O documento discute nove grandes conflitos mundiais em 2016, incluindo entre Estados Unidos e Rússia, Estados Unidos e China, Israel e Palestina, e Coreia do Norte e Coreia do Sul. Argumenta que um governo mundial é necessário para mediar conflitos e estabelecer a paz global.
SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
O mundo em 2016 e os conflitos internacionais
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O MUNDO EM 2016 E OS CONFLITOS INTERNACIONAIS
Fernando Alcoforado*
Na história da humanidade, houve três tentativas de estabelecer uma governança
internacional que contribuísse para a construção da paz. A primeira tentativa ocorreu em
1648 com a celebração da Paz da Vestfália na Europa que marcou o fim do primeiro
grande conflito europeu, a Guerra dos Trinta anos. A segunda tentativa foi a
constituição da Liga das Nações ou Sociedade das Nações criada em 1919 com o
Tratado de Versalhes que colocava termo à Primeira Guerra Mundial. A terceira e
última tentativa foi a constituição da Organização das Nações Unidas (ONU), ou
simplesmente Nações Unidas que foi estabelecida em 24 de outubro de 1945, após o
término da Segunda Guerra Mundial com a intenção de impedir outro conflito como
aquele. Na sua fundação, a ONU tinha 51 estados membros e hoje são 193.
De acordo com uma matéria publicada pelo jornal The Washington Post, desde o fim da
Segunda Guerra Mundial o mundo conheceu 160 guerras, onde morreram cerca de 7
milhões de soldados e 30 milhões de civis. O ex-secretário de Estado norte-americano,
Zbigniew Brzezinski, fez uma estimativa abrangendo todas as "megamortes" ocorridas
desde 1914 e chegou a um total de 187 milhões de mortos. Em 2016, continua a
escalada dos conflitos internacionais. No contexto internacional atual, é possível
identificar nove grandes conflitos mundiais os quais estão descritos nos parágrafos a
seguir.
O conflito entre os Estados Unidos e aliados ocidentais e a Rússia resulta da tentativa
das potências ocidentais de impedir o revigoramento da Rússia como grande potência
mundial e da recuperação geopolítica da Rússia graças à afirmação de um projeto
nacionalista de recuperação do Estado russo por parte de Wladimir Putin. O conflito
entre os Estados Unidos e a China resulta da necessidade de os Estados Unidos
impedirem a ascensão da China à condição de potência hegemônica no planeta. Para
tanto, foi adotada uma nova estratégia militar global dos Estados Unidos que passou a
se concentrar na região Ásia-Pacífico para fazer frente à ameaça proveniente da China.
Por sua vez, a China promove rápida modernização das forças armadas cujos gastos
militares vão ultrapassar os orçamentos combinados das doze outras grandes potências
da região Ásia-Pacífico.
O conflito entre Israel e Palestina coloca em confronto os povos palestino e judeu pela
ocupação do mesmo território em disputa. Além de assumir a dimensão local, o conflito
Israel- Palestina se insere como um conflito regional no contexto do conflito Árabe-
Israelense que é um longo conflito na região do Oriente Médio, que ocorre desde o final
do século XIX. O conflito entre Israel e Irã resulta do fato de Israel pretender evitar que
o Irã se transforme em uma potência nuclear que possa ameaçar sua sobrevivência como
nação. O conflito entre sunitas e xiitas resulta da rivalidade entre a Arábia Saudita, de
maioria sunita, e o Irã, a grande potência xiita no Oriente Médio. O conflito na Síria é
uma guerra civil que teve início em 2011 e se transformou em guerra regional
envolvendo vários países (Estados Unidos, seus aliados ocidentais e a Arábia Saudita
que apoiam os rebeldes na derrubada do regime de Bashar al-Assad e a Rússia e Irã que
apoiam Bashar al-Assad).
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O choque de civilizações foi previsto por Samuel Huntington no livro Choque de
Civilizações (HUNTINGTON, Samuel. O Choque de Civilizações. Objetiva, 1997) que
apontou uma divergência profunda entre as civilizações Ocidental e Islâmica. É nesse
contexto que se insere o Estado Islâmico que tem por objetivo expandir o seu califado
por todo o Oriente Médio e estabelecer conexões na Europa e outras regiões do mundo,
com o propósito de realizar atentados que lhes possam conferir autoridade através do
terror. O conflito entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul representa a continuidade da
Guerra da Coreia (1950-1953) que foi encerrado com a assinatura do Tratado de Pan-
munjom. Apesar disto, Coreia do Sul e Coreia do Norte continuam oficialmente em
guerra até hoje.
Pelo exposto, é dramática a situação atual do planeta. O mundo em que vivemos virou
um caos ingovernável no qual as grandes potências só pensam em poder e riqueza.
Enquanto prevalecer esta situação no mundo a guerra tende a proliferar em todos os
quadrantes da Terra. Como construir um novo cenário de paz e cooperação entre as nações e os
povos do mundo inteiro? Este é um desafio antigo e pensado por muitos filósofos como é o caso de
ImmanuelKantao abordarestetemaemsuaobra A paz perpétua que propõe os fundamentos e
os princípios necessários para uma livre federação de Estados juridicamente
estabelecidos os quais não adotariam a forma de um Estado mundial, pois isso resultaria
em um absolutismo ilimitado. Deveria haver uma federação de Estados livres em que
todos possuíssem constituições republicanas. O fim último desta federação seria o da
promoção do bem supremo, que é a verdadeira paz entre os Estados, acabando com o
funesto guerrear, para o qual todos os Estados sempre voltaram seus esforços, como fim
principal. A proposta de Kant foi levada à prática com a constituição da Liga das
Nações em 1919 e da ONU em 1946 as quais não foram capazes de viabilizar a paz
mundial.
Tudo o que acaba de ser relatado aponta no sentido de que a humanidade deva constituir
um governo mundial como condição indispensável para colocar um fim às guerras e
fazer prevalecer a paz mundial. Com um governo mundial, será possível mediar os
conflitos, combater a guerra e acabar com o banho de sangue que tem caracterizado a
história da humanidade ao longo da história. O governo mundial deve ser representativo
de todos os povos do mundo. A sobrevivência da humanidade dependerá da capacidade
de se celebrar um Contrato Social Planetário representativo da vontade da maioria da
população do planeta.
* Fernando Alcoforado, 76, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,
http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel,
São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era
Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social
Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG,
Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora,
Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global
(Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do
Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no Brasil-
Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015).