SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 8
Baixar para ler offline
BOLAMA
                 Em conversa com o meu conterrâneo Zeca Castro Fernandes, a cidade
                 de Bolama, banhada pelo rio Grande e
                 onde ambos vivemos na década de
                 cinquenta, voltou a ser recordada tendo,
                 num misto de pesar e surpresa, ambos
constatado que bem poucos eram os topónimos urba-
nos de que lembrávamos.
Para além da voragem do tempo, o certo é que, então,
não nos servíamos deles para identificar qualquer ponto da malha urbana. Entendi,
porém, que deveria conhecê-los e, como tal, meti-me a caminho...
Para tal, tive como base a Planta Topográfica da Cidade de Bolama, à escala 1/2.000,
levantada nos anos de 1920/21, pelo Cor. de Engenharia José Guedes Quinhones,
donde recolhi vários dados. Para além deles, vali-me dos esclarecedores textos do
Anuário da Guiné Portuguesa de 1946, organizado pelo Sr. Fausto Duarte (pai da
Mimela e do Zé Carlos Duarte), recorri a um ou outro antigo residente, socorri-me
das memórias que conservo há mais de meio século (1954/5) e elaborei um croqui, o
qual campeia estre meu passatempo e passo a descrever, admitindo que até os
eventuais erros, despertem, nos que o lerem, saudosas recordações dessa boa terra.
Ora vamos lá ver:
Em termos viários e tendo o rio Grande como referência, poder-se-á dizer que, salvo
ligeiros desvios, Bolama era uma cidade de malha ortogonal constituída por artérias
dispostas perpendicular e/ou paralelamente à frente marítima. Nesse conjunto,
  D   A
            considerei dois grandes eixos que, sensivelmente a meio, se cruzavam ge-
            rando quatro setores, que, dispostos no sentido de circulação dos ponteiros
  C   B     um relógio, identifiquei pelas letras A, B, C e D.

                                    OS EIXOS

Comecemos pelo que se situava no enfiamento da ponte de cimento, com 105 m.
de comprimento e de cujos lados, em meados dos anos 50, vi atracar os navios
“Formosa” e “Corubal”, recém chegados à Guiné.
No prolongamento dessa ponte, ficava o, outrora,
Largo D. Luiz I e dele saía a autêntica espinha
vertebral das artéria citadinas, a qual se sub-
dividia, sendo à partida formada pela Rua Mar-
quês de Ávila e Bolama, a qual, à saída da ponte,
arrancava à cota de 6,65 m., perto do local onde
em 1941 foi decidido, por maioria da vereação
camarária, cortar para além dos belos coqueiros, os dois majestosos poilões, tal
qual sentinelas vigilantes cujas amplas frondes se cruzavam.
Trata-se de uma via inicialmente declivosa a que, no seu enfiamento e com ligeiro
diferencial de cota, se segue a Av. da República, a qual se estende até ao antigo
edifício do antigo Hospital Militar e Civil, onde atinge a cota de 21,23 m.

Perpendicular a este eixo, encontra-se o outro formado pela Rua Sá da Bandeira
que, partindo do Largo Gov. Carlos Pereira (o primeiro Governador da Guiné, no
período subsequente à implantação da República), situado em frente à porta de
armas do quartel, e se estende até à R. João Marques Barros, virada à Ilha das
Cobras.
Do Largo Gov. Carlos Pereira partiam, para além da R. Sá da Bandeira, as ruas
João Chagas, Gov. Albuquerque, Gov. Sequeira e ainda a Alferes Malheiro, esta a
caminho das Oficinas Navais, situadas para lá da antiga ponte de madeira destinada
a acolher os Clipper da Pan-American que, de 1940 a 1945, amararam no espelho
de água fluvial e cujos passageiros conferiam à cidade um apreciado toque de
internacionalidade. A talhe de foice, diga-se que a instalação das Oficinas Navais
nos barracões que haviam pertencido à Companhia Agrícola e Comercial dos
Bijagós, teve lugar no ano de 1908.
Saindo do quartel pela porta de armas tínhamos
à esquerda a R. Sá da Bandeira e, seguindo-se
por ela, deparávamos, à direita, com um o
grande edifício de 1º andar, vulgo denominado
“sobrado”, em que existiam quatro moradias
destinadas a destacados quadros do funciona-
lismo público. No largo em frente ao referido
edifício foi colocada, no início dos anos 60, a
estátua do 18º presidente dos Estados Unidos, Ulysses Simpson Grant, que viveu
de 1822 a 1885 e que a 21.04.1870 arbitrou favorável a Portugal o litígio luso-
britânico referente à posse da Ilha de Bolama. De recordar que a defesa nacional
esteve a cargo do diplomata António José de Ávila, Conde de Ávila e que, por
decreto de 24.05.1870, ascendeu a Marquês de Ávila e ao título nobiliário
adicionou, então, a designação de Bolama.
Passado o já mencionado eixo viário que
sai da ponte cais, a rua começa a perder
cota.
À sua esquerda, deparávamos com o edi-
fício da Escola de S. José, integrado na
rede de estabelecimentos geridos pelas
Missões Católicas, seguia-se a Rua Lati-
no Coelho, as instalações da Polícia de Segurança Pública (PSP), bem como as da
outrora Repartição do Fomento e que deram lugar às Obras Públicas. Estas já eram
voltadas para a grande Praça, que oficialmente dava pelo nome de Infante D.
Henrique, mas que, em voz corrente, era conhecida por Praça Maria da Fonte,
designação decorrente do facto de no centro estar um fontenário de cuja torre,
outrora, caía água em cascata.
Do lado direito da R. Sá da Bandeira deparámos, em frente à PSP, com as, então,
instalações do Sport Lisboa e Bolama, filial do Sport Lisboa e Benfica, mesmo na
esquina da Praça, seguindo-se, do outro lado destas, a Cervejaria pertencente a
Alfredo Mateus dos Santos, que, por anúncio publicado no Anuário de 1946 da
Guiné, informava que produzia gelo, material que à época era raro e cobiçado.
Ao fundo da Rua era o lugar conhecido por Gam Crioulo, onde se situava a casa do
rico e respeitado comerciante guineense António dos Santos Teixeira, um dos
resistentes que, pouco antes da derradeira arrancada da denominada “guerra
pacificação”, da ilha de Bissau, sofreu na pele o autoritarismo do Major João
Teixeira Pinto, de que, mais tarde, buscaria desagravo em tribunal...

                              OS SETORES

Descritos os dois grandes eixos viários, apreciemos os quatro setores.
Comecemos por descrever aquele a que atribui a
letra A e fica à esquerda de quem sai do Hospital
e segue pela Av. da República, até a Rua Sá de
Bandeira. Era, pois, delimitado pela Av. da Re-
pública, onde se situava a antiga e bela agência
do Banco Nacional Ultramarino (BNU), estabele-
cida em 1903, a zona inclinada da R. Sá da
Bandeira, virando à esquerda para a R. João
Marques de Barros e desta voltando, de novo à esquerda para o ponto de partida
pela R. 5 de Outubro.
Tendo em conta que as artérias paralelas à frente marítima são as transversais,
aquela com que primeiro nos damos é, justamente, a Rua 5 de Outubro que saindo
                      da Praça ajardinada Gov. Sousa Guerra, mais tarde deno-
                      minada Teixeira Pinto, onde existiu um monumento ---
                      evocativo desse militar nascido em Moçâmedes esteve na
                      Guiné e viria a morrer em Moçambique --- em forma de
                      pirâmide. A rua arrancava em frente a igreja, passava à frente
                      do edifício, de traço helé-
                      nico, de autoria do já men-
cionado Cor. Quinhones e construído em 1927,
que abrigava a Administração e a Câmara Mu-
nicipal, atravessava a Av. da República, a R.
Latino Coelho e chegava à R. Teófilo de Braga.
A R. Latino Coelho corria paralela à Av. da
República e passava nas traseiras do majestoso
edifício do Banco Nacional Ultramarino (BNU) --- cuja agência funcionou até
15.06.1942 e que, anos mais tarde, num sopro de revitalização, sofreu
beneficiações para acolher o Hotel Turismo --- e em frente à Escola Primária
“Nuno Tristão”, vindo a acabar na R. Sá da Bandeira, entre as instalações da
Polícia e da Escola das Missões.
Fotos recentes do Google Earth com um grande prédio foi intercetada a sua ligação
à R. Sá da Bandeira.
Entre a R. Latino Coelho e a R. João Marques Barros, ficava a R. Teófilo de Braga
cujo paralelismo se não verificava. Nela residiam, entre outras, a grande família
Nunes Correia, assim como a de Jorge Reviére, existindo os estabelecimentos de
Manuel Simões Marcelino (MSM) e de Santos Marques. E, por fim, vamo-nos
referir à R. João Marques de Barros, evocativa de um grande guineense do séc.
XIX, a qual, em grande parte da sua extensão delimitava o setor A nela sendo de
realçar o grande “sobrado”, mandado construir pelo conhecido comerciante e
grande agricultor Manuel Pinho Brandão, em cujo rés do chão se situava a loja de
Júlio Lopes Pereira, respeitável cidadão que conheci e era referência viva da
cidade, tendo presidido à edilidade Bolamense, nomeadamente aquando da visita
do Presidencial de 1955, no mandato do General Francisco Higino Craveiro Lopes.

Passemos a descrever o setor B, que ficava à direita de
quem sobe a R. Marquês de Ávila e Bolama, nele se
integrando o antigo Palácio do Governador e que, após
1941, com a mudança da capital para Bissau, passou a
ser residência do Administrador. Nele ficou alojado,
em Maio de 1955 o Presidente Craveiro Lopes e o Ministro do Ultramar que, à
data, era o Comand. Sarmento Rodrigues, aquando da visita à Guiné.
À sua frente havia a Av. Almirante Cândido dos Reis assim como, até à
                          implantação da República, o Largo D. Luiz I. Nesse
                          Largo --- na sequência do desastre ocorrido em 06 de
                          Janeiro de 1931, com 2 hidroaviões que integravam a
                          esquadrilha italiana, de 14 aparelhos, sob o comando de
                          Ítalo Barbo e com o objetivo de, em formação, efetua-
                          rem a primeira travessia do Atlântico Sul --- foi em
Outubro desse ano erigido um monumento evocativo ao acidente, sendo o único do
período do fascismo, em África.                                      c
Continuando a subir a R. Marquês de Ávila e                                   b
Bolama tínhamos à direita a dependência da                                               a

Casa Soller, firma belga, delimitada pela
continuação da R. Machado dos Santos.             d
Prosseguindo surgiam, nos extremos do pró-
ximo quarteirão, dois sobrados, sendo o pri-
meiro de Lourenço Marques Duarte (a) e, na
                                       (a)        Casa de Lourenço Marques Duarte (a), “A
esquina de cima, o da firma “A Competidora” Competidora” de António de Almeida (b),
de António de Almeida (b), posto que se prédio da Casa Gouveia (c) e Garagem dos
                                                    Bombeiros Voluntários de Bolama (d).
deparava com a continuidade da R. João
Chagas. Subindo a Rua surgia outro grande sobrado (c) pertencente a Casa
Gouveia.
Como se pode ver na foto supra, esta artéria teve um separado central, que até lhe
conferia uma certa elegância.
Voltemos à R. João Chagas que, passada a R. Marquês de Ávila e Bolama,
                                       atravessava por entre os sobrados da casa
                                       comercial “A Competidora”, como referi de
                                       António de Almeida, na principal artéria, e o
                                       da poderosa empresa de António da Silva
                                       Gouveia (ASG), vulgo casa Gouveia, se-
                                       guindo-se a face lateral da Imprensa Nacio-
                                       nal, posto que passava a Praça do Infante D.
                                       Henrique numa das suas cabeceiras, do lado
em que ficava a principal porta o Mercado de Bolama, indo acabar na R. João
Marques de Barros.
A bem dizer, o centro da cidade era o Mercado. Em seu redor, para além do edif.
da Imprensa Nacional, encontravam-se as casas comerciais Ligeiro, Borda, bem
como a do libanês Said Saad, esta já voltada à Rua Machado dos Santos, tal como
a do português Ernesto Gonçalves de Carvalho, vulgarmente designado por
“Pintosinho”, assim como, pegando com o sobrado da casa comercial Duarte, a
antiga Casa Guedes que nos finais dos anos cinquenta foi absorvida pela Sociedade
Comercial Ultramarina (SCU).
A Rua Machado dos Santos nascia na R. Alferes
Malheiro e era paralela à frente marginal.
Atravessava a Rua Gov. Sequeira, passava pelo
belo sobrado dos Bombeiros Voluntários de
Bolama, em cujo primeiro andar havia um salão
que acolhia um pequeno teatro onde no início dos
anos 50 atuou um grupo de antigos estudantes de O sobrado dos Bombeiros Voluntários
Coimbra em digressão pela Guiné. Em frente e já de Bolama, situado no cruzamento da R.
na esquina com a R. Gov. Albuquerque era a casa Machadose vê na foto. e Gov. Albuquer-
                                                      que, que
                                                               dos Santos

comercial Fernandes (do Jaime, Maria e João).
Depois, atravessava a R. Gov. Albuquerque, indo em frente neste setor até à Rua
Marquês de Ávila e Bolama. Das traseiras do Mercado, descia-se para a Av.
Almirante Cândido dos Reis pela denominada Travessa do Mercado ficando à
esquerda o grande quarteirão ocupado por armazéns da Casa Gouveia, cuja fachada
era voltada à frente marítima. Contornando-a entrava-se na R. João Marques de
Barros onde, por altura do término da R. Machado dos Santos, se encontrava a casa
comercial de Carlos Gomes, vulgo “Cadogo”.

Passemos ao setor C cujos limites são definidos pelo
troço plano da R. Sá da Bandeira, a R. Marquês de
Ávila e Bolama, parte da frente marítima, em que, por
sinal, se encontravam as duas pontes --- a de cimento
e a madeira, de maior comprimento, com rampa bas-
culante ligada a uma jangada e destinada a apoiar as
ligações aéreas dos célebres Clippers da Pan-American, que operaram de 1940 a
1945, facilitando as saídas e entradas de passageiros.
Volvia-se à direita para as instalações das Oficinas Navais, a partir das quais se
                             acedia pelas Ruas Alferes Malheiro, Gov. Sequeira e
                             Gov. Albuquerque, ao Largo Gov. Carlos Pereira para
                             onde, como disse, dava a porta de armas do quartel.
                             Neste setor, para além de uma travessa que separava
                             as instalações do Cinema do grande edifício que
                             albergava as repartições dos Correios, das Finanças,
                             bem como a Delegacia Marítima e ainda a Repartição
de Finanças. Duas ruas atravessavam o eixo cons-
tituído pela R. Marquês de Ávila e Bolama que era a
linha de charneira setorial.
Uma das artérias, de projeção oblíqua, era a Rua
João Chagas. A outra, de sentido ortogonal, era a R.
Machado dos Santos. No limite deste setor, definido
pela R. Marquês de Ávila e Bolama só havia habi-
tações deste o encontro com a R. Sá da Bandeira até à garagem dos Bombeiros
Voluntários que pegava com as instalações do Cinema as quais, mais tarde, foram
bastante beneficiadas.

Por fim entremos no setor D o qual partia da frontaria da igreja e se estendia ao
longo da extensão do Quartel, cujos pavi-
lhões eram de estrutura metálica assentes em
pilares de ferro elevados cerca de um metro
acima do solo, o que para além de assegurar
excelente ventilação reduzia, de sobrema-
neira, a humidade no interior das dependên-
                            cias. Era limitado por parte da Rua 5 de Outubro, a
                            Av. da República e a parte plana da R. Sá da Bandeira.
                            Este setor era, essencialmente, composto por equipa-
                            mentos públicos como, por exemplo, um grande espa-
                            ço ajardinado fronteiro à Câmara e à Igreja paroquial,
                            o Parque Infantil com diversificado equipamento, o
                            Coreto na sua retaguarda e nele foi erguida a estátua
                            ao presidente americano Ulysses S. Grant.

Meus Caros.
Isto foi o que eu consegui escrever sobre a velha capital cuja memória tão
fundo me toca. Estou certo que, por certo, outros mais conhecedores,
melhor habilitados com facilidade e sem erros saberão ir muito mais longe.
                           António Júlio E. Estácio
                                 10.04.2012
Bolama

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

MINA DE FERRO DE CUNHAÚ
MINA DE FERRO DE CUNHAÚMINA DE FERRO DE CUNHAÚ
MINA DE FERRO DE CUNHAÚJonasblog
 
As relações étnicas na conquista da guanabara
As relações  étnicas na conquista da guanabaraAs relações  étnicas na conquista da guanabara
As relações étnicas na conquista da guanabaraMaike Piragibe Cavalcante
 
Vila Real de Santo António no I Centenário do seu Fundador
Vila Real de Santo António no I Centenário do seu FundadorVila Real de Santo António no I Centenário do seu Fundador
Vila Real de Santo António no I Centenário do seu FundadorJosé Mesquita
 
Coutos e terras de degredo no Algarve
Coutos e terras de degredo no AlgarveCoutos e terras de degredo no Algarve
Coutos e terras de degredo no AlgarveJosé Mesquita
 
Tavira, o Marquês de Pombal e a fábrica de Tapeçarias
Tavira, o Marquês de Pombal e a fábrica de TapeçariasTavira, o Marquês de Pombal e a fábrica de Tapeçarias
Tavira, o Marquês de Pombal e a fábrica de TapeçariasJosé Mesquita
 
Vol i 3_historia_de_mato_grosso
Vol i 3_historia_de_mato_grossoVol i 3_historia_de_mato_grosso
Vol i 3_historia_de_mato_grossotaigla
 
Os bandeirantes conquistam Mato Grosso
Os bandeirantes conquistam  Mato GrossoOs bandeirantes conquistam  Mato Grosso
Os bandeirantes conquistam Mato GrossoEdenilson Morais
 
HISTORIA DAS OPERAÇÕES ESPECIAIS DA PMPR
HISTORIA DAS OPERAÇÕES ESPECIAIS DA PMPRHISTORIA DAS OPERAÇÕES ESPECIAIS DA PMPR
HISTORIA DAS OPERAÇÕES ESPECIAIS DA PMPRSERGIO DE MELLO QUEIROZ
 

Mais procurados (12)

MINA DE FERRO DE CUNHAÚ
MINA DE FERRO DE CUNHAÚMINA DE FERRO DE CUNHAÚ
MINA DE FERRO DE CUNHAÚ
 
As relações étnicas na conquista da guanabara
As relações  étnicas na conquista da guanabaraAs relações  étnicas na conquista da guanabara
As relações étnicas na conquista da guanabara
 
Vila Real de Santo António no I Centenário do seu Fundador
Vila Real de Santo António no I Centenário do seu FundadorVila Real de Santo António no I Centenário do seu Fundador
Vila Real de Santo António no I Centenário do seu Fundador
 
Morro da conceição
Morro da conceiçãoMorro da conceição
Morro da conceição
 
Coutos e terras de degredo no Algarve
Coutos e terras de degredo no AlgarveCoutos e terras de degredo no Algarve
Coutos e terras de degredo no Algarve
 
História de fortaleza
História de fortalezaHistória de fortaleza
História de fortaleza
 
Tavira, o Marquês de Pombal e a fábrica de Tapeçarias
Tavira, o Marquês de Pombal e a fábrica de TapeçariasTavira, o Marquês de Pombal e a fábrica de Tapeçarias
Tavira, o Marquês de Pombal e a fábrica de Tapeçarias
 
Ipanema 100 anos
Ipanema 100 anosIpanema 100 anos
Ipanema 100 anos
 
Vol i 3_historia_de_mato_grosso
Vol i 3_historia_de_mato_grossoVol i 3_historia_de_mato_grosso
Vol i 3_historia_de_mato_grosso
 
Os bandeirantes conquistam Mato Grosso
Os bandeirantes conquistam  Mato GrossoOs bandeirantes conquistam  Mato Grosso
Os bandeirantes conquistam Mato Grosso
 
HISTORIA DAS OPERAÇÕES ESPECIAIS DA PMPR
HISTORIA DAS OPERAÇÕES ESPECIAIS DA PMPRHISTORIA DAS OPERAÇÕES ESPECIAIS DA PMPR
HISTORIA DAS OPERAÇÕES ESPECIAIS DA PMPR
 
Livro volume ii história op esp
Livro volume ii história op espLivro volume ii história op esp
Livro volume ii história op esp
 

Semelhante a Bolama

Av. presidente vargas o antes o durante e o depois
Av. presidente vargas   o antes o durante e o depoisAv. presidente vargas   o antes o durante e o depois
Av. presidente vargas o antes o durante e o depoisAriana Martins
 
à Procura de um porto desaparecio (ad)
à Procura de um porto desaparecio   (ad)à Procura de um porto desaparecio   (ad)
à Procura de um porto desaparecio (ad)jmpcard
 
Av. Presidente Vargas - O antes, o durante e o depois
Av. Presidente Vargas - O antes, o durante e o depoisAv. Presidente Vargas - O antes, o durante e o depois
Av. Presidente Vargas - O antes, o durante e o depoisLuiz Dias
 
Av. Presidente Vargas - O antes, o durante e o depois
Av. Presidente Vargas - O antes, o durante e o depoisAv. Presidente Vargas - O antes, o durante e o depois
Av. Presidente Vargas - O antes, o durante e o depoisLuiz Carlos Dias
 
Instauraçãodo liberalismo
Instauraçãodo liberalismoInstauraçãodo liberalismo
Instauraçãodo liberalismoMaria Gomes
 
Jaguarão, nossa cidade maravilhosa.
Jaguarão, nossa cidade maravilhosa.Jaguarão, nossa cidade maravilhosa.
Jaguarão, nossa cidade maravilhosa.Jauna Cañizares
 
Avenida Presidente Vargas - O antes, o durante e o depois
Avenida Presidente Vargas - O antes,  o durante e o depoisAvenida Presidente Vargas - O antes,  o durante e o depois
Avenida Presidente Vargas - O antes, o durante e o depoisLuiz Carlos Dias
 
Porto ontem e hoje bach
Porto ontem e hoje   bachPorto ontem e hoje   bach
Porto ontem e hoje bachPaula Andrade
 
A história urbana da cidade do rio de janeiro
A história urbana da cidade do rio de janeiroA história urbana da cidade do rio de janeiro
A história urbana da cidade do rio de janeiroSalageo Cristina
 
Quatá sp antonio inacio ferraz- enciclopédia
Quatá sp antonio inacio ferraz- enciclopédia Quatá sp antonio inacio ferraz- enciclopédia
Quatá sp antonio inacio ferraz- enciclopédia ANTONIO INACIO FERRAZ
 
Quatá sp antonio inacio ferraz- enciclopédia digital do oeste paulista
Quatá sp antonio inacio ferraz- enciclopédia digital do oeste paulistaQuatá sp antonio inacio ferraz- enciclopédia digital do oeste paulista
Quatá sp antonio inacio ferraz- enciclopédia digital do oeste paulistaANTONIO INACIO FERRAZ
 
santa lina, empresa José Giorgi, Quatá, Zilor e biorigin
santa lina, empresa José Giorgi, Quatá, Zilor e bioriginsanta lina, empresa José Giorgi, Quatá, Zilor e biorigin
santa lina, empresa José Giorgi, Quatá, Zilor e bioriginAntonio Inácio Ferraz
 
Quatá sp antonio inacio ferraz- enciclopédia digital do oeste paulista
Quatá sp antonio inacio ferraz- enciclopédia digital do oeste paulistaQuatá sp antonio inacio ferraz- enciclopédia digital do oeste paulista
Quatá sp antonio inacio ferraz- enciclopédia digital do oeste paulistaANTONIO INACIO FERRAZ
 
Quatsp antonioinacioferraz enciclopdiadigitaldooestepaulista 151213190138
Quatsp antonioinacioferraz enciclopdiadigitaldooestepaulista 151213190138Quatsp antonioinacioferraz enciclopdiadigitaldooestepaulista 151213190138
Quatsp antonioinacioferraz enciclopdiadigitaldooestepaulista 151213190138ANTONIO INACIO FERRAZ
 

Semelhante a Bolama (20)

Av. presidente vargas o antes o durante e o depois
Av. presidente vargas   o antes o durante e o depoisAv. presidente vargas   o antes o durante e o depois
Av. presidente vargas o antes o durante e o depois
 
Santos
SantosSantos
Santos
 
à Procura de um porto desaparecio (ad)
à Procura de um porto desaparecio   (ad)à Procura de um porto desaparecio   (ad)
à Procura de um porto desaparecio (ad)
 
Av. Presidente Vargas - O antes, o durante e o depois
Av. Presidente Vargas - O antes, o durante e o depoisAv. Presidente Vargas - O antes, o durante e o depois
Av. Presidente Vargas - O antes, o durante e o depois
 
Av. Presidente Vargas - O antes, o durante e o depois
Av. Presidente Vargas - O antes, o durante e o depoisAv. Presidente Vargas - O antes, o durante e o depois
Av. Presidente Vargas - O antes, o durante e o depois
 
Instauraçãodo liberalismo
Instauraçãodo liberalismoInstauraçãodo liberalismo
Instauraçãodo liberalismo
 
Copacabana
CopacabanaCopacabana
Copacabana
 
Rj séc xx
Rj séc xxRj séc xx
Rj séc xx
 
Jaguarão, nossa cidade maravilhosa.
Jaguarão, nossa cidade maravilhosa.Jaguarão, nossa cidade maravilhosa.
Jaguarão, nossa cidade maravilhosa.
 
Avenida Presidente Vargas - O antes, o durante e o depois
Avenida Presidente Vargas - O antes,  o durante e o depoisAvenida Presidente Vargas - O antes,  o durante e o depois
Avenida Presidente Vargas - O antes, o durante e o depois
 
Salvador
SalvadorSalvador
Salvador
 
Porto ontem e hoje bach
Porto ontem e hoje   bachPorto ontem e hoje   bach
Porto ontem e hoje bach
 
Metrô 2
Metrô 2Metrô 2
Metrô 2
 
A história urbana da cidade do rio de janeiro
A história urbana da cidade do rio de janeiroA história urbana da cidade do rio de janeiro
A história urbana da cidade do rio de janeiro
 
Quatá sp antonio inacio ferraz- enciclopédia
Quatá sp antonio inacio ferraz- enciclopédia Quatá sp antonio inacio ferraz- enciclopédia
Quatá sp antonio inacio ferraz- enciclopédia
 
Quatá sp antonio inacio ferraz- enciclopédia digital do oeste paulista
Quatá sp antonio inacio ferraz- enciclopédia digital do oeste paulistaQuatá sp antonio inacio ferraz- enciclopédia digital do oeste paulista
Quatá sp antonio inacio ferraz- enciclopédia digital do oeste paulista
 
santa lina, empresa José Giorgi, Quatá, Zilor e biorigin
santa lina, empresa José Giorgi, Quatá, Zilor e bioriginsanta lina, empresa José Giorgi, Quatá, Zilor e biorigin
santa lina, empresa José Giorgi, Quatá, Zilor e biorigin
 
Quatá sp antonio inacio ferraz- enciclopédia digital do oeste paulista
Quatá sp antonio inacio ferraz- enciclopédia digital do oeste paulistaQuatá sp antonio inacio ferraz- enciclopédia digital do oeste paulista
Quatá sp antonio inacio ferraz- enciclopédia digital do oeste paulista
 
Zona sul 1
Zona sul 1Zona sul 1
Zona sul 1
 
Quatsp antonioinacioferraz enciclopdiadigitaldooestepaulista 151213190138
Quatsp antonioinacioferraz enciclopdiadigitaldooestepaulista 151213190138Quatsp antonioinacioferraz enciclopdiadigitaldooestepaulista 151213190138
Quatsp antonioinacioferraz enciclopdiadigitaldooestepaulista 151213190138
 

Mais de Cantacunda

Lembranças do Reis
Lembranças do ReisLembranças do Reis
Lembranças do ReisCantacunda
 
Jardins do Palácio de Cristal
Jardins do Palácio de Cristal Jardins do Palácio de Cristal
Jardins do Palácio de Cristal Cantacunda
 
18º Encontro da CART1690
18º Encontro da CART169018º Encontro da CART1690
18º Encontro da CART1690Cantacunda
 
O nosso primeiro livro de leitura
O nosso primeiro livro de leituraO nosso primeiro livro de leitura
O nosso primeiro livro de leituraCantacunda
 
Sapal de Corroios
Sapal de CorroiosSapal de Corroios
Sapal de CorroiosCantacunda
 
Aumentar desemprego, baixar salários, aumentar exportações
Aumentar desemprego, baixar salários, aumentar exportaçõesAumentar desemprego, baixar salários, aumentar exportações
Aumentar desemprego, baixar salários, aumentar exportaçõesCantacunda
 
Cultura do amendoim na Guiné
Cultura do amendoim na GuinéCultura do amendoim na Guiné
Cultura do amendoim na GuinéCantacunda
 
Cultura o amendoim na Guiné
Cultura o amendoim na GuinéCultura o amendoim na Guiné
Cultura o amendoim na GuinéCantacunda
 
Eduardo Gageiro, fotos com história
Eduardo Gageiro, fotos com históriaEduardo Gageiro, fotos com história
Eduardo Gageiro, fotos com históriaCantacunda
 
Pontes históricas do Minho
Pontes históricas do MinhoPontes históricas do Minho
Pontes históricas do MinhoCantacunda
 
Ensino rudimentar (para indígenas)
Ensino rudimentar (para indígenas)Ensino rudimentar (para indígenas)
Ensino rudimentar (para indígenas)Cantacunda
 
História da guiné bissau em datas
História da guiné bissau em datasHistória da guiné bissau em datas
História da guiné bissau em datasCantacunda
 
As crises político-militares na Guiné-Bissau
As crises político-militares na Guiné-BissauAs crises político-militares na Guiné-Bissau
As crises político-militares na Guiné-BissauCantacunda
 
Crenças dos povos da Guiné ii
Crenças dos povos da Guiné iiCrenças dos povos da Guiné ii
Crenças dos povos da Guiné iiCantacunda
 
No segredo das crenças da Guiné
No segredo das crenças da GuinéNo segredo das crenças da Guiné
No segredo das crenças da GuinéCantacunda
 
Motorista para o Relvas por 73466 euros
Motorista para o Relvas por 73466 eurosMotorista para o Relvas por 73466 euros
Motorista para o Relvas por 73466 eurosCantacunda
 
Parque da cidade_(ocidental)
Parque da cidade_(ocidental)Parque da cidade_(ocidental)
Parque da cidade_(ocidental)Cantacunda
 
Parque da cidade_(ocidental)
Parque da cidade_(ocidental)Parque da cidade_(ocidental)
Parque da cidade_(ocidental)Cantacunda
 

Mais de Cantacunda (20)

Lembranças do Reis
Lembranças do ReisLembranças do Reis
Lembranças do Reis
 
Jardins do Palácio de Cristal
Jardins do Palácio de Cristal Jardins do Palácio de Cristal
Jardins do Palácio de Cristal
 
18º Encontro da CART1690
18º Encontro da CART169018º Encontro da CART1690
18º Encontro da CART1690
 
O nosso primeiro livro de leitura
O nosso primeiro livro de leituraO nosso primeiro livro de leitura
O nosso primeiro livro de leitura
 
Sapal de Corroios
Sapal de CorroiosSapal de Corroios
Sapal de Corroios
 
Maiakovski
MaiakovskiMaiakovski
Maiakovski
 
Aumentar desemprego, baixar salários, aumentar exportações
Aumentar desemprego, baixar salários, aumentar exportaçõesAumentar desemprego, baixar salários, aumentar exportações
Aumentar desemprego, baixar salários, aumentar exportações
 
Cultura do amendoim na Guiné
Cultura do amendoim na GuinéCultura do amendoim na Guiné
Cultura do amendoim na Guiné
 
Cultura o amendoim na Guiné
Cultura o amendoim na GuinéCultura o amendoim na Guiné
Cultura o amendoim na Guiné
 
Eduardo Gageiro, fotos com história
Eduardo Gageiro, fotos com históriaEduardo Gageiro, fotos com história
Eduardo Gageiro, fotos com história
 
Pontes históricas do Minho
Pontes históricas do MinhoPontes históricas do Minho
Pontes históricas do Minho
 
Ensino rudimentar (para indígenas)
Ensino rudimentar (para indígenas)Ensino rudimentar (para indígenas)
Ensino rudimentar (para indígenas)
 
Rachel Corrie
Rachel CorrieRachel Corrie
Rachel Corrie
 
História da guiné bissau em datas
História da guiné bissau em datasHistória da guiné bissau em datas
História da guiné bissau em datas
 
As crises político-militares na Guiné-Bissau
As crises político-militares na Guiné-BissauAs crises político-militares na Guiné-Bissau
As crises político-militares na Guiné-Bissau
 
Crenças dos povos da Guiné ii
Crenças dos povos da Guiné iiCrenças dos povos da Guiné ii
Crenças dos povos da Guiné ii
 
No segredo das crenças da Guiné
No segredo das crenças da GuinéNo segredo das crenças da Guiné
No segredo das crenças da Guiné
 
Motorista para o Relvas por 73466 euros
Motorista para o Relvas por 73466 eurosMotorista para o Relvas por 73466 euros
Motorista para o Relvas por 73466 euros
 
Parque da cidade_(ocidental)
Parque da cidade_(ocidental)Parque da cidade_(ocidental)
Parque da cidade_(ocidental)
 
Parque da cidade_(ocidental)
Parque da cidade_(ocidental)Parque da cidade_(ocidental)
Parque da cidade_(ocidental)
 

Bolama

  • 1.
  • 2. BOLAMA Em conversa com o meu conterrâneo Zeca Castro Fernandes, a cidade de Bolama, banhada pelo rio Grande e onde ambos vivemos na década de cinquenta, voltou a ser recordada tendo, num misto de pesar e surpresa, ambos constatado que bem poucos eram os topónimos urba- nos de que lembrávamos. Para além da voragem do tempo, o certo é que, então, não nos servíamos deles para identificar qualquer ponto da malha urbana. Entendi, porém, que deveria conhecê-los e, como tal, meti-me a caminho... Para tal, tive como base a Planta Topográfica da Cidade de Bolama, à escala 1/2.000, levantada nos anos de 1920/21, pelo Cor. de Engenharia José Guedes Quinhones, donde recolhi vários dados. Para além deles, vali-me dos esclarecedores textos do Anuário da Guiné Portuguesa de 1946, organizado pelo Sr. Fausto Duarte (pai da Mimela e do Zé Carlos Duarte), recorri a um ou outro antigo residente, socorri-me das memórias que conservo há mais de meio século (1954/5) e elaborei um croqui, o qual campeia estre meu passatempo e passo a descrever, admitindo que até os eventuais erros, despertem, nos que o lerem, saudosas recordações dessa boa terra. Ora vamos lá ver: Em termos viários e tendo o rio Grande como referência, poder-se-á dizer que, salvo ligeiros desvios, Bolama era uma cidade de malha ortogonal constituída por artérias dispostas perpendicular e/ou paralelamente à frente marítima. Nesse conjunto, D A considerei dois grandes eixos que, sensivelmente a meio, se cruzavam ge- rando quatro setores, que, dispostos no sentido de circulação dos ponteiros C B um relógio, identifiquei pelas letras A, B, C e D. OS EIXOS Comecemos pelo que se situava no enfiamento da ponte de cimento, com 105 m. de comprimento e de cujos lados, em meados dos anos 50, vi atracar os navios “Formosa” e “Corubal”, recém chegados à Guiné. No prolongamento dessa ponte, ficava o, outrora, Largo D. Luiz I e dele saía a autêntica espinha vertebral das artéria citadinas, a qual se sub- dividia, sendo à partida formada pela Rua Mar- quês de Ávila e Bolama, a qual, à saída da ponte, arrancava à cota de 6,65 m., perto do local onde em 1941 foi decidido, por maioria da vereação camarária, cortar para além dos belos coqueiros, os dois majestosos poilões, tal qual sentinelas vigilantes cujas amplas frondes se cruzavam.
  • 3. Trata-se de uma via inicialmente declivosa a que, no seu enfiamento e com ligeiro diferencial de cota, se segue a Av. da República, a qual se estende até ao antigo edifício do antigo Hospital Militar e Civil, onde atinge a cota de 21,23 m. Perpendicular a este eixo, encontra-se o outro formado pela Rua Sá da Bandeira que, partindo do Largo Gov. Carlos Pereira (o primeiro Governador da Guiné, no período subsequente à implantação da República), situado em frente à porta de armas do quartel, e se estende até à R. João Marques Barros, virada à Ilha das Cobras. Do Largo Gov. Carlos Pereira partiam, para além da R. Sá da Bandeira, as ruas João Chagas, Gov. Albuquerque, Gov. Sequeira e ainda a Alferes Malheiro, esta a caminho das Oficinas Navais, situadas para lá da antiga ponte de madeira destinada a acolher os Clipper da Pan-American que, de 1940 a 1945, amararam no espelho de água fluvial e cujos passageiros conferiam à cidade um apreciado toque de internacionalidade. A talhe de foice, diga-se que a instalação das Oficinas Navais nos barracões que haviam pertencido à Companhia Agrícola e Comercial dos Bijagós, teve lugar no ano de 1908. Saindo do quartel pela porta de armas tínhamos à esquerda a R. Sá da Bandeira e, seguindo-se por ela, deparávamos, à direita, com um o grande edifício de 1º andar, vulgo denominado “sobrado”, em que existiam quatro moradias destinadas a destacados quadros do funciona- lismo público. No largo em frente ao referido edifício foi colocada, no início dos anos 60, a estátua do 18º presidente dos Estados Unidos, Ulysses Simpson Grant, que viveu de 1822 a 1885 e que a 21.04.1870 arbitrou favorável a Portugal o litígio luso- britânico referente à posse da Ilha de Bolama. De recordar que a defesa nacional esteve a cargo do diplomata António José de Ávila, Conde de Ávila e que, por decreto de 24.05.1870, ascendeu a Marquês de Ávila e ao título nobiliário adicionou, então, a designação de Bolama. Passado o já mencionado eixo viário que sai da ponte cais, a rua começa a perder cota. À sua esquerda, deparávamos com o edi- fício da Escola de S. José, integrado na rede de estabelecimentos geridos pelas Missões Católicas, seguia-se a Rua Lati- no Coelho, as instalações da Polícia de Segurança Pública (PSP), bem como as da outrora Repartição do Fomento e que deram lugar às Obras Públicas. Estas já eram voltadas para a grande Praça, que oficialmente dava pelo nome de Infante D. Henrique, mas que, em voz corrente, era conhecida por Praça Maria da Fonte, designação decorrente do facto de no centro estar um fontenário de cuja torre, outrora, caía água em cascata.
  • 4. Do lado direito da R. Sá da Bandeira deparámos, em frente à PSP, com as, então, instalações do Sport Lisboa e Bolama, filial do Sport Lisboa e Benfica, mesmo na esquina da Praça, seguindo-se, do outro lado destas, a Cervejaria pertencente a Alfredo Mateus dos Santos, que, por anúncio publicado no Anuário de 1946 da Guiné, informava que produzia gelo, material que à época era raro e cobiçado. Ao fundo da Rua era o lugar conhecido por Gam Crioulo, onde se situava a casa do rico e respeitado comerciante guineense António dos Santos Teixeira, um dos resistentes que, pouco antes da derradeira arrancada da denominada “guerra pacificação”, da ilha de Bissau, sofreu na pele o autoritarismo do Major João Teixeira Pinto, de que, mais tarde, buscaria desagravo em tribunal... OS SETORES Descritos os dois grandes eixos viários, apreciemos os quatro setores. Comecemos por descrever aquele a que atribui a letra A e fica à esquerda de quem sai do Hospital e segue pela Av. da República, até a Rua Sá de Bandeira. Era, pois, delimitado pela Av. da Re- pública, onde se situava a antiga e bela agência do Banco Nacional Ultramarino (BNU), estabele- cida em 1903, a zona inclinada da R. Sá da Bandeira, virando à esquerda para a R. João Marques de Barros e desta voltando, de novo à esquerda para o ponto de partida pela R. 5 de Outubro. Tendo em conta que as artérias paralelas à frente marítima são as transversais, aquela com que primeiro nos damos é, justamente, a Rua 5 de Outubro que saindo da Praça ajardinada Gov. Sousa Guerra, mais tarde deno- minada Teixeira Pinto, onde existiu um monumento --- evocativo desse militar nascido em Moçâmedes esteve na Guiné e viria a morrer em Moçambique --- em forma de pirâmide. A rua arrancava em frente a igreja, passava à frente do edifício, de traço helé- nico, de autoria do já men- cionado Cor. Quinhones e construído em 1927, que abrigava a Administração e a Câmara Mu- nicipal, atravessava a Av. da República, a R. Latino Coelho e chegava à R. Teófilo de Braga. A R. Latino Coelho corria paralela à Av. da República e passava nas traseiras do majestoso edifício do Banco Nacional Ultramarino (BNU) --- cuja agência funcionou até 15.06.1942 e que, anos mais tarde, num sopro de revitalização, sofreu beneficiações para acolher o Hotel Turismo --- e em frente à Escola Primária “Nuno Tristão”, vindo a acabar na R. Sá da Bandeira, entre as instalações da Polícia e da Escola das Missões.
  • 5. Fotos recentes do Google Earth com um grande prédio foi intercetada a sua ligação à R. Sá da Bandeira. Entre a R. Latino Coelho e a R. João Marques Barros, ficava a R. Teófilo de Braga cujo paralelismo se não verificava. Nela residiam, entre outras, a grande família Nunes Correia, assim como a de Jorge Reviére, existindo os estabelecimentos de Manuel Simões Marcelino (MSM) e de Santos Marques. E, por fim, vamo-nos referir à R. João Marques de Barros, evocativa de um grande guineense do séc. XIX, a qual, em grande parte da sua extensão delimitava o setor A nela sendo de realçar o grande “sobrado”, mandado construir pelo conhecido comerciante e grande agricultor Manuel Pinho Brandão, em cujo rés do chão se situava a loja de Júlio Lopes Pereira, respeitável cidadão que conheci e era referência viva da cidade, tendo presidido à edilidade Bolamense, nomeadamente aquando da visita do Presidencial de 1955, no mandato do General Francisco Higino Craveiro Lopes. Passemos a descrever o setor B, que ficava à direita de quem sobe a R. Marquês de Ávila e Bolama, nele se integrando o antigo Palácio do Governador e que, após 1941, com a mudança da capital para Bissau, passou a ser residência do Administrador. Nele ficou alojado, em Maio de 1955 o Presidente Craveiro Lopes e o Ministro do Ultramar que, à data, era o Comand. Sarmento Rodrigues, aquando da visita à Guiné. À sua frente havia a Av. Almirante Cândido dos Reis assim como, até à implantação da República, o Largo D. Luiz I. Nesse Largo --- na sequência do desastre ocorrido em 06 de Janeiro de 1931, com 2 hidroaviões que integravam a esquadrilha italiana, de 14 aparelhos, sob o comando de Ítalo Barbo e com o objetivo de, em formação, efetua- rem a primeira travessia do Atlântico Sul --- foi em Outubro desse ano erigido um monumento evocativo ao acidente, sendo o único do período do fascismo, em África. c Continuando a subir a R. Marquês de Ávila e b Bolama tínhamos à direita a dependência da a Casa Soller, firma belga, delimitada pela continuação da R. Machado dos Santos. d Prosseguindo surgiam, nos extremos do pró- ximo quarteirão, dois sobrados, sendo o pri- meiro de Lourenço Marques Duarte (a) e, na (a) Casa de Lourenço Marques Duarte (a), “A esquina de cima, o da firma “A Competidora” Competidora” de António de Almeida (b), de António de Almeida (b), posto que se prédio da Casa Gouveia (c) e Garagem dos Bombeiros Voluntários de Bolama (d). deparava com a continuidade da R. João Chagas. Subindo a Rua surgia outro grande sobrado (c) pertencente a Casa Gouveia. Como se pode ver na foto supra, esta artéria teve um separado central, que até lhe conferia uma certa elegância.
  • 6. Voltemos à R. João Chagas que, passada a R. Marquês de Ávila e Bolama, atravessava por entre os sobrados da casa comercial “A Competidora”, como referi de António de Almeida, na principal artéria, e o da poderosa empresa de António da Silva Gouveia (ASG), vulgo casa Gouveia, se- guindo-se a face lateral da Imprensa Nacio- nal, posto que passava a Praça do Infante D. Henrique numa das suas cabeceiras, do lado em que ficava a principal porta o Mercado de Bolama, indo acabar na R. João Marques de Barros. A bem dizer, o centro da cidade era o Mercado. Em seu redor, para além do edif. da Imprensa Nacional, encontravam-se as casas comerciais Ligeiro, Borda, bem como a do libanês Said Saad, esta já voltada à Rua Machado dos Santos, tal como a do português Ernesto Gonçalves de Carvalho, vulgarmente designado por “Pintosinho”, assim como, pegando com o sobrado da casa comercial Duarte, a antiga Casa Guedes que nos finais dos anos cinquenta foi absorvida pela Sociedade Comercial Ultramarina (SCU). A Rua Machado dos Santos nascia na R. Alferes Malheiro e era paralela à frente marginal. Atravessava a Rua Gov. Sequeira, passava pelo belo sobrado dos Bombeiros Voluntários de Bolama, em cujo primeiro andar havia um salão que acolhia um pequeno teatro onde no início dos anos 50 atuou um grupo de antigos estudantes de O sobrado dos Bombeiros Voluntários Coimbra em digressão pela Guiné. Em frente e já de Bolama, situado no cruzamento da R. na esquina com a R. Gov. Albuquerque era a casa Machadose vê na foto. e Gov. Albuquer- que, que dos Santos comercial Fernandes (do Jaime, Maria e João). Depois, atravessava a R. Gov. Albuquerque, indo em frente neste setor até à Rua Marquês de Ávila e Bolama. Das traseiras do Mercado, descia-se para a Av. Almirante Cândido dos Reis pela denominada Travessa do Mercado ficando à esquerda o grande quarteirão ocupado por armazéns da Casa Gouveia, cuja fachada era voltada à frente marítima. Contornando-a entrava-se na R. João Marques de Barros onde, por altura do término da R. Machado dos Santos, se encontrava a casa comercial de Carlos Gomes, vulgo “Cadogo”. Passemos ao setor C cujos limites são definidos pelo troço plano da R. Sá da Bandeira, a R. Marquês de Ávila e Bolama, parte da frente marítima, em que, por sinal, se encontravam as duas pontes --- a de cimento e a madeira, de maior comprimento, com rampa bas- culante ligada a uma jangada e destinada a apoiar as ligações aéreas dos célebres Clippers da Pan-American, que operaram de 1940 a 1945, facilitando as saídas e entradas de passageiros.
  • 7. Volvia-se à direita para as instalações das Oficinas Navais, a partir das quais se acedia pelas Ruas Alferes Malheiro, Gov. Sequeira e Gov. Albuquerque, ao Largo Gov. Carlos Pereira para onde, como disse, dava a porta de armas do quartel. Neste setor, para além de uma travessa que separava as instalações do Cinema do grande edifício que albergava as repartições dos Correios, das Finanças, bem como a Delegacia Marítima e ainda a Repartição de Finanças. Duas ruas atravessavam o eixo cons- tituído pela R. Marquês de Ávila e Bolama que era a linha de charneira setorial. Uma das artérias, de projeção oblíqua, era a Rua João Chagas. A outra, de sentido ortogonal, era a R. Machado dos Santos. No limite deste setor, definido pela R. Marquês de Ávila e Bolama só havia habi- tações deste o encontro com a R. Sá da Bandeira até à garagem dos Bombeiros Voluntários que pegava com as instalações do Cinema as quais, mais tarde, foram bastante beneficiadas. Por fim entremos no setor D o qual partia da frontaria da igreja e se estendia ao longo da extensão do Quartel, cujos pavi- lhões eram de estrutura metálica assentes em pilares de ferro elevados cerca de um metro acima do solo, o que para além de assegurar excelente ventilação reduzia, de sobrema- neira, a humidade no interior das dependên- cias. Era limitado por parte da Rua 5 de Outubro, a Av. da República e a parte plana da R. Sá da Bandeira. Este setor era, essencialmente, composto por equipa- mentos públicos como, por exemplo, um grande espa- ço ajardinado fronteiro à Câmara e à Igreja paroquial, o Parque Infantil com diversificado equipamento, o Coreto na sua retaguarda e nele foi erguida a estátua ao presidente americano Ulysses S. Grant. Meus Caros. Isto foi o que eu consegui escrever sobre a velha capital cuja memória tão fundo me toca. Estou certo que, por certo, outros mais conhecedores, melhor habilitados com facilidade e sem erros saberão ir muito mais longe. António Júlio E. Estácio 10.04.2012