1. ARQUEOLOGIA BÍBLICA
21/03/2016
1 Introdução.
A arqueologia bíblica é a disciplina que se ocupa da recuperação e investiga-
ção científica dos restos materiais de culturas passadas que podem nos ensinar a
respeito dos períodos e descrições da Biblia.
Compreende um amplo arco de tempo que está entre o ano 2000 a.c. e 100
d.c., sendo que alguns autores preferem falar, chamar, a arqueologia bíblica de palesti-
niana e, com isso determinam aqueles territórios que estão ao leste e ao oeste do Rio
Jordão, concluindo-se que a “Arqueologia Bíblica ou Palestiniana” está circunscrita aos
territórios que serviram de palco nos relatos bíblicos.
A razão de ser da arqueologia bíblica está radicada na possibilidade de fomentar
o conhecimento científico dos povos que habitaram as chamadas terras bíblicas, a
sua história, cultura, identidade e seus deslocamentos o que faz possível uma localiza-
ção concreta dos relatos, confrontando-os com a historicidade, porém, nem sempre
coincidente.
A respeito disso, as escolas Americana e Israelita de Arqueologia Bíblica, recor-
riam à arqueologia como forma de provar a historicidade dos relatos bíblicos. Hoje, em
mudança, a arqueologia não pretende provar as afirmações da Bíblia, senão descobrir
o mundo histórico no qual os livros bíblicos tomaram consistência e significado.
2 Etapas do desenvolvimento da Arqueologia Bíblica.
O desenvolvimento da arqueologia bíblica tem tido diferentes períodos que a
marcaram, a saber, o chamado Clássico ou Antigo, que consideram a arqueologia como
uma ciência moderna, sendo necessário reconhecer o fato de que muitos autores, ao
longo da história, têm deixado documentos valiosos que são elementos de trabalho
1
2. imprescindíveis, entre muitos deles, os históricos Flavio Josefo, Origens, Eusebio de
Cesareae o Diário de Etheria.
As primeiras explorações arqueológicas iniciaram no século XIX, considerado o
período de antes do mandato britânico, ou seja, primeiramente por parte dos europeus
e após, os israelitas. Nesse contexto, muitos profissionais obtiveram êxito.
Um dos arqueólogos bíblicos dessa época de renome foi Edward Robinson,
quem descobriu várias cidades antigas. Em 1865, patrocinado pela rainha Vitória, criou-
se a Fundação Palestiniana de Exploração e, em 1867, proporcionou importantes
descobertas ao redor do Templo de Jerusalém, por parte dos exploradores Charles
Warren e Charles Wilson.
Dado o sucesso das expedições, as quais foram noticiadas pelo mundo, em
1870 fundou-se a Sociedade de Exploração Palestiniana Americana, enquanto um
jovem francês de tão só 21 (vinte e um) anos, Charles Clermont-Ganneau, chegava
à Terra Santa para estudar duas inscrições notáveis, a Estrela de Mesha em Jordânia
e a inscrição do Templo de Jerusalém.
Em 1889 os Domínicos abriram em Jerusalém um centro de estudos que chega-
ria a ser da primeira ordem no plano da Arqueologia Bíblica, A Escola de Arqueologia
Francesa, na qual destacar-se-iam como personagens M-J. Lagrance e L. H. Vincent.
Na Alemanha Austríaca, em 1898, a instituição Arqueológica Alemã do Oriente, assim
como as outras, abriram as portas para o desenvolvimento de uma disciplina nacente e
entusiasta, ainda que neste tempo inicial as investigações eram dirigidas apenas para
demonstrar a historicidade de fatos bíblicos.
Nos anos de 1890, ainda no século XIX, entraria em cena outro gênio, que pas-
saria à história sendo considerado o “pai da arqueologia palestiniana”, o senhor Flinder
Petrie, quem assentaria as bases de uma exploração metodológica e daria uma grande
importância à análise da cerâmica como pista arqueológica.
No período do chamado mandato Britânico na Palestina, entre 1922 a 1948, a
investigação e exploração da Terra Santa aumentou exponencialmente e foi dominado
pelos ingleses William Foxwell Albright, C. S. Fischer, pelos jesuítas, os dominicos e
outros, porém, esta época de avanços e atividades para a arqueologia bíblica estaria
paralisada provisóriamente, visto a importância da descoberta de Qumrán em 1947 e
cujas escavações seriam dirigidas em especial pelo francês Roland de Vaux.
Já nos idos de 1948, após o mandato Britânico, uma nova época política e
social foi instaurada na Terra Santa, havendo a instituição do Estado de Israel, com
isso entrando em cena os arqueólogos israelitas, porém, mal iniciando os trabalhos,
logo na primeira fase das escavações no território do Estado, começou a Guerra dos
Seis Dias, que se estendeu aos territórios ocupados da Judeia e Samaria.
3. Vale destacar nesse período os nomes das senhoras Kathleen Kenyon, que
dirigiu as escavações de Jericó e o Ofel de Jerusalém e, Chrystall Bennet, que conduziu
as escavações de Petra e da Cidadela de Ammán.
3 Escolas arqueológicas.
A arqueologia bíblica é matéria de permanente debate, tendo como um dos
objetos de maior disputa o período da monarquia Israelense, que em geral, seguindo
a historicidade da Bíblia, pôde definir vagamente o que hoje se classifica como escolas
do pensamento arqueológico, sendo essas divididas em duas, a minimalista e a maxi-
malista, além do método não histórico de ler a Bíblia, a leitura tradicional com enfoque
na religiosidade.
Deve-se notar que essa classificação em duas escolas, não podem constituir uni-
dades, senão um espectro que faz difícil definir campos e limites, mas que tornam
possível estabelecer pontos descritivos convergentes.
A escola minimalista, ou também chamada de Escola de Copenhague, enfatiza
que a Biblia deve ser lida e analisada, antes de mais nada, como uma coleção de
narrações e não como uma cuidadosa contagem histórica da pré-história do Oriente
Médio.
Os entusiastas desssa escola, em 1968, Niels Peter Lemche e Heike Friis
escreveram dois ensaios que convidavam a revisar completamente os modos pelos
quais se deveriam ler a Bíblia e extrair conclusões históricas que serviriam para
contextualização.
Já os maximalistas, em maioria, aceitam as descobertas da arqueologia e dos
modernos estudos bíblicos, no entanto, sustentam que todo o conjunto de relatos
bíblicos são em realidade referências históricas e que os mais recentes livros têm maior
solidez histórica que os mais primitivos.
Para eles, a arqueologia assinala eras históricas e reinos, modos de vida e
comércio, crenças e estruturas sociais, no entanto, só em muitos casos raros, os
estudos arqueológicos apresentam informações a respeito de famílias individuais,
sendo impossível exigir maior abrangência de dados minuciosos. Portanto, até o
momento, a arqueologia não tem apresentado provas que assegurem ou neguem
a existência dos patriarcas.
Assim, os maximalistas estão divididos em dois, sendo os maximalistas bíblicos,
que estão de acordo com a existência das doze tribos de Israel, ainda que isso não
signifique necessariamente, que as contagens bíblicas a respeito delas correspondam,
em tudo, a realidade histórica.
4. Também estão de acordo com a existência de grandes figuras como Davi, Saúl,
Salomão, a monarquia de Israel e Jesus Cristo, mas a faixa de posições dentro do
maximalismo é ampla e inclusive alguns autores podem apresentar leves diferenças
com os minimalistas.
4 Lugares arqueológicos importantes.
Para contextualizar a narrativa é imprescindível destacar os locais de grande
importância para essa disciplina como as Grutas de Qumrán, local onde se fez o
achado arqueológico bíblico mais importante de todos os tempos, localizadas no vale
do Mar Morto.
Para muitos é quiçá um dos achados mais importantes de todos os tempos,
sendo composto das ruínas do que era considerado como o monastério da congrega-
ção judia dos Esênios, das cavernas onde se encontraram os papiros e códices de
Livros do Tanaj, do cemitério dos monges e muitos outros elementos que mudaram a
história dos estudos bíblicos.
Há também outros locais em destaque, que são o Santo Sepulcro, um complexo
que compreende o percurso da tumba de Jesús Cristo ao Calvário, onde é possível
encontrar evidências de tumbas judias, artefatos romanos, construções constantinas e
influências otomanas.
O Museu de Israel é outro local famoso, um dos mais importantes do mundo, que
reúne objetos de valor universal inquestionáveis não apenas para estudos bíblicos,
como para a história do Oriente Médio.
Vale destacar também o Túnel de Siloé, que passa por baixo da cidade velha
de Jerusalém e é um dos elementos declarados na Bíblia, tanto na Tanaj, o velho
testamento não organizado em ordem cronológica, como no Novo Testamento.
Como exemplo, também tem-se o que se chama de “A Barca de Pedro”, um
dos últimos achados, que foi encontrada enterrada entre o lodo nas orlas do Lago
da Galilea e datada do século I, isto é, do tempo de Jesús, sendo, por essa razão,
chamada desse nome.
5 Disciplinas relacionadas.
Como toda a ciência, a arqueologia e seu ramo bíblico têm suas próprias
especializações bem como seu trabalho interdisciplinário. Já se mencionou que a
5. arqueologia deve se servir e trabalhar em equipe com disciplinas como a antropologia,
a geologia e outras ciências que permitem se dar uma ideia do mundo antigo.
Outras disciplinas como a filosofia, a teologia, a exegese e a hermenêutica se
servem dos resultados científicos desta, por exemplo, a Biblia utiliza uma linguagem
recorrentemente simbólica, que pode fazer pensar que quanto ali se menciona algo,
pode pertenecer ao plano estritamente teológico e portanto não necessariamente
verificável.
No entanto, graças à arqueologia, muitos bilhetes bíblicos têm achado uma
explicação mais concreta, sem que por isso se queira dizer que a relação arqueologia
e estudos bíblicos seja pacífica e imprescindível, sendo que hoje e, graças a esta
disciplina, sabe-se por exemplo que os muros de Jericó, mencionados no Livro de
Josué e cujas ruínas têm sido escavadas, podem datar em um tempo que coincide com
a imigração israelita na Terra Prometida.
Assim, o propósito da arqueologia bíblica é clarificar os textos bíblicos e con-
teúdos através da investigação arqueológica do mundo bíblico, buscando não apenas
provar a Bíblia, mas esclarecer a sua história.
6 Referências.
1 - Vilar, Vicente. Archeologia della Palestiniana, Enciclopedia della Biblia I, 672;
2 - Vicente Vilar, Idem;
3 - Kurt Benesch: Passato dá scoprire (tr. é. Passado para descobrir), citado
por J.M. Vernet em seu “Curso Básico de Arqueologia Bíblica”, Teologado Salesiano
Internacional de Ratisbonne, Jerusalém, 2001;
4 - R. Bultmann, Nuovo Testamento e mitología, p. 203;
5 - . L. Randellini, voce Demitizzazione, in ER, vol. 2, coll. 623-635.