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APOSTILA ANDANDO PELO RIO – PRAÇA QUINZE DE NOVEMBRO E
                                            ARREDORES
                             ORIGENS DA PRAÇA XV DE NOVEMBRO
                  No remoto ano de 1567 surgia a primeira rua da cidade: a Ladeira da Sé.
          Com efeito, não poderia ser outra coisa que não a ladeira que descia da Matriz
          de São Sebastião, no alto do Morro do Castelo, até a várzea, onde existia um
          fortim de terra. Em março de 1583, na sua base, o Padre José de Anchieta
          inaugurou a Santa Casa de Misericórdia, para atender aos doentes da
          esquadra espanhola de Diogo Flores Baldez, que aportou ao Rio de Janeiro
          com peste a bordo. Devido ao hospital, o povo crismou esse primeiro
          logradouro de “Ladeira da Misericórdia”, existindo até hoje pequena porção
          dela, atrás do prédio do Museu Histórico Nacional. A “Ladeira da Misericórdia”
          emendava com a rua da “Misericórdia”, que existiu até idos de 1960. Terminava
          exatamente onde hoje está o prédio do Palácio Tiradentes.
                  Provavelmente, no mesmo ano de 1567, essa rua era prolongada até um
          morrote lindeiro, que fora doado em sesmaria ao português Manuel de Brito
          Pereira (ou de Lacerda), dono de muitas casas na cidade e que, com certeza,
          concorreu financeiramente para a extensão dessa rua que, em última análise,
          valorizava suas terras. Teve vários nomes: “Caminho da Piaçava”, “Caminho
          da Praia Arqueada”, rua de “Manuel de Brito”, rua “Direita” e, desde 1870, rua
          Primeiro de Março, em homenagem ao término da Guerra do Paraguai,
          ocorrida aquele ano.
                  Antes de 1570, uma devota ergueu na rua Direita a capelinha dedicada a
          Nossa Senhora da Expectação e do Parto, e que o povo a crismou, por
          antonomásia, de Nossa Senhora do Ó, por não conseguir pronunciar com
          facilidade essa invocação da Virgem. Afirma-se, que pelo motivo da ladainha
          iniciar com a evocação “Ó Virgem Maria...”, passou a assim ser conhecida. Era
          a santa predileta das mulheres de então, que lhe dirigiam súplicas por um bom
          parto.
                  Em 1589 essa capela foi doada aos frades carmelitas, chegados dez
          anos antes e que até então não possuíam pouso fixo. Mudaram a invocação da
          santa para Nossa Senhora do Carmo e trinta anos depois, em 1619, iniciariam
          seu convento, ao lado. Quanto à capela, foi reconstruída ao menos duas vezes,
          datando o templo atual de 1761, mais ou menos da mesma época em que ficou
          pronto o convento. Os frades seriam desalojados em 1808 por ordem do
          Príncipe D. João, que alojou no convento sua mãe, a Rainha D. Maria I, a
          louca; o Real Gabinete de Física, a Real Ucharia (no térreo) e a Real Biblioteca
          (nos fundos). A capela do convento foi convertida em Capela Real. Nela D.
          João seria sagrado em 1818 e seu filho e neto coroados, respectivamente em
          1822 e 1841.
                  Fronteiro a esse templo surgiu um pequeno adro, muito ampliado por
          aterros e pelo assoreamento da baía, haja vista que a vegetação ciliar dos rios
          foi a primeira coisa destruída pelos colonizadores. Se, ainda em fins do século
          XVI, uma baleia encalhou na rua “Direita”, já em 1605 existia terreno suficiente
          do lado do mar para o Governador Salvador de Sá levantar um fortim, o “Forte
          da Cruz”, provavelmente a primeira construção do lado da baía e, com certeza,
          igualmente a primeira da rua do Ouvidor (que naquela época tinha outros
          nomes, como por ex.: “Desvio do Mar”, rua de “Aleixo Manuel”, rua do
          “Gadelha”, e rua da “Cruz”. O atual nome “Ouvidor” data de 1780.). Esse forte
          nunca funcionou, sendo doado em 1623 a uma irmandade de militares, que em


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seus horários de folga ergueram nele uma capela, inaugurada em 1628, e que
          deu origem à bela igreja da Santa Cruz dos Militares, cujo templo atual data de
          1777/1811.
                 Já em 1605 existem referências documentais ao “Terreiro do Carmo”,
          primeiro nome da futura Praça XV de Novembro, e que à época era um dos
          desembarcadouros de mercadorias da cidade. Provavelmente, nesta época,
          existiam muitas casas na rua Direita e, com certeza, mais uma capela do lado
          do mar, a de São José. Não se sabe por quem e quando foi fundada, mas, já
          existia em 1640, pois nesse ano foi reconstruída. O templo atual foi iniciado em
          1808 e terminado apenas em 1842.
                 Ao seu lado, surgiu em 1619 o casarão da “Câmara Municipal e da
          Cadeia”, inicialmente uma casa térrea de taipa. Seria depois reconstruída como
          sobrado no século XVIII e dela saiu para a glória o protomártir da Inconfidência,
          Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, enforcado no Campo de São
          Domingos num sábado de sol, a 21 de abril de 1792. Após a Independência, foi
          a cadeia velha utilizada como “Câmara dos Deputados” em 1822. Noventa e
          oito anos depois foi demolida para ali ser erguido o Palácio Tiradentes,
          atualmente sede do Poder Legislativo Estadual.
                 Voltando ao século XVII. Com a ida dos vereadores para a várzea do
          “Largo do Carmo”, mudou então o eixo do poder na Capitania, indo o legislativo
          municipal para um logradouro cuja importância não parava de crescer. Por esta
          época foi erguido em um de seus cantos o pelourinho ou “polé”, poste de
          alvenaria com o símbolo da municipalidade, dando origem ao segundo nome
          do logradouro: “Largo da Polé”. A praça daí por diante não pararia mais de
          crescer em importância, sediando o poder até 1889, quando a República
          relegou estes marcos a um ostracismo completo.
                 Ainda em meados do século XVII, existiam algumas casas no lado
          esquerdo da praça, que eram alugadas pelos carmelitas a terceiros. Pouco
          depois, os próprios vereadores sugeriram ocupar a praça com casas de
          aluguel, com o fito de serem alugadas, por pura coincidência, é claro, a
          parentes dos ditos vereadores. O projeto foi vetado pelo Rei Pedro II de
          Portugal. Diga-se o que for, mas, por pouco a praça deixou de existir!
                 Já para fins do século XVII, as tais casas dos frades carmelitas foram
          adquiridas pelo governo que as demoliu e construiu em seu local o armazém
          do sal, bem como o de açúcar. Em 1698, juntou-se a eles a “Casa da Moeda”,
          vinda da Bahia e agora importante no Rio de Janeiro, haja vista que nove anos
          antes o bandeirante Antônio Dias descobriu imensas jazidas de ouro em Minas
          Gerais, originando uma corrida pelo rico metal e transformando o Rio de
          Janeiro de antigo entreposto comercial em pôrto de escoamento do ouro
          mineiro.
                 É sobre estas construções que se erguerá o edifício do Paço Imperial,
          primeira sede do executivo no Largo da Polé. Desde 1643 possuíam os
          governadores uma casa na rua Direita para o exercício de seus mandatos,
          casa esta comprada pelo Rei D. João IV para abrigar o Governador Luís
          Barbalho Bezerra, que faleceu antes de ocupá-la. Serviu como casa de
          govêrno por cem anos. Em 1733, assume o governo da Capitania e parte sul
          do Brasil o General Gomes Freire de Andrade, Conde de Bobadela. Achando-
          se mal instalado, enviou correspondência ao Rei D. João V de Portugal no
          sentido de obter outro lugar para o executivo da Capitania.



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Tendo conseguido resposta positiva, encarregou o engenheiro militar
          Sargento Mór José Fernandes Pinto Alpoim para reformar as casas do Largo
          da Polé e convertê-las em casa de governo. Assim foi feito. Alpoim acrescentou
          um segundo andar ao conjunto, usou vergas curvas nos vãos das janelas pela
          primeira vez no Rio de Janeiro e, em 1743, era entregue a primeira casa de
          governo erguida especificamente para tal na Capitania. Foi casa dos
          governadores por vinte anos. Em 1763, quando se transferiu o Vice-Reinado da
          Bahia para o Rio de Janeiro, serviu como palácio de despachos do Vice-Rei
          Conde da Cunha, sendo então rebatizada para Paço Vice-Real. Paço,
          subentenda-se, é o diminutivo de palácio, haja vista as leis coloniais proibirem
          os prédios administrativos do Brasil terem tal alcunha. Quando da chegada da
          Côrte, em 1808, continuou o edifício a ser usado como palácio de despachos
          do Rei, ganhando a alcunha de Paço Real. Com a Independência, em 1822,
          Paço Imperial. Na República foi repartição geral dos telégrafos, sendo apenas
          restaurado em 1980 e reaberto cinco anos depois como centro cultural.
                 Ocorreram no Paço alguns eventos históricos significativos. Em 09 de
          janeiro de 1822, D. Pedro chegou à sétima sacada do sobrado para informar ao
          povo que ficava no Brasil. A 13 de maio de 1888, a sua neta, Princesa Isabel,
          filha de D. Pedro II, informava da sacada central que não tínhamos mais
          escravos em nossas terras. Pela porta principal D. Pedro II e sua família saíram
          para o exílio a 17 de novembro de 1889, para nunca mais volverem vivos à
          terra brasileira.
                 Do outro lado da praça, existiam umas casas postas ao chão em 1743,
          para naqueles terrenos subir uma série de sobrados da família do Juiz de
          Órfãos Antônio Telles de Menezes. Projetadas pelo engenheiro Alpoim,
          possuíam um notável arco abatido que passava pela travessa do mercado de
          peixe, hoje rua do Comércio. Este arco, apelidado de “do Telles”, era muito mal
          freqüentado, tendo sido conhecido nos primeiros anos do século XIX como
          reduto da bruxa Bárbara dos Prazeres, ex-prostituta, famosa por produzir
          poção rejuvenecedora com sangue de crianças.
                 Na casa ao lado, onde hoje está a Tabacaria Africana, funcionou de
          1747 a 1790 o Senado da Câmara, nome pomposo que tomou a Câmara de
          Vereadores depois de 1757, e que lá foi vítima de pavoroso incêndio, a 20 de
          julho de 1790, o qual, curiosamente, só queimou alguns documentos
          específicos sobre posses territoriais.
                 O primeiro chafariz da cidade foi inaugurado no Largo da Carioca em
          1726 pelo Governador Aires de Saldanha e Albuquerque e recebia as águas do
          Rio Carioca, canalizados por possante aqueduto inaugurado na mesma
          ocasião. Em 1747, o Governador Gomes Freire inaugurou outro chafariz, este
          já no Largo do Paço, no local onde em 1894 se ergueu o monumento à Osório.
          Durou pouco tempo esse chafariz, que era em mármore de lióz. Em 1779, o
          Vice-Rei D. Luís de Vasconcellos e Souza iniciou um terceiro, na borda do mar,
          bem como um novo cais de pedra. Fez o projeto do novo chafariz o mulato
          Mestre Valentim da Fonseca e Silva, com ajuda do engenheiro Jean Jacques
          Funck. Inaugurado em 1789, fornecia água não só à cidade como aos barcos
          que ali acostavam. Foi afastado do mar por vários aterros depois de 1838.
          Quando D. João aportou nele em 1808, estava o Largo do Paço já ornado com
          seus principais marcos culturais.




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O COMÉRCIO NA PRAÇA XV E ARREDORES
                  Em matérias anteriores, escrevi sobre a Praça XV de Novembro e
          arredores, sua história e seus prédios antigos. Agora, escrevo sobre um
          assunto pouco enfocado: a sua importância para o comércio da cidade.
                  Já em 1570, uma construção, à beira mar, definiria o futuro logradouro: a
          ereção da capela de Nossa Senhora da Expectação e do Parto, ou, como era
          mais conhecida, Nossa Senhora do Ó. Em sua frente, surgiu um descampado
          onde as pessoas se reuniam antes das missas, um adro, o qual, inicialmente,
          era muito amplo. Em 1589, quando a capelinha foi doada aos frades
          carmelitas, eles mudaram a invocação do templo para Nossa Senhora do
          Carmo e ao seu lado construíram em 1619 um convento. Anos depois,
          edificaram à sua frente algumas casas que alugavam a terceiros.
                  Em 1605, o Governador Martim de Sá mandou erguer nas proximidades
          da rua Direita um forte, o qual deu o nome de “da Cruz”, cujo objetivo era
          proteger os desembarques dos navios que ali aportavam. Dez anos depois, a
          Câmara de Vereadores legislou no sentido de não se erguer defronte aos
          prédios do convento e forte construção alguma, com o fito de preservar aquela
          área como “rocio” da cidade. Rocio era o nome lusitano para “praça de
          comércio”, já determinando a primeira função institucional do local.
                  No início do século XVII, duas instituições destinadas a estimular o
          comércio na jovem colônia foram estabelecidas em suas proximidades.
          Uma foi a Câmara de Vereadores, trazida do Morro do Castelo para um terreno
          ao lado da Igreja de São José em 1619. Era função dos vereadores, dentre
          outras, a de fiscalizar o comércio, bem como guardar os pesos e medidas
          oficiais, legislar sobre preços e custos, e colocar num poste de madeira, o
          “pelourinho” as novas leis exaradas, bem como os nomes dos fora-da-lei,
          comerciantes ou não. A câmara era situada onde hoje está o Palácio
          Tiradentes e foi, até 1808, a sede do Poder Legislativo Municipal.
                  A outra foi a Alfândega, ou, como era poeticamente conhecida, a “casa
          de ver-o-peso”. Foi instalada em 1613 defronte ao caminho do “Capoeirussú”
          (literalmente “Capoeira Alta”, em tupi), depois rebatizado para Rua da
          Alfândega. Desde fins do século XVII até 1808 sua direção coube, por
          hereditariedade, à família Nascentes Pinto. A Alfândega fez crescer o pequeno
          comércio que marcaria a fisionomia das ruas do Ouvidor até a da Alfândega.
          Está aí a origem do popular “SAARA”, a primeira grande área de comércio
          popular da cidade.
                  A importância do sítio logo cresceu e, dentre os nomes que a praça
          ganhou ainda no século XVII, estavam o de “Largo do Carmo”, “Terreiro da
          Polé” (Polé e pelourinho são a mesma coisa), “Terreiro do Carmo”, e outras
          denominações efêmeras. Entretanto, a cupidez estava falando mais alto e a
          Câmara de Vereadores tentou lotear o largo com o objetivo de ali construir
          casas que seriam vendidas (por coincidência, claro...) aos parentes dos
          próprios vereadores. Isso motivou um protesto dos frades carmelitas ao Rei
          Pedro II de Portugal, o qual, determinou, por Decreto de 27 de novembro de
          1686, que ninguém construísse sobre o Terreiro do Carmo, pois sua existência
          era por demais importante como área comercial. Até prova em contrário, esta é
          a data oficial de nascimento da futura Praça XV de Novembro.
                  No século XVII a grande falta de numerário no mercado fez com que o
          Governador Salvador Correia de Sá e Benevides autorizasse o pagamento de
          impostos em gêneros, e, como o principal gênero de produção no Rio de


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Janeiro daqueles tempos era o açúcar, todo mundo passou a pagar ao governo
          com caixas de açúcar. Logo os armazéns do governo ficaram abarrotados de
          açúcar, o que causou grande depreciação do produto. Para resolver o
          problema, agravado desde 1686 com a descoberta de ouro em Minas Gerais,
          resolveu o Rei Pedro II de Portugal transferir, em 1698, a casa da moeda, da
          Bahia para o Rio de Janeiro, acomodando-a num armazém no Terreiro do
          Paço, exatamente onde hoje se encontra o prédio do Paço Imperial.
                  Em 1710 o Rio de Janeiro foi atacado pelas tropas francesas chefiadas
          pelo Corsário Jean François Duclerc, sofrendo o inimigo fragorosa derrota
          quando já havia chegado aos limites do Terreiro do Carmo. No ano seguinte,
          outro Corsário, René Duguay Trouin, foi mais bem sucedido, tomando a cidade
          após curta batalha e saqueando os armazéns do Terreiro do Carmo por mais
          de trinta dias, quando se retirou vitorioso para a França.
                  Em 1743, o Governador Gomes Freire de Andrade, Conde de Bobadela,
          inaugurou no antigo Terreiro do Carmo a nova Casa dos Governadores,
          projetada pelo engenheiro militar José Fernandes Pinto Alpoim onde estavam
          os Armazéns Reais e a Casa da Moeda. O Paço substituiu a pequenina casa
          que os governadores ocupavam desde 1624 na antiga rua Direita, onde hoje
          está o prédio do Centro Cultural do Banco do Brasil. Vinte anos depois, o
          Terreiro, já rebatizado para Largo do Paço, passaria a sediar o Vice-reinado do
          Brasil, sendo seu primeiro Vice Rei o Conde da Cunha. Ele e seus sucessores
          se preocuparam com dois assuntos básicos da colônia: proteger a cidade de
          ataques estrangeiros promovendo a melhoria das fortificações e igualmente
          proteger o rico comércio do Rio de Janeiro, cujo ouro em circulação
          desenvolvera muito nos últimos anos.
                  Quando o Príncipe D. João desembarcou, em março de 1808 no Largo
          do Paço, este já estava firmado há muitos anos como a praça comercial mais
          importante do reino português. D. João teve apenas que continuar o trabalho
          de seus antecessores. Já em 1808 ele liberou os portos brasileiros às nações
          amigas, e, em outubro do mesmo ano criou o Banco do Brasil, instalado num
          casarão da rua Direita. Onze anos depois, o comércio havia florescido tanto
          que se tornou necessário criar a primeira Praça do Comércio do Rio de Janeiro,
          antepassada direta de nossa Bolsa de Valores. O prédio ainda está lá, na rua
          Visconde de Itaboraí, sendo hoje sede da Casa França Brasil.
                  Estavam, pois, criados todos os instrumentos legais que transformaram
          o pequeno Terreiro Carmo na mais importante praça comercial da América
          Latina, primazia que só perderia para São Paulo em fins do século XIX. Hoje,
          as velhas casas comerciais da Praça XV de Novembro e arredores estão
          sendo reabilitadas pelas obras da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro,
          sendo suas fachadas tombadas pelos órgãos de proteção ao patrimônio
          histórico, e se tornando, aos poucos, importante atração para os turistas que
          desejam conhecer um pouco de nossa história.

                PAÇO IMPERIAL - PRAÇA QUINZE DE NOVEMBRO - CENTRO
                Nos primeiros cem anos de existência da cidade, os governadores da
          Capitania do Rio de Janeiro, geralmente membros da poderosa família Sá ou
          seus prepostos, governavam de suas próprias casas. Em 1643, a Metrópole
          concordou em pagar um aluguel para o Governador Luís Barbalho Bezerra,
          que, empobrecido e doente nas lutas contra os holandeses no nordeste, não
          possuía condições de se manter. Com a morte de Bezerra, em abril de 1644,


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sua casa passou a ser a casa dos governadores. Era na rua da Candelária,
          defronte ao prédio onde hoje está a Associação Comercial. Em 1698, a
          Câmara adquiriu a grande casa de sobrado de Pedro de Souza Pereira e
          adaptou-a para sede do governo. Era exatamente onde hoje está o Centro
          Cultural do Banco do Brasil. Um sobrado na rua Direita, com doze janelas no
          pavimento e capela no térreo, onde depois de 1743 funcionou a Casa Real dos
          Contratos, até 1808. Sediou depois diversas repartições públicas até ser
          demolida em 1870 e substituída pelo prédio atual.
                 No Largo do Carmo, no local onde surgiu o Paço, existiam desde o
          século XVII algumas casas térreas que pertenciam ao patrimônio do Convento
          do Carmo, sendo alugadas a terceiros. Em fins do século XVII, foram
          adquiridas pela Câmara e demolidas, subindo em seu local o Armazém Real,
          onde eram guardados os carregamentos de sal e açúcar, bem como, desde
          1698, a Casa da Moeda, transferida da Bahia para o Rio de Janeiro no ano
          anterior.
                 Quando da ascensão de Gomes Freire de Andrade ao governo da
          Capitania do Rio de Janeiro, em 1733, ainda estava alojado o governador no
          sobrado da rua Direita. Achando-se mal acomodado, fez gestões junto à
          Metrópole para construção de nova sede governamental. Em 1738 chega ao
          Rio de Janeiro o engenheiro militar e Sargento-Mór (depois Brigadeiro) José
          Fernandes Pinto Alpoim. Gomes Freire logo o incumbiu de preparar a nova
          sede da Capitania. Alpoim aproveitou as construções existentes no Largo do
          Carmo, respectivamente os prédios do Armazém Real e Casa da Moeda,
          acrescentando-lhes um segundo pavimento, com janelas de sacada em arco
          abatido, novidade na colônia, tendo sido erguido mais um pavimento, o
          terceiro, dando para o Largo do Carmo, com quatro janelas. No térreo, manteve
          as janelas com vergas retas. Internamente, era o prédio ventilado por quatro
          pátios internos, ficando a área social e de trabalho no sobrado e voltadas para
          o mar, os aposentos para o Largo do Carmo e as dependências de serviço no
          térreo e sobrado, dando para a rua Direita. No térreo da fachada do Largo do
          Carmo continuaram a funcionar o Real Armazém e a Casa da Moeda até 1808.
                 Foi todo o conjunto inaugurado em 1743 e inicialmente denominado nos
          documentos oficiais de “casa de governo”, haja vista uma lei do século XVII
          que proibia a construção de palácios em colônias de Portugal, estando tais
          residências apenas restritas a príncipes e nobres de sangue real.
                 Nos vinte anos em que funcionou como casa dos governadores, talvez o
          fato mais pitoresco ali ocorrido tenha sido o baile oferecido aos oficiais
          franceses da esquadra do Conde D`Aché, chegados ao Rio de Janeiro em
          setembro de 1757. O Conde ofereceu uma recepção a Bobadela num de seus
          navios. Bobadela, por sua vez, diplomaticamente, ofereceu outra na casa do
          governo. Os franceses ficaram decepcionados, pois ao chegarem na casa,
          descobriram que não haviam mulheres na festa, e sim alguns rapazes
          travestidos. Bobadela explicou-se, afirmando que o povo não permitia a saída
          de mulheres para tal festividade, tendo os franceses que se contentar com o
          que ele pôde conseguir. Guardadas as devidas proporções, foi o primeiro baile
          de travestis do Rio de Janeiro.
                 Com a transferência do Vice-Reinado da Bahia para o Rio de Janeiro,
          em princípios de 1763, passaram os vice-reis a administrar a colônia do edifício
          no Largo do Carmo, que passou a ser conhecido então como Paço, diminutivo
          lusitano de Palácio. O primeiro Vice-Rei, Conde da Cunha, não gostou do


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prédio, tencionando sua transferência para o Colégio dos Jesuítas, no morro do
          Castelo, iniciativa gorada por sua substituição em 1767. Da administração do
          Conde de Azambuja, D. Antônio Rolim de Moura, pouco sabemos, haja vista o
          precário estado de saúde deste dirigente, que ficou menos de dois anos no
          cargo. Quanto ao seu sucessor, o Marquês de Lavradio, sabemos que residia
          na rua de seu nome, aberta em 1771, numa casa ainda existente. Ou seja:
          provavelmente o Paço era mais usado como local de trabalho que residência
          oficial, o que foi referendado pela Família Real depois de 1808.
                  Com a chegada da Côrte neste último ano, o prédio foi promovido a
          Paço Real, e era realmente utilizado como palácio de despachos. D. João nele
          ficava nos horários da tarde, morando efetivamente em São Cristóvão. Só
          pernoitava no Paço quando as condições ou alguma cerimônia especial assim
          o exigia. Ainda em 1808 foi o Paço ligado ao Convento do Carmo por um
          passadiço, estabelecendo-se ali sua mãe, a Rainha D. Maria I, a Real Ucharia,
          o Real Gabinete de Física e, depois de 1810, a Real Biblioteca. A casa da
          moeda foi para um prédio na rua da Lampadoza, onde existira o primeiro
          museu da cidade. Um outro passadiço foi construído, ligando o Paço ao antigo
          sobrado da Casa de Câmara e Cadeia, adaptada para acomodação de
          funcionários da Casa Real. Foi o Paço Real a primeira casa na América a
          acomodar um Rei europeu sagrado em nosso solo, pois foi D. João assim
          entronizado em 1818, numa cerimônia inédita e única ocorrida no Largo do
          Carmo, onde se montou enorme pavilhão para a cerimônia. Na fachada dando
          para o mar, foi construída em 1817 um corpo elevado, onde se colocou a sala
          do trono, a primeira das Américas. Colocou-se na mesma ocasião quatro
          colunas internas para suportar o novo pavimento (estas colunas foram retiradas
          na restauração de 1980). Quando o Rei jurou a nova Constituição portuguesa,
          em fevereiro de 1821, o povo não esperou sua carruagem atingir o Paço vinda
          de São Cristóvão. Cercaram-no ainda na rua Direita, retiraram-no de dentro e
          carregaram-no nas costas, em triunfo. O Rei, assustado, desmaiou pensando
          que iam matá-lo. Levado ao Paço, verificou-se que estava bem, exceto por
          seus objetos pessoais, que haviam desaparecido.
                  Foi no Paço que D. João VI transferiu ao filho, o Príncipe D. Pedro, o
          governo em 1821, dando o célebre conselho de que “...se o Brasil se libertar,
          antes seja para ti, que me hás de respeitar, do que a qualquer um destes
          aventureiros...”. Foi nele que a 09 de janeiro de 1822, o Príncipe recusou-se a
          voltar à Portugal, permanecendo no Brasil, atendendo às súplicas do povo,
          transmitidas ao jovem príncipe pelo Presidente da Câmara de Vereadores, o
          Juiz José Clemente Pereira. Teria dito o Príncipe: “...se é para o bem de todos,
          e felicidade geral da nação, estou pronto, diga ao povo que fico. E recomendo
          a todos união e tranqüilidade...”. Com este gesto simples, abriu o Príncipe o
          caminho para nossa Independência política.
                  No segundo reinado foi o Paço utilizado da mesma forma que antes,
          local para os despachos oficiais, residência eventual da Família Imperial e,
          ocasionalmente, local de hospedagem de visitantes ilustres. Sofreu grandes
          reformas em 1841/45, quando lhe acrescentaram platibandas (removidas
          depois), bem como tendo sido fechado um de seus pátios, convertido em salão
          dos “Archeiros do Paço”. Mesmo depois destas reformas, conta-se que o Paço
          logo arruinou-se, bastando dizer que muitas de suas salas estavam já
          interditadas na década de setenta, com ameaça de desabamento. Isso não
          impediu que a Princesa Isabel Regente, na ausência de seu pai, o Imperador


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D. Pedro II, que estava na Europa em tratamento médico, nele assinasse a lei
          no. 3.353, a 13 de maio de 1.888, a Lei Áurea, que libertou os escravos no
          Brasil. Dezoito meses depois, do Paço saía para o exílio o Imperador deposto
          pelo movimento de 15 de novembro de 1.889, partindo a Família Imperial para
          a Europa na madrugada do dia 17, depois de dois dias de prisão domiciliar no
          velho Paço. Foi, sem dúvida alguma, o episódio mais dramático e o mais
          constrangedor da jovem República nascente.
                  A República não quis saber de utilizar o velho edifício para fins de sede
          do governo. Leiloado o mobiliário interno do prédio em 1890, foi o mesmo
          cedido ao Ministério da Instrução e dos Correios, então dirigido por Benjamin
          Constant, e convertido em Repartição Geral dos Telégrafos, depois, dos
          Correios e Telégrafos, atividade que, com poucas alterações, manteve por
          oitenta anos. Quase demoliram o velho Paço em 1919, para ali se construir a
          nova sede do poder legislativo federal, idéia abortada pelo Senador Paulo de
          Frontin. Reformado em 1929 durante a Presidência Washington Luís, foi
          acrescido de mais um pavimento. O prédio foi tombado pelo Serviço do
          Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em abril de 1938, eliminando assim
          cogitações por sua demolição, tão desejada por famosa autarquia federal que
          almejava ali levantar sua sede geral.
                  Em 1980 o então prédio da Repartição Geral dos Correios e Telégrafos
          foi permutado com o Ministério da Cultura, sendo submetido a uma restauração
          integral pelo arquiteto Glauco Campello do SPHAN, que lhe restituiu as formas
          de 1818. Foram retirados todos os acréscimos, reconstituindo-se assim a
          ambiência primitiva. Reinaugurado em 1985, foi convertido em centro cultural, o
          primeiro no centro da cidade, ponto de partida da revalorização da área central
          do Rio de Janeiro, tarefa que continua a acontecer no século XXI. No mês de
          outubro de 1987, ocorreu o último episódio político no Paço, quando um
          agitador à mando de determinada facção política bateu com uma picareta no
          vidro no ônibus que conduzia o então Presidente da República, José Sarney,
          que ia inaugurar uma exposição. O Presidente nada sofreu além do susto, o
          que não deixa de ser um final feliz, porém, até melancólico para um prédio
          histórico que foi palco das mais importantes decisões brasileiras em duzentos
          anos.

                  JOSÉ FERNANDES PINTO ALPOIM - DADOS BIOGRÁFICOS
                 Nasceu em Viana do Castelo, Portugal, a 14 de julho de 1700, filho do
          Sargento-Mór Vasco Fernandes Alpoim e de sua mulher, Da. Revocata Pinto.
          Seguiu carreira militar, onde chegou também à Sargento-Mór antes de vir para
          o Brasil. Transferiu-se para o Rio de Janeiro, em definitivo, em 1738. Exerceu
          suas atividades de engenheiro no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e em
          Minas Gerais.
                 No Rio deixou as seguintes obras: reconstrução do Aqueduto da Carioca
          (1738/44); Igreja de Nossa Senhora da Conceição e Boa Morte (1738/56);
          Casa de Câmara e Cadeia (1738/50); Casa dos Governadores (1740/43);
          Hospício dos Barbonos (1742); arruamento do Largo de São Francisco (1742);
          Igreja da Sé (inacabada, 1742/95); Convento da Ajuda (1742/50); Claustro do
          Mosteiro de São Bento (1742/55); Casas dos Telles de Menezes (1743/47);
          Convento de Santa Teresa (1744/63); Chafariz do Largo do Paço (1747);
          fachada da Igreja de Nossa Senhora do Bonsucesso (1760).



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Possivelmente são obras suas: Convento do Carmo (1750); Convento
          Franciscano de Santo Antônio (1750); Igreja do Carmo da Lapa (1751); Casa
          do Trem (1762), e todas as fortificações executadas na cidade entre 1738 e
          1765, as quais eram a sua função principal de estar aqui.
                 Em Minas Gerais, deixou as seguintes obras: Palácio dos Governadores
          de Ouro Preto (1738/56); Cadeia de Ouro Preto (1745/50, não construída);
          Planta da Cidade de Mariana (1738).
                 No Rio de Janeiro, foi Mestre e fundador da Aula de Artilharia da cidade.
          Escreveu dois livros: Exame de Artilheiro (1744); Exame de Bombeiro (1748),
          sendo que o primeiro foi impresso no Brasil. Em 1760, atingiu o posto de
          Brigadeiro. Com a morte de Gomes Freire de Andrade, em janeiro de 1763,
          ficou no governo da Capitania, junto com o Bispo Frei Antônio do Desterro até
          a chegada do novo Vice-Rei, Conde da Cunha.
                 Faleceu no Rio de Janeiro a 07 de janeiro de 1765, sendo enterrado no
          Convento de Santa Teresa. Serviu no Brasil 26 anos, 02 meses e 15 dias.

                      GOMES FREIRE DE ANDRADE - DADOS BIOGRÁFICOS
                  Militar e político, nasceu em Portugal em 1685. Ganhou do Rei D. João
          V o título de Conde de Bobadela. Nomeado em 1733 Governador e Capitão-
          General do Rio de Janeiro, administrou esta capitania por vinte e nove anos e
          seis meses. Na cidade, deixou as seguintes obras: fez a Fortaleza de São
          José, na Ilha das Cobras (1733-39); mandou derrubar o muro da cidade (1733);
          fundou o Recolhimento do Parto (1736); reconstruiu o Aqueduto da Carioca
          (1738-44); construiu em 1740/43 a Casa dos Governadores (hoje Paço
          Imperial), no Largo do Carmo; mandou arruar o Largo de São Francisco (1742);
          fundou o Convento de Santa Teresa (1744-63), no Morro do Desterro; construiu
          o primeiro chafariz, no Largo do Carmo (1747); elevou a Câmara de
          Vereadores do Rio de Janeiro à condição de Senado (1747); remodelou as
          fortalezas de Santa Cruz e Villegaignon; cumprindo ordens de Portugal,
          procedeu ao seqüestro dos bens e expulsão dos padres jesuítas do Brasil
          (1759); construiu a Casa do Trem (1762), na Ponta do Calabouço; fundou as
          academias literárias “dos felizes” e “dos Seletos”, fundou a primeira tipografia
          do Rio de Janeiro, a de Antônio Isidoro da Fonseca; e muitas obras edílicas e
          administrativas de relevância. Administrou conjuntamente as Capitanias de
          Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande. Em Minas Gerais,
          mandou construir um novo Palácio dos Governadores de Vila Rica (1741, hoje
          Museu da Escola de Minas e Mineralogia) e ordenou o arruamento da Cidade
          de Mariana (1738). Participou, como Ministro Plenipotenciário, das
          conferências internacionais sobre os limites do Brasil com os territórios de
          Espanha, logrando anexar à Portugal o Território das Missões. Venceu os
          índios guaranis nas missões jesuíticas ao sul do país. Foi denominado de “Pai
          da Pátria”, pelo Senado da Câmara. Com a invasão espanhola da Colônia do
          Sacramento, na Cisplatina, foi considerado culpado por essa derrota pela
          metrópole lusitana, caindo em depressão.
                  Faleceu a 1o. de janeiro de 1763, no Rio de Janeiro.

                        CHAFARIZ DE MESTRE VALENTIM - PRAÇA XV
                O primeiro chafariz do Rio de Janeiro foi inaugurado em 1726 pelo
          Governador Ayres de Saldanha e Albuquerque no Largo da Carioca. Esta obra
          coroou os esforços de mais de cem anos na luta pelo abastecimento de água


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da cidade, até então precaríssimo. Até aquela época, os escravos apanhavam
          água na nascente do Rio Carioca, no Silvestre e vendiam-na na cidade por
          altos preços. Deste primeiro chafariz puxaram diversos ramais, que
          abasteceram os outros que depois se fizeram no Largo do Paço. Em 1747, o
          Governador Gomes Freire de Andrade, Conde de Bobadela, mandou erguer o
          primeiro chafariz no Largo do Paço, mais ou menos onde hoje se encontra o
          monumento ao General Osório. Era de mármore de Lióz, cuja planta proviera
          de Lisboa. Mais decorativo que funcional, não durou muito, sendo quebrado
          pelos aguadeiros que nele iam buscar a preciosa linfa.
                  Em 1779, o Vice-Rei Luís de Vasconcellos e Souza ordenou a
          construção de novo chafariz no Largo do Paço, obra que não só abastecesse a
          cidade como aos barcos que ali aportavam. Na mesma época, seria construído
          um cais em pedra retificando o Largo, cujo projeto estava esboçado desde
          1713, mas que nada se fizera até aquele momento. Incumbiu dessa missão o
          engenheiro militar Jean Jacques Funck, que projetou o novo cais em pedra,
          com escadas e rampas, e fez, ao menos, dois esboços para um novo chafariz
          colado ao dito cais de acostamento. Quanto a estes últimos, o primeiro esboço
          mostrava um chafariz horizontal, à semelhança do que fora feito no Largo da
          Carioca. O segundo esboço, executado em 1780, era de um chafariz vertical,
          feito em pedra, donde a água escorria por conchóides e baleias dispostas
          artisticamente pelos lados.
                  Parece que o Vice-Rei não gostou dos dois desenhos, e teria então
          encomendado um terceiro ao Mestre Valentim da Fonseca e Silva, que se
          baseou no segundo esboço de Funck, mas alterou-o substancialmente nos
          detalhes. É este o desenho que foi aprovado e executado. Construído em
          gnaisse facoidal, com detalhes em mármore de Lióz, foi coroado com um
          mirante e pirâmide. Dele saíam água por três conchóides, ficando no muro do
          cais duas outras saídas para abastecimento dos navios. Por algum motivo a
          obra se atrasou muito, sendo apenas entregue ao uso em 29 de abril de 1789.
          Numa placa de mármore adossada ao monumento, era louvada a figura de D.
          Luís de Vasconcellos e da Rainha D. Maria I, a quem o monumento era
          dedicado. Em estilo barroco e com fachadas curvilíneas, era de grande
          expressividade plástica e impressionou muito os visitantes que desde os fins do
          século XVIII descreveram-no com entusiasmo.
                  Seria de uma escada lateral ao dito chafariz que o Príncipe D. João
          desembarcou no Largo do Paço, num festivo 08 de março de 1808, para uma
          longa permanência de 13 anos. Por esta mesma escada partiria choroso para
          Portugal. Por outra próxima, seu filho, o Imperador D. Pedro I partiria para o
          exílio a 07 de abril de 1831 e, por sua vez, por ali igualmente D. Pedro II sairia
          destronado na madrugada de 17 de novembro de 1889. Serviu de tribuna ao
          político republicano Lopes Trovão, quando da revolta popular em janeiro de
          1880 pelo aumento das passagens de bondes (Revolta do Vintém). Quanto ao
          cais, foi aterrado em 1838 pela Regência, haja vista o assoreamento da praia.
          Sofreria outros cinco aterros até 1906, quando o ganhou os contornos
          definitivos, afastando o mar do velho chafariz.
                  O chafariz forneceu água até 1896, com o desmonte do Aqueduto da
          Carioca, ficou como monumento inerte do passado até 1975, quando uma obra
          da CEDAE restaurou por alguns anos o fornecimento de água. Transformado
          por isto em banheiro de mendigo, foi restaurado em 1985, sendo-lhe restituído
          à luz o velho cais colonial, sem, no entanto, conseguir-se restituir sua primitiva


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função de verter água. Esta obra não deu certo e novamente o chafariz tornou-
          se pouso de desocupados e banheiro publico.
                 Submetido a grandes obras em 1995, foi-lhe recomposto outra parte do
          velho cais, que agora ficou à mostra graças às obras de abertura da passagem
          subterrânea de veículos (apelidada de “buraco do Conde”), que lhe desobstruiu
          a fachada voltada para o mar. Ainda é uma meta do IPHAN torná-lo a verter
          água, se possível, pelos antigos canos coloniais de pedra, que em grande parte
          ainda existem no subsolo da rua Sete de Setembro.
                 O monumento é tombado pelo IPHAN.

              MESTRE VALENTIM DA FONSECA E SILVA - DADOS BIOGRÁFICOS
                  Nasceu em Serro Frio, Minas Gerais, em c. 1745. Era mulato, filho de
          um fidalgo português, contratador de diamantes, e de uma negra escrava. Foi
          escultor, entalhador e arquiteto, conhecido vulgarmente como Mestre Valentim,
          ativo no Rio de Janeiro. Estudou em Portugal, onde teve contato com o estilo
          rococó. De volta ao Rio de Janeiro, executou em 1774 o altar-mór da Igreja de
          Nossa Senhora da Conceição e Boa Morte, na rua do Rosário. No mesmo ano,
          trabalhou com Luís da Fonseca Rosa, talvez seu parente, na talha da capela-
          mór da Igreja da Ordem Terceira do Carmo, na rua Direita, tarefa que durou até
          1778. Já independente, fez o altar-mór da Capela do Noviciado da mesma
          igreja (1774), executando vinte anos depois o altar de Nossa Senhora das
          Dores, sua primeira experiência com o estilo rococó. Em 1779, iniciou as obras
          do Passeio Público, inaugurado em 1783, bem como o Chafariz dos Jacarés e
          a Fonte do Menino; dois anos depois, terminou o Chafariz das Marrecas, na rua
          dos Barbonos (Evaristo da Veiga); fez o Chafariz do Largo do Paço (1779-89);
          reconstruiu o Recolhimento do Parto (1789), hoje destruído; fez o Chafariz das
          Saracuras (1791); as Pirâmides do Passeio Público (1791); e o Chafariz do
          Lagarto, na rua Frei Caneca; fez dois lampadários em prata para a capela do
          Mosteiro de São Bento (1793); e outro para a Igreja de Santa Rita; executou a
          talha da capela-mór da Igreja da Santa Cruz dos Militares (1801-12); idem, da
          capela-mór e de Nossa Senhora das Vitórias da Igreja de São Francisco de
          Paula (1801-1813); idem da Igreja de São Pedro dos Clérigos (destruída),
          Igrejas do Carmo da Lapa e da Candelária (também removida), e outras. Foi o
          primeiro artista a fundir ligas metálicas e bronze para fins artísticos no Brasil.
          Produziu igualmente peças em porcelana, as primeiras no Brasil, bem como
          decorações para festas, jóias, etc. Não era santeiro, entretanto, fez duas
          imagens em tamanho quase natural de São João e São Mateus, para a Igreja
          da Santa Cruz dos Militares. Teve muitos discípulos.
                  Faleceu solteiro na Rua do Sabão, a 01o. de março de 1813, sendo
          sepultado na Igreja do Rosário.

             BOLSA DE VALORES - RUA DO MERCADO C/ PRAÇA XV - CENTRO
                Em 1835, a Ilustríssima Câmara Municipal decidiu a construção de um
          mercado que ordenasse a venda de pescado, e outros gêneros, até então feita
          em velhas barracas de madeira e pano, na antiga Praia do Peixe, embocadura
          da rua do Ouvidor. O arquiteto Auguste Henry Victor Grandjean de Montigny foi
          encarregado do projeto, e o imóvel edificado em 1842, ocupava todo o
          quarteirão onde hoje se ergue a Bolsa do Rio, em frente ao Chafariz de Mestre
          Valentim. O prédio original era térreo, mas em 1870 foi arrendado ao Coronel
          Antônio José Silva, que fez erguer um segundo pavimento, inaugurado em


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1872. Na praça central do mercado havia um chafariz de granito, do qual a
          água jorrava, através de golfinhos de bronze. O mercado da Praça XV foi
          demolido depois de um incêndio, em 1911.
                 Em maio de 1934 uma nova obra iniciava mais um marco na Praça XV
          de Novembro. Começava a construção do antigo prédio da Bolsa de Valores do
          Rio de Janeiro, na esquina da rua do Mercado. A Bolsa estava desde 1906 no
          prédio da antiga Praça do Comércio, na rua Primeiro de Março, onde hoje está
          sediado o Centro Cultural do Banco do Brasil. Em 1924 a Bolsa entrou em
          gestões com o Banco do Brasil, que cobiçava o edifício. O Banco deu em troca
          sua antiga sede, na rua da Candelária e o terreno da rua do Mercado com
          Praça XV, que era de sua propriedade desde o princípio do século. Em 1926 a
          troca foi realizada, indo a Bolsa de Valores para a rua da Candelária e o Banco
          do Brasil para a rua Primeiro de Março. Logo o prédio da rua da Candelária
          mostrou-se inadequado para as crescentes funções da Bolsa de Valores, que
          levou a construção da nova sede em 1934 na Praça XV. No antigo terreno da
          rua da Candelária ergueu-se, em 1935, o Palácio do Comércio. Sede da
          Associação Comercial do Rio de Janeiro.
                 Em sua nova sede, a Bolsa de Valores funcionou por quase seis
          décadas, período de grandes transformações e desenvolvimento do mercado
          de capitais. Ao longo deste tempo foram sendo adquiridos os imóveis anexos e,
          hoje, a Bolsa do Rio está sediada em toda a quadra composta pela Praça XV,
          avenida Perimetral e ruas do Mercado e do Ouvidor.
                 Em outubro de 1996 foi inaugurado o primeiro bloco do novo prédio da
          Bolsa do Rio, na mesma histórica Praça XV, em cujas cercanias teve sua sede
          desde sempre. Projeto do arquiteto Maurício Roberto, é o mais moderno e
          atualizado edifício de todo o entorno da Praça. Em fins de 1999 foi demolido o
          velho prédio da Bolsa, de 1934, para se erguer ali o segundo bloco, que irá
          compor com o já existente um arrojado conjunto arquitetônico, fronteiro ao
          chafariz projetado por Mestre Valentim no século XVIII. Serão dois marcos e
          dois estilos, simbolizando as mutações e, ao mesmo tempo, a perenidade do
          antigo Largo do Paço.

               MONUMENTO AO GENERAL OSÓRIO - PRAÇA XV DE NOVEMBRO
                  Monumento localizado na Praça XV de Novembro, obra do escultor
          Rodolfo Bernardelli. Sua estátua foi fundida com o bronze dos canhões
          tomados ao inimigo durante a Guerra do Paraguai e foi promovida sua ereção
          pela Sociedade Sul Riograndense do Rio de Janeiro, tendo sido organizada
          uma subscrição popular que começou em 1880 e durou quatorze anos. Pagou-
          se 500 réis “per capita”.
                  No pedestal de granito de Baveno, dos Alpes austríacos, estava até
          1994 o corpo embalsamado de Osório, ali depositado em 1894. Existem dois
          baixos-relevos em bronze: um representando a batalha de 24 de maio de 1866,
          Tuiuti, e o outro, o ataque de Passo da Pátria. A estátua eqüestre, fundida em
          Paris, nas oficinas de Thibaut, foi colocada em agosto de 1893, sendo
          inaugurada a 12 de novembro de 1894, com a presença do Presidente da
          República, Marechal Floriano Peixoto, ministros e demais autoridades.
          Representa a figura de Osório, montado a cavalo, ligeiramente inclinado para
          direita, com a espada em punho.
                  Foi motivo de grandes críticas à época o fato de Osório estar
          representado usando calçados comuns, e não a tradicional bota de cano alto,


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própria para montaria e parte constante do uniforme de general. O escultor
          Bernardelli explicou o motivo de tal modificação. Na maquete em gesso, hoje
          no Museu Histórico Nacional, Osório foi representado de botas. Convocada a
          única filha viva do general para opinar, Da. Manuela Luísa Osório
          Mascarenhas, informou que o pai não se servia de tal apetrecho, pois tendo
          sido ferido nos pés durante a Campanha do Uruguai, estes infeccionaram,
          tendo sido a chaga agravada por problemas de pele e circulação. Osório
          passou a não mais usar botas, já que a ferida não mais cicatrizou e dava-lhe
          grande tormento calçar coturnos. Lutou toda a Guerra do Paraguai descalço, só
          usando sapatos em cerimônias oficiais. Bernardelli, não o querendo
          representar descalço e, ao mesmo tempo, atendendo ao reclamo da filha,
          colocou o velho cabo-de-guerra com mocassins de passeio.

           MANUEL LUÍS OSÓRIO (MARQUÊS DE HERVAL) - DADOS BIOGRÁFICOS
                 Militar e político, nasceu em Santo Antônio do Arroio, Rio Grande do Sul,
          em 1808. Sentou praça com doze anos. Alferes com menos de 17 anos,
          participou dos combates no sul do continente, desde a Guerra Cisplatina, com
          as batalhas de Sarandi e Passo do Rosário (onde foi ferido), insurreição
          Farroupilha (1835-45) e Montecaseros. Organizou, no Rio Grande do Sul, a
          Força Brasileira que tomou parte na Guerra do Paraguai (1864-70), tendo sido
          o primeiro a pisar o solo inimigo (1866). Distinguiu-se nas Batalhas de Tuiuti
          (24 de maio de 1866), Humaitá (19 de fevereiro de 1868) e Avaí (dezembro de
          1868), na qual foi ferido na boca. Assumiu, em 1877, o mandato de senador,
          tendo sido ministro da Guerra no Gabinete Liberal do Visconde de Sinimbu. É o
          patrono da arma de cavalaria. A casa em que morou e faleceu, na rua
          Riachuelo, no Rio de Janeiro, foi tombada em 1966 e desapropriada a fim de
          tornar-se um museu militar.
                 Faleceu no Rio de Janeiro em 1879.

                       RODOLFO BERNARDELLI - DADOS BIOGRÁFICOS
                 Escultor, nasceu em Guadalajara, México, em 1852, irmão de Henrique
          Bernardelli; veio criança para o Brasil, tendo freqüentado a Academia Imperial
          de Belas Artes. Em 1876 ganhou o prêmio de viagem à Europa, onde
          permaneceu nove anos, a maior parte em Roma. Ao voltar, foi nomeado
          professor da Academia, e mais tarde seu diretor, cargo que ocupou até 1915.
          Sua produção é vastíssima em todo o Brasil, em especial o Rio de Janeiro,
          onde se destacam: Cristo e a Adúltera, no acervo do MNBA; Monumento a
          Osório, na Praça XV (1894); Monumento a José de Alencar, na Praça José de
          Alencar (1897); Monumento à Caxias, no Pantheon de Caxias (1897);
          Monumento à Carlos Gomes, na Cinelândia (1898); Descoberta do Brasil, na
          Glória (1900); Busto de Pereira Passos, atrás da Igreja da Candelária (1913);
          Esculturas da cobertura do Teatro Municipal (1906-09); Esculturas do prédio do
          MNBA (1903-08); fora bustos, hermas, placas e monumentos por toda a
          cidade, bem como alguns túmulos. Praticou também a pintura, mas nesse
          campo foi obscurecido pelo irmão.
                 Faleceu no Rio de Janeiro, em 1931.

             IGREJA DE SÃO JOSÉ - AVENIDA PRESIDENTE ANTÔNIO CARLOS
               Não se sabe exatamente a data de fundação desta capela, pois seus
          documentos de há muito foram perdidos. Provavelmente já existia em fins do


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século XVI, pois é citada num documento de 1619. De 1633 a 1640 foi
          reconstruída em pedra e cal por Egas Muniz. Por algum tempo, o cabido da Sé
          a utilizou como Matriz provisória, de 1704 a 1734, mas seu tamanho limitado
          logo impossibilitou um culto maior. Em 1751 foi elevada à condição de Igreja
          Paroquial. Em 1807 a Irmandade resolveu construir novo templo, haja vista o
          estado ruinoso do antigo. A 22 de dezembro de 1808 foi lançada a pedra
          fundamental com a presença do Príncipe D. João. A 10 de abril de 1824, o
          templo foi entregue ao culto ainda em obras, faltando o frontispício e a
          decoração interna.
                  O projeto geral da igreja foi realizado por Félix José de Souza, que
          iniciou a construção, substituído em 1814 por João da Silva Muniz, arquiteto da
          casa real, e que também projetou o Real Teatro São João, em estilo
          neoclássico, no Campo dos Ciganos (onde hoje está o teatro João Caetano); e
          a Igreja do Santíssimo Sacramento, na avenida Passos.
                  A igreja apresenta um risco clássico, com fachada ladeada por duas
          pesadas torres, sendo a nave única cercada por corredores encimados por
          tribunas, com sacristia transversal.
                  A talha interna, de estilo rococó tardio, foi executada pelo artista
          brasileiro Simeão José de Nazaré, aluno de Mestre Valentim. Foi iniciada em
          1824 e concluída em 1842. Em época posterior pintaram-na de branco.

                         JOÃO DA SILVA MONIZ - DADOS BIOGRÁFICOS
                 Arquiteto da Casa Real, veio com D. João para o Brasil em 1808, aqui
          exercendo seu ofício enquanto a Côrte permaneceu no Brasil. Remodelou a
          casa doada por Elias Antônio Lopes para receber o monarca e servir-lhe de
          moradia enquanto aqui permanecesse (1808-21); colocou o pórtico estilo
          Adam, na Quinta da Boa Vista (hoje entrada para o zoológico), doado pelo
          Duque de Northumberland à D. João (1810); realizou, em 1810, o plano do
          novo Real Teatro São João, no Campo dos Ciganos, cuja obra dirigiu (1810-
          13), hoje no local está o Teatro João Caetano; em 1814, fez o projeto para a
          nova Igreja de São José, ao lado da Cadeia Velha, que sugeriu ser mais larga
          que a anterior, o que foi aprovado e cuja obra dirigiu pessoalmente (1814-21);
          em fevereiro de 1816, fez o projeto da Igreja do Santíssimo Sacramento, com
          cinco altares, na rua da Lampadosa, atual avenida Passos, tendo igualmente
          dirigido os trabalhos (1816-21). Em agosto do mesmo ano, foi a São João Del
          Rei, opinar sobre o frontispício da Igreja do Carmo, cuja obra estava parada há
          muito tempo. Sugeriu que se demolisse o já construído e que se erguesse novo
          frontispício, segundo um outro plano, sugestão que foi seguida. No ano
          seguinte, em 1817, construiu a Varanda da Coroação, defronte ao Convento do
          Carmo, no Largo do Paço, que serviu não só ao fim original, como também à
          cerimônia de casamento de D. Pedro com a Princesa Leopoldina. Em 1821,
          jurou a nova Constituição de Portugal na qualidade de Primeiro Arquiteto dos
          Paços Reais.
                 Voltou à Portugal com a Côrte no mesmo ano, nada mais se sabendo de
          suas atividades por lá.

                      SIMEÃO JOSÉ DE NAZARÉ - DADOS BIOGRÁFICOS
                Escultor e entalhador. Nasceu no Rio de Janeiro em c. 1775, sendo
          batizado na Igreja da Candelária. Era filho de uma escrava com um boticário
          português, que no fim da vida tomou ordens sacras. Em c. 1795, seguiu


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carreira de miliciano, assim permanecendo até 1801. Enviado para a oficina de
          Mestre Valentim, foi ironizado por este, retirando-se. Matriculou-se numa aula
          de música. A pedido de Valentim, retornou ao atelier do mestre, formando-se
          escultor. Praticava um estilo de talha tendente para o neoclássico, simples,
          limpa de ornatos e bem acabada. Ornou de talha a Igreja Paroquial da Vila de
          São João Marcos (destruída em 1941) e, no Rio de Janeiro, da Igreja de São
          José (1824-42).
                 Faleceu no Rio de Janeiro em setembro de 1858, sendo enterrado no
          cemitério de São Francisco Xavier.

               A ORIGEM DA CÂMARA DE VEREADORES DO RIO DE JANEIRO.
                 A primeira eleição para escolha de vereadores do Rio de Janeiro deu-se
          em dezembro de 1567, dois anos e nove meses após a fundação da cidade por
          Estácio de Sá.
                 Votavam todos os homens da cidade, adultos, com residência fixa e
          sem passado criminoso.
                 Curiosamente, escolhiam-se não os vereadores, mas sim doze eleitores,
          os quais, por sua vez, votavam em doze candidatos que não podiam ser
          parentes ou sócios dos eleitores. Os eleitos tinham seus nomes escritos em
          grupos de quatro em respectivas cédulas de couro envolvidas em cera,
          chamadas ”pelouros”, e postas dentro de um saco, donde uma criança
          sorteava uma delas, que era a dos vereadores sufragados.
                 O mais velho era o Presidente da Câmara e Juiz Ordinário da Cidade, os
          dois do meio eram os vereadores e o último era o Procurador da Câmara. O
          mandato era de um ano, quando então procedia-se a outro sorteio que definia
          a chapa do ano seguinte.
                 Os antigos vereadores passavam a servir como Juízes Almotacés, que
          eram os fiscais da Câmara. Os vereadores recebiam salário em cera, para
          fazer velas, e os Juízes Almotacés tinham direito a receber línguas de bois
          abatidos aos sábados. Só e nada mais. A sede da Câmara ficava num sobrado
          no Morro do Castelo, onde no térreo funcionava a cadeia, ficando os
          vereadores no andar superior.
                 O povo já naquela época dizia que “quem rouba pouco é ladrão, quem
          rouba muito é barão...” .
                 Outra ironia é que o primeiro funcionário da Câmara foi o Procurador
          João de Prosse, nomeado por Estácio de Sá em julho de 1565, dois anos e
          meio antes da primeira eleição, tendo ficado todo esse tempo recebendo sem
          trabalhar.
                 Um autêntico funcionário-fantasma!
                 Ufa, ainda bem que isso é o passado...

               PALÁCIO TIRADENTES - ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA ESTADUAL
                Quando Mem de Sá, terceiro Governador Geral do Brasil, transferiu a
          cidade do Rio de Janeiro do morro Cara-de-Cão para o do Castelo, ordenou a
          construção da primeira sede da Câmara de Vereadores no novo sítio. Era um
          sobrado, o primeiro da cidade, tendo no térreo a cadeia e no andar superior a
          vereança. Logo esta casa, construída em taipa e pouco sólida, apresentou
          problemas estruturais e uma série de reparos passaram a ser executados, sem
          que fossem capazes de impedir a ruína do prédio. Começou, então, a formar-



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se no seio dos vereadores a idéia da transferência da casa para a várzea, até
          porque as principais autoridades da cidade para lá haviam se transferido.
                 Em 1619 solicitou a Câmara de Vereadores um terreno ao lado da
          capela de São José. Tendo-o obtido, fizeram uma nova casa da câmara, térrea,
          e no mesmo ano para ela se transferiram. Erguida com material pouco sólido,
          sofreu inúmeras reconstruções e, por muito tempo, suas paredes foram
          seguras por pontaletes de madeira. Cem anos depois, teve-se início a uma
          construção mais sólida com projeto vindo de Portugal, um sobrado em pedra-e-
          cal, cujas obras arrastaram-se por muitos anos, finalmente concluídas pelo
          engenheiro militar José Fernandes Pinto Alpoim em 1751. No térreo funcionava
          a cadeia pública e açougue da cidade, ficando a vereança e tribunal ordinário
          no andar superior.
                 Seis anos depois, a câmara, agora elevada à “Senado da Câmara”,
          mudou-se para nova sede ao lado do “Arco do Telles”, no Largo do Paço, onde
          hoje está a “Tabacaria Africana” donde retornou em julho de 1790 após um
          incêndio criminoso naquela casa. Foi esta a cadeia que serviu de menagem
          aos personagens da “Conjuração Mineira”, onde todos foram reunidos entre 20
          e 21 de abril de 1792. Dela saiu neste último dia o Alferes Joaquim José da
          Silva Xavier, o “Tiradentes” (1746-92) para a fôrca, no Campo de São
          Domingos.
                 Com a chegada da Família Real, em 1808, são os presos e a câmara
          desalojados para serem ali acomodados membros menores da nobreza e
          serviçais do Rei. Os detentos passam para o prédio do Aljube, antiga prisão
          eclesiástica, na rua do Aljube (hoje rua Acre). Os vereadores vão inicialmente
          para um sobrado na rua Direita, ao lado do “Estanco do Tabaco” (quase na
          esquina de rua do Ouvidor), mudando-se logo depois para uma casa na rua do
          Rosário e, finalmente, para a própria Igreja do Rosário, donde só saíram em
          1825, já três anos depois da Independência, para sede própria levantada no
          Campo de Santana.
                 Após a partida da Família Real, o prédio da velha “câmara-e-cadeia” foi
          convertida na sede da primeira Assembléia Nacional Constituinte, em 1823,
          tendo sido palco dos dramáticos episódios de novembro daquele ano, quando
          o jovem Imperador D. Pedro I mandou fechá-la sob ameaça de canhões.
          Funcionou dali por diante como Câmara de Deputados, sendo reformada
          muitas vezes, algumas já sob ameaça de desabamento. Durante todo o
          Império e princípios da República ali brilharam grandes homens cuja história
          enumera, em lista não pequena. De José Bonifácio, Antônio Carlos, Martim
          Francisco, até Afonso Arinos, Carlos Lacerda e Getúlio Vargas, nomes que
          fizeram a história do país nos últimos duzentos anos.
                 Continuou assim a ser usada na República, até que em 1920, já
          necessitando de inúmeros reparos, resolveu o Presidente da Câmara, Dr.
          Arnolfo de Azevedo, sua demolição e construção de novo edifício. Fez o projeto
          do novo edifício, batizado de “Palácio Tiradentes”, os arquitetos Archimedes
          Memória e Francisque Couchet, que se inspiraram no Grand Palais de Paris.
          Dum rebuscado ecletismo, onde não faltaram detalhes exóticos, como a
          imagem do Marechal Deodoro vestido à Romana, numa escultura do
          frontispício, bem como uma profusão de detalhes com “Fasces”, que eram
          pequenos troncos amarrados a um machado, utilizados de forma decorativa em
          vários elementos da fachada. Era no passado remoto o símbolo do Senado



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Romano, infelizmente convertido pelos radicais italianos em símbolo da
          ideologia “Fascista” depois de 1922.
                 Quando foi inaugurado, em 1926, foi igualmente descerrada a imagem
          de Tiradentes, em bronze, colocado à frente do palácio, escultura de Francisco
          de Andrade, e que foi alvo de reparos à época, pois representava o Alferes Mór
          do Brasil muito velho, vestindo uma túnica de condenado que lembrava
          desagradavelmente uma camisola de dormir. Representava-o, igualmente,
          barbado e cabeludo, atributos pilosos que à época, já se sabia que Tiradentes
          nunca os tivera.
                 Fechado o Palácio pela Revolução de 1930, reabriu suas portas três
          anos depois para sediar a segunda Assembléia Nacional Constituinte da
          República, que elaborou nova e moderna constituição ano seguinte, bem como
          nela empossou o Presidente eleito pelo Congresso, Getúlio Vargas. Em 1937,
          seria novamente o Tiradentes fechado, agora devido ao golpe de 10 de
          novembro, que instaurou no Brasil a ditadura do Estado Novo. Ironicamente, tal
          governo foi instaurado pelo próprio Vargas, que agora assumia-se um ditador.
          Por oito anos o prédio sediou o temível “DIP”, Departamento de Informação e
          Propaganda, órgão de censura da imprensa. Foi também o palácio utilizado
          para congressos e cerimônias cívicas. Com a redemocratização do país em
          1945, nele deu-se a posse do novo Presidente José Linhares, bem como
          sediou nova Assembléia Constituinte no ano seguinte, funcionando
          normalmente como Câmara dos Deputados Federais até a transferência da
          capital federal para Brasília, em 1960.
                 De 1960 a 1975, funcionou o Palácio Tiradentes como sede da Câmara
          de Deputados do Estado da Guanabara, alternando-se nessa função, algumas
          vezes, com o Palácio Pedro Ernesto, antiga Câmara de Vereadores, na Praça
          Marechal Floriano, que possuía instalações mais amplas para os escritórios
          dos Deputados guanabarinos.
                 Com a fusão dos estados da Guanabara e Rio de Janeiro, em 1975,
          passou a sediar a ALERJ, Assembléia Legislativa Estadual do Rio de Janeiro,
          atualmente em sua sexta legislatura. Na mesma ocasião, reconstruiu-se o
          prédio existente nos fundos, antigo edifício do Ministério da Viação e Obras
          Públicas, para funcionar como anexo da Assembléia e escritório de trabalho
          dos Deputados.
                 Hoje, no Palácio Tiradentes, além de suas funções legislativas normais,
          funciona um pequeno museu, contando as peripécias do Poder Legislativo no
          Brasil em cinco séculos de história.

                        ARCHIMEDES MEMÓRIA - DADOS BIOGRÁFICOS
                 Arquiteto, construtor e professor, um dos maiores expoentes
          profissionais do ecletismo arquitetônico. Nasceu no Rio de Janeiro em 1895,
          tendo estudado arquitetura na Escola Nacional de Belas Artes. Começou
          trabalhando com Heitor de Mello, cujo escritório assumiu, após a morte do
          mestre em 1920. Sua primeira obra foi a construção do Palácio Pedro Ernesto,
          na Cinelândia (1920-23), sob projeto de Heitor de Mello. Seguiram-se
          encomendas importantes: Palácio Tiradentes, no Centro (1920-26); Palácio da
          Grandes Indústrias, que era uma reforma da antiga Casa do Trem, no Castelo
          (1921-22); Cassino Beira Mar, no Passeio Público (1921-22, demolido); Fórum
          do Rio (1921, não construído); Balneário e Cassino da Urca (1921-22); Jóquei
          Clube, na Lagoa (1921-26); Igreja de Nossa Senhora da Lampadosa, na av.


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Passos (1922-26); Ampliação da Caixa Econômica, na rua Dom Manuel (1926);
          Sede Social do Botafogo, na rua General Severiano (1928); Vitrais do altar-mór
          da Igreja da Candelária (1929); Escadaria do hall do Museu Nacional de Belas
          Artes (1931); Igreja de Santa Terezinha, no Túnel Novo (1931-34); Capela da
          Usina Salgado, em Pernambuco (1935); decoração interna da Embaixada
          Britânica, hoje Palácio da Cidade, na rua São Clemente (1944-46); e muitos
          outros projetos, infelizmente vários já demolidos. Archimedes foi professor da
          cátedra de Composição de Arquitetura na Escola Nacional de Belas Artes,
          onde formou inúmeros profissionais de talento. Após ver seu projeto vencedor
          do novo Ministério da Educação (1935-36), preterido pelo de Lúcio Costa, seu
          rival, abandonou os concursos de arquitetura dedicando-se ao magistério.
          Memória atravessou várias fases da arquitetura brasileira neste século.
          Começou praticando um ecletismo classicizante, evoluiu para o neocolonial,
          onde foi mestre, e, em fins de carreira, abraçou o art-déco, buscando uma
          linguagem mais atual para a arquitetura.
                  Faleceu em 1960.

                       CARLOS CHAMBELLAND - DADOS BIOGRÁFICOS
                 Pintor impressionista e designer. Nasceu no Rio de Janeiro em 1884,
          irmão de Rodolfo Chambelland, também grande pintor. Formado pela Escola
          Nacional de Belas Artes. Trabalhou muito no Recife, onde executou trabalhos
          na Igreja da Graça e no Colégio da Estância. Expôs no Salão Nacional e no
          Salão Paulista de Belas Artes, em ambos com estrondoso sucesso. No Rio de
          Janeiro, fez as decorações murais das salas nobres do Palácio Pedro Ernesto,
          bem como um vitral decorativo, junto com o irmão Rodolfo (1923). A convite do
          deputado Arnolfo de Azevedo, fez a decoração interna do Palácio Tiradentes
          (1925-26), decorando o plenário com um grande vitral e painéis murais de
          cunho patriótico.
                 Faleceu no Rio de Janeiro em 1950.

                         FRANCISCO ANDRADE – DADOS BIOGRÁFICOS
                 Não se sabe muita coisa desse escultor, nascido no Brasil em c. 1900.
          Estudou escultura com José Otávio Correia Lima na antiga Escola Nacional de
          Belas Artes. Recebeu o prêmio de viagem ao estrangeiro no Salão Nacional de
          Belas Artes de 1920, com um gesso retratando o arquiteto Francisco dos
          Santos, bem como a pequena medalha de prata no Salão Paulista de Belas
          Artes de 1938. Figura no Museu Nacional de Belas Artes com o trabalho
          “Cabeça de Menina”. São de sua autoria a estátua de Tiradentes (1926), em
          frente à ALERJ e as hermas de Luiz Paixão (1934) e Lima Barreto (1931),
          ambas na Ilha do Governador. No Palácio Pedro Ernesto, existem de sua
          autoria os bustos de Benjamin Constant e José Bonifácio.
                 Já é falecido.

                              ESTAÇÃO DAS BARCAS - PRAÇA XV
                 O primeiro serviço regular de navegação à vapor entre a Côrte e a
          Província do Rio de Janeiro, data de 14 de outubro de 1835, quando
          começaram a funcionar três barcas inglesas, da Companhia de Navegação de
          Niterói. Trafegavam de hora em hora, das 06:00h da manhã às 18:00h, e
          faziam a travessia em trinta minutos. Até então, o percurso era feito em botes,
          faluas e saveiros, durando a viagem mais de duas horas.


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Seguiu-se a Companhia de Navegação de Niterói a das Barcas Ferry,
          cujo serviço foi solenemente inaugurado numa manhã de domingo, 29 de junho
          de 1862. Começou com três barcas norte-americanas, com rodas e capacidade
          para 300 passageiros. A Companhia Ferry ergueu então uma bonita estação
          em estilo neoclássico no Largo do Paço, inaugurada em 1862 por D. Pedro II.
                 Correram os anos e, em 1o. de outubro de 1889, com a fusão da
          Companhia das Barcas Ferry e a Empresa de Obras Públicas no Brasil,
          organizou-se a Companhia Cantareira e Viação Fluminense. De 1903 a 1908,
          quando a administração passou para o dinâmico Visconde de Moraes, realizou
          a Cantareira grandes melhoramentos, dentre eles, a compra de novas barcas,
          renovação dos cais e reconstrução das estações da Praça XV e Praça Martim
          Afonso (Niterói). A da Praça XV aproveitou-se o arcabouço da velha estação
          das barcas Ferry, tendo o arquiteto Adolpho José Dell Vecchio, que projetou
          anos antes o palacete da Ilha Fiscal, refeito a fachada em estilo eclético, com
          vistosa cúpula bulbosa e pavilhões anexos no mesmo estilo. Foi inaugurada em
          1911, tornando-se logo ponto de referência na Praça.
                 Por duas vezes as estações da Praça XV e Praça Martim Afonso foram
          duramente depredadas. A primeira, em 1925, quando se aumentou as
          passagens em dezembro. Ambos os prédios foram vandalizados pela turba
          enfurecida, bem como as barcas, que foram destruídas. A segunda foi pior. A
          Companhia Cantareira fechou as portas em meados da década de 50, sendo
          os serviços de transportes marítimos arrendados aos “Irmãos Carreteiro”, de
          Niterói. O serviço caiu muito e as barcas atrasavam, num dia de muito atraso,
          em 1959, o povo raivoso incendiou a estação Niterói e destruiu todo o interior
          da estação Praça XV. Várias barcas foram igualmente incendiadas e
          afundadas. A estação de Niterói acabou ficando irrecuperável e foi demolida.
                 Algum tempo depois, em 1960, foram os serviços assumidos pelo
          Estado da Guanabara, tendo sido em 1975, após a fusão, fundada a CONERJ -
          Companhia de Navegação do Estado do Rio de Janeiro, que até hoje mantém
          os serviços com regularidade. A estação da Praça XV, antiga Estação da
          Companhia Cantareira, foi tombada pela municipalidade e recentemente
          restaurada.

                    MONUMENTO À D. JOÃO VI - CAIS PHAROUX - PRAÇA XV
                  Num pedestal de granito retangular, sob base de cimento armado,
          olhando para o mar, eleva-se a estátua eqüestre de D. João VI, tendo na mão
          direita a esfera armilar, símbolo da monarquia portuguesa, É de autoria do
          escultor Professor B. Feyo, fundida em bronze na oficina de José Guedes, em
          Vila Nova de Gaia, Portugal. Foi oferta do Governo Português às
          comemorações do IV Centenário da Cidade em 1965. Foi inaugurada naquele
          lugar pelo Governador Carlos Lacerda, como lembrança do desembarque da
          Família Real naquele sítio em 08 de março de 1808.

                                  JOÃO VI - DADOS BIOGRÁFICOS
                João Maria José Francisco Xavier de Paula Luís Antônio Domingos
          Rafael, nasceu em Lisboa, a 13 de maio de 1767, segundo filho da Rainha D.
          Maria I, a “louca”, e de D. Pedro III, seu tio e marido. D. João VI, 27o. Rei de
          Portugal, exerceu a regência desde 1792 até 1816, quando faleceu sua mãe.
          Reinou apenas dez anos. Foi, inicialmente, destinado à carreira eclesiástica,
          mas em menos de dois anos, morreu-lhe o irmão mais velho, D. José II; e o


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pai, ambos de bexigas. Casou-se contra a vontade, em 1775, com a princesa
          Carlota Joaquina, filha do Rei Carlos V de Espanha, união que lhe traria mais
          dissabores que todos os outros problemas. A má esposa sempre o detestou e
          logo começou a conspirar contra ele. Como se fosse pouco, ainda em 1789 sua
          mãe perdia a razão para nunca mais recuperá-la. Enfrentou a crise política que
          envolveu Portugal, oriunda da expansão do Império de Napoleão pela
          Península Ibérica (1806-07), fugindo para o Brasil junto com sua côrte, em
          novembro de 1807 para não ser aprisionado pelos franceses.
                  Chegou à Bahia, em 20 de janeiro de 1808. Logo ao chegar, seu
          primeiro cuidado foi o de dar maior expansão à Colônia. Insinuado pelo
          Visconde de Cairu, brasileiro insigne e ardoroso patriota, decretou a liberdade
          do comércio e navegação, assinando logo a 28 de janeiro de 1808, a abertura
          dos portos às nações amigas. Percebendo que Salvador não possuía mais
          condições de sediar uma côrte, demandou-se para o Rio de Janeiro, onde
          desembarcou no Largo do Paço em 08 de março de 1808. Sua primeira
          preocupação foi a de acomodar a côrte, formada por quase quinhentos áulicos,
          o que teve de fazer invocando a triste lei das aposentadorias, dando aos
          nobres o direito de tomar as residências particulares, o que causou grande
          descontentamento popular. D. João, logo ao desembarcar, recebeu a dádiva da
          Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, acomodando sua mãe no antigo
          Convento do Carmo.
                  Precisando dotar o Rio de Janeiro de uma infra-estrutura capaz de
          sediar a capital de seu reino, efetuou realizações com o escopo de promover o
          progresso da colônia, entre elas: a fundação do Banco do Brasil (1808); da
          Imprensa Régia (1808); Fábrica de Pólvora da Lagoa (1808); Real Horto
          Botânico (1808); Intendência Geral de Polícia (1809); Real Biblioteca (1810);
          Real Academia Militar (1810); Escola Anatômica de Cirurgia Médica (1811);
          Real Academia dos Guardas-Marinha (1811); Real Academia de Artes e
          Ofícios (1816); Museu Real (1818); Praça do Comércio (1819); e outras úteis
          instituições. Assinou a primeira lei destinada a acabar com o tráfico de
          escravos no nosso território (1810); e foi o primeiro a estimular a imigração
          para o campo, com a vinda de colonos suíços (1818). Tal foi o impulso
          imprimido ao Brasil que a 26 de dezembro de 1815, foi ele elevado à categoria
          de Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.
                  O maior benefício que a presença de D. João legou ao nosso país foi,
          sem sombra de dúvidas, a unidade nacional. Não fosse sua presença entre
          nós, com certeza teria acontecido à nossa terra o que ocorreu com nossos
          vizinhos de colonização espanhola. Quatro Vice-Reinados transformaram-se
          em vinte pequenos países, quase sempre envolvidos em guerras fratricidas e
          disputas fronteiriças. Seu reinado manteve o Brasil unido, que permitiu que a
          grandeza territorial de nosso país não se fracionasse em estados estéreis.
                  Apesar da oposição de sua mulher, que sempre trabalhou contra ele e
          que nos detestava fidagalmente, D. João daqui só se afastou compelido pelo
          movimento constitucionalista do Pôrto (1820). Em abril de 1821 seguiu para
          Portugal, aqui deixando como regente seu filho D. Pedro I.
                  Chegando a Lisboa, jurou a nova Constituição, mas sua mulher D.
          Carlota Joaquina se recusou a tal e por isso foi exilada com seu filho D. Miguel.
          Promoveram os dois uma contra-revolução com fulcro em Vila Franca de Xira,
          a “Vilafrancada”, que restabeleceu o absolutismo. Em abril de 1824, o
          movimento denominado “Abrilada” obrigou D. João VI a se recolher a bordo de


                                                                                        20
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uma nau inglesa. Restaurado no poder, foi D. Carlota internada e D. Miguel
          exilado no estrangeiro. O dissabor sofrido com a ingratidão do filho D. Miguel e
          a revolta da mulher D. Carlota, abalou profundamente o monarca, nunca mais
          recuperando seu bom humor. Um ano depois, a 29 de agosto de 1825, D. João
          reconheceu a Independência do Brasil.
          Após um jantar, D. João passou mal e morreu subitamente a 10 de março de
          1826. A moderna ciência, examinando seus restos mortais conservados em
          álcool, encontrou vestígios de arsênico em dose suficiente o bastante para
          matar um “elefante”. D. Carlota Joaquina, a possível mandante de tal atentado,
          não saboreou o sucesso. Enlouqueceu como a sogra, suicidando-se tomando
          veneno em 1830, aos 55 anos. Dizem, que de uma dose cavalar de “arsênico”.

            IGREJA E CONVENTO DO CARMO, RUA PRIMEIRO DE MARÇO, PÇA. XV
                  Uma capela dedicada à Nossa Senhora da Expectação e do Parto foi
          erguida em 1570 na rua Direita por uma devota em cumprimento de uma
          promessa. Como a invocação era de difícil pronúncia pela população humilde,
          era conhecida como capela de “Nossa Senhora do Ó”, devido à oração de
          invocação desta santa iniciar com esta interjeição (Ó Virgem Maria! Ó Mãe de
          Deus!).
                  Em 1589, foi esta capela doada pela Câmara aos frades carmelitas, que
          alteraram sua invocação para a Virgem do Carmelo. Em 1611 obtiveram um
          terreno do lado esquerdo do templo, onde em 1619 iniciaram a construção de
          um convento, com pedras tiradas da Ilha das Enxadas. No século XVII o templo
          arruinou e foi reconstruído, mas mesmo assim ainda era uma pequena capela.
          O convento, ao lado era em sobrado e foi ampliado na mesma época. Assim
          ficaram estabelecidos os carmelitas até o século XVIII.
                  O belo templo barroco atual foi iniciado em 1761, sob provável risco de
          Mestre Manoel Alves Setúbal, que ergueu a Igreja dos Terceiros, logo ao lado.
          A fonte de inspiração foi o Convento do Carmo do Pôrto, Portugal, com o qual
          revela afinidades estilísticas. Quando da chegada do Príncipe D. João, em
          1808, só estava pronto o Convento, tendo a igreja de ser completada às
          pressas com um frontispício de madeira, haja vista ter o Príncipe tê-la
          convertido em Capela Real por ser a mais próxima do Paço. O convento ao
          lado foi desocupado pelos frades, nele se instalando a Rainha D. Maria I, a
          “Louca”, o Real Gabinete de Física e, no térreo, a Real Ucharia, que era o
          depósito do Palácio. Nos fundos, numa ala pertencente aos Irmãos Terceiros
          do Carmo, onde fôra um hospital, foi instalada em 1810 a Real Biblioteca, com
          livros recuperados da Biblioteca do Infantado e da Real Biblioteca da Ajuda. O
          convento foi ligado ao Paço por um passadiço.
                  Internamente, os sete altares e as duas capelas da igreja foram iniciados
          em 1785 por Mestre Inácio Ferreira Pinto. O conjunto, de decór rococó, mostra
          grande unidade de estilo, que prova ter sido a execução realizada segundo um
          projeto de conjunto. O arco cruzeiro é encimado por um magnífico ornato
          recortado. A ornamentação da nave é dividida por pilastras de estilo coríntio, o
          mesmo se dando mais tarde na igreja vizinha dos Terceiros. Pinturas ovais de
          José Leandro de Carvalho, representando os doze apóstolos, são distribuídas
          pela nave, entremeando as tribunas.
                  Durante o reinado de D. Pedro I foi completado o frontispício, segundo o
          projeto do engenheiro-arquiteto Pedro Alexandre Cavroé. Êste era
          interessante, pois como o da Cruz dos Militares, mostrava, sob influência


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clássica, a volta às formas das igrejas romanas da época de Vignola.
          Infelizmente, foi a fachada substituída no século XX dando lugar a um
          frontispício descaracterizado, terminado em 1923. D. Pedro I igualmente
          concebeu que um dos pátios do Convento fosse convertido em Mausoléu
          Imperial, mas sua renúncia em 1831 fez abortar o projeto.
                  Em 1856 foi prolongada a antiga rua do Cano até a rua Direita, sendo a
          primeira rebatizada para Sete de Setembro. Sendo assim, foi feito um corte no
          Convento, que passou a ser ligado ao templo por outro passadiço, que foi
          demolido em 1890. Em 1888/1900 passou o templo por grandes obras.
          Reconstruiu-se toda a fachada que dava para a rua Sete de Setembro num
          estilo eclético, depois extendido à fachada principal. Em 1905, a pesada torre
          sineira foi demolida por ameaçar ruir, sendo erguida outra projetada pelo
          arquiteto italiano Raphael Rebecchi. Demoliu-se o pórtico da capela dos
          Passos, colocando em seu lugar duas janelas geminadas. As janelas foram
          ampliadas para acomodar vitrais. Essas obras foram inauguradas em 1900. Em
          1903, o Prefeito Francisco Pereira Passos mandou retirar o gradil do adro para
          alargar a rua Primeiro de Março (ex-rua Direita).
                  Internamente, foram feitas muitas alterações. Retirou-se uma pintura do
          altar-mór representando a Família Real, demoliu-se dois corredores laterais,
          aprofundando-se os seis altares laterais, para ampliar a nave. Refez-se a
          pintura da capela-mór e outras obras. Essa reforma foi ordenada pelo Ministro
          Antônio Ferreira Viana, incumbindo-se dos trabalhos o engenheiro Adolpho
          José Dell`Vecchio e o artista Thomaz Driendl.
                  Quanto ao Convento, igualmente não escapou de adulterações. Em
          1840 D. Pedro II nele instalou o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, que
          ali ficou até 1896. Em 1907 ganhou uma fachada eclética, projetada pelo
          arquiteto Henrique Fleiuss, removida pelo SPHAN em 1970, sendo recomposta
          em seus elementos originais. Ainda em 1896 foi nele instalada a Escola
          Técnica de Comércio, e, em época mais recente, a Universidade Cândido
          Mendes. Nos anos 80, foi construído no pátio do Convento um enorme prédio
          de escritórios, o Centro Empresarial Cândido Mendes, projetado por Harry
          Cole, que acabou desvirtuando toda a escala da praça e de seus monumentos.
                  A Igreja foi Capela Real de 1808 a 1822. Capela Imperial de 1822 a
          1889, Catedral Metropolitana, de 1889 a 1976. Sediou, à partir de 1894, a
          primeira Cátedra Cardinalícia da América Latina. Hoje é a Igreja de Nossa
          Senhora do Carmo da Antiga Sé. A Família Real e, depois a Imperial
          prestigiavam as procissões, particularmente a do Senhor dos Passos e a de
          São Sebastião, que eram, guardadas as devidas proporções, eventos mais
          carnavalescos que religiosos. Foi a única igreja nas Américas que serviu de
          palco da Sagração de um Rei, D. João, em fevereiro de 1818; e da Coroação
          de dois Imperadores, D. Pedro I, em dezembro de 1822 e D. Pedro II, em julho
          de 1841. Ali se batizaram e casaram todos príncipes de sangue real entre 1808
          e 1889. D. Pedro I confirmou nela seu casamento em 1817; bem como D.
          Pedro II, em 1843; tendo ali se casado a princesa Isabel com o Conde D`Eu,
          em 1863. Num corredor lateral da capela foram depositados em 1903, por
          iniciativa do Bacharel Alberto de Carvalho, parte dos restos mortais de Pedro
          Álvares Cabral, descobridor do Brasil, transladados de Portugal. Foram
          regentes da Capela Real, dentre outros, Padre José Maurício Nunes Garcia,
          nosso maior compositor sacro colonial; Marcos Portugal, maestro que veio com
          D. João em 1808; Sigismundo Neukomm, discípulo de Haidn, que veio com a


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Missão Artística Francesa, em 1816. Nesta igreja, começou como simples
          violinista, o futuro maestro Francisco Manuel da Silva, autor do Hino Nacional
          Brasileiro. À época de D. João VI, nela tinham coro os famosos “Castrati”,
          jovens emasculados para manter a voz aflautada.
                  Presentemente, está a igreja necessitando de grandes reparos, tendo
          sido elaborado um projeto de restauração integral, externa e internamente, que
          visa restituir ao templo suas características originais.

                                     O RAPTO DAS GALINHAS
                 O velho Convento do Carmo, hoje sede da Universidade Cândido
          Mendes, situado na Rua Primeiro de Março, entre as ruas da Assembléia e
          Sete de Setembro, é um dos mais veneráveis monumentos do Rio. Erguido
          pelos frades carmelitas aqui chegados em 1589, ficou concluído em 1619. No
          século XVIII, com o afluxo do ouro oriundo de Minas Gerais, foi totalmente
          reconstruído depois de 1761.
                 Entretanto, com a chegada da Côrte portuguesa ao Rio de Janeiro em
          março de 1808, o convento teve seu destino mudado.
                 O Príncipe D. João, se utilizando da lei das aposentadorias, a qual o
          facultava requisitar qualquer prédio da cidade para uso próprio, mandou
          desalojar os carmelitas ainda em março de 1808. Os frades acabaram indo
          para uma pequena igreja, no Largo da Lapa, onde ainda se encontram. No
          velho convento, D. João mandou alojar sua mãe, a Rainha D. Maria I, a louca.
          Como o espaço era generoso, D. Maria ainda dividiu o espaço do convento
          com o Real Gabinete de Física e, nos fundos, onde existia o Hospital da Ordem
          Terceira do Carmo, em prédio ainda existente, o Príncipe mandou ali instalar
          em 1810 a Real Biblioteca, reunindo os livros arrebanhados às bibliotecas da
          Ajuda e do Infantado, trazidos ao Brasil em grandes caixotes quando da fuga
          da Família Real.
                 Entretanto, foi no pavimento térreo onde se instalou a repartição mais
          polêmica daqueles tempos: a Real Ucharia.
                 Ucharia era o armazém de alimentos do Palácio Real. Era onde ficavam
          os secos e molhados, os animais e vegetais que abasteciam a real mesa de D.
          João. E, no caso dele, era uma mesa bem farta.
                 D. João se alimentava muito, e mal. Comia demais. Testemunhos de
          época relatam com minúcias as glutonarias do Príncipe. Ao acordar bem cedo,
          D. João fazia suas orações e logo depois realizava sua primeira refeição, o
          almoço (naquela época não se tomava café da manhã). Comia, sem talher
          algum, de quatro a seis frangos de leite assados, pequenos como pintos.
          Segurava-os com as mãos e deles só se separava quando restavam apenas
          ossos. Não havia acompanhamento nesse prato. Eram só os frangos. Algumas
          vezes, D. João também devorava algumas fatias de pão torrado com manteiga,
          que somente seu cozinheiro sabia fazer. Bebia apenas água da Ponta da
          Armação, em Niterói, a qual mandava buscar em grandes batelões. De
          sobremesa, laranjas da Bahia (as do Rio ele as julgava muito doces).
          No jantar, que era às 13:00h, os pratos eram quase idênticos, variando apenas
          em ocasiões solenes. Na ceia, às 18:00h, tomava canja de galinhas. Após essa
          refeição, D. João dormia a sono solto até o dia seguinte, quando a rotina
          alimentar se repetia.
                 Com essa péssima alimentação, mal balanceada e muito gordurosa, D.
          João sempre sofreu gravemente de problemas gastro-intestinais, os quais


                                                                                      23
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motivaram episódios cômicos ocorridos em público. Às vezes, por força das
          circunstâncias essa dieta variava, mas nunca faltavam os frangos, prato que
          ele apreciava com veneração.
                 Desnecessário dizer que a maior parte da Ucharia era o galinheiro, o
          qual ocupava todo o pátio do velho convento. Em 1817, quando D. João se
          tornou Rei, foi nomeado chefe da Real Ucharia seu barbeiro, Plácido Antônio
          Pereira de Abreu. Esse patife era um notório espertalhão e serviria com igual
          eficiência ao Imperador D. Pedro I, como barbeiro, secretário e alcoviteiro.
                 Com a nomeação de Plácido, a roubalheira na Ucharia atingiu níveis
          inimagináveis. Plácido fazia imensas requisições de alimentos a seus
          fornecedores. Às vezes, requisitava toda a produção de determinado gênero
          alimentício. Esses alimentos, comprados em quantidade muito além da
          necessária, eram sorrateiramente revendidos a particulares por altos preços.
                 Em 1819, por sugestão de Plácido, D. João requisitou que seus guardas
          recolhessem à Real Ucharia todos os frangos da cidade do Rio de Janeiro.
                 Todos, inclusive os dos hospitais!
                 Podiam os doentes ficar sem sua canja de galinha, mas o Rei não
          dispensava frango algum!
                 Claro, a roubalheira rendeu bons frutos, pois só era possível se obter
          galinhas pagando as propinas que Plácido arbitrava dos pobres cariocas. Sem
          imprensa nem justiça para defender o povo, este apenas protestava nas
          esquinas e tabernas. A coisa ficou assim até que um dia de novembro de 1819
          um grupo de cidadãos tomou coragem e enviou uma carta de protesto ao Rei,
          carta esta que se encontra na seção de manuscritos da Biblioteca Nacional e
          que vale a pena ser aqui reproduzida em seu trecho inicial, bem pitoresco:
                 “Dizem os moradores desta cidade, que eles, suplicantes, se vem na
          maior consternação possível pela falta de galinhas e mais criação de penas
          para o socorro dos enfermos particulares, pois por dinheiro algum as podem
          encontrar senão em mão do Galinheiro da Real Ucharia.”
                 “Os habitantes desta Côrte, Real Senhor, são contentes, com a maior
          satisfação, que a Real Ucharia tenha a preferência com a maior abundância
          possível, mas não que o Galinheiro, a título dela, faça os maiores insultos
          possíveis, que é andar com atravessadores pelos recôncavos desta cidade
          tomando e apreendendo toda a criação a título de contrato, e não satisfeito
          com estes insultos, passa o suplicado em pessoa a andar pelo mar,
          embarcado, revistando quantos barcos navegam para a Côrte a fim de as
          tomar pois todas chegam embargadas e nenhuma se vende para as
          necessidades das ditas moléstias por mais diligência que façam os suplicantes
          a concorrerem às praças na sua procura.”
                 As mesas fartas demais geram fatalmente o desespero em torno das
          mesas vazias...
                 Não precisamos dizer que o Rei não respondeu à petição e esta foi parar
          no limbo da burocracia joanina. A roubalheira da Real Ucharia continuou até
          abril de 1821, quando D. João retornou à Portugal e o Príncipe D. Pedro
          desativou aquela repartição, não sem antes nomear Plácido como seu Valete-
          de-Chambre. Depois seria Comendador e acabaria casando com a filha do
          Marquês de Inhambupe, Ministro da Fazenda.
                 Naqueles tempos, a roubalheira do governo ficava impune e o povo era
          quem pagava a conta...



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História da Praça XV de Novembro e origens do bairro da Saúde no Rio de Janeiro

  • 1. APOSTILA ANDANDO PELO RIO – PRAÇA QUINZE DE NOVEMBRO E ARREDORES ORIGENS DA PRAÇA XV DE NOVEMBRO No remoto ano de 1567 surgia a primeira rua da cidade: a Ladeira da Sé. Com efeito, não poderia ser outra coisa que não a ladeira que descia da Matriz de São Sebastião, no alto do Morro do Castelo, até a várzea, onde existia um fortim de terra. Em março de 1583, na sua base, o Padre José de Anchieta inaugurou a Santa Casa de Misericórdia, para atender aos doentes da esquadra espanhola de Diogo Flores Baldez, que aportou ao Rio de Janeiro com peste a bordo. Devido ao hospital, o povo crismou esse primeiro logradouro de “Ladeira da Misericórdia”, existindo até hoje pequena porção dela, atrás do prédio do Museu Histórico Nacional. A “Ladeira da Misericórdia” emendava com a rua da “Misericórdia”, que existiu até idos de 1960. Terminava exatamente onde hoje está o prédio do Palácio Tiradentes. Provavelmente, no mesmo ano de 1567, essa rua era prolongada até um morrote lindeiro, que fora doado em sesmaria ao português Manuel de Brito Pereira (ou de Lacerda), dono de muitas casas na cidade e que, com certeza, concorreu financeiramente para a extensão dessa rua que, em última análise, valorizava suas terras. Teve vários nomes: “Caminho da Piaçava”, “Caminho da Praia Arqueada”, rua de “Manuel de Brito”, rua “Direita” e, desde 1870, rua Primeiro de Março, em homenagem ao término da Guerra do Paraguai, ocorrida aquele ano. Antes de 1570, uma devota ergueu na rua Direita a capelinha dedicada a Nossa Senhora da Expectação e do Parto, e que o povo a crismou, por antonomásia, de Nossa Senhora do Ó, por não conseguir pronunciar com facilidade essa invocação da Virgem. Afirma-se, que pelo motivo da ladainha iniciar com a evocação “Ó Virgem Maria...”, passou a assim ser conhecida. Era a santa predileta das mulheres de então, que lhe dirigiam súplicas por um bom parto. Em 1589 essa capela foi doada aos frades carmelitas, chegados dez anos antes e que até então não possuíam pouso fixo. Mudaram a invocação da santa para Nossa Senhora do Carmo e trinta anos depois, em 1619, iniciariam seu convento, ao lado. Quanto à capela, foi reconstruída ao menos duas vezes, datando o templo atual de 1761, mais ou menos da mesma época em que ficou pronto o convento. Os frades seriam desalojados em 1808 por ordem do Príncipe D. João, que alojou no convento sua mãe, a Rainha D. Maria I, a louca; o Real Gabinete de Física, a Real Ucharia (no térreo) e a Real Biblioteca (nos fundos). A capela do convento foi convertida em Capela Real. Nela D. João seria sagrado em 1818 e seu filho e neto coroados, respectivamente em 1822 e 1841. Fronteiro a esse templo surgiu um pequeno adro, muito ampliado por aterros e pelo assoreamento da baía, haja vista que a vegetação ciliar dos rios foi a primeira coisa destruída pelos colonizadores. Se, ainda em fins do século XVI, uma baleia encalhou na rua “Direita”, já em 1605 existia terreno suficiente do lado do mar para o Governador Salvador de Sá levantar um fortim, o “Forte da Cruz”, provavelmente a primeira construção do lado da baía e, com certeza, igualmente a primeira da rua do Ouvidor (que naquela época tinha outros nomes, como por ex.: “Desvio do Mar”, rua de “Aleixo Manuel”, rua do “Gadelha”, e rua da “Cruz”. O atual nome “Ouvidor” data de 1780.). Esse forte nunca funcionou, sendo doado em 1623 a uma irmandade de militares, que em 1 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com
  • 2. seus horários de folga ergueram nele uma capela, inaugurada em 1628, e que deu origem à bela igreja da Santa Cruz dos Militares, cujo templo atual data de 1777/1811. Já em 1605 existem referências documentais ao “Terreiro do Carmo”, primeiro nome da futura Praça XV de Novembro, e que à época era um dos desembarcadouros de mercadorias da cidade. Provavelmente, nesta época, existiam muitas casas na rua Direita e, com certeza, mais uma capela do lado do mar, a de São José. Não se sabe por quem e quando foi fundada, mas, já existia em 1640, pois nesse ano foi reconstruída. O templo atual foi iniciado em 1808 e terminado apenas em 1842. Ao seu lado, surgiu em 1619 o casarão da “Câmara Municipal e da Cadeia”, inicialmente uma casa térrea de taipa. Seria depois reconstruída como sobrado no século XVIII e dela saiu para a glória o protomártir da Inconfidência, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, enforcado no Campo de São Domingos num sábado de sol, a 21 de abril de 1792. Após a Independência, foi a cadeia velha utilizada como “Câmara dos Deputados” em 1822. Noventa e oito anos depois foi demolida para ali ser erguido o Palácio Tiradentes, atualmente sede do Poder Legislativo Estadual. Voltando ao século XVII. Com a ida dos vereadores para a várzea do “Largo do Carmo”, mudou então o eixo do poder na Capitania, indo o legislativo municipal para um logradouro cuja importância não parava de crescer. Por esta época foi erguido em um de seus cantos o pelourinho ou “polé”, poste de alvenaria com o símbolo da municipalidade, dando origem ao segundo nome do logradouro: “Largo da Polé”. A praça daí por diante não pararia mais de crescer em importância, sediando o poder até 1889, quando a República relegou estes marcos a um ostracismo completo. Ainda em meados do século XVII, existiam algumas casas no lado esquerdo da praça, que eram alugadas pelos carmelitas a terceiros. Pouco depois, os próprios vereadores sugeriram ocupar a praça com casas de aluguel, com o fito de serem alugadas, por pura coincidência, é claro, a parentes dos ditos vereadores. O projeto foi vetado pelo Rei Pedro II de Portugal. Diga-se o que for, mas, por pouco a praça deixou de existir! Já para fins do século XVII, as tais casas dos frades carmelitas foram adquiridas pelo governo que as demoliu e construiu em seu local o armazém do sal, bem como o de açúcar. Em 1698, juntou-se a eles a “Casa da Moeda”, vinda da Bahia e agora importante no Rio de Janeiro, haja vista que nove anos antes o bandeirante Antônio Dias descobriu imensas jazidas de ouro em Minas Gerais, originando uma corrida pelo rico metal e transformando o Rio de Janeiro de antigo entreposto comercial em pôrto de escoamento do ouro mineiro. É sobre estas construções que se erguerá o edifício do Paço Imperial, primeira sede do executivo no Largo da Polé. Desde 1643 possuíam os governadores uma casa na rua Direita para o exercício de seus mandatos, casa esta comprada pelo Rei D. João IV para abrigar o Governador Luís Barbalho Bezerra, que faleceu antes de ocupá-la. Serviu como casa de govêrno por cem anos. Em 1733, assume o governo da Capitania e parte sul do Brasil o General Gomes Freire de Andrade, Conde de Bobadela. Achando- se mal instalado, enviou correspondência ao Rei D. João V de Portugal no sentido de obter outro lugar para o executivo da Capitania. 2 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com
  • 3. Tendo conseguido resposta positiva, encarregou o engenheiro militar Sargento Mór José Fernandes Pinto Alpoim para reformar as casas do Largo da Polé e convertê-las em casa de governo. Assim foi feito. Alpoim acrescentou um segundo andar ao conjunto, usou vergas curvas nos vãos das janelas pela primeira vez no Rio de Janeiro e, em 1743, era entregue a primeira casa de governo erguida especificamente para tal na Capitania. Foi casa dos governadores por vinte anos. Em 1763, quando se transferiu o Vice-Reinado da Bahia para o Rio de Janeiro, serviu como palácio de despachos do Vice-Rei Conde da Cunha, sendo então rebatizada para Paço Vice-Real. Paço, subentenda-se, é o diminutivo de palácio, haja vista as leis coloniais proibirem os prédios administrativos do Brasil terem tal alcunha. Quando da chegada da Côrte, em 1808, continuou o edifício a ser usado como palácio de despachos do Rei, ganhando a alcunha de Paço Real. Com a Independência, em 1822, Paço Imperial. Na República foi repartição geral dos telégrafos, sendo apenas restaurado em 1980 e reaberto cinco anos depois como centro cultural. Ocorreram no Paço alguns eventos históricos significativos. Em 09 de janeiro de 1822, D. Pedro chegou à sétima sacada do sobrado para informar ao povo que ficava no Brasil. A 13 de maio de 1888, a sua neta, Princesa Isabel, filha de D. Pedro II, informava da sacada central que não tínhamos mais escravos em nossas terras. Pela porta principal D. Pedro II e sua família saíram para o exílio a 17 de novembro de 1889, para nunca mais volverem vivos à terra brasileira. Do outro lado da praça, existiam umas casas postas ao chão em 1743, para naqueles terrenos subir uma série de sobrados da família do Juiz de Órfãos Antônio Telles de Menezes. Projetadas pelo engenheiro Alpoim, possuíam um notável arco abatido que passava pela travessa do mercado de peixe, hoje rua do Comércio. Este arco, apelidado de “do Telles”, era muito mal freqüentado, tendo sido conhecido nos primeiros anos do século XIX como reduto da bruxa Bárbara dos Prazeres, ex-prostituta, famosa por produzir poção rejuvenecedora com sangue de crianças. Na casa ao lado, onde hoje está a Tabacaria Africana, funcionou de 1747 a 1790 o Senado da Câmara, nome pomposo que tomou a Câmara de Vereadores depois de 1757, e que lá foi vítima de pavoroso incêndio, a 20 de julho de 1790, o qual, curiosamente, só queimou alguns documentos específicos sobre posses territoriais. O primeiro chafariz da cidade foi inaugurado no Largo da Carioca em 1726 pelo Governador Aires de Saldanha e Albuquerque e recebia as águas do Rio Carioca, canalizados por possante aqueduto inaugurado na mesma ocasião. Em 1747, o Governador Gomes Freire inaugurou outro chafariz, este já no Largo do Paço, no local onde em 1894 se ergueu o monumento à Osório. Durou pouco tempo esse chafariz, que era em mármore de lióz. Em 1779, o Vice-Rei D. Luís de Vasconcellos e Souza iniciou um terceiro, na borda do mar, bem como um novo cais de pedra. Fez o projeto do novo chafariz o mulato Mestre Valentim da Fonseca e Silva, com ajuda do engenheiro Jean Jacques Funck. Inaugurado em 1789, fornecia água não só à cidade como aos barcos que ali acostavam. Foi afastado do mar por vários aterros depois de 1838. Quando D. João aportou nele em 1808, estava o Largo do Paço já ornado com seus principais marcos culturais. 3 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com
  • 4. O COMÉRCIO NA PRAÇA XV E ARREDORES Em matérias anteriores, escrevi sobre a Praça XV de Novembro e arredores, sua história e seus prédios antigos. Agora, escrevo sobre um assunto pouco enfocado: a sua importância para o comércio da cidade. Já em 1570, uma construção, à beira mar, definiria o futuro logradouro: a ereção da capela de Nossa Senhora da Expectação e do Parto, ou, como era mais conhecida, Nossa Senhora do Ó. Em sua frente, surgiu um descampado onde as pessoas se reuniam antes das missas, um adro, o qual, inicialmente, era muito amplo. Em 1589, quando a capelinha foi doada aos frades carmelitas, eles mudaram a invocação do templo para Nossa Senhora do Carmo e ao seu lado construíram em 1619 um convento. Anos depois, edificaram à sua frente algumas casas que alugavam a terceiros. Em 1605, o Governador Martim de Sá mandou erguer nas proximidades da rua Direita um forte, o qual deu o nome de “da Cruz”, cujo objetivo era proteger os desembarques dos navios que ali aportavam. Dez anos depois, a Câmara de Vereadores legislou no sentido de não se erguer defronte aos prédios do convento e forte construção alguma, com o fito de preservar aquela área como “rocio” da cidade. Rocio era o nome lusitano para “praça de comércio”, já determinando a primeira função institucional do local. No início do século XVII, duas instituições destinadas a estimular o comércio na jovem colônia foram estabelecidas em suas proximidades. Uma foi a Câmara de Vereadores, trazida do Morro do Castelo para um terreno ao lado da Igreja de São José em 1619. Era função dos vereadores, dentre outras, a de fiscalizar o comércio, bem como guardar os pesos e medidas oficiais, legislar sobre preços e custos, e colocar num poste de madeira, o “pelourinho” as novas leis exaradas, bem como os nomes dos fora-da-lei, comerciantes ou não. A câmara era situada onde hoje está o Palácio Tiradentes e foi, até 1808, a sede do Poder Legislativo Municipal. A outra foi a Alfândega, ou, como era poeticamente conhecida, a “casa de ver-o-peso”. Foi instalada em 1613 defronte ao caminho do “Capoeirussú” (literalmente “Capoeira Alta”, em tupi), depois rebatizado para Rua da Alfândega. Desde fins do século XVII até 1808 sua direção coube, por hereditariedade, à família Nascentes Pinto. A Alfândega fez crescer o pequeno comércio que marcaria a fisionomia das ruas do Ouvidor até a da Alfândega. Está aí a origem do popular “SAARA”, a primeira grande área de comércio popular da cidade. A importância do sítio logo cresceu e, dentre os nomes que a praça ganhou ainda no século XVII, estavam o de “Largo do Carmo”, “Terreiro da Polé” (Polé e pelourinho são a mesma coisa), “Terreiro do Carmo”, e outras denominações efêmeras. Entretanto, a cupidez estava falando mais alto e a Câmara de Vereadores tentou lotear o largo com o objetivo de ali construir casas que seriam vendidas (por coincidência, claro...) aos parentes dos próprios vereadores. Isso motivou um protesto dos frades carmelitas ao Rei Pedro II de Portugal, o qual, determinou, por Decreto de 27 de novembro de 1686, que ninguém construísse sobre o Terreiro do Carmo, pois sua existência era por demais importante como área comercial. Até prova em contrário, esta é a data oficial de nascimento da futura Praça XV de Novembro. No século XVII a grande falta de numerário no mercado fez com que o Governador Salvador Correia de Sá e Benevides autorizasse o pagamento de impostos em gêneros, e, como o principal gênero de produção no Rio de 4 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com
  • 5. Janeiro daqueles tempos era o açúcar, todo mundo passou a pagar ao governo com caixas de açúcar. Logo os armazéns do governo ficaram abarrotados de açúcar, o que causou grande depreciação do produto. Para resolver o problema, agravado desde 1686 com a descoberta de ouro em Minas Gerais, resolveu o Rei Pedro II de Portugal transferir, em 1698, a casa da moeda, da Bahia para o Rio de Janeiro, acomodando-a num armazém no Terreiro do Paço, exatamente onde hoje se encontra o prédio do Paço Imperial. Em 1710 o Rio de Janeiro foi atacado pelas tropas francesas chefiadas pelo Corsário Jean François Duclerc, sofrendo o inimigo fragorosa derrota quando já havia chegado aos limites do Terreiro do Carmo. No ano seguinte, outro Corsário, René Duguay Trouin, foi mais bem sucedido, tomando a cidade após curta batalha e saqueando os armazéns do Terreiro do Carmo por mais de trinta dias, quando se retirou vitorioso para a França. Em 1743, o Governador Gomes Freire de Andrade, Conde de Bobadela, inaugurou no antigo Terreiro do Carmo a nova Casa dos Governadores, projetada pelo engenheiro militar José Fernandes Pinto Alpoim onde estavam os Armazéns Reais e a Casa da Moeda. O Paço substituiu a pequenina casa que os governadores ocupavam desde 1624 na antiga rua Direita, onde hoje está o prédio do Centro Cultural do Banco do Brasil. Vinte anos depois, o Terreiro, já rebatizado para Largo do Paço, passaria a sediar o Vice-reinado do Brasil, sendo seu primeiro Vice Rei o Conde da Cunha. Ele e seus sucessores se preocuparam com dois assuntos básicos da colônia: proteger a cidade de ataques estrangeiros promovendo a melhoria das fortificações e igualmente proteger o rico comércio do Rio de Janeiro, cujo ouro em circulação desenvolvera muito nos últimos anos. Quando o Príncipe D. João desembarcou, em março de 1808 no Largo do Paço, este já estava firmado há muitos anos como a praça comercial mais importante do reino português. D. João teve apenas que continuar o trabalho de seus antecessores. Já em 1808 ele liberou os portos brasileiros às nações amigas, e, em outubro do mesmo ano criou o Banco do Brasil, instalado num casarão da rua Direita. Onze anos depois, o comércio havia florescido tanto que se tornou necessário criar a primeira Praça do Comércio do Rio de Janeiro, antepassada direta de nossa Bolsa de Valores. O prédio ainda está lá, na rua Visconde de Itaboraí, sendo hoje sede da Casa França Brasil. Estavam, pois, criados todos os instrumentos legais que transformaram o pequeno Terreiro Carmo na mais importante praça comercial da América Latina, primazia que só perderia para São Paulo em fins do século XIX. Hoje, as velhas casas comerciais da Praça XV de Novembro e arredores estão sendo reabilitadas pelas obras da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, sendo suas fachadas tombadas pelos órgãos de proteção ao patrimônio histórico, e se tornando, aos poucos, importante atração para os turistas que desejam conhecer um pouco de nossa história. PAÇO IMPERIAL - PRAÇA QUINZE DE NOVEMBRO - CENTRO Nos primeiros cem anos de existência da cidade, os governadores da Capitania do Rio de Janeiro, geralmente membros da poderosa família Sá ou seus prepostos, governavam de suas próprias casas. Em 1643, a Metrópole concordou em pagar um aluguel para o Governador Luís Barbalho Bezerra, que, empobrecido e doente nas lutas contra os holandeses no nordeste, não possuía condições de se manter. Com a morte de Bezerra, em abril de 1644, 5 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com
  • 6. sua casa passou a ser a casa dos governadores. Era na rua da Candelária, defronte ao prédio onde hoje está a Associação Comercial. Em 1698, a Câmara adquiriu a grande casa de sobrado de Pedro de Souza Pereira e adaptou-a para sede do governo. Era exatamente onde hoje está o Centro Cultural do Banco do Brasil. Um sobrado na rua Direita, com doze janelas no pavimento e capela no térreo, onde depois de 1743 funcionou a Casa Real dos Contratos, até 1808. Sediou depois diversas repartições públicas até ser demolida em 1870 e substituída pelo prédio atual. No Largo do Carmo, no local onde surgiu o Paço, existiam desde o século XVII algumas casas térreas que pertenciam ao patrimônio do Convento do Carmo, sendo alugadas a terceiros. Em fins do século XVII, foram adquiridas pela Câmara e demolidas, subindo em seu local o Armazém Real, onde eram guardados os carregamentos de sal e açúcar, bem como, desde 1698, a Casa da Moeda, transferida da Bahia para o Rio de Janeiro no ano anterior. Quando da ascensão de Gomes Freire de Andrade ao governo da Capitania do Rio de Janeiro, em 1733, ainda estava alojado o governador no sobrado da rua Direita. Achando-se mal acomodado, fez gestões junto à Metrópole para construção de nova sede governamental. Em 1738 chega ao Rio de Janeiro o engenheiro militar e Sargento-Mór (depois Brigadeiro) José Fernandes Pinto Alpoim. Gomes Freire logo o incumbiu de preparar a nova sede da Capitania. Alpoim aproveitou as construções existentes no Largo do Carmo, respectivamente os prédios do Armazém Real e Casa da Moeda, acrescentando-lhes um segundo pavimento, com janelas de sacada em arco abatido, novidade na colônia, tendo sido erguido mais um pavimento, o terceiro, dando para o Largo do Carmo, com quatro janelas. No térreo, manteve as janelas com vergas retas. Internamente, era o prédio ventilado por quatro pátios internos, ficando a área social e de trabalho no sobrado e voltadas para o mar, os aposentos para o Largo do Carmo e as dependências de serviço no térreo e sobrado, dando para a rua Direita. No térreo da fachada do Largo do Carmo continuaram a funcionar o Real Armazém e a Casa da Moeda até 1808. Foi todo o conjunto inaugurado em 1743 e inicialmente denominado nos documentos oficiais de “casa de governo”, haja vista uma lei do século XVII que proibia a construção de palácios em colônias de Portugal, estando tais residências apenas restritas a príncipes e nobres de sangue real. Nos vinte anos em que funcionou como casa dos governadores, talvez o fato mais pitoresco ali ocorrido tenha sido o baile oferecido aos oficiais franceses da esquadra do Conde D`Aché, chegados ao Rio de Janeiro em setembro de 1757. O Conde ofereceu uma recepção a Bobadela num de seus navios. Bobadela, por sua vez, diplomaticamente, ofereceu outra na casa do governo. Os franceses ficaram decepcionados, pois ao chegarem na casa, descobriram que não haviam mulheres na festa, e sim alguns rapazes travestidos. Bobadela explicou-se, afirmando que o povo não permitia a saída de mulheres para tal festividade, tendo os franceses que se contentar com o que ele pôde conseguir. Guardadas as devidas proporções, foi o primeiro baile de travestis do Rio de Janeiro. Com a transferência do Vice-Reinado da Bahia para o Rio de Janeiro, em princípios de 1763, passaram os vice-reis a administrar a colônia do edifício no Largo do Carmo, que passou a ser conhecido então como Paço, diminutivo lusitano de Palácio. O primeiro Vice-Rei, Conde da Cunha, não gostou do 6 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com
  • 7. prédio, tencionando sua transferência para o Colégio dos Jesuítas, no morro do Castelo, iniciativa gorada por sua substituição em 1767. Da administração do Conde de Azambuja, D. Antônio Rolim de Moura, pouco sabemos, haja vista o precário estado de saúde deste dirigente, que ficou menos de dois anos no cargo. Quanto ao seu sucessor, o Marquês de Lavradio, sabemos que residia na rua de seu nome, aberta em 1771, numa casa ainda existente. Ou seja: provavelmente o Paço era mais usado como local de trabalho que residência oficial, o que foi referendado pela Família Real depois de 1808. Com a chegada da Côrte neste último ano, o prédio foi promovido a Paço Real, e era realmente utilizado como palácio de despachos. D. João nele ficava nos horários da tarde, morando efetivamente em São Cristóvão. Só pernoitava no Paço quando as condições ou alguma cerimônia especial assim o exigia. Ainda em 1808 foi o Paço ligado ao Convento do Carmo por um passadiço, estabelecendo-se ali sua mãe, a Rainha D. Maria I, a Real Ucharia, o Real Gabinete de Física e, depois de 1810, a Real Biblioteca. A casa da moeda foi para um prédio na rua da Lampadoza, onde existira o primeiro museu da cidade. Um outro passadiço foi construído, ligando o Paço ao antigo sobrado da Casa de Câmara e Cadeia, adaptada para acomodação de funcionários da Casa Real. Foi o Paço Real a primeira casa na América a acomodar um Rei europeu sagrado em nosso solo, pois foi D. João assim entronizado em 1818, numa cerimônia inédita e única ocorrida no Largo do Carmo, onde se montou enorme pavilhão para a cerimônia. Na fachada dando para o mar, foi construída em 1817 um corpo elevado, onde se colocou a sala do trono, a primeira das Américas. Colocou-se na mesma ocasião quatro colunas internas para suportar o novo pavimento (estas colunas foram retiradas na restauração de 1980). Quando o Rei jurou a nova Constituição portuguesa, em fevereiro de 1821, o povo não esperou sua carruagem atingir o Paço vinda de São Cristóvão. Cercaram-no ainda na rua Direita, retiraram-no de dentro e carregaram-no nas costas, em triunfo. O Rei, assustado, desmaiou pensando que iam matá-lo. Levado ao Paço, verificou-se que estava bem, exceto por seus objetos pessoais, que haviam desaparecido. Foi no Paço que D. João VI transferiu ao filho, o Príncipe D. Pedro, o governo em 1821, dando o célebre conselho de que “...se o Brasil se libertar, antes seja para ti, que me hás de respeitar, do que a qualquer um destes aventureiros...”. Foi nele que a 09 de janeiro de 1822, o Príncipe recusou-se a voltar à Portugal, permanecendo no Brasil, atendendo às súplicas do povo, transmitidas ao jovem príncipe pelo Presidente da Câmara de Vereadores, o Juiz José Clemente Pereira. Teria dito o Príncipe: “...se é para o bem de todos, e felicidade geral da nação, estou pronto, diga ao povo que fico. E recomendo a todos união e tranqüilidade...”. Com este gesto simples, abriu o Príncipe o caminho para nossa Independência política. No segundo reinado foi o Paço utilizado da mesma forma que antes, local para os despachos oficiais, residência eventual da Família Imperial e, ocasionalmente, local de hospedagem de visitantes ilustres. Sofreu grandes reformas em 1841/45, quando lhe acrescentaram platibandas (removidas depois), bem como tendo sido fechado um de seus pátios, convertido em salão dos “Archeiros do Paço”. Mesmo depois destas reformas, conta-se que o Paço logo arruinou-se, bastando dizer que muitas de suas salas estavam já interditadas na década de setenta, com ameaça de desabamento. Isso não impediu que a Princesa Isabel Regente, na ausência de seu pai, o Imperador 7 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com
  • 8. D. Pedro II, que estava na Europa em tratamento médico, nele assinasse a lei no. 3.353, a 13 de maio de 1.888, a Lei Áurea, que libertou os escravos no Brasil. Dezoito meses depois, do Paço saía para o exílio o Imperador deposto pelo movimento de 15 de novembro de 1.889, partindo a Família Imperial para a Europa na madrugada do dia 17, depois de dois dias de prisão domiciliar no velho Paço. Foi, sem dúvida alguma, o episódio mais dramático e o mais constrangedor da jovem República nascente. A República não quis saber de utilizar o velho edifício para fins de sede do governo. Leiloado o mobiliário interno do prédio em 1890, foi o mesmo cedido ao Ministério da Instrução e dos Correios, então dirigido por Benjamin Constant, e convertido em Repartição Geral dos Telégrafos, depois, dos Correios e Telégrafos, atividade que, com poucas alterações, manteve por oitenta anos. Quase demoliram o velho Paço em 1919, para ali se construir a nova sede do poder legislativo federal, idéia abortada pelo Senador Paulo de Frontin. Reformado em 1929 durante a Presidência Washington Luís, foi acrescido de mais um pavimento. O prédio foi tombado pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em abril de 1938, eliminando assim cogitações por sua demolição, tão desejada por famosa autarquia federal que almejava ali levantar sua sede geral. Em 1980 o então prédio da Repartição Geral dos Correios e Telégrafos foi permutado com o Ministério da Cultura, sendo submetido a uma restauração integral pelo arquiteto Glauco Campello do SPHAN, que lhe restituiu as formas de 1818. Foram retirados todos os acréscimos, reconstituindo-se assim a ambiência primitiva. Reinaugurado em 1985, foi convertido em centro cultural, o primeiro no centro da cidade, ponto de partida da revalorização da área central do Rio de Janeiro, tarefa que continua a acontecer no século XXI. No mês de outubro de 1987, ocorreu o último episódio político no Paço, quando um agitador à mando de determinada facção política bateu com uma picareta no vidro no ônibus que conduzia o então Presidente da República, José Sarney, que ia inaugurar uma exposição. O Presidente nada sofreu além do susto, o que não deixa de ser um final feliz, porém, até melancólico para um prédio histórico que foi palco das mais importantes decisões brasileiras em duzentos anos. JOSÉ FERNANDES PINTO ALPOIM - DADOS BIOGRÁFICOS Nasceu em Viana do Castelo, Portugal, a 14 de julho de 1700, filho do Sargento-Mór Vasco Fernandes Alpoim e de sua mulher, Da. Revocata Pinto. Seguiu carreira militar, onde chegou também à Sargento-Mór antes de vir para o Brasil. Transferiu-se para o Rio de Janeiro, em definitivo, em 1738. Exerceu suas atividades de engenheiro no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e em Minas Gerais. No Rio deixou as seguintes obras: reconstrução do Aqueduto da Carioca (1738/44); Igreja de Nossa Senhora da Conceição e Boa Morte (1738/56); Casa de Câmara e Cadeia (1738/50); Casa dos Governadores (1740/43); Hospício dos Barbonos (1742); arruamento do Largo de São Francisco (1742); Igreja da Sé (inacabada, 1742/95); Convento da Ajuda (1742/50); Claustro do Mosteiro de São Bento (1742/55); Casas dos Telles de Menezes (1743/47); Convento de Santa Teresa (1744/63); Chafariz do Largo do Paço (1747); fachada da Igreja de Nossa Senhora do Bonsucesso (1760). 8 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com
  • 9. Possivelmente são obras suas: Convento do Carmo (1750); Convento Franciscano de Santo Antônio (1750); Igreja do Carmo da Lapa (1751); Casa do Trem (1762), e todas as fortificações executadas na cidade entre 1738 e 1765, as quais eram a sua função principal de estar aqui. Em Minas Gerais, deixou as seguintes obras: Palácio dos Governadores de Ouro Preto (1738/56); Cadeia de Ouro Preto (1745/50, não construída); Planta da Cidade de Mariana (1738). No Rio de Janeiro, foi Mestre e fundador da Aula de Artilharia da cidade. Escreveu dois livros: Exame de Artilheiro (1744); Exame de Bombeiro (1748), sendo que o primeiro foi impresso no Brasil. Em 1760, atingiu o posto de Brigadeiro. Com a morte de Gomes Freire de Andrade, em janeiro de 1763, ficou no governo da Capitania, junto com o Bispo Frei Antônio do Desterro até a chegada do novo Vice-Rei, Conde da Cunha. Faleceu no Rio de Janeiro a 07 de janeiro de 1765, sendo enterrado no Convento de Santa Teresa. Serviu no Brasil 26 anos, 02 meses e 15 dias. GOMES FREIRE DE ANDRADE - DADOS BIOGRÁFICOS Militar e político, nasceu em Portugal em 1685. Ganhou do Rei D. João V o título de Conde de Bobadela. Nomeado em 1733 Governador e Capitão- General do Rio de Janeiro, administrou esta capitania por vinte e nove anos e seis meses. Na cidade, deixou as seguintes obras: fez a Fortaleza de São José, na Ilha das Cobras (1733-39); mandou derrubar o muro da cidade (1733); fundou o Recolhimento do Parto (1736); reconstruiu o Aqueduto da Carioca (1738-44); construiu em 1740/43 a Casa dos Governadores (hoje Paço Imperial), no Largo do Carmo; mandou arruar o Largo de São Francisco (1742); fundou o Convento de Santa Teresa (1744-63), no Morro do Desterro; construiu o primeiro chafariz, no Largo do Carmo (1747); elevou a Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro à condição de Senado (1747); remodelou as fortalezas de Santa Cruz e Villegaignon; cumprindo ordens de Portugal, procedeu ao seqüestro dos bens e expulsão dos padres jesuítas do Brasil (1759); construiu a Casa do Trem (1762), na Ponta do Calabouço; fundou as academias literárias “dos felizes” e “dos Seletos”, fundou a primeira tipografia do Rio de Janeiro, a de Antônio Isidoro da Fonseca; e muitas obras edílicas e administrativas de relevância. Administrou conjuntamente as Capitanias de Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande. Em Minas Gerais, mandou construir um novo Palácio dos Governadores de Vila Rica (1741, hoje Museu da Escola de Minas e Mineralogia) e ordenou o arruamento da Cidade de Mariana (1738). Participou, como Ministro Plenipotenciário, das conferências internacionais sobre os limites do Brasil com os territórios de Espanha, logrando anexar à Portugal o Território das Missões. Venceu os índios guaranis nas missões jesuíticas ao sul do país. Foi denominado de “Pai da Pátria”, pelo Senado da Câmara. Com a invasão espanhola da Colônia do Sacramento, na Cisplatina, foi considerado culpado por essa derrota pela metrópole lusitana, caindo em depressão. Faleceu a 1o. de janeiro de 1763, no Rio de Janeiro. CHAFARIZ DE MESTRE VALENTIM - PRAÇA XV O primeiro chafariz do Rio de Janeiro foi inaugurado em 1726 pelo Governador Ayres de Saldanha e Albuquerque no Largo da Carioca. Esta obra coroou os esforços de mais de cem anos na luta pelo abastecimento de água 9 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com
  • 10. da cidade, até então precaríssimo. Até aquela época, os escravos apanhavam água na nascente do Rio Carioca, no Silvestre e vendiam-na na cidade por altos preços. Deste primeiro chafariz puxaram diversos ramais, que abasteceram os outros que depois se fizeram no Largo do Paço. Em 1747, o Governador Gomes Freire de Andrade, Conde de Bobadela, mandou erguer o primeiro chafariz no Largo do Paço, mais ou menos onde hoje se encontra o monumento ao General Osório. Era de mármore de Lióz, cuja planta proviera de Lisboa. Mais decorativo que funcional, não durou muito, sendo quebrado pelos aguadeiros que nele iam buscar a preciosa linfa. Em 1779, o Vice-Rei Luís de Vasconcellos e Souza ordenou a construção de novo chafariz no Largo do Paço, obra que não só abastecesse a cidade como aos barcos que ali aportavam. Na mesma época, seria construído um cais em pedra retificando o Largo, cujo projeto estava esboçado desde 1713, mas que nada se fizera até aquele momento. Incumbiu dessa missão o engenheiro militar Jean Jacques Funck, que projetou o novo cais em pedra, com escadas e rampas, e fez, ao menos, dois esboços para um novo chafariz colado ao dito cais de acostamento. Quanto a estes últimos, o primeiro esboço mostrava um chafariz horizontal, à semelhança do que fora feito no Largo da Carioca. O segundo esboço, executado em 1780, era de um chafariz vertical, feito em pedra, donde a água escorria por conchóides e baleias dispostas artisticamente pelos lados. Parece que o Vice-Rei não gostou dos dois desenhos, e teria então encomendado um terceiro ao Mestre Valentim da Fonseca e Silva, que se baseou no segundo esboço de Funck, mas alterou-o substancialmente nos detalhes. É este o desenho que foi aprovado e executado. Construído em gnaisse facoidal, com detalhes em mármore de Lióz, foi coroado com um mirante e pirâmide. Dele saíam água por três conchóides, ficando no muro do cais duas outras saídas para abastecimento dos navios. Por algum motivo a obra se atrasou muito, sendo apenas entregue ao uso em 29 de abril de 1789. Numa placa de mármore adossada ao monumento, era louvada a figura de D. Luís de Vasconcellos e da Rainha D. Maria I, a quem o monumento era dedicado. Em estilo barroco e com fachadas curvilíneas, era de grande expressividade plástica e impressionou muito os visitantes que desde os fins do século XVIII descreveram-no com entusiasmo. Seria de uma escada lateral ao dito chafariz que o Príncipe D. João desembarcou no Largo do Paço, num festivo 08 de março de 1808, para uma longa permanência de 13 anos. Por esta mesma escada partiria choroso para Portugal. Por outra próxima, seu filho, o Imperador D. Pedro I partiria para o exílio a 07 de abril de 1831 e, por sua vez, por ali igualmente D. Pedro II sairia destronado na madrugada de 17 de novembro de 1889. Serviu de tribuna ao político republicano Lopes Trovão, quando da revolta popular em janeiro de 1880 pelo aumento das passagens de bondes (Revolta do Vintém). Quanto ao cais, foi aterrado em 1838 pela Regência, haja vista o assoreamento da praia. Sofreria outros cinco aterros até 1906, quando o ganhou os contornos definitivos, afastando o mar do velho chafariz. O chafariz forneceu água até 1896, com o desmonte do Aqueduto da Carioca, ficou como monumento inerte do passado até 1975, quando uma obra da CEDAE restaurou por alguns anos o fornecimento de água. Transformado por isto em banheiro de mendigo, foi restaurado em 1985, sendo-lhe restituído à luz o velho cais colonial, sem, no entanto, conseguir-se restituir sua primitiva 10 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com
  • 11. função de verter água. Esta obra não deu certo e novamente o chafariz tornou- se pouso de desocupados e banheiro publico. Submetido a grandes obras em 1995, foi-lhe recomposto outra parte do velho cais, que agora ficou à mostra graças às obras de abertura da passagem subterrânea de veículos (apelidada de “buraco do Conde”), que lhe desobstruiu a fachada voltada para o mar. Ainda é uma meta do IPHAN torná-lo a verter água, se possível, pelos antigos canos coloniais de pedra, que em grande parte ainda existem no subsolo da rua Sete de Setembro. O monumento é tombado pelo IPHAN. MESTRE VALENTIM DA FONSECA E SILVA - DADOS BIOGRÁFICOS Nasceu em Serro Frio, Minas Gerais, em c. 1745. Era mulato, filho de um fidalgo português, contratador de diamantes, e de uma negra escrava. Foi escultor, entalhador e arquiteto, conhecido vulgarmente como Mestre Valentim, ativo no Rio de Janeiro. Estudou em Portugal, onde teve contato com o estilo rococó. De volta ao Rio de Janeiro, executou em 1774 o altar-mór da Igreja de Nossa Senhora da Conceição e Boa Morte, na rua do Rosário. No mesmo ano, trabalhou com Luís da Fonseca Rosa, talvez seu parente, na talha da capela- mór da Igreja da Ordem Terceira do Carmo, na rua Direita, tarefa que durou até 1778. Já independente, fez o altar-mór da Capela do Noviciado da mesma igreja (1774), executando vinte anos depois o altar de Nossa Senhora das Dores, sua primeira experiência com o estilo rococó. Em 1779, iniciou as obras do Passeio Público, inaugurado em 1783, bem como o Chafariz dos Jacarés e a Fonte do Menino; dois anos depois, terminou o Chafariz das Marrecas, na rua dos Barbonos (Evaristo da Veiga); fez o Chafariz do Largo do Paço (1779-89); reconstruiu o Recolhimento do Parto (1789), hoje destruído; fez o Chafariz das Saracuras (1791); as Pirâmides do Passeio Público (1791); e o Chafariz do Lagarto, na rua Frei Caneca; fez dois lampadários em prata para a capela do Mosteiro de São Bento (1793); e outro para a Igreja de Santa Rita; executou a talha da capela-mór da Igreja da Santa Cruz dos Militares (1801-12); idem, da capela-mór e de Nossa Senhora das Vitórias da Igreja de São Francisco de Paula (1801-1813); idem da Igreja de São Pedro dos Clérigos (destruída), Igrejas do Carmo da Lapa e da Candelária (também removida), e outras. Foi o primeiro artista a fundir ligas metálicas e bronze para fins artísticos no Brasil. Produziu igualmente peças em porcelana, as primeiras no Brasil, bem como decorações para festas, jóias, etc. Não era santeiro, entretanto, fez duas imagens em tamanho quase natural de São João e São Mateus, para a Igreja da Santa Cruz dos Militares. Teve muitos discípulos. Faleceu solteiro na Rua do Sabão, a 01o. de março de 1813, sendo sepultado na Igreja do Rosário. BOLSA DE VALORES - RUA DO MERCADO C/ PRAÇA XV - CENTRO Em 1835, a Ilustríssima Câmara Municipal decidiu a construção de um mercado que ordenasse a venda de pescado, e outros gêneros, até então feita em velhas barracas de madeira e pano, na antiga Praia do Peixe, embocadura da rua do Ouvidor. O arquiteto Auguste Henry Victor Grandjean de Montigny foi encarregado do projeto, e o imóvel edificado em 1842, ocupava todo o quarteirão onde hoje se ergue a Bolsa do Rio, em frente ao Chafariz de Mestre Valentim. O prédio original era térreo, mas em 1870 foi arrendado ao Coronel Antônio José Silva, que fez erguer um segundo pavimento, inaugurado em 11 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com
  • 12. 1872. Na praça central do mercado havia um chafariz de granito, do qual a água jorrava, através de golfinhos de bronze. O mercado da Praça XV foi demolido depois de um incêndio, em 1911. Em maio de 1934 uma nova obra iniciava mais um marco na Praça XV de Novembro. Começava a construção do antigo prédio da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, na esquina da rua do Mercado. A Bolsa estava desde 1906 no prédio da antiga Praça do Comércio, na rua Primeiro de Março, onde hoje está sediado o Centro Cultural do Banco do Brasil. Em 1924 a Bolsa entrou em gestões com o Banco do Brasil, que cobiçava o edifício. O Banco deu em troca sua antiga sede, na rua da Candelária e o terreno da rua do Mercado com Praça XV, que era de sua propriedade desde o princípio do século. Em 1926 a troca foi realizada, indo a Bolsa de Valores para a rua da Candelária e o Banco do Brasil para a rua Primeiro de Março. Logo o prédio da rua da Candelária mostrou-se inadequado para as crescentes funções da Bolsa de Valores, que levou a construção da nova sede em 1934 na Praça XV. No antigo terreno da rua da Candelária ergueu-se, em 1935, o Palácio do Comércio. Sede da Associação Comercial do Rio de Janeiro. Em sua nova sede, a Bolsa de Valores funcionou por quase seis décadas, período de grandes transformações e desenvolvimento do mercado de capitais. Ao longo deste tempo foram sendo adquiridos os imóveis anexos e, hoje, a Bolsa do Rio está sediada em toda a quadra composta pela Praça XV, avenida Perimetral e ruas do Mercado e do Ouvidor. Em outubro de 1996 foi inaugurado o primeiro bloco do novo prédio da Bolsa do Rio, na mesma histórica Praça XV, em cujas cercanias teve sua sede desde sempre. Projeto do arquiteto Maurício Roberto, é o mais moderno e atualizado edifício de todo o entorno da Praça. Em fins de 1999 foi demolido o velho prédio da Bolsa, de 1934, para se erguer ali o segundo bloco, que irá compor com o já existente um arrojado conjunto arquitetônico, fronteiro ao chafariz projetado por Mestre Valentim no século XVIII. Serão dois marcos e dois estilos, simbolizando as mutações e, ao mesmo tempo, a perenidade do antigo Largo do Paço. MONUMENTO AO GENERAL OSÓRIO - PRAÇA XV DE NOVEMBRO Monumento localizado na Praça XV de Novembro, obra do escultor Rodolfo Bernardelli. Sua estátua foi fundida com o bronze dos canhões tomados ao inimigo durante a Guerra do Paraguai e foi promovida sua ereção pela Sociedade Sul Riograndense do Rio de Janeiro, tendo sido organizada uma subscrição popular que começou em 1880 e durou quatorze anos. Pagou- se 500 réis “per capita”. No pedestal de granito de Baveno, dos Alpes austríacos, estava até 1994 o corpo embalsamado de Osório, ali depositado em 1894. Existem dois baixos-relevos em bronze: um representando a batalha de 24 de maio de 1866, Tuiuti, e o outro, o ataque de Passo da Pátria. A estátua eqüestre, fundida em Paris, nas oficinas de Thibaut, foi colocada em agosto de 1893, sendo inaugurada a 12 de novembro de 1894, com a presença do Presidente da República, Marechal Floriano Peixoto, ministros e demais autoridades. Representa a figura de Osório, montado a cavalo, ligeiramente inclinado para direita, com a espada em punho. Foi motivo de grandes críticas à época o fato de Osório estar representado usando calçados comuns, e não a tradicional bota de cano alto, 12 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com
  • 13. própria para montaria e parte constante do uniforme de general. O escultor Bernardelli explicou o motivo de tal modificação. Na maquete em gesso, hoje no Museu Histórico Nacional, Osório foi representado de botas. Convocada a única filha viva do general para opinar, Da. Manuela Luísa Osório Mascarenhas, informou que o pai não se servia de tal apetrecho, pois tendo sido ferido nos pés durante a Campanha do Uruguai, estes infeccionaram, tendo sido a chaga agravada por problemas de pele e circulação. Osório passou a não mais usar botas, já que a ferida não mais cicatrizou e dava-lhe grande tormento calçar coturnos. Lutou toda a Guerra do Paraguai descalço, só usando sapatos em cerimônias oficiais. Bernardelli, não o querendo representar descalço e, ao mesmo tempo, atendendo ao reclamo da filha, colocou o velho cabo-de-guerra com mocassins de passeio. MANUEL LUÍS OSÓRIO (MARQUÊS DE HERVAL) - DADOS BIOGRÁFICOS Militar e político, nasceu em Santo Antônio do Arroio, Rio Grande do Sul, em 1808. Sentou praça com doze anos. Alferes com menos de 17 anos, participou dos combates no sul do continente, desde a Guerra Cisplatina, com as batalhas de Sarandi e Passo do Rosário (onde foi ferido), insurreição Farroupilha (1835-45) e Montecaseros. Organizou, no Rio Grande do Sul, a Força Brasileira que tomou parte na Guerra do Paraguai (1864-70), tendo sido o primeiro a pisar o solo inimigo (1866). Distinguiu-se nas Batalhas de Tuiuti (24 de maio de 1866), Humaitá (19 de fevereiro de 1868) e Avaí (dezembro de 1868), na qual foi ferido na boca. Assumiu, em 1877, o mandato de senador, tendo sido ministro da Guerra no Gabinete Liberal do Visconde de Sinimbu. É o patrono da arma de cavalaria. A casa em que morou e faleceu, na rua Riachuelo, no Rio de Janeiro, foi tombada em 1966 e desapropriada a fim de tornar-se um museu militar. Faleceu no Rio de Janeiro em 1879. RODOLFO BERNARDELLI - DADOS BIOGRÁFICOS Escultor, nasceu em Guadalajara, México, em 1852, irmão de Henrique Bernardelli; veio criança para o Brasil, tendo freqüentado a Academia Imperial de Belas Artes. Em 1876 ganhou o prêmio de viagem à Europa, onde permaneceu nove anos, a maior parte em Roma. Ao voltar, foi nomeado professor da Academia, e mais tarde seu diretor, cargo que ocupou até 1915. Sua produção é vastíssima em todo o Brasil, em especial o Rio de Janeiro, onde se destacam: Cristo e a Adúltera, no acervo do MNBA; Monumento a Osório, na Praça XV (1894); Monumento a José de Alencar, na Praça José de Alencar (1897); Monumento à Caxias, no Pantheon de Caxias (1897); Monumento à Carlos Gomes, na Cinelândia (1898); Descoberta do Brasil, na Glória (1900); Busto de Pereira Passos, atrás da Igreja da Candelária (1913); Esculturas da cobertura do Teatro Municipal (1906-09); Esculturas do prédio do MNBA (1903-08); fora bustos, hermas, placas e monumentos por toda a cidade, bem como alguns túmulos. Praticou também a pintura, mas nesse campo foi obscurecido pelo irmão. Faleceu no Rio de Janeiro, em 1931. IGREJA DE SÃO JOSÉ - AVENIDA PRESIDENTE ANTÔNIO CARLOS Não se sabe exatamente a data de fundação desta capela, pois seus documentos de há muito foram perdidos. Provavelmente já existia em fins do 13 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com
  • 14. século XVI, pois é citada num documento de 1619. De 1633 a 1640 foi reconstruída em pedra e cal por Egas Muniz. Por algum tempo, o cabido da Sé a utilizou como Matriz provisória, de 1704 a 1734, mas seu tamanho limitado logo impossibilitou um culto maior. Em 1751 foi elevada à condição de Igreja Paroquial. Em 1807 a Irmandade resolveu construir novo templo, haja vista o estado ruinoso do antigo. A 22 de dezembro de 1808 foi lançada a pedra fundamental com a presença do Príncipe D. João. A 10 de abril de 1824, o templo foi entregue ao culto ainda em obras, faltando o frontispício e a decoração interna. O projeto geral da igreja foi realizado por Félix José de Souza, que iniciou a construção, substituído em 1814 por João da Silva Muniz, arquiteto da casa real, e que também projetou o Real Teatro São João, em estilo neoclássico, no Campo dos Ciganos (onde hoje está o teatro João Caetano); e a Igreja do Santíssimo Sacramento, na avenida Passos. A igreja apresenta um risco clássico, com fachada ladeada por duas pesadas torres, sendo a nave única cercada por corredores encimados por tribunas, com sacristia transversal. A talha interna, de estilo rococó tardio, foi executada pelo artista brasileiro Simeão José de Nazaré, aluno de Mestre Valentim. Foi iniciada em 1824 e concluída em 1842. Em época posterior pintaram-na de branco. JOÃO DA SILVA MONIZ - DADOS BIOGRÁFICOS Arquiteto da Casa Real, veio com D. João para o Brasil em 1808, aqui exercendo seu ofício enquanto a Côrte permaneceu no Brasil. Remodelou a casa doada por Elias Antônio Lopes para receber o monarca e servir-lhe de moradia enquanto aqui permanecesse (1808-21); colocou o pórtico estilo Adam, na Quinta da Boa Vista (hoje entrada para o zoológico), doado pelo Duque de Northumberland à D. João (1810); realizou, em 1810, o plano do novo Real Teatro São João, no Campo dos Ciganos, cuja obra dirigiu (1810- 13), hoje no local está o Teatro João Caetano; em 1814, fez o projeto para a nova Igreja de São José, ao lado da Cadeia Velha, que sugeriu ser mais larga que a anterior, o que foi aprovado e cuja obra dirigiu pessoalmente (1814-21); em fevereiro de 1816, fez o projeto da Igreja do Santíssimo Sacramento, com cinco altares, na rua da Lampadosa, atual avenida Passos, tendo igualmente dirigido os trabalhos (1816-21). Em agosto do mesmo ano, foi a São João Del Rei, opinar sobre o frontispício da Igreja do Carmo, cuja obra estava parada há muito tempo. Sugeriu que se demolisse o já construído e que se erguesse novo frontispício, segundo um outro plano, sugestão que foi seguida. No ano seguinte, em 1817, construiu a Varanda da Coroação, defronte ao Convento do Carmo, no Largo do Paço, que serviu não só ao fim original, como também à cerimônia de casamento de D. Pedro com a Princesa Leopoldina. Em 1821, jurou a nova Constituição de Portugal na qualidade de Primeiro Arquiteto dos Paços Reais. Voltou à Portugal com a Côrte no mesmo ano, nada mais se sabendo de suas atividades por lá. SIMEÃO JOSÉ DE NAZARÉ - DADOS BIOGRÁFICOS Escultor e entalhador. Nasceu no Rio de Janeiro em c. 1775, sendo batizado na Igreja da Candelária. Era filho de uma escrava com um boticário português, que no fim da vida tomou ordens sacras. Em c. 1795, seguiu 14 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com
  • 15. carreira de miliciano, assim permanecendo até 1801. Enviado para a oficina de Mestre Valentim, foi ironizado por este, retirando-se. Matriculou-se numa aula de música. A pedido de Valentim, retornou ao atelier do mestre, formando-se escultor. Praticava um estilo de talha tendente para o neoclássico, simples, limpa de ornatos e bem acabada. Ornou de talha a Igreja Paroquial da Vila de São João Marcos (destruída em 1941) e, no Rio de Janeiro, da Igreja de São José (1824-42). Faleceu no Rio de Janeiro em setembro de 1858, sendo enterrado no cemitério de São Francisco Xavier. A ORIGEM DA CÂMARA DE VEREADORES DO RIO DE JANEIRO. A primeira eleição para escolha de vereadores do Rio de Janeiro deu-se em dezembro de 1567, dois anos e nove meses após a fundação da cidade por Estácio de Sá. Votavam todos os homens da cidade, adultos, com residência fixa e sem passado criminoso. Curiosamente, escolhiam-se não os vereadores, mas sim doze eleitores, os quais, por sua vez, votavam em doze candidatos que não podiam ser parentes ou sócios dos eleitores. Os eleitos tinham seus nomes escritos em grupos de quatro em respectivas cédulas de couro envolvidas em cera, chamadas ”pelouros”, e postas dentro de um saco, donde uma criança sorteava uma delas, que era a dos vereadores sufragados. O mais velho era o Presidente da Câmara e Juiz Ordinário da Cidade, os dois do meio eram os vereadores e o último era o Procurador da Câmara. O mandato era de um ano, quando então procedia-se a outro sorteio que definia a chapa do ano seguinte. Os antigos vereadores passavam a servir como Juízes Almotacés, que eram os fiscais da Câmara. Os vereadores recebiam salário em cera, para fazer velas, e os Juízes Almotacés tinham direito a receber línguas de bois abatidos aos sábados. Só e nada mais. A sede da Câmara ficava num sobrado no Morro do Castelo, onde no térreo funcionava a cadeia, ficando os vereadores no andar superior. O povo já naquela época dizia que “quem rouba pouco é ladrão, quem rouba muito é barão...” . Outra ironia é que o primeiro funcionário da Câmara foi o Procurador João de Prosse, nomeado por Estácio de Sá em julho de 1565, dois anos e meio antes da primeira eleição, tendo ficado todo esse tempo recebendo sem trabalhar. Um autêntico funcionário-fantasma! Ufa, ainda bem que isso é o passado... PALÁCIO TIRADENTES - ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA ESTADUAL Quando Mem de Sá, terceiro Governador Geral do Brasil, transferiu a cidade do Rio de Janeiro do morro Cara-de-Cão para o do Castelo, ordenou a construção da primeira sede da Câmara de Vereadores no novo sítio. Era um sobrado, o primeiro da cidade, tendo no térreo a cadeia e no andar superior a vereança. Logo esta casa, construída em taipa e pouco sólida, apresentou problemas estruturais e uma série de reparos passaram a ser executados, sem que fossem capazes de impedir a ruína do prédio. Começou, então, a formar- 15 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com
  • 16. se no seio dos vereadores a idéia da transferência da casa para a várzea, até porque as principais autoridades da cidade para lá haviam se transferido. Em 1619 solicitou a Câmara de Vereadores um terreno ao lado da capela de São José. Tendo-o obtido, fizeram uma nova casa da câmara, térrea, e no mesmo ano para ela se transferiram. Erguida com material pouco sólido, sofreu inúmeras reconstruções e, por muito tempo, suas paredes foram seguras por pontaletes de madeira. Cem anos depois, teve-se início a uma construção mais sólida com projeto vindo de Portugal, um sobrado em pedra-e- cal, cujas obras arrastaram-se por muitos anos, finalmente concluídas pelo engenheiro militar José Fernandes Pinto Alpoim em 1751. No térreo funcionava a cadeia pública e açougue da cidade, ficando a vereança e tribunal ordinário no andar superior. Seis anos depois, a câmara, agora elevada à “Senado da Câmara”, mudou-se para nova sede ao lado do “Arco do Telles”, no Largo do Paço, onde hoje está a “Tabacaria Africana” donde retornou em julho de 1790 após um incêndio criminoso naquela casa. Foi esta a cadeia que serviu de menagem aos personagens da “Conjuração Mineira”, onde todos foram reunidos entre 20 e 21 de abril de 1792. Dela saiu neste último dia o Alferes Joaquim José da Silva Xavier, o “Tiradentes” (1746-92) para a fôrca, no Campo de São Domingos. Com a chegada da Família Real, em 1808, são os presos e a câmara desalojados para serem ali acomodados membros menores da nobreza e serviçais do Rei. Os detentos passam para o prédio do Aljube, antiga prisão eclesiástica, na rua do Aljube (hoje rua Acre). Os vereadores vão inicialmente para um sobrado na rua Direita, ao lado do “Estanco do Tabaco” (quase na esquina de rua do Ouvidor), mudando-se logo depois para uma casa na rua do Rosário e, finalmente, para a própria Igreja do Rosário, donde só saíram em 1825, já três anos depois da Independência, para sede própria levantada no Campo de Santana. Após a partida da Família Real, o prédio da velha “câmara-e-cadeia” foi convertida na sede da primeira Assembléia Nacional Constituinte, em 1823, tendo sido palco dos dramáticos episódios de novembro daquele ano, quando o jovem Imperador D. Pedro I mandou fechá-la sob ameaça de canhões. Funcionou dali por diante como Câmara de Deputados, sendo reformada muitas vezes, algumas já sob ameaça de desabamento. Durante todo o Império e princípios da República ali brilharam grandes homens cuja história enumera, em lista não pequena. De José Bonifácio, Antônio Carlos, Martim Francisco, até Afonso Arinos, Carlos Lacerda e Getúlio Vargas, nomes que fizeram a história do país nos últimos duzentos anos. Continuou assim a ser usada na República, até que em 1920, já necessitando de inúmeros reparos, resolveu o Presidente da Câmara, Dr. Arnolfo de Azevedo, sua demolição e construção de novo edifício. Fez o projeto do novo edifício, batizado de “Palácio Tiradentes”, os arquitetos Archimedes Memória e Francisque Couchet, que se inspiraram no Grand Palais de Paris. Dum rebuscado ecletismo, onde não faltaram detalhes exóticos, como a imagem do Marechal Deodoro vestido à Romana, numa escultura do frontispício, bem como uma profusão de detalhes com “Fasces”, que eram pequenos troncos amarrados a um machado, utilizados de forma decorativa em vários elementos da fachada. Era no passado remoto o símbolo do Senado 16 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com
  • 17. Romano, infelizmente convertido pelos radicais italianos em símbolo da ideologia “Fascista” depois de 1922. Quando foi inaugurado, em 1926, foi igualmente descerrada a imagem de Tiradentes, em bronze, colocado à frente do palácio, escultura de Francisco de Andrade, e que foi alvo de reparos à época, pois representava o Alferes Mór do Brasil muito velho, vestindo uma túnica de condenado que lembrava desagradavelmente uma camisola de dormir. Representava-o, igualmente, barbado e cabeludo, atributos pilosos que à época, já se sabia que Tiradentes nunca os tivera. Fechado o Palácio pela Revolução de 1930, reabriu suas portas três anos depois para sediar a segunda Assembléia Nacional Constituinte da República, que elaborou nova e moderna constituição ano seguinte, bem como nela empossou o Presidente eleito pelo Congresso, Getúlio Vargas. Em 1937, seria novamente o Tiradentes fechado, agora devido ao golpe de 10 de novembro, que instaurou no Brasil a ditadura do Estado Novo. Ironicamente, tal governo foi instaurado pelo próprio Vargas, que agora assumia-se um ditador. Por oito anos o prédio sediou o temível “DIP”, Departamento de Informação e Propaganda, órgão de censura da imprensa. Foi também o palácio utilizado para congressos e cerimônias cívicas. Com a redemocratização do país em 1945, nele deu-se a posse do novo Presidente José Linhares, bem como sediou nova Assembléia Constituinte no ano seguinte, funcionando normalmente como Câmara dos Deputados Federais até a transferência da capital federal para Brasília, em 1960. De 1960 a 1975, funcionou o Palácio Tiradentes como sede da Câmara de Deputados do Estado da Guanabara, alternando-se nessa função, algumas vezes, com o Palácio Pedro Ernesto, antiga Câmara de Vereadores, na Praça Marechal Floriano, que possuía instalações mais amplas para os escritórios dos Deputados guanabarinos. Com a fusão dos estados da Guanabara e Rio de Janeiro, em 1975, passou a sediar a ALERJ, Assembléia Legislativa Estadual do Rio de Janeiro, atualmente em sua sexta legislatura. Na mesma ocasião, reconstruiu-se o prédio existente nos fundos, antigo edifício do Ministério da Viação e Obras Públicas, para funcionar como anexo da Assembléia e escritório de trabalho dos Deputados. Hoje, no Palácio Tiradentes, além de suas funções legislativas normais, funciona um pequeno museu, contando as peripécias do Poder Legislativo no Brasil em cinco séculos de história. ARCHIMEDES MEMÓRIA - DADOS BIOGRÁFICOS Arquiteto, construtor e professor, um dos maiores expoentes profissionais do ecletismo arquitetônico. Nasceu no Rio de Janeiro em 1895, tendo estudado arquitetura na Escola Nacional de Belas Artes. Começou trabalhando com Heitor de Mello, cujo escritório assumiu, após a morte do mestre em 1920. Sua primeira obra foi a construção do Palácio Pedro Ernesto, na Cinelândia (1920-23), sob projeto de Heitor de Mello. Seguiram-se encomendas importantes: Palácio Tiradentes, no Centro (1920-26); Palácio da Grandes Indústrias, que era uma reforma da antiga Casa do Trem, no Castelo (1921-22); Cassino Beira Mar, no Passeio Público (1921-22, demolido); Fórum do Rio (1921, não construído); Balneário e Cassino da Urca (1921-22); Jóquei Clube, na Lagoa (1921-26); Igreja de Nossa Senhora da Lampadosa, na av. 17 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com
  • 18. Passos (1922-26); Ampliação da Caixa Econômica, na rua Dom Manuel (1926); Sede Social do Botafogo, na rua General Severiano (1928); Vitrais do altar-mór da Igreja da Candelária (1929); Escadaria do hall do Museu Nacional de Belas Artes (1931); Igreja de Santa Terezinha, no Túnel Novo (1931-34); Capela da Usina Salgado, em Pernambuco (1935); decoração interna da Embaixada Britânica, hoje Palácio da Cidade, na rua São Clemente (1944-46); e muitos outros projetos, infelizmente vários já demolidos. Archimedes foi professor da cátedra de Composição de Arquitetura na Escola Nacional de Belas Artes, onde formou inúmeros profissionais de talento. Após ver seu projeto vencedor do novo Ministério da Educação (1935-36), preterido pelo de Lúcio Costa, seu rival, abandonou os concursos de arquitetura dedicando-se ao magistério. Memória atravessou várias fases da arquitetura brasileira neste século. Começou praticando um ecletismo classicizante, evoluiu para o neocolonial, onde foi mestre, e, em fins de carreira, abraçou o art-déco, buscando uma linguagem mais atual para a arquitetura. Faleceu em 1960. CARLOS CHAMBELLAND - DADOS BIOGRÁFICOS Pintor impressionista e designer. Nasceu no Rio de Janeiro em 1884, irmão de Rodolfo Chambelland, também grande pintor. Formado pela Escola Nacional de Belas Artes. Trabalhou muito no Recife, onde executou trabalhos na Igreja da Graça e no Colégio da Estância. Expôs no Salão Nacional e no Salão Paulista de Belas Artes, em ambos com estrondoso sucesso. No Rio de Janeiro, fez as decorações murais das salas nobres do Palácio Pedro Ernesto, bem como um vitral decorativo, junto com o irmão Rodolfo (1923). A convite do deputado Arnolfo de Azevedo, fez a decoração interna do Palácio Tiradentes (1925-26), decorando o plenário com um grande vitral e painéis murais de cunho patriótico. Faleceu no Rio de Janeiro em 1950. FRANCISCO ANDRADE – DADOS BIOGRÁFICOS Não se sabe muita coisa desse escultor, nascido no Brasil em c. 1900. Estudou escultura com José Otávio Correia Lima na antiga Escola Nacional de Belas Artes. Recebeu o prêmio de viagem ao estrangeiro no Salão Nacional de Belas Artes de 1920, com um gesso retratando o arquiteto Francisco dos Santos, bem como a pequena medalha de prata no Salão Paulista de Belas Artes de 1938. Figura no Museu Nacional de Belas Artes com o trabalho “Cabeça de Menina”. São de sua autoria a estátua de Tiradentes (1926), em frente à ALERJ e as hermas de Luiz Paixão (1934) e Lima Barreto (1931), ambas na Ilha do Governador. No Palácio Pedro Ernesto, existem de sua autoria os bustos de Benjamin Constant e José Bonifácio. Já é falecido. ESTAÇÃO DAS BARCAS - PRAÇA XV O primeiro serviço regular de navegação à vapor entre a Côrte e a Província do Rio de Janeiro, data de 14 de outubro de 1835, quando começaram a funcionar três barcas inglesas, da Companhia de Navegação de Niterói. Trafegavam de hora em hora, das 06:00h da manhã às 18:00h, e faziam a travessia em trinta minutos. Até então, o percurso era feito em botes, faluas e saveiros, durando a viagem mais de duas horas. 18 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com
  • 19. Seguiu-se a Companhia de Navegação de Niterói a das Barcas Ferry, cujo serviço foi solenemente inaugurado numa manhã de domingo, 29 de junho de 1862. Começou com três barcas norte-americanas, com rodas e capacidade para 300 passageiros. A Companhia Ferry ergueu então uma bonita estação em estilo neoclássico no Largo do Paço, inaugurada em 1862 por D. Pedro II. Correram os anos e, em 1o. de outubro de 1889, com a fusão da Companhia das Barcas Ferry e a Empresa de Obras Públicas no Brasil, organizou-se a Companhia Cantareira e Viação Fluminense. De 1903 a 1908, quando a administração passou para o dinâmico Visconde de Moraes, realizou a Cantareira grandes melhoramentos, dentre eles, a compra de novas barcas, renovação dos cais e reconstrução das estações da Praça XV e Praça Martim Afonso (Niterói). A da Praça XV aproveitou-se o arcabouço da velha estação das barcas Ferry, tendo o arquiteto Adolpho José Dell Vecchio, que projetou anos antes o palacete da Ilha Fiscal, refeito a fachada em estilo eclético, com vistosa cúpula bulbosa e pavilhões anexos no mesmo estilo. Foi inaugurada em 1911, tornando-se logo ponto de referência na Praça. Por duas vezes as estações da Praça XV e Praça Martim Afonso foram duramente depredadas. A primeira, em 1925, quando se aumentou as passagens em dezembro. Ambos os prédios foram vandalizados pela turba enfurecida, bem como as barcas, que foram destruídas. A segunda foi pior. A Companhia Cantareira fechou as portas em meados da década de 50, sendo os serviços de transportes marítimos arrendados aos “Irmãos Carreteiro”, de Niterói. O serviço caiu muito e as barcas atrasavam, num dia de muito atraso, em 1959, o povo raivoso incendiou a estação Niterói e destruiu todo o interior da estação Praça XV. Várias barcas foram igualmente incendiadas e afundadas. A estação de Niterói acabou ficando irrecuperável e foi demolida. Algum tempo depois, em 1960, foram os serviços assumidos pelo Estado da Guanabara, tendo sido em 1975, após a fusão, fundada a CONERJ - Companhia de Navegação do Estado do Rio de Janeiro, que até hoje mantém os serviços com regularidade. A estação da Praça XV, antiga Estação da Companhia Cantareira, foi tombada pela municipalidade e recentemente restaurada. MONUMENTO À D. JOÃO VI - CAIS PHAROUX - PRAÇA XV Num pedestal de granito retangular, sob base de cimento armado, olhando para o mar, eleva-se a estátua eqüestre de D. João VI, tendo na mão direita a esfera armilar, símbolo da monarquia portuguesa, É de autoria do escultor Professor B. Feyo, fundida em bronze na oficina de José Guedes, em Vila Nova de Gaia, Portugal. Foi oferta do Governo Português às comemorações do IV Centenário da Cidade em 1965. Foi inaugurada naquele lugar pelo Governador Carlos Lacerda, como lembrança do desembarque da Família Real naquele sítio em 08 de março de 1808. JOÃO VI - DADOS BIOGRÁFICOS João Maria José Francisco Xavier de Paula Luís Antônio Domingos Rafael, nasceu em Lisboa, a 13 de maio de 1767, segundo filho da Rainha D. Maria I, a “louca”, e de D. Pedro III, seu tio e marido. D. João VI, 27o. Rei de Portugal, exerceu a regência desde 1792 até 1816, quando faleceu sua mãe. Reinou apenas dez anos. Foi, inicialmente, destinado à carreira eclesiástica, mas em menos de dois anos, morreu-lhe o irmão mais velho, D. José II; e o 19 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com
  • 20. pai, ambos de bexigas. Casou-se contra a vontade, em 1775, com a princesa Carlota Joaquina, filha do Rei Carlos V de Espanha, união que lhe traria mais dissabores que todos os outros problemas. A má esposa sempre o detestou e logo começou a conspirar contra ele. Como se fosse pouco, ainda em 1789 sua mãe perdia a razão para nunca mais recuperá-la. Enfrentou a crise política que envolveu Portugal, oriunda da expansão do Império de Napoleão pela Península Ibérica (1806-07), fugindo para o Brasil junto com sua côrte, em novembro de 1807 para não ser aprisionado pelos franceses. Chegou à Bahia, em 20 de janeiro de 1808. Logo ao chegar, seu primeiro cuidado foi o de dar maior expansão à Colônia. Insinuado pelo Visconde de Cairu, brasileiro insigne e ardoroso patriota, decretou a liberdade do comércio e navegação, assinando logo a 28 de janeiro de 1808, a abertura dos portos às nações amigas. Percebendo que Salvador não possuía mais condições de sediar uma côrte, demandou-se para o Rio de Janeiro, onde desembarcou no Largo do Paço em 08 de março de 1808. Sua primeira preocupação foi a de acomodar a côrte, formada por quase quinhentos áulicos, o que teve de fazer invocando a triste lei das aposentadorias, dando aos nobres o direito de tomar as residências particulares, o que causou grande descontentamento popular. D. João, logo ao desembarcar, recebeu a dádiva da Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão, acomodando sua mãe no antigo Convento do Carmo. Precisando dotar o Rio de Janeiro de uma infra-estrutura capaz de sediar a capital de seu reino, efetuou realizações com o escopo de promover o progresso da colônia, entre elas: a fundação do Banco do Brasil (1808); da Imprensa Régia (1808); Fábrica de Pólvora da Lagoa (1808); Real Horto Botânico (1808); Intendência Geral de Polícia (1809); Real Biblioteca (1810); Real Academia Militar (1810); Escola Anatômica de Cirurgia Médica (1811); Real Academia dos Guardas-Marinha (1811); Real Academia de Artes e Ofícios (1816); Museu Real (1818); Praça do Comércio (1819); e outras úteis instituições. Assinou a primeira lei destinada a acabar com o tráfico de escravos no nosso território (1810); e foi o primeiro a estimular a imigração para o campo, com a vinda de colonos suíços (1818). Tal foi o impulso imprimido ao Brasil que a 26 de dezembro de 1815, foi ele elevado à categoria de Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. O maior benefício que a presença de D. João legou ao nosso país foi, sem sombra de dúvidas, a unidade nacional. Não fosse sua presença entre nós, com certeza teria acontecido à nossa terra o que ocorreu com nossos vizinhos de colonização espanhola. Quatro Vice-Reinados transformaram-se em vinte pequenos países, quase sempre envolvidos em guerras fratricidas e disputas fronteiriças. Seu reinado manteve o Brasil unido, que permitiu que a grandeza territorial de nosso país não se fracionasse em estados estéreis. Apesar da oposição de sua mulher, que sempre trabalhou contra ele e que nos detestava fidagalmente, D. João daqui só se afastou compelido pelo movimento constitucionalista do Pôrto (1820). Em abril de 1821 seguiu para Portugal, aqui deixando como regente seu filho D. Pedro I. Chegando a Lisboa, jurou a nova Constituição, mas sua mulher D. Carlota Joaquina se recusou a tal e por isso foi exilada com seu filho D. Miguel. Promoveram os dois uma contra-revolução com fulcro em Vila Franca de Xira, a “Vilafrancada”, que restabeleceu o absolutismo. Em abril de 1824, o movimento denominado “Abrilada” obrigou D. João VI a se recolher a bordo de 20 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com
  • 21. uma nau inglesa. Restaurado no poder, foi D. Carlota internada e D. Miguel exilado no estrangeiro. O dissabor sofrido com a ingratidão do filho D. Miguel e a revolta da mulher D. Carlota, abalou profundamente o monarca, nunca mais recuperando seu bom humor. Um ano depois, a 29 de agosto de 1825, D. João reconheceu a Independência do Brasil. Após um jantar, D. João passou mal e morreu subitamente a 10 de março de 1826. A moderna ciência, examinando seus restos mortais conservados em álcool, encontrou vestígios de arsênico em dose suficiente o bastante para matar um “elefante”. D. Carlota Joaquina, a possível mandante de tal atentado, não saboreou o sucesso. Enlouqueceu como a sogra, suicidando-se tomando veneno em 1830, aos 55 anos. Dizem, que de uma dose cavalar de “arsênico”. IGREJA E CONVENTO DO CARMO, RUA PRIMEIRO DE MARÇO, PÇA. XV Uma capela dedicada à Nossa Senhora da Expectação e do Parto foi erguida em 1570 na rua Direita por uma devota em cumprimento de uma promessa. Como a invocação era de difícil pronúncia pela população humilde, era conhecida como capela de “Nossa Senhora do Ó”, devido à oração de invocação desta santa iniciar com esta interjeição (Ó Virgem Maria! Ó Mãe de Deus!). Em 1589, foi esta capela doada pela Câmara aos frades carmelitas, que alteraram sua invocação para a Virgem do Carmelo. Em 1611 obtiveram um terreno do lado esquerdo do templo, onde em 1619 iniciaram a construção de um convento, com pedras tiradas da Ilha das Enxadas. No século XVII o templo arruinou e foi reconstruído, mas mesmo assim ainda era uma pequena capela. O convento, ao lado era em sobrado e foi ampliado na mesma época. Assim ficaram estabelecidos os carmelitas até o século XVIII. O belo templo barroco atual foi iniciado em 1761, sob provável risco de Mestre Manoel Alves Setúbal, que ergueu a Igreja dos Terceiros, logo ao lado. A fonte de inspiração foi o Convento do Carmo do Pôrto, Portugal, com o qual revela afinidades estilísticas. Quando da chegada do Príncipe D. João, em 1808, só estava pronto o Convento, tendo a igreja de ser completada às pressas com um frontispício de madeira, haja vista ter o Príncipe tê-la convertido em Capela Real por ser a mais próxima do Paço. O convento ao lado foi desocupado pelos frades, nele se instalando a Rainha D. Maria I, a “Louca”, o Real Gabinete de Física e, no térreo, a Real Ucharia, que era o depósito do Palácio. Nos fundos, numa ala pertencente aos Irmãos Terceiros do Carmo, onde fôra um hospital, foi instalada em 1810 a Real Biblioteca, com livros recuperados da Biblioteca do Infantado e da Real Biblioteca da Ajuda. O convento foi ligado ao Paço por um passadiço. Internamente, os sete altares e as duas capelas da igreja foram iniciados em 1785 por Mestre Inácio Ferreira Pinto. O conjunto, de decór rococó, mostra grande unidade de estilo, que prova ter sido a execução realizada segundo um projeto de conjunto. O arco cruzeiro é encimado por um magnífico ornato recortado. A ornamentação da nave é dividida por pilastras de estilo coríntio, o mesmo se dando mais tarde na igreja vizinha dos Terceiros. Pinturas ovais de José Leandro de Carvalho, representando os doze apóstolos, são distribuídas pela nave, entremeando as tribunas. Durante o reinado de D. Pedro I foi completado o frontispício, segundo o projeto do engenheiro-arquiteto Pedro Alexandre Cavroé. Êste era interessante, pois como o da Cruz dos Militares, mostrava, sob influência 21 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com
  • 22. clássica, a volta às formas das igrejas romanas da época de Vignola. Infelizmente, foi a fachada substituída no século XX dando lugar a um frontispício descaracterizado, terminado em 1923. D. Pedro I igualmente concebeu que um dos pátios do Convento fosse convertido em Mausoléu Imperial, mas sua renúncia em 1831 fez abortar o projeto. Em 1856 foi prolongada a antiga rua do Cano até a rua Direita, sendo a primeira rebatizada para Sete de Setembro. Sendo assim, foi feito um corte no Convento, que passou a ser ligado ao templo por outro passadiço, que foi demolido em 1890. Em 1888/1900 passou o templo por grandes obras. Reconstruiu-se toda a fachada que dava para a rua Sete de Setembro num estilo eclético, depois extendido à fachada principal. Em 1905, a pesada torre sineira foi demolida por ameaçar ruir, sendo erguida outra projetada pelo arquiteto italiano Raphael Rebecchi. Demoliu-se o pórtico da capela dos Passos, colocando em seu lugar duas janelas geminadas. As janelas foram ampliadas para acomodar vitrais. Essas obras foram inauguradas em 1900. Em 1903, o Prefeito Francisco Pereira Passos mandou retirar o gradil do adro para alargar a rua Primeiro de Março (ex-rua Direita). Internamente, foram feitas muitas alterações. Retirou-se uma pintura do altar-mór representando a Família Real, demoliu-se dois corredores laterais, aprofundando-se os seis altares laterais, para ampliar a nave. Refez-se a pintura da capela-mór e outras obras. Essa reforma foi ordenada pelo Ministro Antônio Ferreira Viana, incumbindo-se dos trabalhos o engenheiro Adolpho José Dell`Vecchio e o artista Thomaz Driendl. Quanto ao Convento, igualmente não escapou de adulterações. Em 1840 D. Pedro II nele instalou o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, que ali ficou até 1896. Em 1907 ganhou uma fachada eclética, projetada pelo arquiteto Henrique Fleiuss, removida pelo SPHAN em 1970, sendo recomposta em seus elementos originais. Ainda em 1896 foi nele instalada a Escola Técnica de Comércio, e, em época mais recente, a Universidade Cândido Mendes. Nos anos 80, foi construído no pátio do Convento um enorme prédio de escritórios, o Centro Empresarial Cândido Mendes, projetado por Harry Cole, que acabou desvirtuando toda a escala da praça e de seus monumentos. A Igreja foi Capela Real de 1808 a 1822. Capela Imperial de 1822 a 1889, Catedral Metropolitana, de 1889 a 1976. Sediou, à partir de 1894, a primeira Cátedra Cardinalícia da América Latina. Hoje é a Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé. A Família Real e, depois a Imperial prestigiavam as procissões, particularmente a do Senhor dos Passos e a de São Sebastião, que eram, guardadas as devidas proporções, eventos mais carnavalescos que religiosos. Foi a única igreja nas Américas que serviu de palco da Sagração de um Rei, D. João, em fevereiro de 1818; e da Coroação de dois Imperadores, D. Pedro I, em dezembro de 1822 e D. Pedro II, em julho de 1841. Ali se batizaram e casaram todos príncipes de sangue real entre 1808 e 1889. D. Pedro I confirmou nela seu casamento em 1817; bem como D. Pedro II, em 1843; tendo ali se casado a princesa Isabel com o Conde D`Eu, em 1863. Num corredor lateral da capela foram depositados em 1903, por iniciativa do Bacharel Alberto de Carvalho, parte dos restos mortais de Pedro Álvares Cabral, descobridor do Brasil, transladados de Portugal. Foram regentes da Capela Real, dentre outros, Padre José Maurício Nunes Garcia, nosso maior compositor sacro colonial; Marcos Portugal, maestro que veio com D. João em 1808; Sigismundo Neukomm, discípulo de Haidn, que veio com a 22 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com
  • 23. Missão Artística Francesa, em 1816. Nesta igreja, começou como simples violinista, o futuro maestro Francisco Manuel da Silva, autor do Hino Nacional Brasileiro. À época de D. João VI, nela tinham coro os famosos “Castrati”, jovens emasculados para manter a voz aflautada. Presentemente, está a igreja necessitando de grandes reparos, tendo sido elaborado um projeto de restauração integral, externa e internamente, que visa restituir ao templo suas características originais. O RAPTO DAS GALINHAS O velho Convento do Carmo, hoje sede da Universidade Cândido Mendes, situado na Rua Primeiro de Março, entre as ruas da Assembléia e Sete de Setembro, é um dos mais veneráveis monumentos do Rio. Erguido pelos frades carmelitas aqui chegados em 1589, ficou concluído em 1619. No século XVIII, com o afluxo do ouro oriundo de Minas Gerais, foi totalmente reconstruído depois de 1761. Entretanto, com a chegada da Côrte portuguesa ao Rio de Janeiro em março de 1808, o convento teve seu destino mudado. O Príncipe D. João, se utilizando da lei das aposentadorias, a qual o facultava requisitar qualquer prédio da cidade para uso próprio, mandou desalojar os carmelitas ainda em março de 1808. Os frades acabaram indo para uma pequena igreja, no Largo da Lapa, onde ainda se encontram. No velho convento, D. João mandou alojar sua mãe, a Rainha D. Maria I, a louca. Como o espaço era generoso, D. Maria ainda dividiu o espaço do convento com o Real Gabinete de Física e, nos fundos, onde existia o Hospital da Ordem Terceira do Carmo, em prédio ainda existente, o Príncipe mandou ali instalar em 1810 a Real Biblioteca, reunindo os livros arrebanhados às bibliotecas da Ajuda e do Infantado, trazidos ao Brasil em grandes caixotes quando da fuga da Família Real. Entretanto, foi no pavimento térreo onde se instalou a repartição mais polêmica daqueles tempos: a Real Ucharia. Ucharia era o armazém de alimentos do Palácio Real. Era onde ficavam os secos e molhados, os animais e vegetais que abasteciam a real mesa de D. João. E, no caso dele, era uma mesa bem farta. D. João se alimentava muito, e mal. Comia demais. Testemunhos de época relatam com minúcias as glutonarias do Príncipe. Ao acordar bem cedo, D. João fazia suas orações e logo depois realizava sua primeira refeição, o almoço (naquela época não se tomava café da manhã). Comia, sem talher algum, de quatro a seis frangos de leite assados, pequenos como pintos. Segurava-os com as mãos e deles só se separava quando restavam apenas ossos. Não havia acompanhamento nesse prato. Eram só os frangos. Algumas vezes, D. João também devorava algumas fatias de pão torrado com manteiga, que somente seu cozinheiro sabia fazer. Bebia apenas água da Ponta da Armação, em Niterói, a qual mandava buscar em grandes batelões. De sobremesa, laranjas da Bahia (as do Rio ele as julgava muito doces). No jantar, que era às 13:00h, os pratos eram quase idênticos, variando apenas em ocasiões solenes. Na ceia, às 18:00h, tomava canja de galinhas. Após essa refeição, D. João dormia a sono solto até o dia seguinte, quando a rotina alimentar se repetia. Com essa péssima alimentação, mal balanceada e muito gordurosa, D. João sempre sofreu gravemente de problemas gastro-intestinais, os quais 23 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com
  • 24. motivaram episódios cômicos ocorridos em público. Às vezes, por força das circunstâncias essa dieta variava, mas nunca faltavam os frangos, prato que ele apreciava com veneração. Desnecessário dizer que a maior parte da Ucharia era o galinheiro, o qual ocupava todo o pátio do velho convento. Em 1817, quando D. João se tornou Rei, foi nomeado chefe da Real Ucharia seu barbeiro, Plácido Antônio Pereira de Abreu. Esse patife era um notório espertalhão e serviria com igual eficiência ao Imperador D. Pedro I, como barbeiro, secretário e alcoviteiro. Com a nomeação de Plácido, a roubalheira na Ucharia atingiu níveis inimagináveis. Plácido fazia imensas requisições de alimentos a seus fornecedores. Às vezes, requisitava toda a produção de determinado gênero alimentício. Esses alimentos, comprados em quantidade muito além da necessária, eram sorrateiramente revendidos a particulares por altos preços. Em 1819, por sugestão de Plácido, D. João requisitou que seus guardas recolhessem à Real Ucharia todos os frangos da cidade do Rio de Janeiro. Todos, inclusive os dos hospitais! Podiam os doentes ficar sem sua canja de galinha, mas o Rei não dispensava frango algum! Claro, a roubalheira rendeu bons frutos, pois só era possível se obter galinhas pagando as propinas que Plácido arbitrava dos pobres cariocas. Sem imprensa nem justiça para defender o povo, este apenas protestava nas esquinas e tabernas. A coisa ficou assim até que um dia de novembro de 1819 um grupo de cidadãos tomou coragem e enviou uma carta de protesto ao Rei, carta esta que se encontra na seção de manuscritos da Biblioteca Nacional e que vale a pena ser aqui reproduzida em seu trecho inicial, bem pitoresco: “Dizem os moradores desta cidade, que eles, suplicantes, se vem na maior consternação possível pela falta de galinhas e mais criação de penas para o socorro dos enfermos particulares, pois por dinheiro algum as podem encontrar senão em mão do Galinheiro da Real Ucharia.” “Os habitantes desta Côrte, Real Senhor, são contentes, com a maior satisfação, que a Real Ucharia tenha a preferência com a maior abundância possível, mas não que o Galinheiro, a título dela, faça os maiores insultos possíveis, que é andar com atravessadores pelos recôncavos desta cidade tomando e apreendendo toda a criação a título de contrato, e não satisfeito com estes insultos, passa o suplicado em pessoa a andar pelo mar, embarcado, revistando quantos barcos navegam para a Côrte a fim de as tomar pois todas chegam embargadas e nenhuma se vende para as necessidades das ditas moléstias por mais diligência que façam os suplicantes a concorrerem às praças na sua procura.” As mesas fartas demais geram fatalmente o desespero em torno das mesas vazias... Não precisamos dizer que o Rei não respondeu à petição e esta foi parar no limbo da burocracia joanina. A roubalheira da Real Ucharia continuou até abril de 1821, quando D. João retornou à Portugal e o Príncipe D. Pedro desativou aquela repartição, não sem antes nomear Plácido como seu Valete- de-Chambre. Depois seria Comendador e acabaria casando com a filha do Marquês de Inhambupe, Ministro da Fazenda. Naqueles tempos, a roubalheira do governo ficava impune e o povo era quem pagava a conta... 24 PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com