1) Os bondes revolucionaram o transporte no Rio de Janeiro a partir de 1856, permitindo o desenvolvimento de bairros como Botafogo e Copacabana.
2) A primeira tentativa de estender os bondes até Copacabana ocorreu em 1874, mas enfrentou oposição judicial.
3) Somente em 1892 o engenheiro José Cupertino Coelho Cintra inaugurou o Túnel Velho, ligando Botafogo a Copacabana e permitindo o crescimento deste último bairro.
1. OS BONDES FIZERAM COPACABANA
Com efeito, desde 12 de março de1856, quando, pelo decreto no. 1733 se
conferiu a primeira linha de carris urbanos puxados à burros ao Conselheiro Cândido
Baptista (1801-1865) e seu filho Luiz Plínio; e a segunda, de uma linha para a Tijuca,
dada dias depois pelo decreto no. 1742, de 29 de março, ao médico homeopata escocês
Thomás Cochrane (1805-1872), sogro de José de Alencar (1829-1877), ninguém podia
imaginar a revolução que tais veículos acarretariam à cidade.
A linha de Cochrane, partindo do centro para a Tijuca, começou a funcionar em
1859, mudando para tração à vapor em 1862. Não deu certo por causa da má
conservação e faliu em 1865, dando prejuízo de 700 contos a seus diretores. Já Cândido
Baptista desinteressou-se de sua concessão, haja vista que em 11 de outubro de 1859
foi indicado “Presidente do Banco do Brasil”. Repassou então sua concessão por
quarenta contos de réis pelo decreto no. 2927, de 21 de maio de 1862 ao amigo, o
banqueiro Ireneu Evangelista de Souza, Barão e Visconde de Mauá (1813-1889). Mauá,
receoso com o investimento, haja vista o que acontecera à linha da Tijuca, cedeu a
concessão por cem contos de réis, formalizada pelo decreto no. 3738, de 21 de
novembro de 1866 ao engenheiro americano Charles B. Greenough (1825-1880). Partiu
Greenough para os Estados Unidos, onde conseguiu verbas para sua linha que
percorreria a Zona Sul da Cidade, organizando uma companhia dois anos depois. Logo
eram assentados os trilhos do Centro ao Catete.
Em 09 de outubro de 1868, começou a funcionar a “Botanical Garden Rail Road
Company”, com sua primeira linha, da rua Gonçalves Dias até o Largo do Machado. O
impacto sobre a cidade logo se fez sentir. Regiões que ficavam desertas, por falta de
acesso logo se valorizaram e foram ocupadas. Bairros dominados por extensas
chácaras, como Botafogo, logo foram repovoados. Em breve, não se vendia mais terreno
algum na cidade sem antes o comprador fazer a pergunta: “...o bonde passa lá?”
Já em 1o. de janeiro de 1871 chegava o bonde ao Jardim Botânico e Gávea,
tornando tais arrabaldes muito populares desde então. Em 1o. de abril de 1873, o bonde
já atingia a “Olaria”, hoje “Campus da PUC”, na Rua Marquês de São Vicente, e outro
ramal, saindo do Largo do Machado atingia a “Bica da Rainha”, no Cosme Velho. Logo
se vislumbrou na mente de homens progressistas que o bonde era a maneira mais
eficiente de se chegar à Copacabana, Ipanema e Leblon.
Entretanto, o primeiro transporte coletivo que chegou às praias da zona sul não
foram os bondes, e sim as diligências do Dr. Francisco Bento Alexandre de Figueiredo de
Magalhães, Conde de Figueiredo Magalhães (181?-1898), médico cirurgião formado em
Lisboa, cujos serviços foram iniciados a 1o. de dezembro de 1878. Partiam as diligências
da Praia de Botafogo, canto da rua São Clemente, chegando à Praia de Copacabana
pela Ladeira do Leme. O Dr. Magalhães montara em Copacabana uma casa de saúde
para convalescentes, com cômodos para banhistas e um hotel anexo. As diligências
trafegavam de hora em hora, das 07:00h às 10:00h da manhã, e das 17:00h às 20:00h.
A primeira tentativa para se levar uma linha de bondes até a Praia de Copacabana
data de 1874, quando a 4 de novembro, foi concedido ao Sr. Ale xandre Vieira de
Carvalho, Conde de Lages, Mordomo dos Príncipes Conde e Condessa D`Eu, e ao seu
sócio, Dr. Francisco Teixeira de Magalhães, a necessária autorização para sua
construção, uso e gozo, durante cinqüenta anos, de uma linha de carris para
Copacabana. Chegou a ser fundada a “Empresa Ferro Carril Copacabana”, cujo principal
dono era o empresário alemão Alexandre Wagner, que adquirira a concessão dos
herdeiros do Conde de Lages e estava comprando todos os terrenos disponíveis em
Copacabana, do Leme até a “Pedra do Inhangá”. A obra foi até iniciada, mas muito
combatida na justiça pela “Botanical Garden”, que alegava ter privilégio concedido
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2. contratualmente para exploração de linhas de carris na Zona Sul da cidade. A batalha
judicial terminou em vitória para a “Botanical Garden”, caducando a concessão rival a 21
de fevereiro de 1880.
Ano seguinte, a 13 de julho de 1881, o Ministro da Agricultura, Comércio e Obras
Públicas colocou em concorrência pública a abertura de uma linha de carris urbanos para
Copacabana. A “Jardim Botânico” protestou, alegando privilégio de área, sugerindo em
ve z rediscutir seu contrato original e realizar a linha, mas o Govêrno fez “ouvidos de
mercador” e a concorrência foi realizada. A coisa não foi adiante, tendo todas as
concessões caducado.
Em 05 de outubro de 1882, um grupo de vereadores apresentou à Ilma. Câmara
Municipal um projeto de extensão das linhas de bondes da “Companhia Ferro Carril
Jardim Botânico” (nome que tomou a “Botanical Garden”, após sua nacionalização em
1883), de Botafogo, para os bairros de Copacabana, Vila Ipanema e Leblon. A coisa não
saiu de imediato.
Outros planos e concessões vieram e caducaram.
Um deles, apresentado ao Govêrno Imperial em 1883, era o de Duvivier & Cia.
Seus autores eram Theodoro Duvivier (1848-1924) e Otto Simon, genros de Alexandre
Wagner. Igualmente caducou.
Um dos planos mais interessantes foi o que propôs a 10 de fevereiro de 1886 o
engenheiro João Dantas ao Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, de
uma ferrovia à vapor que, partindo de Botafogo, da estação da Companhia Jardim
Botânico, no Largo dos Leões, chegaria por um túnel à Copacabana, Ipanema, Leblon,
Barra da Tijuca, Mangaratiba, Sepetiba indo até Angra dos Reis, numa extensão de
193km. Foi constituída em 1890 a “Companhia Estrada de Ferro Sapucaí”, que
pretendia, dentre outras obras, fazer um prado de corridas de cavalos no Leblon, nas
terras da chácara do português José de Guimarães Seixas, colado ao “Morro dos Dois
Irmãos” (é onde hoje existe o “Clube Municipal”). O decreto no. 587, de 10 de outubro
de 1891, emitido pelo Governo Federal, autorizou a mesma empresa a estender os
trilhos até Guaratiba. Em 1891 essa concessão caducou, quando já se havia escavado
uma estrada de quase um quilômetro pela encosta do “Morro Dois Irmãos”, estrada esta
que, depois de muito ampliada em outubro de 1916 seria inaugurada como av.
Niemeyer.
No mesmo mês de fevereiro de 1886, a “Companhia Jardim Botânico” fez uma
contraproposta ao “Plano Dantas”, sugerindo uma linha ferroviária à vapor cortando
Copacabana, Ipanema e Leblon, saindo da estação do Largo dos Leões, em Botafogo e
indo até “Pena”, em Jacarepaguá. Propunha também um prado de corridas no “Morro
Dois Irmãos” . Em vez de um prado de corridas no Leblon, o engenheiro André
Rebouças sugeriu um cemitério naquelas plagas, idéia logo enterrada. Igualmente não
foi adiante. Ainda em 1886, por sua vez, a “Companhia” propôs ao Ministro da
Agricultura, Comércio e Obras Públicas uma linha de bondes para Copacabana, o que
se comprometeu por contrato assinado já na República, a 30 de agôsto de 1890 com o
dito ministério.
Somente dois anos depois, em maio de 1892, é que pôde ser escavado um túnel e,
finalmente, a 06 de julho de 1892, depois de oito meses de obras, sendo dois de
escavações na rocha, o Gerente da “Jardim Botânico”, o engenheiro pernambucano
José Cupertino Coelho Cintra (1843-1939) inaugurou o “Túnel Velho” (hoje Alaôr Prata),
ligando a rua Vila Rica, em Botafogo, ao areal de Copacabana. Na ocasião, o Barão de
Ipanema arrendou terras para construção de uma estação onde hoje é a av. N. Sra. de
Copacabana.
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3. JOSÉ DE CUPERTINO COELHO CINTRA - DADOS BIOGRÁFICOS
Engenheiro inovador, nasceu em Pernambuco a 18 de setembro de 1843.
Bacharelou-se em matemáticas e ciências físicas e naturais, em 1865, pela Escola
Central, hoje Faculdade Nacional de Engenharia. Seu primeiro cargo foi o de Ajudante
da Fiscalização da Companhia City Improvements. Exerceu vários cargos pertinentes à
profissão, quase todos no estado do Espírito Santo. Como ajudante da Inspetoria de
Imigração, apaziguou diversas rebeliões de imigrantes naquele estado e no Rio Grande
do Sul. Fundou diversos núcleos coloniais nos referidos estados e em São Paulo.
Sua lisura, capacidade e inteligente ação valeram-lhe as distinções recebidas:
sócio Benfeitor da Sociedade Propagadora das Belas Artes; da Caixa de Socorros D.
Pedro V; membro da Sociedade de Geografia desta Capital; sócio honorário da
Sociedade de Artes Mecânicas e Liberais de Pernambuco; sócio dos Centros Carioca e
Pernambucano e do Instituto Arqueológico e Geográfico de Pernambuco.
Em 1889, passou a dirigir, como gerente, a Companhia Ferro Carril do Jardim
Botânico. Projetou e executou, em apenas seis dias, a duplicação da linha de bondes
de Botafogo à Escola Militar da Praia Vermelha. Estendeu as linhas de bonde até
Copacabana, o que foi possível com a abertura do 1o. túnel para aquele bairro, a 06 de
julho de 1892, ligando a rua Real Grandeza, em Botafogo, à rua Barroso, atual Siqueira
Campos (Túnel Velho, ou Túnel Alaôr Prata). Esta linha ia até a Praça Malvino Reis,
atual Serzedêlo Correia, e é considerada a certidão de batismo do futuroso bairro de
Copacabana. Prosseguindo, atingiu a Lagoa Rodrigo de Freitas até a praça Piassava,
onde hoje se ergue a estátua de Quintino Bocaiúva. Instalou a primeira corrente elétrica
contínua na América do Sul, com tração elétrica dos bondes, nesta Capital. Apesar da
forte oposição por parte dos rotineiros, pôde realizar tão ousado cometimento,
inaugurado em 1892, pelo Presidente da República, Marechal Floriano Peixoto.
Coelho Cintra foi ainda deputado por Pernambuco, prefeito da cidade do Recife,
oficial de gabinete do Ministro Francisco Sá e autor de cartas corográficas e geográficas
do Espírito Santo. Aposentou-se aos 78 anos de idade, pobre, mas digno do
acatamento de seus concidadãos.
O engenheiro Coelho Cintra é hoje credor de nossa gratidão; sendo perpetuado
em estátua de bronze em Copacabana, onde, como bandeirante que foi, recebeu as
merecidas homenagens de sua população.
Faleceu Coelho Cintra no Rio de Janeiro, a 12 de agosto de 1939.
COPACABANA
Copacabana é conhecida internacionalmente como um dos símbolos do Rio de
Janeiro. Quem nunca ouviu os versos de João de Barro (conhecido como Braguinha)?
“Copacab ana, princesinha do mar
Pelas manhãs tu és a vida a cantar
E à tardinha o sol poente
Deixa sempre uma saudade na gente”.
Originalmente a região de Copacabana era denominada, na língua tupi-guarani,
como Sacopenapã, que significa “caminho batido pelas socós ( ave pernalta da família
das garças ).
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4. A nomenclatura Copacabana é originária da língua quíchua (língua que era falada
pelos incas) e que significa “Mirante azul”. Esta era a nomenclatura de uma península
entre a Bolívia e o Peru, às margens do Lago Titicaca, onde os incas haviam construído
um templo aos seus deuses. No século XVI os espanhóis destruíram o antigo santuário,
edificando no local um templo em devoção à N. Sra. das Candeias ou Candelária. Como
passou a ser adorada na península de Copacabana, a santa passou a receber a
denominação de N. Sra. de Copacabana.
Não se sabe ao certo como uma imagem desta santa foi deixada em Sacopenapã.
Supõe-se que peruleiros (traficantes de prata da Bolívia e Peru) tenham deixado a
imagem no local. A imagem foi levada para a hoje Igreja de N. Sra. de Bonsucesso da
Santa Casa de Misericórdia, onde em 1638 já era cultuada. Ainda no século XVII a
imagem foi transferida para uma ermida (templo) no promontório onde hoje se localiza o
Forte de Copacabana.
O templo original foi sucessivamente reconstruído até a edificação do Forte de
Copacabana (inaugurado em 1914). A igrejinha manteve-se na área do forte até 1918,
quando a Mitra vendeu seu terreno à Fazenda Federal, a fim de que no local fosse
construído alojamento da guarnição. A imagem da santa foi recolhida pela família do
Barão de Teffé, que a levou para seu castelo em Correias, Petrópolis.
Em 1918 uma nova imagem de N. Sra. de Copacabana chegou da Bolívia, sendo
colocada na então Igreja de N. Sr. do Bonfim, hoje Matriz de N. Sra. de Copacabana.
O bairro de Copacabana surgiu em 6 de julho de 1892 com a abertura do Túnel
Alaôr Prata (Túnel Velho). Este túnel foi aberto para passagem de bondes. Até então, o
acesso para Copacabana era feito através de caminhadas pelos morros que cercam a
região.
O Túnel Engenheiro Coelho Cintra (Túnel Novo) foi aberto em 1906, sendo situado
do lado esquerdo de quem vai para Copacabana. Em 1949 foi inaugurada sua
duplicação, denominada Túnel Marques Porto (situado do lado direito de quem vai para
Copacabana).
Copacabana foi ocupada lentamente pela população até 1940; desta década
ocorreu um aumento populacional no bairro de 74,35%. A partir desta década
Copacabana se torna um dos bairros mais populosos da cidade.
Copacabana é separada do Oceano Atlântico pela Avenida Atlântica, conhecida
mundialmente. Esta foi inaugurada em 1906, com 6 metros de largura e 4 Km de
extensão. Em 1919 o Prefeito Paulo de Frontim realizou o alargamento desta via para
17m. Nesta Avenida situa-se um dos prédios mais belos da cidade : o Hotel Copacabana
Pálace. Inaugurado em outubro de 1923, funcionou até abril de 1946 como cassino. O
hotel teve como hóspedes ilustres nomes como: Nat king cole, Clark Gab le, Eisenhower,
Santos Dumont, Elizab eth II.
Num apartamento do prédio n° 2856 desta avenida, onde residia Nara Leão,
surgiu a Bossa Nova , em 1956. Estilo musical conhecido internacionalmente teve como
compositores importantes Vinícius de Moraes, Tom Jobim, Billy Blanco, Roberto
Menescal, Ronaldo Bôscoli, entre outros.
AVENIDA PRINCESA ISABEL - LEME - COPACABANA
Foi aberta em 1901, nos terrenos de Alexandre Wagner, que em fins do século
XIX havia comprado todos os terrenos do Leme e arruado a região em 16 de abril de
1894. Era denominada de rua Salvador Correia, em honra ao Governador do Rio de
Janeiro Salvador Correia de Sá, que administrou a cidade por duas vezes, de 1568 a 71
e de 1578 a 98. Em 1904 o Prefeito Francisco Pereira Passos abriu o túnel do Leme,
inaugurado dois anos depois. Pelo Decreto Municipal no. 6.305, de 1o. de outubro de
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5. 1938, mudou de nome para Avenida Princesa Isabel, em comemoração aos cinqüenta
anos da assinatura da Lei Áurea, que libertou os escravos no Brasil.
O engenheiro José de Oliveira Reis duplicou o túnel do Leme (ou Túnel Novo,
como também era conhecido), de 1943 a 1946, quando então se duplicou a rua,
tornando-se avenida, demolindo-se todo um correr de prédios. O último a ir abaixo foi o
velho Hotel Vogue, na avenida Atlântica, em fins dos anos 50, quando então ganhou este
logradouro as dimensões largas que possui atualmente. O atual canteiro central foi
resultado das obras do Rio Cidade, em 1994/96, quando então se removeu do seu eixo a
estátua do Visconde do Rio Branco, hoje na Praça Demétrio Ribeiro. Esta estátua tinha
sido removida da Glória para Copacabana em 1938. Quando abriram seus alicerces,
acharam uma caixa de chumbo cheia de moedas, doadas depois ao Museu do Itamaraty.
Hoje, o Túnel do Leme possui denominação oficial, aliás, duas: Coelho Cintra, na
boca mais antiga, ao lado da Igreja de Santa Terezinha, e Marques Pôrto, na boca
situada ao lado da Rua Carlos Peixoto.
MONUMENTO À PRINCESA ISABEL – AVENIDA PRINCESA ISABEL – LEME
Na década de 60 existiu um monumento em memória à princesa Isabel Redentora
na avenida que a homenageia, no Leme. Junto com a estátua do Visconde do Rio
Branco, eram assim eternizados numa única via pública os dois maiores responsáveis
pela emancipação dos negros no Brasil. Entretanto, na década de 70, por causa de uma
obra, demoliram a estátua da Princesa, a qual não foi mais reconstruída depois.
Atendendo aos rogos dos moradores locais, o Prefeito César Maia ordenou a fatura de
uma nova estátua, a qual foi inaugurada às 10h do dia 13 de maio de 2.003, na hora e
dia em que foi assinada por aquela titular a Lei Áurea.
A estátua em bronze representa a Princesa Isabel em pé, sobre um pedestal,
tendo na mão esquerda a pena de escrever. Tem 2,50m de altura e é obra do escultor
Edgard Duvivier Filho. Custou 80 mil reais e foi providenciada pela Fundação de Parques
e Jardins.
TEATRO VILLA-LOBOS - AV. PRINCESA ISABEL, 440 - COPACABANA
Iniciativa da Funterj-Fundação de Teatros do Estado do Rio de Janeiro, este
empreendimento de 1977 se implantou em terreno doado pelo governo do Estado
durante a gestão Faria Lima. Dadas as limitações físicas, o programa foi resolvido pelo
arquiteto Raphael Matheus Peres em patamares: a partir do nível da rua amplas
escadarias conduzem às bilheterias, destas ao foyer e daí à platéia, que comporta 500
pessoas. No subsolo, cujo nível foi determinado pela existência de instalações
subterrâneas, foi implantada a escola de balé, que compreende espaços para ensaio e
aquecimento, vestiários, camarins, serviço médico e administração. Para atender aos
artistas, o teatro dispõe ainda de um bloco de quatro pavimentos com camarins
individuais e coletivos, salas de ensaios e preparação e cantina. Durante a execução da
obra, foi incorporado um pequeno terreno anexo para o qual o arquiteto projetou um
teatro de marionetes, integrado ao conjunto por pequenos arcos que acompanham o
ritmo da fachada principal.
HOTEL MERIDIEN - AV. ATLÂNTICA, 1020/AV PRINCESA ISABEL - LEME
O projeto dos arquitetos Paulo Casé e Luís Acioli, de 1973, beneficiou-se da
legislação especial surgida na época que, sob alegação de incentivo ao turismo, liberou o
gabarito de edificações destinadas a instalações hoteleiras. Assim, numa faixa litorânea
de gabarito máximo fixado em 12 pavimentos foi inserido um edifício três vezes mais
alto. Este hotel de alto padrão compreende 535 unidades e 33.500m2 de área
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6. construída. Os acessos foram localizados em função das características das vias que
circundam o terreno, com entradas independentes para o público em geral, hóspedes,
banhistas e serviço. A torre de apartamentos foi projetada e localizada de modo a
atender à necessária concentração de serviços e liberar a maior parte do terreno para
piscina e restaurantes, situados no embasamento. A implantação da piscina na esquina
das avenidas Atlântica e Princesa Isabel favorece a visão global da praia e permite
insolação durante a maior parte do dia. A exiguidade do terreno determinou a construção
de um edifício-garagem privativo a 100m do hotel. Devido à limitação de altura, a caixa
d`água superior foi substituída por uma cisterna, que comporta 1,5 milhão de litros,
estudada volumetricamente para dar estabilidade à estrutura do prédio. As fachadas
reafirmam a verticalidade do edifício, valorizando os elementos estruturais, revestidos de
mármore, que se destacam sobre as superfícies envidraçadas. Apesar de não serem
permitidas por lei, as aberturas na divisa lateral foram liberadas por serem fixas e
indevassáveis. Também levou-se em consideração ser esta solução mais apropriada que
a tradicional, que seria “colar” o prédio no vizinho.
AVENIDA ATLÂNTICA - COPACABANA
A primitiva avenida foi traçada como reles rua de serviço em 1904/06 pelo Prefeito
Pereira Passos. Só possuía quatro metros de largura, servindo apenas para pedestres.
Com o crescimento do trânsito pela orla e o surgimento da moda dos banhos de mar, se
tornou pequena, sendo ampliada para 19 metros de largura em 1910/11 pelo Prefeito
Bento Ribeiro. O Prefeito Paulo de Frontin a melhorou em 1918/19, quando foi toda
refeita. Logo depois, uma ressaca a destruiu, exigindo ser reconstruída em 1921/22. Foi
novamente atingida por outra ressaca e refeita em 1924. De 1969 a 1971 foi duplicada
pelo Governador Negrão de Lima, segundo sugestão do arquiteto Lúcio Costa e projeto
do engenheiro Raimundo de Paula Soares. Na ocasião, colocou-se sob o calçadão
central o Interceptor Oceânico da Zona Sul, a maior obra de esgotos até então efetuada
na cidade.
As calçadas em mosaico de pedras portuguesas foram desenhadas por Roberto
Burle Marx, que se utilizou de pedras de três cores, preta, branca e vermelha,
representando os povos que formaram nossa etnia. O desenho foi imaginado para ser
percebido de avião, à exceção do da orla, que reproduz o antigo mosaico ondulado
imitado de Portugal. Em 1988 foram plantados coqueiros pela administração Saturnino
Braga, na areia para suavizar a paisagem e, finalmente, em 1992, foi refeita a orla pelo
Prefeito Marcelo Alencar, com a proibição de estacionamentos, a construção de uma
ciclovia e a colocação de quiosques de alimentação.
POSTOS DE SALVAMENTO – AVENIDAS ATLÂNTICA/VIEIRA SOUTO/DELFIM
MOREIRA – COPACABANA/IPANEMA/LEBLON
Em 1924, o Prefeito Alaôr Prata mandou edificar postos de salvamento na orla
marítima da cidade, principalmente nas praias oceânicas. Colocados em intervalos
regulares de 900 metros, acabaram por demarcar áreas específicas das praias, além, é
claro, de cumprirem suas funções originais. Os banhistas marcavam encontros usando
os postos como balizas. Em 1975, esses postos, em estilo art-déco, estavam já
tecnologicamente superados e muito danificados, o que impôs sua substituição. Os
novos postos foram projetados em 1976 pelo arquiteto Sérgio Wladimir Bernardes, e
foram colocados em toda a orla oceânica, inclusive nas novas praias da Barra da Tijuca
e Recreio dos Bandeirantes. Mantendo o mesmo espaçamento, são de formato
aerodinâmico, em concreto aparente, possuindo sanitários e chuveiros para banhistas,
além das instalações para salva vidas.
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7. POSTOS DE ABASTECIMENTO DA AV. ATLÂNTICA - COPACABANA
Concebido pela mesma equipe de arquitetos e na mesma época em que foi
realizado o Posto Catacumba (1968, Dilson Gestal Pereira, Waldyr A . Figueiredo, Paulo
Roberto M. de Souza e Alfredo Lemos), este projeto segue a intenção promocional do
anterior. Planejado em quatro pontos ao longo do canteiro central da av. Atlântica,
segundo idéia do Governo do Estado da Guanabara, de viabilizar as obras de
alargamento da avenida através da venda dos terrenos à Petrobrás Distribuidora S.A .
Extremamente polêmico, devido a sua situação particular, o projeto procurou se integrar
à paisagem minimizando o atrito visual. A solução encontrada demonstra a preocupação
dos arquitetos em amenizar o contraste com a paisagem, mantendo em destaque a praia
de Copacabana, cartão postal do Rio de Janeiro. Novamente a cobertura domina a
composição. Seu desenho surgiu da idéia de um cálice, ou uma papoula, e evoluiu para
quatro pétalas em fibra de vidro que, ao se tocarem, dão rigidez à estrutura. O encontro
dessas pétalas é marcado por uma cúpula de vidro translúcido. A continuidade visual foi
assegurada pela solução para áreas de escritório e vendas, localizada numa caixa de
vidro transparente, e as dependências de depósito e serviço, num pavimento enterrado,
com iluminação zenital.
HOTEL INTERNACIONAL RIO - AV. ATLÂNTICA, 1500 - COPACABANA
O hotel foi construído em terreno reduzido de 400m2, num projeto de 1986
elaborado por Cláudio Fortes e Roberto Victor. Projetado inicialmente como hotel-
residência, foi modificado para uso hoteleiro, o que incentivou os arquitetos a lhe conferir
uma personalidade marcante que caracterizasse sua nova função, destacando a
edificação do conjunto de prédios da av. Atlântica. O volume é composto por um corpo
de 13 pavimentos sobre embasamento e recebeu tratamento em vidos bronze e
esquadrias pintadas de vermelho em composição com os pilares cilíndricos externos ao
edifício revestidos em granito marrom-avermelhado. Em vista da proposta, inédita no Rio,
de dar atenção especial aos executivos em viagens de negócios, foram criadas
condições especiais para garantir funcionalidade no atendimento e na prestação de
serviços extras. Além de restaurante, bares, piscina, sauna e garagem, o hotel tem
salões de convenções, serviço de secretária bilíngüe, escritórios para hóspedes e todo
apoio tecnológico mais avançado.
O PALÁCIO DO MAR - HOTEL COPACABANA PÁLACE
No dia 28 de outubro de 2.003, o SINDEGTUR/RJ, por intermédio de sua Diretoria
de Capacitação, efetivou mais um evento de seu projeto cultural “Andando pelo Rio”,
realizando importante visita técnica de Guias de Turismo às belas instalações do
Copacabana Pálace Hotel. Aqui, nesse pequeno espaço, tento traçar apenas alguns
dados curiosos de sua história.
Em 1920 o Presidente da República, Epitácio Pessoa, convocou o empresário do
setor de hotelaria Octávio Guinle e fez-lhe a proposta para construção de um grande
hotel de turismo no Rio de Janeiro. A iniciativa visava atender ao grande fluxo de
visitantes previstos para a Exposição Internacional comemorativa do Centenário da
Independência do Brasil, que se realizaria em 1922, no Castelo. Seriam concedidos
benefícios fiscais, bem como a licença para nele funcionar um cassino, este último uma
exigência dos Guinle. A proposta foi aceita e essa é a origem do Hotel Copacabana
Pálace.
Octávio Guinle adquiriu então um alqueire de terras na Praia de Copacabana, que
naquela época ainda era ocupada escassamente por algumas casas. O terreno dava
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8. frente para a Avenida Atlântica, alargada em 1919 por Paulo de Frontin. Contratou-se o
afamado arquiteto francês Joseph Gire, o qual projetou um estabelecimento bastante
calcado nos modelos dos hotéis Negresco e Carlton, de Nice, na Côte D`Azur. Foi
entregue a construção ao engenheiro brasileiro César Mello e Cunha. Dificuldades de
importação de materiais de construção, quase todos vindos da França, bem como o
transporte dos mesmos para o Brasil e para Copacabana, assim como também os
profundos alicerces de 14m exigidos e para a confecção dos quais ainda não tínhamos
tecnologia, atrasaram de muito a obra, somente possível de ser inaugurada em 13 de
agosto de 1923, quase um ano após o encerramento da dita Exposição Internacional. Na
noite de estréia, deveria ocorrer um show com a artista francesa Mistinguett, mas seu
contrato com o Teatro Lírico a proibiu.
O Presidente Arthur Bernardes, sucessor de Epitácio Pessoa, tentou em 1924
cassar a licença para nele funcionar um cassino, haja vista que a construção do mesmo
ultrapassara o prazo estipulado pelo Governo. Depois de longa pendência judicial, a
família Guinle obteve ganho de causa em 1934. A visão de Octávio Guinle mostrou-se
correta e logo se tornou o Copacabana Pálace lugar de encontro da sociedade brasileira
e de celebridades internacionais, ultrapassando de muito a tímida visão espalhada pela
crítica da época de que ninguém se hospedaria em hotel tão distante do centro. Nesses
primeiros dez anos de vida, o Copacabana Pálace foi palco de eventos históricos e
dramáticos. Ainda em construção, sofreu violenta ressaca em 1922, que lhe destruiu toda
a avenida Atlântica e causou-lhe danos nos pavimentos inferiores. Em 1925 hospedou a
primeira personalidade mundial, na figura do cientista Albert Einstein. Em 1928, num de
seus salões, foi alvejado por uma bala o Presidente Washington Luís, num tiro dado por
sua amante francesa durante um arrufo. O Presidente foi socorrido pelo médico
Francisco de Castro e o episódio abafado. No mesmo ano, em dezembro, hospedou-se
no Copacabana, em profunda crise de depressão, o inventor Alberto Santos Dumont, já
com a mente bastante debilitada e muito triste ao presenciar, na sua chegada ao Brasil,
um horrível acidente aéreo, quando o avião que jogaria pétalas de flores em seu barco
bateu na água, na Baía de Guanabara e explodiu, matando seus doze ocupantes.
Em 1933 o Copacabana Pálace seria conhecido internacionalmente por um filme
realizado em Hollywood, “Flying down to Rio”, com Dolores Del Rio, Fred Astaire e
Ginger Roger, ambientado no hotel, mas todo realizado em estúdios nos Estados Unidos,
com cenários pintados do Rio de Janeiro e a praia de Malibu “dublando” Copacabana. O
filme foi um sucesso e tornou o hotel famoso mundialmente da noite para o dia. Em
1934, foi construída a piscina do hotel, em projeto de César Mello e Cunha, depois
ampliada em 1949. Em 1938 inaugurou-se o “Golden Room”, com show de Maurice
Chevalier.
O Príncipe Edward de Gales, futuro Rei Edward VIII da Inglaterra, bem como seu
irmão Jorge, igualmente futuro monarca britânico, se hospedaram no Copa em 1931,
tendo Edward protagonizado um rumoroso episódio constrangedor para a Família Real
Britânica ao se apaixonar por uma senhora brasileira, Negra Bernardez, desquitada e
mãe de dois filhos, a qual ele queria levar de todo o jeito para a Inglaterra e com ela se
casar. Em seus arroubos, chegou a intentar um vôo num avião experimental trazido
desmontado em seu navio para impressionar sua amada, jogando-lhe flores do alto
sobre sua casa, no que foi dissuadido do ato por seus assessores. Não se refez do
episódio, tomando “homérico” porre e jogando-se todo fardado na piscina do Country
Club de Ipanema. Anos depois, Edward, já Rei da Inglaterra, renunciaria ao trono para
casar com a desquitada americana Lady Simpson, com quem viveu o amor de sua vida.
Quanto à Negra Bernardez, a mulher que recusou ser rainha da Inglaterra, era mãe do
afamado colunista social Manuel Bernardez Müller (Maneco Müller).
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9. A Segunda Guerra Mundial tornou o Copacabana Pálace o único hotel de turismo
de porte capaz de hospedar a elite internacional sem sofrer do perigo de um bombardeio.
Foram os anos áureos do hotel. A política de boa vizinhança para com os Estados
Unidos, estabelecida em 1942, fez com que grandes personalidades daquele país nos
visitassem e se hospedassem no Copa. Praticamente todos os grandes atores de
Hollywood nele tiveram pouso: Clark Gable, Edward G. Robinson, Fred Astaire, Dolores
Del Rio (finalmente no Copa!), Katerine Hepburn, Lana Turner, Marlene Dietrich (que
realizou show memorável em 1959), Orson Welles (que “morou” seis meses no hotel em
1942, e que num acesso de fúria jogou os móveis de seu quarto na piscina...), Walt
Disney (que nele esboçou o personagem “Zé Carioca”), Josephine Baker (que manteve
encontro furtivo com Le Corbusier), e muitos outros.
Após a guerra, com a proibição do jogo em abril de 1946, passou o Copacabana
Pálace por ampla reforma, que lhe aumentou a capacidade, acrescentando dois andares
ao prédio principal, mais a pérgula lateral, que se tornou ponto de encontro da sociedade
brasileira e estrangeira, e ergueu-se o anexo nos fundos, inaugurado em 1949. No antigo
cassino foi instalado o teatro Copacabana, responsável pelo lançamento de muitos
talentos da dramaturgia nacional. Fez a reforma do Copa o arquiteto Wladimir Alves de
Sousa, que soube preservar a ambiência antiga do hotel. O anexo tornou-se logo lugar
não só para residência de hóspedes ilustres, como também para encontros furtivos
importantes, pois existia uma elaborada passagem subterrânea, por detrás do salão de
cabeleireiro, que conduzia quem não quisesse ser visto daquele lugar até o anexo.
Devem ter sido encontros extremamente apaixonados, pois pelo menos dois amantes
morreram do coração, um deles importante senador da República por São Paulo e outro
um respeitável banqueiro carioca...
Quem quase morreu no Copa, mas de coração partido, foi a grande cantora
nacional Carmem Miranda, frustrada pelo fracasso de seu casamento. Carmem trancou-
se em seu quarto em dezembro de 1954 e pensou seriamente em se matar, desistindo
após olhar a bela paisagem da orla de Copacabana da janela de sua suíte. Carmem,
aliás, seria muito mais lembrada pela alegria que exarava em seus shows no Golden
Room que por este episódio, que com o tempo lhe levaria à morte em agosto de 1955.
Os anos cinqüenta foram o canto-do-cisne da fase áurea do Copacabana Pálace,
que entra em lenta decadência após a transferência da capital para Brasília em 1960.
Continuou como um importante hotel da cidade, servindo de pouso a visitantes ilustres
do Rio de Janeiro (como os astronautas da Apolo 11), palco da vida social da cidade,
onde famosos cronistas sociais iam buscar matérias para suas colunas, até ser superado
por hotéis mais modernos na década de setenta. Em 1985, quando intentaram sua
demolição, foi tombado pelas três esferas: IPHAN (Federal), INEPAC (Estadual) e DGPC
(Municipal). Em fins da década de oitenta a família Guinle, na figura de seu herdeiro e
presidente José Eduardo Guinle, vendeu-o em 1989 ao grupo “Orient Express”, que o
reabilitou, modernizando velhas instalações sem descaracterizá-las.
Presentemente é o Hotel Copacabana Pálace um dos mais importantes
estabelecimentos hoteleiros da cidade, com modernas 236 acomodações palacianas e
dos mais queridos bens culturais do Rio de Janeiro, local de confluência de vários
episódios importantes do século XX, sendo preciosa lembrança de uma época de fastígio
e esplendor, único bem deste gênero sobrevivente na cidade.
HOTEL RIO OTHON PALACE - AV. ATLÂNTICA, 3.264 - COPACABANA
A liberação do gabarito para edificações destinadas a serviços de hotelaria
favoreceu a implantação desse edifício na av. Atlântica. O anteprojeto, elaborado por
Arthur Lício Pontual, vencedor de concurso privado em 1968, foi retomado no período
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10. 1971-72, após sua morte, por uma equipe de arquitetos encabeçada por seu irmão
Davino Pontual. Dadas as dimensões exíguas do terreno, de 1.600m2, o partido adotado
foi o de uma torre de 28 pavimentos afastada das divisas; sobre embasamento com sete
pavimentos, onde estão serviços gerais e garagem, com ocupação integral do lote. A
disposição do pavimento-tipo em “U”, abraçando a garagem vertical, possibilitou a
liberação de três subsolos, construídos simultaneamente com a superestrutura, para
instalação de todos os equipamentos e serviços de apoio. No térreo, a criação de uma
rua interna facilita a circulação de hóspedes e visitantes. Externamente, o edifício
harmoniza o emprego de elementos estruturais em concreto aparente com um jogo
volumétrico de sacadas e superfícies brancas.
RESIDÊNCIA UNIFAMILIAR – AVENIDA ATLÂNTICA, 3.804 – COPACABANA
Erguida em 1927 sob projeto em estilo art-déco do arquiteto Júlio de Abreu Júnior,
foi uma obra pioneira dentro da arquitetura moderna no Rio de Janeiro. É uma das
últimas residências da orla de Copacabana.
EDIFÍCIO J USTUS WALLERSTEIN – AVENIDA ATLÂNTICA, 3.958 – COPACABANA
Projeto moderno de Sérgio Bernardes, datado de 1960. houve especial cuidado do
arquiteto com desenho dos elementos pré-fabricados.
EDIFÍCIO IMPERADOR – AVENIDA ATLÂNTICA – ESQUINA DE RUA JOAQUIM
NABUCO – POSTO VI – COPACABANA
Grande edifício multifamiliar com acentuada volumetria e ângulos abaulados ou
em curva, construído em 1938 por Cápua & Cápua engenheiros e arquitetos. Um dos
ícones do estilo art-déco no bairro.
MUSEU HISTÓRICO DO EXÉRCITO E FORTE DE COPACABANA – PRAÇA
CORONEL EUGÊNIO FRANCO, NO. 1 - POSTO VI - COPACABANA
O Vice-Rei Marquês de Lavradio mandou erguer em 1776 um pequeno forte em
alvenaria onde era a antiga ponta da Igrejinha, na praia de Sacopenapan. Sua função
era prevenir ataques dos espanhóis, que no ano seguinte, realmente, invadiram o
território nacional e atingiram a Capitania de Santa Catarina. O forte nunca foi terminado
e somente foi artilhado em 1823, quando se temia um ataque português às nossas
costas. Em 1831, foi mandado desarmar pela Regência provisória. Quando da Revolta
da Armada, em 1893, voltou a ser artilhado, mas sua ancianidade já estava patente:
nada pôde fazer para impedir a saída dos navios revoltosos da Baía de Guanabara. Anos
depois, uma ameaça de guerra contra a República Argentina fez com que o Estado Maior
do Exército encomendasse em 1898 o projeto de uma nova fortificação ao major
engenheiro Augusto Tasso Fragoso, que elaborou um anteprojeto da Fortaleza de
Copacabana, com seis canhões de longo alcance. A solução de uma grave questão de
fronteira com aquela República foi resolvida diplomaticamente pelo Barão do Rio Branco,
fazendo com que o projeto da citada fortificação fosse engavetado.
Tendo as relações entre a Argentina e o Brasil novamente piorado na primeira
década do século XX, decidiu-se pela construção da fortificação, tendo sido enviado o
projeto de Tasso Fragoso à Casa Krupp, de Essen, na Alemanha, para ser atualizado e
orçado. Foi a obra toda recalculada para ser executada em peças de concreto pré-
moldadas na Alemanha, sendo os canhões adaptados aos novos calibres surgidos. Fez
as alterações o major engenheiro Otto Kuhn. Em 1908, sendo Presidente da República
Afonso Augusto Moreira Penna e Ministro da Guerra o Marechal Hermes Rodrigues da
Fonseca, foi dado início à obra da fortificação, que veio quase toda desmontada da
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11. Alemanha em 5.000 caixotes, desembarcados num cais construído especialmente para
isso ao lado da ponta de Copacabana. Coordenou a obra o Major Arnaldo Paes de
Andrade. Foi, finalmente inaugurado o Forte de Copacabana a 28 de setembro de 1914,
sendo classificada na ocasião de fortificação de 1a. Classe. Era dotada de seis canhões
Krupp de longo alcance: dois de 240mm; dois de 180mm e dois de 75mm. O alcance
máximo atingia 28km. O útil, 21Km. Os quatro primeiros podiam girar 360o. Os dois
últimos somente 180o. Na época não existia nada que a superasse na América Latina.
Em 1918, foi ampliada, tendo o Exército adquirido a rua de acesso e comprado à Mitra a
igrejinha de Nossa Senhora de Copacabana, erguida ai por volta de 1715, e demolida em
1918-19 por ficar na linha de fogo dos quatro maiores canhões. Na mesma ocasião foi
construído o quartel de paz e ampliadas as instalações elétricas, fornecidas pela firma
AEG, de Berlin, tão poderosas que podiam fornecer energia elétrica a todo o bairro de
Copacabana. O artístico portal da Praça Coronel Eugênio Franco, bem como a magnífica
entrada da Praça d`Armas, foi projeto do major engenheiro Volmér da Silveira.
Em princípio de julho de 1922, depois de longos atritos entre o Governo Epitácio
Pessoa e o Exército, foi ordenada a prisão do Marechal Hermes da Fonseca, por
insubordinação. Comandava o Forte de Copacabana, na ocasião, o Capitão Euclides
Hermes da Fonseca, que intentou um plano para derrubar o Governo pela força das
armas. A rebelião foi marcada para cinco de julho, mas o Governo se antecipou e trocou
os principais comandos das guarnições das fortificações da cidade, tendo em
consequência disso que apenas os Fortes de Copacabana e Leme, este último
desarmado; e a Escola Militar, aderiram ao movimento, sendo que os dois últimos foram
logo debelados. O Forte de Copacabana fez vários disparos contra o Quartel General do
Exército, no Campo de Santana; o Ministério da Marinha, na Praça Barão de Ladário; a
Fortaleza de Santa Cruz, em Niterói; e o Forte de São João, na Urca; atingindo somente
o primeiro, no segundo tiro. O Capitão Euclides Hermes saiu da fortificação para
negociar e foi preso em Laranjeiras. Assumiu, então, a chefia do movimento, o Tenente
Antônio de Siqueira Campos, que verificou a total impossibilidade de resistência, bem
como o sacrifício que tal atitude estava custando à população da cidade, com as balas
atingindo alvos civis. Também observou que os canhões haviam sido sabotados, e agora
o Forte era bombardeado pelo Encouraçado São Paulo, e por aviões militares. Resolveu
então abrir o Forte, permitindo que os desejosos de rendição assim o procedessem.
Trezentos se renderam, ficando fiéis ao movimento apenas 28 homens. Resolveu-se
então marchar até o Catete, num ato de protesto suicida. Às 13:00h do dia 06 de julho,
iniciaram a marcha, juntando-se a eles o engenheiro civil Otá vio Correia, amigo de
Siqueira Campos. Um número até hoje não especificado de integrantes se rendeu ou
desertou, ficando ao final apenas 11 ou 13 do grupo original. Na altura da rua Barroso,
atual Siqueira campos, foram obstaculizados por uma força legalista, iniciando-se um
tiroteio que durou uns trinta minutos. Ao final, foram capturados, muito feridos, o Tenente
Siqueira Campos, com um tiro no abdômem; o Capitão Eduardo Gomes, com um tiro na
virilha; e dois soldados. Os outros morreram na ocasião ou no hospital, em consequência
dos ferimentos recebidos.
A atitude de protesto contra o Governo da República Velha fôra debelada, mas o
exemplo frutificou, originando o dito “Movimento Tenentista” e a legenda dos “Dezoito do
Forte”(termo cunhado pela imprensa, que desconhecia o número real de participantes),
os quais representavam uma atitude de protesto da classe média à oligarquia que nos
governava. Dois anos depois, na mesma data, estourava movimento similar em São
Paulo, e de 1925 a 27 o país foi palmilhado pela Coluna Prestes, com idêntico objetivo. A
vitória dos tenentes deu-se na Revolução de 1930, com a queda do Governo e a
ascensão de Vargas. A 24 de outubro de 1930, o Forte de Copacabana serviu de
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12. presídio ao presidente deposto, Dr. Washington Luís Pereira de Sousa, bem como ao
Prefeito do Distrito Federal, Antônio Prado Júnior. Partiram ambos em exílio, direto dali
para a Europa.
O Forte de Copacabana teve atuação discreta durante a Segunda Guerra Mundial,
tendo dado seus últimos disparos efetivos em novembro de 1955, contra o Cruzador
Tamandaré, que se rebelara e fugira para São Paulo, levando a bordo o presidente
deposto, o Sr. Carlos Luz, bem como parte de seu ministério e aliados. Foram feitos doze
disparos durante vinte minutos, sem, no entanto, atingir a embarcação, que estava
desarmada e só com uma hélice funcionando. Em 1964, o Forte não aderiu ao
movimento militar de 1o. de abril, tendo sido tomado pela força de terra enviada pelo
Coronel Cézar Montagna, ocorrendo então o famoso “episódio da bofetada”, quando o
dito Coronel derrubou a sentinela da entrada com um golpe de mão, invadindo e
tomando a fortificação, sem o uso de armas. Durante o regime militar, serviu o Forte de
Copacabana de presídio político.
Desativado totalmente em 1986, foi reaberto no ano seguinte como Museu
Histórico do Exército e Forte de Copacabana, muito ampliado em meados da década de
noventa por ordem do Ministro do Exército Zenildo de Lucena, sendo suas instalações
equipadas com os mais modernos processos museológicos, tornando-se importante bem
cultural da cidade e repositório de elevadas tradições militares. A área de entorno, cujos
terrenos chegam ao Arpoador, igualmente tornou-se notável área de lazer para a
população carioca, sendo palco de eventos marcantes, particularmente no Reveillon,
onde há artística queima de fogos e disputada recepção.
MONUMENTO AO POETA CARLOS DRUMMOND – AVENIDA ATLÂNTICA – POSTO
VI – COPACABANA
Interessante monumento interativo inaugurado a 31 de outubro de 2.002 em
homenagem ao centenário de nascimento do poeta mineiro Carlos Drummond de
Andrade. Representa o homenageado em tamanho natural, sentado num banco de praia,
de costas para o mar e mirando os prédios, atitude que era seu costume. Aliás,
Drummond residia nas proximidades, na Avenida Rainha Elizabeth. Dois dias após a
data de inauguração, a estátua foi pichada por vândalos. Vinte e três dias depois, outro
desocupado a atacou com uma pedra, quebrando o aro dos óculos. Em ambos os casos,
foi restaurada e agora é bem vigiada.
Estátua sedestre em liga de bronze, linda concepção naturalista do artista Léo
Santana.
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE – DADOS BIOGRÁFICOS
Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira do Mato Dentro - MG, em 31 de
outubro de 1902. De uma família de fazendeiros em decadência, estudou na cidade de
Belo Horizonte e com os jesuítas no Colégio Anchieta de Nova Friburgo RJ, de onde foi
expulso por "insubordinação mental". De novo em Belo Horizonte, começou a carreira de
escritor como colaborador do Diário de Minas, que aglutinava os adeptos locais do
incipiente movimento modernista mineiro.
Ante a insistência familiar para que obtivesse um diploma, formou-se em farmácia
na cidade de Ouro Preto em 1925. Fundou com outros escritores A Revista, que, apesar
da vida breve, foi importante veículo de afirmação do modernismo em Minas. Ingressou
no serviço público e, em 1934, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi chefe de
gabinete de Gustavo Capanema, ministro da Educação, até 1945. Passou depois a
trabalhar no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e se aposentou em
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13. 1962. Desde 1954 colaborou como cronista no Correio da Manhã e, a partir do início de
1969, no Jornal do Brasil.
O modernismo não chega a ser dominante nem mesmo nos primeiros livros de
Drummond, Alguma poesia (1930) e Brejo das almas (1934), em que o poema-piada e a
descontração sintática pareceriam revelar o contrário. A dominante é a individualidade do
autor, poeta da ordem e da consolidação, ainda que sempre, e fecundamente,
contraditórias. Torturado pelo passado, assombrado com o futuro, ele se detém num
presente dilacerado por este e por aquele, testemunha lúcida de si mesmo e do
transcurso dos homens, de um ponto de vista melancólico e cético. Mas, enquanto
ironiza os costumes e a sociedade, asperamente satírico em seu amargor e desencanto,
entrega-se com empenho e requinte construtivo à comunicação estética desse modo de
ser e estar.
Vem daí o rigor, que beira a obsessão. O poeta trabalha sobretudo com o tempo,
em sua cintilação cotidiana e subjetiva, no que destila do corrosivo. Em Sentimento do
mundo (1940), em José (1942) e sobretudo em A rosa do povo (1945), Drummond
lançou-se ao encontro da história contemporânea e da experiência coletiva, participando,
solidarizando-se social e politicamente, descobrindo na luta a explicitação de sua mais
íntima apreensão para com a vida como um todo. A surpreendente sucessão de obras-
primas, nesses livros, indica a plena maturidade do poeta, mantida sempre.
Várias obras do poeta foram traduzidas para o espanhol, inglês, francês, italiano,
alemão, sueco, tcheco e outras línguas. Drummond foi seguramente, por muitas
décadas, o poeta mais influente da literatura brasileira em seu tempo, tendo também
publicado diversos livros em prosa.
Em mão contrária traduziu os seguintes autores estrangeiros: Balzac (Les
Paysans, 1845; Os camponeses), Choderlos de Laclos (Les Liaisons dangereuses, 1782;
As relações perigosas), Marcel Proust (La Fugitive, 1925; A fugitiva), García Lorca (Doña
Rosita, la soltera o el lenguaje de las flores, 1935; Dona Rosita, a solteira), François
Mauriac (Thérèse Desqueyroux, 1927; Uma gota de veneno) e Molière (Les Fourberies
de Scapin, 1677; Artimanhas de Scapino).
Al vo de admiração irrestrita, tanto pela obra quanto pelo seu comportamento como
escritor, Carlos Drummond de Andrade morreu no Rio de Janeiro RJ, no dia 17 de
agosto de 1987, poucos dias após a morte de sua filha única, a cronista Maria Julieta
Drummond de Andrade.
PALACETE PIRATININGA – AVENIDA RAINHA ELIZABETH, 152 – POSTO VI –
COPACABANA
Prédio em estilo art-déco, erguido na década de 1930, muito simples, onde
devemos notar as janelas dos saguões de cada andar com interessante desenho de
vidro e ferro, o movimentado desenho das grades e no pátio a esbelta escada.
EDIFÍCIO MULTIFAMILIAR – AVENIDA RAINHA ELIZABETH, 729 – POSTO VI –
COPACABANA
Grande edifício multifamiliar em estilo art-déco, projetado em 1937 pelo arquiteto
austríaco Arnaldo Gladosh, inspirado em construções similares feitas à época em seu
país de origem.
BAIRRO DO PEIXOTO – COPACABANA
O Comendador Paulo Felisberto Peixoto da Fonseca nasceu a 14 de dezembro
de 1864, em Portugal, vindo para o Rio de Janeiro com 11 anos. Dedicou-se ao
comércio de secos e molhados, onde prosperou muito. Após alguns anos adquiriram
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14. uma mercearia. Depois de 1898 passou também a administrar bens imobiliários de
lusitanos no Brasil, quando então adquiriu imensa chácara no areal de Copacabana,
entre as ruas Figueiredo Magalhães e Santa Clara. Viúvo em 1929 de Da. Orminda
Cunha, brasileira; e sem filhos, passou a se dedicar a obras de caridade. Ainda em vida
doou todos os seus principais bens para instituições beneficentes lusitanas, sendo que
os terrenos de Copacabana foram repartidos entre várias entidades de assistência
social e hospitalar de Portugal e do Brasil, principalmente à Caixa de Socorros D. Pedro
V. Esta última, solicitou à Prefeitura em 1939 o loteamento das terras de Copacabana,
tendo o engenheiro José de Oliveira Reis projetado as ruas Henrique Oswald, Maestro
Francisco Braga, Décio Vilares e Praça Edmundo Bittencourt, surgindo então o que se
chamou Bairro do Peixoto.
Ao contrário do resto de Copacabana, somente foram autorizadas construções de
poucos pavimentos ou unifamiliares, evitando assim a verticalização do bairro. A única
exceção, o edifício São Luiz Rei, desabou fragorosamente em 1951, poucos dias antes
de sua inauguração. O Comendador Peixoto faleceu no Brasil a 3 de novembro de
1947. Hoje, seu bairro é denominado de “oásis de Copacabana”, pela tranqüilidade que
apresenta em relação às barulhentas ruas vizinhas. O jornalista Arthur Xe xéo, morador
do bairro, sempre que pode, elogia-o pela sua familiaridade em sua coluna no jornal O
Globo.
BECO DO JOGA-A-CHAVE-MEU-AMOR – RUA CARVALHO DE MENDONÇA –
COPACABANA
Em verdade, esse beco nem chega a ser beco, e sim uma pequena rua, a
Carvalho de Mendonça, que liga as ruas Duvivier e Rodolfo Dantas. Ladeada por dois
edifícios apenas, ambos com muitos e minúsculos apartamentos, autênticas cabeças-
de-porco modernas. Nos anos 50, tais apartamentos eram muito alugados por
respeitáveis figuras para abrigarem seus encontros amorosos, ou alguma amante de
plantão. O apelido surgiu de uma história dessa época. Conta-se que numa noite, um
rapaz bêbado, bem apessoado, esqueceu a chave da portaria e cometeu a temeridade
de ir para o meio da rua e gritar para o alto: “Joga a chave, meu amor.”
A mulherada chegou à janela e jogou tantas chaves, que um molhe mais pesado
lhe bateu na cabeça, nocauteando-o, forçando sua ida a um hospital para ganhar uns
pontos. A notícia se espalhou, sendo que o compositor popular João Roberto Kelly
compôs uma alegre marchinha carnavalesca que foi um grande sucesso no carnaval de
1965.
No Beco do Joga-a-chave-meu-amor os problemas foram muitos. Ali alguns bares
tiveram pretensões a reviver a velha Lapa, abrigando mulheres de trottoir e traficantes
de entorpecentes. Foram fechados pela polícia, reabertos por novos proprietários e,
mais cedo ou mais tarde, tornados fora da lei. E assim foram vivendo.
Outros bares do mesmo local, permaneceram alheios a esses problemas, como
acontecia com o Manhattan, de vida mais calma, ou o Kilt Club, o único bar da Zona Sul
que exigia o uso de paletó, para os seus freqüentadores. E, como é raro se andar por
Copacabana de paletó, o porteiro se incumbia de arranjar algum para quem quisesse
entrar. O bar era elegante, mas os fregueses, nem sempre. Ali nunca houve o caso de
um freguês pagar a conta, botar a carteira no bolso do paletó e depois devolve-lo à
saída, com a carteira dentro. Donde se conclui que os bêbados do Kilt Club não eram
tão bêbados assim.
Hoje, nada mais disso existe. Desde os anos 80 a rua é só de pedestres, os
bares viraram brechós, os cubículos viraram lares familiares e as prostitutas foram
substituídas por homossexuais e travestis, que passaram a reinar de noite.
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15. BECO DAS GARRAFAS – RUA DUVIVIER – COPACABANA
Famoso logradouro de Copacabana, sito na Rua Duvivier, entre as avenidas
Atlântica e Copacabana, o qual não consta de qualquer catálogo de indicação, pois é
alcunha de origem popular. Tem seu nome desde os anos 50, pelo fato de ser
localizado num agrupamento de pequenos bares, boites e “inferninhos”, cujos
freqüentadores provocavam tanta algazarra de madrugada, que os moradores da
vi zinhança protestavam, jogando garrafas, sem a maior cerimônia, que vez por outra,
atingiam um dos perturbadores da ordem. Não é só a boemia que freqüenta esse beco;
a ambulância também, de vez em quando entra ali, para socorrer os que falam alto sem
se valerem da proteção que lhes dá as marquises dos edifícios.
No Beco das Garrafas enfileiravam-se vários bares: Ma Griffe, Bottle`s, Baccará e
Little Club. Eles tinham características diferentes: o primeiro é meio “inferninho”, o
segundo é a catedral da Bossa Nova, o terceiro é o responsável pelo lançamento de
muitos cantores (dali saíram para o sucesso a falecida Dolores Duran, Helena de Lima,
etc.) e o quarto foi um dos pioneiros do show de bolso, tendo apresentado bailarinos,
cantores, músicos e cômicos, sempre com êxito.
O mais famoso produtor de shows no Beco das Garrafas foi Luís Carlos Miéle,
que promoveu ali, dentre outros, notáveis espetáculos de Luís Carlos Vinhas, Marisa
Gata Mansa (Baccará) e Tito Madi (Little Club). O beco foi berço da cantora Nara Leão,
ícone da Bossa Nova.
Desde fins da década de 60 o local entrou em decadência e hoje não apresenta
nada de notável, abrigando bares e boites vulgares.
A ESQUINA DAS COBRAS
Em 1958, os músicos mais mal comportados se reuniam numa esquina de
Copacabana. A turma do rock fazia um alarido infernal no Snack Bar, um boteco bem na
esquina das ruas Raul Pompéia e Francisco Sá, no Posto 6. Sempre era um ensaio ou
algo parecido, do grupo The Snakes, criado pelos freqüentadores do local, um antro
visitado a toda hora pela polícia atrás dos jovens delinqüentes. Barra pesada.
Olha o barulho! – grita um dos moradores do prédio onde o Snack está instalado.
Um desses moradores, mais impaciente, não se dava ao trabalho de emitir os
gritos. Partia logo para a guerra. Começava a jogar cabeças-de-negro na garotada. É
uma daquelas cenas que nem o maior ficcionista poderia imaginar, mas aconteceu
mesmo e, quase cinqüenta anos depois, ainda é manchete. O conjunto que ensaiava no
meio das lambretas roncantes era formado por Roberto Carlos e Tim Maia, jovens
suburbanos da distante Tijuca. O morador desesperado que atirava as bombas era
Lúcio Alves, um cantor sofisticadíssimo, que tinha a acompanhá-lo na ação belicosa o
seu visitante, um jovem baiano que estava no apartamento justamente para mostrar ao
mestre o seu primeiro 78 rotações: João Gilberto. Corria o mês de julho. O disco estava
quentinho. Aquele som, sim, aquilo era uma verdadeira cabeça-de-negro no ringue da
música.
Os roqueiros do Snack acabaram fugindo do bombardeio e Lúcio pôde finalmente
ouvir o disco. De um lado, Chega de Saudade, de Antônio Carlos Jobim e Vinícius de
Morais. Do outro, Bim-bom, do próprio João Gilberto. Eram seis minutos de música, mas
Lúcio teve a mesma impressão óbvia de todos os que correriam atrás do disco naqueles
dias: a música brasileira nunca mais seria a mesma. O violão pulava de um jeito inédito,
o cantor sussurrava. A primeira impressão podia ser um desencontro absoluto. E ali, no
entanto, oito andares acima do Snack, estava rodando um novo país. Nunca mais se
morreria de mal de amor nas canções.
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16. CONGREGAÇÃO RELIGIOSA ISRAELITA SINAGOGA BETH-EL – RUA BARATA
RIBEIRO, 489 – COPACABANA
No ano de 1921, um grupo de judeus sefarditas fundou uma sinagoga numa casa
de sobrado comum, na Avenida Mem de Sá, 181. Crescendo a comunidade, esta se
transferiu alguns anos depois para a Rua Conselheiro Josino, 14. Com o pomposo nome
de Centro Israelita Brasileiro Bené-Herzl, a sinagoga estava instalada um belo sobrado
eclético, com dois andares e um terraço. Se tivesse sido preservado seria um importante
bem cultural da cidade, mas o êxodo dos membros para a Copacabana, em fins da
década de 50, levou a transferência das instalações da congregação para o novo bairro
praiano. A velha sinagoga acabou depois demolida.
Adquirida uma bela casa na Rua Barata Ribeiro, 489, lá existia um salão para
práticas religiosas, além de área de lazer e desportos.
Havendo necessidade de um espaço maior para as práticas religiosas, entre
1966/7 foi construída a nova sinagoga Beth-El num terreno anexo ao casarão, um
projeto muito sóbrio e discreto. Projetada pelo arquiteto Mauro Kleimann, a sinagoga é
em arquitetura moderna, desprovida de qualquer luxo, exceto pelos revestimentos
externo e interno em mármore branco imaculado. Internamente, os únicos elementos
decorativos se resumem a uma tapeçaria moderna com o tema das Tábuas da Lei e um
moderno Menorah em bronze.
Obedece, como já foi citado, ao rito Sefaradi.
EDIFÍCIO MMM ROBERTO – AVENIDA NOSSA SENHORA DE COPACABANA, 1.267
– COPACABANA
A característica fundamental deste edifício de apartamentos é a preocupação –
constante na obra dos irmãos Roberto – com controle da insolação. O inventivo sistema
de proteção contra o sol foi projetado para atender a ângulos de incidência solar
variáveis durante o dia. As esquadrias são divididas em três partes, articuladas num
quadriculado de concreto. Persianas ajustáveis, empregadas na face externa do vidro,
protegem as partes superior e inferior. A parte central é sombreada no período de sol a
pino pela disposição de treliças horizontais fixas em concreto, e a insolação da tarde é
amenizada por um quadro móvel de persianas, também em concreto, estudado de
forma a não prejudicar a visão da rua. Como curiosidade, vale ressaltar que este edifício
foi erguido em 1945 onde existiu a casa da família e nasceram os três arquitetos.
EDIFÍCIO ITAHY – AVENIDA NOSSA SENHORA DE COPACABANA, 252 – ESQUINA
DE RUA RONALD DE CARVALHO - COPACABANA
Edifício em estilo art-déco erguido em c. 1938 por Arnaldo Gladosh, arquiteto. O
ritmo linear das verticais formadas pelas peças de majólica, cria uma moldura muito
elegante para o ingresso, coroado por uma estupenda escultura de sereia que surge do
mar entre peixes e estrelas do mar. O artista executor era o marido da poetisa Cecília
Meirelles.
No corredor de ingresso, muito rico, pilastras da mesma majólica, que repetem o
ritmo vertical da porta de ingresso, e nos lados da porta, duas placas com cenas do
fundo do mar. Interessante balaústre de ferro na escada do fundo. A porta com
interessante desenho que parece abstração de algas.
EDIFÍCIO ITAÓCA – RUA DUVIVIER, 43 – ESQUINA DE AVENIDA NOSSA
SENHORA DE COPACABANA – COPACABANA
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17. Na esquina do Itahy, o estupendo Itaóca projetado em 1938 por Robert R.
Prentice e Anton Floderer, autores de sucesso de numerosas residências e edifícios de
apartamentos. O Itaóca se levanta imponente com seus claros volumes cúbicos e
parece guardar todos os prédios art-déco das redondezas. Notar o desenho em bandas
horizontais do primeiro e último andar, os desenhos verdes triangulares que, como
reminiscências quase aztecas, enfeitam cada andar na fachada principal, as grades com
desenho geométrico de módulo triangular, e sobretudo, a entrada do vestíbulo revestida
com majólicas verdes no gênero das que empregara o arquiteto Buddeus no seu bonito
prédio da Rua da Alfândega, no. 48 (hoje muito descaracterizado).
EDIFÍCIO MULTIFAMILIAR – RUA MINISTRO VIVEIROS DE CASTRO, 123 –
COPACABANA
Observar desenhos art-déco na fachada e portas com grades onde sobressai o
desenho de losangos superpostos. Foi construído na década de 1930.
EDIFÍCIO CAXIAS – RUA MINISTRO VIVEIROS DE CASTRO, 116 – COPACABANA
A fachada fortemente marcada pelas verticais que criam um jogo muito
interessante, pleno de força e criatividade. Em estilo art-déco. Erguido na década de
1930.
EDIFÍCIO AMÉRICA – RUA MINISTRO VIVEIROS DE CASTRO, 110 –
COPACABANA
Muito simples, em estilo art-déco, com hall de ingresso em mármore rosa com
listras em rosa escuro. Erguido na década de 1930. No fundo do prédio sobrevivem
cinco grandes árvores: um oitizeiro, duas amendoeiras e dois algodoeiros do Pará.
As cinco árvores existentes nos fundos são tombadas pela Municipalidade desde
1991.
EDIFÍCIO TUYUTI – RUA MINISTRO VIVEIROS DE CASTRO, 100 – COPACABANA
Muito simples, com porta interessante onde são notáveis os agradáveis conjuntos
de flores tipicamente art-déco no seu geometrismo.
EDIFÍCIO GUAHY - RUA RONALD DE CARVALHO, 181 – ESQUINA DE RUA
MINISTRO VIVEIROS DE CASTRO – COPACABANA
Edifício em forte estilo art-déco, com interessante trabalho de relevo que
acompanha o arco da porta, e movimentada fachada, graças ao zig-zag criado pela
saliência das sacadas.
O Edifício Guahy é tombado pela Municipalidade desde 1990.
EDIFÍCIO OPHIR – RUA RONALD DE CARVALHO, 154 – ESQUINA DE RUA
MINISTRO VIVEIROS DE CASTRO – COPACABANA
Sem dúvida o prédio mais coerente deste grupo. Nele toda a decoração em estilo
art-déco repete o mesmo desenho de ângulos retos ascendente até o centro, seja nas
grades, como no corte dos mármores do corredor de ingresso, seja nos arcos. Tudo
chegando à sua realização mais rica na porta de cristal bizotado, onde as linhas que
descem dos ângulos terminam em delicadas espirais.
FAVELA DO CHAPÉU MANGUEIRA - LEME
Desde os primeiros tempos da colonização portuguesa que a orla correspondente
à Copacabana e Leme já era ocupada ou tinha dono. Não contando os índios tamoios,
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18. que ocupavam as praias desde o século VI, os primeiros sesmeiros portugueses vieram
com a fundação da cidade em 1565.
Estácio de Sá em 1565 doou parte da orla marítima a André de Leão. Seguiram-
se em rápida sucessão Bartolomeu de Seixas Rabelo e Francisco Caldas, ambos com
engenhos de cana na Lagoa de Sacopenapã (hoje Rodrigo de Freitas). Suas indústrias
não prosperaram. Em 1606, toda a praia passava às mãos do casal Afonso Fernandes e
Domingas Mendes. Três anos depois, Da. Domingas, já viúva, repassa essas terras ao
Governador Martim de Sá. Êste não esquenta com elas e, em 1611, passa-as ao
sesmeiro Sebastião Fagundes Varela, dono do Engenho de Nossa Senhora da
Conceição da Lagoa. Sua bisneta e herdeira, Da. Petronilha Fagundes, uma respeitável
balzaquiana de trinta e um anos, casou-se em 1702 com o Capitão de Cavalos Rodrigo
de Freitas Castro, êle com 16 anos. Em 1717, com a morte de Da. Petronilha, Rodrigo
de Freitas herdou tudo e bandeou-se para Portugal, onde morreu em 1748 na sua
Quinta de Suariba, no Minho.
Com a morte de Rodrigo de Freitas, seus herdeiros desfazem-se de algumas
terras, dentre elas, as correspondentes à Praia do Leme, que foi vendida em meados do
século XVIII a Manuel Antunes Suzano, que assim ficou proprietário de terras que iam
da Praia Vermelha à Pedra do Inhangá.
Surgiu a “Fazenda do Leme”, que durou até fins do século XIX. Sua sede era
uma casa térrea que ainda existia nos anos trinta, na base do morro do Chapéu
Mangueira. Em meados do século XIX, a família Suzano vendeu grande parte desses
chãos ao Comendador João Cornélio dos Santos, que, entretanto, nada fez com eles.
Entretanto, Suzano não era o único ocupante de suas terras. Desde 1714 o
governo havia construído um posto semafórico no Morro da Babilônia, que naquele
trecho passou a ser conhecido como “Vigia do Leme”. Tinha a função de avisar por meio
de bandeiras ou fogos de artifício a aproximação de navios da Baía de Guanabara, e se
eram amistosos ou não. A casa do posto semafórico era exatamente onde hoje se
encontra a favela do Chapéu Mangueira, e ainda existiam suas ruínas em 1920.
Em 1776, o Vice Rei D. Manuel de Portugal, Marquês de Lavradio (1769-79),
achando que era pouco apenas um posto de sinalização na entrada da barra, mandou
erguer um forte no morro do Leme, assim chamado por sua semelhança com os lemes
dos navios. Êsse fortim nunca foi artilhado no período colonial e foi abandonado
inconcluso pelo Vice Rei D. José Luiz de Castro, Conde de Rezende (1790-1801), que o
considerou inútil. Após a Independência, foi artilhado com cinco canhões em 1823, mas
a Regência novamente o desartilhou em 1831.
As coisas estavam nesse pé quando em 1873 surgiu a figura do alemão
Alexandre Wagner, capitalista e grileiro. Wagner comprou a 07 de maio de 1873 todas
as terras da família Suzano e de seu vizinho, o Comendador João Cornélio dos Santos,
tornando-se único proprietário dos chãos que iam do morro do Leme até a Pedra do
Inhangá.
Wagner abriu diversas ruas em suas terras, doando-as à municipalidade em
1874, mas o isolamento de Copacabana impediu qualquer loteamento sério na região.
Em 1881, seus dois genros e procuradores Theodoro Duvivier e Otto Simon fundaram a
empresa Duvivier & Cia. Levando avante a abertura das referidas ruas e desenvolveram
o seu loteamento. Entretanto, poucos foram lá morar.
Copacabana começou a tornar-se uma realidade quando em julho de 1892 foi
inaugurado o túnel ligando a rua Real Grandeza, em Botafogo, à Rua Barroso (atual
Siqueira Campos), por iniciativa da Companhia Ferro Carril do Jardim Botânico, quando
gerenciada pelo inteligente engenheiro José Cupertino Coelho Cintra. O bonde ia até a
estação, localizada na Praça Malvino Reis (atual Serzedelo Correia) e foi um grande
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19. avanço para a efetiva ocupação do bairro. Dois anos depois, o Prefeito Coronel
Henrique Valadares inaugurou dois novos ramais, Leme e Igrejinha (atual Posto VI),
sendo as novas linhas inauguradas a 15 de abril. Onze dias depois, era lançado ao
público o novo loteamento do bairro do Leme, com várias ruas já cordeadas. Em 1904 a
Companhia Ferro Carril do Jardim Botânico inaugurou sua nova estação e restaurante
anexo, logo arrendado à Cervejaria Brahma.
Dentre os primeiros moradores do bairro do Leme estava o Sr. William Marx,
alemão, neto do filósofo Karl Marx. William era casado com a pernambucana Da. Cecília
Burle e pai de vários filhos, dentre eles Roberto Burle Marx, nascido em São Paulo em
julho de 1909. O Sr. William Marx inicialmente adquiriu um terreno na nova Avenida
Atlântica, aberta em 1904 pelo Prefeito Francisco Pereira Passos, mas foi dissuadido
por seu médico particular, que afirmava ser o ar salitrado altamente nocivo à saúde de
um de seus filhos, Haroldo, que sofria dos pulmões. William vendeu o lote praiano e
adquiriu a casa da fazenda do Suzano, um bonito casarão térreo cercado de varandas
na nova rua Araújo Gondim, hoje General Ribeiro da Costa. Seu terreno de fundo
abrangia todo o morro da Babilônia, exatamente onde hoje se encontra a favela do
Chapéu Mangueira.
Após estudar canto na Alemanha, Roberto Burle Marx voltou ao Rio de Janeiro
em 1926, onde matriculou-se no Curso de Pintura da Escola Nacional de Belas Artes,
formando-se em 1930. Roberto utilizava os terrenos do morro para suas experiências
com plantas exóticas e vegetais, sua verdadeira paixão e que o perseguiu por toda a
vida. Pode-se dizer que aquele morro foi a primeira versão do “Sítio Burle Marx”, que ele
fundaria em Guaratiba vinte anos depois.
Por essa época ou pouco antes, uma fábrica de chapéus no morro da Mangueira,
no subúrbio da Leopoldina, montou um enorme cartaz no topo do morro do Telégrafo.
Era um out-door colorido, com duas pessoas experimentando um Chapéu-do-Chile, que
era de um tecido tão leve e fino que podia ser dobrado e colocado no bolso. Já em fins
dos anos vinte todos chamavam aquele trecho do morro da Babilônia de “Chapéu
Mangueira”. O nome pegou.
O crescimento de Copacabana e Leme e a febre de construções que dominou o
bairro até os anos sessenta ajudou na formação das primeiras favelas, formadas em
grande parte por lavradores empobrecidos que migravam do interior para o Rio à busca
de trabalho na construção civil.
William e seu filho Roberto, fiéis ao ideário socialista, não se incomodaram com a
invasão do morro por famílias pobres e, pode-se dizer, até a estimularam com pequenas
doações. Já em 1920 existiam 73 moradias no morro da Babilônia, com
aproximadamente trezentos moradores. Em 1929, com a queda dos preços do café,
mais lavradores migram para o Rio. Assim sendo, já em 1933 eram 73 moradias, com
quase quatrocentos moradores. Na década de quarenta, Roberto Burle Marx doou para
seu amigo particular, o radialista e compositor Ari Barroso uma parte de suas terras
onde passou a residir, originando daí a Ladeira Ari Barroso, legitimada por decreto do
Prefeito Marcos Tamoyo em 1975, e ainda hoje o melhor acesso à favela. Anos depois,
em 1949, Burle Marx mudou-se para Guaratiba e vendeu sua velha casa, que foi logo
demolida e substituída por um arranha-céu moderno que tapou boa parte da vista da
favela.
Aliás, falando em favela, esta não parava de crescer. Pudera. Em 1948 o Prefeito
Marechal Ângelo Mendes de Morais quadruplicou os gabaritos da orla marítima.
Rapidamente os antigos casarões são vendidos e demolidos, o que gerou corrida
imobiliária e uma febre de construções no bairro que varou os anos sessenta. Em 1950
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20. moravam no morro da Babilônia(aí se incluindo Chapéu Mangueira), 2.617 favelados,
sendo 1.313 homens e 1.304 mulheres.
Depois de 1960, iniciou o Governo do novo Estado da Guanabara (1960-75)
intensa campanha de erradicação de favelas, estando Babilônia na lista das que
deveriam ser removidas de imediato. Cessaram todos os recenseamentos e pesquisas
oficiais, de modo que não se tem idéia de como a favela cresceu nesses complicados
anos. Não é difícil imaginar. O empobrecimento geral da população brasileira levou à
favelização dos grandes centros. Esses núcleos abandonados pelo poder público à
própria sorte, aprenderam que unidos resistiriam mais eficientemente às investidas
contra sua permanência. Chapéu Mangueira resistiu aos Governos Lacerda e Negrão de
Lima e, com o empobrecimento geral do estado nos anos setenta, atitude agravado pela
fusão da Guanabara com o Rio de Janeiro em março de 1975, foram os favelados
deixados em paz.
Em 1977, o Plano Urbanístico Básico da Cidade do Rio de Janeiro, executado
sob ordem do Prefeito Marcos Tamoyo, não definia o que fazer com Chapéu Mangueira.
Simplesmente o mapa de intervenções pintava de amarelo a favela e informava “área a
ser urbanizada”. Em 1979, o Prefeito Israel Klabin declarou serem as favelas
irremovíveis. Nessa mesma época, a Pastoral da Favelas, criada pela Arquidiocese do
Rio de Janeiro iniciou os primeiros levantamentos em vinte anos da população das
favelas da zona sul, com vistas à sua legalização perante a Prefeitura.
Graças a este levantamento, ficamos sabendo que o morro da Babilônia possuía
290 casas, com 1.450 moradores, ocupando a favela uma área de 37.640m2, sendo sua
vi zinha, a favela do Chapéu Mangueira com menor área, possuindo 27.000m2, mas com
maior população, contando 339 casas e 1.695 moradores.
Nas eleições de 1982, ocorre o inédito fato de uma moradora do morro Chapéu
Mangueira sagrar-se vereadora. A Sra. Benedita da Silva foi eleita para a Câmara
Municipal, sagrando-se, posteriormente, Deputada, Senadora, e Vice-Governadora, já
tendo sido candidata à Prefeitura uma vez, perdendo de pouco.
E, ao que consta, novamente tentará em 2000.
MONUMENTO A ARI BARROSO – LEME
Situado próximo à antiga Cantina Fiorentina, na Av. Atlântica, Leme, foi
inaugurado na sexta feira, dia 19 de dezembro de 2.003. O compositor passou os
últimos 40 anos no Leme, daí a localização da homenagem. Monumento em bronze e
de caráter interativo, retrata Ari Barroso em escala real, sentado numa cadeira, como se
estivesse numa mesa da dita cantina. O povo pode sentar na cadeia ao Aldo, como se
estivesse a dividir o espaço com Ari. Concepção do artista Léo Santana, o mesmo que
fez a estátua de Carlos Drummond de Andrade.
ARI EVANGELISTA BARROSO – DADOS BIOGRÁFICOS
Compositor e cantor popular, nasceu em Ubá, Minas Gerais, a 7 de novembro de
1903. Anos depois, seguindo um conselho de um amigo numerólogo, retirou o
“Evangelista” do nome. Em sua opinião, não dava certo. Com certeza foi o primeiro
compositor popular a assim proceder. Perdeu os pais aos sete anos. Foi criado por sua
tia Rita, que o obrigava a estudar por três horas a fio, todo o dia.
Estudou na cidade natal e veio para o Rio de Janeiro em 1920, com uma herança
de 40 contos de réis, legada por um tio. Gastou tudo em dois anos, com farras. Dedicou-
se à música e começou tocando piano no Cinema Ideal, na Rua da Carioca. Por ve zes
tocava no Cine Íris, em frente. Formou-se em direito após nove anos de curso, mas sua
vida já estava dedicada ao samba. Popularizou-se como compositor, radialista de
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21. sucesso, com dois dos mais disputados programas de calouros, lançando muitos
talentos, como Elizeth Cardoso e Elza Soares; e afamado locutor esportivo, torcendo
acintosamente sempre para o Flamengo. Quando seu time fazia gol, ele tocava uma
gaita pelo microfone. Quando perdia, ficava de costas e se negava a transmitir. Foi
também vereador pela UDN, em 1946, o mais votado da Câmara pelo antigo Distrito
Federal. Como vereador, bateu-se pelo Direito Autoral, pela construção do estádio do
Maracanã e pela implantação da coleta seletiva de lixo.
Compôs sua primeira música, Cateretê, aos 15 anos de idade. Escreveu para o
teatro com êxito e dessas revistas surgiram o samba Faceira e a marcha Dá Nela
(1930), sendo que esta última o salvou da inadimplência. Seguiram-se sucessos
nacionais: No Rancho Fundo, Mimi, Vou à Penha, Quando Eu Penso na Bahia, Maria
(1832), Na Batucada da Vida (1934), Na Baixa do Sapateiro (1938), Boneca de Piche
(1938), Terra Seca, Aquarela do Brasil (1930), No Tabuleiro da Baiana (1937), Rancho
das Namoradas (1962), Os Quindins de Iaiá, etc.. Esteve nos Estados Unidos em 1944,
tendo executado a trilha sonora da parte brasileira do filme de Walt Disney: Você Já Foi
à Bahia? (1944). Convidado a lá permanecer, recusou-se, afirmando que lá não existia o
Flamengo. Participou dos filmes nacionais: Alô, Alô Brasil e Favela dos Meus Amores.
Lutou muito para ordenar o direito autoral no Brasil, contra a politicagem do rádio
e dos editores, que o boicotaram sem dó. A partir desse período (1946/52), só
conseguiu romper a barreira da política musical com o esplêndido Risque (1952). Ari fe z
o samba dar um passo à frente, dando-lhe toque cívico grandioso. Aquarela do Brasil
chegou a ser proposta para segundo hino nacional. Ainda hoje é a segunda música
brasileira mais executada no exterior, só perdendo para Garota de Ipanema, de Ton
Jobim e Vinícius de Morais.
Imprimiu novo impulso à orquestra na música popular pela utilização de conjuntos
instrumentais mais amplos, em contraste com a singeleza de Noel Rosa e Sinhô. Ao fim
da vida apadrinhou a Bossa Nova, ficando amigo de Tom, Vinícius e João Gilberto, os
quais, aliás, o consideravam um ícone. Enquanto viveu, combateu seu arqui-rival, o
compositor Antônio Maria, contra quem combatia as músicas, na imprensa.
Ari Barroso morava no Leme, em terreno situado no morro do Chapéu Mangueira,
onde hoje se abre a ladeira com seu nome, lote doado por seu amigo, o paisagista
Roberto Burle Marx. Sua casa ainda existe e está bem preservada.
O compositor faleceu de cirrose hepática, no Rio de Janeiro, a 9 de fevereiro de
1964, num domingo de carnaval, exatamente quando a Escola de Samba Império
Serrano entrava na avenida com o samba Aquarela Brasileira, feito em sua
homenagem.
FORTE DUQUE DE CAXIAS - PRAÇA JÚLIO DE NORONHA - LEME
Em princípios do século XVIII, o morro e praia do Leme era um lugar ermo,
habitado apenas por palhoças de pescadores e caiçaras. O nome Leme era devido ao
formato do morro, que, com seus 124m de altura, lembrava o “leme” das embarcações
de então. Logo após a invasão francesa de 1711, foi instalado em seu topo um posto de
vigia com bandeiras e fogos de artifício, para anunciar a aproximação de navios
estranhos da barra da Baía de Guanabara. Durante muitos anos o morro ganhou o
apelido de “do Vigia”, assim sendo citado nos documentos setecentistas. Em 1776, o
Marquês de Lavradio, Vice-Rei do Brasil, ordenou a construção de um forte no lugar do
posto semafórico, o que foi feito antes de 1779. Em 1791, o Vice-Rei Conde de
Resende mandou retirar dali toda a guarnição, por motivos de economia. Reza um
documento antigo que o Alferes Joaquim José da Silva Xa vier, o Tiradentes, serviu em
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22. 1785-89 como oficial de ligação entre este forte e os de São João, na Urca e
Copacabana, na ponta da Igrejinha.
Após a Independência, o forte foi artilhado com cinco canhões de ferro em
1823(dois quais três ainda existem na entrada), para oito anos depois ser novamente
abandonado por ordem da Regência Trina, sendo que, desta vez, o abandono perdurou
noventa anos.
Em 1913, estando o Brasil em severa crise diplomática com a República
Argentina, resolveu o Presidente Hermes da Fonseca erguer no local um moderno forte
para defesa da entrada da barra. Fez o projeto o Coronel engenheiro Augusto Tasso
Fragoso, do Estado Maior do Exército, coordenando os trabalhos o Major Arnaldo Paes
de Andrade. O projeto foi levado à Alemanha, para ser detalhado pela casa Krupp, de
Essen, que o reprojetou em blocos pré-moldados de concreto armado. Como
armamento, foram projetados quatro obuseiros gigantes Krupp de 120mm, fabricados
especialmente para esta fortificação, sendo a parte elétrica executada pela firma AEG,
de Berlin. Dificuldades no transporte de materiais para o topo do morro, atrasaram de
muito o cronograma da obra, que só pode ser entregue ao uso em maio de 1917. Três
meses depois, declaramos guerra ao Império Alemão em consequência do
torpedeamento de navios brasileiros durante a 1a. Guerra Mundial, tendo sido expulsos
do Brasil todos os técnicos daquela nacionalidade que trabalhavam na fortificação, sem
no entanto, nos ensinar como usar aqueles armamentos, o que fez o Forte do Leme ter
uma atuação passiva durante aquele conflito.
Durante a construção, em 07 de setembro de 1915, foram instalados holofotes no
morro do Leme, tendo se simulado um ataque noturno da esquadra brasileira, fazendo-
se passar pela marinha Argentina, ao Rio de Janeiro. Na hora da exibição, com a
presença do Presidente da República, ministros e autoridades, falhou a instalação
elétrica e os holofotes ficaram às escuras. O assunto repercutiu muito na imprensa
Argentina e houve militar portenho que viu nisso uma oportunidade perdida de se atacar
o Brasil.
Quando ocorreu a revolta do Forte de Copacabana, em 05 de julho de 1922, o
Forte do Leme aderiu ao movimento, tendo toda a guarnição abandonado a fortificação
e seqüestrado um bonde urbano, que partiu apinhado de soldados para o vizinho
revoltado. Foi o Forte do Leme depois acertado por dois disparos, um deles destruiu
parte do muro inferior e a casa da guarda, tendo o segundo, no dia 06 de julho, acertado
a cantina e produzido diversas vítimas fatais. Dois anos depois, em julho de 1924
estourou outra revolta, desta vez no Encouraçado São Paulo, da Marinha do Brasil, que
zarpou com a guarnição amotinada do Rio de Janeiro em destino ao sul. Resolveram os
oficiais do Forte do Leme disparar contra o encouraçado, mesmo não se podendo
calcular onde a bala ia cair. O disparo passou longe do navio, mas o impacto da
detonação fez lavrar furioso incêndio nas instalações do forte, que a custo foi debelado.
No mesmo ano foram estabelecidos os cálculos necessários para a mira dos obuses,
fazendo-se um teste num alvo móvel em abril de 1925, com sucesso completo, tendo,
no entanto, os disparos causado danos no próprio forte, haja vista o enorme
deslocamento de ar, que feriu os soldados e derrubou uma parede da fortificação.
Em 24 de outubro de 1930, durante a Revolução de 30, ocorreu a queda do
Presidente Washington Luís, tendo assumido provisoriamente o poder uma junta militar,
que ordenou o fechamento do porto do Rio de Janeiro até o país se normalizar. O navio
alemão misto de carga e passageiros “Baden” não obedeceu a ordem e zarpou do porto
do Rio de Janeiro sem permissão. O Forte do Leme fez-lhe três disparos de advertência,
sem resposta. No quarto, a bala atingiu o mastro principal e matou oito tripulantes,
havendo o navio retornado ao Rio de Janeiro para ser acareado.
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