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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA (UFRO)
       CENTRO DE HERMENÊUTICA DO PRESENTE

          PRIMEIRA VERSÃO
                                                                PRIMEIRA VERSÃO
                                                                ISSN 1517-5421               lathé biosa     161
  ANO III, Nº161 - SETEMBRO - PORTO VELHO, 2004
                    VOLUME XI

                       ISSN 1517-5421


                          EDITOR
                    NILSON SANTOS

                 CONSELHO EDITORIAL
         ALBERTO LINS CALDAS – História - UFRO
    CLODOMIR S. DE MORAIS – Sociologia - IATTERMUND
             ARTUR MORETTI – Física - UFRO
            CELSO FERRAREZI – Letras - UFRO
       HEINZ DIETER HEIDEMANN – Geografia - USP
        JOSÉ C. SEBE BOM MEIHY – História – USP
            MARIO COZZUOL – Biologia - UFRO
             MIGUEL NENEVÉ – Letras - UFRO
          ROMUALDO DIAS – Educação - UNICAMP                               FLÁVIO DUTKA

         VALDEMIR MIOTELLO – Filosofia - UFSC

Primeira Versão destina-se a divulgar ensaios breves em todas
Os textos no mínimo 3 laudas, tamanho de folha A4, fonte
Times New Roman 11, espaço 1.5, formatados em “Word for
     Windows” deverão ser encaminhados para e-mail:               BAKHTIN: APONTAMENTOS TEMÁTICOS
                     nilson@unir.br


                     CAIXA POSTAL 775                                                     Maria Celeste Said Marques
                      CEP: 78.900-970
                      PORTO VELHO-RO

                  TIRAGEM 200 EXEMPLARES



        EDITORA UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA
Maria Celeste Said Marques                                                                                                       BAKHTIN:APONTAMENTOS TEMÁTICOS
Professora do Departamento de Educação – UFRO
marques@enter-net.com.br



        Para os propósitos deste ensaio, o que segue não é uma análise exaustiva de idéias bakhtiniana. Trata-se, antes, de um breve diálogo com sua obra. O meu
interesse é explorar o potencial analítico de alguns conceitos e da metodologia de Bakhtin.
        Bakhtin é um dos maiores pensadores do século XX e um teórico fundamental da língua. Em Marxismo e filosofia da linguagem está sua teoria da linguagem
e do dialogismo. Bakhtin enfatizou a heterogeneidade concreta da parole, ou seja, a complexidade multiforme das manifestações de linguagem em situações sociais
concretas, diferentemente de Saussure e dos estruturalistas, que privilegiam a langue, isto é, o sistema abstrato da língua, com suas características formais
passíveis de serem repetidas. Bakhtin concebe a linguagem não só como um sistema abstrato, mas também como uma criação coletiva, integrante de um diálogo
cumulativo entre o “eu” e o “outro”, entre muitos “eus” e muitos “outros”.


        1. O Pensamento de Bakhtin
        Neste tópico, meu procedimento será fazer uma introdução concisa do pensamento de Mikhail Bakhtin fundamentada em Todorov (1979). Depois dialogarei
com seus escritos.
        Escolhi Bakhtin e penetrarei em suas idéias não somente por meio de seus textos, mas também por meio de textos de autores que escrevem sobre ele.
Interessam-me suas concepções relacionadas à linguagem, centrando-me em sua abordagem dialética a partir de suas considerações sobre o caráter ideológico do
signo lingüístico e da natureza eminentemente semiótica (e ideológica) da consciência.
        Todorov (1979) destaca que a unidade da obra de Bakhtin está em sua concepção de que o inter-humano é constitutivo do ser humano: a multiplicidade
dos homens é a verdade do próprio ser do homem. Para Todorov (1979:14), Bakhtin não cessou de procurar o que pode nos parecer agora diferentes linguagens destinadas
a afirmar um único e mesmo pensamento. Poderíamos, desse ponto de vista, distinguir quatro grandes períodos (quatro linguagens), conforme a natureza do campo em que ele
observa a ação desse pensamento: fenomenológico; sociológico; lingüístico; histórico-literário. No decorrer de um quinto período (os últimos anos), Bakhtin tenta a síntese dessas
quatro linguagens diferentes.
        Dessa forma, percebe-se que a arquitetônica, ou construção, da obra de Bakhtin não é unívoca. Os matizes de sua trajetória intelectual podem ser
sintetizados, segundo Todorov (1979), do seguinte modo:
        Período fenomenológico - é representado pelo primeiro livro de Bakhtin, consagrado à relação entre autor e herói, que ele considera como um caso
particular da relação entre dois seres humanos e concentra-se nessa análise. Defende que tal relação é “indispensável [...] para que o ser humano se constitua num


                                                                                                                                                        ISSN 1517 - 5421        2
todo, pois o acabamento só pode vir do exterior, através do olhar do outro” (Todorov, 1979:14). O trabalho de demonstração de Bakhtin compreende dois planos da
pessoa humana. O primeiro, espacial, é o do corpo: “ora, meu corpo só se torna um todo se é visto de fora, ou num espelho (ao passo que vejo, sem menor
problema, o corpo dos outros como um todo acabado)” (p.14). O segundo é temporal, e relaciona-se à ‘alma’: apenas meu nascimento e minha morte me
constituem em um todo; ora, por definição, minha consciência não pode conhecê-los por dentro. Logo, o outro é ao mesmo tempo constitutivo do ser e
fundamentalmente assimétrico em relação a ele: a pluralidade dos homens encontra seu sentido não numa multiplicação quantitativa dos ‘eu’, mas naquilo em que
cada um é o complemento necessário do outro (p.14-5).
        Período sociológico e marxista - o coroamento deste período é representado pelos livros assinados pelos amigos e colaboradores de Bakhtin. Ele e seus
amigos se posicionam contra: a psicologia e a lingüística subjetivas por procederem como se o homem estivessem sozinho no mundo; as teorias empiristas por se
limitarem ao conhecimento dos produtos observáveis da interação humana. Para o grupo bakhtiniano o social tem caráter primordial: “a linguagem e o pensamento,
constitutivos do homem, são necessariamente inter-subjetivos” (p.14).
        Período lingüístico - após suas críticas à lingüística estrutural e à poética formalista - por reduzirem a linguagem a um código e negarem o discurso como uma
ponte lançada entre duas pessoas socialmente constituídas -, Bakhtin se empenha em lançar as bases de uma nova lingüística, chamada de “translingüística” (para
Todorov seria a “pragmática” e Barros (1996:23) opta por teoria do discurso1), cujo objeto não é mais o enunciado, mas a enunciação, isto é, a interação verbal.
Bakhtin formula propostas produtivas para o estudo da interação verbal na última parte de seu Dostoïevski e no ensaio sobre “O discurso no romance”. Ele analisa, em
particular, a forma pela qual “as vozes dos outros - autores anteriores, destinatários hipotéticos - misturam-se à voz do sujeito explícito da enunciação” (p.15).
        Período histórico-literário - inicia-se nos anos trinta. Comporta dois grandes livros, um sobre Goethe e outro sobre Rabelais. Para Todorov (1979:15),
Bakhtin constata que a literatura sempre jogou com a pluralidade de vozes, presentes na consciência dos locutores, mas de duas formas diferentes: ou o discurso da
obra é em si mesmo homogêneo, mas se opõe em bloco às normas lingüísticas gerais; ou então a diversidade do discurso (a ‘heterologia’) se encontra representada
no próprio interior do texto.
        É justamente a essa segunda tradição que Bakhtin dá atenção especial não apenas dentro da literatura, mas também fora. Como resultado, têm-se os
estudos das festas populares, do carnaval e da história do riso, que ele desenvolveu.
        Todas essa linguagens afirmam o pensamento condutor da obra bakhtiniana: a irredutibilidade da entidade transindividual. Todas essas vastas explorações
participam do projeto comum de Bakhtin.



5.Segundo a autora, atualmente, o nome mais adequado é teoria do discurso como correspondente da metalingüística de Bakhtin, visto que “as diferentes pragmáticas que
conhecemos tratam apenas de algumas das questões que Bakhtin desenvolve na sua translingüística. As atuais teorias do discurso parecem-me mais abrangentes e mais próximas,
portanto, das reflexões do autor”.

                                                                                                                                                   ISSN 1517 - 5421       3
Para a compreensão de alguns conceitos e categorias de análise, apontarei percursos a partir dos textos de Bakhtin e de textos de autores que escreveram
       sobre ele. Interessam-me principalmente suas concepções relacionadas à constituição do sujeito, á dialética, à ideologia, ao marxismo, à cultura etc. Para
       isso, seguirei as trilhas de algumas obras, de forma a construir e desenvolver os temas necessários à análise, visto ser fato que nos textos de Bakhtin, os
       conceitos não seguem uma rede temática estritamente definida como os manuais, e seus escritos não convergem para um fechamento. Exercitando o
       próprio percurso não-linear, mas dialógico das idéias, os conceitos bakhtinianos são lidos na rede textual que constitui o conjunto arquitetônico de suas
       formulações. Afinal, trata-se não de fazer uma exposição sobre a teoria de Bakhtin, mas de compreender a construção de determinados conceitos e
       categorias a partir de posicionamentos bem determinados presentes na rede interativa de seus escritos.

        2. A constituição dialógica do sujeito bakhtiniano
        Para Bakhtin, o reconhecimento do sujeito e do sentido é imprescindível para a constituição de ambos.
       Bakhtin coloca em crise a unicidade do sujeito falante. Ele atribui ao sujeito um estatuto heterogêneo. O sujeito modifica seu discurso em função
das intervenções dos outros discursos, sejam elas reais ou imaginadas. Portanto, o sujeito não é a fonte primeira do sentido.
        Segundo Bakhtin, o sujeito emerge do outro. O sujeito bakhtiniano é dialógico e seu conhecimento é fundamentado no discurso que ele produz. Conforme
Bakhtin, “não podemos perceber e estudar o sujeito enquanto tal, como se ele fosse uma coisa, já que ele não pode permanecer sujeito se ele não tem voz; por
conseguinte, seu conhecimento só pode ser dialógico” (Bakhtin, apud Todorov, 1981:34).
        O eu, para Bakhtin, não é monádico e nem autônomo (o cogito autocriador de Descartes). Ele existe a partir da do diálogo com os outros eus; necessita da
colaboração de outros para poder definir-se e ser “autor” de si mesmo.
        Com efeito, o sujeito dialógico bakhtiniano abala a concepção clássica do sujeito cartesiano, circunscrito em uma identidade permanente. O sujeito
baktiniano é solidário das alteridades de seu discurso ao ser concebido numa partição de vozes concorrentes. Dessa forma, a idéia de sujeito de Bakhtin é uma
negação do sujeito pensante de Descartes, ao mesmo tempo, que é o oposto do sujeito lacano-althusseriano da AD francesa, já que “a ‘palavra do outro’ se
transforma, dialogicamente, para tornar-se ‘palavra pessoal-alheia’ com ajuda de outras ‘palavras do outro’, e depois, palavra pessoal (com, poder-se-ia dizer, a
perda das aspas). A palavra já tem, então, um caráter criativo” (Bakhtin, 1992b:405-6).
        Essa fundamentação do sujeito de Bakhtin na crítica radical do sujeito coisa abre uma perspectiva inovadora importante de conhecimento para a lingüística,
pois propõe que o sujeito só pode ser teorizado como objeto de teoria, a não ser com a condição de ser reconstruído como tal, a partir da realidade das outras
vozes de seu discurso. O sujeito bakhtiniano marca sua originalidade epistemológica por meio de um duplo deslocamento. Um que ancora a consciência na palavra:
“a consciência de si é sempre verbal” (Bakhtin/Voloshinov, 1980:183). E outro que ancora o sujeito na comunidade: “eu só pode se realizar no discurso, apoiando-se
em nós” (Bakhtin, apud Todorov, 1981:68).




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O sujeito não está pronto, acabado. É incompleto e está numa busca eterna de completude inconclusa. Com efeito, é impossível uma formação individual
sem alteridade, pois o outro delimita e constrói o espaço de atuação do sujeito no mundo. No entanto, o outro constitui o sujeito ideologicamente e proporciona-lhe
o acabamento.
        Segundo Bakhtin, o mundo semiótico do sujeito é construído com os outros. O nascimento e a seqüência da vida estão marcados por aquilo que
somente o outro sabe, vê e conhece do mundo do sujeito.


        3. Dialética, ideologia e marxismo
        Bakhtin, ao conceber a realidade como essencialmente contraditória e em permanente transformação, fez da dialética o seu método na construção de seu
arcabouço teórico. A sua dialética é dialógica e está vinculada com a totalidade, com a história, com a interação social. Sua visão de mundo é pluralista e polifônica.
Dessa forma, ao privilegiar uma visão mais comunitária da dialética social, Bakhtin afasta-se do marxismo clássico ao dar menos ênfase à determinação econômica.
        Para Bakhtin, o homem constrói sua existência dentro das condições sócio-econômicas objetivas, de uma sociedade. Somente como membro de um grupo
social, de uma classe social é que o indivíduo ascende a uma realidade histórica e a uma produtividade cultural. O nascimento físico não é uma condição suficiente
para o homem ingressar na história, pois o animal também nasce fisicamente e não entra na história. “Portanto, é necessário, um segundo nascimento, um
nascimento social. Não se nasce organismo biológico abstrato, mas camponês ou aristocrata, proletário ou burguês [...]” (Bakhtin/Voloshinov, 1980:34). Dessa
forma, a ligação do homem à vida e à cultura se dá por meio da realidade social e histórica.
        Nessa perspectiva, Bakhtin concebe a consciência como um fato sócio-ideológico. Para ele, a consciência só existe na medida em que se concretiza através
de algum tipo de material semiótico, seja sob a forma de discurso interno, seja no processo de interação verbal com os outros. Com efeito, Bakhtin descentraliza a
consciência individual da filosofia idealista e da visão psicologista da cultura que “afirmam que a ideologia é um fato de consciência e que o aspecto exterior do
signo é simplesmente um revestimento, um meio técnico de realização do efeito interior, isto é, da compreensão” (Bakhtin/Voloshinov, 1992a:33). Para o referido
autor, o verdadeiro lugar do ideológico é o material social particular de signos criados pelo homem. “Sua especificidade reside, precisamente, no fato de que ele se
situa entre indivíduos organizados, sendo o meio de sua comunicação. Os signos só podem aparecer em um terreno interindividual” (Bakhtin/Voloshinov, 1992a:35).
        Assim, segundo Stam (1992:30), Bakhtin, em sua crítica marxista do psicologismo, “desmascara o apreciado mito burguês da autonomia individual”.
        Bakhtin critica também o marxismo vulgar, mecanicista por relegar o mundo dos signos e da ideologia a uma superestrutura determinada pela base
econômica. Pois, para Bakhtin/Voloshinov (1992a:33), “cada signo ideológico é não apenas um reflexo, uma sombra da realidade, mas também um fragmento
material dessa realidade”. Dessa forma, Bakhtin não concebia a ideologia como falseamento da realidade ou falsa consciência. Para ele, o conceito de ideologia é




                                                                                                                                              ISSN 1517 - 5421       5
mais abrangente, pois considera a contradição como constitutiva do produto ideológico, visto que este último “reflete e refrata uma outra realidade que lhe é
exterior” (Bakhtin/Voloshinov, 1992a:31). Essa concepção supõe um movimento dialético com a infra-estrutura.
        Como vimos, Bakhtin faz uma crítica marxista do psicologismo e mostra-se igualmente crítico em relação ao marxismo mecanicista.
        O fenômeno ideológico por excelência e o modo mais puro e sensível de relação social é a palavra, ou seja, a linguagem no sentido mais amplo, de acordo
com Bakhtin/Voloshinov (1992a:36). É na palavra que se revelam a forma básica e ideológica gerais da interação verbal. Dessa forma, “a concepção ampla que
Bakhtin tem da linguagem torna-se um veículo para evitar a armadilha do economicismo mecanicista” (Stam, 1992:31).
        Bakhtin critica a categoria da causalidade mecânica para explicar como a realidade (infra-estrutura) determina a ideologia. Para ele, “o ser, refletido no
signo, não apenas nele se reflete, mas se refrata” e o que determina essa refração do ser no ideológico é confronto de interesses sociais, ou seja, a luta de classes.
“Classes sociais diferentes servem-se de uma só e mesma língua. Conseqüentemente, em todo signo ideológico confrontam-se índices de valor contraditórios. O
signo se torna a arena onde se desenvolve a luta de classes” (Bakhtin/Voloshinov, 1992a :46).
        Essa plurivalência social do signo ideológico é o traço que torna o signo vivo, móvel e capaz de evoluir. No entanto, segundo Bakhtin/Voloshinov (1992a:47),
essa mesma característica faz dele um instrumento de refração de deformação do ser: “a classe dominante tende a conferir ao signo ideológico um caráter
intangível e acima das diferenças de classe, a fim de abafar ou de ocultar a luta dos índices sociais de valor que aí se trava, a fim de tornar o signo monovalente”.
Na realidade, para Bakhtin, todo signo ideológico vivo tem duas faces, mas essa dialética interna do signo não se revela inteiramente a não ser em épocas de crise
social e de comoção revolucionária. Enfim, é assim que, para Bakhtin/Voloshinov (1992a:47), “se apresenta o problema da relação entre infra-estrutura e as
superestruturas”.


        4.Cultura
        A partir das categorias-chave de Bakhtin como dialogismo, interação verbal, ideologia, consciência, etc, pode-se perceber que a contribuição de Bakhtin à
análise da produção cultural e das ciências humanas é uma visão transdisciplinar.
        A noção de dialogismo, de acordo com Bakhtin, pressupõe uma cultura fundamentalmente não-unitária, na qual diferentes discursos existem em relações de
trocas constantes e versáteis de oposição. Segundo Stam (1992:101), com essa noção, a maior contribuição de Bakhtin talvez seja de caráter político, pois
implicitamente “critica o modelo stalinista do ‘realismo socialista’ (na época de Bakhtin) e o derrotismo implícito da escola de ‘ideologia dominante’ do marxismo
althusseriano de nossa época”. No entanto, o pensamento crítico de Bakhtin não representa um recuo em relação ao radicalismo e sim um avanço por chamar
atenção para todas as formas opressivas de poder e não apenas as que derivam de classe. Para Stam (1992), apesar de Bakhtin não se dirigir especificamente a




                                                                                                                                             ISSN 1517 - 5421       6
todas as opressões, “uma política textual bakhtiniana favoreceria uma abertura à especificidade e diferença, recíproca e descentralizada; não aconselharia aos
embates feministas, negros ou gays que ‘esperem sua vez’, até que a luta de classe atinja seus fins” (p.101).
Para Bakhtin, não há produção cultural fora da linguagem. O dialogismo opera dentro de qualquer produção cultural, seja letrada ou analfabeta, verbal ou não-
verbal, elitista ou popular.


BIBLIOGRAFIA
BAKHTIN, M. (Voloshinov,V.N.1980). Écrits sur le freudisme. Paris, L’Age D’homme.
_____ (Voloshinov, V.N.-1929). Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo, Hucitec, 1992a.
BARROS, D.L.P. de (1997). “Contribuições de Bakhtin às teorias do discurso”. In: Brait, B. (Org.). Bakhtin, dialogismo e construção do sentido. São Paulo,
        Editora da Unicamp, pp.27-36.
STAM, R. (1992). Bakhtin: da teoria literária à cultura de massa. São Paulo, Ática.
TODOROV, T. (1979). “Prefácio”. In: Bakhtin. Estética da criação verbal. São Paulo, Martins Fontes, 1992b.
______ (1981).Mikhail Bakhtine. Le principe dialogique. Paris, Seuil
.




                                                                                                                                       ISSN 1517 - 5421     7
UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA (UFRO)
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                                                           ISSN 1517-5421            lathé biosa     162
  ANO III, Nº162 - SETEMBRO - PORTO VELHO, 2004
                    VOLUME XI

                     ISSN 1517-5421


                       EDITOR
                  NILSON SANTOS

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                                                                  DA UNIVERSIDADE E O “NADA”
Os textos no mínimo 3 laudas, tamanho de folha A4, fonte   REITORÍFICO OU DA REITORIA... Em vinte
Times New Roman 11, espaço 1.5, formatados em “Word for
     Windows” deverão ser encaminhados para e-mail:
                                                                  anos, prá que serve isto mesmo?
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Walterlina Brasil                   DA UNIVERSIDADE E O “NADA” REITORÍFICO OU DA REITORIA... Em vinte anos, prá que serve isto mesmo?
Professora do Departamento de Educação - UFRO
wal@unir.br



        A crise de pertinência porque passa a Universidade hoje embora com dimensões complexas, vem obtendo diversas formas de ressonância interna. Dentre
elas a convivência política com o poder expresso na reitoria, que vem se moldando a partir de ressignificações que resumem a um nada a conversão social do
conhecimento como uma das tarefas possíveis dessa Instituição realizar. Tal convivência vem inflando-se de gás e poderá estourar em qualquer nenhum-lugar,
conformando-se em retalhos irreconciliáveis. Vem enchendo-se do vazio das noções políticas do comércio internacional, da falta de alma política e perfil
institucional; por degradação da inteligência, do atrevimento, da utopia, da ideologia, da renovação burocrática e do eco moral expresso na íris. A coexistência com
as pressões externas e internas de toda ordem, são minimizadas e traduzidas em “pérolas” explicativas tais como: “e que é que eu posso fazer, né maninha? Nada
né? O jeito é ir tocando”. Curioso é: Tocando quem ou o quê? O “gado”? Qual? A que preço? A um custo social de quantos?
        A universidade nadificada, sem pertinência, é um nada que se distancia e se convence de que é inevitável distanciar-se da capacidade de produção e gestão
do conhecimento, ou que este seja alcançável através do exercício acadêmico sério e responsável. Parece-me que isto ocorre exatamente quando uma maior
aproximação a este debate (e não a outro) é o que seria necessário, como única forma (nestes tempos tão duros) de abjurar-se em esforço pelo coletivo, num
sentido de acesso ao processo de conhecer, com eqüidade e qualidade do serviço que oferece.
        A universidade nadificada é umbilical. Apenas o nada (no umbigo) é convergente e comporta a complexidade do poder na instituição universitária ao longo
deste tempo. Por estas bandas do oeste brasileiro, a UNIR participa com vinte anos... gotículas para quem crê na humanização, eternidade para quem pensa em
aposentadoria. A distribuição nadificada que posso tentar categorizar a partir da UNIR, poderia ser de qualquer outra, se vista com o cuidado de uma análise sobre
o poder reitorífico e a convivência com suas instâncias políticas internas. São coisas que tem me dito os sentimentos e as leituras de quem sabe muito pouco desses
assuntos, mas vem apreciando o nada que permeia e envolve momentos especialmente nadificados, como o de “consulta” interna, durante os atos em que a
comunidade universitária reitorifícasse.
        O caráter e a legitimidade do momento político em aceder ao que é corretamente reitorífico na universidade certamente percorre uma larga história. Tocar
nisto pode invadir o coração e as paixões históricas mais delicadas e difíceis de serem tratadas: vai do marco de uma importante reação nacional à ditadura, aos
enclaves impensados das IFES Universitárias instaladas sem qualquer cuidado com sua natureza e identidades locais, marginando-as em seus projetos de
implantação, como no caso das IFES Amazônicas. Estas feridas não daríamos conta tocá-las aqui, apenas reconhecemos que existem e são complicadas de sarar.
De fato, no que me interessa aludir, a reitoria ainda ilustra o desejo por um tipo de poder político – o reitorífico – que deveria ser exercido legitimamente,
por um professor: a pretensão da execução de uma grande obra sob o comando de uma inteligência privilegiada e capaz de liderar aos demais. Está temporalmente
situado no movimento na área das humanidades – na França – como a vontade dos pares das Artes e Letras em ter alguém cujo mérito da idade, competência,
prestígio, assegurasse ao pretenso reitorista uma condição de fazer-se respeitar primeiro no âmbito burocrático e, posteriormente, fazer-se seguir em idéias,
projetos e desafios. Hoje reitoria vem se convertendo, simplesmente, um espaço de oportunidades... pessoais. Com o aborto paulatino da pertinência da
Universidade, a conformação e os exercícios de poder máximo institucional (conselhos e reitoria, por exemplo) podem revelar esta outra face: aquela em que a
Universidade vem se decompondo e sucumbindo: aos melindres políticos e falta de clima institucional para fazer-se. A UNIR em seus vinte anos (11 de julho de
1982) poderia ser uma amostra do que estou tentando apontar neste texto. Desde já peço o perdão pelo desconhecimento da vida autorizada pelos partícipes da
UNIR há mais tempo, em suas vísceras e bofes, que chegaram a sentir o odor mais de perto e devem saber, melhor do que eu, qual foi ou é.
        Longe de representar liderança interna, vigilância política, probidade intelectual e moral, reitoria é, socialmente, um não-espaço social. Uma concentração
gravitacional, uma força centrípeta, um nada nada fractário. O nada institucional possibilita que a reitoria seja uma mera contemplação dos desejos que se possa
realizar, uma lâmpada de Aladin que, além de limitar os desejos, atende a quem o descobre (ou acede), incorrendo em uma decisão, em termos gerais, entre (1)
servir às relações políticas gigantes (reitorificar-se é converter-se, politicamente, em uma igualdade pautada em função de uma carta de poder: são cargos, não
pessoas; rejeita-se outras identidades) ou    (2) a um projeto autônomo, coletivo, articulado, que conviva com os gigantes, mas crie um potencial realizativo
inovador, criativo, com respeitabilidade social fundada na competência e liderança. Difícil encontrar quem alie ou sobreviva ao esforço dessa dupla ocorrência. Por
conseqüência, no convívio nadificado, na rotina institucional, uma maioria expressiva de supostas intelligentsias procura “ficar bem” com todos, abonando ou
acomodando sua capacidade crítica, inovadora e ética.

        A falta de compromissos não vai longe e suas conseqüências estão    explícitas. Estão desencadeadas por essa energia mundial de falta de sentido,
de falta de convivência democrática que se instalou e a desmoralização da tarefa universitária que pode converter-se em soluções do tipo “trator”. Uma pá-de-cal no
pouco que resta de consciência e intenções de elaboração consistente de um projeto institucional. O clima institucional, por sua vez, está longe de ser dos melhores. A
ética do “no-futuro-vê-se-não-me-atrapalha-pois-te-fiz-um-favor-hoje”, detona qualquer oportunidade de diálogo crítico. O burocrático se confunde com o político e
vice-versa, e ambos se confundem com ranços e mágoas pessoais. A barbárie que parece longe, está sentada na mesma mesa na qual todos se alimentam.
        A nadificação política da universidade no poder reitorífico, constrói fenômenos realizativos parecidos com o princípio das ondas civilizatórias do Toffler (sem
qualquer pretensão de comparação teórica, pois seria um esforço em outra dimensão): convivem entre si em um mesmo tempo e necessariamente não são
concorrentes, mas, neste caso, apenas formulam um comportamento institucional nadificado e hegemônico. Ao longo desses vinte anos na UNIR, sua nadificação
reitorífica poderia, a meu ver, ser agrupada inicialmente em quatro categorias mais abrangentes com dimensões reais e traçados próprios: o sienismo, o ottismo, o

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januísmo e o adunismo. Esses fenômenos eventualmente podem ser fortalecidos ou desestabilizados com movimentos como o DCEísmo ou o Caldaslocisismo.
Podem gerar partículas de ar no gás que preenche o vazio nadificado, mas, normalmente, são prontamente dissipados, como mais recentemente vem sendo
tentado (não tenho noção – como não creio - se conseguido) no caso do “Caldaslocisismo”, ou reconvertidas a um dos fenômenos do poder reitorífico, como no
DCEismo. É bom tratar primeiro das quatro dimensões do nada reitorífico que presencia a UNIR, para posteriormente abordarmos as duas intervenções a estes,
mencionadas aqui.
        1. O sienismo, como diriam os ottistas é o exercíco do poder formulado e exercido como uma fruta que amadureceu fora do tempo e às custas de muitas
renúncias em favor do brilho do ouro-de-tolo. Suas raízes e convívio remontam o antonismo (gerado nas Uberlândias, lembram?). Portanto decorre das condições
mais pífias da UNIR e, portanto, mais difíceis. Aí o nada não era previsível e parecia muito distante. O sienismo traz um nada que aprende só. É de traçar poucas
metas, negocia quase nada, espatifa a celeuma da falta de calma, mas ignora as víboras que se apresentam, que o rodeia permanentemente, circundando-lhe,
ávidas pelo poder que o instituiu. O sienismo tem a capacidade de gerar, em nome da paz (ou pax?) o poder centrado, mas autorizado. O nada é a justiça das
circunstâncias.
        2. O ottismo é o exercíco da reitoria pelo frison, de fala áspera, que engole e faz engasgar a saliva. Da rotina da pele e o fascínio da autoridade. É a
capacidade do calor das emoções (inclusive físicas), em todo seu potencial. Um abuso por estar na Universidade que governa, e uma vontade explícita de nunca ter
estado ali ou, pelo menos, animar esta oportunidade. O nada é a celeuma.
        3. O januísmo é o conhecimento (e uso) da natureza humana. O perdão do fetiche. Mais um aprimoramento do ottismo, sua humanização com o mesmo
refinamento político (mas que não significa neo-ottismo). É o conhecimento de como quebrar as regras, sem gerar oposição. A capacidade de distribuir bondade aos
poucos e desvincular-se de qualquer maldade. Difícil de saber o que pensa – se é que pensa em termos políticos ideológicos requeridos na condição reitorífica –
somando a delicadeza mítica e a autoridade de um “senhorio”, de um “amo”, de um “coronel”. O januísmo pode facilmente mitificar-se. Ao mesmo tempo gera
quem abuse de sua largura e fidelidade, e oculte contra o januísta sua capacidade de trair para beneficiar-se do próprio januísmo. Isto seria desnecessário, pois, em
uma disputa, o januísmo constitui-se como adversário respeitável, de armas claras, na mesa: os detalhes são esquecidos (mesmo que seja o “ar” do pedinte), não
se discrimina os critérios de justiça: o fim justifica os meios. Portanto quem é que corrompe: quem oferece ou quem pede? O januísmo cala porque atende.
Rompedor, trator, o que seja! Mas reúne, aglutina, envolve, distribui pequenos agrados: resolve. As conseqüências disto: o curso de medicina, a editora da UNIR, a
RIOMAR funcionando, 17 doutores numa fornada só, cursos interinstitucionais a rodo, cursos stricto sensu DA UNIR existindo, a UNIR em todo o interior do
Estado... São fatos. O januísmo gera fatos, embora encubra processos, às vezes as custas de inibir a capacidade de análise sobre eles (analisar demanda tempo). O
não nunca existe, e o talvez pode ser um não que isenta um januísta... e a verdade? É mais relativa do que “E=mc2” . O nada é realizar. Acontecer. O nada é a




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negociação, a sensação de ritmo. A universidade crescendo; desastradamente, mas crescendo, ainda que sem qualquer capacidade de posicionar-se
adequadamente em termos políticos sobre seu próprio nada. E tudo o que é coletivo se desvanece no ar.
        4. O adunismo é um fenômeno de poder reitorificável genérico; é digressivo. Como um potencial de “resistência”, não sabe bem o quanto deseja o poder,
mas ao mesmo tempo não saberia bem o que fazer com ele se o obtivesse, pois o lance é nunca aceder a ele. Se isto ocorrer, se nadifica em uma das posições
acima. Talvez trampolim, mais do que ponte. Por isso mesmo possivelmente oculte alguns nadificantes que de algum modo se sentem mais autorizados para
realmente desejar isto: o nada que a reitoria é como uma condição de melhoria interna da capacidade produtiva institucional. Desarmado frente as pressões
evidentes das grandes políticas – tal qual qualquer fenômeno reitorífico nesses vinte anos – promove uma vigilância da estagnação interna.
        Agora, no caso da UNIR, como citei antes, é possível falar ainda dos movimentos paralelos à nadificação reitorífica, que acabam por ajusta-los. Algo que
posso primariamente identificar como DCEísmo e o Caldaslocisismo. Não são exercícios reitoríficos, mas possuem grande capacidade de revelar-lhes o foco. O
primeiro, reduzido em 85% do seu potencial político lógico, diz respeito a ilusão da discência conscienciosa e ao fervor ideológico. Espatifou-se na falta de leitura e
de tempo e é apenas muleta reitorífica, pois, nos vinte anos, amarga as derrotas de ter apostado alto na idéia de que poderia dizer “xô” a nadificação da política
universitária, e na roleta da crença ao ottismo auto-Detonado, perseguindo um pensamento de que a “UNIR viraria Universidade com você”. O DCEísmo poderia ser
um fenômeno de integridade ética, mas sobra-lhe - como antes – ingenuidade, e como agora, medo e incertezas. Um nada sem conversão atual, cujas pressões
faltam ainda em conteúdo e profundidade.
        Já o Caldaslocisismo - se ganha corpo - traz enquanto idéia a justeza do fôlego, da inteligência e da revisão conceitual da Universidade de forma
competente (em condições “técnicas” mais favoráveis do que o Izuísmo, o Totismo ou o Sinedismo, por exemplo, pretenderam alcançar). Nesses vinte anos, o
Caldaslocisismo foi quem conseguiu produzir e repercutir o pensamento mais autêntico sobre o que é a Universidade e sobre o que a corrompe. Ainda que com a
violência das palavras e o monólogo que acaba produzindo, remói e reconvoca a atitude institucional e a coragem do pensamento. Não macula, embora agrida com
certo sadismo; constrói uma fogueira chamuscante (que rapidamente converte-se em incêndio), e, quando não queima a todos, cega mais do que ilumina, fazendo
com que, propositadamente, os que constroem este fenômeno se assurdinem, implicando em um Caldaslocisismo do espelho ou do mimetismo (que é falso e
estranho em relação a origem, pois Caldaslocizar implica em mostrar-se). Como a figura da medusa Caldaslocizar-se passou a significar petrificar-se com o próprio
veneno. Nesse fenômeno, pedras envenenadas (em lugar de pessoas) devem parecer gente, caso contrário assustam. Daí o Caldaslocisismo fragilizou-se pela sua
forma nada confiável de se exprimir e de compartilhar-se, pois parece necessitar ser uma doença em lugar do fenômeno com a boniteza e conteúdo que traz e a
deferência que merece.
        A proposta Caldaslocizante não pretenderia o poder reitorífico, mas o solicita e também o nadifica. Se exercido, possivelmente seria idêntico ao ottismo. O
método porém, causou, felizmente, um fervor menos esterilizante que um ottismo. Levado a termo e em seu lugar (na paralela) deveria gerar uma revolução no


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pensamento interno, em lugar de um abandono personalista. Na verdade, nunca se saberá o quê ou a quem um Caldaslocisismo representa, pois aí o nada está por
toda parte, em um não-lugar longe de si mesmo e um apreço indiscutível a libertinagem das palavras, numa reconfiguração teórica densa e permanente. De fato,
um nada intenso, corporificado e válido. Traz algo de inteligência para o que uma reitoria poderia ser, embora nunca será, pois a Caldaslosidade constrói evidências
da nadificação do poder institucional que só existe se não for permitido que ocorra.
        Pois bem, os eventos descritos neste texto adjetivaram-se a partir de pessoas concretas, com a pretensão de indicar um modo de ver como se conseguiu
nadificar linguagens políticas, através do poder reitorífico, de gestão nada-ideológicas, com um vazio cheio de nenhum-lugar. A idéia foi expressar as condições de
como vejo em que a política interna vem se convertendo, como vem se fazendo; “iconografá-las”, para que se possa visualizar um entendimento - especulativo por
certo - de algumas partes deste todo que compõem o nada dessa Universidade. Assim, já que adjetivei os fenômenos reitoríficos segundo uma percepção e critérios
bastante pessoal, tentando comportar os vinte anos com denominações que me parecem óbvias, porque não vejo um enismo na UNIR? Porque essa reitoria,
enquanto fenômeno de poder interno e sua forma de existir, não existiu (independente da sinceridade, presteza, boa vontade e capacidade científica de sua
liderança, cujo respeito testemunho). A fidelidade que surgiria em um enismo, escorreu pelo januísmo. O enismo só ocorreria se por si, mas é uma circunstância.
Não é uma reitoria, um poder; é um evento. Se fosse possível realizar-se seria, no máximo, um sienismo. Se parecer tentar prosseguir, o que ocorrerá é uma
avaliação do januísmo. Portanto, uma arapuca política e o continuísmo visando a uma nadificação corretiva. Conseqüentemente, o que talvez precise prosseguir é
um fenômeno existente ante a uma aparente incapacidade de se gerar outro.
        A UNIR (este ente) está abandonada em si mesma. Um exemplo é dizer que a Universidade poderia ser debatida a partir de seu nome, de sua cara, de seus
processos acadêmicos, em lugar de ver-se motivada favoravelmente exclusivamente a partir de momentos tópicos de uma “consulta interna”, por exemplo, ou
associada a uma “gestão”, que já se revelaram pouco coerentes, após consagradas. Esta visão é um tipo mais amplo de nadificação: aquela dos Conselhos
Superiores. Gera-se um panorama limitado da motivação institucional (a pessoas ou grupos reitoríficos) e daí sucumbe-se qualquer capacidade de reação que possa
gerar uma melhoria nos fenômenos que se apresentam. Infelizmente a nadificação tende a aperfeiçoar-se enquanto estratégia, mas não em responder a dinâmicas
mais exigentes em relação ao que a universidade é.
        Em termos gerais então, posso sintetizar que as formas de poder reitorífico sempre estiveram aí, enquanto os ajustes nem tanto. Ambos são mecanismos
construídos no calor das circunstâncias e das oportunidades; construções sobre um modo de ver a Universidade e exercê-la. Das quatro categorias, o januísmo
pareceria o mais surpreendente, mas também sempre esteve aí, nesses vinte anos de UNIR, quem sabe em porções menores (que não conseguem uma mesma
força, ritmo e precisão) como um francinetismo, um militãonismo, ou mesmo como uma “banda larga” pouco conhecida e não revelada do DCEísmo talvez. É sua
manifestação como civilização do poder que é recente.




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Enfim, em vinte anos, a UNIR está fazendo suas escolhas e produzindo os fenômenos que quer. A questão aqui não é discutir dentre os processos qual
aquele que nos destina a um mal menor, mas pelo menos aquele onde as regras do jogo estão mais difundidas, afinal a UNIR, em vinte anos é mais um jogo
interno do que uma luta de consciências... e nenhum Caldaslocisismo seria capaz de (de)construir e não parece ter esta pretensão, muito menos um DCEísmo
atualmente deslocado (ainda que esforçado).
       Em tempos de eleições, um texto como este pretende ser reflexivo. Em vinte anos as opções institucionais que prevaleceram foram de esfacelamento na
qualidade e nos processos de participação política interna e, como boa parte das Universidades brasileiras, que julgam não ter que responder socialmente pelos
seus atos, está deixando de ser um bem público ou de pretender ser melhor do que é, em termos de qualidade. O que parece acenar como mais adequado e
oportuno para a UNIR é que o januísmo se assuma, caso contrário que surpreendam propostas distintivas aos fenômenos reitoríficos aqui categorizados. Desde já
pressinto que seriam heróicas se aparecessem e provavelmente não vencerão. (Se bem que perder também é uma boa desculpa para persistir: lembremos – nos
gigantes - os antagônicos malufismo e lulismo). Por sua vez o enismo dificilmente ocorrerá, pois não foi pensado para ocorrer e reitoria não é para quatro anos.
Façam suas apostas... afinal, pra que serve a universidade mesmo?




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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA (UFRO)
      CENTRO DE HERMENÊUTICA DO PRESENTE

         PRIMEIRA VERSÃO
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                                                                  EDITORA UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA

  ANO III, Nº163 - SETEMBRO - PORTO VELHO, 2004            ISSN 1517-5421                lathé biosa      163
                    VOLUME XI

                     ISSN 1517-5421

                       EDITOR
                  NILSON SANTOS

               CONSELHO EDITORIAL
        ALBERTO LINS CALDAS – História - UFRO
   CLODOMIR S. DE MORAIS – Sociologia - IATTERMUND
            ARTUR MORETTI – Física - UFRO
           CELSO FERRAREZI – Letras - UFRO
      HEINZ DIETER HEIDEMANN – Geografia - USP
       JOSÉ C. SEBE BOM MEIHY – História – USP
           MARIO COZZUOL – Biologia - UFRO
            MIGUEL NENEVÉ – Letras - UFRO
         ROMUALDO DIAS – Educação - UNICAMP
        VALDEMIR MIOTELLO – Filosofia - UFSC
                                                                      FLÁVIO DUTKA



Os textos no mínimo 3 laudas, tamanho de folha A4, fonte
Times New Roman 11, espaço 1.5, formatados em “Word for
     Windows” deverão ser encaminhados para e-mail:
                                                           A ABORDAGEM COMUNICATIVA NO ENSINO
                    nilson@unir.br
                                                             DA LÍNGUA MATERNA E A LEITURA NA
                                                                    LÍNGUA ESTRANGEIRA
                   CAIXA POSTAL 775
                    CEP: 78.900-970
                    PORTO VELHO-RO
                                                                                     Klondy Lucia de Oliveira Agra
                TIRAGEM 200 EXEMPLARES




                                                                                                                15
Klondy Lúcia de Oliveira Agra                          A Abordagem Comunicativa no Ensino da Língua Materna e a Leitura na Língua Estrangeira
Aluna do mestrado em Linguistica - UFRO
klondy@enter-net.com.br



        Muitos métodos e técnicas têm sido propostos com o objetivo último de levar o aluno a comunicar-se numa língua estrangeira. Entretanto, estas técnicas,
infelizmente, não são aproveitadas no ensino da língua materna. O que se pretende neste artigo é chamar a atenção de professores e estudiosos da língua sobre a
importância da Abordagem Comunicativa no ensino da Língua Materna. Detalhando como dar oportunidades ao aluno para aquisição da Competência Comunicativa
em sua própria língua e de como as possibilidades deste aluno aumentarão tanto na construção de uma nova competência comunicativa em uma língua estrangeira,
quanto suas possibilidades para um aumento de domínio social conferindo-lhe maior autonomia em todos os campos.
        As aulas tradicionais da língua materna trazem grande número de exercícios escritos e alguns exercícios orais dirigidos. Este tipo de conversação
convencional cujas discussões são geralmente dominadas pelos melhores alunos, enquanto o restante da turma permanece em estado de timidez, frustração e
enfado, não desenvolve a competência comunicativa em sala de aula. Demonstra-se na prática que ao contrário das limitadas opções dadas ao aluno pela
conversação convencional, as atividades comunicativas contribuem para que o aluno se torne, em grande parte, agente de sua própria aprendizagem: muito da
responsabilidade da aprendizagem deixa de ser do professor e passa a ser do aluno.


PRÁTICA ORAL COMUNICATIVA
        Os objetivos do ensino da língua podem ser vários, mas colocando como objetivo principal o desenvolvimento da expressão oral, obter-se-á um progresso
contínuo do educando tanto na produção oral como na escrita.
        A abordagem comunicativa, objetivando o ensino da competência comunicativa, trabalha com uma perspectiva mais ampla da língua. Não se pára no ensino
das formas lingüísticas; examina-se também como o aluno pode usar essas formas quando ele precisa ou quer se comunicar. A língua, desse modo, é usada com o
devido propósito comunicativo; como um meio para um fim: um instrumento de interação social.
        O ensino comunicativo deverá apresentar ao aluno oportunidades para falar próximas do real, sem ter a precisão lingüística como preocupação básica. Por
esse motivo, atividades comunicativas objetivam mais a comunicação do que itens a serem aprendidos. Nelas a fluência ocupa um lugar central. Por fluência,
entende-se “habilidade de se expressar sem hesitação excessiva numa dada situação, na fala ou na escrita” (cf. Davies, 1980:100).
        A ênfase na fluência, entretanto, não deve ser vista como uma desvalorização da precisão lingüística, que deve aqui ser entendida como “um comando das
estruturas gramaticais e sintáticas da língua” ( Davies, 1980:90 ). A volumosa quantidade existente de materiais e técnicas objetivando a aquisição de estruturas
lingüísticas claramente reflete a relevância que o domínio do sistema lingüístico tem recebido na aprendizagem de uma língua. Não obstante, acredita-se que o
conhecimento de estruturas é somente um passo em direção ao objeto maior de ajudar o aluno a usar o sistema lingüístico criativa e flexivelmente, de tal maneira
que possa se comunicar efetivamente.
        A ênfase na fluência é fundamental como um meio de se estimular a confiança do aluno em sua habilidade de se comunicar. E esse desenvolvimento de
autoconfiança pode se tornar crucial para seu futuro desempenho lingüístico, pois uma vez liberto da ansiedade causada pela insegurança comunicativa, pode mais
facilmente, desenvolver a precisão lingüística2.
        Precisão e fluência, conseqüentemente, são dois aspectos do processo da aprendizagem de uma língua. Maley (1980 ) usa a distinção estabelecida por
Stephan Krashen ( 1981 ) para, habilmente, associar o treino da fluência com aquisição e da precisão com aprendizagem. De acordo com Krashen, o processo por
que um indivíduo passa para obter controle da língua nativa é a aquisição. Ela resulta do intercâmbio da criança com seu meio ambiente. Por outro lado, a
aprendizagem é o que se abstrai conscientemente da experiência; é um processo que resulta do estudo consciente.
        Segundo Krashen, a aquisição é um processo que permanece acessível a adolescentes e adultos, pelo menos até certo ponto, no desempenho da segunda
língua. A aquisição vem a ser, sob esse aspecto, um processo subconsciente de ‘construção criativa’, pelo qual o aluno internaliza as regras da segunda língua.
Entretanto, quando a atenção do aluno é focalizada nas formas lingüísticas e ele tem bastante tempo para pensar, é mais provável que seu desempenho lingüístico
seja influenciado mais pela aprendizagem ( o processo consciente ).
        O fato da comunicação oral exigir que a formulação de frases e o processo de seleção que a precede sejam feitos muito rapidamente, isto é, no ‘tempo
real’, pressupõe que o processo da aquisição é o que vai operar mais. Já que o aluno não tem tempo para estudar em profundidade o que ele vai dizer antes de
converter seus vários significados psicológicos e conceituais para a forma oral, todo o processo será provavelmente espontâneo, com os alunos usando mais
conhecimento adquirido do que conhecimento aprendido.
        Não obstante Krashen afirmar que “nossa fluência numa segunda língua é resultante do que adquirimos, não do que aprendemos” (Krashen, 1981 a : 99), a
distinção entre aquisição versus aprendizagem e fluência versus precisão vem se tornando distinta nos artigos e livros de pesquisadores experientes como Brumfit
(1984), que apresenta um modelo alternativo do processo de ensino de língua no qual sugere: (1) Mais tempo de ensino para a prática da precisão no início do
curso do que na sua continuidade, quando a prática da fluência deve dominar quantitativamente; (2) o conhecimento consciente passará a conhecimento
inconsciente através de atividades para desenvolver a fluência.



2
  Note-se que estes estudos foram feitos com o intuito de esclarecer os processos de aprendizagem de uma língua estrangeira, mas como diz Daniel Coste em seu artigo Leitura e
Competência Comunicativa (GALVES, C. e ORLANDI, E. Campinas, SP: Pontes, 1997.) :”Competência comunicativa põe em jogo funções de ordem cognitiva, volitiva, afetiva e
toda uma experiência social. Então como não aplicar estes estudos para o ensino e aprendizagem da língua materna?!

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Faerch, Haastrup e Phillipson em seu livro Learner Language and Language Learning (1984) tendem a concordar que a aquisição se torna aprendizagem e
que a aprendizagem se torna aquisição. Segundo eles, o conhecimento aprendido pode ser mais tarde adquirido através do caminho normal para a aquisição, e o
conhecimento adquirido pode ser mais tarde aprendido através da explicação, prática e exercícios.
        Parece, então, que a aquisição e a aprendizagem, a fluência e a precisão não são opostas entre si, mas se completam, uma reforçando a outra. A prática
pedagógica, entretanto, continua enfatizando a forma, em detrimento do conteúdo; a precisão, em detrimento da comunicação. Há necessidade de se concentrar a
atenção do aluno em outros aspectos além dos da língua propriamente dita. Há necessidade de atividades nas quais o mundo real entre em cena. Precisamos de
materiais que estimulem e levem o aluno a falar tão naturalmente o quanto possível, de modo que sua conversação na sala de aula espelhe a comunicação da vida real.


O INTERESSE DO ALUNO NAS ATIVIDADES COMUNICATIVAS
        Os objetivos dos alunos, suas expectativas e valores têm que ser cuidadosamente considerados nas atividades comunicativas. Os tópicos relevantes e
interessantes ao aluno é que ligam o mundo real deste aluno ao mundo da sua sala de aula. E, são estes tópicos que despertarão e manterão seu envolvimento no
processo de comunicação real na aula, criando assim um propósito para se comunicar e a vontade de verbalizar significados através de um sistema dinâmico e
flexível que lhe fornece os meios para criar mensagens para ele próprio e para outros.
        Assim sendo, para criar um ambiente propício ao aluno, o material apresentado deve apresentar oportunidades para este aluno criar e adaptar. Sem que
determine em detalhes o conteúdo lingüístico ou conceitual que será produzido.
        Na abordagem comunicativa, o material deixa de ser um fim em si mesmo e torna-se um recurso para o progresso de ensino-aprendizagem. Nesse sentido,
ele age como um elo entre o aluno e seus colegas, o aluno e o professor, o aluno e seu objetivo.
        As atividades propostas na abordagem comunicativa deixam a cargo dos alunos muitas decisões que devem ser tomadas no decorrer das realizações das
tarefas. Divididos em grupos ou pares, eles percebem que não podem agir como meros receptores de informação, pois as atividades não são baseadas na
apresentação do professor e eles têm que trabalhar muitas vezes sozinhos, como ‘agentes de sua própria aprendizagem’.
        Para que haja sucesso no ensino da língua através da abordagem comunicativa, torna-se imprescindível que desperte o interesse real do aluno através de
assuntos e materiais que forneçam a eles subsídios necessários a necessidade de comunicação.




A COMPETÊNCIA LINGÜÍSTICA E A LEITURA EM LÌNGUA ESTRANGEIRA




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A leitura não é uma operação de ritmo estável, nem mesmo na língua materna. Mesmo para um leitor experiente, é preciso conceber a leitura como
modulada, sempre suscetível de mudar de relação e de marcha.
        Para uma leitura significativa, seja na língua materna, seja na língua estrangeira, é necessário que o leitor se concentre nos elementos importantes que
transmitem a mensagem, isto é, nos grupos de palavras ou frases, não em palavras isoladas. Justamente por isto, importa o desenvolvimento da competência
lingüística no aluno, primeiramente na língua materna, para que ele possa, ao ler o texto, compreendê-lo. E ao se deparar com um texto em língua estrangeira,
certamente este aluno, possuidor da competência lingüística, terá menos dificuldades em usar seu sentido em busca de significado, do que uma pessoa falante da
língua, mas sem competência lingüística.
        O professor deve ajudar o aluno a formar um vocabulário básico de leitura e encorajá-lo a desenvolver, através da abordagem comunicativa, a competência
lingüística. Tanto na língua materna como na língua estrangeira, torna-se maçante para o aluno, ter de consultar dicionário em busca de significados a cada palavra
desconhecida.
        É importante que o professor leve o aluno a esgotar todos os outros meios de descobrir o significado das palavras desconhecidas em um texto, antes de
consultar um dicionário. Se o aluno verificar no dicionário o significado de cada palavra desconhecida ao ler um texto, perde a visão do todo e no final terá uma
grande quantidade de informações desconexas, sendo impossível sua absorção.
        O aluno deve ser capaz de deduzir o significado através do contexto em que a palavra se encontra ou através da estrutura da palavra, antes de lançar mão do
dicionário. Ás vezes o aluno não possui estas habilidades na sua língua nativa, então é necessário desenvolvê-las, pois isto é competência comunicativa. Com estas
habilidades desenvolvidas o aluno terá também facilitado seus problemas com a leitura em língua estrangeira. Anderson e Freebody (1979) afirmam que a leitura é
importante para ajudar o leitor a adquirir vocabulário e que um bom vocabulário, por sua vez, assegura uma melhor leitura. Isto se aplica também a língua estrangeira.
        Segundo Smith (1991), aprendemos a maior parte dos significados das palavras que conhecemos através do contexto em que estão inseridas. Por isto,
quanto mais praticarmos a leitura, tanto mais eficientes leitores nos tornamos.
        Então, como vimos, competência comunicativa permite, inclusive numa língua estrangeira, um aumento de domínio social e maior autonomia ao sujeito.
Visto que, a leitura e a compreensão vão depender do nível da competência comunicativa do leitor.
        Há vários caminhos para despertar interesse no aluno para a aquisição e aprendizagem da língua. Muito do ensino e aprendizagem oral ainda se encontra
relativamente sub-pesquisado. E as propostas inovadoras que vem aparecendo vão encontrar barreiras no sistema educacional vigente. Mas sem dúvida, a medida
que o aluno desperta seu interesse por determinados assuntos e tem vontade de discutir ou emitir sobre seus pensamentos, este desejo de participação o ajudará
não somente na aprendizagem da Língua, mas no entendimento de outras disciplinas e na compreensão mais clara do seu próprio mundo. Ao fazer uso da
Abordagem Comunicativa no ensino da Língua Materna, devemos visar o despertar do interesse real do aluno e sua vontade de opinar, defendendo a aprendizagem


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centrada no aluno não só em termos de conteúdo, mas também de técnicas usadas em sala de aula, deixando o professor de exercer o seu papel de autoridade, de
distribuidor de conhecimentos, para assumir o papel de orientador, encorajando o aluno a participar e acatando sugestões, só assim o aluno estará livre para pôr
em prática o uso da aquisição da língua e construir sua própria aprendizagem, dominando sua fala e aprendendo a ler e escrever com fluência.


BIBLIOGRAFIA
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FAERCH, C. et al. Learner Language and Language Learning. Multilingual Matters, 1984.
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA (UFRO)
      CENTRO DE HERMENÊUTICA DO PRESENTE

         PRIMEIRA VERSÃO
                                                           PRIMEIRA VERSÃO
                                                           ISSN 1517-5421            lathé biosa    164
  ANO III, Nº164 - SETEMBRO - PORTO VELHO, 2004
                    VOLUME XI

                     ISSN 1517-5421

                       EDITOR
                  NILSON SANTOS

               CONSELHO EDITORIAL
        ALBERTO LINS CALDAS – História - UFRO
   CLODOMIR S. DE MORAIS – Sociologia - IATTERMUND
            ARTUR MORETTI – Física - UFRO
           CELSO FERRAREZI – Letras - UFRO
      HEINZ DIETER HEIDEMANN – Geografia - USP
       JOSÉ C. SEBE BOM MEIHY – História – USP
           MARIO COZZUOL – Biologia - UFRO
            MIGUEL NENEVÉ – Letras - UFRO
                                                                      FLÁVIO DUTKA
         ROMUALDO DIAS – Educação - UNICAMP
        VALDEMIR MIOTELLO – Filosofia - UFSC


Os textos no mínimo 3 laudas, tamanho de folha A4, fonte
Times New Roman 11, espaço 1.5, formatados em “Word for
     Windows” deverão ser encaminhados para e-mail:        O IMPASSE DA MODERNIDADE A PARTIR DE
                    nilson@unir.br
                                                            UMA LITERATURA DE INSIGNIFICÂNCIAS

                   CAIXA POSTAL 775
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                TIRAGEM 200 EXEMPLARES



       EDITORA UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA


                                                                                                          21
João Carlos de Carvalho                                          O IMPASSE DA MODERNIDADE A PARTIR DE UMA LITERATURA DE INSIGNIFICÂNCIAS
Professor de Teoria da Literatura, Literatura Amazônica, e Latino-americana - UFAC
jccfogo@bol.com.br



        O século XX fez uma clara opção pelo homem medíocre, quem sabe dando continuidade a um processo vicioso, desde a Revolução Francesa, que se voltaria
inevitavelmente pela construção de uma vertente, e cada vez mais forte, de destruição de valores. Isso, sem dúvida, não desfaz ou diminui o sentido de certas conquistas,
pois viveríamos uma poderosa dicotomia de contaminação e renovação, porém, por outro lado, subentendia-se um universo ainda mais esmagado pela própria força de
juntar contradições. O homem ocidental, nesse sentido, não conseguiria suportar essas décadas todas pela frente se diante do espelho ele não revelasse a si próprio o seu
poder de superação e escolha. Desta feita, o que ele vem encontrando, em sua condição de infinda busca, seria o irremediável aprofundamento das marcas do processo
vivido. A mediocridade, no entanto, nos últimos cem anos, parece ser o paliativo de uma sociedade esmagada entre os sonhos e a competição.
        A modernidade nasce sobre o crivo das grandes navegações, sem se tornar necessariamente moderna. Invade lentamente circuitos nunca antes
penetrados, fazendo do homem do baixo medievo uma fronteira entre dois universos dilacerantes. O que foi realizado a partir daí valeu muito mais pela
representação de uma impotência secular, de uma solução adiada por meio do aceno a um improvável futuro onde o homem ensaiava o seu drama na própria
turbulência de seu cada vez mais mal resolvido drama de humanidade, já que as contradições, no jogo das lógicas, impunham faces muito mais perversas do que as
previamente imagináveis. Entre as câmaras de tortura inquisitoriais e os malabarismos eróticos do Marquês de Sade, ficaríamos com a grave sensação de que uma
loucura tomaria conta de qualquer aparato racional. Nesse sentido, modernidade e humanismo se tornam, ao longo dos séculos, sinônimos inconciliáveis, já que
encontram os óbices de seus sentidos na própria desarticulação de tantos movimentos. O que, no entanto, conhecemos hoje como modernidade diz mais respeito
ao impasse de sê-la em torno de diferentes conquistas, sejam técnicas, industriais ou espirituais. O homem moderno – ele o é, dentro das muitas conjunturas que a
História mostrou – o ser exilado pela ampliação do seu potencial de condenado pelo reconhecimento (e ao mesmo tempo desconhecimento) de si mesmo.
        Esse processo de desconfiguração na história humana representa, na maioria das vezes, um grande ponto de interrogação, como se o que se soubesse
fazer dependesse de um inevitável adiamento de ser. Do Renascimento até o século XX, passando pelo Barroco e o Romantismo, penduramos as nossas chuteiras
em diversos momentos de consagração e esvaziamento. Toda a consubstanciação estética de redefinição estilística dependia desse jogo de crenças e descrenças no
próprio fazer humano. A radicalidade humanística, inaugurada como fruto de impasse e afirmação, sempre dependeu drasticamente das articulações entre
racionalismo e irracionalismo, ponderando ora o imponderável, “imponderando” ora o ponderável. As três fases da modernidade, destacadas por Marshall Berman
em seu conhecido livro (16-7), implicam um processo de avanço e de progresso inevitável, mas não sem um alto preço a pagar. Sendo esse, ao meu ver, o aspecto
mais perverso da relação do homem com uma realidade sempre em construção, é a partir principalmente do século XVIII que encontramos uma condição
inevitavelmente agônica e que, nas artes, acaba por ser dilacerada pelo adiamento proporcionado pelas inúmeras experimentações vanguardistas dos séculos XIX e
XX. Ora, seria muito fácil se conseguíssemos compreender a lógica desse processo como um vale tudo de todas as irresponsabilidades permissíveis entre o querer e
o fazer, já que o artista, nesse caso, ficaria com a obrigação de resolver, até certo ponto, as causas que explicam a infelicidade no mundo por meio das projeções
de uma fantasia transcendental, o que dramatizaria a desumanização no embate entre o referente e o representado, aspecto que fomentou, e de certa forma ainda
predomina em tempos pós-modernos, uma linguagem que se constrói na condição de ser destruindo-se.
       Quando, hoje, enfim, voltamos o olhar já melancólico para trás, induzidos por não sei quantos projetos utópicos, de revoluções e acenos de revoluções,
num universo cada vez mais globalizado, e também capitaneado, pela força do urgente, indagaríamos sobre as respostas e saídas provocadas pelo
desencadeamento de um humanismo que só conseguiu sobreviver a partir da sua própria fragilidade de sustentação. O que nos resta, nos escombros de coisas e
homens legados pela chamada arte moderna do século XX, corresponde a um desafio incalculável de investigação que nos leva a alimentar o suficiente de um jogo
onde ninguém mais sabe qual a regra. A modernidade, no final das contas, pode ter se apresentado como um grande logro no tabuleiro esquizóide das questões da
dramaticidade humana e que jamais poderão ser vencidas, a não ser como mais um ensaio de compensação nesse eterno conjunto de perdas e ganho
programáveis de um cotidiano avalizados pela lógica dos progressos tecnológicos. Se, como eu já desconfio, chegamos a um novo século marcado pelos
esgotamentos, vivenciados até a flor da pele por aqueles que se recusam a compartilhar da miserabilidade desse inevitável dia-a-dia, supõe-se que, no fundo,
nunca houve um desafio a ser vencido no horizonte de qualquer modernidade, mas, sobretudo, uma incrível representação farsesca, no sentido mais medieval do
termo, do que o homem jamais deixará de ser, essa inesgotável fonte de aprendizado que, no fim das contas, dentro desse processo de fragmentação, não servirá
de grande coisa enquanto um projeto de homem para o futuro. Rousseau, e alguns românticos que o seguiriam, ficariam extremamente decepcionados se vissem o
que certas arquiteturas pedagógicas se transformaram diante da insolvência de tantas posturas revolucionárias.
       Quando Harold Bloom coloca Samuel Beckett como o grande profeta do silêncio antes do ricorso viconiano (480), no meio da lama espalhada por
personagens cada vez mais esvaziados por seus conflitos sem sentido, temos, de certa maneira, um diagnóstico malandro de uma época que tudo esgota e tudo
promete. O século XX é o momento particularmente poderoso de desafio do escritor e seus fantasmas da modernidade. O homem medíocre, o grande herói desse
momento, supõe uma polarização com o tudo que para existir terá de ser nada. O nada como provocação das consciências adormecidas significa a possibilidade da
imprudência do mesmo processo de esvaziamento, o que torna improvável a superação pelo lado negativo de qualquer alternativa proposta. Entre Dom Quixote,
Kirilov e Estragon, por exemplo, subentende-se um abismo que aproxima e oprime os homens no que eles possam ter de mais natural. E, nesses casos, qualquer
gesto de loucura passa a soar como o mais previsível dentro de um circuito de apostas onde, no fundo, ninguém tem de valer tanto assim. O profeta moderno do
século XX, no fundo, anuncia principalmente o gesto apocalíptico antes do apocalipse. Se isso não resolve muita coisa, enfim, faz com que todos acabem vítimas de
si mesmos e o nada se torna o grande prêmio a ser alcançado.




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O grande pecado do Ocidente parece ter sido apostar na realidade de suas utopias. Nenhum filósofo, ou historiador, nos últimos dois séculos, parece ter
sabido aproveitar a provocação de suas próprias escolhas. Tudo se mostrou sempre muito certinho e previsível dentro da mobilidade que a História sugeria.
Ninguém, já desde Hegel principalmente, conseguiu escapar da intensa necessidade de superação. Camus nos dá um depoimento vigoroso, em O homem revoltado,
do que seria essa catástrofe do pensamento ocidental em torno do não realizável: o niilismo como última fronteira entre todas as possibilidades. De certo, não
ganhamos mais do que perdemos, mas o que perdemos começou a ter um preço muito alto na nova configuração das consciências. Todos partilhavam e, ao mesmo
tempo, ficaram alijados de um processo sempre muito maior de conquista. O drama kafkiano, no fundo, corresponde ao grito anônimo de todos e ninguém, pois a
humanidade não queria ser invisível, mas ao mesmo tempo não podia deixar de se atrair pela mediocridade, por personagens que representavam cada vez mais as
encruzilhadas entre o tudo e o nada. No despertar desta feroz consciência, o homem é um incontrolado que deseja o controle e foge dele para se aliviar de uma
tensão que corresponde aos séculos de herança adiada, pois, mais na frente, ele se deparará sempre com a possibilidade de um gasto a mais. As sobras são o
grande material a ser trabalhado por esse escritor que se atola até o pescoço na força se suas configurações.
       Compreender a literatura no século XX é mergulhar nas raízes de um desespero insuportável. É lidar com as réstias de um paraíso ansiado e
sempre adiado. Um século em que os marxismos e os freudismos não puderam supor além dos seus pragmatismos incoerentes com qualquer tipo de
representação realista. Seria, mais ou menos como compartilhar com o triunfo capitalista à espera do fim do capitalismo, sempre, cada vez mais adiado.
Todos os gêneros literários no último século se tornaram, cada vez mais, narrativas de um silêncio absoluto. Fala-se porque já não se tem mais o que
falar. O nada não se traduz, apenas aguarda-se. Os personagens nascem naturalmente corrompidos por um universo intraduzível e não sabem se
comunicar se não se corromperem ainda mais com os valores que eles próprios condenam. Eis aí a maldição dostoievskiana, já pressentida em Bakthin: o
processo dialógico só termina por uma opção monológica (209-22). O discurso, para não morrer, necessita de doses de talento cada vez maiores, uma
maestria que obriga o escritor a distribuir acentos e tons de acordo com a necessidade de oxigênio de cada personagem. Eles vivem, mas na evidência de
sua morte, alimentando-se dos pequenos dramas de um cotidiano que tem de ser um inferno sem se esquecer de que poderia ter havido uma salvação.
       Desta maneira, a complexidade a que se chega com os romances e peças de Proust, Kafka, Pirandello, Joyce ou Beckett (apenas para citar os mais
consagrados) ultrapassa qualquer fronteira de expectativa e desafio. Todos partilham um mesmo sentido de perda irremediável, cada vez mais sustentada pelo
domínio da linguagem. O background da modernidade no século XX, diferentemente dos momentos anteriores, entre tantas idiossincrasias estilísticas, é o impasse
de representação expresso pelas tortuosidades maneiristas de um universo em que se tudo é aceito nada bastará. Mas se existe ainda uma novidade a ser
perquirida nesse ponto, diz respeito ao processo inevitável de esgotamento que a linguagem, ainda hoje no limiar do século XXI, exibe despudoradamente. Todo o
arcabouço de sofisticação literária e estética desenvolvida durante o século XX nos legou, como em nenhuma outra época, um sentido doméstico de esvaziamento,
como se tudo se continuasse a partir do universo desolador do The waste land.


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Resta, ainda hoje, por assim dizer, um compartilhamento com os círculos viciosos dos modernos meios de comunicação, que ora nos dão sinais de
revitalização, ora nos submetem a uma apatia assombrosa. As letras, nesse sentido, proliferam, junto à tv, ao cinema, às rádios e, agora, à Internet, os
mecanismos que serão responsáveis por uma necessidade cada vez maior de autodestruição. A linguagem já não corresponde, ela apenas ensaia o seu poder num
suporte agônico. Diante disso, toda e qualquer tradição se torna descartável e a que poderá surgir se torna somente simulação, pois a única coisa que interessa é o
esvaziamento. Todo o processo desencadeado pela pós-modernidade indica uma necessidade de recomposição constante. O personagem medíocre é o grande herói
porque ele também é apenas um ensaio de linguagem. O romance Libra, de Don Delillo, toca bem nessa ferida aberta de um tempo que se alimenta do excesso e
das sobras desse excesso. Inventa-se um cotidiano porque ele se tornou o maior construtor de fantasmas no interesse de qualquer virtualidade. Anteriormente, os
personagens beckttinianos investiriam obsessivamente na opacidade das relações humanas, pois ali já se tinha uma idéia clara do que se leva ao processo de
esvaziamento. Hoje, o sentido é o próprio vazio e as relações humanas um mero detalhe entre tantas coisificações. O resultado, por exemplo, diante da tela do
computador, daria ao homem medíocre a afirmação de uma lógica de impotência, tal como um bom aprendiz da fruição gratuita que os seus antepassados do
século XX souberam tão bem aperfeiçoar ao longo dele. A grande diferença, me parece, que agora o que se funda é uma nova maneira de articulação de um gesto
derradeiro, como se o escritor estive condenado a reinaugurar a incompletude como saída, não mais como um brado de dor. O homem do século XX se contorcia no
seu universo de insignificâncias, o de hoje, num mundo cercado de virtuais totalidades, parece fadado a vivê-la na integridade de suas fantasias, o que impossibilita
um verdadeiro gesto de criação. A grande literatura que pode se formar daí necessitaria de um fôlego ainda maior do que o herdado do século anterior, já que o
imaginário, liberto em suas fragilidades de realização, faz do homem medíocre um ser ainda mais vulnerável às tentações da fruição imediata. Há uma tendência,
por exemplo, a se diminuir as páginas dos romances contemporâneos, não só pelas questões comerciais, mas também por uma falta de fôlego evidente dos novos
romancistas, presas que estão a um universo de pragmatismo e esvaziamento, de esvaziamento e pragmatismo.
       Ao contrário de muitas tendências apocalípticas, acho que a literatura de qualquer tempo continua, de uma maneira ou de outra. O que nocauteia o
chamado “processo evolutivo” é a forma como o escritor e o seu tempo negligenciam a força de seu próprio tempo. A vitalidade de uma época, e algumas Histórias
nos mostraram isso, se encontra debruçada entre as crenças e descrenças legadas das convulsões antigas. O que move a literatura é sobretudo a vontade de
enfrentamento, sem isso não há literatura, não há sequer uma época que possa se dizer vivida. O homem medíocre é uma conseqüência de todo um esfacelamento
que se tornou altamente produtivo em boa parte do século passado. Hoje, por mais incrível que possa parecer, vivemos o impasse por termos sobrevivido a ele. O
impasse pós-moderno pode bem ser a frustração de não ser moderno, de lidar com as sobras de uma linguagem que não pertence a ninguém, já que os herdeiros
não querem ter novos filhos que lhes causem muitos problemas.
                                                                         BIBLIOGRAFIA




                                                                                                                                                                 25
BAKHTIN, M. Problemas da poética de Dostoiévski. Rio de Janeiro, Forense-universitária, 1981.
BERMAN, M. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo, Companhia das Letras, 1986.
BLOOM, H. O cânone ocidental: os livros e a escola do tempo. Rio de Janeiro: Objetiva, 1995.
CAMUS, A. O homem revoltado. Lisboa: Livros do Brasil, s.d.




                                                                                                                  26
UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA (UFRO)
      CENTRO DE HERMENÊUTICA DO PRESENTE

         PRIMEIRA VERSÃO
                                                           PRIMEIRA VERSÃO
                                                           ISSN 1517-5421              lathé biosa     165
  ANO III, Nº165 - OUTUBRO - PORTO VELHO, 2004
                   VOLUME XI

                     ISSN 1517-5421

                       EDITOR
                  NILSON SANTOS

               CONSELHO EDITORIAL
        ALBERTO LINS CALDAS – História - UFRO
   CLODOMIR S. DE MORAIS – Sociologia - IATTERMUND
            ARTUR MORETTI – Física - UFRO
           CELSO FERRAREZI – Letras - UFRO
      HEINZ DIETER HEIDEMANN – Geografia - USP
       JOSÉ C. SEBE BOM MEIHY – História – USP
           MARIO COZZUOL – Biologia - UFRO
            MIGUEL NENEVÉ – Letras - UFRO
                                                                      FLÁVIO DUTKA
         ROMUALDO DIAS – Educação - UNICAMP
        VALDEMIR MIOTELLO – Filosofia - UFSC


Os textos no mínimo 3 laudas, tamanho de folha A4, fonte
Times New Roman 11, espaço 1.5, formatados em “Word for
     Windows” deverão ser encaminhados para e-mail:

                    nilson@unir.br
                                                              CONVITE À SOCIOLOGIA CIENTÍFICA

                   CAIXA POSTAL 775
                    CEP: 78.900-970
                    PORTO VELHO-RO                                                   Clodomir Santos de Morais

                TIRAGEM 200 EXEMPLARES



       EDITORA UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA


                                                                                                             27
Clodomir Santos De Morais                                                                                                    CONVITE À SOCIOLOGIA CIENTÍFICA
Membro fundador do IATTERMUND



        em 1973, há 25 anos, ou seja, um quarto de século, que este seu servidor foi honrado com um convite do presbítero Núñez Jiménez, destacado político e
intelectual centro-americano de indelével memória, criador desta Universidade de Heredia, para participar da solenidade de abertura do claustro de seu recém-
fundado estabelecimento de ensino superior.
        Era um momento crepuscular de extraordinária beleza, emoldurado pela não menos bela tumultuada geografia da Cordilheira Central, ostensivamente
retocada pelas nuvens que, ao prelúdio do anoitecer, costumam regar feixes e mais feixes de cores nos pináculos dos soberbos vulcões costa-riquenhos.
        Por outro lado, cá embaixo a paisagem humana de um milhar de pessoas, entre convidados especiais e professores, manifestava claramente um
cosmopolitismo peregrino, fruto da grande crise institucional que vivia a América Latina e especial a América Central, cujos golpes de Estados
promovidos, ao antojo das transnacionais fizeram confluir para a República Liberal da Costa Rica cidadãos, professores e cientistas de quase todas as
nacionalidades de nosso continente.
        Assim que, senhores e senhores, a Universidade Nacional da Costa Rica já nasceu conformada por uma considerável riqueza de quadros que, juntamente
com os quadros autóctones, rapidamente iriam torná-la um respeitável centro universitário de prestígio internacional.
        Daí que é motivo de orgulho, de envaidecimento para todos os costa-riquenhos heredianos, e nós, os modestos colaboradores, o fato de ver esta
universidade realizar tão importante conclave internacional que reúne a inteligentsia universitária dos países de Ibero-américa e do Caribe.
        É compensador contemplar, hoje em dia, os professores e técnicos que, naquela solenidade de cinco lustros passados, eram jovens e agora, já de cabelos
grisalhos, comprovam o desprendimento, a lealdade e a abnegação, o amor à semente bem semeada pelo presbítero Benjamin Núñez Jiménez.
        Foi o mesmo padre Núñez Jiménez que participou do governo surgido da Revolução Burguesa da Costa Rica, encabeçada por José Figueres Ferrer, este
importante prócer das transformações históricas costa-riquenhas que, um pouco mais de cinco lustros antes, em 1918 havia sido protagonista da Revolução
Universitária de Córdoba, Argentina, juntamente com os estudantes o peruano Haya de la Torre, o guatemalteco José Arévalo e o venezuelano Rómulo Betancourt.
        O movimento de rebeldia dos estudantes da Universidade de Córdoba, de profundas conseqüências nas universidades e na própria história da América
Latina, não foi, evidentemente, um fato isolado. Não. Porque, se houvesse sido, seria uma exceção incompreensível de uma das leis da dialética que explica a
inexorável interdependência dos fenômenos.
        De fato, ademais das idéias de Gonzalo Prada e de Mariátegui no Peru, os “Ventos do Leste”, ou seja, da Revolução de Dezessete na Rússia, haviam soprado todo
o Planeta, fazendo surgir novas perspectivas para as alianças das classes dos despossuídos e para o acesso destes às universidades gratuitas, livre de discriminações.
Um dos eméritos professores e mais ativistas da Universidade de Córdoba foi o exilado alemão Goldshimith que, dois anos antes, juntamente com Rosa
Luxemburgo, Liebenicht e Witffogel, eram os catedráticos da escola de formação de quadros do Partido “Spartaco” dos comunistas germânicos.
       Segundo Carlos Tunnerman Berheim “os movimentos de Córdoba foram a primeira confrontação entre uma sociedade que começava a experimentar
mudanças em sua composição interna e uma universidade enquistada em esquemas obsoletos” e, ademais, teve “o afã de projetar o trabalho universitário no seio
da coletividade, que foi um dos enunciados básicos do Movimento, dando origem – segundo o mesmo autor citando a Gabriel Mazo – a uma “nova função” para a
Universidade Latino-americana, “a função social, isto é, o propósito de pôr o saber universitário a serviço da sociedade e fazer de seus problemas (da sociedade)
tema fundamental de suas preocupações”.
       “Dita nova função representa para vários teóricos da Universidade Latino-americana a que mais contribui para tipificá-la e distingui-la, em certo modo, de
seus congêneres de outras regiões do mundo”.
       A “ação social” que encarna a Extensão Universitária nascida em Córdoba presidiu, desde seus primeiros momentos de existência, a Universidade Autônoma da
Costa Rica. Com efeito, não faltou, até o presente momento, a esta universidade sensibilidade para encarar, para enfrentar, os problemas sociais que mais afetam aos
costa-riquenhos “extra-campus”: os operários atirados ao desemprego, os camponeses carentes de terra, a pequena burguesia cada dia mais sacrificada, o meio
ambiente permanentemente ameaçado; os direitos individuais dos cidadãos freqüentemente restringidos pela violência urbana (que cresce na medida em que o sistema
econômico imperante elimina massivamente postos de trabalho e a renda, multiplicando, assim, os excluídos), os direitos da mulher e dos adolescentes.
       Ademais da inovadora experiência de autogestão, sua Escola de Planejamento Social, dirigida pelo Prof. Miguel Sobrado Chaves, realizou diversos eventos
capacitadores em autogestão durante vários anos, integrados por professores e alunos. Eventos de capacitação massiva envolvendo milhares de pessoas.
       A esta jovem universidade se deve o decisivo empenho na estruturação de quase uma centena de empresas associativas ou comunitárias geradoras de
emprego e renda, algumas das quais estão entre as maiores e modelares empresas congêneres da América Latina, como são os casos da Cooperativa “El Silencio” e
“La Vaquita”. Em conseqüência deste extensionismo universitário sistemático, esta Universidade capacitou um grande número de professores e alunos no trabalho
de organização das massas de desempregados.
       Já nos primeiros passos desta universidade, um de seus catedráticos (e que, hoje em dia, ocupa o digníssimo posto de Reitor), o Prof. Jorge Moral Alfaro,
estabelecia em um de seus escritos sobre capacitação massiva, o seguinte paradigma: “a capacitação de líderes ou de quadros dirigentes sem referir-se à teoria e à
prática da organização é irremediavelmente uma capacitação deficiente, que pode ter conseqüências negativas pelo menos em dois sentidos: de uma parte, se pode
criar uma elite com fortes possibilidades de desvinculação dos problemas da coletividade que originarão sua capacitação, através de canais de ascensão social
acessível em seu novo “status” e, de outra, ao restar aos quadros e às massas o conhecimento técnico da organização, torna-os incapazes de evitar a “entropia” nos
organismos sociais, provocada pela degradação destes e de seus integrantes e, por defeituosa ou inexistente vida orgânica, mumificada em atos litúrgicos”.


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A bandeira da organização dos excluídos para gerar postos de trabalho e renda mediante a metodologia da capacitação massiva foi conduzida por
professores desta Universidade de Heredia a El Salvador, ao México, à Nicarágua, ao Panamá, à República Dominicana, à Venezuela e à Colômbia, em cujos países
ensinaram a criar e a consolidar empresas de autogestão, a fim de elevar o nível de vida das populações carentes de centros urbanos e de áreas rurais.
       Desta forma, a extensão universitária da Universidade Nacional Autônoma da Costa Rica não se limitou a ultrapassar as muralhas do “campus”, senão que
foi mais além das fronteiras nacionais cobrindo toda Mesoamérica, países do Caribe e da América do Sul. Não é por acaso que esta UNACR foi elegida a
“Universidade–âncora” do “pool” de universidades européias e latino-americanas que levarão a efeito o Doutorado centrado no tema da Capacitação Massiva para a
Autogestão de Empresas de Propriedade e Produção Sociais.
       Desde o nascimento desta universidade até nossos dias, o mundo sofreu profundas mudanças, de tão acentuado que foi o desenvolvimento das forças
produtivas em seu entorno, durante estas três décadas que, à Extensão Universitária, evidentemente, de nenhuma maneira passou despercebido.
       São tempos distintos, muito bem diferentes, dos começos da primeira universidade surgida no Planeta, no século X, a Universidade de Tombuctu, no sul do
Deserto do Saara, quase nos pântanos do Rio Níger, atualmente República de Mali, onde se conservam restos de suas ruínas.
       Desde lá, do coração da África tórrida, no afã de extensionismo universitário, seu jovem geógrafo IBN BATUTA, viajou durante mais trinta anos, para o
Mediterrâneo cartaginês, romano e grego a fim de conhecer o Mundo e a História do mundo em troca da difusão de avançados conhecimentos africanos e islâmicos.
       Neste plano, seguiu viagem para o Mar Negro, ao Volga, aos Montes Urales e ao Mar Cáspio, ao Cáucaso azerbaijano e, após uma pausa de um
ano em Samarkanda, capital do Império de Gengis Khan, enfrentou as grandes distâncias da Turcomênia, Uzbequistão, Sibéria, Mongólia e China.
       Passado algum tempo, chegou-lhe a vez de viajar para Indochina, Península de Málaga, Malásia, Cingapura e Indonésia. Seu regresso a sua universidade de
Tombuctu, tratou de fazê-lo pela Índia, Caxemira, Paquistão, Afeganistão, Irã, Iraque, Turquia, Jordânia, Palestina, visitando, em seguida, Meca, na Península da
Arábia Saudita.
       No entanto, não fatigado ainda de ditar, durante mais trinta anos, milhares de conferências (significado literal do Corão), em seu afã de extensionismo
universitário baseado no proselitismo islâmico, o professor IBN BATUTA dirigiu-se para o sul da África, chegando até a Ilha de Zanzibar, famosa, já desde aquela
época, pela exportação do cravo.
       Ele buscou regressar ao Mediterrâneo através do Rio Nilo, visitando o Sudão, a Etiópia e o Egito para depois chegar ao Marrocos e, em seguida, em uma
caravana de camelos, atravessar o Saara e aparecer, já de cabelos grisalhos, marcados pelo tempo e sofrimentos, à sua Universidade de Tombuctu a fim de
reassumir sua cátedra de Geografia e História do Mundo.
       O eurocentrismo, que cerca a sede da UNESCO em Paris, nunca possibilitou a restauração da mesquita onde funcionou, há mil anos, a primeira universidade
do mundo, porém, em contraposição, prestigia a conventos jesuítas, europeus e latino-americanos, nos quais nasceram Universidades muito menos antigas que a


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africana de Tombuctu. Além disso, deixa permanecer no olvido IBN BATUTA, o geógrafo viajante, extensionista universitário, que superou quase duas vezes as
distâncias percorridas pelo europeu Marco Polo.
        As justificativas desse longuíssimo périplo por três continentes estavam somente no desejo de ensinar os conhecimentos africanos e de aprender sobre
muitos povos e culturas daquele mundo antigo. O propósito fundamental era – digamos – uma singular extensão universitária inspirada no intento da “globalização”
do Islam, ao longo e ao largo do Mundo conhecido, cujos confins orientais mais distantes, naquelas épocas, estavam na Australásia, na Indonésia de nossos dias.
        Alá, o criador do “céu e da terra”, é o deus dos islâmicos e pré-determinador do destino de cada homem que se considera impotente ante esse Todo-
Poderoso, adorado nas mesquitas.
        Passados seiscentos anos depois de IBN BATUTA, hoje em dia, nos atuais últimos anos do Segundo Milênio, África e Indonésia vivem outro tipo de
Globalização: a Globalização da miséria e do desemprego presidida por outro deus todo-poderoso: o dinheiro que, adorado no “templo” das Bolsas de Valores,
desde logo, deve suscitar outro tipo de extensionismo universitário.
        Com efeito, a ONU noticiou, no mês passado, que a África apresenta trezentos e quarenta milhões de famintos e, em cada minuto, três africanos morrem de
desnutrição. Enquanto isso, a revista Visão, edição de 16 a 21 de agosto último (1998), informa que “com a firma Quantum Funds o célebre megaespeculador
George Soros, que possui fundos disponíveis ao redor de vinte bilhões de dólares, é capaz de obter créditos cem vezes maiores por meio do mercado dos derivados
e, em particular, dos detestáveis hedge funds (fundos de resguardo), popularmente conhecidos como cobertura de riscos. Ou seja, enquanto a Quantum Funds
pode facilmente mover duzentos bilhões de dólares, o quarto país mais povoado do planeta, Indonésia, se encontra incapacitado de conseguir nos seletos mercados
de dinheiro sequer um quinto destes créditos bancários, onde se movem como peixes na água os megaespeculadores”.
        William Shakespeare, no “Timão de Atenas”, assim destacava a onipotência do “deus-dinheiro”:
        “Primeiro, é a divindade visível, a transmutação de todas as propriedades humanas e naturais em seu contrário, a confusão e inversão universal de todas as
coisas, capaz de irmanar das impossibilidades; segundo, é a prostituta universal, o universal alcoviteiro dos homens e dos povos”.
        Marx, comentando sobre esta catarse do dramaturgo inglês, disse que:
        “A inversão e confusão de todas as qualidades humanas e naturais, a conjugação das impossibilidades; a força divina do dinheiro radica em sua essência,
enquanto que essência genérica desterrada, alienante e auto-alienante do homem. É o poder alienado da humanidade”.
        “O dinheiro, enquanto possui a propriedade de comprar tudo, enquanto possui a propriedade de apropriar-se dos objetos, é, pois, o objeto por excelência. A
vulnerabilidade de sua qualidade é a onipotência de sua essência; vale, pois, como ser onipotente”.




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“Se o dinheiro é o vínculo que me liga à vida humana, que liga à sociedade, que me liga com a natureza e com o homem, não é o dinheiro o vínculo de
todos os vínculos? Não é também por isto o meio geral de separação? É a verdadeira moeda divisória, assim como o verdadeiro meio de união, a força galvano-
química da sociedade”.
        Assim responde, atualmente, Jack Weatherford a esta indagação: “Os une uma só coisa: O dinheiro. Independentemente de que designe a sua moeda
como dólares, rublos, ienes, pesetas, marcos, balboas, francos, libras, pesos, escudos, colones, liras, reais, bolívares, dracmas, iuans, quetzales, rúpias, chelins,
cada uma opera essencialmente da mesma forma, como parte menor de um sistema monetário internacional que chega a cada granja, ilha e aldeia do Planeta. Sem
importar onde esteja e qual seja a divisa local, este moderno sistema possibilita o fluxo rápido e fácil de dinheiro de um mercado a outro”.
        Já em 1677, “”Aphra Behn, uma dramaturga do século dezessete – acrescenta Weathrford – escreveu em sua obra “The Rover” (O Vagabundo) que “o
dinheiro fala com sentido em uma linguagem que todas as nações entendem”.
        Para Marx, “na forma de dinheiro, o capital une a força de trabalho e os meios de produção; na forma produtiva produz menos valores de uso que
constituem os portadores materiais do próprio valor capital; na forma mercantil, ao realizar o valor do capital e da mais-valia, lança o valor de uso da esfera do
consumo (o individual e o produtivo)”.
        Para esclarecer este caráter ilimitado do dinheiro e a força com que comanda todos os músculos da atividade humana, há que ir mais a fundo, à Divisão
Social do Trabalho (germe do conhecimento e da linguagem social”) que fez surgir, paralelamente à propriedade privada, a MERCADORIA, a célula da economia
mercantil, cuja expressão exponencial, o dinheiro, propicia, em forma de movimento, a solução das contradições do valor de uso e do valor de troca. Ambos são
gerados, respectivamente, pelo trabalho concreto (o dispêndio de energia do produtor) e pelo trabalho abstrato revelador (no mercado) do tempo socialmente
necessário para produzir a mercadoria.
        De fato, as relações entre os seres humanos, entre comunidades, entre povos e entre países se manifestam com a mesma clareza na esfera do intercâmbio.
A produção mercantil não só inter-relaciona as pessoas como também sujeita aqueles alcançados pela circulação mercantil.
        A novela “O Grande Norte” de T. Siomúchkin mostra eloqüentemente como, antes de 1917, os indivíduos de uma comunidade de caçadores e pescadores
lapões se ligavam ao resto dos telúricos. Eles viviam no norte da Sibéria, ao ocidente da longínqua Ilha de Wrangel, e estavam sempre pendentes da visita anual de
um único barco que, no degêlo do Estreito de Behring, conseguia penetrar no Oceano Glacial Ártico.
        Charleston, possivelmente um prófugo da justiça norte-americana, dono do único armazém, enorme bodega daquela aldeia de lapões, comprava suas mercadorias
(em geral peles finas de foca e presas de leão-marinho) pelo que trazia no barco: chá preto da Índia empacotado na Inglaterra; chocolates suíços e holandeses feitos com
o cacau de Gana ou da América Central; café da Etiópia empacotado na Itália; alguns tecidos chineses exportados por ingleses; facões e machados “Solingen” da
Alemanha; rifles e escopetas de caça e uma variedade interminável de utensílios de alumínio para a cozinha e a mesa: chaleiras, frigideiras, panelas etc.


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  • 1. UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA (UFRO) CENTRO DE HERMENÊUTICA DO PRESENTE PRIMEIRA VERSÃO PRIMEIRA VERSÃO ISSN 1517-5421 lathé biosa 161 ANO III, Nº161 - SETEMBRO - PORTO VELHO, 2004 VOLUME XI ISSN 1517-5421 EDITOR NILSON SANTOS CONSELHO EDITORIAL ALBERTO LINS CALDAS – História - UFRO CLODOMIR S. DE MORAIS – Sociologia - IATTERMUND ARTUR MORETTI – Física - UFRO CELSO FERRAREZI – Letras - UFRO HEINZ DIETER HEIDEMANN – Geografia - USP JOSÉ C. SEBE BOM MEIHY – História – USP MARIO COZZUOL – Biologia - UFRO MIGUEL NENEVÉ – Letras - UFRO ROMUALDO DIAS – Educação - UNICAMP FLÁVIO DUTKA VALDEMIR MIOTELLO – Filosofia - UFSC Primeira Versão destina-se a divulgar ensaios breves em todas Os textos no mínimo 3 laudas, tamanho de folha A4, fonte Times New Roman 11, espaço 1.5, formatados em “Word for Windows” deverão ser encaminhados para e-mail: BAKHTIN: APONTAMENTOS TEMÁTICOS nilson@unir.br CAIXA POSTAL 775 Maria Celeste Said Marques CEP: 78.900-970 PORTO VELHO-RO TIRAGEM 200 EXEMPLARES EDITORA UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA
  • 2. Maria Celeste Said Marques BAKHTIN:APONTAMENTOS TEMÁTICOS Professora do Departamento de Educação – UFRO marques@enter-net.com.br Para os propósitos deste ensaio, o que segue não é uma análise exaustiva de idéias bakhtiniana. Trata-se, antes, de um breve diálogo com sua obra. O meu interesse é explorar o potencial analítico de alguns conceitos e da metodologia de Bakhtin. Bakhtin é um dos maiores pensadores do século XX e um teórico fundamental da língua. Em Marxismo e filosofia da linguagem está sua teoria da linguagem e do dialogismo. Bakhtin enfatizou a heterogeneidade concreta da parole, ou seja, a complexidade multiforme das manifestações de linguagem em situações sociais concretas, diferentemente de Saussure e dos estruturalistas, que privilegiam a langue, isto é, o sistema abstrato da língua, com suas características formais passíveis de serem repetidas. Bakhtin concebe a linguagem não só como um sistema abstrato, mas também como uma criação coletiva, integrante de um diálogo cumulativo entre o “eu” e o “outro”, entre muitos “eus” e muitos “outros”. 1. O Pensamento de Bakhtin Neste tópico, meu procedimento será fazer uma introdução concisa do pensamento de Mikhail Bakhtin fundamentada em Todorov (1979). Depois dialogarei com seus escritos. Escolhi Bakhtin e penetrarei em suas idéias não somente por meio de seus textos, mas também por meio de textos de autores que escrevem sobre ele. Interessam-me suas concepções relacionadas à linguagem, centrando-me em sua abordagem dialética a partir de suas considerações sobre o caráter ideológico do signo lingüístico e da natureza eminentemente semiótica (e ideológica) da consciência. Todorov (1979) destaca que a unidade da obra de Bakhtin está em sua concepção de que o inter-humano é constitutivo do ser humano: a multiplicidade dos homens é a verdade do próprio ser do homem. Para Todorov (1979:14), Bakhtin não cessou de procurar o que pode nos parecer agora diferentes linguagens destinadas a afirmar um único e mesmo pensamento. Poderíamos, desse ponto de vista, distinguir quatro grandes períodos (quatro linguagens), conforme a natureza do campo em que ele observa a ação desse pensamento: fenomenológico; sociológico; lingüístico; histórico-literário. No decorrer de um quinto período (os últimos anos), Bakhtin tenta a síntese dessas quatro linguagens diferentes. Dessa forma, percebe-se que a arquitetônica, ou construção, da obra de Bakhtin não é unívoca. Os matizes de sua trajetória intelectual podem ser sintetizados, segundo Todorov (1979), do seguinte modo: Período fenomenológico - é representado pelo primeiro livro de Bakhtin, consagrado à relação entre autor e herói, que ele considera como um caso particular da relação entre dois seres humanos e concentra-se nessa análise. Defende que tal relação é “indispensável [...] para que o ser humano se constitua num ISSN 1517 - 5421 2
  • 3. todo, pois o acabamento só pode vir do exterior, através do olhar do outro” (Todorov, 1979:14). O trabalho de demonstração de Bakhtin compreende dois planos da pessoa humana. O primeiro, espacial, é o do corpo: “ora, meu corpo só se torna um todo se é visto de fora, ou num espelho (ao passo que vejo, sem menor problema, o corpo dos outros como um todo acabado)” (p.14). O segundo é temporal, e relaciona-se à ‘alma’: apenas meu nascimento e minha morte me constituem em um todo; ora, por definição, minha consciência não pode conhecê-los por dentro. Logo, o outro é ao mesmo tempo constitutivo do ser e fundamentalmente assimétrico em relação a ele: a pluralidade dos homens encontra seu sentido não numa multiplicação quantitativa dos ‘eu’, mas naquilo em que cada um é o complemento necessário do outro (p.14-5). Período sociológico e marxista - o coroamento deste período é representado pelos livros assinados pelos amigos e colaboradores de Bakhtin. Ele e seus amigos se posicionam contra: a psicologia e a lingüística subjetivas por procederem como se o homem estivessem sozinho no mundo; as teorias empiristas por se limitarem ao conhecimento dos produtos observáveis da interação humana. Para o grupo bakhtiniano o social tem caráter primordial: “a linguagem e o pensamento, constitutivos do homem, são necessariamente inter-subjetivos” (p.14). Período lingüístico - após suas críticas à lingüística estrutural e à poética formalista - por reduzirem a linguagem a um código e negarem o discurso como uma ponte lançada entre duas pessoas socialmente constituídas -, Bakhtin se empenha em lançar as bases de uma nova lingüística, chamada de “translingüística” (para Todorov seria a “pragmática” e Barros (1996:23) opta por teoria do discurso1), cujo objeto não é mais o enunciado, mas a enunciação, isto é, a interação verbal. Bakhtin formula propostas produtivas para o estudo da interação verbal na última parte de seu Dostoïevski e no ensaio sobre “O discurso no romance”. Ele analisa, em particular, a forma pela qual “as vozes dos outros - autores anteriores, destinatários hipotéticos - misturam-se à voz do sujeito explícito da enunciação” (p.15). Período histórico-literário - inicia-se nos anos trinta. Comporta dois grandes livros, um sobre Goethe e outro sobre Rabelais. Para Todorov (1979:15), Bakhtin constata que a literatura sempre jogou com a pluralidade de vozes, presentes na consciência dos locutores, mas de duas formas diferentes: ou o discurso da obra é em si mesmo homogêneo, mas se opõe em bloco às normas lingüísticas gerais; ou então a diversidade do discurso (a ‘heterologia’) se encontra representada no próprio interior do texto. É justamente a essa segunda tradição que Bakhtin dá atenção especial não apenas dentro da literatura, mas também fora. Como resultado, têm-se os estudos das festas populares, do carnaval e da história do riso, que ele desenvolveu. Todas essa linguagens afirmam o pensamento condutor da obra bakhtiniana: a irredutibilidade da entidade transindividual. Todas essas vastas explorações participam do projeto comum de Bakhtin. 5.Segundo a autora, atualmente, o nome mais adequado é teoria do discurso como correspondente da metalingüística de Bakhtin, visto que “as diferentes pragmáticas que conhecemos tratam apenas de algumas das questões que Bakhtin desenvolve na sua translingüística. As atuais teorias do discurso parecem-me mais abrangentes e mais próximas, portanto, das reflexões do autor”. ISSN 1517 - 5421 3
  • 4. Para a compreensão de alguns conceitos e categorias de análise, apontarei percursos a partir dos textos de Bakhtin e de textos de autores que escreveram sobre ele. Interessam-me principalmente suas concepções relacionadas à constituição do sujeito, á dialética, à ideologia, ao marxismo, à cultura etc. Para isso, seguirei as trilhas de algumas obras, de forma a construir e desenvolver os temas necessários à análise, visto ser fato que nos textos de Bakhtin, os conceitos não seguem uma rede temática estritamente definida como os manuais, e seus escritos não convergem para um fechamento. Exercitando o próprio percurso não-linear, mas dialógico das idéias, os conceitos bakhtinianos são lidos na rede textual que constitui o conjunto arquitetônico de suas formulações. Afinal, trata-se não de fazer uma exposição sobre a teoria de Bakhtin, mas de compreender a construção de determinados conceitos e categorias a partir de posicionamentos bem determinados presentes na rede interativa de seus escritos. 2. A constituição dialógica do sujeito bakhtiniano Para Bakhtin, o reconhecimento do sujeito e do sentido é imprescindível para a constituição de ambos. Bakhtin coloca em crise a unicidade do sujeito falante. Ele atribui ao sujeito um estatuto heterogêneo. O sujeito modifica seu discurso em função das intervenções dos outros discursos, sejam elas reais ou imaginadas. Portanto, o sujeito não é a fonte primeira do sentido. Segundo Bakhtin, o sujeito emerge do outro. O sujeito bakhtiniano é dialógico e seu conhecimento é fundamentado no discurso que ele produz. Conforme Bakhtin, “não podemos perceber e estudar o sujeito enquanto tal, como se ele fosse uma coisa, já que ele não pode permanecer sujeito se ele não tem voz; por conseguinte, seu conhecimento só pode ser dialógico” (Bakhtin, apud Todorov, 1981:34). O eu, para Bakhtin, não é monádico e nem autônomo (o cogito autocriador de Descartes). Ele existe a partir da do diálogo com os outros eus; necessita da colaboração de outros para poder definir-se e ser “autor” de si mesmo. Com efeito, o sujeito dialógico bakhtiniano abala a concepção clássica do sujeito cartesiano, circunscrito em uma identidade permanente. O sujeito baktiniano é solidário das alteridades de seu discurso ao ser concebido numa partição de vozes concorrentes. Dessa forma, a idéia de sujeito de Bakhtin é uma negação do sujeito pensante de Descartes, ao mesmo tempo, que é o oposto do sujeito lacano-althusseriano da AD francesa, já que “a ‘palavra do outro’ se transforma, dialogicamente, para tornar-se ‘palavra pessoal-alheia’ com ajuda de outras ‘palavras do outro’, e depois, palavra pessoal (com, poder-se-ia dizer, a perda das aspas). A palavra já tem, então, um caráter criativo” (Bakhtin, 1992b:405-6). Essa fundamentação do sujeito de Bakhtin na crítica radical do sujeito coisa abre uma perspectiva inovadora importante de conhecimento para a lingüística, pois propõe que o sujeito só pode ser teorizado como objeto de teoria, a não ser com a condição de ser reconstruído como tal, a partir da realidade das outras vozes de seu discurso. O sujeito bakhtiniano marca sua originalidade epistemológica por meio de um duplo deslocamento. Um que ancora a consciência na palavra: “a consciência de si é sempre verbal” (Bakhtin/Voloshinov, 1980:183). E outro que ancora o sujeito na comunidade: “eu só pode se realizar no discurso, apoiando-se em nós” (Bakhtin, apud Todorov, 1981:68). ISSN 1517 - 5421 4
  • 5. O sujeito não está pronto, acabado. É incompleto e está numa busca eterna de completude inconclusa. Com efeito, é impossível uma formação individual sem alteridade, pois o outro delimita e constrói o espaço de atuação do sujeito no mundo. No entanto, o outro constitui o sujeito ideologicamente e proporciona-lhe o acabamento. Segundo Bakhtin, o mundo semiótico do sujeito é construído com os outros. O nascimento e a seqüência da vida estão marcados por aquilo que somente o outro sabe, vê e conhece do mundo do sujeito. 3. Dialética, ideologia e marxismo Bakhtin, ao conceber a realidade como essencialmente contraditória e em permanente transformação, fez da dialética o seu método na construção de seu arcabouço teórico. A sua dialética é dialógica e está vinculada com a totalidade, com a história, com a interação social. Sua visão de mundo é pluralista e polifônica. Dessa forma, ao privilegiar uma visão mais comunitária da dialética social, Bakhtin afasta-se do marxismo clássico ao dar menos ênfase à determinação econômica. Para Bakhtin, o homem constrói sua existência dentro das condições sócio-econômicas objetivas, de uma sociedade. Somente como membro de um grupo social, de uma classe social é que o indivíduo ascende a uma realidade histórica e a uma produtividade cultural. O nascimento físico não é uma condição suficiente para o homem ingressar na história, pois o animal também nasce fisicamente e não entra na história. “Portanto, é necessário, um segundo nascimento, um nascimento social. Não se nasce organismo biológico abstrato, mas camponês ou aristocrata, proletário ou burguês [...]” (Bakhtin/Voloshinov, 1980:34). Dessa forma, a ligação do homem à vida e à cultura se dá por meio da realidade social e histórica. Nessa perspectiva, Bakhtin concebe a consciência como um fato sócio-ideológico. Para ele, a consciência só existe na medida em que se concretiza através de algum tipo de material semiótico, seja sob a forma de discurso interno, seja no processo de interação verbal com os outros. Com efeito, Bakhtin descentraliza a consciência individual da filosofia idealista e da visão psicologista da cultura que “afirmam que a ideologia é um fato de consciência e que o aspecto exterior do signo é simplesmente um revestimento, um meio técnico de realização do efeito interior, isto é, da compreensão” (Bakhtin/Voloshinov, 1992a:33). Para o referido autor, o verdadeiro lugar do ideológico é o material social particular de signos criados pelo homem. “Sua especificidade reside, precisamente, no fato de que ele se situa entre indivíduos organizados, sendo o meio de sua comunicação. Os signos só podem aparecer em um terreno interindividual” (Bakhtin/Voloshinov, 1992a:35). Assim, segundo Stam (1992:30), Bakhtin, em sua crítica marxista do psicologismo, “desmascara o apreciado mito burguês da autonomia individual”. Bakhtin critica também o marxismo vulgar, mecanicista por relegar o mundo dos signos e da ideologia a uma superestrutura determinada pela base econômica. Pois, para Bakhtin/Voloshinov (1992a:33), “cada signo ideológico é não apenas um reflexo, uma sombra da realidade, mas também um fragmento material dessa realidade”. Dessa forma, Bakhtin não concebia a ideologia como falseamento da realidade ou falsa consciência. Para ele, o conceito de ideologia é ISSN 1517 - 5421 5
  • 6. mais abrangente, pois considera a contradição como constitutiva do produto ideológico, visto que este último “reflete e refrata uma outra realidade que lhe é exterior” (Bakhtin/Voloshinov, 1992a:31). Essa concepção supõe um movimento dialético com a infra-estrutura. Como vimos, Bakhtin faz uma crítica marxista do psicologismo e mostra-se igualmente crítico em relação ao marxismo mecanicista. O fenômeno ideológico por excelência e o modo mais puro e sensível de relação social é a palavra, ou seja, a linguagem no sentido mais amplo, de acordo com Bakhtin/Voloshinov (1992a:36). É na palavra que se revelam a forma básica e ideológica gerais da interação verbal. Dessa forma, “a concepção ampla que Bakhtin tem da linguagem torna-se um veículo para evitar a armadilha do economicismo mecanicista” (Stam, 1992:31). Bakhtin critica a categoria da causalidade mecânica para explicar como a realidade (infra-estrutura) determina a ideologia. Para ele, “o ser, refletido no signo, não apenas nele se reflete, mas se refrata” e o que determina essa refração do ser no ideológico é confronto de interesses sociais, ou seja, a luta de classes. “Classes sociais diferentes servem-se de uma só e mesma língua. Conseqüentemente, em todo signo ideológico confrontam-se índices de valor contraditórios. O signo se torna a arena onde se desenvolve a luta de classes” (Bakhtin/Voloshinov, 1992a :46). Essa plurivalência social do signo ideológico é o traço que torna o signo vivo, móvel e capaz de evoluir. No entanto, segundo Bakhtin/Voloshinov (1992a:47), essa mesma característica faz dele um instrumento de refração de deformação do ser: “a classe dominante tende a conferir ao signo ideológico um caráter intangível e acima das diferenças de classe, a fim de abafar ou de ocultar a luta dos índices sociais de valor que aí se trava, a fim de tornar o signo monovalente”. Na realidade, para Bakhtin, todo signo ideológico vivo tem duas faces, mas essa dialética interna do signo não se revela inteiramente a não ser em épocas de crise social e de comoção revolucionária. Enfim, é assim que, para Bakhtin/Voloshinov (1992a:47), “se apresenta o problema da relação entre infra-estrutura e as superestruturas”. 4.Cultura A partir das categorias-chave de Bakhtin como dialogismo, interação verbal, ideologia, consciência, etc, pode-se perceber que a contribuição de Bakhtin à análise da produção cultural e das ciências humanas é uma visão transdisciplinar. A noção de dialogismo, de acordo com Bakhtin, pressupõe uma cultura fundamentalmente não-unitária, na qual diferentes discursos existem em relações de trocas constantes e versáteis de oposição. Segundo Stam (1992:101), com essa noção, a maior contribuição de Bakhtin talvez seja de caráter político, pois implicitamente “critica o modelo stalinista do ‘realismo socialista’ (na época de Bakhtin) e o derrotismo implícito da escola de ‘ideologia dominante’ do marxismo althusseriano de nossa época”. No entanto, o pensamento crítico de Bakhtin não representa um recuo em relação ao radicalismo e sim um avanço por chamar atenção para todas as formas opressivas de poder e não apenas as que derivam de classe. Para Stam (1992), apesar de Bakhtin não se dirigir especificamente a ISSN 1517 - 5421 6
  • 7. todas as opressões, “uma política textual bakhtiniana favoreceria uma abertura à especificidade e diferença, recíproca e descentralizada; não aconselharia aos embates feministas, negros ou gays que ‘esperem sua vez’, até que a luta de classe atinja seus fins” (p.101). Para Bakhtin, não há produção cultural fora da linguagem. O dialogismo opera dentro de qualquer produção cultural, seja letrada ou analfabeta, verbal ou não- verbal, elitista ou popular. BIBLIOGRAFIA BAKHTIN, M. (Voloshinov,V.N.1980). Écrits sur le freudisme. Paris, L’Age D’homme. _____ (Voloshinov, V.N.-1929). Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo, Hucitec, 1992a. BARROS, D.L.P. de (1997). “Contribuições de Bakhtin às teorias do discurso”. In: Brait, B. (Org.). Bakhtin, dialogismo e construção do sentido. São Paulo, Editora da Unicamp, pp.27-36. STAM, R. (1992). Bakhtin: da teoria literária à cultura de massa. São Paulo, Ática. TODOROV, T. (1979). “Prefácio”. In: Bakhtin. Estética da criação verbal. São Paulo, Martins Fontes, 1992b. ______ (1981).Mikhail Bakhtine. Le principe dialogique. Paris, Seuil . ISSN 1517 - 5421 7
  • 8. UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA (UFRO) CENTRO DE HERMENÊUTICA DO PRESENTE PRIMEIRA VERSÃO PRIMEIRA VERSÃO ISSN 1517-5421 lathé biosa 162 ANO III, Nº162 - SETEMBRO - PORTO VELHO, 2004 VOLUME XI ISSN 1517-5421 EDITOR NILSON SANTOS CONSELHO EDITORIAL ALBERTO LINS CALDAS – História - UFRO CLODOMIR S. DE MORAIS – Sociologia - IATTERMUND ARTUR MORETTI – Física - UFRO CELSO FERRAREZI – Letras - UFRO HEINZ DIETER HEIDEMANN – Geografia - USP FLÁVIO DUTKA JOSÉ C. SEBE BOM MEIHY – História – USP MARIO COZZUOL – Biologia - UFRO MIGUEL NENEVÉ – Letras - UFRO ROMUALDO DIAS – Educação - UNICAMP VALDEMIR MIOTELLO – Filosofia - UFSC DA UNIVERSIDADE E O “NADA” Os textos no mínimo 3 laudas, tamanho de folha A4, fonte REITORÍFICO OU DA REITORIA... Em vinte Times New Roman 11, espaço 1.5, formatados em “Word for Windows” deverão ser encaminhados para e-mail: anos, prá que serve isto mesmo? nilson@unir.br CAIXA POSTAL 775 CEP: 78.900-970 Walterlina Brasil PORTO VELHO-RO TIRAGEM 200 EXEMPLARES EDITORA UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA 8
  • 9. Walterlina Brasil DA UNIVERSIDADE E O “NADA” REITORÍFICO OU DA REITORIA... Em vinte anos, prá que serve isto mesmo? Professora do Departamento de Educação - UFRO wal@unir.br A crise de pertinência porque passa a Universidade hoje embora com dimensões complexas, vem obtendo diversas formas de ressonância interna. Dentre elas a convivência política com o poder expresso na reitoria, que vem se moldando a partir de ressignificações que resumem a um nada a conversão social do conhecimento como uma das tarefas possíveis dessa Instituição realizar. Tal convivência vem inflando-se de gás e poderá estourar em qualquer nenhum-lugar, conformando-se em retalhos irreconciliáveis. Vem enchendo-se do vazio das noções políticas do comércio internacional, da falta de alma política e perfil institucional; por degradação da inteligência, do atrevimento, da utopia, da ideologia, da renovação burocrática e do eco moral expresso na íris. A coexistência com as pressões externas e internas de toda ordem, são minimizadas e traduzidas em “pérolas” explicativas tais como: “e que é que eu posso fazer, né maninha? Nada né? O jeito é ir tocando”. Curioso é: Tocando quem ou o quê? O “gado”? Qual? A que preço? A um custo social de quantos? A universidade nadificada, sem pertinência, é um nada que se distancia e se convence de que é inevitável distanciar-se da capacidade de produção e gestão do conhecimento, ou que este seja alcançável através do exercício acadêmico sério e responsável. Parece-me que isto ocorre exatamente quando uma maior aproximação a este debate (e não a outro) é o que seria necessário, como única forma (nestes tempos tão duros) de abjurar-se em esforço pelo coletivo, num sentido de acesso ao processo de conhecer, com eqüidade e qualidade do serviço que oferece. A universidade nadificada é umbilical. Apenas o nada (no umbigo) é convergente e comporta a complexidade do poder na instituição universitária ao longo deste tempo. Por estas bandas do oeste brasileiro, a UNIR participa com vinte anos... gotículas para quem crê na humanização, eternidade para quem pensa em aposentadoria. A distribuição nadificada que posso tentar categorizar a partir da UNIR, poderia ser de qualquer outra, se vista com o cuidado de uma análise sobre o poder reitorífico e a convivência com suas instâncias políticas internas. São coisas que tem me dito os sentimentos e as leituras de quem sabe muito pouco desses assuntos, mas vem apreciando o nada que permeia e envolve momentos especialmente nadificados, como o de “consulta” interna, durante os atos em que a comunidade universitária reitorifícasse. O caráter e a legitimidade do momento político em aceder ao que é corretamente reitorífico na universidade certamente percorre uma larga história. Tocar nisto pode invadir o coração e as paixões históricas mais delicadas e difíceis de serem tratadas: vai do marco de uma importante reação nacional à ditadura, aos enclaves impensados das IFES Universitárias instaladas sem qualquer cuidado com sua natureza e identidades locais, marginando-as em seus projetos de implantação, como no caso das IFES Amazônicas. Estas feridas não daríamos conta tocá-las aqui, apenas reconhecemos que existem e são complicadas de sarar.
  • 10. De fato, no que me interessa aludir, a reitoria ainda ilustra o desejo por um tipo de poder político – o reitorífico – que deveria ser exercido legitimamente, por um professor: a pretensão da execução de uma grande obra sob o comando de uma inteligência privilegiada e capaz de liderar aos demais. Está temporalmente situado no movimento na área das humanidades – na França – como a vontade dos pares das Artes e Letras em ter alguém cujo mérito da idade, competência, prestígio, assegurasse ao pretenso reitorista uma condição de fazer-se respeitar primeiro no âmbito burocrático e, posteriormente, fazer-se seguir em idéias, projetos e desafios. Hoje reitoria vem se convertendo, simplesmente, um espaço de oportunidades... pessoais. Com o aborto paulatino da pertinência da Universidade, a conformação e os exercícios de poder máximo institucional (conselhos e reitoria, por exemplo) podem revelar esta outra face: aquela em que a Universidade vem se decompondo e sucumbindo: aos melindres políticos e falta de clima institucional para fazer-se. A UNIR em seus vinte anos (11 de julho de 1982) poderia ser uma amostra do que estou tentando apontar neste texto. Desde já peço o perdão pelo desconhecimento da vida autorizada pelos partícipes da UNIR há mais tempo, em suas vísceras e bofes, que chegaram a sentir o odor mais de perto e devem saber, melhor do que eu, qual foi ou é. Longe de representar liderança interna, vigilância política, probidade intelectual e moral, reitoria é, socialmente, um não-espaço social. Uma concentração gravitacional, uma força centrípeta, um nada nada fractário. O nada institucional possibilita que a reitoria seja uma mera contemplação dos desejos que se possa realizar, uma lâmpada de Aladin que, além de limitar os desejos, atende a quem o descobre (ou acede), incorrendo em uma decisão, em termos gerais, entre (1) servir às relações políticas gigantes (reitorificar-se é converter-se, politicamente, em uma igualdade pautada em função de uma carta de poder: são cargos, não pessoas; rejeita-se outras identidades) ou (2) a um projeto autônomo, coletivo, articulado, que conviva com os gigantes, mas crie um potencial realizativo inovador, criativo, com respeitabilidade social fundada na competência e liderança. Difícil encontrar quem alie ou sobreviva ao esforço dessa dupla ocorrência. Por conseqüência, no convívio nadificado, na rotina institucional, uma maioria expressiva de supostas intelligentsias procura “ficar bem” com todos, abonando ou acomodando sua capacidade crítica, inovadora e ética. A falta de compromissos não vai longe e suas conseqüências estão explícitas. Estão desencadeadas por essa energia mundial de falta de sentido, de falta de convivência democrática que se instalou e a desmoralização da tarefa universitária que pode converter-se em soluções do tipo “trator”. Uma pá-de-cal no pouco que resta de consciência e intenções de elaboração consistente de um projeto institucional. O clima institucional, por sua vez, está longe de ser dos melhores. A ética do “no-futuro-vê-se-não-me-atrapalha-pois-te-fiz-um-favor-hoje”, detona qualquer oportunidade de diálogo crítico. O burocrático se confunde com o político e vice-versa, e ambos se confundem com ranços e mágoas pessoais. A barbárie que parece longe, está sentada na mesma mesa na qual todos se alimentam. A nadificação política da universidade no poder reitorífico, constrói fenômenos realizativos parecidos com o princípio das ondas civilizatórias do Toffler (sem qualquer pretensão de comparação teórica, pois seria um esforço em outra dimensão): convivem entre si em um mesmo tempo e necessariamente não são concorrentes, mas, neste caso, apenas formulam um comportamento institucional nadificado e hegemônico. Ao longo desses vinte anos na UNIR, sua nadificação reitorífica poderia, a meu ver, ser agrupada inicialmente em quatro categorias mais abrangentes com dimensões reais e traçados próprios: o sienismo, o ottismo, o 10
  • 11. januísmo e o adunismo. Esses fenômenos eventualmente podem ser fortalecidos ou desestabilizados com movimentos como o DCEísmo ou o Caldaslocisismo. Podem gerar partículas de ar no gás que preenche o vazio nadificado, mas, normalmente, são prontamente dissipados, como mais recentemente vem sendo tentado (não tenho noção – como não creio - se conseguido) no caso do “Caldaslocisismo”, ou reconvertidas a um dos fenômenos do poder reitorífico, como no DCEismo. É bom tratar primeiro das quatro dimensões do nada reitorífico que presencia a UNIR, para posteriormente abordarmos as duas intervenções a estes, mencionadas aqui. 1. O sienismo, como diriam os ottistas é o exercíco do poder formulado e exercido como uma fruta que amadureceu fora do tempo e às custas de muitas renúncias em favor do brilho do ouro-de-tolo. Suas raízes e convívio remontam o antonismo (gerado nas Uberlândias, lembram?). Portanto decorre das condições mais pífias da UNIR e, portanto, mais difíceis. Aí o nada não era previsível e parecia muito distante. O sienismo traz um nada que aprende só. É de traçar poucas metas, negocia quase nada, espatifa a celeuma da falta de calma, mas ignora as víboras que se apresentam, que o rodeia permanentemente, circundando-lhe, ávidas pelo poder que o instituiu. O sienismo tem a capacidade de gerar, em nome da paz (ou pax?) o poder centrado, mas autorizado. O nada é a justiça das circunstâncias. 2. O ottismo é o exercíco da reitoria pelo frison, de fala áspera, que engole e faz engasgar a saliva. Da rotina da pele e o fascínio da autoridade. É a capacidade do calor das emoções (inclusive físicas), em todo seu potencial. Um abuso por estar na Universidade que governa, e uma vontade explícita de nunca ter estado ali ou, pelo menos, animar esta oportunidade. O nada é a celeuma. 3. O januísmo é o conhecimento (e uso) da natureza humana. O perdão do fetiche. Mais um aprimoramento do ottismo, sua humanização com o mesmo refinamento político (mas que não significa neo-ottismo). É o conhecimento de como quebrar as regras, sem gerar oposição. A capacidade de distribuir bondade aos poucos e desvincular-se de qualquer maldade. Difícil de saber o que pensa – se é que pensa em termos políticos ideológicos requeridos na condição reitorífica – somando a delicadeza mítica e a autoridade de um “senhorio”, de um “amo”, de um “coronel”. O januísmo pode facilmente mitificar-se. Ao mesmo tempo gera quem abuse de sua largura e fidelidade, e oculte contra o januísta sua capacidade de trair para beneficiar-se do próprio januísmo. Isto seria desnecessário, pois, em uma disputa, o januísmo constitui-se como adversário respeitável, de armas claras, na mesa: os detalhes são esquecidos (mesmo que seja o “ar” do pedinte), não se discrimina os critérios de justiça: o fim justifica os meios. Portanto quem é que corrompe: quem oferece ou quem pede? O januísmo cala porque atende. Rompedor, trator, o que seja! Mas reúne, aglutina, envolve, distribui pequenos agrados: resolve. As conseqüências disto: o curso de medicina, a editora da UNIR, a RIOMAR funcionando, 17 doutores numa fornada só, cursos interinstitucionais a rodo, cursos stricto sensu DA UNIR existindo, a UNIR em todo o interior do Estado... São fatos. O januísmo gera fatos, embora encubra processos, às vezes as custas de inibir a capacidade de análise sobre eles (analisar demanda tempo). O não nunca existe, e o talvez pode ser um não que isenta um januísta... e a verdade? É mais relativa do que “E=mc2” . O nada é realizar. Acontecer. O nada é a 11
  • 12. negociação, a sensação de ritmo. A universidade crescendo; desastradamente, mas crescendo, ainda que sem qualquer capacidade de posicionar-se adequadamente em termos políticos sobre seu próprio nada. E tudo o que é coletivo se desvanece no ar. 4. O adunismo é um fenômeno de poder reitorificável genérico; é digressivo. Como um potencial de “resistência”, não sabe bem o quanto deseja o poder, mas ao mesmo tempo não saberia bem o que fazer com ele se o obtivesse, pois o lance é nunca aceder a ele. Se isto ocorrer, se nadifica em uma das posições acima. Talvez trampolim, mais do que ponte. Por isso mesmo possivelmente oculte alguns nadificantes que de algum modo se sentem mais autorizados para realmente desejar isto: o nada que a reitoria é como uma condição de melhoria interna da capacidade produtiva institucional. Desarmado frente as pressões evidentes das grandes políticas – tal qual qualquer fenômeno reitorífico nesses vinte anos – promove uma vigilância da estagnação interna. Agora, no caso da UNIR, como citei antes, é possível falar ainda dos movimentos paralelos à nadificação reitorífica, que acabam por ajusta-los. Algo que posso primariamente identificar como DCEísmo e o Caldaslocisismo. Não são exercícios reitoríficos, mas possuem grande capacidade de revelar-lhes o foco. O primeiro, reduzido em 85% do seu potencial político lógico, diz respeito a ilusão da discência conscienciosa e ao fervor ideológico. Espatifou-se na falta de leitura e de tempo e é apenas muleta reitorífica, pois, nos vinte anos, amarga as derrotas de ter apostado alto na idéia de que poderia dizer “xô” a nadificação da política universitária, e na roleta da crença ao ottismo auto-Detonado, perseguindo um pensamento de que a “UNIR viraria Universidade com você”. O DCEísmo poderia ser um fenômeno de integridade ética, mas sobra-lhe - como antes – ingenuidade, e como agora, medo e incertezas. Um nada sem conversão atual, cujas pressões faltam ainda em conteúdo e profundidade. Já o Caldaslocisismo - se ganha corpo - traz enquanto idéia a justeza do fôlego, da inteligência e da revisão conceitual da Universidade de forma competente (em condições “técnicas” mais favoráveis do que o Izuísmo, o Totismo ou o Sinedismo, por exemplo, pretenderam alcançar). Nesses vinte anos, o Caldaslocisismo foi quem conseguiu produzir e repercutir o pensamento mais autêntico sobre o que é a Universidade e sobre o que a corrompe. Ainda que com a violência das palavras e o monólogo que acaba produzindo, remói e reconvoca a atitude institucional e a coragem do pensamento. Não macula, embora agrida com certo sadismo; constrói uma fogueira chamuscante (que rapidamente converte-se em incêndio), e, quando não queima a todos, cega mais do que ilumina, fazendo com que, propositadamente, os que constroem este fenômeno se assurdinem, implicando em um Caldaslocisismo do espelho ou do mimetismo (que é falso e estranho em relação a origem, pois Caldaslocizar implica em mostrar-se). Como a figura da medusa Caldaslocizar-se passou a significar petrificar-se com o próprio veneno. Nesse fenômeno, pedras envenenadas (em lugar de pessoas) devem parecer gente, caso contrário assustam. Daí o Caldaslocisismo fragilizou-se pela sua forma nada confiável de se exprimir e de compartilhar-se, pois parece necessitar ser uma doença em lugar do fenômeno com a boniteza e conteúdo que traz e a deferência que merece. A proposta Caldaslocizante não pretenderia o poder reitorífico, mas o solicita e também o nadifica. Se exercido, possivelmente seria idêntico ao ottismo. O método porém, causou, felizmente, um fervor menos esterilizante que um ottismo. Levado a termo e em seu lugar (na paralela) deveria gerar uma revolução no 12
  • 13. pensamento interno, em lugar de um abandono personalista. Na verdade, nunca se saberá o quê ou a quem um Caldaslocisismo representa, pois aí o nada está por toda parte, em um não-lugar longe de si mesmo e um apreço indiscutível a libertinagem das palavras, numa reconfiguração teórica densa e permanente. De fato, um nada intenso, corporificado e válido. Traz algo de inteligência para o que uma reitoria poderia ser, embora nunca será, pois a Caldaslosidade constrói evidências da nadificação do poder institucional que só existe se não for permitido que ocorra. Pois bem, os eventos descritos neste texto adjetivaram-se a partir de pessoas concretas, com a pretensão de indicar um modo de ver como se conseguiu nadificar linguagens políticas, através do poder reitorífico, de gestão nada-ideológicas, com um vazio cheio de nenhum-lugar. A idéia foi expressar as condições de como vejo em que a política interna vem se convertendo, como vem se fazendo; “iconografá-las”, para que se possa visualizar um entendimento - especulativo por certo - de algumas partes deste todo que compõem o nada dessa Universidade. Assim, já que adjetivei os fenômenos reitoríficos segundo uma percepção e critérios bastante pessoal, tentando comportar os vinte anos com denominações que me parecem óbvias, porque não vejo um enismo na UNIR? Porque essa reitoria, enquanto fenômeno de poder interno e sua forma de existir, não existiu (independente da sinceridade, presteza, boa vontade e capacidade científica de sua liderança, cujo respeito testemunho). A fidelidade que surgiria em um enismo, escorreu pelo januísmo. O enismo só ocorreria se por si, mas é uma circunstância. Não é uma reitoria, um poder; é um evento. Se fosse possível realizar-se seria, no máximo, um sienismo. Se parecer tentar prosseguir, o que ocorrerá é uma avaliação do januísmo. Portanto, uma arapuca política e o continuísmo visando a uma nadificação corretiva. Conseqüentemente, o que talvez precise prosseguir é um fenômeno existente ante a uma aparente incapacidade de se gerar outro. A UNIR (este ente) está abandonada em si mesma. Um exemplo é dizer que a Universidade poderia ser debatida a partir de seu nome, de sua cara, de seus processos acadêmicos, em lugar de ver-se motivada favoravelmente exclusivamente a partir de momentos tópicos de uma “consulta interna”, por exemplo, ou associada a uma “gestão”, que já se revelaram pouco coerentes, após consagradas. Esta visão é um tipo mais amplo de nadificação: aquela dos Conselhos Superiores. Gera-se um panorama limitado da motivação institucional (a pessoas ou grupos reitoríficos) e daí sucumbe-se qualquer capacidade de reação que possa gerar uma melhoria nos fenômenos que se apresentam. Infelizmente a nadificação tende a aperfeiçoar-se enquanto estratégia, mas não em responder a dinâmicas mais exigentes em relação ao que a universidade é. Em termos gerais então, posso sintetizar que as formas de poder reitorífico sempre estiveram aí, enquanto os ajustes nem tanto. Ambos são mecanismos construídos no calor das circunstâncias e das oportunidades; construções sobre um modo de ver a Universidade e exercê-la. Das quatro categorias, o januísmo pareceria o mais surpreendente, mas também sempre esteve aí, nesses vinte anos de UNIR, quem sabe em porções menores (que não conseguem uma mesma força, ritmo e precisão) como um francinetismo, um militãonismo, ou mesmo como uma “banda larga” pouco conhecida e não revelada do DCEísmo talvez. É sua manifestação como civilização do poder que é recente. 13
  • 14. Enfim, em vinte anos, a UNIR está fazendo suas escolhas e produzindo os fenômenos que quer. A questão aqui não é discutir dentre os processos qual aquele que nos destina a um mal menor, mas pelo menos aquele onde as regras do jogo estão mais difundidas, afinal a UNIR, em vinte anos é mais um jogo interno do que uma luta de consciências... e nenhum Caldaslocisismo seria capaz de (de)construir e não parece ter esta pretensão, muito menos um DCEísmo atualmente deslocado (ainda que esforçado). Em tempos de eleições, um texto como este pretende ser reflexivo. Em vinte anos as opções institucionais que prevaleceram foram de esfacelamento na qualidade e nos processos de participação política interna e, como boa parte das Universidades brasileiras, que julgam não ter que responder socialmente pelos seus atos, está deixando de ser um bem público ou de pretender ser melhor do que é, em termos de qualidade. O que parece acenar como mais adequado e oportuno para a UNIR é que o januísmo se assuma, caso contrário que surpreendam propostas distintivas aos fenômenos reitoríficos aqui categorizados. Desde já pressinto que seriam heróicas se aparecessem e provavelmente não vencerão. (Se bem que perder também é uma boa desculpa para persistir: lembremos – nos gigantes - os antagônicos malufismo e lulismo). Por sua vez o enismo dificilmente ocorrerá, pois não foi pensado para ocorrer e reitoria não é para quatro anos. Façam suas apostas... afinal, pra que serve a universidade mesmo? 14
  • 15. UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA (UFRO) CENTRO DE HERMENÊUTICA DO PRESENTE PRIMEIRA VERSÃO PRIMEIRA VERSÃO EDITORA UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA ANO III, Nº163 - SETEMBRO - PORTO VELHO, 2004 ISSN 1517-5421 lathé biosa 163 VOLUME XI ISSN 1517-5421 EDITOR NILSON SANTOS CONSELHO EDITORIAL ALBERTO LINS CALDAS – História - UFRO CLODOMIR S. DE MORAIS – Sociologia - IATTERMUND ARTUR MORETTI – Física - UFRO CELSO FERRAREZI – Letras - UFRO HEINZ DIETER HEIDEMANN – Geografia - USP JOSÉ C. SEBE BOM MEIHY – História – USP MARIO COZZUOL – Biologia - UFRO MIGUEL NENEVÉ – Letras - UFRO ROMUALDO DIAS – Educação - UNICAMP VALDEMIR MIOTELLO – Filosofia - UFSC FLÁVIO DUTKA Os textos no mínimo 3 laudas, tamanho de folha A4, fonte Times New Roman 11, espaço 1.5, formatados em “Word for Windows” deverão ser encaminhados para e-mail: A ABORDAGEM COMUNICATIVA NO ENSINO nilson@unir.br DA LÍNGUA MATERNA E A LEITURA NA LÍNGUA ESTRANGEIRA CAIXA POSTAL 775 CEP: 78.900-970 PORTO VELHO-RO Klondy Lucia de Oliveira Agra TIRAGEM 200 EXEMPLARES 15
  • 16. Klondy Lúcia de Oliveira Agra A Abordagem Comunicativa no Ensino da Língua Materna e a Leitura na Língua Estrangeira Aluna do mestrado em Linguistica - UFRO klondy@enter-net.com.br Muitos métodos e técnicas têm sido propostos com o objetivo último de levar o aluno a comunicar-se numa língua estrangeira. Entretanto, estas técnicas, infelizmente, não são aproveitadas no ensino da língua materna. O que se pretende neste artigo é chamar a atenção de professores e estudiosos da língua sobre a importância da Abordagem Comunicativa no ensino da Língua Materna. Detalhando como dar oportunidades ao aluno para aquisição da Competência Comunicativa em sua própria língua e de como as possibilidades deste aluno aumentarão tanto na construção de uma nova competência comunicativa em uma língua estrangeira, quanto suas possibilidades para um aumento de domínio social conferindo-lhe maior autonomia em todos os campos. As aulas tradicionais da língua materna trazem grande número de exercícios escritos e alguns exercícios orais dirigidos. Este tipo de conversação convencional cujas discussões são geralmente dominadas pelos melhores alunos, enquanto o restante da turma permanece em estado de timidez, frustração e enfado, não desenvolve a competência comunicativa em sala de aula. Demonstra-se na prática que ao contrário das limitadas opções dadas ao aluno pela conversação convencional, as atividades comunicativas contribuem para que o aluno se torne, em grande parte, agente de sua própria aprendizagem: muito da responsabilidade da aprendizagem deixa de ser do professor e passa a ser do aluno. PRÁTICA ORAL COMUNICATIVA Os objetivos do ensino da língua podem ser vários, mas colocando como objetivo principal o desenvolvimento da expressão oral, obter-se-á um progresso contínuo do educando tanto na produção oral como na escrita. A abordagem comunicativa, objetivando o ensino da competência comunicativa, trabalha com uma perspectiva mais ampla da língua. Não se pára no ensino das formas lingüísticas; examina-se também como o aluno pode usar essas formas quando ele precisa ou quer se comunicar. A língua, desse modo, é usada com o devido propósito comunicativo; como um meio para um fim: um instrumento de interação social. O ensino comunicativo deverá apresentar ao aluno oportunidades para falar próximas do real, sem ter a precisão lingüística como preocupação básica. Por esse motivo, atividades comunicativas objetivam mais a comunicação do que itens a serem aprendidos. Nelas a fluência ocupa um lugar central. Por fluência, entende-se “habilidade de se expressar sem hesitação excessiva numa dada situação, na fala ou na escrita” (cf. Davies, 1980:100). A ênfase na fluência, entretanto, não deve ser vista como uma desvalorização da precisão lingüística, que deve aqui ser entendida como “um comando das estruturas gramaticais e sintáticas da língua” ( Davies, 1980:90 ). A volumosa quantidade existente de materiais e técnicas objetivando a aquisição de estruturas
  • 17. lingüísticas claramente reflete a relevância que o domínio do sistema lingüístico tem recebido na aprendizagem de uma língua. Não obstante, acredita-se que o conhecimento de estruturas é somente um passo em direção ao objeto maior de ajudar o aluno a usar o sistema lingüístico criativa e flexivelmente, de tal maneira que possa se comunicar efetivamente. A ênfase na fluência é fundamental como um meio de se estimular a confiança do aluno em sua habilidade de se comunicar. E esse desenvolvimento de autoconfiança pode se tornar crucial para seu futuro desempenho lingüístico, pois uma vez liberto da ansiedade causada pela insegurança comunicativa, pode mais facilmente, desenvolver a precisão lingüística2. Precisão e fluência, conseqüentemente, são dois aspectos do processo da aprendizagem de uma língua. Maley (1980 ) usa a distinção estabelecida por Stephan Krashen ( 1981 ) para, habilmente, associar o treino da fluência com aquisição e da precisão com aprendizagem. De acordo com Krashen, o processo por que um indivíduo passa para obter controle da língua nativa é a aquisição. Ela resulta do intercâmbio da criança com seu meio ambiente. Por outro lado, a aprendizagem é o que se abstrai conscientemente da experiência; é um processo que resulta do estudo consciente. Segundo Krashen, a aquisição é um processo que permanece acessível a adolescentes e adultos, pelo menos até certo ponto, no desempenho da segunda língua. A aquisição vem a ser, sob esse aspecto, um processo subconsciente de ‘construção criativa’, pelo qual o aluno internaliza as regras da segunda língua. Entretanto, quando a atenção do aluno é focalizada nas formas lingüísticas e ele tem bastante tempo para pensar, é mais provável que seu desempenho lingüístico seja influenciado mais pela aprendizagem ( o processo consciente ). O fato da comunicação oral exigir que a formulação de frases e o processo de seleção que a precede sejam feitos muito rapidamente, isto é, no ‘tempo real’, pressupõe que o processo da aquisição é o que vai operar mais. Já que o aluno não tem tempo para estudar em profundidade o que ele vai dizer antes de converter seus vários significados psicológicos e conceituais para a forma oral, todo o processo será provavelmente espontâneo, com os alunos usando mais conhecimento adquirido do que conhecimento aprendido. Não obstante Krashen afirmar que “nossa fluência numa segunda língua é resultante do que adquirimos, não do que aprendemos” (Krashen, 1981 a : 99), a distinção entre aquisição versus aprendizagem e fluência versus precisão vem se tornando distinta nos artigos e livros de pesquisadores experientes como Brumfit (1984), que apresenta um modelo alternativo do processo de ensino de língua no qual sugere: (1) Mais tempo de ensino para a prática da precisão no início do curso do que na sua continuidade, quando a prática da fluência deve dominar quantitativamente; (2) o conhecimento consciente passará a conhecimento inconsciente através de atividades para desenvolver a fluência. 2 Note-se que estes estudos foram feitos com o intuito de esclarecer os processos de aprendizagem de uma língua estrangeira, mas como diz Daniel Coste em seu artigo Leitura e Competência Comunicativa (GALVES, C. e ORLANDI, E. Campinas, SP: Pontes, 1997.) :”Competência comunicativa põe em jogo funções de ordem cognitiva, volitiva, afetiva e toda uma experiência social. Então como não aplicar estes estudos para o ensino e aprendizagem da língua materna?! 17
  • 18. Faerch, Haastrup e Phillipson em seu livro Learner Language and Language Learning (1984) tendem a concordar que a aquisição se torna aprendizagem e que a aprendizagem se torna aquisição. Segundo eles, o conhecimento aprendido pode ser mais tarde adquirido através do caminho normal para a aquisição, e o conhecimento adquirido pode ser mais tarde aprendido através da explicação, prática e exercícios. Parece, então, que a aquisição e a aprendizagem, a fluência e a precisão não são opostas entre si, mas se completam, uma reforçando a outra. A prática pedagógica, entretanto, continua enfatizando a forma, em detrimento do conteúdo; a precisão, em detrimento da comunicação. Há necessidade de se concentrar a atenção do aluno em outros aspectos além dos da língua propriamente dita. Há necessidade de atividades nas quais o mundo real entre em cena. Precisamos de materiais que estimulem e levem o aluno a falar tão naturalmente o quanto possível, de modo que sua conversação na sala de aula espelhe a comunicação da vida real. O INTERESSE DO ALUNO NAS ATIVIDADES COMUNICATIVAS Os objetivos dos alunos, suas expectativas e valores têm que ser cuidadosamente considerados nas atividades comunicativas. Os tópicos relevantes e interessantes ao aluno é que ligam o mundo real deste aluno ao mundo da sua sala de aula. E, são estes tópicos que despertarão e manterão seu envolvimento no processo de comunicação real na aula, criando assim um propósito para se comunicar e a vontade de verbalizar significados através de um sistema dinâmico e flexível que lhe fornece os meios para criar mensagens para ele próprio e para outros. Assim sendo, para criar um ambiente propício ao aluno, o material apresentado deve apresentar oportunidades para este aluno criar e adaptar. Sem que determine em detalhes o conteúdo lingüístico ou conceitual que será produzido. Na abordagem comunicativa, o material deixa de ser um fim em si mesmo e torna-se um recurso para o progresso de ensino-aprendizagem. Nesse sentido, ele age como um elo entre o aluno e seus colegas, o aluno e o professor, o aluno e seu objetivo. As atividades propostas na abordagem comunicativa deixam a cargo dos alunos muitas decisões que devem ser tomadas no decorrer das realizações das tarefas. Divididos em grupos ou pares, eles percebem que não podem agir como meros receptores de informação, pois as atividades não são baseadas na apresentação do professor e eles têm que trabalhar muitas vezes sozinhos, como ‘agentes de sua própria aprendizagem’. Para que haja sucesso no ensino da língua através da abordagem comunicativa, torna-se imprescindível que desperte o interesse real do aluno através de assuntos e materiais que forneçam a eles subsídios necessários a necessidade de comunicação. A COMPETÊNCIA LINGÜÍSTICA E A LEITURA EM LÌNGUA ESTRANGEIRA 18
  • 19. A leitura não é uma operação de ritmo estável, nem mesmo na língua materna. Mesmo para um leitor experiente, é preciso conceber a leitura como modulada, sempre suscetível de mudar de relação e de marcha. Para uma leitura significativa, seja na língua materna, seja na língua estrangeira, é necessário que o leitor se concentre nos elementos importantes que transmitem a mensagem, isto é, nos grupos de palavras ou frases, não em palavras isoladas. Justamente por isto, importa o desenvolvimento da competência lingüística no aluno, primeiramente na língua materna, para que ele possa, ao ler o texto, compreendê-lo. E ao se deparar com um texto em língua estrangeira, certamente este aluno, possuidor da competência lingüística, terá menos dificuldades em usar seu sentido em busca de significado, do que uma pessoa falante da língua, mas sem competência lingüística. O professor deve ajudar o aluno a formar um vocabulário básico de leitura e encorajá-lo a desenvolver, através da abordagem comunicativa, a competência lingüística. Tanto na língua materna como na língua estrangeira, torna-se maçante para o aluno, ter de consultar dicionário em busca de significados a cada palavra desconhecida. É importante que o professor leve o aluno a esgotar todos os outros meios de descobrir o significado das palavras desconhecidas em um texto, antes de consultar um dicionário. Se o aluno verificar no dicionário o significado de cada palavra desconhecida ao ler um texto, perde a visão do todo e no final terá uma grande quantidade de informações desconexas, sendo impossível sua absorção. O aluno deve ser capaz de deduzir o significado através do contexto em que a palavra se encontra ou através da estrutura da palavra, antes de lançar mão do dicionário. Ás vezes o aluno não possui estas habilidades na sua língua nativa, então é necessário desenvolvê-las, pois isto é competência comunicativa. Com estas habilidades desenvolvidas o aluno terá também facilitado seus problemas com a leitura em língua estrangeira. Anderson e Freebody (1979) afirmam que a leitura é importante para ajudar o leitor a adquirir vocabulário e que um bom vocabulário, por sua vez, assegura uma melhor leitura. Isto se aplica também a língua estrangeira. Segundo Smith (1991), aprendemos a maior parte dos significados das palavras que conhecemos através do contexto em que estão inseridas. Por isto, quanto mais praticarmos a leitura, tanto mais eficientes leitores nos tornamos. Então, como vimos, competência comunicativa permite, inclusive numa língua estrangeira, um aumento de domínio social e maior autonomia ao sujeito. Visto que, a leitura e a compreensão vão depender do nível da competência comunicativa do leitor. Há vários caminhos para despertar interesse no aluno para a aquisição e aprendizagem da língua. Muito do ensino e aprendizagem oral ainda se encontra relativamente sub-pesquisado. E as propostas inovadoras que vem aparecendo vão encontrar barreiras no sistema educacional vigente. Mas sem dúvida, a medida que o aluno desperta seu interesse por determinados assuntos e tem vontade de discutir ou emitir sobre seus pensamentos, este desejo de participação o ajudará não somente na aprendizagem da Língua, mas no entendimento de outras disciplinas e na compreensão mais clara do seu próprio mundo. Ao fazer uso da Abordagem Comunicativa no ensino da Língua Materna, devemos visar o despertar do interesse real do aluno e sua vontade de opinar, defendendo a aprendizagem 19
  • 20. centrada no aluno não só em termos de conteúdo, mas também de técnicas usadas em sala de aula, deixando o professor de exercer o seu papel de autoridade, de distribuidor de conhecimentos, para assumir o papel de orientador, encorajando o aluno a participar e acatando sugestões, só assim o aluno estará livre para pôr em prática o uso da aquisição da língua e construir sua própria aprendizagem, dominando sua fala e aprendendo a ler e escrever com fluência. BIBLIOGRAFIA BREEN, M.P. and C.N. The essentiais of a communicative curriculum in language Teaching Applied Linguistics. Candlin, 1980. BRUMFIT, C. J. Communicative Methodology in language Teaching. CUP, 1984. CODER, P. Talking shop: language teaching and applied linguistics. Elt Journal, 1986. DAVIES, N. F. Language acquisition, language learning and the school curriculum. System,1980. FAERCH, C. et al. Learner Language and Language Learning. Multilingual Matters, 1984. KRASHEN, S. D. Second Language Acquisition and Second Language Learning. Pergamon Press, 1981. ________(1981 a). Effective second language acquisition: Insights from research. In Alatis J. E. et al (eds.) The Second Language Classroom: Directions for the 1980’s. OUP, 1981. MALLEY, A . Teaching for communicative competence: Realty and illusion. Studies in Second Language Acquisition, 1980. MATHEWS and REED, A. , C. Tandem. Evans, 1981. VON DAHL, G. Travelling: a class project. Modern English Teacher, 1981. 20
  • 21. UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA (UFRO) CENTRO DE HERMENÊUTICA DO PRESENTE PRIMEIRA VERSÃO PRIMEIRA VERSÃO ISSN 1517-5421 lathé biosa 164 ANO III, Nº164 - SETEMBRO - PORTO VELHO, 2004 VOLUME XI ISSN 1517-5421 EDITOR NILSON SANTOS CONSELHO EDITORIAL ALBERTO LINS CALDAS – História - UFRO CLODOMIR S. DE MORAIS – Sociologia - IATTERMUND ARTUR MORETTI – Física - UFRO CELSO FERRAREZI – Letras - UFRO HEINZ DIETER HEIDEMANN – Geografia - USP JOSÉ C. SEBE BOM MEIHY – História – USP MARIO COZZUOL – Biologia - UFRO MIGUEL NENEVÉ – Letras - UFRO FLÁVIO DUTKA ROMUALDO DIAS – Educação - UNICAMP VALDEMIR MIOTELLO – Filosofia - UFSC Os textos no mínimo 3 laudas, tamanho de folha A4, fonte Times New Roman 11, espaço 1.5, formatados em “Word for Windows” deverão ser encaminhados para e-mail: O IMPASSE DA MODERNIDADE A PARTIR DE nilson@unir.br UMA LITERATURA DE INSIGNIFICÂNCIAS CAIXA POSTAL 775 CEP: 78.900-970 PORTO VELHO-RO João Carlos de Carvalho TIRAGEM 200 EXEMPLARES EDITORA UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA 21
  • 22. João Carlos de Carvalho O IMPASSE DA MODERNIDADE A PARTIR DE UMA LITERATURA DE INSIGNIFICÂNCIAS Professor de Teoria da Literatura, Literatura Amazônica, e Latino-americana - UFAC jccfogo@bol.com.br O século XX fez uma clara opção pelo homem medíocre, quem sabe dando continuidade a um processo vicioso, desde a Revolução Francesa, que se voltaria inevitavelmente pela construção de uma vertente, e cada vez mais forte, de destruição de valores. Isso, sem dúvida, não desfaz ou diminui o sentido de certas conquistas, pois viveríamos uma poderosa dicotomia de contaminação e renovação, porém, por outro lado, subentendia-se um universo ainda mais esmagado pela própria força de juntar contradições. O homem ocidental, nesse sentido, não conseguiria suportar essas décadas todas pela frente se diante do espelho ele não revelasse a si próprio o seu poder de superação e escolha. Desta feita, o que ele vem encontrando, em sua condição de infinda busca, seria o irremediável aprofundamento das marcas do processo vivido. A mediocridade, no entanto, nos últimos cem anos, parece ser o paliativo de uma sociedade esmagada entre os sonhos e a competição. A modernidade nasce sobre o crivo das grandes navegações, sem se tornar necessariamente moderna. Invade lentamente circuitos nunca antes penetrados, fazendo do homem do baixo medievo uma fronteira entre dois universos dilacerantes. O que foi realizado a partir daí valeu muito mais pela representação de uma impotência secular, de uma solução adiada por meio do aceno a um improvável futuro onde o homem ensaiava o seu drama na própria turbulência de seu cada vez mais mal resolvido drama de humanidade, já que as contradições, no jogo das lógicas, impunham faces muito mais perversas do que as previamente imagináveis. Entre as câmaras de tortura inquisitoriais e os malabarismos eróticos do Marquês de Sade, ficaríamos com a grave sensação de que uma loucura tomaria conta de qualquer aparato racional. Nesse sentido, modernidade e humanismo se tornam, ao longo dos séculos, sinônimos inconciliáveis, já que encontram os óbices de seus sentidos na própria desarticulação de tantos movimentos. O que, no entanto, conhecemos hoje como modernidade diz mais respeito ao impasse de sê-la em torno de diferentes conquistas, sejam técnicas, industriais ou espirituais. O homem moderno – ele o é, dentro das muitas conjunturas que a História mostrou – o ser exilado pela ampliação do seu potencial de condenado pelo reconhecimento (e ao mesmo tempo desconhecimento) de si mesmo. Esse processo de desconfiguração na história humana representa, na maioria das vezes, um grande ponto de interrogação, como se o que se soubesse fazer dependesse de um inevitável adiamento de ser. Do Renascimento até o século XX, passando pelo Barroco e o Romantismo, penduramos as nossas chuteiras em diversos momentos de consagração e esvaziamento. Toda a consubstanciação estética de redefinição estilística dependia desse jogo de crenças e descrenças no próprio fazer humano. A radicalidade humanística, inaugurada como fruto de impasse e afirmação, sempre dependeu drasticamente das articulações entre racionalismo e irracionalismo, ponderando ora o imponderável, “imponderando” ora o ponderável. As três fases da modernidade, destacadas por Marshall Berman em seu conhecido livro (16-7), implicam um processo de avanço e de progresso inevitável, mas não sem um alto preço a pagar. Sendo esse, ao meu ver, o aspecto mais perverso da relação do homem com uma realidade sempre em construção, é a partir principalmente do século XVIII que encontramos uma condição inevitavelmente agônica e que, nas artes, acaba por ser dilacerada pelo adiamento proporcionado pelas inúmeras experimentações vanguardistas dos séculos XIX e
  • 23. XX. Ora, seria muito fácil se conseguíssemos compreender a lógica desse processo como um vale tudo de todas as irresponsabilidades permissíveis entre o querer e o fazer, já que o artista, nesse caso, ficaria com a obrigação de resolver, até certo ponto, as causas que explicam a infelicidade no mundo por meio das projeções de uma fantasia transcendental, o que dramatizaria a desumanização no embate entre o referente e o representado, aspecto que fomentou, e de certa forma ainda predomina em tempos pós-modernos, uma linguagem que se constrói na condição de ser destruindo-se. Quando, hoje, enfim, voltamos o olhar já melancólico para trás, induzidos por não sei quantos projetos utópicos, de revoluções e acenos de revoluções, num universo cada vez mais globalizado, e também capitaneado, pela força do urgente, indagaríamos sobre as respostas e saídas provocadas pelo desencadeamento de um humanismo que só conseguiu sobreviver a partir da sua própria fragilidade de sustentação. O que nos resta, nos escombros de coisas e homens legados pela chamada arte moderna do século XX, corresponde a um desafio incalculável de investigação que nos leva a alimentar o suficiente de um jogo onde ninguém mais sabe qual a regra. A modernidade, no final das contas, pode ter se apresentado como um grande logro no tabuleiro esquizóide das questões da dramaticidade humana e que jamais poderão ser vencidas, a não ser como mais um ensaio de compensação nesse eterno conjunto de perdas e ganho programáveis de um cotidiano avalizados pela lógica dos progressos tecnológicos. Se, como eu já desconfio, chegamos a um novo século marcado pelos esgotamentos, vivenciados até a flor da pele por aqueles que se recusam a compartilhar da miserabilidade desse inevitável dia-a-dia, supõe-se que, no fundo, nunca houve um desafio a ser vencido no horizonte de qualquer modernidade, mas, sobretudo, uma incrível representação farsesca, no sentido mais medieval do termo, do que o homem jamais deixará de ser, essa inesgotável fonte de aprendizado que, no fim das contas, dentro desse processo de fragmentação, não servirá de grande coisa enquanto um projeto de homem para o futuro. Rousseau, e alguns românticos que o seguiriam, ficariam extremamente decepcionados se vissem o que certas arquiteturas pedagógicas se transformaram diante da insolvência de tantas posturas revolucionárias. Quando Harold Bloom coloca Samuel Beckett como o grande profeta do silêncio antes do ricorso viconiano (480), no meio da lama espalhada por personagens cada vez mais esvaziados por seus conflitos sem sentido, temos, de certa maneira, um diagnóstico malandro de uma época que tudo esgota e tudo promete. O século XX é o momento particularmente poderoso de desafio do escritor e seus fantasmas da modernidade. O homem medíocre, o grande herói desse momento, supõe uma polarização com o tudo que para existir terá de ser nada. O nada como provocação das consciências adormecidas significa a possibilidade da imprudência do mesmo processo de esvaziamento, o que torna improvável a superação pelo lado negativo de qualquer alternativa proposta. Entre Dom Quixote, Kirilov e Estragon, por exemplo, subentende-se um abismo que aproxima e oprime os homens no que eles possam ter de mais natural. E, nesses casos, qualquer gesto de loucura passa a soar como o mais previsível dentro de um circuito de apostas onde, no fundo, ninguém tem de valer tanto assim. O profeta moderno do século XX, no fundo, anuncia principalmente o gesto apocalíptico antes do apocalipse. Se isso não resolve muita coisa, enfim, faz com que todos acabem vítimas de si mesmos e o nada se torna o grande prêmio a ser alcançado. 23
  • 24. O grande pecado do Ocidente parece ter sido apostar na realidade de suas utopias. Nenhum filósofo, ou historiador, nos últimos dois séculos, parece ter sabido aproveitar a provocação de suas próprias escolhas. Tudo se mostrou sempre muito certinho e previsível dentro da mobilidade que a História sugeria. Ninguém, já desde Hegel principalmente, conseguiu escapar da intensa necessidade de superação. Camus nos dá um depoimento vigoroso, em O homem revoltado, do que seria essa catástrofe do pensamento ocidental em torno do não realizável: o niilismo como última fronteira entre todas as possibilidades. De certo, não ganhamos mais do que perdemos, mas o que perdemos começou a ter um preço muito alto na nova configuração das consciências. Todos partilhavam e, ao mesmo tempo, ficaram alijados de um processo sempre muito maior de conquista. O drama kafkiano, no fundo, corresponde ao grito anônimo de todos e ninguém, pois a humanidade não queria ser invisível, mas ao mesmo tempo não podia deixar de se atrair pela mediocridade, por personagens que representavam cada vez mais as encruzilhadas entre o tudo e o nada. No despertar desta feroz consciência, o homem é um incontrolado que deseja o controle e foge dele para se aliviar de uma tensão que corresponde aos séculos de herança adiada, pois, mais na frente, ele se deparará sempre com a possibilidade de um gasto a mais. As sobras são o grande material a ser trabalhado por esse escritor que se atola até o pescoço na força se suas configurações. Compreender a literatura no século XX é mergulhar nas raízes de um desespero insuportável. É lidar com as réstias de um paraíso ansiado e sempre adiado. Um século em que os marxismos e os freudismos não puderam supor além dos seus pragmatismos incoerentes com qualquer tipo de representação realista. Seria, mais ou menos como compartilhar com o triunfo capitalista à espera do fim do capitalismo, sempre, cada vez mais adiado. Todos os gêneros literários no último século se tornaram, cada vez mais, narrativas de um silêncio absoluto. Fala-se porque já não se tem mais o que falar. O nada não se traduz, apenas aguarda-se. Os personagens nascem naturalmente corrompidos por um universo intraduzível e não sabem se comunicar se não se corromperem ainda mais com os valores que eles próprios condenam. Eis aí a maldição dostoievskiana, já pressentida em Bakthin: o processo dialógico só termina por uma opção monológica (209-22). O discurso, para não morrer, necessita de doses de talento cada vez maiores, uma maestria que obriga o escritor a distribuir acentos e tons de acordo com a necessidade de oxigênio de cada personagem. Eles vivem, mas na evidência de sua morte, alimentando-se dos pequenos dramas de um cotidiano que tem de ser um inferno sem se esquecer de que poderia ter havido uma salvação. Desta maneira, a complexidade a que se chega com os romances e peças de Proust, Kafka, Pirandello, Joyce ou Beckett (apenas para citar os mais consagrados) ultrapassa qualquer fronteira de expectativa e desafio. Todos partilham um mesmo sentido de perda irremediável, cada vez mais sustentada pelo domínio da linguagem. O background da modernidade no século XX, diferentemente dos momentos anteriores, entre tantas idiossincrasias estilísticas, é o impasse de representação expresso pelas tortuosidades maneiristas de um universo em que se tudo é aceito nada bastará. Mas se existe ainda uma novidade a ser perquirida nesse ponto, diz respeito ao processo inevitável de esgotamento que a linguagem, ainda hoje no limiar do século XXI, exibe despudoradamente. Todo o arcabouço de sofisticação literária e estética desenvolvida durante o século XX nos legou, como em nenhuma outra época, um sentido doméstico de esvaziamento, como se tudo se continuasse a partir do universo desolador do The waste land. 24
  • 25. Resta, ainda hoje, por assim dizer, um compartilhamento com os círculos viciosos dos modernos meios de comunicação, que ora nos dão sinais de revitalização, ora nos submetem a uma apatia assombrosa. As letras, nesse sentido, proliferam, junto à tv, ao cinema, às rádios e, agora, à Internet, os mecanismos que serão responsáveis por uma necessidade cada vez maior de autodestruição. A linguagem já não corresponde, ela apenas ensaia o seu poder num suporte agônico. Diante disso, toda e qualquer tradição se torna descartável e a que poderá surgir se torna somente simulação, pois a única coisa que interessa é o esvaziamento. Todo o processo desencadeado pela pós-modernidade indica uma necessidade de recomposição constante. O personagem medíocre é o grande herói porque ele também é apenas um ensaio de linguagem. O romance Libra, de Don Delillo, toca bem nessa ferida aberta de um tempo que se alimenta do excesso e das sobras desse excesso. Inventa-se um cotidiano porque ele se tornou o maior construtor de fantasmas no interesse de qualquer virtualidade. Anteriormente, os personagens beckttinianos investiriam obsessivamente na opacidade das relações humanas, pois ali já se tinha uma idéia clara do que se leva ao processo de esvaziamento. Hoje, o sentido é o próprio vazio e as relações humanas um mero detalhe entre tantas coisificações. O resultado, por exemplo, diante da tela do computador, daria ao homem medíocre a afirmação de uma lógica de impotência, tal como um bom aprendiz da fruição gratuita que os seus antepassados do século XX souberam tão bem aperfeiçoar ao longo dele. A grande diferença, me parece, que agora o que se funda é uma nova maneira de articulação de um gesto derradeiro, como se o escritor estive condenado a reinaugurar a incompletude como saída, não mais como um brado de dor. O homem do século XX se contorcia no seu universo de insignificâncias, o de hoje, num mundo cercado de virtuais totalidades, parece fadado a vivê-la na integridade de suas fantasias, o que impossibilita um verdadeiro gesto de criação. A grande literatura que pode se formar daí necessitaria de um fôlego ainda maior do que o herdado do século anterior, já que o imaginário, liberto em suas fragilidades de realização, faz do homem medíocre um ser ainda mais vulnerável às tentações da fruição imediata. Há uma tendência, por exemplo, a se diminuir as páginas dos romances contemporâneos, não só pelas questões comerciais, mas também por uma falta de fôlego evidente dos novos romancistas, presas que estão a um universo de pragmatismo e esvaziamento, de esvaziamento e pragmatismo. Ao contrário de muitas tendências apocalípticas, acho que a literatura de qualquer tempo continua, de uma maneira ou de outra. O que nocauteia o chamado “processo evolutivo” é a forma como o escritor e o seu tempo negligenciam a força de seu próprio tempo. A vitalidade de uma época, e algumas Histórias nos mostraram isso, se encontra debruçada entre as crenças e descrenças legadas das convulsões antigas. O que move a literatura é sobretudo a vontade de enfrentamento, sem isso não há literatura, não há sequer uma época que possa se dizer vivida. O homem medíocre é uma conseqüência de todo um esfacelamento que se tornou altamente produtivo em boa parte do século passado. Hoje, por mais incrível que possa parecer, vivemos o impasse por termos sobrevivido a ele. O impasse pós-moderno pode bem ser a frustração de não ser moderno, de lidar com as sobras de uma linguagem que não pertence a ninguém, já que os herdeiros não querem ter novos filhos que lhes causem muitos problemas. BIBLIOGRAFIA 25
  • 26. BAKHTIN, M. Problemas da poética de Dostoiévski. Rio de Janeiro, Forense-universitária, 1981. BERMAN, M. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo, Companhia das Letras, 1986. BLOOM, H. O cânone ocidental: os livros e a escola do tempo. Rio de Janeiro: Objetiva, 1995. CAMUS, A. O homem revoltado. Lisboa: Livros do Brasil, s.d. 26
  • 27. UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA (UFRO) CENTRO DE HERMENÊUTICA DO PRESENTE PRIMEIRA VERSÃO PRIMEIRA VERSÃO ISSN 1517-5421 lathé biosa 165 ANO III, Nº165 - OUTUBRO - PORTO VELHO, 2004 VOLUME XI ISSN 1517-5421 EDITOR NILSON SANTOS CONSELHO EDITORIAL ALBERTO LINS CALDAS – História - UFRO CLODOMIR S. DE MORAIS – Sociologia - IATTERMUND ARTUR MORETTI – Física - UFRO CELSO FERRAREZI – Letras - UFRO HEINZ DIETER HEIDEMANN – Geografia - USP JOSÉ C. SEBE BOM MEIHY – História – USP MARIO COZZUOL – Biologia - UFRO MIGUEL NENEVÉ – Letras - UFRO FLÁVIO DUTKA ROMUALDO DIAS – Educação - UNICAMP VALDEMIR MIOTELLO – Filosofia - UFSC Os textos no mínimo 3 laudas, tamanho de folha A4, fonte Times New Roman 11, espaço 1.5, formatados em “Word for Windows” deverão ser encaminhados para e-mail: nilson@unir.br CONVITE À SOCIOLOGIA CIENTÍFICA CAIXA POSTAL 775 CEP: 78.900-970 PORTO VELHO-RO Clodomir Santos de Morais TIRAGEM 200 EXEMPLARES EDITORA UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA 27
  • 28. Clodomir Santos De Morais CONVITE À SOCIOLOGIA CIENTÍFICA Membro fundador do IATTERMUND em 1973, há 25 anos, ou seja, um quarto de século, que este seu servidor foi honrado com um convite do presbítero Núñez Jiménez, destacado político e intelectual centro-americano de indelével memória, criador desta Universidade de Heredia, para participar da solenidade de abertura do claustro de seu recém- fundado estabelecimento de ensino superior. Era um momento crepuscular de extraordinária beleza, emoldurado pela não menos bela tumultuada geografia da Cordilheira Central, ostensivamente retocada pelas nuvens que, ao prelúdio do anoitecer, costumam regar feixes e mais feixes de cores nos pináculos dos soberbos vulcões costa-riquenhos. Por outro lado, cá embaixo a paisagem humana de um milhar de pessoas, entre convidados especiais e professores, manifestava claramente um cosmopolitismo peregrino, fruto da grande crise institucional que vivia a América Latina e especial a América Central, cujos golpes de Estados promovidos, ao antojo das transnacionais fizeram confluir para a República Liberal da Costa Rica cidadãos, professores e cientistas de quase todas as nacionalidades de nosso continente. Assim que, senhores e senhores, a Universidade Nacional da Costa Rica já nasceu conformada por uma considerável riqueza de quadros que, juntamente com os quadros autóctones, rapidamente iriam torná-la um respeitável centro universitário de prestígio internacional. Daí que é motivo de orgulho, de envaidecimento para todos os costa-riquenhos heredianos, e nós, os modestos colaboradores, o fato de ver esta universidade realizar tão importante conclave internacional que reúne a inteligentsia universitária dos países de Ibero-américa e do Caribe. É compensador contemplar, hoje em dia, os professores e técnicos que, naquela solenidade de cinco lustros passados, eram jovens e agora, já de cabelos grisalhos, comprovam o desprendimento, a lealdade e a abnegação, o amor à semente bem semeada pelo presbítero Benjamin Núñez Jiménez. Foi o mesmo padre Núñez Jiménez que participou do governo surgido da Revolução Burguesa da Costa Rica, encabeçada por José Figueres Ferrer, este importante prócer das transformações históricas costa-riquenhas que, um pouco mais de cinco lustros antes, em 1918 havia sido protagonista da Revolução Universitária de Córdoba, Argentina, juntamente com os estudantes o peruano Haya de la Torre, o guatemalteco José Arévalo e o venezuelano Rómulo Betancourt. O movimento de rebeldia dos estudantes da Universidade de Córdoba, de profundas conseqüências nas universidades e na própria história da América Latina, não foi, evidentemente, um fato isolado. Não. Porque, se houvesse sido, seria uma exceção incompreensível de uma das leis da dialética que explica a inexorável interdependência dos fenômenos. De fato, ademais das idéias de Gonzalo Prada e de Mariátegui no Peru, os “Ventos do Leste”, ou seja, da Revolução de Dezessete na Rússia, haviam soprado todo o Planeta, fazendo surgir novas perspectivas para as alianças das classes dos despossuídos e para o acesso destes às universidades gratuitas, livre de discriminações.
  • 29. Um dos eméritos professores e mais ativistas da Universidade de Córdoba foi o exilado alemão Goldshimith que, dois anos antes, juntamente com Rosa Luxemburgo, Liebenicht e Witffogel, eram os catedráticos da escola de formação de quadros do Partido “Spartaco” dos comunistas germânicos. Segundo Carlos Tunnerman Berheim “os movimentos de Córdoba foram a primeira confrontação entre uma sociedade que começava a experimentar mudanças em sua composição interna e uma universidade enquistada em esquemas obsoletos” e, ademais, teve “o afã de projetar o trabalho universitário no seio da coletividade, que foi um dos enunciados básicos do Movimento, dando origem – segundo o mesmo autor citando a Gabriel Mazo – a uma “nova função” para a Universidade Latino-americana, “a função social, isto é, o propósito de pôr o saber universitário a serviço da sociedade e fazer de seus problemas (da sociedade) tema fundamental de suas preocupações”. “Dita nova função representa para vários teóricos da Universidade Latino-americana a que mais contribui para tipificá-la e distingui-la, em certo modo, de seus congêneres de outras regiões do mundo”. A “ação social” que encarna a Extensão Universitária nascida em Córdoba presidiu, desde seus primeiros momentos de existência, a Universidade Autônoma da Costa Rica. Com efeito, não faltou, até o presente momento, a esta universidade sensibilidade para encarar, para enfrentar, os problemas sociais que mais afetam aos costa-riquenhos “extra-campus”: os operários atirados ao desemprego, os camponeses carentes de terra, a pequena burguesia cada dia mais sacrificada, o meio ambiente permanentemente ameaçado; os direitos individuais dos cidadãos freqüentemente restringidos pela violência urbana (que cresce na medida em que o sistema econômico imperante elimina massivamente postos de trabalho e a renda, multiplicando, assim, os excluídos), os direitos da mulher e dos adolescentes. Ademais da inovadora experiência de autogestão, sua Escola de Planejamento Social, dirigida pelo Prof. Miguel Sobrado Chaves, realizou diversos eventos capacitadores em autogestão durante vários anos, integrados por professores e alunos. Eventos de capacitação massiva envolvendo milhares de pessoas. A esta jovem universidade se deve o decisivo empenho na estruturação de quase uma centena de empresas associativas ou comunitárias geradoras de emprego e renda, algumas das quais estão entre as maiores e modelares empresas congêneres da América Latina, como são os casos da Cooperativa “El Silencio” e “La Vaquita”. Em conseqüência deste extensionismo universitário sistemático, esta Universidade capacitou um grande número de professores e alunos no trabalho de organização das massas de desempregados. Já nos primeiros passos desta universidade, um de seus catedráticos (e que, hoje em dia, ocupa o digníssimo posto de Reitor), o Prof. Jorge Moral Alfaro, estabelecia em um de seus escritos sobre capacitação massiva, o seguinte paradigma: “a capacitação de líderes ou de quadros dirigentes sem referir-se à teoria e à prática da organização é irremediavelmente uma capacitação deficiente, que pode ter conseqüências negativas pelo menos em dois sentidos: de uma parte, se pode criar uma elite com fortes possibilidades de desvinculação dos problemas da coletividade que originarão sua capacitação, através de canais de ascensão social acessível em seu novo “status” e, de outra, ao restar aos quadros e às massas o conhecimento técnico da organização, torna-os incapazes de evitar a “entropia” nos organismos sociais, provocada pela degradação destes e de seus integrantes e, por defeituosa ou inexistente vida orgânica, mumificada em atos litúrgicos”. 29
  • 30. A bandeira da organização dos excluídos para gerar postos de trabalho e renda mediante a metodologia da capacitação massiva foi conduzida por professores desta Universidade de Heredia a El Salvador, ao México, à Nicarágua, ao Panamá, à República Dominicana, à Venezuela e à Colômbia, em cujos países ensinaram a criar e a consolidar empresas de autogestão, a fim de elevar o nível de vida das populações carentes de centros urbanos e de áreas rurais. Desta forma, a extensão universitária da Universidade Nacional Autônoma da Costa Rica não se limitou a ultrapassar as muralhas do “campus”, senão que foi mais além das fronteiras nacionais cobrindo toda Mesoamérica, países do Caribe e da América do Sul. Não é por acaso que esta UNACR foi elegida a “Universidade–âncora” do “pool” de universidades européias e latino-americanas que levarão a efeito o Doutorado centrado no tema da Capacitação Massiva para a Autogestão de Empresas de Propriedade e Produção Sociais. Desde o nascimento desta universidade até nossos dias, o mundo sofreu profundas mudanças, de tão acentuado que foi o desenvolvimento das forças produtivas em seu entorno, durante estas três décadas que, à Extensão Universitária, evidentemente, de nenhuma maneira passou despercebido. São tempos distintos, muito bem diferentes, dos começos da primeira universidade surgida no Planeta, no século X, a Universidade de Tombuctu, no sul do Deserto do Saara, quase nos pântanos do Rio Níger, atualmente República de Mali, onde se conservam restos de suas ruínas. Desde lá, do coração da África tórrida, no afã de extensionismo universitário, seu jovem geógrafo IBN BATUTA, viajou durante mais trinta anos, para o Mediterrâneo cartaginês, romano e grego a fim de conhecer o Mundo e a História do mundo em troca da difusão de avançados conhecimentos africanos e islâmicos. Neste plano, seguiu viagem para o Mar Negro, ao Volga, aos Montes Urales e ao Mar Cáspio, ao Cáucaso azerbaijano e, após uma pausa de um ano em Samarkanda, capital do Império de Gengis Khan, enfrentou as grandes distâncias da Turcomênia, Uzbequistão, Sibéria, Mongólia e China. Passado algum tempo, chegou-lhe a vez de viajar para Indochina, Península de Málaga, Malásia, Cingapura e Indonésia. Seu regresso a sua universidade de Tombuctu, tratou de fazê-lo pela Índia, Caxemira, Paquistão, Afeganistão, Irã, Iraque, Turquia, Jordânia, Palestina, visitando, em seguida, Meca, na Península da Arábia Saudita. No entanto, não fatigado ainda de ditar, durante mais trinta anos, milhares de conferências (significado literal do Corão), em seu afã de extensionismo universitário baseado no proselitismo islâmico, o professor IBN BATUTA dirigiu-se para o sul da África, chegando até a Ilha de Zanzibar, famosa, já desde aquela época, pela exportação do cravo. Ele buscou regressar ao Mediterrâneo através do Rio Nilo, visitando o Sudão, a Etiópia e o Egito para depois chegar ao Marrocos e, em seguida, em uma caravana de camelos, atravessar o Saara e aparecer, já de cabelos grisalhos, marcados pelo tempo e sofrimentos, à sua Universidade de Tombuctu a fim de reassumir sua cátedra de Geografia e História do Mundo. O eurocentrismo, que cerca a sede da UNESCO em Paris, nunca possibilitou a restauração da mesquita onde funcionou, há mil anos, a primeira universidade do mundo, porém, em contraposição, prestigia a conventos jesuítas, europeus e latino-americanos, nos quais nasceram Universidades muito menos antigas que a 30
  • 31. africana de Tombuctu. Além disso, deixa permanecer no olvido IBN BATUTA, o geógrafo viajante, extensionista universitário, que superou quase duas vezes as distâncias percorridas pelo europeu Marco Polo. As justificativas desse longuíssimo périplo por três continentes estavam somente no desejo de ensinar os conhecimentos africanos e de aprender sobre muitos povos e culturas daquele mundo antigo. O propósito fundamental era – digamos – uma singular extensão universitária inspirada no intento da “globalização” do Islam, ao longo e ao largo do Mundo conhecido, cujos confins orientais mais distantes, naquelas épocas, estavam na Australásia, na Indonésia de nossos dias. Alá, o criador do “céu e da terra”, é o deus dos islâmicos e pré-determinador do destino de cada homem que se considera impotente ante esse Todo- Poderoso, adorado nas mesquitas. Passados seiscentos anos depois de IBN BATUTA, hoje em dia, nos atuais últimos anos do Segundo Milênio, África e Indonésia vivem outro tipo de Globalização: a Globalização da miséria e do desemprego presidida por outro deus todo-poderoso: o dinheiro que, adorado no “templo” das Bolsas de Valores, desde logo, deve suscitar outro tipo de extensionismo universitário. Com efeito, a ONU noticiou, no mês passado, que a África apresenta trezentos e quarenta milhões de famintos e, em cada minuto, três africanos morrem de desnutrição. Enquanto isso, a revista Visão, edição de 16 a 21 de agosto último (1998), informa que “com a firma Quantum Funds o célebre megaespeculador George Soros, que possui fundos disponíveis ao redor de vinte bilhões de dólares, é capaz de obter créditos cem vezes maiores por meio do mercado dos derivados e, em particular, dos detestáveis hedge funds (fundos de resguardo), popularmente conhecidos como cobertura de riscos. Ou seja, enquanto a Quantum Funds pode facilmente mover duzentos bilhões de dólares, o quarto país mais povoado do planeta, Indonésia, se encontra incapacitado de conseguir nos seletos mercados de dinheiro sequer um quinto destes créditos bancários, onde se movem como peixes na água os megaespeculadores”. William Shakespeare, no “Timão de Atenas”, assim destacava a onipotência do “deus-dinheiro”: “Primeiro, é a divindade visível, a transmutação de todas as propriedades humanas e naturais em seu contrário, a confusão e inversão universal de todas as coisas, capaz de irmanar das impossibilidades; segundo, é a prostituta universal, o universal alcoviteiro dos homens e dos povos”. Marx, comentando sobre esta catarse do dramaturgo inglês, disse que: “A inversão e confusão de todas as qualidades humanas e naturais, a conjugação das impossibilidades; a força divina do dinheiro radica em sua essência, enquanto que essência genérica desterrada, alienante e auto-alienante do homem. É o poder alienado da humanidade”. “O dinheiro, enquanto possui a propriedade de comprar tudo, enquanto possui a propriedade de apropriar-se dos objetos, é, pois, o objeto por excelência. A vulnerabilidade de sua qualidade é a onipotência de sua essência; vale, pois, como ser onipotente”. 31
  • 32. “Se o dinheiro é o vínculo que me liga à vida humana, que liga à sociedade, que me liga com a natureza e com o homem, não é o dinheiro o vínculo de todos os vínculos? Não é também por isto o meio geral de separação? É a verdadeira moeda divisória, assim como o verdadeiro meio de união, a força galvano- química da sociedade”. Assim responde, atualmente, Jack Weatherford a esta indagação: “Os une uma só coisa: O dinheiro. Independentemente de que designe a sua moeda como dólares, rublos, ienes, pesetas, marcos, balboas, francos, libras, pesos, escudos, colones, liras, reais, bolívares, dracmas, iuans, quetzales, rúpias, chelins, cada uma opera essencialmente da mesma forma, como parte menor de um sistema monetário internacional que chega a cada granja, ilha e aldeia do Planeta. Sem importar onde esteja e qual seja a divisa local, este moderno sistema possibilita o fluxo rápido e fácil de dinheiro de um mercado a outro”. Já em 1677, “”Aphra Behn, uma dramaturga do século dezessete – acrescenta Weathrford – escreveu em sua obra “The Rover” (O Vagabundo) que “o dinheiro fala com sentido em uma linguagem que todas as nações entendem”. Para Marx, “na forma de dinheiro, o capital une a força de trabalho e os meios de produção; na forma produtiva produz menos valores de uso que constituem os portadores materiais do próprio valor capital; na forma mercantil, ao realizar o valor do capital e da mais-valia, lança o valor de uso da esfera do consumo (o individual e o produtivo)”. Para esclarecer este caráter ilimitado do dinheiro e a força com que comanda todos os músculos da atividade humana, há que ir mais a fundo, à Divisão Social do Trabalho (germe do conhecimento e da linguagem social”) que fez surgir, paralelamente à propriedade privada, a MERCADORIA, a célula da economia mercantil, cuja expressão exponencial, o dinheiro, propicia, em forma de movimento, a solução das contradições do valor de uso e do valor de troca. Ambos são gerados, respectivamente, pelo trabalho concreto (o dispêndio de energia do produtor) e pelo trabalho abstrato revelador (no mercado) do tempo socialmente necessário para produzir a mercadoria. De fato, as relações entre os seres humanos, entre comunidades, entre povos e entre países se manifestam com a mesma clareza na esfera do intercâmbio. A produção mercantil não só inter-relaciona as pessoas como também sujeita aqueles alcançados pela circulação mercantil. A novela “O Grande Norte” de T. Siomúchkin mostra eloqüentemente como, antes de 1917, os indivíduos de uma comunidade de caçadores e pescadores lapões se ligavam ao resto dos telúricos. Eles viviam no norte da Sibéria, ao ocidente da longínqua Ilha de Wrangel, e estavam sempre pendentes da visita anual de um único barco que, no degêlo do Estreito de Behring, conseguia penetrar no Oceano Glacial Ártico. Charleston, possivelmente um prófugo da justiça norte-americana, dono do único armazém, enorme bodega daquela aldeia de lapões, comprava suas mercadorias (em geral peles finas de foca e presas de leão-marinho) pelo que trazia no barco: chá preto da Índia empacotado na Inglaterra; chocolates suíços e holandeses feitos com o cacau de Gana ou da América Central; café da Etiópia empacotado na Itália; alguns tecidos chineses exportados por ingleses; facões e machados “Solingen” da Alemanha; rifles e escopetas de caça e uma variedade interminável de utensílios de alumínio para a cozinha e a mesa: chaleiras, frigideiras, panelas etc. 32