no chão e para uma janela empoeirada, indicando a ele para limpá-los. Ao limpar a janela, a luz revela objetos escondidos e o discípulo compreende que devemos remover obstáculos ao conhecimento.

2. As sandálias do discípulo
Ressoavam surdamente nos
Degraus de pedra,
Que levavam aos porões
Do velho mosteiro.

3. Empurrou a pesada
Porta de madeira que cerrava
Os aposentos do ancião

4. E custou a localizá-lo na densa penumbra,
O rosto velado por um capuz,
Sentado atrás de enorme escrivaninha, onde,
Apesar do escuro, fazia anotações num grande livro,
Tão velho quanto ele.

5. E o discípulo o inquiriu:
Mestre, qual o sentido da vida?
O idoso monge, permanecendo em silêncio,
Apenas apontou um pedaço de pano,
Um trapo grosseiro no chão
Junto à parede.

6. Logo após, seu indicador ossudo e encarquilhado
Mostrou, no alto do aposento, o vidro da janela,
opaco sob décadas de poeira e teias de aranha.

7. O discípulo pegou o pano
E subiu em algumas prateleiras
De uma pesada estante
Forrada de livros.

8. Conseguiu alcançar a vidraça
E começou, então, a esfregá-la com vigor,
Retirando a sujeira que impedia sua transparência.

9. O Sol inundou o aposento,
Banhando com sua luz estranhos objetos,
Instrumentos raros e dezenas de papiros
E pergaminhos com misteriosas anotações
E signos cabalísticos.

10. O discípulo, sem caber em si de contentamento,
A fisionomia denotando o brilho da satisfação,
Declarou:
- Entendi, mestre.
Devemos nos livrar de tudo que atrapalhe nosso aprendizado.

11. Retirar o pó dos preconceitos
E as teias das opiniões que impedem
O receber da luz do conhecimento
E, então, enxergaremos a verdade,
Com mais nitidez.

12. O jovem discípulo fez então uma reverência,
E deixou o aposento, agora iluminado,
A fim de dividir com os outros
A lição recém aprendida.

13. O velho monge,
O rosto enrugado ainda encoberto
Pelo largo capuz,
Os raios do Sol da manhã banhando-o
Com uma claridade a que se desacostumara,
Olhou o discípulo se afastando.

14. Deixou escapar um tênue sorriso e pensou:
Mais importante do que aquilo que alguém mostra
É o que o outro enxerga!
E, murmurou, baixinho:
Eu só queria que ele colocasse o pano
No lugar de onde caiu.