1. um dia de fama
vire a página e conheça
a história do repórter
que virou boleiro
por uma noite
por breiller pires
design gabriela oliveira
fotos camila fontana e
alexandre battibugli
Breillerson
O NOVO
craque
dO brasil
H o estilo
matador
H da grécia
para o timão
– sem escalas exclusivo
as cantadas
H as lições das gatas e
do padrinho marmanjos
vampeta
de olho
as intimadas
dos torcedores
patrulheiros
setembro 2011 / placar / 65
2. breillerson
esquema estava armado. Nome de boleiro, trajes de bolei- ferindo às “marias-chuteiras”, habi- bre a atração da noite seguinte, o
tués dos pagodes do HoraBolla’s Bar, funkeiro Mr. Catra. Empolgado, Vam-
ro e um parceiro acima de qualquer suspeita. A ideia era sua casa noturna no bairro de Santa- peta diz que o cachê de 20 000 reais
simples: eu agora era “Breillerson”, um volante raçudo na, zona norte de São Paulo. Após a se justifica num documentário em
que saiu cedo do Brasil para fazer carreira na Europa e cornetada no visual, ele se entusias- que o cantor detalha como mantém
ma com a cascata do Breillerson. três esposas e 20 filhos sem dile-
acabava de retornar do futebol grego à procura de um clu- Embarcamos no seu Toyota RAV4, mas. Com isso, ganhou a admiração
be. Vampeta, o pentacampeão que desceu a rampa do Pa- de rodões reluzentes, e seguimos do ex-jogador. Ao deixar a sala, ele
lácio do Planalto a cambalhotas, seria meu cicerone na em alta velocidade. Ele fura no míni- ergue o dedo indicador e me explica
mo três faróis vermelhos antes de sua participação no negócio: “Isso
volta ao país. Com a cumplicidade dele, eu me passaria estacionarmos em frente à balada. tudo aqui é meu. Mas só apareço pa-
por boleiro por um dia. Quer dizer, por uma noite. Vampe- No HoraBolla’s, uma escada divi- ra pegar o dinheiro.”
ta achou graça e topou o conchavo de primeira. de o ambiente em dois. Na parte de Com as obrigações profissionais
baixo, palco e pista, fica o povão. No cumpridas, descemos à pista. Vam-
Ele marcou o esquenta em uma ade- trabalho dividiam uma cerveja en- cando, brincão, e boné assim, ó. andar de cima, a área VIP e os cama- peta arrasta uma mesa e manda
ga na zona norte paulistana para quanto assistiam aos minutos finais O pentacampeão (que hoje é ge- rotes. É lá que se amoitam as cele- uma rodada de chope. Brindamos
acertar os detalhes. De lá seguiría- de Corinthians x Vasco na tevê. Um rente de futebol do modesto Grêmio bridades, a boleirada e as loiras com “ao Breillerson”, mas Vamp é o ver-
mos para uma balada onde ele me funcionário do bar deu a dica que o Osasco) pega o boné de um amigo, as pernas mais torneadas da casa. dadeiro astro da festa — ele aparece,
apresentaria como seu protegido, e ex-jogador deveria estar na casa da enterra-o até a sobrancelha e puxa- Na semana anterior, os zagueiros inclusive, no cartaz que anuncia as
botaríamos o plano em ação. irmã, na mesma rua. Pouco depois o para o lado. Depois baixa um pou- Fábio Ferreira e Antônio Carlos e o atrações da noite. Embora distante
Era uma fria quarta-feira de julho. da meia-noite ele apareceu. co a calça e ginga pela rua escura, atacante Herrera, do Botafogo, esti- dos gramados há anos, ele atiça de-
Quando Vamp falou em adega logo o cueca à mostra, demonstrando co- veram por ali. Antes de cairmos na zenas de berros de “Vai, Corin- Futsamba: vamp é
imaginei refestelado na poltrona, Mutreta à la Vampeta mo se faz: farra, Vamp me pede para acompa- thians!” vindos de fãs. Cinco ou seis destaque no cartaz
que estampa os
balançando uma taça de Bordeaux. O velho Vamp atravessa a rua com — Tem de mostrar a Calvin Klein, nhá-lo em uma “reunião de negó- deles se aproximam para pedir autó- grupos de pagode
Mas a tal adega Vale D’Ouro é, na cinco comparsas a tiracolo. Para mi- pô! Elas percebem essas coisas... cios”. Numa sala de fundos, ele en- grafo. É aí que eu, ou melhor, o Breil- da noitada no
horabolla’s, reduto
verdade, um boteco de esquina nu- nha decepção, vai logo debochando Por “elas”, Vampeta estava se re- contra seus sócios. A conversa é so- lerson, entra na parada. Vamp faz o de boleiros na zona
ma rua erma da Vila Maria. O que do figurino de Breillerson: blazer, norte de são paulo
chegava mais perto de um Bourdeax cordão e crucifixo de prata, relógio
por ali eram os garrafões de 5 litros Armani Exchange invocado. Segu-
de rótulos nacionais: Jota Pe, Pérgo- rando a gola do meu blazer, Vampe-
la e Cardeal. E Vampeta não estava ta dispara sua primeira lição:
por lá. No balcão, três bolivianos — Boleiro não se veste assim, não!
com o ar cansado de quem acabara Essa corrente está muito escura. O
de enfrentar uma longa jornada de pessoal de hoje usa corrente trin-
As quAtro horAs
de breillerson
0h05 0h20
na adega da vila pego carona com
1h30
maria, breillerson vamp, que alfineta
faz pose de popstar, o meu figurino
já no horabolla’s,
a despeito dos boleiro. a produtora
vampeta ensaia
litrões de vinho havia descolado
dancinhas
barato e dos uma camiseta gola
desconexas, com a
bolivianos ao fundo. v funda e me
malemolência de
À tarde, a constrangeu ao
um beque cascudo
produtora da perguntar se eu
e um sorriso blasé
placar garimpou tinha pelos no
entre as bochechas
a parafernália para peito. “você não
túmidas. em meio
me caracterizar quer raspar, não? É
ao batuque, rola até
como um legítimo a última moda entre
um brinde especial
boleiro fanfarrão. os jogadores.”
ao breillerson.
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3. breillerson
meu filme e me apresenta como cra- A mesa da trupe já está calibrada cer aqui a presença do Breillerson, rar todos juntos”, sugere uma delas,
que. “Esse é o Breillerson, jogador, com duas garrafas de uísque, um que veio da Grécia e vai fechar com enquanto a outra arremata: “Quere- Edu Gaúcho,
veio da Grécia etc.” Dou meus pri-
meiros autógrafos e sou iluminado
balde repleto de latinhas de energé-
tico e várias tulipas de chope. Vam-
o Corinthians. Tamo junto!” O alô dos
pagodeiros é sucedido por uma súbi-
mos um apê na Vila Olímpia, viu?
Desde pequenas nós duas fazemos o pioneiro
pelos flashes das tietes. Minha pre- peta arrisca passinhos de dança e ta aglomeração de curiosos. Um co- tudo juntas. Tudo!” Breillerson dribla Para conferir
Te filmei a noite sença começa a ser percebida, mas me convoca para entrar no ritmo. De rintiano se aproxima e enquadra: “Aí, a conversa, simula uma ida ao ba- de perto a
inteira e vi que você a bravata toma corpo quando o edi- repente, me pego num requebrado mano, pra jogar no Timão tem que nheiro e sobe as escadas para son- vida dura de
tor Felipe Zylbersztajn e a fotógrafa pândego ao lado de um pentacam- representar. Se ficar nessa de bala- dar o movimento nos camarotes. um boleiro na
não pegou ninguém. Camila Fontana registram a reporta- peão do mundo. Logo, duas loiras se da e cachaça, a Fiel não perdoa”. O susto vem ao sentir uma mão balada, PLA-
gem para a PLACAR. Com postura aproximam e me vejo obrigado a em- Uma moça animada chega junto, pesada sobre o ombro. Era um ma- CAR escalou,
Em qual ‘time’ evasiva e expressão desdenhosa, barcar num “trenzinho”, como se pede para tirar uma foto e pergunta grelão espalhafatoso, de 40 e pou- há dez anos,
você joga, hein? disparo um repertório de frases fosse a coisa mais normal do mundo. meu nome. “Breillerson? Nossa, que cos anos e jeans colado. O sujeito o fotógrafo
prontas e vazias. É o suficiente para Para completar, a banda de pagode nome bonito!” O Breiller, repórter na lança um papo estranho, lembrando Eduardo Mon-
Presente de grego: Breillerson sai atrair os olhares femininos que até para a música, e o vocalista me põe vida real, das inúmeras vezes que o ensaio de Vampeta para a G Maga- teiro, que se
“zerado” da balada e sofre marcação então não haviam me notado. na fita: “Rapaziada, vamos fortale- respondeu à mesma pergunta, ouviu zine, em 1999. Tento cortar a prosa, fingiu de jo-
cerrada de um magrelão assanhado no máximo um “nome diferente, mas ele insiste: “É o seguinte: te fil- gador na
né?”. Na sequência, uma dupla de mei a noite inteira e vi que você não noite cario-
turbinadas, de trajes econômicos, pegou ninguém. Em qual ‘time’ você ca. Com a ajuda de Maurício,
cola no Breillerson. Enquanto dan- joga, hein?” Boleirão que não exibe ex-atacante do Botafogo, ele
çam lascivamente ao redor, articu- ao menos uma maria-chuteira como virou Edu Gaúcho, foi tratado
lam um inquérito para levantar a fi- troféu da noitada gera suspeita. Dei- como craque e topou até com
cha do mais novo jogador do pedaço. xo o magrelão mal-intencionado na Dercy Gonçalves na pagodeira.
Querem saber onde eu moro. Digo saudade e tiro meu time de campo. Agora, a isca da vez é o folclóri-
que, como voltara recentemente do Afinal, o imenso relógio importado co Vampeta, que guiou as
exterior, Breillerson ainda estava à no meu pulso já marca quatro e meia aventuras do nosso repórter
procura de um apartamento. “Olha, da manhã, e aquela apuração estava pela empreitada noturna dos
nós também estamos. Podemos mo- indo longe demais. jogadores de futebol.
4h15
nenhum jogador
famoso passou pela
área vip da boate
durante a noitada.
apadrinhado por
3h10
vampeta e
alexandre martins,
ex-empresário de
ronaldo, breillerson
ofusca boleiros
atraídas pelo conto juniores e
do falso jogador, subcelebridades,
turbinadas e como jô amancio, o
decotadas engatam “amigo-aba” do
o bonde sem freio neymar. o assédio
do breillerson, que aos famosos é
tem de utilizar todo batido por ali: “se é
seu jogo de cintura jogador, então, meu
para fintar chapa, a mulherada
a investida não perdoa”, diz um
maliciosa das empregado da casa
marias-chuteiras de antes da minha
plantão no pagode. saída à francesa.
68 / placar / setembro 2011 produção: cuca elias / agradecimentos: camargo alFaiataria (blazer); mandi (cinto); setembro 2011 / placar / 69
marco apollonio atelier (pulseira e colar); armani exchange (relógio)