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A Renúncia do Papa Bento XVI – “UM
                  TROVÃO EM CÉU SERENO”
                       "Portae inferi non praevalebunt!" (Mt 16, 18).
                                                   *Reservamo-nos o direito de fazer alterações e correções.
      Introdução


      T        risteza, fé e alegria se misturam com o
               espanto nos corações católicos mundo
               afora com a declaração surpreendente
de Sua Santidade e sempre Papa Bento XVI, a partir
do dia 28, Papa Emérito, ou Bispo Emérito de
Roma.
       É de fato uma atitude um tanto espantosa esta
renúncia de Bento XVI, embora prelúdios dela
possam ser encontrados em todo seu pontificado a
começar pelo seu Primeiro Discurso. Todavia
sabemos que, embora ele parecesse de certa forma
esperar por isso, não era esta sua vontade. Se o fez,
podemos estar certos de que fora por necessidade,
por cumprir seu dever como Sucessor de Pedro.
Mas esta ocasião é extremamente anormal e que nos
coloca num momento histórico ímpar. Segundo o
Padre estadunidense Richard McBrien, teólogo e
porque não dizer historiador por mérito, autor do
livro “Os Papas” (Editora Loyola) houveram na
Igreja cerca de seis renúncias ao papado ao longo de
2000 anos. O autor calcula que seis papas
abdicaram, de fato, ao posto máximo do
catolicismo- mas poderiam ter havido também
deposições e renúncias e algumas outras
complicações administrativas no início da Igreja,
quando ainda não se tinha um Direito bem
estabelecido mas ao que nos consta, renúncias
efetivas foram seis.
       É importante lembrarmo-nos antes disso que
mais do que uma mera questão jurídica, a eleição e a de certa forma também renúncia de um Papa tratam-se
da ação direta do Espírito Santo na Igreja. É completamente errôneo dizer que é uma mera questão política.
Obviamente que um Papa pode, no exercício de seu livre arbítrio, renunciar pelo motivo que lhe convir e o
Espírito Santo elegerá um novo sucessor para ocupar a Sé de Pedro, mas tão óbvio quanto é que este não foi
o caso de Bento XVI. Mais à frente trataremos disso. Afinal não há pressão para sua renúncia (ninguém
ameaça destruir o Vaticano, ou matar todos os cardeais, ou matá-lo, ou algo do tipo); não há, ao menos até
onde se saiba, motivo de saúde (pois o divulgado é que Sua Santidade tem apenas artrite e alguns
probleminhas normais para um homem de sua idade)... Conhecendo, pois, o pensamento de Bento XVI e sua
coerência moral durante toda sua vida, nada mais justo e racional, e isso pra não mencionar a obrigação
cristã de não julgá-lo crer que ele abdica da Sé Petrina por crer ser o melhor para a Igreja. Assim, não cabe a
nós, embora seja uma pergunta natural, questionarmo-nos do porquê de sua abdicação, mas sim rezar por ele
e pela Igreja.
       Vamos, então, agora, a um breve histórico dos Papas que renunciaram.
Noção Histórica
                    São Ponciano, Mártir – 18º Papa


                    F      oi Papa de 21 de Julho de 230 a 29 de Setembro de 235. Durante
                           seu pontificado, o cisma de Hipólito chegou ao fim. Ponciano e
                           outros líderes da igreja, entre eles Santo Hipólito, foram exilados
              pelo imperador Maximino Trácio para a Sardenha e percebeu que jamais seria
              solto para voltar ao Vaticano. À época, a ilha do Mediterrâneo era conhecida
              como a "ilha da morte".Impedido, pois, de exercer suas obrigações como
              Sucessor de Pedro, ele renunciou ao papado no dia 25 ou 28 de Setembro de
              235. A data ainda é uma incógnita nos dias de hoje.
                    É desconhecido quanto tempo ele viveu exilado, mas sabe-se que ele
              morreu de esgotamento, graças ao tratamento desumano nas minas da Sardenha,
              onde fora obrigado a trabalhar. De acordo com a tradição, morreu na ilha de
              Tavolara .
                    A festa de seu martírio foi celebrada dia 19 de Novembro, mas
              atualmente é celebrada junto com a de Santo Hipólito, também mártir, em 13 de
              Agosto[1].

São Silvério – 58º Papa
                                                        *há discordância sobre a validade da
                                                        renúncia, dado o caráter de martírio.



                                                   S      ilvério, filho do Papa Hormisdas...
                                                          (Ops! Filho do Papa? O Papa,
                                                          então, podia casar?
                                                    Sim. Seu pai era casado (ou viúvo).
                                             Naquela época não vigorava a Lei do Celibato,
                                             que hoje é obrigatória e não será mais
                                             revigorada na Igreja latina. Falaremos do
                                             celibato em uma outra oportunidade, mas é
                                             importante o parênteses porque Papa com filho
                                             assusta!)
                                                    Enfim... São Silvério fora Papa de 1 de
                                             Junho de 536 a 11 de Novembro de 537. É
                                             venerado como Santo pela Igreja Católica.

                                                    O pontificado de São Silvério coincide
                                             com a ocupação da Itália pelos imperadores
                                             bizantinos. A nota característica do seu governo
                                             é a firmeza e intrepidez com que defendeu os
                                             direitos da igreja, contra a imperatriz Teodora.
                                             Eis o fato como os hagiógrafos o relatam.

                                                   Silvério nasceu em Frosinone, na
                                             Campânia, Itália. Era filho do papa Hormisdas,
                                             que fora casado antes de entrar para o ministério
                                             da Igreja. Entretanto, ao contrário do que se
                                             encontra em alguns escritos, ele não foi sucessor
                                             do seu próprio pai. Antes de Silvério assumir, e
                                             depois do seu pai, outros ocuparam o trono de
                                             Pedro. Em períodos variados, não ultrapassando
                                             dois anos cada um, foram os papas: João I, Félix
                                             III, Bonifácio II, o antipapa Dióscoro da
Alexandria, João II e Agapito I.

      Eleito no dia primeiro de junho de 536, papa Silvério foi o sucessor do papa Agapito I, e o numero
cinqüenta e oito da Igreja Católica. Embora fosse apenas subdiácono quando assumiu o trono de Pedro, ele
foi um dos mais valentes defensores do cristianismo, pois enfrentou a imperatriz Teodora.

        O Papa Agapito, antecessor de Silvério, tinha deposto o bispo de Constantinopla, Antimo, por este
haver defendido a heresia eutiquiana. A imperatriz, fautora da mesma heresia, desejava ver Antino reabilitado
na jurisdição episcopal, desejo que Agapito não quis atender e não atendeu. Morto este Papa, Virgílio,
diácono romano, apresentou-se à imperatriz Teodora, prometendo-lhe a reabilitação de Antimo se apoiasse
sua candidatura ao pontificado. Teodora deu a Virgílio uma carta de apresentação a Belisário, general
bizantino, que se achava na Itália, recomendando-lhe apoiasse a eleição.
        Entretanto, por Obra do Espírito Santo, foi eleito Papa Silvério e como tal reconhecido. A este a
imperatriz se dirigiu, exigindo a reabilitação dos bispos, por Agapito depostos, e a anulação das decisões do
Concílio de Chalcedon, que tinha condenado a heresia de Eutiques. Nesse ofício arrogante Teodora ameaçou
o Papa com a deposição, caso não lhe acedesse às exigências. A resposta de Silvério foi respeitosa, mas
negativa. Com franqueza e firmeza apostólicas declarou à imperatriz que estaria pronto a sofrer prisão e
morte, mas não cederia um ponto das constituições do Concílio.
        Teodora não se conformando com esta resposta, ordem deu a Belisário de afastar Silvério de Roma e
pôr Virgílio na cadeira de São Pedro. Para não cair no desagrado da imperatriz, Belisário prontificou-se a
executar a ordem, mas desejava ter em mãos outros documentos, a pretexto dos quais pudesse proceder
contra o Papa. Tirou-o do embaraço sua ímpia mulher Antonina. Esta lhe fez chegar às mãos uma carta
falsificada, que trazia as armas e assinatura de Silvério, carta em que o Papa se teria dirigido aos Godos,
prometendo-lhes entregar Roma, se lhe viessem em auxílio. Belisário estava a par do que se passava, e bem
sabia qual era a autoria da carta. Não obstante, para obsequiar a mulher, citou Silvério à sua presença,
mostrou-lhe a carta, acusou-o de alta traição e, sem esperar pela defesa da vítima, ordenou que lhe tirassem
as insígnias pontifícias e lhe pusessem um hábito de monge, e assim o mandou para o desterro. No mesmo
dia Virgílio assumiu as funções de Sumo Pontífice.
        A consternação e indignação dos católicos eram gerais. Só Silvério bendizia a graça de sofrer pela
justiça. O Bispo de Pátara, diocese que deu agasalho ao Papa desterrado, pôs-se a caminho de
Constantinopla, com intuito de defender a causa de Silvério. Recebido pelo imperador Justiniano, fez-lhe a
exposição clara das cousas ocorridas, e mostrou-lhe a injustiça feita ao representante de Cristo. Justiniano
ordenou que Silvério fosse imediatamente levado a Roma, e que a permanência na metrópole lhe fosse
vedada só no caso de se provar o crime de alta traição. Belisário e o antipapa Virgílio souberam
impossibilitar a volta de Silvério para Roma. Apoderaram-se dele e transportaram-no para a ilha Palmaria. Lá
o sujeitaram a um tratamento indigno e sobremodo humilhante. Silvério, porém, ficou firme na justa
resistência à tirania e usurpação. Longe de reconhecer a autoridade de Virgílio, excomungou-o e deu do
exílio sábias leis à igreja. Nunca se lhe ouviu uma palavra sequer de queixa contra os planos e desígnios de
Deus. Ao contrário, no meio dos sofrimentos e provações, louvava e enaltecia a sabedoria e bondade da
Divina Providência.
        Três anos passou Silvério no desterro. Liberato, historiador contemporâneo de Silvério, diz que o
Santo Papa morreu de fome. É considerado mártir da Igreja.

      Reflexões:
       Em São Silvério temos um modelo de perfeito cumpridor dos deveres, que não se deixa demover do
caminho da obrigação, embora lhe acarrete isso os maiores dissabores, sofrimentos, perseguição e a própria
morte. São Silvério resistiu firme às injustiças e criminosas insinuações da imperatriz, sabendo que esse
procedimento provocaria as iras da monarca, como de fato as provocou.
       Não é uma imperatriz tirânica, contra cujas exigências devemos defender os nossos princípios cristãos
e católicos. O respeito humano é um tirano, a que muitos covardemente se curvam, pondo de lado as
obrigações e graves responsabilidades. Superiores há que não se animam a repreender os súditos, com
fundado receio de atrair sobre si a justa censura das suas próprias faltas. Súditos há que, para não cair no
desagrado dos amos, obedecem às ordens dos mesmos, embora com isso sejam obrigados a praticar grandes
injustiças. Patrões fazem-se cúmplices dos vícios dos empregados não se achando com coragem de chamá-
los à ordem, com medo destes deixarem o emprego ou fazerem mal o serviço. Para não aborrecer os filhos,
pais há que lhes concedem toda a liberdade não havendo dúvida que assim concorrem para a infelicidade
eterna deles. Às exigências as mais absurdas e escandalosas da moda cede-se com maior naturalidade
embora contra isto se levantem em protesto a consciência, o bom senso e a moral cristã. Por toda a parte
vemos novamente essas transigências fáceis, indignas sob todos os pontos de vista, reprováveis, à custa da
virtude e do caráter. Sejamos observados do precioso conselho que São João nos dá nas seguintes palavras:
“Filhinhos não ameis ao mundo, nem ao que há no mundo. Se alguém ama ao mundo, não há nele o amor do
Pai. Porque tudo que há no mundo, é concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e soberba da vida, a
qual não vem do Pai, mas sim do mundo. Ora, o mundo passa e também sua concupiscência”. (I. Jo. 2, 15
17).

      Venerável João XVIII
                                                             *há dúvidas quanto à validade de sua renúncia.



      D        urante o pontificado de João XVIII, os
               Crescentii deram mole e Gregório Tusculano –
               chefe da tenebrosa família Teoficalto – assumiu
o poder temporal da cidade. Nos bastidores, se tramava um
retorno aos tempos negros de Marózia Teofilacto.
       Gregório apoiou o papa João XVIII, mas tencionava
colocar no trono de Pedro um de seus filhos – não o fez por
serem ainda crianças. Dessa vez, o Espírito Santo deu à Santa
Igreja um grande Papa. João XVIII foi um grande realizador e
trouxe a paz em vários territórios sobre influência da Igreja
Católica. Era um lutador, e insistiu para espalhar o
cristianismo nos lugares onde o paganismo ainda era uma
realidade viva. Canonizou santos mártires poloneses e insistiu
no trabalho iniciado por João XVII.
       Velho e cansado, abdicou do trono e foi viver seus
últimos dias como monge na Basílica de São Paulo Fora-dos-
Muros, servindo aos mais humildes. Durante seu pontificado a
cristandade uniu-se como a muito não se via. Embora essa
situação tenha esboroado com a morte de João Crescêncio,
que era simpático aos bizantinos. Papa de 1004 a 1009.
       Fora sucessor de João XVII, o qual temporariamente
conseguiu promover a união das igrejas grega e latina. Foi eleito
Papa no natal de 1003 e abdicou ao papado em junho de 1009. Foi filho de um presbítero romano de nome
Leão, e antes de sua elevação ao papado, seu nome era Phasianus. Tal elevação foi, também, devida à
influência de Crescentius. Também, obviamente, porque não podemos nos esquecer que não importa a forma
da eleição do Papa, esta é sempre escolha do Espírito Santo. Seu curto pontificado foi importante para definir
normas e detalhes administrativos da Igreja na época. Ele confirmou as posses e privilégios de diversas
igrejas locais e conventos, sancionou diferentes tributos para instituições religiosas, conferiu privilégios
eclesiásticos no re-estabelecida Sé de Merseburg; deu seu consentimento para o Sínodo Romano de Junho,
1007, para o estabelecimento da Sé de Bamberg, fundada e endossada pelo rei germânico, Henrique II; e
conferiu o palio ao Arcebispo Meingaudus de Trier e Elphège de Canterbury. João XVIII energicamente
opôs-se às pretensões do Arcebispo de Sens Letericus e Fulco, bispo de Orléans, que se recusou a permitir
que o Abade de Fleury, Goslin, fizesse uso dos privilégios concedidos a ele por Roma, e tentou fazê-lo
queimar as cartas papais. O papa queixou-se dele para o imperador, e ligou para os bispos a seu tribunal sob
ameaça de censuras eclesiásticas para todo o reino. Em Constantinopla, ele foi reconhecido como Bispo de
Roma. Seu epitáfio diz que subjugou os gregos e cisma desalojado. Seu nome aparece nos dípticos da Igreja
bizantina. De acordo com um catálogo de papas, ele morreu como um monge em Roma, perto de São Paulo,
em junho, 1009.
Bento IX (Teofilato)– “Desgraça para a Sé
Petrina”


      D         e todos os citados até agora, que renunciaram, Bento IX constitui
                um caso a parte e serve de deleite aos inimigos da Igreja e pilar
                para nós, católicos, de que a Igreja é guiada pelo Espírito Santo.
       Bento nasceu em Roma com o nome Theophylactus, filho de Alberico III,
conde de Túsculo e sobrinho dos papas Bento VIII (1012–1024) e João XIX
(1024–1032). O seu pai obteve o lugar papal para si, o qual alcançou em
Outubro de 1032.
       De acordo com a Enciclopédia Católica e outras fontes, Bento IX tinha
entre 18 e 20 anos quando se tornou pontífice, apesar de algumas fontes
sugerirem 11 ou 12. Teve de acordo com os registos uma vida extremamente
dissoluta, não tendo alegadamente qualificações suficientes para o papado que
não fossem as ligações com uma família socialmente poderosa, apesar de em
termos de teologia e atividades comuons na Igreja ser inteiramente ortodoxo.
São Pedro Damião descreveu-o como "regozijando-se em imoralidade" e "um demónio do inferno
dissimulado de sacerdote" no Liber Gomorrhianus. A Enciclopédia Católica chama-o desgraça na Cadeira de
Pedro.
       Foi igualmente acusado pelo bispo Benno de Piacenza de "múltiplos e vis adultérios e assassinatos". O
Papa Vítor III, no seu terceiro livro de Diálogos, referiu-se às "suas violações, assassinatos e outros atos
indizíveis. A sua vida como papa é tão vil, tão abominável, tão execrável, que eu me arrepio de nela pensar".
       Foi brevemente forçado a sair de Roma em 1036, porém retornou com o apoio do imperador Conrado
II.
       Em Setembro de 1044, a oposição forçou-o a abandonar a cidade de novo e elegeu João, bispo de
Sabina, como papa Silvestre III. As forças de Bento IX regressaram em Abril de 1045 e expulsaram o seu
rival, o qual no entanto manteve a sua pretensão ao papado durante anos.
       Em Maio de 1045, num acto que se pensa estar relacionado com indisposição causada por álcool,
Bento IX resigna ao seu posto em troca do matrimônio, vendendo o seu lugar ao seu padrinho, o sacerdote
pio João Gratian, o qual se nomeou Gregório VI.
       Bento IX depressa se arrependeu da sua resignação e regressou a Roma, tomando a cidade e
mantendo-se no trono até Julho de 1046, apesar de Gregório VI continuar a ser reconhecido como verdadeiro
papa. Na altura, Silvestre III reafirmou a sua reivindicação.
       O rei germânico Henrique III (1039-1056) interveio, e no Conselho de Sutri em Dezembro de 1046,
Bento IX e Silvestre III foram declarados depostos, enquanto Gregório VI era encorajado a resignar o que
fez. O bispo germânico Suidger foi coroado papa Clemente II.
       Bento IX não foi nem ao conselho nem aceitou a sua deposição. Quando Clemente II morreu em
Outubro de 1047, Bento apoderou-se do Palácio de Latrão em Novembro de 1047, tendo sido afugentado por
tropas germânicas em Julho de 1048. De forma a preencher o vacuum político, o bispo Poppo de Brixen foi
eleito como papa Dâmaso II, tendo sido reconhecido universalmente como tal. Bento IX recusou-se a
aparecer em encargos de simonia em 1049 e foi excomungado.
       O destino de Bento IX é obscuro. No entanto, parece provável que tenha abandonado as suas
pretensões. O papa Leão IX (1049–1054) poderá ter levantado a banição que sobre ele pendia. Bento IX foi
sepultado na abadia de Grottaferrata, onde faleceu em 1085 ou possivelmente mais tarde.
       Bento é reconhecido geralmente como tendo tido três mandatos como papa:
       o primeiro, que vai desde a sua eleição até à sua expulsão a favor de Silvestre III (Outubro de 1032 -
Setembro de 1044)
       o segundo, desde o seu regresso até à venda do papado a Gregório VI (Abril - Maio de 1045)
       o terceiro, desde o seu regresso após a morte de Clemente II ao advento de Dâmaso II (Novembro de
1047 - Julho de 1048)
São Celestino V, ou São Pedro Celestino


                                           A        pesar de toda a imoralidade pessoal, historiadores sérios
                                                    de toda fé concorda que Bento IX, assim como todos os
                                                    outros Papas, anteriores e posteriores, jamais tomou uma
                                    decisão errada em termos de Fé e Moral, sustentando o Dogma da
                                    Infalibilidade Papal, ainda que tivesse tomado diversas decisões erradas
                                    na práxis e na vida pessoal.

                                            Pedro Celestino, eremita, fundador e Papa, nasceu em 1221 em
                                     Isenia, na província de Apulia. Tendo apenas seis anos de idade, disse à
                                     mãe: “Mamãe, quero ser um bom servo de Deus”. Fielmente cumpriu
                                     esta palavra, como se fosse uma promessa feita ao Altíssimo. Apenas
                                     tinha terminado os estudos, quando se retirou para um ermo, onde viveu
                                     dez anos. Decorrido este tempo, ordenou-se em Roma e entrou na Ordem
                                     Beneditina. Com licença do Abade, abandonou depois o convento, para
continuar a vida de eremita. Como tal, teve o nome de Pedro de Morone, nome tirado do morro de Morone,
ao sopé do qual erigira a cela em que morava.
       O tempo que passou naquele ermo, foi uma
época de grandes lutas, tentações e provações. As
perseguições que sofreu do espírito maligno, foram tão
pertinazes, que por longos meses deixou de celebrar a
Santa Missa, e chegou quase a abandonar a cela. A paz
e tranqüilidade voltaram, depois de Pedro ter
confessado o estado de sua consciência a um sábio
sacerdote.
       Em 1251, fundou, com mais dois companheiros,
um pequeno convento, perto do morro Majela. A
virtude dos monges animou outros a seguir-lhes o
exemplo. O número dos religiosos, sob a direção de
Pedro, cresceu de mês em mês, tanto, que o superior,
por uma inspiração divina, deu uma regra à nova
ordem, chamada dos Celestinos. Esta Ordem,
reconhecida e aprovada por Leão IX, estendeu-se
admiravelmente, e ainda em vida do fundador contava
36 conventos.
       Com a morte de Nicolau V, em 1292, ficou a
                                        Igreja sem Chefe. Dois anos durou o conclave, sem que os cardeais
                                        pudessem reunir os seus votos a um único candidato. Afinal, aos 5 de
                                        julho de 1294, contra todas as expectativas, e unicamente à insistência
                                        e pressão de Carlos II, rei de Nápolis, saiu eleito Pedro Morone, que
                                        fixava residência primeiro em Aquila, e depois em Nápolis. Ao
                                        piedoso e santo eremita faltavam por completo as qualidades
                                        indispensáveis para governar a Igreja, ainda mais num período tão
                                        crítico e difícil. Os Cardeais breve perceberam o erro, quando viram
                                        que o eleito, em vez de ouvir os seus conselhos, preferia seguir os do
                                        rei e de alguns monges excêntricos, ficando com isto seriamente
                                        prejudicados altos interesses da Igreja. O Pontífice por sua vez,
                                        reconheceu que estava deslocado, e deu-se pressa em abdicar (13-12-
                                        1294). Bonifácio VIII, seu sábio e zeloso sucessor, empregou todos os
                                        esforços para pôr cobro às opressões da Igreja pelo poder civil, no que
                                        se viu logo hostilizado por muitos Cardeais, que chegaram a declarar
                                        não justificada, e sem efeito a abdicação de Celestino, e ilegal a
                                        eleição de Bonifácio. Para afastar o perigo de um cisma, este mandou
fechar Celestino, até a morte, no castelo Fumone, cercando-o embora de todo o respeito.
       Pedro de boa vontade se sujeitou a esta medida coercitiva e passou dez meses, por assim dizer, na
prisão.
Por uma graça divina foi conhecedor do dia da sua morte, que predisse com toda exatidão. Tendo
recebido os Santos Sacramentos, esperou a morte, deitado no chão. As últimas palavras que disse foram as
do Salmo 150: “Todos os espíritos louvem ao Senhor”.
      Já em 1313 foi honrado com o título de Santo, pela canonização feita por Clemente V.
      A Ordem dos Celestinos estendeu-se rapidamente pela Itália, França, Alemanha e Holanda. Estimada
pelos príncipes, teve em todos os países uma bela florescência, até à grande catástrofe religiosa na Alemanha
e a Revolução Francesa. Na Itália existem ainda poucos conventos da fundação de Pedro Celestino.

      REFLEXÕES
       Houve um tempo na vida de São Pedro celestino em que, assustado por terríveis tentações e
escrúpulos, o Santo não mais ousou celebrar o Santo Sacrifício da Missa. Entre as pessoas que se aproximam
da Mesa Eucarística, há duas categorias: uma representada pelos tímidos e outra pelos audaciosos. Os
tímidos receiam acercar-se da Santa Comunhão, julgando-se indignos desta grande graça. Os audaciosos,
pelo contrário, não se preocupam com esta eventualidade. Fazem preparação rápida, rotineira e sem atenção
alguma. Se estes pecam por excesso de uma falsa familiaridade com Deus, os outros não são menos dignos
de censura. A recepção freqüente da Santa
Comunhão, longe de fazer arrefecer na
alma o fervor e a piedade, deve produzir-
lhe um amor cada vez mais ardente a
Nosso Senhor, e despertar-lhe o desejo de
tornar-se-lhe mais agradável, por uma
vida santa. Quem pratica a comunhão
quotidiana com outras intenções, que não
seja este desejo firme e a resolução de
desapegar-se cada vez mais dos pecados e
defeitos, não faz dela o uso que Deus
quer, e melhor seria que desistisse de uma
prática de que nenhum proveito pode
auferir, e por cima ainda provocará a justa
censura de outros, que não compreendem
como possa ser compatível a recepção da
Sagrada Comunhão cada dia, com a
existência e permanência de defeitos, que
exigem do próximo muita paciência para
os aturar.
       Os outros devem lembrar-se de que
ninguém é, nem pode ser digno de receber Nosso Senhor no coração. Não foi pela indignidade nossa que
Jesus Cristo se decidiu a instituir este grande Sacramento. Como entrou nas casas de pecadores e com eles
comia à mesa, assim nos visita na Santa Comunhão, com o fim de ser o alimento da nossa alma e de
proporcionar-lhe as graças de que necessita, para sua santificação.

     Gregório XII - O Grande Cisma do Ocidente:
O Papa e os dois anti-papas



      D         ecidido a resolver o problema do chamado
                Grande Cisma do Ocidente encarou-o de
                forma sincera, declarando inclusive a ideia
de abdicar a Cátedra de São Pedro, se isso resultasse em
paz definitiva. Declarou-se pronto a imitar a mãe que, em
presença do rei Salomão, preferiu entregar o próprio filho
em mãos estrangeiras a vê-lo morrer. Gregório XII
conquistou o coração do clero internacional e de diversos
soberanos, colocando o antipapa contra a parede. Este, sem
poder se esquivar de tal vontade, aceitou encontrar-se com
Gregório na cidade italiana de Savona.
       A ideia de abdicar resultou em uma rápida reação dos familiares de Correr, muitos deles já então
instalados em diversos postos de comando da administração da Igreja. Beneficiados pelo nepotismo,
reagiram firmemente à ameaça. Gregório XII então cedeu aos apelos da família. A opinião publica na época
ficou horrorizada com a atitude dos parentes do Papa, insultando-os inclusive com cartas "a Satanás",
endereçadas ao Arcebispo de Ragusa. Apesar do insucesso, Bento XIII se viu sob assédio em Avignon do rei
francês. Consegue fugir para Aragão em 1408, e, emitindo uma bula, convoca um concílio para Perpignan.
Em Paris, o rei decidiu então concorrer com ambos os Papas e decretou um outro Concilio, reunindo os
cardeais dos dois líderes católicos, a Pisa em marco de 1409. A convocação se deu por meio de sete cardeais
rebelados de Gregório XII porque este havia nomeado dois sobrinhos como cardeais. Unindo-se aos rebeldes
um grupo de cardeais de Avignon, reunidos em Livorno. A ideia era reunir os dois Papas e - fosse o caso -
força-los a renunciar ou então depô-los. Gregório XII reage com firmeza aos rebeldes, e após uma primeira
tentativa de aproximação e perdão, anunciando um novo Concílio em uma cidade do Veneto para esclarecer
os fatos. Não obtendo sucesso,acabou por nomear dez novos cardeais e excomungou os rebeldes. Dado a
reação da opinião publica romana, decide partir para uma região mais segura aos seus interesses, se mudando
para Rimini em 1409.
       Estava formada uma enorme confusão no seio da Igreja. Com tais acontecimentos, o primeiro
Concílio, em Perpignan (anunciado por Bento XIII) começou de fato, com a presença de 120 prelados e
diversos soberanos que estavam tomando partido de um ou de outro. O rei Roberto do Palatinado Renano
apoiava Gregório, porque via no Concílio de Pisa a influência poderosa do Rei da França. Ladislau I de
Nápoles, como titular de "defensor da Igreja de Roma", também se apoderou da cidade deixada pelo Papa e
anunciou ser contra o Concílio desejado pelo rei francês.
       Nesse clima de tamanha confusão iniciou-se o Concílio de Pisa em 25 de março de 1409, com a
presença de 10 cardeais fiéis a Bento XIII, 14 cardeais fiéis a Gregório XII, 4 patriarcas, 80 bispos, 27
abades e diversos doutores de Teologia e Direito Canónico, além de vários prelados que abandonaram
Perpignan. Como presidente do Concílio foi nomeado o cardeal de Poitiers, Guy de Maillesec.
       No primeiro dia foram chamados os dois Papas, esperados até o dia 30 de março e como não se
apresentaram, foram declarados ausentes. Gregório XII foi defendido pelo rei alemão Roberto do Palatinado
Renano, declarando ser ilegítimo um Concílio não anunciado pelo Papa e que qualquer ação em matéria de
renuncia do Papa seria portanto ilegal. Ignorado, o Concílio se declarou ecuménico e reuniu definitivamente
os presentes que recusaram a obediência tanto a Gregório como a Bento.
       A 5 de junho, o Patriarca de Alexandria leu a sentença que decretava Pedro de Luna (Bento XIII) e
Gregório XII retirados do cargo de líderes da Igreja Romana como cismáticos, considerando a sede vacante.
Dez dias depois, os 24 cardeais entraram em conclave e elegeram, por unanimidade, como novo Papa, o
Bispo de Milão, Pietro Filargo, que foi consagrado na Catedral de Pisa, em 7 de julho, assumindo o nome de
Alexandre V.
       Com intenção de prosseguir os trabalhos para afrontar os problemas imensos da Igreja, não teve
sucesso. Os prelados estavam esgotados de discussões. Concluiram-se os trabalhos e anunciou-se um novo
concílio específico para 1412.
       O caos na Igreja não diminuiu com a conclusão do Conclave de Pisa. Ao contrário, aumentou.
Teólogos e doutores de Direito Canónico já diziam que tal Concílio era uma farsa, sem fundamento jurídico.
Para piorar a situação, havia três papas no comando a Igreja: Gregório XII, que representava a Itália,
Alemanha e o norte da Europa; Bento XIII, que representava a Escócia, Espanha Sardenha, Córsega e parte
da França; e Alexandre V, com a maior parte das Ordens Religiosas decididas a fazer uma inteira reforma na
Igreja).
       Gregório XII não ficou todo esse tempo como espectador dos fatos. Conforme prometera, iniciou os
trabalhos no seu Concílio, na cidade de Cividale del Friuli (perto de Aquileia) e, no dia 22 de Julho, declarou
como legítimos apenas os pontífices sediados em Roma - de Urbano VI até ele próprio. Todos os demais
foram declarados antipapas - de Clemente VII até Bento XIII e, é claro, Alexandre V. Deixou claro que
estava ainda disposto a abdicar ao trono de Pedro, desde que os outros dois postulantes fizessem o mesmo e
que todas as correntes do pensamento da Igreja se reunissem em um único colégio no qual fosse eleito um
novo Papa, com aprovação de ao menos dois terços dos cardeais das três correntes. Procurou apoio dos reis
Roberto da Germânia, Ladislau de Nápoles) e Segismundo da Hungria, para que implementassem um plano
de paz permanente, segundo a sua própria ideia. Entretanto mais um problema explodiu nas mãos de
Gregório.
       A Sereníssima República de Veneza, juntamente com os Patriarcas de Aquileia e de Veneza,
proclamou-se obediente a Alexandre V e tentou prender Gregório XII. Este conseguiu fugir disfarçado,
enquanto seu funcionário - usando as roupas de Gregório - foi feito prisioneiro. Conseguiu chegar a Gaeta
sob proteção de Ladislau, rei de Nápoles.
       Roma, nesse meio tempo, era controlada por Luís d'Anjou, reconhecido como rei de Nápoles pelo
Concílio de Pisa, em detrimento de Ladislau. Assim, na primavera de 1410, Alexandre V pôde entrar em
Roma aclamado pelo povo da cidade como o verdadeiro Pontífice Romano. Breve, porém, foi sua
permanência. Aqueles que comandavam de fato o Concílio de Pisa, liderados pelo cardeal napolitano
Baldassarre Cossa, responsável pela região de Bolonha, já tramavam a substituição de Alexandre. Chamado a
Bolonha, Alexandre V morre no dia 5 de maio, provavelmente envenenado pelo próprio cardeal Cossa, que
rapidamente reuniu um novo conclave e, no dia 25 do mesmo mês, nomeou a si mesmo Papa, com o nome de
João XXIII - nome depois cancelado, só reaparecendo no século XX - e já no ano seguinte tomou posse da
cátedra romana.
       Gregório XII já não imaginava mais poder voltar a Roma. Para seu azar, Roberto da Germânia morreu
logo depois da coroação do antipapa João XXIII, e Ladislau, receoso de Luís d'Anjou, tratou com o ex-
cardeal Cossa para tê-lo ao seu lado contra Luís. Com isso, Ladislau retirou seu apoio a Gregório VII e
passou a apoiar João XXIII, eleito segundo ele "por inspiração divina".
       Em Roma, o antipapa João XXIII prosseguia com seus projetos de transformar o Vaticano em uma
fortaleza. Construiu a famosa passagem elevada que liga o Vaticano ao Castelo de Santo Ângelo, hoje
conhecida como Passetto, provavelmente restaurada pelo Papa Alexandre VI. Mas para sua surpresa,
chegavam da Alemanha notícias sobre um novo pretendente à coroa do Sacro Império Romano Germânico:
Segismundo, um dos príncipes alemães, que considerava a situação reinante - com três pontífices sendo que
nenhum dos três tinha autoridade de fato - intolerável para a cristandade. Como consequência, Ladislau
rompe com João XXIII, que foge para Florença, enquanto o rei de Nápoles saqueava Roma.
       Em 30 de outubro de 1413, Segismundo convoca todo o mundo religioso católico, incluindo príncipes
e soberanos, para um novo concílio ecumênico que seria aberto em [[Konstanz], no sul da Alemanha, na
fronteira com a Suíça, em 1 de abril de 1414. Convidados também foram os três papas reinantes, com o
propósito de resolver de vez a situação e acabar com o cisma religioso e com as novas heresias para afinal
reformar Igreja como instituição. O antipapa João XXIII aceitou a proposta e assumiu a convocação, para
"legalizar" o ato, anunciando-o como uma continuação do Concílio de Pisa. Gregório XII e Bento XIII
recusaram-se a participar. João XXIII, contente com a reação dos outros dois papas, obteve de Sigismundo,
Segismundo a garantia de proteção a sua vida e, no dia 28 de outubro de 1414, entrou triunfalmente na
cidade onde seria realizado o concílio. Além dele, vieram representantes de toda a Europa cristã, em um total
de mais de 1800 eclesiásticos, teólogos, bispos, arcebispos, patriarcas e cardeais, bem como os
representantes dos reinos interessados. Presidiu ao Concílio João XXIII. Segismundo, coroado Imperador do
Sacro Império Romano-Germânico em Aachen no dia 8 de novembro, chegou na véspera do Natal.
       A maior inovação foi dividir o concílio em cinco regiões, as mais importantes para a Igreja: Itália,
Germânia, França, Castela e Inglaterra, cada uma liderada por um bispo. Outra inovação foi o direito de voto
a todos os presentes, laicos inclusive, em um novo conceito de democratização da Igreja. Com isso a
autoridade era de todo o concilio e não apenas do Papa (ou de um deles…) sendo negado o direito divino de
soberania papal. Foi um duro golpe contra o poder da Igreja Romana, colocando em jogo o futuro do papado.
       Apesar de tudo, Gregório XII enviou seu representante na pessoa de Giovanni Domici de Ragusa,
anunciando que estava pronto a renunciar se os outros dois papas fizessem o mesmo. Pediu também que João
XXIII fosse retirado da presidência do Concílio. A assembleia do concilio aceitou a proposta de Gregório
XII, e João XXIII recitou sua parte no "teatro": em 2 de março de 1415 foi o protagonista principal.
Ajoelhou-se em frente ao altar e jurou ser seu único objetivo a paz na Igreja e o fim do Cisma. O ato,
teatralmente perfeito, tem nos bastidores a sua razão de ser: já começavam a circular vozes difamadoras
contra ele, que já não se sentia tão seguro do seu poder. Com a ajuda de Frederico, duque da Áustria, fugiu e
refugiou-se na cidade de Sciaffusa, denunciando posteriormente as intrigas e os preconceitos do concílio,
bem como a violação das prerrogativas papais.
       Para confirmar a regra, houve nova confusão, e somente com a inteligência de Segismundo e do
cardeal Pierre d'Ailly evitou-se a dissolução do concílio. Chegou-se a conclusão que os três papas deveriam
renunciar por livre vontade ou seriam forçados a isso - a começar por João XXIII, cujo destino fora selado
pelo regente de Nuremberg, que o levara de Sciaffusa para uma cidade próxima ao local do concílio. No dia
29 de maio, seu título de Papa foi retirado. Declarado culpado pela situação, o antipapa foi posto na prisão.
Depois de implorar pelo perdão, João XXIII foi entregue por Segismundo conde do Palatinado Renano, que
o manteve sob custódia. Continuou prisioneiro dos príncipes alemães até que o novo Papa, Martinho V
mandou soltá-lo, perdoou-o e o nomeou cardeal-bispo de Tuscolo, cidade onde morreu em 1420.
       Depois de João XXIII, foi a vez de Gregório XII, que se comportou com muita dignidade. Em 15 de
junho de 1416 encarregou seu amigo e protetor Carlo Malatesta de comunicar à assembleia que
"espontaneamente" abdicava ao papado e, para oficializar o concilio (pois era ele o único Papa de fato),
declarou-o aberto naquele dia através de seu representante, o Cardeal Dominici, e legitimou todos os atos do
concilio. Dai em diante não haveria mais contestações quanto à legitimidade do Concílio de Constança.
       No dia 4 de julho, Carlo Malatesta apresentou então a carta de renúncia de Gregório XII e, em
reconhecimento pela dignidade mostrada pelo Papa, o concílio o convidou a assumir o bispado do Porto e a
representação pontifícia da região italiana do Marche. Gregório XII então agradeceu a assembleia em uma
carta que assinou com seu nome de batismo: "Angelo, Cardeal e Bispo". Morreu na cidade de Recanati em
18 de outubro de 1417 e foi sepultado na catedral daquela cidade.

      Bento XVI, o Grande – Genial Teólogo e o Papa da Humildade


      C       reio que o título de “o Grande” valha não só por
              toda sua obra, não só pelo seu magnífico papado
              e sua grandessíssima contribuição à Igreja,
Corpo Místico de Cristo, mas também pela sua força ante às
perseguições que sofrera desde que fora eleito e às quais
corajosamente resistiu e venceu, como também pela sua
humildade sem tamanho na renúncia por amor à Noiva do
Cordeiro, sem manchas nem rugas.

      Durante toda sua vida sempre foi brilhante teólogo,
continua, e continuará sendo após sua retirada da Sé Petrina,
sendo autor de diversos livros, portador de diversos títulos de
honra, sendo o maior deles o de Sucessor de Pedro, o qual
jamais perderá, mesmo após perder o poder.

                                                                         Joseph Ratzinger, Papa Bento XVI,
                                                                  nasceu em 16 de abril de 1927, cidade de
                                                                  Marktl, diocese de Passau – Alemanha. O
                                                                  pai era Comissário de Polícia e era
                                                                  originário de uma tradicional família de
                                                                  agricultores na Baixa Baviera. Passou sua
                                                                  adolescência em Traunstein e no ano de
                                                                  1939,      ingressou    num       seminário
                                                                  preparatório. Quatro anos mais tarde
                                                                  (1943), com 16 anos de idade, junto com
                                                                  os integrantes de sua classe, foi designado
a prestar serviços em baterias anti-aéreas por ocasião da Segunda Guerra Mundial. Prestou ainda treinamento
básico para a infantaria de Wehrmacht no mês de novembro de 1944. Por isso, em 1945, acabou sendo preso
por tropas americanas, que imaginavam ser ele um soldado alemão, e por isto foi encaminhado a um
acampamento para prisioneiros de guerra, mas acabou
sendo libertado no mês de junho de 1945. Foi quando
reingressou no seminário.
       Em 29 de junho de 1951 ele e seu irmão Georg
foram ordenados sacerdotes. Iniciou aqui suas atividades
de professor, especializando-se nas faculdades de
teologia e filosofia de Freising. Em 1953, doutorou-se
em teologia com a dissertação “O Povo e a Casa de Deus
na Doutrina da Igreja, de Santo Agostinho”. Quatro anos
mais tarde obteria a cadeira com seu trabalho sobre “A
Teologia da História de São Boaventura”. Pela sua
notável intelectualidade e experiência, foi-lhe atribuído o
encargo de dirigir a Dogmática e Teologia Fundamental
na Escola Superior de Filosofia e Teologia de Freising.
       Ministrou seus ensinamentos em Bonn de 1959 a 1969, paralelamente em Münster (1963 a 1963) e
Tubing (1966 a 1969). Neste último ano, passou a ser catedrático de Dogmática e História dos Dogmas na
Universidade de Rabistona, exercendo o cargo de vice-presidente na mesma universidade. Em 1962
contribuiu notavelmente nas comissões do concílio Vaticano II como consultor teológico do cardeal Joseph
Frings, Arcebispo de Colona.
Entre suas numerosas publicações, destacam-se: “Introdução ao
                                     Cristianismo”, que trata de uma recompilação das lições universitárias
                                     publicadas em 1968 sobre a profissão da fé apostólica; “Dogma e
                                     Revelação” (1973), que é uma coletânia de ensaios, pregações e reflexões
                                     pastorais. Nesta ocasião, obteve notável ressonância seu discurso,
                                     pronunciado na Academia Católica bávara, sobre o tema “Porque sigo,
                                     todavia, na Igreja?”, onde afirmou: “Só é possível ser cristão na Igreja, ao
                                     lado da Igreja”. Em 1985 publicou o “Informe sobre a fé” e, em 1996 “O
                                     Sal da Terra”.Em 24 de Março de 1977, o Papa Paulo VI o nomeou
                                     Arcebispo de Munique para, no dia 24 de maio subseqüente receber a
                                     consagração episcopal. Foi ele o primeiro sacerdote diocesano a assumir,
                                     depois de 80 anos, o governo pastoral da grande diocese bávara.
                                            Em 1977, o Papa Paulo VI o nomeou cardeal, tendo participado da
                                     Assembléia Geral do Sínodo dos Bispos como relator, em 1980, que
                                     tratou dos temas: “Os deveres da família cristã no mundo
                                     contemporâneo” e “Reconciliação e penitência e a missão da Igreja”.Em
25 de novembro de 1981 foi nomeado por João Paulo II como prefeito da Congregação para a Doutrina da
Fé; e pesidente da Pontifícia Comissão Bíblica e Pontifícia Comissão teológica Internacional. Em novembro
de 1998 foi eleito vice-decano do colégio
cardinalício e, em 30 de novembro de 2002, o Santo
Padre aprovou sua eleição de decano do colégio
cardinalício, realizada por cardeais da ordem dos
bispos.
        Foi presidente da Comissão para a preparação
do Catecismo da Igreja Católica, que lhe custou seis
anos de intensos trabalhos (1986 a 1992).
        Em 10 de novembro de 1999 recebeu o
doutorado "honoris causa" de Direito, emitido pela
Universidade Italiana - LUMSA. Em 13 de
novembro de 2000, foi acadêmico honorário da
Pontifícia Academia de Ciências.
        Acumulou diversas outras importantes funções
como: Membro do Conselho da II Secção da
Secretaria de Estado, das Congregações para as
Igrejas Orientais, para o Culto Divino e a Disciplina
dos Sacramentos, para os bispos, para a
Evangelização dos Povos, para a Edcucação
Católica, do Pontifício Conselho Para a Promoção e
Unidade dos Cristãos e das Pontifícias Comissões
para a América Latina e "Ecclesia Dei".
        Durante sua trajetória, defendeu resolutamente os valores valores evangélicos e cristãos, empenhando-
se decididamente a combater conceitos estranhos que pudessem, de qualquer forma, vir atingir os valores
doutrinários da Igreja. De personalidade forte, nunca poupou palavras para defender os preceitos da religião
católica. Por suas exposições, muitas vezes duras, porém verdadeiras, enfrentou constantes críticas,
perseguições e declaradas inimizades.
        Desde 1981, quando foi nomeado como Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, arrebanhou
uma larga fileira de inimigos, ao empenhar-se dedicadamente aos processos a si atribuídos, que visavam a
investigação e controle da ortodoxia. Condenou a Teologia da Libertação, pelo seu conteúdo exclusivamente
social, baseado em conceito ideológico e marxista. Também repudiou a manifestação de sacerdotes asiáticos,
que tentaram colocar a doutrina da Igreja Católica no mesmo plano das religiões não-cristãs que, segundo
eles, também faziam parte do plano de Deus para a salvação da humanidade.
        Muitos, não conseguindo enxergar seu zelo como preservador da doutrina de Cristo, o taxaram de
"conservador" radical, diante da sua inflexibilidade ante surgimento de ideologia terrenas e condenando
também temas como homossexualidade, matrimônios gays, controle da natalidade, uso de métodos artificiais
para evitar a contracepção ou evitar a Aids, aborto, eutanásia, ordenação de mulheres e o sincretismo
religioso. Demonstrou afabilidade ao diálogo inter-religioso, ao mesmo tempo que mostrou-se inflexível
quanto aos pontos doutrinários e dogmáticos. Dentro disto, foi que manifestou certa restrição às relações
ecumênicas, que pendiam para a unificação de idéias em filosofias diversificadas, inconciliáveis à doutrina
da Igreja, além de atacar os modismos e tendências atéias da modernidade.
       Assumiu o nome de Bento XVI, no dia 19/04/2005, conforme anúncio à multidão congregada no
Vaticano, que aguardava ansiosa após o anúncio da eleição do novo Papa, pela fumaça branca da chaminé
vista por todos na Praça de São Pedro.




      Em sua primeira aparição pública, o recém-eleito Pontífice pediu ao mundo que rezasse por ele e por
seu papado. "Entrego-me às vossas preces", disse o Papa à grande multidão, vindas de todas as partes do
mundo. Foi ovacionado e interrompido por diversas vezes com gritos e aplausos. Vestido com os paramentos
papais, Bento XVI deu sua primeira bênção à cidade de Roma e ao mundo (bênção "Urbi et Orbi")
      Bento XVI é o Papa mais idoso, desde Clemente XII, que também tinha 78 anos, quando eleito em
1730 e o primeiro Papa alemão, desde Vitor II (1055).

      Quando o Papa Bento XVI visitou a tumba do papa Celestino V em 2010, ele retirou seu pálio e o
deixou em cima da tumba, em ato de clara homenagem.

      São Celestino V foi papa, santo e também renunciou por motivos de saúde.
      Recentemente Bento XVI afirmou em entrevista que se um papa não é capaz de cumprir seus deveres
como papa, deveria deixar o cargo. Provavelmente viu no exemplo de São Celestino a confirmação de que a
renúncia de um cargo pontifício não significa aversão a vontade de Deus.

      Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano, já noticiou que após um breve período em Castel
Gandolfo, Bento XVI irá se recolher num mosteiro de clausura. Mais uma semelhança com São Celestino V,
que também renunciou ao papado para terminar seus dias em oração dentro de um mosteiro.

     Quiçá as semelhanças entre Celestino V e Bento XVI não parem por aí: que seja Bento XVI santo
como Celestino!
A Renúncia




      Q        uando eleito Bento XVI dissera que o seu pontificado seria curto. Um mandato de transição até
               a Igreja escolher um papa mais novo. Mas, aparentemente, ninguém esperava uma renúncia. O
               mundo que viu João Paulo II agonizar em praça pública e não renunciar, surpreendeu-se com a
atitude do Sumo Pontífice. Apesar, todavia, da perplexidade na qual nos encontramos, manifestamos,
claramente que apoiamos o Santo Padre,
certos de que ele optou pelo melhor da
Igreja – uma atitude de grande humildade
e de grande sabedoria.
        Longe, porém das profecias de final
dos tempos, acho mais prudente enxergar
na atitude do Sumo Pontífice a
honestidade de um homem e o amor deste
homem pela Igreja de Cristo.
        É claro que, por um lado ficamos
tristes!    Acostumamo-nos        com    os
ensinamentos de autoridade de Bento XVI,
esperávamos grandes conclusões em seu
pontificado e fomos surpreendidos com a
humildade de um homem extremamente
corajoso e com uma confiança em Cristo
de tamanho incalculável. Renuncia ele,
certo de que Nosso Senhor continuará
guiando a Igreja. Quer uma prova de
grande fé? Basta olhar a atitude deste
homem! Olhando para sua renúncia,
somos convidados a enxergar com novos olhos o Ano da Fé por ele proclamado.
        Em seu livro “Luz do Mundo” ele já defendera esse direito. Talvez, àquela altura, já estivesse
prevendo a necessidade deste ato corajoso.
        Em discurso ao Consistório dos Cardeais reunidos diante dele, o Papa declarou que o faz "bem
consciente da gravidade deste ato" e "com plena liberdade".
        É evidente que a renúncia de um Papa é algo inaudito nos tempos modernos. A última renúncia foi de
Gregório XII em 1415. A notícia nos deixa a todos perplexos e com um grande sentimento de perda. Mas
este sentimento é um bom sinal. É sinal de que amamos o Papa, e, porque o amamos, estamos chocados com
a sua decisão.
        Diante da novidade do gesto, no entanto, já começam a surgir teorias fabulosas de que o Papa estaria
renunciando por causa das dificuldades de seu pontificado ou que até mesmo estaria sofrendo pressões não
se sabe de que espécie.
        O fato, porém, é que, conhecendo a personalidade e o pensamento de Bento XVI, nada nos autoriza a
arriscar esta hipótese. No seu livro Luz do mundo (p. 48-49), o Santo Padre já previa esta possibilidade da
renúncia. Durante a entrevista, o Santo Padre falava com o jornalista Peter Seewald a respeito dos escândalos
de pedofilia e as pressões:
       Pergunta: Pensou, alguma vez, em pedir demissão?
       Resposta: Quando o perigo é grande, não é possível escapar. Eis porque este, certamente, não é o
momento de demitir-se. Precisamente em momentos como estes é que se faz necessário resistir e superar as
situações difíceis. Este é o meu pensamento. É possível demitir-se em um momento de serenidade, ou
quando simplesmente já não se aguenta. Não é possível, porém, fugir justamente no momento do perigo e
dizer: "Que outro cuide disso!"
       Pergunta: Por conseguinte, é imaginável uma situação na qual o senhor considere oportuno que o Papa
se demita?
       Resposta: Sim. Quando um Papa chega à clara consciência de já não se encontrar em condições
físicas, mentais e espirituais de exercer o encargo que lhe foi confiado, então tem o direito – e, em algumas
circunstâncias, também o dever – de pedir demissão.
       Ou seja, o próprio Papa reconhece que a renúncia diante de crises e pressões seria uma imoralidade.
Seria a fuga do pastor e o abandono das ovelhas, como ele sabiamente nos exortava em sua homilia de início
de ministério: "Rezai por mim, para que eu não fuja, por receio, diante dos lobos" (24/04/2005).
       Se hoje o Papa renuncia, podemos deduzir destas suas palavras programáticas, é porque vê que seja
um momento de serenidade, em que os vagalhões das grandes crises parecem ter dado uma trégua, ao menos
temporária, à barca de Pedro.
       Podemos também deduzir que o Santo Padre escolheu o timing mais oportuno para sua renúncia,
considerando dois aspectos:
       1. Ele está plenamente lúcido. Seria realmente bastante inquietante que a notícia da renúncia viesse
num momento em que, por razões de senilidade ou por alguma outra circunstância, pudéssemos
legitimamente duvidar que o Santo Padre não estivesse compos sui (dono de si).
       2. Estamos no início da quaresma. Com a quaresma a Igreja entra num grande retiro espiritual e não há
momento mais oportuno para prepararmos um conclave através de nossas orações e sacrifícios espirituais. O
novo Pontífice irá inaugurar seu ministério na proximidade da Páscoa do Senhor.
       Por isto, apesar do grande sentimento de vazio e de perplexidade deste momento solene de nossa
história, nada nos autoriza moralmente a duvidar do gesto do Santo Padre e nem deixar de depositar em Deus
nossa confiança.

      A decisão de Bento XVI demonstra Sabedoria


      E       le viu os sofrimentos de João Paulo II. Foram úteis como exemplo naquele momento. Mas
              seria inútil à causa do Evangelho a repetição de tal evento também com Bento XVI no
              Pontificado. Bento XVI julgou mais útil à causa de Deus mostrar que as coisas podem ocorrer
dentro da normalidade de uma sucessão com ele ainda em vida. É isto que está fazendo, ou teria suportado
até o último sopro de vida. Não é uma opção de rompante, mas um ato consciente do Sumo Pontífice que o
faz para a Glória de Deus.

       A Infalibilidade Papal neste caso não se aplica. Não é uma Questão de Fé, mas de foro íntimo. Apesar
disso, o tempo demonstrará a Sabedoria de Deus em mais esta ação do Papa Bento XVI.

      Nós católicos não queremos um papa brasileiro. Queremos um papa fiel a Jesus Cristo.
O anúncio oficial
      O Papa anunciou sua renúncia no final de um consistório público em Roma:

       Caros irmãos:
       Convoquei-os para este consistório, não apenas para as três canonizações, mas também para
comunicar a vocês uma decisão de grande importância para a vida da Igreja. Após ter repetidamente
examinado minha consciência perante Deus, eu tive certeza de que minhas forças, devido à avançada idade,
não são mais apropriadas para o adequado exercício do ministério de Pedro. Eu estou bem consciente de
que esse ministério, devido à sua natureza essencialmente espiritual, deve ser levado não apenas com com
palavras e fatos, mas não menos com oração e sofrimento. Contudo, no mundo de hoje, sujeito a mudanças
tão rápidas e abalado por questões de profunda relevância para a vida da fé, para governar o barco de São
Pedro e proclamar o Evangelho, é necessário tanto força da mente como do corpo, o que, nos últimos
meses, se deteriorou em mim numa extensão em que eu tenho de reconhecer minha incapacidade de
adequadamente cumprir o ministério a mim confiado. Por essa razão, e bem consciente da seriedade desse
ato, com plena liberdade, declaro que renuncio ao ministério como Bispo de Roma, sucessor de São Pedro,
confiado a mim pelos cardeais em 19 de abril de 2005, a partir de 28 de fevereiro de 2013, às 20h, a Sé de
Roma, a Sé de São Pedro, vai estar vaga e um conclave para eleger o novo Sumo Pontífice terá de ser
convocado por quem tem competência para isso.
       Caros irmãos, agradeço sinceramente por todo o amor e trabalho com que vocês me apoiaram em
meu ministério, e peço perdão por todos os meus defeitos. E agora, vamos confiar a Sagrada Igreja aos
cuidados de nosso Supremo Pastor, Nosso Senhor Jesus Cristo, e implorar a sua santa mãe Maria, para que
ajude os cardeiais com sua solicitude maternal, para eleger um novo Sumo Pontífice. Em relação a mim,
desejo também devotamente servir a Santa Igreja de Deus no futuro, através de uma vida dedicada à
oração.
A declaração do Cal. Ângelo Sodano, decano do Colégio Cardinalício

 A     presentamos as palavras do Cardeal Ângelo Sodano, decano do Colégio Cardinalício, após a
       declaração de Bento XVI.
        Ouvimos a declaração de Vossa Santidade atônitos, quase incrédulos. Sentimos nas
 vossas palavras o grande afeto que sempre tivestes pela Santa Igreja de Deus, por esta Igreja
 que tanto amais. Permiti-me dizer-vos, em nome deste cenáculo apostólico, o colégio
 cardinalício, em nome destes vossos caros colaboradores, que nós estamos ao vosso lado,
 como estivemos durante esses oito anos luminosos do vosso pontificado.
        Em 19 de abril de 2005, se bem me lembro,
 no fim do conclave, eu vos perguntei com voz
 trêmula: "Aceitais a vossa eleição canônica a
 Sumo Pontífice?", e não tardastes a responder,
 ainda com trepidação, que aceitáveis, confiando
 na graça de Nosso Senhor e na intercessão
 materna de Maria, Mãe da Igreja.
        Como Maria, destes naquele dia o vosso
 "sim" e começastes o vosso luminoso pontificado
 na estela da continuidade, daquela continuidade
 de que tanto nos falastes na história da Igreja, na
 estela da continuidade dos vossos 265
 predecessores na Cátedra de Pedro, no curso de
 dois mil anos de história, do apóstolo Pedro, o pescador humilde da Galileia, até os grandes
 papas do século passado, de São Pio X ao beato João Paulo II.




       Santo Padre, antes do próximo dia 28 de fevereiro, como dissestes, antes do dia em que
 desejais inscrever a palavra "fim" neste vosso serviço pontifical, feito com tanto amor, com
 tanta humildade, antes daquele 28 de fevereiro ainda teremos oportunidades para vos
 expressar melhor os nossos sentimentos. Assim farão os muitos pastores e fiéis espalhados
 pelo mundo, os muitos homens de boa vontade, junto com as autoridades de muitos países.
 Ainda neste mês, teremos a alegria de ouvir a vossa voz de pastor nesta quarta-feira de
 cinzas, na quinta-feira com o clero de Roma, no ângelus dos próximos domingos, nas
 audiências das quartas-feiras; serão muitas ocasiões ainda para ouvirmos a vossa voz
paterna.
             A vossa missão, porém, continuará: dissestes que estareis sempre próximo, com o vosso
       testemunho e com a vossa oração. As estrelas no céu continuam sempre a brilhar; assim,
       brilhará sempre em meio a nós a estrela do vosso pontificado. Estamos convosco, Santo
       Padre. A vossa bênção!

       A declaração oficial da CNBB


       N        a tarde de hoje, a presidência da Conferência Episcopal dos Bispos do Brasil (CNBB),
                assinalou em nota oficial sua surpresa pela notícia da renúncia de Bento XVI ao ministério
                petrino, e agradece
ao Papa pelo carinho demonstrado a
Brasil ao longo do seu pontificado,
assegurando-lhe das orações dos
prelados brasileiros.


      A seguir, a íntegra da nota
dos bispos do Brasil, assinada por
Dom Raymundo Damasceno Assis
      Arcebispo de Aparecida,
Presidente da CNBB; Dom José
Belisário da Silva, Arcebispo de São
Luís
      Vice-presidente da CNBB.
Dom Leonardo Ulrich Steiner,
Bispo Auxiliar de Brasília e
Secretário Geral da entidade:

       Brasília, 11 de fevereiro de
2013
       P. Nº 0052/13

       “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei minha Igreja” (Mt 16,18)

      A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB recebe com surpresa, como todo o mundo, o
anúncio feito pelo Santo Padre Bento XVI de sua renúncia à Sé de Pedro, que ficará vacante a partir do dia
28 de fevereiro próximo. Acolhemos com amor filial as razões apresentadas por Sua Santidade, sinal de sua
humildade e grandeza, que caracterizaram os oito anos de seu pontificado.

       Teólogo brilhante, Bento XVI entrará para a história como o “Papa do amor” e o “Papa do Deus
Pequeno”, que fez do Reino de Deus e da Igreja a razão de sua vida e de seu ministério. O curto período de
seu pontificado foi suficiente para ajudar a Igreja a intensificar a busca da unidade dos cristãos e das
religiões através de um eficaz diálogo ecumênico e inter-religioso, bem como para chamar a atenção do
mundo para a necessidade de voltar-se ao Deus criador e Senhor da vida.

       A CNBB é grata a Sua Santidade pelo carinho e apreço que sempre manifestou para com a Igreja no
Brasil. A sua primeira visita intercontinental, feita ao nosso País em 2007, para inaugurar a V Conferência
Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, e, também, a escolha do Rio de Janeiro para sediar a
Jornada Mundial da Juventude, no próximo mês de julho, são uma prova do quanto trazia no coração o
povo brasileiro.

      Agradecemos a Deus o dom do ministério de Sua Santidade Bento XVI a quem continuaremos unidos
na comunhão fraterna, assegurando-lhe nossas preces.

      Conclamamos a Igreja no Brasil a acompanhar com oração e serenidade o legítimo processo de
eleição do sucessor de Bento XVI. Confiamos na assistência do Espírito Santo e na proteção de Nossa
Senhora Aparecida, neste momento singular da vida da Igreja de Cristo.

   Sobre qual será o estado de Bento XVI e de suas vestes após a sua
demissão
      1. Já foi confirmado que Bento XVI será "emérito" quanto ao ofício de Bispo de Roma e de Sucessor
de São Pedro, cargos intimamente ligados. Portanto, até o que nos consta, será "Papa emérito", igualmente ao
Papa Celestino V, único caso igual ao de Bento XVI.

      2. Ele não retomará o título de Cardeal da Santa Igreja Romana. O ministério petrino, do qual ele
apenas terá demissão e não deposição, está muitíssimo acima do ministério cardinalício.

     3. Continuará a ser intitulado como "Papa Bento XVI", sob o título de Papa Emérito, ou Bispo Emérito
de Roma.

      4. Não, ele não ingressará no próximo conclave para a eleição de seu sucessor, pois já tem idade
superior a permitida.

      Portanto, segundo informam nossas fontes, é certo que:

       Ele permanece com o direito ao uso de batina branca com faixa munida do brasão bordado, cujas
franjas são douradas, "mozzeta" branca para o período pascal e vermelha para o restante do ano litúrgico.
Contudo, como qualquer bispo com direito ao pálio, Bento XVI não o usará mais a partir do próximo dia 28,
assim como não fará mais uso do Anel do Pescador, que expressa a titularidade do ministério petrino àquele
que o carrega e ao qual o Papa Bento XVI não mais terá, a partir do dia 28.
O Conclave


      F       alando sobre o Sacro
              Colégio Cardinalício,
              mergulhando um pouco
na história, vimos no século XX uma
alteração substancial. Por exemplo,
embora Pio XII em seus 19 anos de
pontificado,     tenha     convocado
somente dois consistórios, devido à II
Guerra Mundial e as consequências
dela, o que fez que houvesse somente
51 cardeais para o Conclave que
elegeu João XXIII em 1958. Pio XII
foi o primeiro a internacionalizar de
maneira marcante o Sacro Colégio.

       João XXIII, em seu primeiro
consistório, dois meses após a sua
eleição criou numa só vez 22 novos
cardeais, voltando ao parâmetro de
Sisto V, mas sucessivamente, rompeu
esta barreira. Em seu curto pontificado (quatro anos e meio), criou ao todo 52 novos cardeais. Vale lembrar
que só havia 51, quando ele fora eleito.

      Paulo VI transformou a dignidade cardinalícia em um serviço, quase que em um sacramental. Os
cardeais já não seriam "Príncipes da Igreja", conforme o Tratado de Latrão, mas o "senado" do Papa, seus
conselheiros imediatos, cuja principal atribuição continua sendo de prover um novo sucessor de Pedro,
                                                     quando da morte do Papa.

                                                             O Código de Direito Canônico ainda afirma
                                                      que se o eleito não for bispo, deve ser consagrado, de
                                                      imediato, embora não afirme que deva ser na Capela
                                                      Sistina. É bom lembrar que a Capela Sistina se tornou
                                                      o "colégio eleitoral" só depois de 1870. O primeiro
                                                      papa a ser eleito dentro dela foi Leão XIII. O seu
                                                      antecessor, Pio IX, tinha sido eleito no Palazzo del
                                                      Quirinale, ao lado da Catedral de Roma, São João de
                                                      Latrão. Il Palazzo del Quirinale foi confiscado pelo
                                                      rei da Itália em 1870 e hoje é sede da Presidência da
                                                      República italiana.

                                                             O mesmo Código de Direito Canônico também
                                                      não afirma que necessariamente o eleito tem que estar
                                                      presente ou ser um cardeal. Qualquer cristão pode ser
                                                      eleito Papa! Houve muitos que qundo foram eleitos,
                                                      nem padres eram! Por exemplo: São Gregório Magno,
                                                      São Celestino V.

                                                             Alguns casos mais recentes de cardeais que
                                                      foram eleitos papas e que não eram bispos: Clemente
                                                      VIII (1592-1605), Pio VI (1775-1799), Clemente XIV
                                                      (1769-1774), Gregório XVI (1831-1846), este foi o
                                                      último. Todos eles, depois de eleitos foram ordenados
                                                      bispos pelo cardeal-decano, o cardeal-bispo de Ostia,
assistidos por mais dois outros cardeais-bispos. É bom lembrar que entre os cardeais, só seis portam o título
de cardeal-bispo, por ocuparem uma das sete antigas dioceses suburbicárias de Roma, que são: Ostia,
Velletri-Segni, Porto-Santa Rufina, Frascati (Tusculum), Palestrina, Albano e Sabina-Poggio Mirteto. Desde
o século III, o bispo de Ostia tinha já o privilégio de ordenar bispo ao Papa eleito. Nesta época, normalmente
o eleito era escolhido dentre os diáconos da igreja de Roma.

      Só dois cardeais brasileiros chegaram a receber o título de cardeais-bispos: Dom Agnelo Rossi e Dom
Lucas Moreira Neves. Aliás, Dom Agnello Rossi chegou a ser cardeal-bispo de Ostia, portanto decano do
Sacro Colégio. Ele renunciou ao título quando completou 80 anos e preferiu voltar para o Brasil e morrer
aqui.

       Pio XII tinha a intenção de internacionalizar a Igreja, e de diminuir o poder da curia romana. Na
verdade, essa intenção vem já desde São Pio X, mas as guerras e outros problemas mais urgentes, assim
como a ainda dificuldade de comunicação e movimentação, havia tornado impossível colocar essas medidas
em prática. Pio XI queria muito, mas tudo o que levou até a segunda guerra não permitiu. O ápice dessa
internacionalização ocorreu com o Papa João XXIII, que elevou um africano, um mexicano, um uruguaio,
um americano, um japonês etc. Representando assim, os 5 continentes e o fato de que a Santa Igreja estava
presente e atuante em todos os cantos do mundo.

      Ou seja, a internacionalização foi uma coisa progressiva e vinha na agenda papal desde o começo do
século XX. Culminou com João XXIII, e se mantém até hoje.

       E foram 23 cardeais no primeiro consistório de João XXIII, quebrando o máximo de Sisto V (70
cardeais como número máximo). Sendo que, de acordo com algumas fontes, assim como muitos papas antes
dele, ele teria criado 3 "in pectore".

      Se um Conclave entrar num impasse e se os cardeais quiserem eleger um leigo, canonicamente, não há
problema algum. Pelo menos, nunca sei se atualmente haje algum empecilho jurídico. O leigo eleito será
convocado e se aceitar, receberá os sacramentos da Ordem em seus três graus, simultaneamente, pelas mãos
do cardeal-decano e tomará posse como sucessor de São Pedro.

       Como é sabido, a primeira providência, já às portas fechadas, o cardeal-decano procedia a eleição dos
cardeais escrutinadores, que são três. No caso do último conclave, suponho que esta eleição ocorreu durante
as reuniões fechadas pré-conclave que aconteceram na "Casa Santa Marta". Há umas regras não escritas, que
permitem um rápido desfecho. Isso se explica como na mesma noite da abertura do conclave, tenha-se
realizado já a primeira votação. Decisão sábia! Deste modo, os cardeais tiveram uma noite para pensar, sentir
as tendências do conclave e no dia seguinte partirem para a sua conclusão.

      Bem, depois que todos os votos estão depositados dentro de um grande cálice, o primeiro escrutinador,
depois de tê-lo agitado bem, abre-o e conta as cédulas, ainda fechadas. Se são 120 cardeais-eleitores, deve
haver as 120 cédulas. Se o número não bater, a eleição está anulada e vai diretamente para a "fornalha". Se
houver as 120 cédulas, o primeiro escrutinador abre uma por uma, mostra-a aos outros dois e lê em voz alta o
nome do candidato. Um deles, anota o voto e o outro "costura" as cédulas apuradas. Se algum eleitor
conseguiu a maioria de 2/3+1, ele está, canonicamente, eleito e deve aceitar, a não ser que tenha um grave
impendimento pessoal, por exemplo, uma doença grave, desconhecida dos outros cardiais, que justifique sua
recusa.

       Cabe, então, ao cardeal-decano, junto com os escrutinadores, dirigirem-se até o eleito e o fazer a
célebre pergunta:Acceptasne electionem? Diante da resposta positiva, o eleito tira o seu solidéu e vai
anunciar a escolha de seu novo nome. Aí, que o cardeal-decano ordena que se abra a porta para a entrada do
Mestre-cerimônias e o Sacristão do Conclave que vão acompanhar o eleito até a chamada Aula Lacrimarum,
onde três jogos de sotainas, três sapatos (pantufas) de diferentes tamanhos o aguardam. De lá, ele já sai
revestido com a sotaina pontifícia.

      Realmente, até antes da reforma do conclave feita por Paulo VI - ao longo dos séculos, ele vem sendo
reformado, comesticamente, - os cerimoniários entravam logo a seguir da obtenção dois terços, pois cabiam
a eles irem puxando os cordões dos baldaquinos que cobriam os "tronos" dos demais cardeais, ficando
descoberto somente o do novo Papa. Como pode-se ver em fotos ou mesmos em vídeos que mostravam a
Capela Sistina antes do conclave, que tais tronos e baldaquinos já não existem mais, o que torna a presença
de um não cardeal no momento, dispensável.
       O secretário do conclave realmente não é um cardeal. Aliás, a tradição é a de que ele é honrado com o
púrpura pelo papa eleito por seus serviços. Mas não é ele que faz a pergunta, e sim o decano do colégio de
cardeais.
       É óbvio que há tendências e opiniões divergentes entre os eleitores, mas eles estão certos que a escolha
final será feita pelo Espírito Santo. Portanto, cada um, após cada eleição onde não se obteve a maioria de
2/3+1, necessariamente, tem que rever o seu voto e "despejar" o seu voto naqueles que estão sendo mais
votados. É assim que se chega ao consenso. Nas reuniões pré-conclaves, há muitas consultas entre eles. Não
se pode criar partidos ou citar nomes, criar blocos, mas essa troca de informações, invarialmente, já definem
os prováveis candidatos. São os nomes que a imprensa em geral divulgam. Mas, há uma regra implacável,
não escrita, que se aplica à risca. Quando acontece um empate entre dois candidatos, "queimam-se" os dois e
vai à procura do "tertius".

      Para entender, podemos fazer uma simulação: Um conclave com 120 eleitores (o número máximo).
Para alguém ser eleito, ele precisa de 2/3+1 dos votos, portanto, mínimo de 81 votos. A exigência de 2/3+1
dos votos foi introduzida por Pio XII, para prevenir que um candidato possa se eleger, votando em si mesmo.
Portanto, a exigência de um voto a mais dos 2/3 necessários, elimina, automaticamente, o seu próprio voto.

       Há, cada dia, quatro votações. Em cada votação, quando não se obtem a eleição, as cédulas
"costuradas" por um dos cardeais escrutinadores são queimadas com palha úmida.
       .
       Conclusão: "fumaça preta" - nenhum Papa! Quando se obtem a eleição canônica, queimam-se as
cédulas, com todas os blocos de notas que os cardeais usaram para suas próprias anotações com palha seca,
daí a "fumaça branca" que anuncia que já há um novo Papa. Esta procedência é para preservar o segredo do
conclave, que nenhum cardeal deve tornar público sob pena de excomunhão. Mas, sempre algo escapa! Hoje
também, incorre em excomunhão automática se algum cardeal votar por pressão externa, como aconteceu no
Conclave de 1903 com o veto da eleição do cardeal Marianno Rampolla pelo Imperador da Áustria, através
do arcebispo de Cracóvia, cardeal Jan Maurycy Pawel Puzyna de Kosielsko (1895-1911), um antecessor de
Karol Józef Wojtyła, João Paulo II.
       .
      Um conclave fictício para melhor compreender
      Vamos para uma simulação: 120 eleitores - 81 votos necessários para uma eleição.

      Primeiro dia:

      1.º votação:
      Cardeal A = 20 votos
      Cardeal B = 12 votos
      Cardeal C = 06 votos
      Cardeal D = 02 votos

      Teríamos aí 80 votos dispersos em outros cardeais. Estes votos devem ser direcionados aos mais
votados, em teoria a A, B. C ou D.

      2.º votação:

      Cardeal A = 28 votos
      Cardeal B = 16 votos
      Cardeal C = 22 votos
      Cardeal D = 02 votos
      Teríamos aí 52 votos dispersos que devem concentrar nos mais votados.

      Hora do almoço - ninguém, afinal é de ferro.

      3.º votação:
Cardeal A = 45 votos
      Cardeal B = 16 votos
      Cardeal C = 42 votos

      Teríamos aí só 17 votos dispersos de alguns inconformados com o rumo da eleição.

      4.º votação:

      Cardeal A = 56 votos
      Cardeal B = 06 votos
      Cardeal C = 58 votos


       Conclusão: Fumaça preta! Todo o conclave se concentrou em 03 nomes, sendo que o cardeal B
perdeu votos, os cardeais A e B avançaram, mas não o suficiente. O Cardeal A obteve 46% dos votos, o
Cardeal C: 48%. Estão longe dos 68% dos votos exigidos (2/3+1) e estão empatados. Eles estão descartados!
No dia seguinte, nenhum dos três mais votados (A, C e B) não irão receber voto algum. Os cardeais irão atrás
de um outro nome (o tertius). Por isso, aqueles que são tidos como favoritos, se não elegem no primeiro dia,
dificilmente voltarão a ter votos. Vão dormir com a cabeça quente. O dia seguinte será um outro dia. Esta é a
dinâmica, embora haja exceções.
       .
       Quanto à alimentação, as freiras de Santa Marta que preparam as refeições para o Conclave não são
conhecidas por suas habilidades culinárias! Além do mais, cada um tem um hábito alimentar diferente.
Conclusão: a comida é ruim! Mais um motivo para se procurar uma solução rápida.




      Oração por Bento XVI


      P       eçamos com a Virgem de Lourdes que o Senhor, mais uma vez, derrame o dom do Espírito
              Santo sobre a sua Igreja e que o Colégio dos Cardeais escolha com sabedoria um novo Vigário
              de Cristo.
       Nosso coração, cheio de gratidão pelo ministério de Bento XVI, gostaria que esta notícia não fosse
verdade. Mas, se confiamos no Papa até aqui, porque agora negar-lhe a nossa confiança? Como filhos, nos
vem a vontade de dizer: "não se vá, não nos deixe, não nos abandone!"
       Mas não estamos sendo abandonados. A Igreja de Cristo permanecerá eternamente. O que o gesto do
Papa então pede de nós, é mais do que confiança. Ele nos pede a fé! Talvez seja este um dos maiores atos de
fé aos quais seremos chamados, num ano que, providencialmente, foi dedicado pelo próprio Bento XVI à Fé.
       Fé naquelas palavras ditas por Nosso Senhor a São Pedro e a seus sucessores: "As portas do inferno
não prevalecerão!" (Mt 16, 18).

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  • 1. A Renúncia do Papa Bento XVI – “UM TROVÃO EM CÉU SERENO” "Portae inferi non praevalebunt!" (Mt 16, 18). *Reservamo-nos o direito de fazer alterações e correções. Introdução T risteza, fé e alegria se misturam com o espanto nos corações católicos mundo afora com a declaração surpreendente de Sua Santidade e sempre Papa Bento XVI, a partir do dia 28, Papa Emérito, ou Bispo Emérito de Roma. É de fato uma atitude um tanto espantosa esta renúncia de Bento XVI, embora prelúdios dela possam ser encontrados em todo seu pontificado a começar pelo seu Primeiro Discurso. Todavia sabemos que, embora ele parecesse de certa forma esperar por isso, não era esta sua vontade. Se o fez, podemos estar certos de que fora por necessidade, por cumprir seu dever como Sucessor de Pedro. Mas esta ocasião é extremamente anormal e que nos coloca num momento histórico ímpar. Segundo o Padre estadunidense Richard McBrien, teólogo e porque não dizer historiador por mérito, autor do livro “Os Papas” (Editora Loyola) houveram na Igreja cerca de seis renúncias ao papado ao longo de 2000 anos. O autor calcula que seis papas abdicaram, de fato, ao posto máximo do catolicismo- mas poderiam ter havido também deposições e renúncias e algumas outras complicações administrativas no início da Igreja, quando ainda não se tinha um Direito bem estabelecido mas ao que nos consta, renúncias efetivas foram seis. É importante lembrarmo-nos antes disso que mais do que uma mera questão jurídica, a eleição e a de certa forma também renúncia de um Papa tratam-se da ação direta do Espírito Santo na Igreja. É completamente errôneo dizer que é uma mera questão política. Obviamente que um Papa pode, no exercício de seu livre arbítrio, renunciar pelo motivo que lhe convir e o Espírito Santo elegerá um novo sucessor para ocupar a Sé de Pedro, mas tão óbvio quanto é que este não foi o caso de Bento XVI. Mais à frente trataremos disso. Afinal não há pressão para sua renúncia (ninguém ameaça destruir o Vaticano, ou matar todos os cardeais, ou matá-lo, ou algo do tipo); não há, ao menos até onde se saiba, motivo de saúde (pois o divulgado é que Sua Santidade tem apenas artrite e alguns probleminhas normais para um homem de sua idade)... Conhecendo, pois, o pensamento de Bento XVI e sua coerência moral durante toda sua vida, nada mais justo e racional, e isso pra não mencionar a obrigação cristã de não julgá-lo crer que ele abdica da Sé Petrina por crer ser o melhor para a Igreja. Assim, não cabe a nós, embora seja uma pergunta natural, questionarmo-nos do porquê de sua abdicação, mas sim rezar por ele e pela Igreja. Vamos, então, agora, a um breve histórico dos Papas que renunciaram.
  • 2. Noção Histórica São Ponciano, Mártir – 18º Papa F oi Papa de 21 de Julho de 230 a 29 de Setembro de 235. Durante seu pontificado, o cisma de Hipólito chegou ao fim. Ponciano e outros líderes da igreja, entre eles Santo Hipólito, foram exilados pelo imperador Maximino Trácio para a Sardenha e percebeu que jamais seria solto para voltar ao Vaticano. À época, a ilha do Mediterrâneo era conhecida como a "ilha da morte".Impedido, pois, de exercer suas obrigações como Sucessor de Pedro, ele renunciou ao papado no dia 25 ou 28 de Setembro de 235. A data ainda é uma incógnita nos dias de hoje. É desconhecido quanto tempo ele viveu exilado, mas sabe-se que ele morreu de esgotamento, graças ao tratamento desumano nas minas da Sardenha, onde fora obrigado a trabalhar. De acordo com a tradição, morreu na ilha de Tavolara . A festa de seu martírio foi celebrada dia 19 de Novembro, mas atualmente é celebrada junto com a de Santo Hipólito, também mártir, em 13 de Agosto[1]. São Silvério – 58º Papa *há discordância sobre a validade da renúncia, dado o caráter de martírio. S ilvério, filho do Papa Hormisdas... (Ops! Filho do Papa? O Papa, então, podia casar? Sim. Seu pai era casado (ou viúvo). Naquela época não vigorava a Lei do Celibato, que hoje é obrigatória e não será mais revigorada na Igreja latina. Falaremos do celibato em uma outra oportunidade, mas é importante o parênteses porque Papa com filho assusta!) Enfim... São Silvério fora Papa de 1 de Junho de 536 a 11 de Novembro de 537. É venerado como Santo pela Igreja Católica. O pontificado de São Silvério coincide com a ocupação da Itália pelos imperadores bizantinos. A nota característica do seu governo é a firmeza e intrepidez com que defendeu os direitos da igreja, contra a imperatriz Teodora. Eis o fato como os hagiógrafos o relatam. Silvério nasceu em Frosinone, na Campânia, Itália. Era filho do papa Hormisdas, que fora casado antes de entrar para o ministério da Igreja. Entretanto, ao contrário do que se encontra em alguns escritos, ele não foi sucessor do seu próprio pai. Antes de Silvério assumir, e depois do seu pai, outros ocuparam o trono de Pedro. Em períodos variados, não ultrapassando dois anos cada um, foram os papas: João I, Félix III, Bonifácio II, o antipapa Dióscoro da
  • 3. Alexandria, João II e Agapito I. Eleito no dia primeiro de junho de 536, papa Silvério foi o sucessor do papa Agapito I, e o numero cinqüenta e oito da Igreja Católica. Embora fosse apenas subdiácono quando assumiu o trono de Pedro, ele foi um dos mais valentes defensores do cristianismo, pois enfrentou a imperatriz Teodora. O Papa Agapito, antecessor de Silvério, tinha deposto o bispo de Constantinopla, Antimo, por este haver defendido a heresia eutiquiana. A imperatriz, fautora da mesma heresia, desejava ver Antino reabilitado na jurisdição episcopal, desejo que Agapito não quis atender e não atendeu. Morto este Papa, Virgílio, diácono romano, apresentou-se à imperatriz Teodora, prometendo-lhe a reabilitação de Antimo se apoiasse sua candidatura ao pontificado. Teodora deu a Virgílio uma carta de apresentação a Belisário, general bizantino, que se achava na Itália, recomendando-lhe apoiasse a eleição. Entretanto, por Obra do Espírito Santo, foi eleito Papa Silvério e como tal reconhecido. A este a imperatriz se dirigiu, exigindo a reabilitação dos bispos, por Agapito depostos, e a anulação das decisões do Concílio de Chalcedon, que tinha condenado a heresia de Eutiques. Nesse ofício arrogante Teodora ameaçou o Papa com a deposição, caso não lhe acedesse às exigências. A resposta de Silvério foi respeitosa, mas negativa. Com franqueza e firmeza apostólicas declarou à imperatriz que estaria pronto a sofrer prisão e morte, mas não cederia um ponto das constituições do Concílio. Teodora não se conformando com esta resposta, ordem deu a Belisário de afastar Silvério de Roma e pôr Virgílio na cadeira de São Pedro. Para não cair no desagrado da imperatriz, Belisário prontificou-se a executar a ordem, mas desejava ter em mãos outros documentos, a pretexto dos quais pudesse proceder contra o Papa. Tirou-o do embaraço sua ímpia mulher Antonina. Esta lhe fez chegar às mãos uma carta falsificada, que trazia as armas e assinatura de Silvério, carta em que o Papa se teria dirigido aos Godos, prometendo-lhes entregar Roma, se lhe viessem em auxílio. Belisário estava a par do que se passava, e bem sabia qual era a autoria da carta. Não obstante, para obsequiar a mulher, citou Silvério à sua presença, mostrou-lhe a carta, acusou-o de alta traição e, sem esperar pela defesa da vítima, ordenou que lhe tirassem as insígnias pontifícias e lhe pusessem um hábito de monge, e assim o mandou para o desterro. No mesmo dia Virgílio assumiu as funções de Sumo Pontífice. A consternação e indignação dos católicos eram gerais. Só Silvério bendizia a graça de sofrer pela justiça. O Bispo de Pátara, diocese que deu agasalho ao Papa desterrado, pôs-se a caminho de Constantinopla, com intuito de defender a causa de Silvério. Recebido pelo imperador Justiniano, fez-lhe a exposição clara das cousas ocorridas, e mostrou-lhe a injustiça feita ao representante de Cristo. Justiniano ordenou que Silvério fosse imediatamente levado a Roma, e que a permanência na metrópole lhe fosse vedada só no caso de se provar o crime de alta traição. Belisário e o antipapa Virgílio souberam impossibilitar a volta de Silvério para Roma. Apoderaram-se dele e transportaram-no para a ilha Palmaria. Lá o sujeitaram a um tratamento indigno e sobremodo humilhante. Silvério, porém, ficou firme na justa resistência à tirania e usurpação. Longe de reconhecer a autoridade de Virgílio, excomungou-o e deu do exílio sábias leis à igreja. Nunca se lhe ouviu uma palavra sequer de queixa contra os planos e desígnios de Deus. Ao contrário, no meio dos sofrimentos e provações, louvava e enaltecia a sabedoria e bondade da Divina Providência. Três anos passou Silvério no desterro. Liberato, historiador contemporâneo de Silvério, diz que o Santo Papa morreu de fome. É considerado mártir da Igreja. Reflexões: Em São Silvério temos um modelo de perfeito cumpridor dos deveres, que não se deixa demover do caminho da obrigação, embora lhe acarrete isso os maiores dissabores, sofrimentos, perseguição e a própria morte. São Silvério resistiu firme às injustiças e criminosas insinuações da imperatriz, sabendo que esse procedimento provocaria as iras da monarca, como de fato as provocou. Não é uma imperatriz tirânica, contra cujas exigências devemos defender os nossos princípios cristãos e católicos. O respeito humano é um tirano, a que muitos covardemente se curvam, pondo de lado as obrigações e graves responsabilidades. Superiores há que não se animam a repreender os súditos, com fundado receio de atrair sobre si a justa censura das suas próprias faltas. Súditos há que, para não cair no desagrado dos amos, obedecem às ordens dos mesmos, embora com isso sejam obrigados a praticar grandes injustiças. Patrões fazem-se cúmplices dos vícios dos empregados não se achando com coragem de chamá- los à ordem, com medo destes deixarem o emprego ou fazerem mal o serviço. Para não aborrecer os filhos, pais há que lhes concedem toda a liberdade não havendo dúvida que assim concorrem para a infelicidade eterna deles. Às exigências as mais absurdas e escandalosas da moda cede-se com maior naturalidade
  • 4. embora contra isto se levantem em protesto a consciência, o bom senso e a moral cristã. Por toda a parte vemos novamente essas transigências fáceis, indignas sob todos os pontos de vista, reprováveis, à custa da virtude e do caráter. Sejamos observados do precioso conselho que São João nos dá nas seguintes palavras: “Filhinhos não ameis ao mundo, nem ao que há no mundo. Se alguém ama ao mundo, não há nele o amor do Pai. Porque tudo que há no mundo, é concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e soberba da vida, a qual não vem do Pai, mas sim do mundo. Ora, o mundo passa e também sua concupiscência”. (I. Jo. 2, 15 17). Venerável João XVIII *há dúvidas quanto à validade de sua renúncia. D urante o pontificado de João XVIII, os Crescentii deram mole e Gregório Tusculano – chefe da tenebrosa família Teoficalto – assumiu o poder temporal da cidade. Nos bastidores, se tramava um retorno aos tempos negros de Marózia Teofilacto. Gregório apoiou o papa João XVIII, mas tencionava colocar no trono de Pedro um de seus filhos – não o fez por serem ainda crianças. Dessa vez, o Espírito Santo deu à Santa Igreja um grande Papa. João XVIII foi um grande realizador e trouxe a paz em vários territórios sobre influência da Igreja Católica. Era um lutador, e insistiu para espalhar o cristianismo nos lugares onde o paganismo ainda era uma realidade viva. Canonizou santos mártires poloneses e insistiu no trabalho iniciado por João XVII. Velho e cansado, abdicou do trono e foi viver seus últimos dias como monge na Basílica de São Paulo Fora-dos- Muros, servindo aos mais humildes. Durante seu pontificado a cristandade uniu-se como a muito não se via. Embora essa situação tenha esboroado com a morte de João Crescêncio, que era simpático aos bizantinos. Papa de 1004 a 1009. Fora sucessor de João XVII, o qual temporariamente conseguiu promover a união das igrejas grega e latina. Foi eleito Papa no natal de 1003 e abdicou ao papado em junho de 1009. Foi filho de um presbítero romano de nome Leão, e antes de sua elevação ao papado, seu nome era Phasianus. Tal elevação foi, também, devida à influência de Crescentius. Também, obviamente, porque não podemos nos esquecer que não importa a forma da eleição do Papa, esta é sempre escolha do Espírito Santo. Seu curto pontificado foi importante para definir normas e detalhes administrativos da Igreja na época. Ele confirmou as posses e privilégios de diversas igrejas locais e conventos, sancionou diferentes tributos para instituições religiosas, conferiu privilégios eclesiásticos no re-estabelecida Sé de Merseburg; deu seu consentimento para o Sínodo Romano de Junho, 1007, para o estabelecimento da Sé de Bamberg, fundada e endossada pelo rei germânico, Henrique II; e conferiu o palio ao Arcebispo Meingaudus de Trier e Elphège de Canterbury. João XVIII energicamente opôs-se às pretensões do Arcebispo de Sens Letericus e Fulco, bispo de Orléans, que se recusou a permitir que o Abade de Fleury, Goslin, fizesse uso dos privilégios concedidos a ele por Roma, e tentou fazê-lo queimar as cartas papais. O papa queixou-se dele para o imperador, e ligou para os bispos a seu tribunal sob ameaça de censuras eclesiásticas para todo o reino. Em Constantinopla, ele foi reconhecido como Bispo de Roma. Seu epitáfio diz que subjugou os gregos e cisma desalojado. Seu nome aparece nos dípticos da Igreja bizantina. De acordo com um catálogo de papas, ele morreu como um monge em Roma, perto de São Paulo, em junho, 1009.
  • 5. Bento IX (Teofilato)– “Desgraça para a Sé Petrina” D e todos os citados até agora, que renunciaram, Bento IX constitui um caso a parte e serve de deleite aos inimigos da Igreja e pilar para nós, católicos, de que a Igreja é guiada pelo Espírito Santo. Bento nasceu em Roma com o nome Theophylactus, filho de Alberico III, conde de Túsculo e sobrinho dos papas Bento VIII (1012–1024) e João XIX (1024–1032). O seu pai obteve o lugar papal para si, o qual alcançou em Outubro de 1032. De acordo com a Enciclopédia Católica e outras fontes, Bento IX tinha entre 18 e 20 anos quando se tornou pontífice, apesar de algumas fontes sugerirem 11 ou 12. Teve de acordo com os registos uma vida extremamente dissoluta, não tendo alegadamente qualificações suficientes para o papado que não fossem as ligações com uma família socialmente poderosa, apesar de em termos de teologia e atividades comuons na Igreja ser inteiramente ortodoxo. São Pedro Damião descreveu-o como "regozijando-se em imoralidade" e "um demónio do inferno dissimulado de sacerdote" no Liber Gomorrhianus. A Enciclopédia Católica chama-o desgraça na Cadeira de Pedro. Foi igualmente acusado pelo bispo Benno de Piacenza de "múltiplos e vis adultérios e assassinatos". O Papa Vítor III, no seu terceiro livro de Diálogos, referiu-se às "suas violações, assassinatos e outros atos indizíveis. A sua vida como papa é tão vil, tão abominável, tão execrável, que eu me arrepio de nela pensar". Foi brevemente forçado a sair de Roma em 1036, porém retornou com o apoio do imperador Conrado II. Em Setembro de 1044, a oposição forçou-o a abandonar a cidade de novo e elegeu João, bispo de Sabina, como papa Silvestre III. As forças de Bento IX regressaram em Abril de 1045 e expulsaram o seu rival, o qual no entanto manteve a sua pretensão ao papado durante anos. Em Maio de 1045, num acto que se pensa estar relacionado com indisposição causada por álcool, Bento IX resigna ao seu posto em troca do matrimônio, vendendo o seu lugar ao seu padrinho, o sacerdote pio João Gratian, o qual se nomeou Gregório VI. Bento IX depressa se arrependeu da sua resignação e regressou a Roma, tomando a cidade e mantendo-se no trono até Julho de 1046, apesar de Gregório VI continuar a ser reconhecido como verdadeiro papa. Na altura, Silvestre III reafirmou a sua reivindicação. O rei germânico Henrique III (1039-1056) interveio, e no Conselho de Sutri em Dezembro de 1046, Bento IX e Silvestre III foram declarados depostos, enquanto Gregório VI era encorajado a resignar o que fez. O bispo germânico Suidger foi coroado papa Clemente II. Bento IX não foi nem ao conselho nem aceitou a sua deposição. Quando Clemente II morreu em Outubro de 1047, Bento apoderou-se do Palácio de Latrão em Novembro de 1047, tendo sido afugentado por tropas germânicas em Julho de 1048. De forma a preencher o vacuum político, o bispo Poppo de Brixen foi eleito como papa Dâmaso II, tendo sido reconhecido universalmente como tal. Bento IX recusou-se a aparecer em encargos de simonia em 1049 e foi excomungado. O destino de Bento IX é obscuro. No entanto, parece provável que tenha abandonado as suas pretensões. O papa Leão IX (1049–1054) poderá ter levantado a banição que sobre ele pendia. Bento IX foi sepultado na abadia de Grottaferrata, onde faleceu em 1085 ou possivelmente mais tarde. Bento é reconhecido geralmente como tendo tido três mandatos como papa: o primeiro, que vai desde a sua eleição até à sua expulsão a favor de Silvestre III (Outubro de 1032 - Setembro de 1044) o segundo, desde o seu regresso até à venda do papado a Gregório VI (Abril - Maio de 1045) o terceiro, desde o seu regresso após a morte de Clemente II ao advento de Dâmaso II (Novembro de 1047 - Julho de 1048)
  • 6. São Celestino V, ou São Pedro Celestino A pesar de toda a imoralidade pessoal, historiadores sérios de toda fé concorda que Bento IX, assim como todos os outros Papas, anteriores e posteriores, jamais tomou uma decisão errada em termos de Fé e Moral, sustentando o Dogma da Infalibilidade Papal, ainda que tivesse tomado diversas decisões erradas na práxis e na vida pessoal. Pedro Celestino, eremita, fundador e Papa, nasceu em 1221 em Isenia, na província de Apulia. Tendo apenas seis anos de idade, disse à mãe: “Mamãe, quero ser um bom servo de Deus”. Fielmente cumpriu esta palavra, como se fosse uma promessa feita ao Altíssimo. Apenas tinha terminado os estudos, quando se retirou para um ermo, onde viveu dez anos. Decorrido este tempo, ordenou-se em Roma e entrou na Ordem Beneditina. Com licença do Abade, abandonou depois o convento, para continuar a vida de eremita. Como tal, teve o nome de Pedro de Morone, nome tirado do morro de Morone, ao sopé do qual erigira a cela em que morava. O tempo que passou naquele ermo, foi uma época de grandes lutas, tentações e provações. As perseguições que sofreu do espírito maligno, foram tão pertinazes, que por longos meses deixou de celebrar a Santa Missa, e chegou quase a abandonar a cela. A paz e tranqüilidade voltaram, depois de Pedro ter confessado o estado de sua consciência a um sábio sacerdote. Em 1251, fundou, com mais dois companheiros, um pequeno convento, perto do morro Majela. A virtude dos monges animou outros a seguir-lhes o exemplo. O número dos religiosos, sob a direção de Pedro, cresceu de mês em mês, tanto, que o superior, por uma inspiração divina, deu uma regra à nova ordem, chamada dos Celestinos. Esta Ordem, reconhecida e aprovada por Leão IX, estendeu-se admiravelmente, e ainda em vida do fundador contava 36 conventos. Com a morte de Nicolau V, em 1292, ficou a Igreja sem Chefe. Dois anos durou o conclave, sem que os cardeais pudessem reunir os seus votos a um único candidato. Afinal, aos 5 de julho de 1294, contra todas as expectativas, e unicamente à insistência e pressão de Carlos II, rei de Nápolis, saiu eleito Pedro Morone, que fixava residência primeiro em Aquila, e depois em Nápolis. Ao piedoso e santo eremita faltavam por completo as qualidades indispensáveis para governar a Igreja, ainda mais num período tão crítico e difícil. Os Cardeais breve perceberam o erro, quando viram que o eleito, em vez de ouvir os seus conselhos, preferia seguir os do rei e de alguns monges excêntricos, ficando com isto seriamente prejudicados altos interesses da Igreja. O Pontífice por sua vez, reconheceu que estava deslocado, e deu-se pressa em abdicar (13-12- 1294). Bonifácio VIII, seu sábio e zeloso sucessor, empregou todos os esforços para pôr cobro às opressões da Igreja pelo poder civil, no que se viu logo hostilizado por muitos Cardeais, que chegaram a declarar não justificada, e sem efeito a abdicação de Celestino, e ilegal a eleição de Bonifácio. Para afastar o perigo de um cisma, este mandou fechar Celestino, até a morte, no castelo Fumone, cercando-o embora de todo o respeito. Pedro de boa vontade se sujeitou a esta medida coercitiva e passou dez meses, por assim dizer, na prisão.
  • 7. Por uma graça divina foi conhecedor do dia da sua morte, que predisse com toda exatidão. Tendo recebido os Santos Sacramentos, esperou a morte, deitado no chão. As últimas palavras que disse foram as do Salmo 150: “Todos os espíritos louvem ao Senhor”. Já em 1313 foi honrado com o título de Santo, pela canonização feita por Clemente V. A Ordem dos Celestinos estendeu-se rapidamente pela Itália, França, Alemanha e Holanda. Estimada pelos príncipes, teve em todos os países uma bela florescência, até à grande catástrofe religiosa na Alemanha e a Revolução Francesa. Na Itália existem ainda poucos conventos da fundação de Pedro Celestino. REFLEXÕES Houve um tempo na vida de São Pedro celestino em que, assustado por terríveis tentações e escrúpulos, o Santo não mais ousou celebrar o Santo Sacrifício da Missa. Entre as pessoas que se aproximam da Mesa Eucarística, há duas categorias: uma representada pelos tímidos e outra pelos audaciosos. Os tímidos receiam acercar-se da Santa Comunhão, julgando-se indignos desta grande graça. Os audaciosos, pelo contrário, não se preocupam com esta eventualidade. Fazem preparação rápida, rotineira e sem atenção alguma. Se estes pecam por excesso de uma falsa familiaridade com Deus, os outros não são menos dignos de censura. A recepção freqüente da Santa Comunhão, longe de fazer arrefecer na alma o fervor e a piedade, deve produzir- lhe um amor cada vez mais ardente a Nosso Senhor, e despertar-lhe o desejo de tornar-se-lhe mais agradável, por uma vida santa. Quem pratica a comunhão quotidiana com outras intenções, que não seja este desejo firme e a resolução de desapegar-se cada vez mais dos pecados e defeitos, não faz dela o uso que Deus quer, e melhor seria que desistisse de uma prática de que nenhum proveito pode auferir, e por cima ainda provocará a justa censura de outros, que não compreendem como possa ser compatível a recepção da Sagrada Comunhão cada dia, com a existência e permanência de defeitos, que exigem do próximo muita paciência para os aturar. Os outros devem lembrar-se de que ninguém é, nem pode ser digno de receber Nosso Senhor no coração. Não foi pela indignidade nossa que Jesus Cristo se decidiu a instituir este grande Sacramento. Como entrou nas casas de pecadores e com eles comia à mesa, assim nos visita na Santa Comunhão, com o fim de ser o alimento da nossa alma e de proporcionar-lhe as graças de que necessita, para sua santificação. Gregório XII - O Grande Cisma do Ocidente: O Papa e os dois anti-papas D ecidido a resolver o problema do chamado Grande Cisma do Ocidente encarou-o de forma sincera, declarando inclusive a ideia de abdicar a Cátedra de São Pedro, se isso resultasse em paz definitiva. Declarou-se pronto a imitar a mãe que, em presença do rei Salomão, preferiu entregar o próprio filho em mãos estrangeiras a vê-lo morrer. Gregório XII conquistou o coração do clero internacional e de diversos soberanos, colocando o antipapa contra a parede. Este, sem poder se esquivar de tal vontade, aceitou encontrar-se com Gregório na cidade italiana de Savona. A ideia de abdicar resultou em uma rápida reação dos familiares de Correr, muitos deles já então instalados em diversos postos de comando da administração da Igreja. Beneficiados pelo nepotismo,
  • 8. reagiram firmemente à ameaça. Gregório XII então cedeu aos apelos da família. A opinião publica na época ficou horrorizada com a atitude dos parentes do Papa, insultando-os inclusive com cartas "a Satanás", endereçadas ao Arcebispo de Ragusa. Apesar do insucesso, Bento XIII se viu sob assédio em Avignon do rei francês. Consegue fugir para Aragão em 1408, e, emitindo uma bula, convoca um concílio para Perpignan. Em Paris, o rei decidiu então concorrer com ambos os Papas e decretou um outro Concilio, reunindo os cardeais dos dois líderes católicos, a Pisa em marco de 1409. A convocação se deu por meio de sete cardeais rebelados de Gregório XII porque este havia nomeado dois sobrinhos como cardeais. Unindo-se aos rebeldes um grupo de cardeais de Avignon, reunidos em Livorno. A ideia era reunir os dois Papas e - fosse o caso - força-los a renunciar ou então depô-los. Gregório XII reage com firmeza aos rebeldes, e após uma primeira tentativa de aproximação e perdão, anunciando um novo Concílio em uma cidade do Veneto para esclarecer os fatos. Não obtendo sucesso,acabou por nomear dez novos cardeais e excomungou os rebeldes. Dado a reação da opinião publica romana, decide partir para uma região mais segura aos seus interesses, se mudando para Rimini em 1409. Estava formada uma enorme confusão no seio da Igreja. Com tais acontecimentos, o primeiro Concílio, em Perpignan (anunciado por Bento XIII) começou de fato, com a presença de 120 prelados e diversos soberanos que estavam tomando partido de um ou de outro. O rei Roberto do Palatinado Renano apoiava Gregório, porque via no Concílio de Pisa a influência poderosa do Rei da França. Ladislau I de Nápoles, como titular de "defensor da Igreja de Roma", também se apoderou da cidade deixada pelo Papa e anunciou ser contra o Concílio desejado pelo rei francês. Nesse clima de tamanha confusão iniciou-se o Concílio de Pisa em 25 de março de 1409, com a presença de 10 cardeais fiéis a Bento XIII, 14 cardeais fiéis a Gregório XII, 4 patriarcas, 80 bispos, 27 abades e diversos doutores de Teologia e Direito Canónico, além de vários prelados que abandonaram Perpignan. Como presidente do Concílio foi nomeado o cardeal de Poitiers, Guy de Maillesec. No primeiro dia foram chamados os dois Papas, esperados até o dia 30 de março e como não se apresentaram, foram declarados ausentes. Gregório XII foi defendido pelo rei alemão Roberto do Palatinado Renano, declarando ser ilegítimo um Concílio não anunciado pelo Papa e que qualquer ação em matéria de renuncia do Papa seria portanto ilegal. Ignorado, o Concílio se declarou ecuménico e reuniu definitivamente os presentes que recusaram a obediência tanto a Gregório como a Bento. A 5 de junho, o Patriarca de Alexandria leu a sentença que decretava Pedro de Luna (Bento XIII) e Gregório XII retirados do cargo de líderes da Igreja Romana como cismáticos, considerando a sede vacante. Dez dias depois, os 24 cardeais entraram em conclave e elegeram, por unanimidade, como novo Papa, o Bispo de Milão, Pietro Filargo, que foi consagrado na Catedral de Pisa, em 7 de julho, assumindo o nome de Alexandre V. Com intenção de prosseguir os trabalhos para afrontar os problemas imensos da Igreja, não teve sucesso. Os prelados estavam esgotados de discussões. Concluiram-se os trabalhos e anunciou-se um novo concílio específico para 1412. O caos na Igreja não diminuiu com a conclusão do Conclave de Pisa. Ao contrário, aumentou. Teólogos e doutores de Direito Canónico já diziam que tal Concílio era uma farsa, sem fundamento jurídico. Para piorar a situação, havia três papas no comando a Igreja: Gregório XII, que representava a Itália, Alemanha e o norte da Europa; Bento XIII, que representava a Escócia, Espanha Sardenha, Córsega e parte da França; e Alexandre V, com a maior parte das Ordens Religiosas decididas a fazer uma inteira reforma na Igreja). Gregório XII não ficou todo esse tempo como espectador dos fatos. Conforme prometera, iniciou os trabalhos no seu Concílio, na cidade de Cividale del Friuli (perto de Aquileia) e, no dia 22 de Julho, declarou como legítimos apenas os pontífices sediados em Roma - de Urbano VI até ele próprio. Todos os demais foram declarados antipapas - de Clemente VII até Bento XIII e, é claro, Alexandre V. Deixou claro que estava ainda disposto a abdicar ao trono de Pedro, desde que os outros dois postulantes fizessem o mesmo e que todas as correntes do pensamento da Igreja se reunissem em um único colégio no qual fosse eleito um novo Papa, com aprovação de ao menos dois terços dos cardeais das três correntes. Procurou apoio dos reis Roberto da Germânia, Ladislau de Nápoles) e Segismundo da Hungria, para que implementassem um plano de paz permanente, segundo a sua própria ideia. Entretanto mais um problema explodiu nas mãos de Gregório. A Sereníssima República de Veneza, juntamente com os Patriarcas de Aquileia e de Veneza, proclamou-se obediente a Alexandre V e tentou prender Gregório XII. Este conseguiu fugir disfarçado, enquanto seu funcionário - usando as roupas de Gregório - foi feito prisioneiro. Conseguiu chegar a Gaeta sob proteção de Ladislau, rei de Nápoles. Roma, nesse meio tempo, era controlada por Luís d'Anjou, reconhecido como rei de Nápoles pelo
  • 9. Concílio de Pisa, em detrimento de Ladislau. Assim, na primavera de 1410, Alexandre V pôde entrar em Roma aclamado pelo povo da cidade como o verdadeiro Pontífice Romano. Breve, porém, foi sua permanência. Aqueles que comandavam de fato o Concílio de Pisa, liderados pelo cardeal napolitano Baldassarre Cossa, responsável pela região de Bolonha, já tramavam a substituição de Alexandre. Chamado a Bolonha, Alexandre V morre no dia 5 de maio, provavelmente envenenado pelo próprio cardeal Cossa, que rapidamente reuniu um novo conclave e, no dia 25 do mesmo mês, nomeou a si mesmo Papa, com o nome de João XXIII - nome depois cancelado, só reaparecendo no século XX - e já no ano seguinte tomou posse da cátedra romana. Gregório XII já não imaginava mais poder voltar a Roma. Para seu azar, Roberto da Germânia morreu logo depois da coroação do antipapa João XXIII, e Ladislau, receoso de Luís d'Anjou, tratou com o ex- cardeal Cossa para tê-lo ao seu lado contra Luís. Com isso, Ladislau retirou seu apoio a Gregório VII e passou a apoiar João XXIII, eleito segundo ele "por inspiração divina". Em Roma, o antipapa João XXIII prosseguia com seus projetos de transformar o Vaticano em uma fortaleza. Construiu a famosa passagem elevada que liga o Vaticano ao Castelo de Santo Ângelo, hoje conhecida como Passetto, provavelmente restaurada pelo Papa Alexandre VI. Mas para sua surpresa, chegavam da Alemanha notícias sobre um novo pretendente à coroa do Sacro Império Romano Germânico: Segismundo, um dos príncipes alemães, que considerava a situação reinante - com três pontífices sendo que nenhum dos três tinha autoridade de fato - intolerável para a cristandade. Como consequência, Ladislau rompe com João XXIII, que foge para Florença, enquanto o rei de Nápoles saqueava Roma. Em 30 de outubro de 1413, Segismundo convoca todo o mundo religioso católico, incluindo príncipes e soberanos, para um novo concílio ecumênico que seria aberto em [[Konstanz], no sul da Alemanha, na fronteira com a Suíça, em 1 de abril de 1414. Convidados também foram os três papas reinantes, com o propósito de resolver de vez a situação e acabar com o cisma religioso e com as novas heresias para afinal reformar Igreja como instituição. O antipapa João XXIII aceitou a proposta e assumiu a convocação, para "legalizar" o ato, anunciando-o como uma continuação do Concílio de Pisa. Gregório XII e Bento XIII recusaram-se a participar. João XXIII, contente com a reação dos outros dois papas, obteve de Sigismundo, Segismundo a garantia de proteção a sua vida e, no dia 28 de outubro de 1414, entrou triunfalmente na cidade onde seria realizado o concílio. Além dele, vieram representantes de toda a Europa cristã, em um total de mais de 1800 eclesiásticos, teólogos, bispos, arcebispos, patriarcas e cardeais, bem como os representantes dos reinos interessados. Presidiu ao Concílio João XXIII. Segismundo, coroado Imperador do Sacro Império Romano-Germânico em Aachen no dia 8 de novembro, chegou na véspera do Natal. A maior inovação foi dividir o concílio em cinco regiões, as mais importantes para a Igreja: Itália, Germânia, França, Castela e Inglaterra, cada uma liderada por um bispo. Outra inovação foi o direito de voto a todos os presentes, laicos inclusive, em um novo conceito de democratização da Igreja. Com isso a autoridade era de todo o concilio e não apenas do Papa (ou de um deles…) sendo negado o direito divino de soberania papal. Foi um duro golpe contra o poder da Igreja Romana, colocando em jogo o futuro do papado. Apesar de tudo, Gregório XII enviou seu representante na pessoa de Giovanni Domici de Ragusa, anunciando que estava pronto a renunciar se os outros dois papas fizessem o mesmo. Pediu também que João XXIII fosse retirado da presidência do Concílio. A assembleia do concilio aceitou a proposta de Gregório XII, e João XXIII recitou sua parte no "teatro": em 2 de março de 1415 foi o protagonista principal. Ajoelhou-se em frente ao altar e jurou ser seu único objetivo a paz na Igreja e o fim do Cisma. O ato, teatralmente perfeito, tem nos bastidores a sua razão de ser: já começavam a circular vozes difamadoras contra ele, que já não se sentia tão seguro do seu poder. Com a ajuda de Frederico, duque da Áustria, fugiu e refugiou-se na cidade de Sciaffusa, denunciando posteriormente as intrigas e os preconceitos do concílio, bem como a violação das prerrogativas papais. Para confirmar a regra, houve nova confusão, e somente com a inteligência de Segismundo e do cardeal Pierre d'Ailly evitou-se a dissolução do concílio. Chegou-se a conclusão que os três papas deveriam renunciar por livre vontade ou seriam forçados a isso - a começar por João XXIII, cujo destino fora selado pelo regente de Nuremberg, que o levara de Sciaffusa para uma cidade próxima ao local do concílio. No dia 29 de maio, seu título de Papa foi retirado. Declarado culpado pela situação, o antipapa foi posto na prisão. Depois de implorar pelo perdão, João XXIII foi entregue por Segismundo conde do Palatinado Renano, que o manteve sob custódia. Continuou prisioneiro dos príncipes alemães até que o novo Papa, Martinho V mandou soltá-lo, perdoou-o e o nomeou cardeal-bispo de Tuscolo, cidade onde morreu em 1420. Depois de João XXIII, foi a vez de Gregório XII, que se comportou com muita dignidade. Em 15 de junho de 1416 encarregou seu amigo e protetor Carlo Malatesta de comunicar à assembleia que "espontaneamente" abdicava ao papado e, para oficializar o concilio (pois era ele o único Papa de fato), declarou-o aberto naquele dia através de seu representante, o Cardeal Dominici, e legitimou todos os atos do
  • 10. concilio. Dai em diante não haveria mais contestações quanto à legitimidade do Concílio de Constança. No dia 4 de julho, Carlo Malatesta apresentou então a carta de renúncia de Gregório XII e, em reconhecimento pela dignidade mostrada pelo Papa, o concílio o convidou a assumir o bispado do Porto e a representação pontifícia da região italiana do Marche. Gregório XII então agradeceu a assembleia em uma carta que assinou com seu nome de batismo: "Angelo, Cardeal e Bispo". Morreu na cidade de Recanati em 18 de outubro de 1417 e foi sepultado na catedral daquela cidade. Bento XVI, o Grande – Genial Teólogo e o Papa da Humildade C reio que o título de “o Grande” valha não só por toda sua obra, não só pelo seu magnífico papado e sua grandessíssima contribuição à Igreja, Corpo Místico de Cristo, mas também pela sua força ante às perseguições que sofrera desde que fora eleito e às quais corajosamente resistiu e venceu, como também pela sua humildade sem tamanho na renúncia por amor à Noiva do Cordeiro, sem manchas nem rugas. Durante toda sua vida sempre foi brilhante teólogo, continua, e continuará sendo após sua retirada da Sé Petrina, sendo autor de diversos livros, portador de diversos títulos de honra, sendo o maior deles o de Sucessor de Pedro, o qual jamais perderá, mesmo após perder o poder. Joseph Ratzinger, Papa Bento XVI, nasceu em 16 de abril de 1927, cidade de Marktl, diocese de Passau – Alemanha. O pai era Comissário de Polícia e era originário de uma tradicional família de agricultores na Baixa Baviera. Passou sua adolescência em Traunstein e no ano de 1939, ingressou num seminário preparatório. Quatro anos mais tarde (1943), com 16 anos de idade, junto com os integrantes de sua classe, foi designado a prestar serviços em baterias anti-aéreas por ocasião da Segunda Guerra Mundial. Prestou ainda treinamento básico para a infantaria de Wehrmacht no mês de novembro de 1944. Por isso, em 1945, acabou sendo preso por tropas americanas, que imaginavam ser ele um soldado alemão, e por isto foi encaminhado a um acampamento para prisioneiros de guerra, mas acabou sendo libertado no mês de junho de 1945. Foi quando reingressou no seminário. Em 29 de junho de 1951 ele e seu irmão Georg foram ordenados sacerdotes. Iniciou aqui suas atividades de professor, especializando-se nas faculdades de teologia e filosofia de Freising. Em 1953, doutorou-se em teologia com a dissertação “O Povo e a Casa de Deus na Doutrina da Igreja, de Santo Agostinho”. Quatro anos mais tarde obteria a cadeira com seu trabalho sobre “A Teologia da História de São Boaventura”. Pela sua notável intelectualidade e experiência, foi-lhe atribuído o encargo de dirigir a Dogmática e Teologia Fundamental na Escola Superior de Filosofia e Teologia de Freising. Ministrou seus ensinamentos em Bonn de 1959 a 1969, paralelamente em Münster (1963 a 1963) e Tubing (1966 a 1969). Neste último ano, passou a ser catedrático de Dogmática e História dos Dogmas na Universidade de Rabistona, exercendo o cargo de vice-presidente na mesma universidade. Em 1962 contribuiu notavelmente nas comissões do concílio Vaticano II como consultor teológico do cardeal Joseph Frings, Arcebispo de Colona.
  • 11. Entre suas numerosas publicações, destacam-se: “Introdução ao Cristianismo”, que trata de uma recompilação das lições universitárias publicadas em 1968 sobre a profissão da fé apostólica; “Dogma e Revelação” (1973), que é uma coletânia de ensaios, pregações e reflexões pastorais. Nesta ocasião, obteve notável ressonância seu discurso, pronunciado na Academia Católica bávara, sobre o tema “Porque sigo, todavia, na Igreja?”, onde afirmou: “Só é possível ser cristão na Igreja, ao lado da Igreja”. Em 1985 publicou o “Informe sobre a fé” e, em 1996 “O Sal da Terra”.Em 24 de Março de 1977, o Papa Paulo VI o nomeou Arcebispo de Munique para, no dia 24 de maio subseqüente receber a consagração episcopal. Foi ele o primeiro sacerdote diocesano a assumir, depois de 80 anos, o governo pastoral da grande diocese bávara. Em 1977, o Papa Paulo VI o nomeou cardeal, tendo participado da Assembléia Geral do Sínodo dos Bispos como relator, em 1980, que tratou dos temas: “Os deveres da família cristã no mundo contemporâneo” e “Reconciliação e penitência e a missão da Igreja”.Em 25 de novembro de 1981 foi nomeado por João Paulo II como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé; e pesidente da Pontifícia Comissão Bíblica e Pontifícia Comissão teológica Internacional. Em novembro de 1998 foi eleito vice-decano do colégio cardinalício e, em 30 de novembro de 2002, o Santo Padre aprovou sua eleição de decano do colégio cardinalício, realizada por cardeais da ordem dos bispos. Foi presidente da Comissão para a preparação do Catecismo da Igreja Católica, que lhe custou seis anos de intensos trabalhos (1986 a 1992). Em 10 de novembro de 1999 recebeu o doutorado "honoris causa" de Direito, emitido pela Universidade Italiana - LUMSA. Em 13 de novembro de 2000, foi acadêmico honorário da Pontifícia Academia de Ciências. Acumulou diversas outras importantes funções como: Membro do Conselho da II Secção da Secretaria de Estado, das Congregações para as Igrejas Orientais, para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, para os bispos, para a Evangelização dos Povos, para a Edcucação Católica, do Pontifício Conselho Para a Promoção e Unidade dos Cristãos e das Pontifícias Comissões para a América Latina e "Ecclesia Dei". Durante sua trajetória, defendeu resolutamente os valores valores evangélicos e cristãos, empenhando- se decididamente a combater conceitos estranhos que pudessem, de qualquer forma, vir atingir os valores doutrinários da Igreja. De personalidade forte, nunca poupou palavras para defender os preceitos da religião católica. Por suas exposições, muitas vezes duras, porém verdadeiras, enfrentou constantes críticas, perseguições e declaradas inimizades. Desde 1981, quando foi nomeado como Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, arrebanhou uma larga fileira de inimigos, ao empenhar-se dedicadamente aos processos a si atribuídos, que visavam a investigação e controle da ortodoxia. Condenou a Teologia da Libertação, pelo seu conteúdo exclusivamente social, baseado em conceito ideológico e marxista. Também repudiou a manifestação de sacerdotes asiáticos, que tentaram colocar a doutrina da Igreja Católica no mesmo plano das religiões não-cristãs que, segundo eles, também faziam parte do plano de Deus para a salvação da humanidade. Muitos, não conseguindo enxergar seu zelo como preservador da doutrina de Cristo, o taxaram de "conservador" radical, diante da sua inflexibilidade ante surgimento de ideologia terrenas e condenando também temas como homossexualidade, matrimônios gays, controle da natalidade, uso de métodos artificiais para evitar a contracepção ou evitar a Aids, aborto, eutanásia, ordenação de mulheres e o sincretismo religioso. Demonstrou afabilidade ao diálogo inter-religioso, ao mesmo tempo que mostrou-se inflexível quanto aos pontos doutrinários e dogmáticos. Dentro disto, foi que manifestou certa restrição às relações
  • 12. ecumênicas, que pendiam para a unificação de idéias em filosofias diversificadas, inconciliáveis à doutrina da Igreja, além de atacar os modismos e tendências atéias da modernidade. Assumiu o nome de Bento XVI, no dia 19/04/2005, conforme anúncio à multidão congregada no Vaticano, que aguardava ansiosa após o anúncio da eleição do novo Papa, pela fumaça branca da chaminé vista por todos na Praça de São Pedro. Em sua primeira aparição pública, o recém-eleito Pontífice pediu ao mundo que rezasse por ele e por seu papado. "Entrego-me às vossas preces", disse o Papa à grande multidão, vindas de todas as partes do mundo. Foi ovacionado e interrompido por diversas vezes com gritos e aplausos. Vestido com os paramentos papais, Bento XVI deu sua primeira bênção à cidade de Roma e ao mundo (bênção "Urbi et Orbi") Bento XVI é o Papa mais idoso, desde Clemente XII, que também tinha 78 anos, quando eleito em 1730 e o primeiro Papa alemão, desde Vitor II (1055). Quando o Papa Bento XVI visitou a tumba do papa Celestino V em 2010, ele retirou seu pálio e o deixou em cima da tumba, em ato de clara homenagem. São Celestino V foi papa, santo e também renunciou por motivos de saúde. Recentemente Bento XVI afirmou em entrevista que se um papa não é capaz de cumprir seus deveres como papa, deveria deixar o cargo. Provavelmente viu no exemplo de São Celestino a confirmação de que a renúncia de um cargo pontifício não significa aversão a vontade de Deus. Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano, já noticiou que após um breve período em Castel Gandolfo, Bento XVI irá se recolher num mosteiro de clausura. Mais uma semelhança com São Celestino V, que também renunciou ao papado para terminar seus dias em oração dentro de um mosteiro. Quiçá as semelhanças entre Celestino V e Bento XVI não parem por aí: que seja Bento XVI santo como Celestino!
  • 13. A Renúncia Q uando eleito Bento XVI dissera que o seu pontificado seria curto. Um mandato de transição até a Igreja escolher um papa mais novo. Mas, aparentemente, ninguém esperava uma renúncia. O mundo que viu João Paulo II agonizar em praça pública e não renunciar, surpreendeu-se com a atitude do Sumo Pontífice. Apesar, todavia, da perplexidade na qual nos encontramos, manifestamos, claramente que apoiamos o Santo Padre, certos de que ele optou pelo melhor da Igreja – uma atitude de grande humildade e de grande sabedoria. Longe, porém das profecias de final dos tempos, acho mais prudente enxergar na atitude do Sumo Pontífice a honestidade de um homem e o amor deste homem pela Igreja de Cristo. É claro que, por um lado ficamos tristes! Acostumamo-nos com os ensinamentos de autoridade de Bento XVI, esperávamos grandes conclusões em seu pontificado e fomos surpreendidos com a humildade de um homem extremamente corajoso e com uma confiança em Cristo de tamanho incalculável. Renuncia ele, certo de que Nosso Senhor continuará guiando a Igreja. Quer uma prova de grande fé? Basta olhar a atitude deste homem! Olhando para sua renúncia, somos convidados a enxergar com novos olhos o Ano da Fé por ele proclamado. Em seu livro “Luz do Mundo” ele já defendera esse direito. Talvez, àquela altura, já estivesse prevendo a necessidade deste ato corajoso. Em discurso ao Consistório dos Cardeais reunidos diante dele, o Papa declarou que o faz "bem consciente da gravidade deste ato" e "com plena liberdade". É evidente que a renúncia de um Papa é algo inaudito nos tempos modernos. A última renúncia foi de Gregório XII em 1415. A notícia nos deixa a todos perplexos e com um grande sentimento de perda. Mas este sentimento é um bom sinal. É sinal de que amamos o Papa, e, porque o amamos, estamos chocados com a sua decisão. Diante da novidade do gesto, no entanto, já começam a surgir teorias fabulosas de que o Papa estaria renunciando por causa das dificuldades de seu pontificado ou que até mesmo estaria sofrendo pressões não se sabe de que espécie. O fato, porém, é que, conhecendo a personalidade e o pensamento de Bento XVI, nada nos autoriza a
  • 14. arriscar esta hipótese. No seu livro Luz do mundo (p. 48-49), o Santo Padre já previa esta possibilidade da renúncia. Durante a entrevista, o Santo Padre falava com o jornalista Peter Seewald a respeito dos escândalos de pedofilia e as pressões: Pergunta: Pensou, alguma vez, em pedir demissão? Resposta: Quando o perigo é grande, não é possível escapar. Eis porque este, certamente, não é o momento de demitir-se. Precisamente em momentos como estes é que se faz necessário resistir e superar as situações difíceis. Este é o meu pensamento. É possível demitir-se em um momento de serenidade, ou quando simplesmente já não se aguenta. Não é possível, porém, fugir justamente no momento do perigo e dizer: "Que outro cuide disso!" Pergunta: Por conseguinte, é imaginável uma situação na qual o senhor considere oportuno que o Papa se demita? Resposta: Sim. Quando um Papa chega à clara consciência de já não se encontrar em condições físicas, mentais e espirituais de exercer o encargo que lhe foi confiado, então tem o direito – e, em algumas circunstâncias, também o dever – de pedir demissão. Ou seja, o próprio Papa reconhece que a renúncia diante de crises e pressões seria uma imoralidade. Seria a fuga do pastor e o abandono das ovelhas, como ele sabiamente nos exortava em sua homilia de início de ministério: "Rezai por mim, para que eu não fuja, por receio, diante dos lobos" (24/04/2005). Se hoje o Papa renuncia, podemos deduzir destas suas palavras programáticas, é porque vê que seja um momento de serenidade, em que os vagalhões das grandes crises parecem ter dado uma trégua, ao menos temporária, à barca de Pedro. Podemos também deduzir que o Santo Padre escolheu o timing mais oportuno para sua renúncia, considerando dois aspectos: 1. Ele está plenamente lúcido. Seria realmente bastante inquietante que a notícia da renúncia viesse num momento em que, por razões de senilidade ou por alguma outra circunstância, pudéssemos legitimamente duvidar que o Santo Padre não estivesse compos sui (dono de si). 2. Estamos no início da quaresma. Com a quaresma a Igreja entra num grande retiro espiritual e não há momento mais oportuno para prepararmos um conclave através de nossas orações e sacrifícios espirituais. O novo Pontífice irá inaugurar seu ministério na proximidade da Páscoa do Senhor. Por isto, apesar do grande sentimento de vazio e de perplexidade deste momento solene de nossa história, nada nos autoriza moralmente a duvidar do gesto do Santo Padre e nem deixar de depositar em Deus nossa confiança. A decisão de Bento XVI demonstra Sabedoria E le viu os sofrimentos de João Paulo II. Foram úteis como exemplo naquele momento. Mas seria inútil à causa do Evangelho a repetição de tal evento também com Bento XVI no Pontificado. Bento XVI julgou mais útil à causa de Deus mostrar que as coisas podem ocorrer dentro da normalidade de uma sucessão com ele ainda em vida. É isto que está fazendo, ou teria suportado até o último sopro de vida. Não é uma opção de rompante, mas um ato consciente do Sumo Pontífice que o faz para a Glória de Deus. A Infalibilidade Papal neste caso não se aplica. Não é uma Questão de Fé, mas de foro íntimo. Apesar disso, o tempo demonstrará a Sabedoria de Deus em mais esta ação do Papa Bento XVI. Nós católicos não queremos um papa brasileiro. Queremos um papa fiel a Jesus Cristo.
  • 15. O anúncio oficial O Papa anunciou sua renúncia no final de um consistório público em Roma: Caros irmãos: Convoquei-os para este consistório, não apenas para as três canonizações, mas também para comunicar a vocês uma decisão de grande importância para a vida da Igreja. Após ter repetidamente examinado minha consciência perante Deus, eu tive certeza de que minhas forças, devido à avançada idade, não são mais apropriadas para o adequado exercício do ministério de Pedro. Eu estou bem consciente de que esse ministério, devido à sua natureza essencialmente espiritual, deve ser levado não apenas com com palavras e fatos, mas não menos com oração e sofrimento. Contudo, no mundo de hoje, sujeito a mudanças tão rápidas e abalado por questões de profunda relevância para a vida da fé, para governar o barco de São Pedro e proclamar o Evangelho, é necessário tanto força da mente como do corpo, o que, nos últimos meses, se deteriorou em mim numa extensão em que eu tenho de reconhecer minha incapacidade de adequadamente cumprir o ministério a mim confiado. Por essa razão, e bem consciente da seriedade desse ato, com plena liberdade, declaro que renuncio ao ministério como Bispo de Roma, sucessor de São Pedro, confiado a mim pelos cardeais em 19 de abril de 2005, a partir de 28 de fevereiro de 2013, às 20h, a Sé de Roma, a Sé de São Pedro, vai estar vaga e um conclave para eleger o novo Sumo Pontífice terá de ser convocado por quem tem competência para isso. Caros irmãos, agradeço sinceramente por todo o amor e trabalho com que vocês me apoiaram em meu ministério, e peço perdão por todos os meus defeitos. E agora, vamos confiar a Sagrada Igreja aos cuidados de nosso Supremo Pastor, Nosso Senhor Jesus Cristo, e implorar a sua santa mãe Maria, para que ajude os cardeiais com sua solicitude maternal, para eleger um novo Sumo Pontífice. Em relação a mim, desejo também devotamente servir a Santa Igreja de Deus no futuro, através de uma vida dedicada à oração.
  • 16. A declaração do Cal. Ângelo Sodano, decano do Colégio Cardinalício A presentamos as palavras do Cardeal Ângelo Sodano, decano do Colégio Cardinalício, após a declaração de Bento XVI. Ouvimos a declaração de Vossa Santidade atônitos, quase incrédulos. Sentimos nas vossas palavras o grande afeto que sempre tivestes pela Santa Igreja de Deus, por esta Igreja que tanto amais. Permiti-me dizer-vos, em nome deste cenáculo apostólico, o colégio cardinalício, em nome destes vossos caros colaboradores, que nós estamos ao vosso lado, como estivemos durante esses oito anos luminosos do vosso pontificado. Em 19 de abril de 2005, se bem me lembro, no fim do conclave, eu vos perguntei com voz trêmula: "Aceitais a vossa eleição canônica a Sumo Pontífice?", e não tardastes a responder, ainda com trepidação, que aceitáveis, confiando na graça de Nosso Senhor e na intercessão materna de Maria, Mãe da Igreja. Como Maria, destes naquele dia o vosso "sim" e começastes o vosso luminoso pontificado na estela da continuidade, daquela continuidade de que tanto nos falastes na história da Igreja, na estela da continuidade dos vossos 265 predecessores na Cátedra de Pedro, no curso de dois mil anos de história, do apóstolo Pedro, o pescador humilde da Galileia, até os grandes papas do século passado, de São Pio X ao beato João Paulo II. Santo Padre, antes do próximo dia 28 de fevereiro, como dissestes, antes do dia em que desejais inscrever a palavra "fim" neste vosso serviço pontifical, feito com tanto amor, com tanta humildade, antes daquele 28 de fevereiro ainda teremos oportunidades para vos expressar melhor os nossos sentimentos. Assim farão os muitos pastores e fiéis espalhados pelo mundo, os muitos homens de boa vontade, junto com as autoridades de muitos países. Ainda neste mês, teremos a alegria de ouvir a vossa voz de pastor nesta quarta-feira de cinzas, na quinta-feira com o clero de Roma, no ângelus dos próximos domingos, nas audiências das quartas-feiras; serão muitas ocasiões ainda para ouvirmos a vossa voz
  • 17. paterna. A vossa missão, porém, continuará: dissestes que estareis sempre próximo, com o vosso testemunho e com a vossa oração. As estrelas no céu continuam sempre a brilhar; assim, brilhará sempre em meio a nós a estrela do vosso pontificado. Estamos convosco, Santo Padre. A vossa bênção! A declaração oficial da CNBB N a tarde de hoje, a presidência da Conferência Episcopal dos Bispos do Brasil (CNBB), assinalou em nota oficial sua surpresa pela notícia da renúncia de Bento XVI ao ministério petrino, e agradece ao Papa pelo carinho demonstrado a Brasil ao longo do seu pontificado, assegurando-lhe das orações dos prelados brasileiros. A seguir, a íntegra da nota dos bispos do Brasil, assinada por Dom Raymundo Damasceno Assis Arcebispo de Aparecida, Presidente da CNBB; Dom José Belisário da Silva, Arcebispo de São Luís Vice-presidente da CNBB. Dom Leonardo Ulrich Steiner, Bispo Auxiliar de Brasília e Secretário Geral da entidade: Brasília, 11 de fevereiro de 2013 P. Nº 0052/13 “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei minha Igreja” (Mt 16,18) A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB recebe com surpresa, como todo o mundo, o anúncio feito pelo Santo Padre Bento XVI de sua renúncia à Sé de Pedro, que ficará vacante a partir do dia 28 de fevereiro próximo. Acolhemos com amor filial as razões apresentadas por Sua Santidade, sinal de sua humildade e grandeza, que caracterizaram os oito anos de seu pontificado. Teólogo brilhante, Bento XVI entrará para a história como o “Papa do amor” e o “Papa do Deus Pequeno”, que fez do Reino de Deus e da Igreja a razão de sua vida e de seu ministério. O curto período de seu pontificado foi suficiente para ajudar a Igreja a intensificar a busca da unidade dos cristãos e das religiões através de um eficaz diálogo ecumênico e inter-religioso, bem como para chamar a atenção do mundo para a necessidade de voltar-se ao Deus criador e Senhor da vida. A CNBB é grata a Sua Santidade pelo carinho e apreço que sempre manifestou para com a Igreja no Brasil. A sua primeira visita intercontinental, feita ao nosso País em 2007, para inaugurar a V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, e, também, a escolha do Rio de Janeiro para sediar a Jornada Mundial da Juventude, no próximo mês de julho, são uma prova do quanto trazia no coração o povo brasileiro. Agradecemos a Deus o dom do ministério de Sua Santidade Bento XVI a quem continuaremos unidos na comunhão fraterna, assegurando-lhe nossas preces. Conclamamos a Igreja no Brasil a acompanhar com oração e serenidade o legítimo processo de eleição do sucessor de Bento XVI. Confiamos na assistência do Espírito Santo e na proteção de Nossa
  • 18. Senhora Aparecida, neste momento singular da vida da Igreja de Cristo. Sobre qual será o estado de Bento XVI e de suas vestes após a sua demissão 1. Já foi confirmado que Bento XVI será "emérito" quanto ao ofício de Bispo de Roma e de Sucessor de São Pedro, cargos intimamente ligados. Portanto, até o que nos consta, será "Papa emérito", igualmente ao Papa Celestino V, único caso igual ao de Bento XVI. 2. Ele não retomará o título de Cardeal da Santa Igreja Romana. O ministério petrino, do qual ele apenas terá demissão e não deposição, está muitíssimo acima do ministério cardinalício. 3. Continuará a ser intitulado como "Papa Bento XVI", sob o título de Papa Emérito, ou Bispo Emérito de Roma. 4. Não, ele não ingressará no próximo conclave para a eleição de seu sucessor, pois já tem idade superior a permitida. Portanto, segundo informam nossas fontes, é certo que: Ele permanece com o direito ao uso de batina branca com faixa munida do brasão bordado, cujas franjas são douradas, "mozzeta" branca para o período pascal e vermelha para o restante do ano litúrgico. Contudo, como qualquer bispo com direito ao pálio, Bento XVI não o usará mais a partir do próximo dia 28, assim como não fará mais uso do Anel do Pescador, que expressa a titularidade do ministério petrino àquele que o carrega e ao qual o Papa Bento XVI não mais terá, a partir do dia 28.
  • 19. O Conclave F alando sobre o Sacro Colégio Cardinalício, mergulhando um pouco na história, vimos no século XX uma alteração substancial. Por exemplo, embora Pio XII em seus 19 anos de pontificado, tenha convocado somente dois consistórios, devido à II Guerra Mundial e as consequências dela, o que fez que houvesse somente 51 cardeais para o Conclave que elegeu João XXIII em 1958. Pio XII foi o primeiro a internacionalizar de maneira marcante o Sacro Colégio. João XXIII, em seu primeiro consistório, dois meses após a sua eleição criou numa só vez 22 novos cardeais, voltando ao parâmetro de Sisto V, mas sucessivamente, rompeu esta barreira. Em seu curto pontificado (quatro anos e meio), criou ao todo 52 novos cardeais. Vale lembrar que só havia 51, quando ele fora eleito. Paulo VI transformou a dignidade cardinalícia em um serviço, quase que em um sacramental. Os cardeais já não seriam "Príncipes da Igreja", conforme o Tratado de Latrão, mas o "senado" do Papa, seus conselheiros imediatos, cuja principal atribuição continua sendo de prover um novo sucessor de Pedro, quando da morte do Papa. O Código de Direito Canônico ainda afirma que se o eleito não for bispo, deve ser consagrado, de imediato, embora não afirme que deva ser na Capela Sistina. É bom lembrar que a Capela Sistina se tornou o "colégio eleitoral" só depois de 1870. O primeiro papa a ser eleito dentro dela foi Leão XIII. O seu antecessor, Pio IX, tinha sido eleito no Palazzo del Quirinale, ao lado da Catedral de Roma, São João de Latrão. Il Palazzo del Quirinale foi confiscado pelo rei da Itália em 1870 e hoje é sede da Presidência da República italiana. O mesmo Código de Direito Canônico também não afirma que necessariamente o eleito tem que estar presente ou ser um cardeal. Qualquer cristão pode ser eleito Papa! Houve muitos que qundo foram eleitos, nem padres eram! Por exemplo: São Gregório Magno, São Celestino V. Alguns casos mais recentes de cardeais que foram eleitos papas e que não eram bispos: Clemente VIII (1592-1605), Pio VI (1775-1799), Clemente XIV (1769-1774), Gregório XVI (1831-1846), este foi o último. Todos eles, depois de eleitos foram ordenados bispos pelo cardeal-decano, o cardeal-bispo de Ostia, assistidos por mais dois outros cardeais-bispos. É bom lembrar que entre os cardeais, só seis portam o título de cardeal-bispo, por ocuparem uma das sete antigas dioceses suburbicárias de Roma, que são: Ostia,
  • 20. Velletri-Segni, Porto-Santa Rufina, Frascati (Tusculum), Palestrina, Albano e Sabina-Poggio Mirteto. Desde o século III, o bispo de Ostia tinha já o privilégio de ordenar bispo ao Papa eleito. Nesta época, normalmente o eleito era escolhido dentre os diáconos da igreja de Roma. Só dois cardeais brasileiros chegaram a receber o título de cardeais-bispos: Dom Agnelo Rossi e Dom Lucas Moreira Neves. Aliás, Dom Agnello Rossi chegou a ser cardeal-bispo de Ostia, portanto decano do Sacro Colégio. Ele renunciou ao título quando completou 80 anos e preferiu voltar para o Brasil e morrer aqui. Pio XII tinha a intenção de internacionalizar a Igreja, e de diminuir o poder da curia romana. Na verdade, essa intenção vem já desde São Pio X, mas as guerras e outros problemas mais urgentes, assim como a ainda dificuldade de comunicação e movimentação, havia tornado impossível colocar essas medidas em prática. Pio XI queria muito, mas tudo o que levou até a segunda guerra não permitiu. O ápice dessa internacionalização ocorreu com o Papa João XXIII, que elevou um africano, um mexicano, um uruguaio, um americano, um japonês etc. Representando assim, os 5 continentes e o fato de que a Santa Igreja estava presente e atuante em todos os cantos do mundo. Ou seja, a internacionalização foi uma coisa progressiva e vinha na agenda papal desde o começo do século XX. Culminou com João XXIII, e se mantém até hoje. E foram 23 cardeais no primeiro consistório de João XXIII, quebrando o máximo de Sisto V (70 cardeais como número máximo). Sendo que, de acordo com algumas fontes, assim como muitos papas antes dele, ele teria criado 3 "in pectore". Se um Conclave entrar num impasse e se os cardeais quiserem eleger um leigo, canonicamente, não há problema algum. Pelo menos, nunca sei se atualmente haje algum empecilho jurídico. O leigo eleito será convocado e se aceitar, receberá os sacramentos da Ordem em seus três graus, simultaneamente, pelas mãos do cardeal-decano e tomará posse como sucessor de São Pedro. Como é sabido, a primeira providência, já às portas fechadas, o cardeal-decano procedia a eleição dos cardeais escrutinadores, que são três. No caso do último conclave, suponho que esta eleição ocorreu durante as reuniões fechadas pré-conclave que aconteceram na "Casa Santa Marta". Há umas regras não escritas, que permitem um rápido desfecho. Isso se explica como na mesma noite da abertura do conclave, tenha-se realizado já a primeira votação. Decisão sábia! Deste modo, os cardeais tiveram uma noite para pensar, sentir as tendências do conclave e no dia seguinte partirem para a sua conclusão. Bem, depois que todos os votos estão depositados dentro de um grande cálice, o primeiro escrutinador, depois de tê-lo agitado bem, abre-o e conta as cédulas, ainda fechadas. Se são 120 cardeais-eleitores, deve haver as 120 cédulas. Se o número não bater, a eleição está anulada e vai diretamente para a "fornalha". Se houver as 120 cédulas, o primeiro escrutinador abre uma por uma, mostra-a aos outros dois e lê em voz alta o nome do candidato. Um deles, anota o voto e o outro "costura" as cédulas apuradas. Se algum eleitor conseguiu a maioria de 2/3+1, ele está, canonicamente, eleito e deve aceitar, a não ser que tenha um grave impendimento pessoal, por exemplo, uma doença grave, desconhecida dos outros cardiais, que justifique sua recusa. Cabe, então, ao cardeal-decano, junto com os escrutinadores, dirigirem-se até o eleito e o fazer a célebre pergunta:Acceptasne electionem? Diante da resposta positiva, o eleito tira o seu solidéu e vai anunciar a escolha de seu novo nome. Aí, que o cardeal-decano ordena que se abra a porta para a entrada do Mestre-cerimônias e o Sacristão do Conclave que vão acompanhar o eleito até a chamada Aula Lacrimarum, onde três jogos de sotainas, três sapatos (pantufas) de diferentes tamanhos o aguardam. De lá, ele já sai revestido com a sotaina pontifícia. Realmente, até antes da reforma do conclave feita por Paulo VI - ao longo dos séculos, ele vem sendo reformado, comesticamente, - os cerimoniários entravam logo a seguir da obtenção dois terços, pois cabiam a eles irem puxando os cordões dos baldaquinos que cobriam os "tronos" dos demais cardeais, ficando descoberto somente o do novo Papa. Como pode-se ver em fotos ou mesmos em vídeos que mostravam a Capela Sistina antes do conclave, que tais tronos e baldaquinos já não existem mais, o que torna a presença
  • 21. de um não cardeal no momento, dispensável. O secretário do conclave realmente não é um cardeal. Aliás, a tradição é a de que ele é honrado com o púrpura pelo papa eleito por seus serviços. Mas não é ele que faz a pergunta, e sim o decano do colégio de cardeais. É óbvio que há tendências e opiniões divergentes entre os eleitores, mas eles estão certos que a escolha final será feita pelo Espírito Santo. Portanto, cada um, após cada eleição onde não se obteve a maioria de 2/3+1, necessariamente, tem que rever o seu voto e "despejar" o seu voto naqueles que estão sendo mais votados. É assim que se chega ao consenso. Nas reuniões pré-conclaves, há muitas consultas entre eles. Não se pode criar partidos ou citar nomes, criar blocos, mas essa troca de informações, invarialmente, já definem os prováveis candidatos. São os nomes que a imprensa em geral divulgam. Mas, há uma regra implacável, não escrita, que se aplica à risca. Quando acontece um empate entre dois candidatos, "queimam-se" os dois e vai à procura do "tertius". Para entender, podemos fazer uma simulação: Um conclave com 120 eleitores (o número máximo). Para alguém ser eleito, ele precisa de 2/3+1 dos votos, portanto, mínimo de 81 votos. A exigência de 2/3+1 dos votos foi introduzida por Pio XII, para prevenir que um candidato possa se eleger, votando em si mesmo. Portanto, a exigência de um voto a mais dos 2/3 necessários, elimina, automaticamente, o seu próprio voto. Há, cada dia, quatro votações. Em cada votação, quando não se obtem a eleição, as cédulas "costuradas" por um dos cardeais escrutinadores são queimadas com palha úmida. . Conclusão: "fumaça preta" - nenhum Papa! Quando se obtem a eleição canônica, queimam-se as cédulas, com todas os blocos de notas que os cardeais usaram para suas próprias anotações com palha seca, daí a "fumaça branca" que anuncia que já há um novo Papa. Esta procedência é para preservar o segredo do conclave, que nenhum cardeal deve tornar público sob pena de excomunhão. Mas, sempre algo escapa! Hoje também, incorre em excomunhão automática se algum cardeal votar por pressão externa, como aconteceu no Conclave de 1903 com o veto da eleição do cardeal Marianno Rampolla pelo Imperador da Áustria, através do arcebispo de Cracóvia, cardeal Jan Maurycy Pawel Puzyna de Kosielsko (1895-1911), um antecessor de Karol Józef Wojtyła, João Paulo II. . Um conclave fictício para melhor compreender Vamos para uma simulação: 120 eleitores - 81 votos necessários para uma eleição. Primeiro dia: 1.º votação: Cardeal A = 20 votos Cardeal B = 12 votos Cardeal C = 06 votos Cardeal D = 02 votos Teríamos aí 80 votos dispersos em outros cardeais. Estes votos devem ser direcionados aos mais votados, em teoria a A, B. C ou D. 2.º votação: Cardeal A = 28 votos Cardeal B = 16 votos Cardeal C = 22 votos Cardeal D = 02 votos Teríamos aí 52 votos dispersos que devem concentrar nos mais votados. Hora do almoço - ninguém, afinal é de ferro. 3.º votação:
  • 22. Cardeal A = 45 votos Cardeal B = 16 votos Cardeal C = 42 votos Teríamos aí só 17 votos dispersos de alguns inconformados com o rumo da eleição. 4.º votação: Cardeal A = 56 votos Cardeal B = 06 votos Cardeal C = 58 votos Conclusão: Fumaça preta! Todo o conclave se concentrou em 03 nomes, sendo que o cardeal B perdeu votos, os cardeais A e B avançaram, mas não o suficiente. O Cardeal A obteve 46% dos votos, o Cardeal C: 48%. Estão longe dos 68% dos votos exigidos (2/3+1) e estão empatados. Eles estão descartados! No dia seguinte, nenhum dos três mais votados (A, C e B) não irão receber voto algum. Os cardeais irão atrás de um outro nome (o tertius). Por isso, aqueles que são tidos como favoritos, se não elegem no primeiro dia, dificilmente voltarão a ter votos. Vão dormir com a cabeça quente. O dia seguinte será um outro dia. Esta é a dinâmica, embora haja exceções. . Quanto à alimentação, as freiras de Santa Marta que preparam as refeições para o Conclave não são conhecidas por suas habilidades culinárias! Além do mais, cada um tem um hábito alimentar diferente. Conclusão: a comida é ruim! Mais um motivo para se procurar uma solução rápida. Oração por Bento XVI P eçamos com a Virgem de Lourdes que o Senhor, mais uma vez, derrame o dom do Espírito Santo sobre a sua Igreja e que o Colégio dos Cardeais escolha com sabedoria um novo Vigário de Cristo. Nosso coração, cheio de gratidão pelo ministério de Bento XVI, gostaria que esta notícia não fosse verdade. Mas, se confiamos no Papa até aqui, porque agora negar-lhe a nossa confiança? Como filhos, nos vem a vontade de dizer: "não se vá, não nos deixe, não nos abandone!" Mas não estamos sendo abandonados. A Igreja de Cristo permanecerá eternamente. O que o gesto do Papa então pede de nós, é mais do que confiança. Ele nos pede a fé! Talvez seja este um dos maiores atos de fé aos quais seremos chamados, num ano que, providencialmente, foi dedicado pelo próprio Bento XVI à Fé. Fé naquelas palavras ditas por Nosso Senhor a São Pedro e a seus sucessores: "As portas do inferno não prevalecerão!" (Mt 16, 18).