O documento descreve o contexto histórico e cultural do Brasil no início do século XX, quando o país passava por fortes contrastes sociais e agitações trabalhistas durante a "República do café-com-leite". Nesse período surgiram importantes obras literárias que retratavam a realidade brasileira, como os romances naturalistas de Euclides da Cunha e as críticas sociais de Monteiro Lobato.
Considerando as pesquisas de Gallahue, Ozmun e Goodway (2013) os bebês até an...
Modernismo
1.
2.
3. Contexto histórico e cultural
Enquanto a Europa se prepara para a Primeira Guerra
Mundial, o Brasil começa a viver, a partir de 1894, um
novo período de sua história republicana: com a posse
do paulista Prudente de Morais, primeiro presidente
civil, inicia-se a "República do café-com-leite", dos
grandes proprietários rurais, em substituição a
"República da Espada" (governos do marechal Deodoro
e do marechal Floriano). É a áurea da economia cafeeira
no Sudeste; é o movimento de entrada de grandes
levas de imigrantes, notadamente os italianos; é o
esplendor da Amazônia com o ciclo da borracha; é o
surto de urbanização de São Paulo.
4. Mais história...
Mas toda esta prosperidade vem deixar cada
vez mais claros os fortes contrastes da
realidade brasileira. É, também, o tempo de
agitações sociais. Do abandono do Nordeste
partem os primeiros gritos da revolta. Em fins
do século XIX, na Bahia, ocorre a Revolta de
Canudos, tema de Os sertões, de Euclides da
Cunha; nos primeiros anos do século XX, o
Ceará é o palco de conflitos, tendo como figura
central o padre Cícero, o famoso "Padim Ciço";
em todo o sertão vive-se o tempo do cangaço,
com a figura lendária de Lampião.
5. ...
O Rio de Janeiro assiste, em 1904, a uma rápida, mais intensa
revolta popular, sob o pretexto aparente de lutar contra a
vacinação obrigatória idealizada por Oswaldo Cruz; na realidade,
tratava-se de uma revolta contra o alto custo de vida, o
desemprego e os rumos da República. Em 1910, há outra
importante rebelião, desta vez dos marinheiros liderados por João
Cândido, o "almirante negro", contra o castigo corporal,
conhecida como a "Revolta de Chibata". Ao mesmo tempo, em
São Paulo, as classes trabalhadoras sob a orientação anarquista,
iniciam os movimentos grevistas por melhores condições de
trabalho.
Essas agitações são sintomas de crise na "República do café-
com-leite", que se tornaria mais evidente na década de 1920,
servindo de cenário ideal para os questionamentos da Semana da
Arte Moderna.
8. Construir uma Literatura em
sintonia com os acontecimentos
As primeiras décadas do Séc. XX, trouxeram ao
público obras de grande valor literário e social.
Difícil traçar um panorama estético que englobe
todos os autores que escreveram nesta época.
Outra característica importante: Nas obras é
possível reconhecer traços de algumas escolas
literárias do final do Séc. XIX.
Essa época não constitui nenhuma escola literária
e sim um período de transição!
9. Pré Modernismo
Autores: Início – 1902 –
Euclides da Cunha Publicação de “Os
Monteiro Lobato sertões” de Euclides
da Cunha.
Lima Barreto
Término – 1922 –
Graça Aranha Semana de Arte
Augusto dos Anjos Moderna
10. Estilos e Objetivos distintos
O primeiro traço de união que surge, entre os pré
modernos, é o de procurar criar um Brasil
“literário” que corresponda ao país real,
abandonando as visões particularizadas da elite e
dos grandes centros urbanos.
Aproximam o momento histórico vivido e a trama
desenvolvida nos romances.
Linguagem se modifica, torna-se mais direta, mais
objetiva, mais próxima da linguagem característica
do texto jornalístico.
11. Das Primeiras obras Publicadas
surgem:
Tendências que serão como bandeiras para
os Modernistas:
A dessacralização do texto literário
Utilização de um português mais brasileiro
Crítica à realidade social e econômica
contemporânea
Enfim, a constituição de uma literatura que
retrata verdadeiramente o Brasil.
12.
13.
14. Euclides da Cunha
Publicou “os Sertões”, em
que retrata o conflito entre
os seguidores do líder
messiânico Antônio
Conselheiro e as forças do
exército brasileiro.
Naturalismo,
Determinismo;
Mais tarde caráter
aprofundado pela segunda
geração – Regionalismo;
A terra – O homem – A
luta.
15. Primeiras impressões
É uma paragem impressionadora. As condições estruturais da terra lá se
vincularam à violência máxima dos agentes exteriores para o desenho de
relevos estupendos. O regime torrencial dos climas excessivos, sobrevindo,
de súbito, depois das insolações demoradas, e embatendo naqueles pendores,
expôs há muito, arrebatando-lhes para longe todos os elementos degradados,
as séries mais antigas daqueles últimos rebentos das montanhas: todas as
variedades cristalinas, e os quartzitos ásperos, e as fílades e calcários,
revezando-se ou entrelaçando-se, repontando duramente a cada passo, mal
cobertos por uma flora tolhiça — dispondo-se em cenários em que ressalta
predominante, o aspecto atormentado das paisagens.
Porque o que estas denunciam — no enterroado do chão, no desmantelo dos
cerros quase desnudos, no contorcido dos leitos secos dos ribeirões
efêmeros, no constrito das gargantas e no quase convulsivo de uma flora
decídua embaralhada em esgalhos — é de algum modo o martírio da terra,
brutalmente golpeada pelos elementos variáveis, distribuídos por todas as
modalidades climáticas
16. Lima Barreto
A inovação se dará por sua
preocupação de traçar, de forma
bastante fiel, quadros que
retratem a vida cotidiana nos
subúrbios do Rio de Janeiro.
Em seus romances
acompanharemos:
O dia-a-dia do funcionário
público
Moças que esperam
pacientemente a hora do
casamento
Mulatos perseguidos pelo
preconceito social
17. Triste fim de Policarpo Quaresma
Embate entre o real e
o ideal.
Amar a pátria não
significa apenas
mantê-la como objeto
de adoração.
Ser patriota é conhecer
as condições do país e
tentar melhorá-lo. Apostila pág. 21-22
18. Monteiro Lobato
Denunciar a decadência do povo do interior,
principalmente com o declínio do cultivo de café
na região do Vale da Paraíba.
Jeca Tatu, personagem marginalizada, caboclo
ignorante, medíocre;
O Brasil está cheio de Jecas Tatus.
Depois o autor chega a conclusão que é o sistema
que remete o povo a esse modo de existência.
19. Augusto dos Anjos
Desde 1900 aparecem
poemas de Augusto dos
Anjos publicados em
jornais e almanaques.
De definição literária
complexa, pode-se notar
forte influência
simbolista.
Seus poemas serão, mais
tarde, publicados em seu
único livro, denominado
“Eu”.
20. Tendência pré modernista
Gosto pelas imagens Objeto dos poemas;
fortes e pela construção
formal deixam claro sua
Divagações
ligação com o metafísicas;
simbolismo; Vocabulário
O que o diferencia de cientificamente
qualquer outra escola calculado;
literária e que o faz ser
associado às novas
tendências é:
21. Augusto dos Anjos
Junção de todas as
tendências e de outras
mais vindas da ciência
que tanto o
apaixonava.
22. Versos Íntimos
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera. Olhar pessimista
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável! Desilusão e abandono
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
acompanham o eu
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera. lírico
Toma um fósforo. Acende teu cigarro! O ser humano está
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que
apedreja.
fadado à solidão
Se a alguém causa inda pena a tua
chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
23.
24.
25. Contexto Histórico
A primeira fase do Em termos econômicos, o
Modernismo no Brasil mundo encaminhava-se
estende-se de 1922 a para um colapso,
1930. Período em que o concretizado pela quebra
da bolsa de Nova Iorque,
Brasil vive o fim da em 1929. O Brasil, que
chamada República velha, dependia em grande parte
quando as oligarquias das exportações de café,
ligadas aos grandes sofreu um duro golpe com
proprietários rurais a quebra da bolsa e passou
detinham o poder. a vivenciar um período de
grande instabilidade
econômica.
26. A semana de Arte Moderna
Em 1917, Anita
Malfatti realizou uma
exposição de quadros.
Monteiro Lobato, que
assistiu a exposição,
publicou um polêmico
texto: Paranóia ou
mistificação?
No Estado de São
Paulo
27. Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que vêem normalmente
as coisas e em consequência disso fazem arte pura, guardando os eternos
ritmos da vida, e adotados para a concretização das emoções estéticas, os
processos clássicos dos grandes mestres. Quem trilha por esta senda, se
tem gênio, é Praxíteles na Grécia, é Rafael na Itália, é Rembrandt na
Holanda, é Rubens na Flandres, é Reynolds na Inglaterra, é Leubach na
Alemanha, é Iorn na Suécia, é Rodin na França, é Zuloaga na Espanha. Se
tem apenas talento, vai engrossar a plêiade de satélites que gravitam em
torno daqueles sóis imorredouros. A outra espécie é formada pelos que
vêem anormalmente a natureza, e interpretam-na à luz de teorias
efêmeras, sob a sugestão estrábica de escolas rebeldes, surgidas cá e lá
como furúnculos da cultura excessiva. São produtos do cansaço e do
sadismo de todos os períodos de decadência: são frutos de fins de
estação, bichados ao nascedouro. Estrelas cadentes, brilham um instante,
as mais das vezes com a luz do escândalo, e somem-se logo nas trevas
do esquecimento. Embora eles se dêem como novos precursores duma
arte a vir, nada é mais velho do que a arte anormal ou teratológica:
nasceu com a paranóia e com a mistificação. De há muito já que a
estudam os psiquiatras em seus tratados, documentando-se nos inúmeros
desenhos que ornam as paredes internas dos manicômios. A única
diferença reside em que nos manicômios esta arte é sincera, produto
ilógico de cérebros transtornados pelas mais estranhas psicoses; e fora
deles, nas exposições públicas, zabumbadas pela imprensa e absorvidas
por americanos malucos, não há sinceridade nenhuma, nem nenhuma
lógica, sendo mistificação pura.
28. Contra-ataque!
O grupo modernista
decide, em razão do
ataque sofrido, unir-se
em torno de objetivos
comuns, em uma
tentativa de tornar
mais visível para a
opinião pública as
novas tendências
artísticas européias.
29. Ano de 1922 – dias 13, 15 e 17
de fevereiro
No Teatro municipal
de São Paulo, em noite
de gala, seriam
realizados os eventos
da Semana de Arte
Moderna!!
30. Os sapos – Manoel Bandeira
Enfunando os sapos, Urra o sapo-boi:
saem da penumbra, - Meu pai foi rei! - Foi!
Aos pulos, os sapos - Não foi! - Foi! - Não foi!
A luz os deslumbra. Em ronco que aterra, Brada era um assomo
Borra o sapo-boi:
Meu pai foi à guerra! O sapo tanoeiro
Não foi! - Foi! - Não Foi! O sapo-tanoeiro A grande arte é como lavor de joalheiro
Parnasiano aguado, Outros, sapos-pipas
Diz: -Meu cancioneiro é bem martelado. O (Um mal cabe em si)
meu verso é bom Falam pelas tripas
Frumento sem joio - Sei! - Não sabe! - Sabe! Longe dessa grita,
Faço rimas com
Consoantes de apoio. Vai por cinqüenta Lá onde mais densa
anos
A noite infinita
Que lhes dei a forma:
Reduzi sem danos Verte a sombra imensa
A formas e a forma. Lá, fugido ao mundo,
Clame a saparia Sem glória, sem fé,
Em críticas céticas: No perau profundo
Não há mais poesia, E solitário, é Que soluças tu,
Mas há artes poéticas... Transido de frio
Sapo-cururu
Da beira do rio..."
31. Resultado Positivo!!!
Embora causassem
escândalo, os modernistas
se fizeram notar!
Deixaram claro que não
tinham apenas intenções
artísticas, mas um
conjunto de obras em que
as novas propostas eram
concretizadas,
demonstrando a
viabilidade dos novos
rumos estéticos.
32. Revistas e Manifestos
Revistas: era criado Manifestos:
espaço para as funcionavam como
divulgações das espaço de definição e
produções literárias divulgação dos
inspiradas pela nova próprios princípios
visão artística. modernistas.
33. Klaxon
O primeiro número da
revista foi aberto por um
editorial manifesto:
A busca do atual
O culto ao progresso
Afirmação de que arte não
é cópia da realidade
Incorporação de novas
formas artísticas, como o
cinema.
34. Revista de Antropofagia
Como conciliar o direito à inovação estética com o
peso da tradição?
Como estabelecer o limite entre o regional, o
nacional e o universal?
O objetivo dos antropófagos era de promover uma
nova agitação cultural, de modo a manter acesas as
inquietações estéticas e culturais que deram
origem ao Modernismo Brasileiro, que nos
últimos anos assumira uma face bem acomodada.
35. Outras Revistas
Estética, 1924.
A revista, 1925-1926.
Terra Roxa e Outras Terras, 1926.
Verde, 1927.
36. Manifesto Pau-Brasil – Oswald
de Andrade
No manifesto, Oswald Fazer uso da língua sem
ironiza e critica a visão preconceitos, tal qual se
“oficial” da história manifesta na fala popular
brasileira. “a contribuição milionária
Contrapondo a uma visão de todos os erros”.
parótica e bem humorada. Recuperação do passado
Princípios do primeiro histórico sob uma
momento da literatura perspectiva crítica.
modernista:
“Ver com olhos livres”.
37. Manifesto Antropófago
Oswald de Andrade, Valendo da antropofagia
como metáfora do que
lança esse manifesto deveria ser culturalmente
como resposta ao repudiado, assimilado e
nacionalismo do superado para que
Grupo da Anta, alcançássemos uma
verdadeira independência
movimento cultural. O escritor
conservador, sintetiza as conquistas do
associado ao fascismo. movimento modernista ao
mesmo tempo que lança
um lema para os tempos
futuros:
38. Tupy or not Tupy that is the
question.
Assumindo um tom
contestador e anarquista,
Oswald propõe, no
“Manifesto Antropófago”,
o caminho contrário ao
das correntes nacionalistas
que defendiam a
idealização de um estado
forte.
39. Postura Nacionalista apresenta
duas vertentes distintas:
de um lado, um de outro, um
nacionalismo crítico, nacionalismo
consciente, de ufanista, utópico,
denúncia da realidade exagerado,
brasileira, identificado com as
politicamente correntes políticas de
identificado com as extrema direita.
esquerdas;
40. Características Literárias
A primeira fase do Negação do passado;
modernismo, marcada Eleição do moderno como
pelo signo de um valor em si mesmo;
transformação, ficou Valorização do cotidiano;
conhecida como fase
“heróica” ou de Nacionalismo;
destruição. Tal designação Redescoberta da realidade
deveu-se, em grande parte, brasileira;
à opção pelo rompimento Desejo de liberdade no
com o passado, postura uso das estruturas da
vista por muitos como língua;
anárquica e destruidora. Predominância da poesia
sobre a prosa;
41. Poemas-piadas e paródias
Canto de regresso à pátria Canção do exílio
Oswald de Andrade Gonçalves Dias
Minha terra tem palmeiras,
Minha terra tem palmares Onde canta o Sabiá;
Onde gorjeia o mar As aves, que aqui gorjeiam,
Os passarinhos daqui Não gorjeiam como lá.
Não cantam como os de lá
lá Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Minha terra tem mais rosas Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem mais terra
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Ouro terra amor e rosas Minha terra tem primores,
Eu quero tudo de lá
lá Que tais não encontro eu cá;
Não permita Deus que eu morra Em cismar –sozinho, à noite–
Sem que volte para lá
lá Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Não permita Deus que eu morra Onde canta o Sabiá.
Sem que volte pra São Paulo Não permita Deus que eu morra,
Sem que veja a Rua 15 Sem que eu volte para lá;
E o progresso de São Paulo Sem que disfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
42. Oswald de Andrade
A obra de Oswald de
Andrade talvez seja a
única a reunir todas as
características que
marcaram a primeira fase
do Modernismo. Ele
escreveu poesia, romance,
teatro, crítica e, em todos
os gêneros, deixou patente
sua vocação para
transgredir, quebrar
expectativas, polemizar.
43. Revolucionou!
Pero Vaz de Caminha
Transformação de
textos do período A DESCOBERTA
colonial em poemas Seguimos nosso caminho por
este mar de longo
que assumem uma Até a oitava da Páscoa
conotação crítica da Topamos aves
E houvemos vista de terra
história “oficial” do OS SELVAGENS
Brasil. Mostraram-lhes uma galinha
Quase haviam medo dela
E não queriam pôr a mão
E depois a tomaram como
espantados
44. Prosa
Os romances escritos por Oswald de
Andrade trouxeram para a Literatura
Brasileira uma estrutura inovadora. Os
capítulos curtos emprestam à narrativa
características da linguagem
cinematográfica, como uma sequência de
cenas encadeadas de um imenso mosaico
em que a realidade nacional é flagrada em
flashes rápidos.
45. Mário de Andrade
Escreveu poesia, prosa
e contos.
Foi o primeiro que
escreveu um texto
teórico, no Brasil,
sobre a natureza da
arte contemporânea –
No prefácio de
Paulicéia Desvairada.
46. Poesia
Encontramos em suas poesias um fluxo de
lirismo, muitas vezes associado ao
cotidiano. Além de uma visão crítica da
elite, e a afirmação da possibilidade de uma
existência multifacetada (pessoal e
cultural).
47. Ode ao Burguês
Eu insulto o burguês! O burguês-níquel Eu insulto o burguês-funesto[cruel]!
o burguês-burguês! O indigesto feijão com toucinho, dono das
A digestão bem-feita de São Paulo! tradições!
O homem-curva! O homem-nádegas! Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano, Fará Sol? Choverá? Arlequinal[Arlequim –
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco! palhaço]!
Mas à chuva dos rosais
o êxtase fará sempre Sol!
Eu insulto as aristocracias cautelosas!
Os barões lampiões! Os condes Joões! Os duques
zurros! Morte à gordura!
Que vivem dentro de muros sem pulos, Morte às adiposidades cerebrais!
e gemem sangue de alguns mil-réis fracos Morte ao burguês-mensal!
para dizerem que as filhas da senhora falam o Ao burguês-cinema! Ao burguês-tiburi!
francês Padaria Suíssa! Morte viva ao Adriano!
e tocam os "Printemps“[primavera] com as "— Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
unhas! — Um colar... — Conto e quinhentos!!!
Más nós morremos de fome!"
(...)
48. Prosa
Assim como na prosa de Oswald, Mário apresenta
um questionamento das estruturas típicas do
romance do século XIX.
O autor experimenta diferentes organizações para
a prosa: ora eliminando a marcação de capítulos,
ora criando um narrador, que embora onisciente,
atua quase como uma personagem do livro, numa
linguagem que explicitava a busca do português
“brasileiro”.
49. Macunaíma
Texto responsável pela redefinição do
“herói” brasileiro.
A personagem, a cada instante, se
transforma assumindo as feições das
diferentes raças que originaram o povo
brasileiro (índio, negro e europeu).
50. Manuel Bandeira
A solidão, as frustrações
provocadas por uma vida
limitada pela tuberculose,
uma ternura imensa e a
capacidade de perceber o
lirismo nas pequenas
coisas da vida, serão as
marcas características da
poesia de Manuel
Bandeira.
51. Poesias
Inovação modernista – Sua história pessoal
uso de formas livres, tanto empresta aos poemas
no que diz respeito a
que escreve uma forte
métrica, quanto a rima.
consciência da
Capacidade de ver as
cenas mais banais do dia- precariedade da vida.
a-dia filtradas por lentes
críticas e de recriá-las
poeticamente em uma
linguagem simples.
52. Poética – pág. 25
Estou farto do lirismo comedido De todo lirismo que capitula ao que
Do lirismo bem comportado quer que seja
Do lirismo funcionário público com livro de
funcioná pú fora de si mesmo
ponto expediente De resto não é lirismo
protocolo e manifestações de apreço ao
manifestaç apreç Será contabilidade tabela de co-
Sr. diretor. senos secretário do amante
Estou farto do lirismo que pára e vai
pá exemplar com cem modelos de
averiguar no dicionário
dicioná cartas e as diferentes
o cunho vernáculo de um vocábulo.
verná vocá maneiras de agradar às mulheres,
Abaixo os puristas etc
Todas as palavras sobretudo os Quero antes o lirismo dos loucos
barbarismos universais O lirismo dos bêbedos
Todas as construções sobretudo as
construç O lirismo difícil e pungente dos
sintaxes de exceção
exceç
bêbedos
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
inumerá
O lirismo dos clowns de
Estou farto do lirismo namorador
Político
Polí
Shakespeare
Raquítico
Raquí
Sifilítico
Sifilí
— Não quero mais saber do lirismo
que não é libertação.
53. Momento num café
Quando o enterro passou
Os homens que se achavam no café
Tiraram o chapéu maquinalmente
Saudavam o morto distraídos
Estavam todos voltados para a vida
Absortos na vida
Confiantes na vida.
Um no entanto se descobriu num
gesto largo e demorado
Olhando o esquife longamente
Este sabia que a vida é uma
agitação feroz e sem finalidade
Que a vida é traição
E saudava a matéria que passava
Liberta para sempre da alma extinta
54. Novo caminho a ser trilhado
Manuel Bandeira foi o único que conseguiu
produzir uma poesia que, embora refletindo
as transformações estéticas do momento,
transcendeu seus limites históricos e refletiu
sobre angústias e conflitos de natureza
universal, como o amor, a paixão pela vida,
a saudade de uma infância idealizada e o
medo da morte.