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Os mosaicos romanos do Leste Algarvio

Ainda que com as dificuldades naturalmente inerentes a um tipo de
empreendimento como este, mais a mais num período em que as Ciências Sociais e
Humanas sofrem tratos de polé da parte daqueles que nos ‘governam’, é, sem dúvida,
uma lança em África conseguir-se a edição de uma obra como esta. Só isso bastaria para
nos regozijarmos e dar um fortíssimo abraço aos que ousaram – e muito bem fizeram –
lançar mãos a tão ingente tarefa.

Pois ele aí está, o volume do Corpus dos Mosaicos Romanos de Portugal que
trata do Algarve Este, da autoria de J. Lancha e de Cristina Oliveira. A edição, impressa
em Julho deste ano (596 páginas, ISBN: 978-989-97666-1-7), é da Universidade do
Algarve e da Missão Luso-Francesa ‘Mosaïques du Sud du Portugal”; teve apoio
financeiro da Fundação Calouste Gulbenkian, da Fundação para a Ciência e a
Tecnologia, da Lusort (de Vila Moura) e da Junta de Freguesia de Estoi (em cujo termo
se situa a villa romana de Milreu).
Colaboraram com as autoras:
– Adília Alarcão, que fez o relatório da escavação, em 1976, do mosaico do
Oceano e apresenta a primeira abordagem científica das tesselas em folha de ouro;
– Pierre André, que colaborou na descrição arqueológica da villa de Milreu;
– Lídia Catarino e Fernando Pedro Figueiredo, que se encarregaram do estudo
geológico e petrográfico das tesselas;
– Márcia Carlos Figueiredo e Alice Oliveira, que procederam à análise química
quantitativa de uma tessela de folha de ouro de Milreu (o nº 66);
– José Frade e Isabel Ribeiro, que se empenharam numa análise ainda mais
sofisticada: a de tesselas em folha de ouro por FTIR-μs e Py-GC/MS;

1/3
– Catarina Viegas, que se encarregou de estudar a cerâmica que acompanhava o
mosaico do Oceano, aquando do seu levantamento;
– e Rui Nunes Pedroso, que se interessou pelas pinturas murais.
Como se depreende, o estudo propriamente dito dos mosaicos esteve a cargo das
autoras, ainda que possa dizer-se que a descrição minuciosa de cada painel deve muito a
Cristina Oliveira, enquanto J. Lancha, que escreve em língua francesa, se encarregou
mais do seu enquadramento arqueológico e espacial.
A simples enumeração do que coube a cada um dos colaboradores dá logo uma
ideia de como o volume contém – para além do que foi o aturado estudo que Cristina
Oliveira apresentou nas suas provas de doutoramento, na Universidade de Coimbra, a
19 de Outubro de 2010 – pormenorizada aproximação aos sítios arqueológicos em
presença: Faro, Milreu, Cerro da Vila e outros sítios (por exemplo, Balsa, Pedras d’ElRey, Cacela-a-Velha, Quinta de Marim…).
O índice vem todo em língua francesa, mesmo quando se reporta a partes
redigidas em português e por ele se fica a conhecer melhor a estrutura seguida.
Aborda-se, na primeira parte, o contexto arqueológico e arquitectónico dos
diferentes sítios: fontes para esse estudo, descrição dos sítios como hoje estão,
observação específica do contexto de cada um; e procuram-se, inclusive, contextualizar,
a nível da Península Ibérica, as villae do Algarve Oriental. Nesse capítulo há mesmo
uma aproximação ao perfil sociológico dos encomendantes dos mosaicos, precedido do
1º apêndice, que tem por título a afirmação de que o célebre ‘santuário das águas’ de
Milreu não pode ser considerado um mausoléu. Contesta-se, assim, com argumentos, a
tese defendida por Dennis Graen e conclui-se que preferentemente se deve ver nesse
edifício a demonstração do poder económico e social do proprietário, bem no quadro da
mentalidade do século IV: desta sorte melhor evidenciava e fazia admirar, durante a
vida, a elevada posição social que lograra alcançar (p. 179).
Constitui a 2ª parte o corpus propriamente dito dos mosaicos estudados,
debruçando-se Cristina Oliveira depois, miudamente, sobre a paleta de suas cores e
formas (p. 525-547), que sintetiza em quadros sinópticos. São as fichas 25 a 108 (p.
197-523), estendendo-se bastantes delas por várias páginas (a nº 64, por exemplo, da p.
373 à 399).
A lista de siglas e de abreviaturas pelas quais são identificados os livros e os
artigos assim como a bibliografia referida vem no começo do volume, apresentando-se,
no final, índices topográfico, de nomes próprios antigos e de nomes comuns (temático).
2/3
As ilustrações (211 estampas e 106 figuras a preto a branco e a cores) constam do CD
que acompanha o livro.
Trata-se, como facilmente se depreende, de uma obra que não desmerece os
outros dois volumes já publicados nesta série: o dos mosaicos da Casa dos Repuxos de
Conímbriga (1992), que se ficou a dever à enorme capacidade do saudoso João Manuel
Bairrão Oleiro, um dos pioneiros no estudo dos mosaicos romanos entre nós, e o dos
mosaicos da villa romana de Torre de Palma (J. Lancha e P. André, Lisboa, 2000).
Por outro lado, o mosaico é estudado aqui não apenas do ponto de vista técnico,
em comparação constante com mosaicos de outras partes do mundo romano,
designadamente do Norte de África, região com que incontestavelmente há afinidades
estéticas e temáticas, mas também no seu contexto, realçando-se a sua quotidiana
função de emprestar beleza e de suscitar admiração.
Debruçando-nos sobre a enorme perícia demonstrada pelos mosaístas de
antanho, acabamos por melhor apreciar o seu valor e mais eloquentemente
compreendermos quanto a cor e a estética andavam, também então, a par de vidas
necessariamente partilhadas entre o ócio e o negócio.

José d’Encarnação
Publicado em Cyberjornal, edição de 15-12-2013:
http://www.cyberjornal.net/index.php?option=com_content&view=article&id=75:osmosaicos-romanos-do-leste-algarvio&catid=78:historia-e-patrimonio&Itemid=30

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  • 1. Os mosaicos romanos do Leste Algarvio Ainda que com as dificuldades naturalmente inerentes a um tipo de empreendimento como este, mais a mais num período em que as Ciências Sociais e Humanas sofrem tratos de polé da parte daqueles que nos ‘governam’, é, sem dúvida, uma lança em África conseguir-se a edição de uma obra como esta. Só isso bastaria para nos regozijarmos e dar um fortíssimo abraço aos que ousaram – e muito bem fizeram – lançar mãos a tão ingente tarefa. Pois ele aí está, o volume do Corpus dos Mosaicos Romanos de Portugal que trata do Algarve Este, da autoria de J. Lancha e de Cristina Oliveira. A edição, impressa em Julho deste ano (596 páginas, ISBN: 978-989-97666-1-7), é da Universidade do Algarve e da Missão Luso-Francesa ‘Mosaïques du Sud du Portugal”; teve apoio financeiro da Fundação Calouste Gulbenkian, da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, da Lusort (de Vila Moura) e da Junta de Freguesia de Estoi (em cujo termo se situa a villa romana de Milreu). Colaboraram com as autoras: – Adília Alarcão, que fez o relatório da escavação, em 1976, do mosaico do Oceano e apresenta a primeira abordagem científica das tesselas em folha de ouro; – Pierre André, que colaborou na descrição arqueológica da villa de Milreu; – Lídia Catarino e Fernando Pedro Figueiredo, que se encarregaram do estudo geológico e petrográfico das tesselas; – Márcia Carlos Figueiredo e Alice Oliveira, que procederam à análise química quantitativa de uma tessela de folha de ouro de Milreu (o nº 66); – José Frade e Isabel Ribeiro, que se empenharam numa análise ainda mais sofisticada: a de tesselas em folha de ouro por FTIR-μs e Py-GC/MS; 1/3
  • 2. – Catarina Viegas, que se encarregou de estudar a cerâmica que acompanhava o mosaico do Oceano, aquando do seu levantamento; – e Rui Nunes Pedroso, que se interessou pelas pinturas murais. Como se depreende, o estudo propriamente dito dos mosaicos esteve a cargo das autoras, ainda que possa dizer-se que a descrição minuciosa de cada painel deve muito a Cristina Oliveira, enquanto J. Lancha, que escreve em língua francesa, se encarregou mais do seu enquadramento arqueológico e espacial. A simples enumeração do que coube a cada um dos colaboradores dá logo uma ideia de como o volume contém – para além do que foi o aturado estudo que Cristina Oliveira apresentou nas suas provas de doutoramento, na Universidade de Coimbra, a 19 de Outubro de 2010 – pormenorizada aproximação aos sítios arqueológicos em presença: Faro, Milreu, Cerro da Vila e outros sítios (por exemplo, Balsa, Pedras d’ElRey, Cacela-a-Velha, Quinta de Marim…). O índice vem todo em língua francesa, mesmo quando se reporta a partes redigidas em português e por ele se fica a conhecer melhor a estrutura seguida. Aborda-se, na primeira parte, o contexto arqueológico e arquitectónico dos diferentes sítios: fontes para esse estudo, descrição dos sítios como hoje estão, observação específica do contexto de cada um; e procuram-se, inclusive, contextualizar, a nível da Península Ibérica, as villae do Algarve Oriental. Nesse capítulo há mesmo uma aproximação ao perfil sociológico dos encomendantes dos mosaicos, precedido do 1º apêndice, que tem por título a afirmação de que o célebre ‘santuário das águas’ de Milreu não pode ser considerado um mausoléu. Contesta-se, assim, com argumentos, a tese defendida por Dennis Graen e conclui-se que preferentemente se deve ver nesse edifício a demonstração do poder económico e social do proprietário, bem no quadro da mentalidade do século IV: desta sorte melhor evidenciava e fazia admirar, durante a vida, a elevada posição social que lograra alcançar (p. 179). Constitui a 2ª parte o corpus propriamente dito dos mosaicos estudados, debruçando-se Cristina Oliveira depois, miudamente, sobre a paleta de suas cores e formas (p. 525-547), que sintetiza em quadros sinópticos. São as fichas 25 a 108 (p. 197-523), estendendo-se bastantes delas por várias páginas (a nº 64, por exemplo, da p. 373 à 399). A lista de siglas e de abreviaturas pelas quais são identificados os livros e os artigos assim como a bibliografia referida vem no começo do volume, apresentando-se, no final, índices topográfico, de nomes próprios antigos e de nomes comuns (temático). 2/3
  • 3. As ilustrações (211 estampas e 106 figuras a preto a branco e a cores) constam do CD que acompanha o livro. Trata-se, como facilmente se depreende, de uma obra que não desmerece os outros dois volumes já publicados nesta série: o dos mosaicos da Casa dos Repuxos de Conímbriga (1992), que se ficou a dever à enorme capacidade do saudoso João Manuel Bairrão Oleiro, um dos pioneiros no estudo dos mosaicos romanos entre nós, e o dos mosaicos da villa romana de Torre de Palma (J. Lancha e P. André, Lisboa, 2000). Por outro lado, o mosaico é estudado aqui não apenas do ponto de vista técnico, em comparação constante com mosaicos de outras partes do mundo romano, designadamente do Norte de África, região com que incontestavelmente há afinidades estéticas e temáticas, mas também no seu contexto, realçando-se a sua quotidiana função de emprestar beleza e de suscitar admiração. Debruçando-nos sobre a enorme perícia demonstrada pelos mosaístas de antanho, acabamos por melhor apreciar o seu valor e mais eloquentemente compreendermos quanto a cor e a estética andavam, também então, a par de vidas necessariamente partilhadas entre o ócio e o negócio. José d’Encarnação Publicado em Cyberjornal, edição de 15-12-2013: http://www.cyberjornal.net/index.php?option=com_content&view=article&id=75:osmosaicos-romanos-do-leste-algarvio&catid=78:historia-e-patrimonio&Itemid=30 3/3