Três agricultores familiares praticam a agroecologia de forma sustentável e comercializam seus produtos livres de agrotóxicos na Feirinha do Benfica. Eles preservam a natureza e o meio ambiente ao cultivar diversas culturas de forma orgânica e rotacionada.
Três Corações e uma História: Amar a natureza, preservar a vida e o meio ambiente
1. O Equilíbrio Natural do quintal de Erasmo
O agroecossistema comandado por Erasmo e sua família, é marcado por uma forte
consciência agroecológica e atuação exemplar na utilização das práticas aprendidas.
Ao longo do tempo conseguiram, por meio da observação da área e do conhecimento
adquirido estruturar um ambiente diversificado tanto no aspecto vegetacional como
no equilíbrio de animais e pássaros, efetivando assim a segurança e soberania
alimentar, pois aquilo que não é consumido também é comercializado na Feirinha do
Benfica.
Em uma área de cinco hectares e meio a natureza convive em estado de equilíbrio
entre as espécies. Atualmente a família está produzindo banana, macaxeira, caju e
urucum. Toda essa produção obedece aos princípios da agroecologia, do respeito à
natureza e ao ser humano: “aqui a gente trabalha com a rotação de culturas, com os
defensivos naturais, o que agente usa muito aqui é o nim” Afirma Erasmo.
A água que utilizam na manutenção das fruteiras vem de poços escavados
artesanalmente ao longo de um riacho que passa na propriedade. Nessa época do
ano ele seca e sobram pequenos poços, onde fazem a irrigação “do jeito que ta aqui o
motor só agüenta 15 minutos ligado” conta Erasmo da dificuldade de conseguir
água.
Segundo ele, a implementação da cisterna calçadão trará muitos benefícios, ele
pensa em fazer uma estufa e assim defender as hortaliças dos raios solares: “aí tem a
parte de hortaliças que nessa época agente não consegue muita coisa porque o sol é
forte e mata as plantas, mais agente produz o couve, agrião, a rúcula, tudo que
agente produz vende lá na feira”
Três Corações e uma História:
Amar a natureza, preservar a vida
e o meio ambiente.
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
No município de Capistrano (CE), a experiência de agricultores experimentadores que
realizam seus trabalhos baseados nos princípios da agroecologia, já ganhou espaço e
notoriedade para além dos pés de serra que os rodeiam. Esses pioneiros são Pelé,
Erasmo e Magno, das comunidades de Sítio Iu, Pesqueiro e São Bento respectivamente.
A iniciativa começou com o Curso de Manejo Ecológico e Horticultura Orgânica através
do Projeto AFAM – Agricultura Familiar, Agroecologia e Mercado realizado no Município
de Barreira (CE) em que os três participaram há quatro anos: “de lá pra cá, ninguém usou
mais veneno” afirma Pelé. As três propriedades têm suas particularidades, mas uma
coisa em comum é o verde contrastante com o cenário cinzento da caatinga.
A produção é diversificada e conta com grande variedade de vegetais livres de
agrotóxicos, além de mel, ovos caipiras, dentre outras especiarias que são
comercializadas quinzenalmente na Feirinha do Benfica, realizada pelo grupo de
Consumidores Responsáveis do bairro Benfica, localizado em Fortaleza (CE). Que tem
por objetivo: debater e praticar alternativas de consumo pautadas na solidariedade, na
produção agroecológica, envolvendo arte, educação e respeito à MÃE TERRA.
Consumo Responsável
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
Ano 8 • nº 2020
Capistrano (CE)
Agosto/2014
Realização Apoio
O objetivo de consumo responsável extrapola o
atendimento de necessidades individuais ao levar
em consideração seus reflexos na sociedade, na
economia e no meio ambiente. Para isso, precisamos
estar bem informado sobre os produtos e serviços
que queremos adquirir e/ou contratar, visto que o
poder de transformação social está em não
reproduzir nem alimentar aquilo que renegamos.
Optar por formas de produção que levem em
questão a ética, o respeito aos direitos humanos, os
limites naturais do planeta é um meio de pressionar
e não financiar produtores e/ou empresas que
degradam, oprimem, exploram em nome do lucro
privado. Por tanto, o consumo responsável
considera outras relações entre consumo e
produção de modo que todos saiam ganhando.
Pelé, comercializando seus
produtos na feirinha do Benfica
Fonte: Site do Grupo de Consumo Responsável de Fortaleza
Erasmo no preparo da calda nutritiva
Plantação de bananas
Plantação de milho
Erasmo em seu Agroecossistema
INSTITUTO
IAC
Antonio Conselheiro
2. Pelé: o artilheiro da Convivência com o Semiárido
Valter Francilino Nogueira, mais conhecido como Pelé, vive com a esposa Marta, os
filhos Matheus, Marcelo e os gêmeos Waldemar e Ana Laura, na comunidade de Iu:
“La em casa agente trabalha no regime familiar, todo mundo ajuda um pouco” Afirma
Pelé. Há cerca de dez anos eles conquistaram uma Horta Mandala, sendo essa a atual
fonte de água para a irrigação das hortaliças e das fruteiras que ficam no quintal de
casa: “eu fiz o curso da Mandala aí eu comecei a pegar um conhecimento muito bom
sobre a agroecologia, aí depois veio o curso em Barreira e de lá pra cá já faz uns oito a
dez anos que agente trabalha com a Agroecologia” relembra Pelé do seu primeiro
contato com o sistema agroecológico de produzir.
Toda a produção é voltada para o consumo da família, o excedente é vendido na
Feirinha: couve, quiabo, alface, beterraba, cenoura, maxixe, tomate cereja,
pimentão, pimenta de cheiro, laranja, manga, mamão, acerola e abacaxi que são
produzidos de maneira totalmente agroecológica: “toda vida quando eu ia pulverizar
com agrotóxico me dava um mal estar, uma dor de cabeça, aí eu vi na televisão o caso
de uma pessoa de Minas Gerais que sentia o mesmo sintoma e começou a trabalhar
com a agroecologia e tava dando certo” afirma Pelé contando dez anos que se livrou
do veneno. Mostrando os defensivos naturais que ele mesmo produz, Pelé não deixa
de lembrar: “Na agroecologia tudo que você faz é econômico, você não compra nada,
a natureza já tem tudo que ela precisa”.
Dona Marta prepara bolo de milho, doce de caju e mamão que fornecem para a
merenda escolar de Capistrano, através do Programa de Aquisição de Alimentos –
PAA. Ela também cuida da farmácia viva da família: capim santo, alfavaca, cidreira,
hortelã, dentre outros que garantem tratamento natural em casos de doença.
Magno, a força da juventude na Agroecologia
Nossa bandeira são todas as bandeiras
Misturadas, amarradas com o laço do amor
É a juventude agroecológica
Que vai pintar o mundo todo de outra cor.
Zafenate
O agricultor Magno cuida do seu terreno com muito carinho, são oito hectares bem
divididos entre as áreas de plantio e de preservação. A casa onde vai morar com a
esposa Deusivane e as duas filhas já está quase pronta, assim como a cisterna
calçadão conquistada pela família, que logo estará finalizada. Quanto à tecnologia
social Magno afirma: “A cisterna é um grande passo, porque tanto vai servir pra gente
produzir pra vender e consumir, o sustento da família vai melhorar”.
Além das hortaliças eles produzem a banana para a venda na feirinha: “Eu nunca
tinha ido, só mandava os produtos, aí teve uma vez que eu fui, eu achei muito
interessante lá, o pessoal confia n'agente, nos nossos produtos, que são naturais, aí
a gente acha muito bom né” conta Magno da alegria que foi a sua primeira visita à
Feirinha do Benfica.
Articulação Semiárido Brasileiro – CearáBoletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas
“Essas nossas terras aqui é boa,
tendo água tudo que plantar dá”
Magno conta da sua insegurança ao começar a
trabalhar com a Agroecologia e diz que não
confiava muito no novo sistema de produzir: “No
começo eu reservei uma área pequena e plantei
pra ver se tinha resultado e teve né, aí a partir
desse momento eu vi que dava certo”. De lá pra
cá, o agricultor abraçou a produção livre de
agrotóxicos pelo bem da saúde e da vida.
A água utilizada na produção também vem de um
poço escavado na propriedade: “O rio secou aí a
gente cavou um buraco que deu água suficiente, ela
dá pra aguar as plantas, aí fica seco, mas no outro dia
já tem água de novo”.
Preocupados com o uso de agrotóxicos pelos
vizinhos, Magno já teve uma idéia: “aí a gente
chamou o Neto, que deu o curso pra gente, pra vim
aqui na comunidade, trazer uns vídeos, dar umas
palestras, pra ver se o pessoal se conscientiza”.
Magno é consciente do seu papel no sistema de
produção Agroecológica: “A gente respeitando a
mãe natureza ela retribui, respeitar o tempo dela,
porque pra tudo tem o tempo, de plantar, de
germinar, de colher, não adianta acelerar, tem que
respeitar o tempo dela.”
Magno e seu cultivo
agroecológico de bananas
Magno mostra sua coleção
de revistas agroecológicas