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A T R A N S I Ç ÃO L I T E R Á R I A D O S ÉC U LO X X
Pré-modernismo
Momento
histórico
O fim do século XIX marca
o início da “República do
café-com-leite”, na qual
os grandes proprietários
rurais exerciam enorme
influência. Nossa
urbanização, ainda
incipiente, não produzia o
quadro de tensão no qual
vivia a Europa, mas já
dava sinais de
crescimento
principalmente em São
Paulo.
Caricatura de Osvaldo Storni sobre as eleições de 1910
Momento
histórico
O ciclo da borracha desloca
para o norte a riqueza do
país, acentuando os
contrastes sociais: algumas
regiões prosperavam em
meio ao atraso irremediável
de outras.
As tensões geraram
inúmeras revoltas, como a
Revolta de Canudos, na
Bahia; a série de conflitos
no Ceará em torno do
religioso Padre Cícero; e o
cangaço, em pleno sertão
nordestino, que nos
apresentou a figura de
Virgulino Ferreira, o
Lampião.
O bando de cangaceiros de Lampião
Momento
histórico
A capital, Rio de Janeiro,
sangrava seus problemas
sociais. A insurreição ao
poder constituído foi
desde a Revolta da Vacina
– uma rebelião popular
contra a vacinação
obrigatória, mas que
guardava suas
reivindicações sociais –
até a Revolta da Chibata –
uma rebelião de
marinheiros contra os
castigos físicos.
Charge de Leônidas sobre a Revolta da Vacina
Estética
Não se pode dizer que o
Pré-modernismo
constitui-se em uma
escola literária em si. É,
em verdade, um conjunto
de manifestações do
espírito de uma época,
que apresentava o novo,
rompia com o velho, mas
ainda não possuía um
rumo certo ou uma clara
intenção estética.
Rua da Carioca, início dos anos 1900
Estética
Os autores dessa época
são influenciados pelo
Realismo e pelas novas
tendências que surgiam
na Europa. Ao mesmo
tempo, os escritores
românticos, parnasianos e
simbolistas ainda
publicavam seus livros e
encontravam excelente
público, já que o final do
século XIX e início do
século XX é um tempo de
prosperidade dos
livreiros, uma época do
crescimento do mercado
editorial no país. Livraria Garnier, Rio de Janeiro
Estética
Esses novos autores
demonstram um grande
interesse pela realidade
nacional, contrariando o
universalismo dos
modelos realista-
naturalistas. O cotidiano
brasileiro passa a ser
exposto nas páginas dos
livros, dando espaço a
criação de obras de nítida
preocupação social. Os
tipos marginalizados, as
lutas inglórias e as
mazelas do povo passam
a ser os temas da prosa
pré-modernista.
O povoado de Canudos
Estética
A aproximação com a
realidade brasileira traz
como consequência
formal a busca por uma
linguagem mais simples,
mais direta, coloquial,
próxima da população. Os
textos apresentam
linguagem jornalística,
aproximando-se, por
vezes, mais da realidade
que de um estilo artístico
propriamente dito.
Estética
Na poesia, a ruptura fica
por conta de um dos mais
geniais poetas que já
surgiram: Augusto dos
Anjos. Irônico e
pessimista, rompe com o
linguajar poético, tripudia
do realismo e do
materialismo, brinca com
as ciências e a filosofia.
Tivesse nascido dez anos
depois, seguramente
estaria no rol dos maiores
modernistas brasileiros.
Autores
“O sertanejo é, antes de
tudo, um forte. Não tem o
raquitismo exaustivo dos
mestiços do litoral. A sua
aparência, entretanto, ao
primeiro lance de vista,
revela o contrário. É
desengonçado, torto.
Hércules-Quasímodo,
reflete no aspecto a
fealdade típica dos
fracos.”
Os sertões
Autores
“E era assim todos os
dias, há quase trinta anos.
Vivendo em casa própria
e tendo outros
rendimentos além do seu
ordenado, o Major
Quaresma podia levar um
trem de vida superior ao
seus recursos
burocráticos, gozando,
por parte da vizinhança,
da consideração e
respeito de homem
abastado.“
Triste Fim de Policarpo
Quaresma
Autores
“- Upa! Cavalgo e parto.
Por estes dias de março a
natureza acorda tarde.
Passa as manhãs
embrulhada num roupão
de neblina e é com
espreguiçamentos de
mulher vadia que despe
os véus da cerração para
o banho de sol.
A névoa esmaia o relevo
da paisagem, desbota-lhe
as cores. Tudo parece
coado através dum cristal
despolido.”
Urupês
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Pré modernismo

  • 1. A T R A N S I Ç ÃO L I T E R Á R I A D O S ÉC U LO X X Pré-modernismo
  • 2. Momento histórico O fim do século XIX marca o início da “República do café-com-leite”, na qual os grandes proprietários rurais exerciam enorme influência. Nossa urbanização, ainda incipiente, não produzia o quadro de tensão no qual vivia a Europa, mas já dava sinais de crescimento principalmente em São Paulo. Caricatura de Osvaldo Storni sobre as eleições de 1910
  • 3. Momento histórico O ciclo da borracha desloca para o norte a riqueza do país, acentuando os contrastes sociais: algumas regiões prosperavam em meio ao atraso irremediável de outras. As tensões geraram inúmeras revoltas, como a Revolta de Canudos, na Bahia; a série de conflitos no Ceará em torno do religioso Padre Cícero; e o cangaço, em pleno sertão nordestino, que nos apresentou a figura de Virgulino Ferreira, o Lampião. O bando de cangaceiros de Lampião
  • 4. Momento histórico A capital, Rio de Janeiro, sangrava seus problemas sociais. A insurreição ao poder constituído foi desde a Revolta da Vacina – uma rebelião popular contra a vacinação obrigatória, mas que guardava suas reivindicações sociais – até a Revolta da Chibata – uma rebelião de marinheiros contra os castigos físicos. Charge de Leônidas sobre a Revolta da Vacina
  • 5. Estética Não se pode dizer que o Pré-modernismo constitui-se em uma escola literária em si. É, em verdade, um conjunto de manifestações do espírito de uma época, que apresentava o novo, rompia com o velho, mas ainda não possuía um rumo certo ou uma clara intenção estética. Rua da Carioca, início dos anos 1900
  • 6. Estética Os autores dessa época são influenciados pelo Realismo e pelas novas tendências que surgiam na Europa. Ao mesmo tempo, os escritores românticos, parnasianos e simbolistas ainda publicavam seus livros e encontravam excelente público, já que o final do século XIX e início do século XX é um tempo de prosperidade dos livreiros, uma época do crescimento do mercado editorial no país. Livraria Garnier, Rio de Janeiro
  • 7. Estética Esses novos autores demonstram um grande interesse pela realidade nacional, contrariando o universalismo dos modelos realista- naturalistas. O cotidiano brasileiro passa a ser exposto nas páginas dos livros, dando espaço a criação de obras de nítida preocupação social. Os tipos marginalizados, as lutas inglórias e as mazelas do povo passam a ser os temas da prosa pré-modernista. O povoado de Canudos
  • 8. Estética A aproximação com a realidade brasileira traz como consequência formal a busca por uma linguagem mais simples, mais direta, coloquial, próxima da população. Os textos apresentam linguagem jornalística, aproximando-se, por vezes, mais da realidade que de um estilo artístico propriamente dito.
  • 9. Estética Na poesia, a ruptura fica por conta de um dos mais geniais poetas que já surgiram: Augusto dos Anjos. Irônico e pessimista, rompe com o linguajar poético, tripudia do realismo e do materialismo, brinca com as ciências e a filosofia. Tivesse nascido dez anos depois, seguramente estaria no rol dos maiores modernistas brasileiros.
  • 10. Autores “O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços do litoral. A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista, revela o contrário. É desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, reflete no aspecto a fealdade típica dos fracos.” Os sertões
  • 11. Autores “E era assim todos os dias, há quase trinta anos. Vivendo em casa própria e tendo outros rendimentos além do seu ordenado, o Major Quaresma podia levar um trem de vida superior ao seus recursos burocráticos, gozando, por parte da vizinhança, da consideração e respeito de homem abastado.“ Triste Fim de Policarpo Quaresma
  • 12. Autores “- Upa! Cavalgo e parto. Por estes dias de março a natureza acorda tarde. Passa as manhãs embrulhada num roupão de neblina e é com espreguiçamentos de mulher vadia que despe os véus da cerração para o banho de sol. A névoa esmaia o relevo da paisagem, desbota-lhe as cores. Tudo parece coado através dum cristal despolido.” Urupês
  • 13. Autores Versos Íntimos (...) Toma um fósforo. Acende teu cigarro! O beijo, amigo, é a véspera do escarro, A mão que afaga é a mesma que apedreja. Se a alguém causa inda pena a tua chaga, Apedreja essa mão vil que te afaga, Escarra nessa boca que te beija!