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ANDRÉ LUIS CAVALLINI FERREIRA
Sinopse: Um Processo de Redução de Informação e Sua Aplicação na Mídia
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP
Coordenadoria Geral de Especialização, Aperfeiçoamento e Extensão – COGEAE
São Paulo, março de 2011
1
ANDRÉ LUÍS CAVALLINI FERREIRA
Sinopse: Um Processo de Redução de Informação Aplicado na Mídia
2
Monografia apresentada como exigência parcial
para obtenção do título de Especialista em
Língua Portuguesa à Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, sob orientação da Profa
.
Dra. Aparecida Regina Borges Sellan.
3
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
Fernando Pessoa (Ricardo Reis)
4
Dedico este trabalho a minha noiva, a quem agradeço pelo apoio,
por acreditar em mim e estar ao meu lado, sempre paciente; aos
meus pais por estimularem e me darem o suporte para chegar até
aqui; a todos os professores de minha graduação e pós-
graduação, que contribuíram para construir o estudante e
profissional que sou hoje. Dedico aos amigos da Ropema, pela
ajuda criativa, e também a todas as pessoas que cruzaram o meu
caminho até hoje e contribuíram de alguma forma para que este
trabalho fosse concluído.
SUMÁRIO
Apresentação.............................................................................................................07
Capítulo 1: Em Busca de Compreender o que É Texto.........................................10
1.1 Texto e Informação...................................................................................10
1.2 Organizando a Informação......................................................................13
Capítulo 2: O Processo e as Estratégias de Sumarização da Informação..........16
2.1 O Resumo..................................................................................................17
Capítulo 3: A Informação Reduzida: A Sinopse.....................................................21
3.1 A Estética da Sinopse..............................................................................22
3.1.1 A Aplicação Profissional da Sinopse.........................................23
3.1.2 O Caráter Persuasivo da Sinopse...............................................24
Capítulo 4: A Sinopse na Prática: Estudo de Caso...............................................26
4.1 Sinopses encontradas em capas de livros............................................26
4.1.1 Caso 1.............................................................................................27
4.1.2 Caso 2.............................................................................................31
4.1.3 Caso 3.............................................................................................34
4.2 Sinopses encontradas em capas de DVD e Blu-ray.............................37
4.2.1 Caso 1.............................................................................................37
4.2.2 Caso 2.............................................................................................39
4.2.3 Caso 3.............................................................................................42
4.3 Sinopses encontradas em jornais, revistas e páginas de internet.....45
4.3.1 Caso 1.............................................................................................45
4.3.2 Caso 2.............................................................................................48
4.3.3 Caso 3.............................................................................................50
4.3.4 Caso 4.............................................................................................53
5
Considerações Finais...............................................................................................59
Bibliografia.................................................................................................................63
Anexos........................................................................................................................65
6
APRESENTAÇÃO
Como se dá a construção de textos sociais que se apresentam em forma
reduzida? Como é resumindo o conteúdo de obras literárias e audiovisuais, tanto na
mídia impressa quanto no ambiente on-line? O que é e como se constrói uma
sinopse? Tais perguntas serviram de motivação para esta monografia, que abordará
nas próximas páginas teorias e exemplos acerca da redução da informação,
incluindo o estudo de casos a título de amostragem, identificando em textos
retirados de veículos de comunicação e mídias do cotidiano a matéria-prima para
isso.
Para desenvolver tais análises, antes se faz necessário abordar um tema que,
apesar de parecer simples e corriqueiro, apresenta-se um tanto complexo: a
definição de um texto. O que faz de um conjunto de vocábulos posicionados em
determinada ordem ser um texto? Tendo esta diretriz como ponto de partida, a
explicação para o que é um texto traz à tona uma série de informações sobre
cognição e memória as quais são essenciais para a segunda etapa da
fundamentação teórica desta monografia: os processos de redução de informação.
A sumarização da informação na memória é um processo comum a todo ser
humano. O cérebro não tem a capacidade, nem a necessidade, de armazenar
totalmente o universo de dados com que uma pessoa tem contato diariamente. À
semelhança de um computador, a memória humana organiza as informações
utilizando pistas que servem de conexão entre diversas informações similares e,
assim, economizam espaço e facilitam o acesso posterior às informações. Um dos
teóricos estudados para esta monografia é Van Dijk, cuja teoria sobre a noção de
7
macroestrutura foi essencial para o desenvolvimento tanto da base teórica quanto
analítica desta etapa da monografia.
As macroestruturas nada mais são que grandes conjuntos de informação,
organizados por temas e índices que facilitam a ordenação de dados na memória.
Este sistema se mostra funcional e extremamente importante do ponto de vista
comparativo quando se analisam exemplos de sinopses no dia a dia. A separação
da informação por grandes blocos (macro) e subdividida em conjuntos menores
(micro) dá parâmetros para que a escolha de cada palavra na construção de uma
sinopse seja importante e valorizada como tal, já que cada escolha lexical serve
como link ou pista para um universo particular de informações, guardadas dentro do
cérebro do leitor.
Em adição à teoria de Van Dijk, os trabalhos de Koch na seara da construção
dos sentidos do texto também foram uma notória contribuição para esta monografia.
Apoiado na tese de que as informações contidas em um texto são repletas de
referências e conexões de intertextualidade, foi possível compreender que as
sinopses trabalham, além dos grupos de macroinformação, marcas que recuperam
na memória do leitor uma gama de dados de conhecimento comum de mundo e que
dão suporte para o entendimento do texto com maior facilidade. Ademais, a
atualização constante das informações já existentes na memória pelo acesso aos
dados previamente armazenados é de suma importância para a manutenção do
conhecimento já estabelecido e sua atualização.
Partindo para a concepção de redução de informação, o trabalho de Leite,
recuperando as contribuições de Koch e Van Dijk, entre outros, trouxe a esta
monografia informações cruciais sobre a produção e o desenvolvimento de resumos,
outra forma de texto originado na sumarização da informação, traçando um paralelo
8
com as sinopses. O resumo, e suas diversas manifestações no mundo acadêmico e
social, é trazido à luz a título de informação e de exemplo para as estratégias de
sumarização que, posteriormente, serão retomadas nos estudos de casos de
sinopses.
Findada a parte de introdução de conceitos teóricos sobre o que é texto, a
redução de informação, as estratégias de sumarização e os resumos propriamente
ditos, chega-se ao momento de desenvolver os estudos sobre a sinopse, objeto de
estudo desta monografia. Compilando os dados teóricos retirados dos capítulos
anteriores e com o suporte das estratégias presentes nos resumos, fica mais
simples compreender o que é uma sinopse, sua aplicação e como ela é construída,
pois este tipo de texto possui sutis diferenças com relação ao resumo, como a mídia
em que é veiculada a sinopse e a presença de marcas de persuasão, como pode ser
visto nos estudos de caso.
Como o título desta monografia já diz, além do estudo da sinopse, também é
abordado o local em que tal tipo de texto se apresenta e como isso influencia o seu
desenvolvimento, desde sua concepção, considerando o suporte, o leitor, a
informação e o objetivo que o texto quer atingir, o que atesta uma afirmação que
ecoou nas salas de aula desde o princípio da graduação no curso de Letras: “não há
texto sem intenção”. As próximas páginas servirão para mostrar que sinopse não é
um resumo, mas uma variação da redução da informação, e traz consigo muito mais
do que o simples ato de informar.
9
CAPÍTULO 1
EM BUSCA DE COMPREENDER O QUE É TEXTO
Para o desenvolvimento do estudo proposto para esta monografia, faz-se
necessário discorrer sobre as etapas que compõem o processo de construção do
texto, apresentando informações detalhadas sobre o funcionamento cognitivo de
criação, produção e compreensão daquilo que conhecemos como um texto. Os
subitens que organizarão este capítulo tratarão separadamente da essência do que
entendemos ser um texto, dos processos de absorção da informação por parte tanto
do produtor quanto do receptor durante o ato comunicativo e durante o
funcionamento da atividade de redução da informação, para, por fim, detalhar a
construção da sinopse e suas características e funções.
1.1 – Texto e Informação
Em um dia comum, além de processar diversas funções básicas do corpo e
as informações recorrentes do dia a dia, o cérebro também fica responsável por
administrar e armazenar a enorme quantidade de informações novas que recebe a
cada momento, como notícias que são vistas na televisão, pessoas novas que são
conhecidas, até mesmo as previsões meteorológicas e os planos para o final de
semana. Não há limites para esse processo – o trânsito de novidades e de acessos
aos “arquivos” da memória é constante. Contudo, nem toda a informação precisa ser
guardada por completo. Detalhes insignificantes acabam se perdendo no processo
de seleção automática que o cérebro faz na hora de colocar a memória para
funcionar. Isso é parte do processo cognitivo do ser humano.
10
Quando lemos um texto ou assistimos a um filme, por exemplo, as funções
cognitivas automaticamente entram em operação na memória e dividem por meio de
macroestruturas a informação que chega ao cérebro. Van Dijk (1984), autor dessa
denominação, apresenta em suas teorias que uma das funções cognitivas das
macroestruturas é a organização, pelo tratamento na memória, da informação
semântica completa, o que implica diretamente a necessidade de reduzir o conteúdo
informativo que é recebido, de modo que a informação seja mais facilmente
armazenada e posteriormente acessada pela memória. Tal seleção é feita por meio
das relações que cada indivíduo estabelece com o conteúdo que está sendo
fornecido, novo ou já visto anteriormente, e com as macroestruturas particulares
criadas pelo processo cognitivo individual. Em geral, essas estruturas seguem um
padrão que pode ser tido como comum em um grupo de pessoas, considerando
para isso fatores como cultura, religião e o ambiente socioeconômico, por exemplo,
além da idade, formação acadêmica, entre outros. Concluem Van Dijk & Kintsch
(1983) em Koch (2010, p.22):
Embora venhamos a fazer uso de diferentes tipos de
informações, tais como unidades sintáticas ou unidades
semânticas, nosso modelo opera em fatias mais complexas.
Assim sendo, analisaremos o processamento do discurso
partindo das unidades de palavras, no nível inferior, para as
unidades de temas gerais ou macroestruturas. Diversos tipos de
informações podem ser usados para a compreensão e
integração dessas diferentes unidades. Dessa maneira,
podemos usar palavras, talvez palavras temáticas, para construir
as macroestruturas; e podemos, ainda, usar macroestruturas na
compreensão de palavras.
11
Conhecido comumente como “uma unidade linguística com superioridade
hierárquica em relação à frase” ou como “um apanhado delas formando um sistema
ou cadeia”, definições que podem ser encontradas em uma rápida leitura de
diferentes autores e em variados níveis de profundidade, o texto também pode ser
encarado por diferentes outras formas. Considerando sua natureza pragmática,
sendo abordado como um processo de planejamento complexo e em constante
construção, uma parte da atividade comunicativa do homem, com função social,
interacional, consciente e criativa, baseada em estratégias e com objetivos bem
definidos por seu produtor, Koch (2009, p.25-27) define texto como o fruto da
seleção racional e direcionada de elementos linguísticos, que são organizados e
modelados durante o processo de interação entre seus produtores; assim, não se
restringe apenas ao campo semântico, compreendido de acordo com os processos
cognitivos individuais, influenciados pelo meio social, mas também à compreensão
eficiente das informações passadas pelo texto, pois a comunicação textual efetiva só
pode ser considerada bem-sucedida quando os objetivos de seu produtor são
atingidos. Em Koch (2009, p.30):
Um texto se constitui enquanto tal no momento em que os
parceiros de uma atividade comunicativa global, diante de uma
manifestação lingüística, pela atuação conjunta de uma
complexa rede de fatores de ordem situacional, cognitiva,
sociocultural e interacional, são capazes de construir, para ela,
determinado sentido.
A organização das informações é fundamental para que o texto seja
compreendido, logo, é importante frisar alguns pontos-chave sobre a construção dos
sentidos e os processos cognitivos que são ativados durante a comunicação verbal.
12
1.2 – Organizando a Informação
A organização da informação textual, segundo Koch (2009), tem por base a
informação semântica contida no texto. Tal informação é dividida em duas partes: o
dado e o novo. Ambas interferem na construção do sentido na comunicação. A
informação dada é aquela que já faz parte do repertório dos interlocutores e é o
ponto de fixação, ou ancoragem, para a compreensão e assimilação do conteúdo
considerado novo.
Durante o processo cognitivo no ato comunicativo, o texto pode ser
fundamentado em informações que já foram dadas anteriormente. Este processo é
realizado por meio da remissão e da referência. Para que o texto fique bem
organizado ao recuperar informações já fornecidas e faça sentido, a construção de
cadeias coesivas (Koch, 1989) tem papel fundamental. Tais recursos trabalham com
conteúdos já presentes na memória dos interlocutores. Eles recuperam dados do
passado por meio de pistas, que podem ser artigos, pronomes ou mesmo palavras
específicas, que acessam estas informações antigas e as ativam para que o texto
atual seja melhor compreendido – uma forma de organização similar à noção de
macroestruturas de Van Dijk. Este processo de recuperação de informação antiga
chama-se inferência, é uma estratégia cognitiva bastante eficiente e funciona como
ponte para a ligação entre a informação dada e a informação nova, sempre
considerando o conhecimento supostamente partilhado entre os interlocutores do
processo de comunicação. A mesma linha de trabalho cognitivo segue a
intertextualidade, que tem por meta acessar conteúdo partilhado entre os
interlocutores, considerando o contexto sociocultural em que acontece a
comunicação – ou a construção do texto.
13
Estabelecidos os processos de construção e de organização, fica mais
simples propor uma definição mais clara de o que seria um texto. O texto se constitui
no momento em que um ato comunicativo é realizado, por meio de processos de
manifestação linguística, considerando fatores culturais, cognitivos, sociais e
situacionais, resultando em uma unidade de sentido que seja compreendida por
completo pelos participantes. Para Charaudeau (2008), “o texto representa o
resultado material do ato comunicativo, resultante de escolhas conscientes (ou não)
feitas pelo sujeito falante de acordo com o que oferecem sua língua, o modo de
organizar o discurso e a situação em que os interlocutores se encontram”.
Há um item importante que deve ser levado em conta, segundo Van Dijk
(1977): o contexto comunicativo. Por mais que a construção dos sentidos de um
texto ou ato de comunicação sejam embasados no encadeamento coerente de
informações e possuam os elementos certos para trabalhar as informações dadas e
as novas, o olhar pragmático sobre o contexto em que a comunicação tem como
cenário é essencial.
As referências de organização e processamento cognitivo de informação
trabalham apenas no nível informativo e têm como base as estruturas textuais ou
linguísticas. O juízo de valor das informações que cada indivíduo faz não está
incluído neste modelo organizacional e deve ser levado em conta quando
estratégias de construção lógicas e cognitivas forem utilizadas na elaboração de um
enunciado. As informações semânticas que cada palavra guarda estão ligadas
diretamente à interpretação relativa de cada falante da língua. Portanto, para a
construção de um texto é preciso levar em conta também o nível semântico
independente e individual para o uso das macrorregras. Tais estruturas são partes
de um texto/informação que possuem o mínimo de significado completo. É por meio
14
dessas estruturas básicas que é possível compreender plenamente, todavia, com o
mínimo de dados, tudo o que está envolto na semântica daquilo que se teve como
fonte original de informação. Conclui-se este raciocínio com o que explica Koch
(2009, p.35) acerca deste tópico:
A análise estratégica depende não só de características
textuais, como também de características dos usuários da
língua, tais como seus objetivos, convicções e conhecimento de
mundo, quer se trate de conhecimento de tipo episódico, quer do
conhecimento mais geral e abstrato, representado na memória
semântica ou enciclopédica. Desta forma, as estratégias
cogniticas consistem em ‘estratégias de uso’ do conhecimento. E
esse uso, em cada situação, depende dos objetivos do usuário,
da quantidade de conhecimento disponível a partir do texto e do
contexto, bem como de suas crenças, opiniões e atitudes, o que
torna possível, no momento da compreensão, reconstruir não
somente o sentido intencionado pelo produtor do texto, mas
também outros sentidos, não previstos ou mesmo não desejados
pelo produtor.
Em síntese, os pressupostos apresentados neste capítulo como definição de
texto servirão de base para o entendimento e para o desenvolvimento das teorias
sustentadas pelos capítulos a seguir, tratando mais especificamente dos processos
de sumarização da informação.
15
CAPÍTULO 2
O PROCESSO E AS ESTRATÉGIAS DE SUMARIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO
A informação é parte do todo que compõe um texto, levando em conta a
finalidade com que ele é produzido e a importância que a informação tem dentro
deste cenário. Excluindo deste cenário a motivação dos interlocutores (contexto) e
as escolhas lexicais e estruturais que foram feitas para a produção do texto
(execução da comunicação), a informação que é registrada deste ato comunicativo,
nova ou trabalhando com os “arquivos” do cérebro, é armazenada por meio de um
complexo processo cognitivo. Este ato de guardar a informação, seja por meio de
segmentos de memória não existentes antes, seja agregando a novidade a algum
modelo anterior pré-existente, sempre acontece por um processo de seleção
automática individual. Este processo de compreensão inclui a redução da
informação a pequenas estruturas semânticas – organizadas em macroestruturas –
de fácil acesso posterior pelos interlocutores.
Pode-se, portanto, afirmar que o cérebro reduz, ou sumariza, dados o tempo
todo. É um processo natural ao homem e significa que as informações apresentadas
foram compreendidas e registradas, sem considerar o julgamento de valor desta
compreensão, o que é relativo e varia para cada interlocutor. Neste cenário mental,
criado individualmente, é praticamente impossível explicar em termos gramaticais ou
linguísticos a presença de noções de coerência e de interpretação textual da
informação dada (nova ou sendo retomada).
Um modo alternativo e eficiente de entender e de explicar o sistema de
organização da informação e como o discurso foi compreendido pelo indivíduo foi
proposto de forma similar por Van Dijk & Kintsch (1983) e Schank & Abelson (1977):
16
os modelos de frames ou scripts. Jargões da linguagem cinematográfica, um frame
consiste em uma imagem fixa que é capturada pela câmera na película de filme; o
script é o roteiro propriamente dito, que ordena as ações em cena. Logo, a ação de
cada cena que é produzida é organizada e apresentada em por atos individuais,
posteriormente ordenados por um roteiro. O processo cognitivo humano trabalha de
forma similar, criando padrões de situações, comuns ao cotidiano ou não, que o
cérebro reconhece e grava na memória, e que servem de ponto de partida para a
organização da informação que nos é fornecida a todo o momento. Assim, a
informação pode ser mais facilmente sumarizada dentro destes denominadores
comuns e posteriormente acessada e reproduzida. Lê-se em Van Dijk (2010, p.30):
É plausível a ideia de que o usuário da língua adivinhará o
tópico a partir de um mínimo de informações textuais
provenientes das primeiras proposições. Tais previsões serão
sustentadas pelos vários tipos de informações, tais como títulos,
palavras temáticas, sentenças temáticas iniciais, conhecimento
sobre possíveis ações ou acontecimentos globais resultantes,
assim como informação provinda do contexto.
2.1 – O Resumo
O processo de sumarização de informações é amplamente utilizado no meio
acadêmico, como parte da organização e da apresentação de trabalhos dos mais
variados portes, e também por instituições de ensino, como forma de validação da
compreensão da leitura e como exercício de fixação. Para estes fins, a sumarização
é mais conhecida como resumo.
Apesar de uma prática comum, o resumo possui diversas formas de
apresentação e de aplicação. Tanto que a Associação Brasileira de Normas
17
Técnicas (ABNT) emitiu, em novembro de 2003, uma norma, a NBR 6028, que
classifica o resumo em três tipos diferentes – crítico, indicativo e informativo –
indicando as regras básicas e limitações para a redação de cada um dos textos
destes tipos.
A forma crítica de resumir um texto, ou informação, segundo a norma da
ABNT, é aquela realizada com juízo de valor por um especialista na área de
conhecimento a que o objeto de sumarização se refira. Este modelo de sumarização
também é conhecido como resenha e não é o foco deste estudo. O resumo
denominado pela norma como sendo indicativo é o mais sucinto de todos,
apresentando apenas as ideias principais do texto, sem aprofundamento ou
detalhamento de qualquer informação. O terceiro e último modelo de resumo
normatizado pela NBR 6028 é o informativo. Este aproveita melhor o conteúdo
informativo do original, sintetiza de forma completa as informações do texto-base e
assume função de novo original para o leitor, dada a fidelidade que consegue
manter da matriz informativa.
A mesma norma também indica a forma de apresentação do resumo,
incluindo as referências bibliográficas do original, escolha de palavras-chave para
classificação do texto e os pontos principais que a forma reduzida do original deve
conter (objetivo, método, resultados e conclusões da matriz).
A NBR 6028 também indica a voz verbal – preferencialmente ativa e na
terceira pessoa do singular – o não uso de tópicos ou itens que enumerem o texto e
as construções verbais que não façam parte do conhecimento ou uso comum. A
norma é finalizada indicando que o resumo deve ser composto por frases
afirmativas.
18
Há limitação de palavras para os textos indicativos e informativos,
dependendo de sua destinação. Os indicativos são os menores e devem, pela
ABNT, conter de 50 a 100 palavras. Já os informativos possuem duas variações,
uma composta por uma média entre 150 e 500 palavras quando o resumo for parte
de trabalhos acadêmicos ou relatórios técnico-científicos, e entre 100 e 250 palavras
quando se tratar de um artigo de periódico. Recomenda-se, por fim, que um resumo
de qualquer tipo limite-se a apenas um parágrafo.
No âmbito escolar, há poucas regras a serem seguidas e muitas delas se
restringem às escolhas pedagógicas e metodológicas de cada instituição e cada
docente. Geralmente, os resumos são aplicados como forma de exercício para
verificação de leitura de obras literárias, artigos ou textos jornalísticos e material
teórico de cada disciplina. Muitas vezes, também são indicados como forma de
estudo para aprimorar a memorização e a assimilação de conteúdo. Segundo Leite
(2006), “só é possível resumir aquilo que compreendemos”.
Considerando os conceitos de ancoragem, pistas e macroestruturas, é
importante atentar para os núcleos de informação que cada texto possui. Qualquer
ato comunicativo, seja por expressão verbal ou escrita, é composto por palavras
selecionadas por critérios individuais, considerando-se inúmeras variáveis. Cada
escolha lexical feita, de modo consciente ou não pelos interlocutores, resulta em
pontos de referência para o cérebro processar as informações apresentadas durante
a comunicação. Esses pontos de referência são fundamentais para a redução da
informação durante o processo cognitivo, que realiza, a partir deles, a seleção dos
itens que serão armazenados e a parte da informação que o cérebro de cada
indivíduo considera irrelevante e que será “apagada” da memória. O processo
mental de exclusão de partes que o cérebro considera desnecessárias faz parte de
19
uma estratégia denominada seleção (Leite, 2006), que trabalha o conceito de cópia
e apagamento, ou seja, as partes da informação que são registradas e gravadas
pelo cérebro, eliminando o restante do processo de armazenamento.
Outra estratégia comum é a construção (Leite, 2006), que consiste na
substituição da sequência de informação dada por outra. Este processo pode ser
realizado de duas formas: por meio da generalização (troca das informações
consideradas genéricas por outras de conhecimento específico do interlocutor) ou da
construção (estabelecendo relações da informação nova com as antigas por meio
da associação de significados).
O sucesso de qualquer uma das estratégias propostas varia de acordo com o
indivíduo e, para os fins deste estudo, elas são apresentadas a título de exemplo,
estabelecendo uma relação direta entre os processos cognitivos e métodos práticos
de produção de resumos.
20
CAPÍTULO 3
A INFORMAÇÃO REDUZIDA: A SINOPSE
O resumo, conforme já foi apresentado, possui diversas aplicações, tanto no
ambiente acadêmico como no profissional, chegando a ser normatizado pela ABNT
(NBR 6028). Entretanto, há outra modalidade de redução de informação que, apesar
de muito parecida com o resumo indicativo, ganha características e aplicações um
pouco diferentes: a sinopse. Segundo definições de dicionários como Houaiss
(versão em CD-ROM, em dezembro de 2010) e Michaelis (versão on-line no portal
do UOL, em dezembro de 2010), este tipo de sumarização trata de uma visão geral
ou síntese de uma ideia ou teoria, um sumário daquilo que outro texto, seu original
mais extenso e completo, apresenta. Conforme consta no material didático da aula
de número 12 do curso virtual de Revisão Sistemática e Metanálise (em janeiro de
2011), promovido pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a sinopse...
...É um texto breve dos resultados da revisão, claramente
redigido e dirigido aos consumidores e leitores não-especialistas.
A sinopse é um produto adicional que não substitui o resumo da
revisão sistemática; tem o objetivo de aumentar a acessibilidade
da revisão, disseminar amplamente seus achados para a
comunidade internacional e servir como ajuda à leitura.
Apesar de vastamente utilizada em documentos oficiais de áreas como a
legislativa, a científica, a literária, entre muitas outras, a sinopse não possui
regulamentação ou delimitações estéticas para a sua construção. Sabe-se, todavia,
que é um texto bastante sucinto, por isso comparado, neste estudo, com o resumo
indicativo. Esta modalidade de texto é destinada a leitores que desconhecem o tema
21
ou objeto de síntese, funcionando muitas vezes como o primeiro contato com a
informação que está sendo apresentada. Por essa natureza, as escolhas lexicais e
sintáticas são mais genéricas, considerando as variações mais simples do idioma e
buscando manter-se o mais claro e objetivo possível com relação ao conteúdo e à
compreensão e absorção do máximo da informação.
O ato de construir uma sinopse é diferente da produção de um resumo em
certos aspectos. Pode-se determinar como pontos comuns entre as duas
modalidades de sumarização de informação a obrigatoriedade de se manter a
fidelidade ao original, a exclusão de opinião particular no plano das ideias e a
limitação da extensão do texto, necessariamente curto. Entretanto, há diferenças
importantes a serem destacadas entre o resumo e a sinopse. A ABNT recomenda na
NBR 6028 os tempos verbais, a ordem das frases e a forma como o texto deve ser
apresentado, o que serve de padrão para a produção do resumo em praticamente
todos os seus campos de aplicação. Já a sinopse usufrui certa liberdade estética, já
que tem função diferente do resumo. Por se tratar de um texto que é de consumo
comum a diversos tipos de público e pode ser encontrado em diferentes veículos de
comunicação, é necessário que a sinopse possua mais flexibilidade em sua forma e
conteúdo, adequando-se ao leitor e ao meio a que se destine.
O subitem a seguir tratará com mais detalhes de características particulares e
fundamentais da sinopse.
3.1 – A Estética da Sinopse
No item anterior, algumas características comuns da sinopse e do resumo
foram apresentadas e comparadas, a título de ilustração dos dois tipos de texto.
Todavia, a sinopse tem aplicações práticas que vão muito além daquelas que o
22
resumo tradicional possui, e isso exige do produtor do texto certos cuidados e
bastante conhecimento sobre o público-alvo a que o texto que está sendo criado se
destina. Por isso, a estética da sinopse é um aspecto essencial para o sucesso da
compreensão do texto e para que os efeitos desejados pelo produtor sejam de fato
obtidos.
Apesar de se tratar de um texto basicamente informativo, a sinopse possui
estrutura similar à de um texto narrativo-descritivo, ou seja, dependendo do seu
original, a versão reduzida do conteúdo deve ser apresentada ou como uma
descrição ou como uma narração. Textos que sumarizam originais como livros,
filmes, peças de teatro e outros tipos de materiais cuja estrutura básica seja a de
uma história devem ter, consequentemente, características similares, ou seja, a
sinopse de um livrou ou de um filme, por exemplo, possui estrutura narrativa
predominante, reproduzindo de forma reduzida o conteúdo da obra da mesma forma
como é apresentada no original. Quando o original é uma reportagem, entrevista,
documento ou outro tipo de texto com características diferentes da narrativa, a
estrutura da sinopse passa a ser predominantemente descritiva, apresentando ao
leitor o conteúdo do original descrevendo sem muitos detalhes, mas de forma
simples e direta.
3.1.1 – A Aplicação Profissional da Sinopse
Por ter características simples, que facilitam sua leitura por qualquer tipo de
público, a sinopse é um tipo de texto bastante utilizado pela mídia, de forma geral.
Veículos de comunicação impressos e também on-line utilizam a sinopse
frequentemente na hora de apresentar versões curtas de notícias, reportagens e
23
afins, dando ao leitor uma noção do que ele encontrará na versão completa do texto,
ou seu original.
A área do entretenimento também faz uso da sinopse. Pode-se encontrar este
tipo de texto em diversos canais de comunicação, como jornais, revistas, portais de
notícias, blogs, entre outros, sinopses de filmes, novelas, livros, CDs e shows
musicais e espetáculos teatrais, por exemplo. A função da sinopse dentro de tais
canais é levar de forma simples, direta e clara para o leitor o máximo de informações
sobre o assunto de que trata no menor tamanho possível.
Os setores de propaganda e marketing também aproveitam a sinopse para
apresentar ao consumidor uma visão geral de qualquer produto, em especial quando
o objeto é relacionado ao entretenimento doméstico, casos de livros ou filmes em
DVD e Blu-ray, por exemplo. Isso pode acontecer por meio de informes publicitários
ou mesmo de anúncios, veiculados em qualquer tipo de mídia impressa ou on-line. E
as mesmas sinopses também podem ser encontradas em embalagens (na capa ou
contracapa) e materiais de divulgação, em geral.
Em todos os casos, pode-se notar uma função comum da sinopse – a
persuasiva, já que todas apresentam informações básicas, mas que devem ser
suficientemente atrativas para levar o público a ler o texto original ou a comprar o
produto que está sendo descrito (resumido). O subitem a seguir tratará com mais
profundidade desta característica.
3.1.2 – O Caráter Persuasivo da Sinopse
Estruturalmente, além do uso de linguagem simples e de fácil leitura por todo
indivíduo, há determinadas expressões e palavras que são escolhidas de acordo
com o produto sendo vendido e o tipo de apelo que se quer dar a ele. É nessa hora
24
que começam a ser aplicadas técnicas de persuasão, já que o texto da sinopse, em
adição à função informativa, tem por meta convencer o leitor a consumir o produto
em questão, que seria a fonte original da informação sendo sumarizada e
apresentada ao seu público-alvo.
A sinopse não é tratada apenas como ato isolado de comunicação. Seu
caráter de discurso persuasivo dentro de um determinado ambiente é parte
fundamental do seu processo de construção, já que seu desenvolvimento vai além
de seu autor e circula como fonte de informação constante e atinge diversos tipos de
público como receptores da informação nela contida. Portanto, a sinopse pode ser
considerada parte de um discurso persuasivo construído por um enunciador que é
desconhecido do público, coletivo ou individual, e parte de um conjunto maior, a
mídia, o jornalismo ou o entretenimento, de modo geral, o que Citelli (2007, p.37)
considera grandes formações discursivas. Assim sendo, cada uma dessas
formações possui estilo peculiar ao seu ambiente de circulação e ao seu
destinatário.
A leitura de uma sinopse por seu destinatário gera um ato comunicativo e dá
início a um novo processo cognitivo de absorção de informação. Seguindo a lógica
do discurso persuasivo, além das marcas lexicais que funcionam como gatilhos para
que a informação seja facilmente compreendida e memorizada pelo leitor, uma
sinopse também exerce a função de convencimento do interlocutor a realizar
determinada ação. A sinopse bem-sucedida é aquele que cumpre tanto a função
informativa quanto a persuasiva. O próximo item deste estudo apresentará exemplos
de sinopses retiradas de diferentes meios de comunicação e uma breve análise de
suas estruturas.
25
CAPÍTULO 4
A SINOPSE NA PRÁTICA: ESTUDO DE CASO
Considerando as informações apresentadas nos capítulos anteriores, este
item será destinado a expor alguns exemplos de sinopses encontradas em veículos
de comunicação diferentes. Esses exemplos serão analisados tendo por base
critérios como a presença de macroestruturas, mecanismos de referência, remissão
e intertextualidade, escolhas lexicais e construções que visem a persuasão do leitor,
aspecto este comum encontrado em sinopses e que vai além do mero ato de
informar. Os textos objetos de análise serão distribuídos em subitens do capítulo
nomeados segundo o tipo de mídia em que a sinopse é encontrada. Fotocópias dos
originais analisados podem ser encontradas na seção de Anexos deste trabalho.
4.1 – Sinopses encontradas em capas de livros
Muito utilizadas nas capas, contracapas, orelhas e também nos meios de
divulgação de obras literárias, as sinopses fazem função dupla quando produzidas
tendo como original um livro, qualquer que seja o seu conteúdo informativo. Em
geral, as sinopses encontradas impressas no material gráfico de uma publicação
literária têm por meta dar uma primeira ideia ao futuro leitor/comprador do assunto
de que a obra trata, dados sobre o autor, contexto e outros detalhes que indiquem o
que está escrito nas páginas do livro.
Os primeiros exemplos a serem apresentados são os textos encontrados na
quarta capa, ou nas costas, e na orelha da primeira capa do livro 1808 (São Paulo:
Planeta, 2009, 2ª Edição), de Laurentino Gomes.
26
4.1.1 – Caso 1
A primeira sinopse que será analisada é aquela que está impressa na orelha
da capa do exemplar acima descrito:
D. João VI foi o único soberano europeu a colocar os pés
em terras americanas em mais de quatro séculos, e foi quem
transformou uma colônia em país independente.
No entanto, seu reinado no Brasil padece de um relativo
esquecimento e, quando lembrado, é tratado de forma caricata,
como no filme Carlota Joaquina, de Carla Camurati.
Mas o Brasil de D. João VI não se resume a graçolas. A
fuga da família real para o Rio de Janeiro ocorreu num dos
momentos mais apaixonantes e revolucionários do Brasil, de
Portugal e do mundo. Guerras napoleônicas revoluções
republicanas e escravidão formaram o caldo no qual se deu a
mudança da corte portuguesa e sua instalação no Brasil.
O propósito deste livro, resultado de dez anos de
investigação jornalística, é resgatar e contar de forma acessível
a história da corte portuguesa no Brasil e tentar devolver seus
protagonistas à dimensão mais correta possível dos papéis que
desempenharam duzentos anos atrás. Como se verá nos
capítulos adiante, esses personagens podem ser, sim,
inacreditavelmente caricatos, mas isso é algo que se poderia
dizer de todos os governantes que os seguiram, inclusive alguns
muito atuais.
O primeiro aspecto a ser ressaltado antes de dar continuidade à análise da
estrutura desta sinopse é o fato de o livro tratar de um relato histórico. Com isso,
torna-se pré-requisito para uma leitura completa o mínimo de conhecimento da
História do Brasil, portanto, quaisquer referências ou conexões de intertextualidade
partem do pressuposto de que o leitor/comprador da obra possui o conhecimento
27
prévio (ou de mundo) necessário para compreender e aproveitar o máximo da
leitura.
Apesar de ser mais longa que o usual, encontramos no texto da orelha da
capa de 1808 uma sinopse. Pode-se dizer que a divisão em parágrafos distintos
possui maior função estética em detrimento da informativa, pois a construção da
ideia apresentada trabalha uma primeira parte informativa afirmativa e duas
adversativas – tanto o segundo quanto o terceiro parágrafos começam com
conjunções adversativas –, explicando, claro, do que tratará o livro. Seguindo essa
linha de raciocínio, o quarto, e último, parágrafo faz uso do conhecimento que
ofereceu nos três anteriores e indica ao leitor o objetivo da obra 1808. Outra
característica que não deixa dúvidas com relação à classificação deste texto como
uma sinopse é sua função informativa-persuasiva, que será abordada um pouco
mais adiante neste subitem.
Logo no início do primeiro parágrafo, encontramos a informação-síntese que
vai acionar no leitor seu conhecimento prévio em relação à História Geral. Quando o
autor da sinopse apresenta D. João VI e indica que ele foi o único soberano europeu
a pisar no Brasil, o leitor automaticamente traz de sua memória a informação de que
grande parte dos regimes governamentais da Europa no século XIX era monárquica
e que poucos eram os soberanos que vinham a suas colônias na América. E o autor
ainda usa essa informação para determinar que tal visita foi de suma importância
para futuros eventos históricos.
No segundo parágrafo, há duas marcas interessantes na construção da
sinopse e que também são essenciais para a construção de sentido: uma pista
macroestrutural (em “caricata”) e outra de intertextualidade (referência ao filme
Carlota Joaquina, de Carla Camurati). Quando o autor faz uso da palavra “caricata”,
28
ele sintetiza todo o contexto de humor e escárnio que uma caricatura faz, como é
usual nos periódicos atuais retratar de forma caricata personagens públicos em
destaque, e posiciona os membros da corte real portuguesa em situação tal qual os
políticos de hoje se encontram, em detrimento do esquecimento a que o autor
também se refere. Já a intertextualidade vem na sequência, quando o autor ilustra a
forma caricatural a que ele se refere como os personagens criados pela cineasta
Carla Camurati no filme Carlota Joaquina. Tal referência exige/pressupõe que o
leitor já tenha assistido à produção de Camurati e compare e relacione o
personagem D. João VI, interpretado de forma cômica por Marco Nanini, com o
mesmo ícone histórico a que o livro fará referência. Essa é uma forma de ajudar o
leitor a criar uma imagem mental do personagem de forma viva, ao contrário das
pinturas e retratos estáticos dos livros de história usados nas escolas. A referência
ao filme também pode ser considerada como uma função persuasiva, pois Carlota
Joaquina fez relativo sucesso nos cinemas do país, já foi televisionado e pode servir
de suporte para que o leitor da sinopse se interesse mais por conhecer os fatos
narrados por Laurentino Gomes em 1808.
O terceiro parágrafo novamente exige do leitor certo conhecimento prévio,
pois as escolhas lexicais (“graçolas”) e as referências históricas (guerras e
revoluções) feitas pelo autor demandam o saber além da história brasileira – é
preciso conhecer História Geral – e conhecimento vocabular do leitor, remetendo-se
ao período social e político de tempo em que se situa o livro. Núcleos de informação
são encontrados em todas as referências históricas que o texto apresenta e
funcionam como pistas e referências a outros momentos passados que aconteceram
paralelamente à mudança da corte portuguesa para o Brasil e dão ao leitor maior
noção do cenário da narrativa da obra de Gomes. Tal construção também prepara o
29
leitor para o parágrafo seguinte, em que o autor explica e justifica as escolhas que
fez para construir a sinopse e o próprio livro.
A sinopse termina com uma referência de intertextualidade que retoma a
ligação da política durante o período colonial brasileiro com o atual momento em que
o Brasil se encontra – o humor, resgatado pelo novo uso da palavra “caricata”.
Menos politizado e mais histórico e romantizado, o texto encontrado na quarta
capa do livro é uma sinopse cuja construção é mais comum e trabalha com ênfase
os contextos temporal e social da obra de Laurentino Gomes, 1808:
Nunca algo semelhante tinha acontecido na história de
Portugal ou de qualquer outro país europeu. Em tempos de
guerra, reis e rainhas haviam sido destronados ou obrigados a
se refugiar em territórios alheios, mas nenhum deles tinha ido
tão longe a ponto de cruzar um oceano para viver e reinar do
outro lado do mundo. Embora os europeus dominassem colônias
imensas em diversos continentes, até aquele momento nenhum
rei havia colocado seus pés em territórios ultramarinos para uma
simples visita – muito menos para morar ali e governar. Era,
portanto, um acontecimento sem precedentes tanto para os
portugueses, que se achavam na condição de órfãos de sua
monarquia da noite para o dia, como para os brasileiros,
habituados até então a serem tratados como uma simples
colônia de Portugal.
Construída de forma simples, esta sinopse trabalha a contextualização da
trama de 1808 e dá pistas de referência menos elaboradas ao leitor, para que ele
tenha acesso mais rápido e de modo mais objetivo às informações básicas para o
pleno entendimento da trama da obra – ou o original desse texto. Sem dar nomes ou
precisar o momento histórico em que se passa a trama, este texto reduzido
30
apresenta mais características de persuasão do que de informação. Tal conclusão
pode ser justificada pelo uso de determinadas expressões e construções, como o
início do primeiro parágrafo da sinopse: “Nunca algo semelhante tinha acontecido na
história de Portugal ou de qualquer outro país europeu”. A marca que determina tal
função é a expressão “nunca antes”, que gera surpresa ou curiosidade e convida o
leitor que não conhece a trama ou esta versão dela a ler o livro 1808, de Laurentino
Gomes.
Em vez de trabalhar a redução da informação por meio de apagamento, esta
sinopse trabalha com o leitor utilizando referências históricas já conhecidas para
provocar nele o “desejo” de saber mais sobre aquilo que já sabe, mas por outra
perspectiva que lhe parece interessante, assim, indicando a expansão do
conhecimento do leitor – o que muitas vezes o leva à leitura, culminando na
aquisição do livro pelo consumidor.
A estratégia utilizada pelo autor da sinopse é dar o predomínio da
reconstrução de um fato já conhecido e comum ou uma releitura de uma informação
já tida como dada no ambiente social e cultural do leitor em potencial. O autor realiza
tal estratégia ao escrever de modo diferente algo que já é supostamente conhecido.
4.1.2 – Caso 2
Continuando as análises de sinopses encontradas em capas de livros, o
próximo texto a ser estudado foi retirado da obra Curso de Redação, de Antônio
Suárez Abreu (São Paulo: Ática, 2002, 11ª Edição), e se encontra na quarta capa,
ou verso, da publicação.
Curso de Redação é um livro que ensina a redigir da
maneira mais eficaz e natural possível, articulando,
31
continuamente, a estrutura básica do texto com os objetivos de
quem escreve. Essa postura, absolutamente inovadora, coloca
sempre a gramática a serviço da resolução de problemas
textuais. Os exercícios atendem aos objetivos tanto daqueles
que precisam dominar com segurança o discurso argumentativo
de informação e pesquisa, quanto daqueles que têm
necessidade de narrar acontecimentos ou descrever processos.
Este é um livro básico porque apresenta: uma visão
moderna do que seja um texto, em sua dimensão de coesão e
coerência; a correlação entre tipos textuais e recursos
gramaticais retóricos; os procedimentos necessários para
conseguir objetivos e efeitos diversos, seja argumentando sobre
um tema, seja narrando fatos de qualquer natureza; recursos
que possibilitam fazer a composição de um texto de maneira
agradável e motivadora; um apêndice gramatical elaborado
especificamente em função dos problemas que normalmente
ocorrem no processo de redação.
Dividida em duas partes, esta sinopse descreve o conteúdo do livro
apresentando ao leitor as qualidades e os benefícios que seu conteúdo pode trazer
a quem o ler. Voltado para estudantes universitários que precisam dominar a escrita
técnica e científica, o autor utiliza termos particulares desta modalidade de texto
para persuadir quem lê a sinopse a adquirir o livro. A linguagem, apesar de se tratar
da sinopse de uma obra teórica, é bastante simples e não faz uso de vocabulário
rebuscado. Também não possui grandes marcas de intertextualidade ou
macroestruturas que sumarizem grandes quantidades de informação. Esta primeira
parte da sinopse tem como principal foco apresentar as qualidades do conteúdo do
livro e informar ao possível comprador o que ele poderá aprender – e como fará isso
– lendo a publicação.
32
A seletividade lexical, como em “eficaz” e “natural”, e em expressões como
“resolução de problemas textuais” e “dominar com segurança o discurso” têm
completa função persuasiva, considerando que o público-alvo da obra é o estudante
que tem dificuldades para produzir textos ou que precisa de literatura técnica de
apoio para desenvolver a escrita, não importando sua área de conhecimento ou de
formação acadêmica. Secundariamente, o livro pode também atingir quaisquer
interessados em obter mais informações acerca do tema ou queira aprimorar suas
técnicas de produção textual. O tema com maior ênfase da sinopse, portanto, é o
suporte a quem tem dificuldade para dominar a escrita, de modo geral, não ficando
em destaque quaisquer outras informações, como dados sobre o autor, contexto
acadêmico ou social. O texto pode ser consumido por qualquer público.
A segunda parte da sinopse trabalha mais o conteúdo teórico da publicação,
fazendo o uso de tópicos para enumerar os assuntos abordados pelo autor em seu
texto, reforçando a tese de que o conteúdo do livro ajudará o leitor a desenvolver ou
aprimorar sua produção textual. Apesar de se tratar de um texto mais informativo, as
opções lexicais do autor continuam a desempenhar também a função persuasiva,
fazendo com que a continuação da sinopse, mesmo com apresentação diferente da
primeira parte, persista na tentativa de convencer o leitor a adquirir o livro – explícito
nos trechos “uma visão moderna do que seja um texto”, “os procedimentos
necessários para conseguir objetivos e efeitos diversos” e “maneira agradável e
motivadora”, que visam dizer/indicar ao leitor o que ele será capaz de fazer depois
de ler o livro.
A soma das duas partes do texto constrói uma unidade informativa,
entretanto, sempre buscando convencer o leitor a adquirir o livro, apresentando as
qualidades que poderão ser agregadas à produção textual do leitor se ele comprar e
33
fizer uso da publicação. O discurso é bastante direto e claro em seus objetivos,
fazendo pouco uso de macroestruturas e de referências ou pistas de
intertextualidade.
4.1.3 – Caso 3
A terceira e última sinopse a ser estudada como caso encontrado em livros foi
retirada de uma versão da obra A Volta ao Mundo em 80 Dias, de Julio Verne,
editada e traduzida por Edy Lima para a Coleção Grandes Aventuras (São Paulo:
Abril, 1979). Texto retirado a orelha da capa da publicação:
Tudo começa em Londres, no século passado: Fíleas
Fogg, milionário inglês, aposta com alguns amigos que é capaz
de dar a volta ao mundo em oitenta dias. Os amigos, incrédulos,
aceitam a aposta. Assim, junto com seu criado, o milionário
começa a longa viagem. Trens, navios, carruagens, e até
elefantes, ele vai utilizando para cruzar os continentes. E, nessa
louca correria, as aventuras e os imprevistos vão se sucedendo,
pondo em perigo os planos de Fíleas Fogg. E para complicar um
pouco mais sua já atribulada viagem, todo o caminho do
milionário também é percorrido por um detetive que quer prendê-
lo pelo roubo do Banco da Inglaterra. Lutas, correrias,
confusões, gestos de cavalheirismo, tudo se mistura até o
inesperado final desta sensacional viagem contra o tempo.
O primeiro item a ser ressaltado nesta sinopse é o veículo ou mídia em que
está publicada – uma versão para o público jovem de um clássico da literatura
mundial. Esta informação indica o público-alvo da obra literária e também o tipo de
linguagem que foi empregado na produção do texto – direta, simples e de fácil leitura
por um estudante de qualquer nível.
34
Alguns detalhes da trama de A Volta ao Mundo em 80 Dias foram
propositalmente omitidos, como contexto histórico e social do ambiente em que o
protagonista vive suas aventuras, por exemplo. A opção por um texto mais dinâmico
e focado nas aventuras de Fíleas Fogg é feita para persuadir o jovem a ler, pois
passa a ideia maior de ação e agilidade da trama, em vez de trabalhar aspectos
formais ou a importância histórica da obra, considerada um clássico da literatura
universal.
A linha-base da trama é o ponto de partida da sinopse, dando ao leitor
informações como o que motivou a viagem e como a viagem é feita pelo
protagonista. O texto exalta fatos inusitados do percurso, como os tipos de
transporte que foram utilizados pelo personagem para realizar sua jornada e
algumas curiosidades da história, como o uso de um elefante como veículo e a
entrada de um possível vilão para dar mais emoção à história. O texto termina
criando no leitor a expectativa de saber como termina a longa viagem e algumas das
atitudes e momentos de ação que o texto original reserva ao leitor.
No lugar de macroestruturas para reduzir a informação, esta sinopse faz uso
de algumas referências, que, apesar de parecerem obvias para um leitor mais
informado, podem ajudar um estudante (relembrando que este é o público-alvo da
publicação) a se posicionar geograficamente melhor, já que poucas pistas de
período histórico são dadas – à exceção da primeira informação dada: “Tudo
começou em Londres, no século passado”. Se o leitor não possui conhecimento de
mundo e de geografia, informações que detalham o modo como a viagem de Fíleas
Fogg é feita servem como referência para o leitor ter maior noção de distância e de
locomoção ao redor do mundo.
35
Retomando o aspecto persuasivo da sinopse em estudo, por se tratar de um
texto voltado para atrair o jovem à leitura de uma obra literária, o autor foca seu texto
na agilidade da trama e apresenta ao leitor em potencial a ideia de ação e aventura
que a história escrita por Julio Verne possui. Trechos como “nessa correria louca” e
“atribulada viagem” são construídos com vocabulário extremamente simples e
aproximam o texto escrito no século XIX ao leitor do século XX (data da edição da
publicação), afora dar um aspecto mais cinematográfico ao texto – outra
característica que pode agradar e persuadir o público-alvo.
Concluindo as análises das sinopses extraídas do material gráfico de livros,
por se tratar de uma mídia impressa e de contato físico com o leitor em potencial, os
textos possuem como característica básica – e fundamental – a presença de marcas
informativas e persuasivas, já que visam dar dados simples sobre o conteúdo das
obras (ou seus textos originais) e também convencer o leitor a comprar o produto.
Macroestruturas para fins de sumarização não são frequentemente utilizadas, dando
lugar a marcas de referência e intertextualidade – características que podem ser
classificadas como de persuasão, já que trabalham a informação do conhecimento
de mundo comum do leitor e de seu contexto social e histórico.
O vocabulário possui variação simples, pois, por se tratar de um texto que
deverá atingir diferentes classes sociais, as sinopses não podem ser construídas de
forma rebuscada ou conter detalhes que fogem do universo de conhecimento
comum do público. As escolhas lexicais variam também segundo a temática do texto
original, adequando-se ao perfil do consumidor do livro, tratado aqui como um
produto sendo comercializado. Mesmo com tal adequação, a primeira afirmação
deste parágrafo continua a ter valor neste aspecto, já que independente do
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conteúdo, esta forma de mídia sempre fica exposta e em contato com qualquer tipo
de audiência, seja em bibliotecas ou no comércio de varejo.
A seguir, serão analisadas sinopses extraídas de capas de filmes e seriados
em DVD e em Blu-ray, comercializados em lojas varejistas e videolocadoras. Foram
escolhidos três produtos como originais, com materiais, públicos-alvo e conteúdos
diferentes.
4.2 – Sinopses encontradas em capas de DVD e de Blu-ray
4.2.1 – Caso 1
A primeira sinopse retirada deste tipo de mídia a ser apresentada e analisada
será a do box de DVDs do seriado televisivo The Mentalist – A Primeira Temporada
Completa, distribuída no Brasil pela Warner Home Vídeo:
Um mentalista é um mestre manipulador de pensamentos
e de comportamentos. The Mentalist é Patrick Jane (Simon
Baker em uma aclamada performance), uma celebridade
paranormal cuja esposa e filho são cruelmente assassinados por
um terrível serial killer conhecido como Red John. Devastado,
Patrick admite que sua paranormalidade é falsa, renuncia sua
vida pregressa e usa sua incrível capacidade de observação e
análise – talentos que fazem-no parecer portador de poderes
psíquicos – para trazer criminosos perante a Justiça.
Frequentando cenas de crimes Califórnia afora, Patrick agora
ajuda uma equipe de elite de detetives a solucionarem seus
casos mais complexos. Mas não importa quantos bandidos ele
coloque atrás das grades, Patrick nunca esquece sua principal
tarefa, encontrar Red John. E fazê-lo pagar pelos crimes que
cometeu.
37
Esta sinopse apresenta o conteúdo de um seriado de televisão exibido na TV
a cabo por meio de uma breve biografia de seu protagonista, sem dar mais detalhes
sobre o conteúdo dos episódios ou dos outros personagens. A estrutura do texto é
bastante linear e simples, com orações na ordem direta, com poucas exceções, sem
uso de vocabulário rebuscado e com trechos bastante informativos, como mostra
logo o início do texto. “Um mentalista é um mestre manipulador de pensamentos e
comportamentos” já apresenta ao leitor da sinopse uma explicação do título do
seriado e de como o protagonista da história também pode ser visto e considerado,
tratado aqui como o original do texto. Em seguida, é contada a história do
protagonista, o que explica muito do que poderá ser assistido durante os episódios
que compõem o original.
Algumas expressões podem ser encontradas no texto como forma de
construir uma referência para que o leitor identifique e conheça o personagem
principal da trama do seriado, um mentalista. Considerando o conhecimento comum
de mundo do consumidor em potencial do produto, como conhecimento geográfico
(saber onde fica a Califórnia) e jargões policiais tradicionais (“equipe de elite”, “serial
killer” e “cenas de crimes”), a sinopse explora o suspense policial contido na trama e
o drama familiar do personagem principal – o que é uma ferramenta de persuasão.
O autor faz uso de conexões de intertextualidade com o intuito de levar o
leitor a ser persuadido também pelas características peculiares do protagonista
dando pistas sobre detalhes que exploram o lado público e célebre das funções de
um “manipulador de mentes”, o mentalista do título. Expressões como “celebridade
paranormal” e “poderes psíquicos” guardam significados que, apesar de comuns ao
tipo de leitor do texto em questão, exploram o lado místico e despertam curiosidade.
Expandindo a informação destas duas expressões citadas, todo um universo
38
histórico de mistério pode ser encontrado e tal informação, todavia, fica resumida
para dar espaço a outras informações consideradas pelo autor como mais
relevantes.
O processo de sumarização escolhido pelo autor para reduzir a informação
original e dar ao leitor os dados necessários para que ele compreenda a sinopse de
forma plena é a generalização ou substituição, método que consiste na troca de
palavras ou sentenças mais extensas por outras mais simples ou apenas por uma
palavra que generalize a informação em um grupo sintético que recupere na
memória do leitor, em linhas gerais, o que o autor quer expressar no texto. Termos
como “celebridade paranormal” e “manipulador de mentes” funcionam como
exemplos dessa técnica e funcionam como gatilhos ou pistas para que o leitor
facilmente recupere de sua memória um provável perfil do personagem descrito na
sinopse e construa com maior facilidade o conteúdo do texto original. Estas
expressões, ainda, além de substituir uma descrição mais elaborada e extensa,
funcionam como termos genéricos (ou de generalização) para colocar o personagem
descrito no lugar comum do leitor. Também é possível encontrar o recurso da
reescrita, trabalhando as informações do original apenas com os dados essenciais
para a compreensão do texto.
4.2.2 – Caso 2
Esta sinopse foi retirada da embalagem do disco de Blu-ray da minissérie de
televisão A História de Ester, exibida pela Rede Record e lançada no home vídeo
pela Flashstar Filmes e pela Record Entretenimento:
A trajetória de uma jovem órfã judia, de grande fibra e
beleza. Ao despertar o interesse do rei Assuero e tornar-se
39
Rainha da Pérsia, Ester (Gabriela Durlo) influencia
decisivamente o futuro de seu povo. Coragem, determinação e
fé fizeram de Ester uma das grandes referências da cultura
judaica e uma das mulheres mais notáveis de toda a História.
Com direção geral de João Camargo e adaptação de Vivian de
Oliveira, a trama de A História de Ester se passa por volta de
400 a.C., na antiga Pérsia, onde hoje é o Irã.
Esta sinopse apresenta o conteúdo de uma obra de temática histórica e
religiosa, e apresenta a vida de uma personagem importante para determinada
cultura e religião. No entanto, tal faceta do original não é explorada, focando o texto
no conhecimento comum do consumidor sobre personagens bíblicos e a
protagonista, antes de dar detalhes mais precisos dos autores e desenvolvedores do
produto. A sinopse é escrita de forma linear, direta e com vocabulário simples, o que
facilita sua leitura por qualquer tipo de consumidor em potencial, considerando que o
original é uma obra audiovisual popular que é comercializada no varejo e fica
exposta para todos os públicos.
O texto começa dando detalhes de quem é a protagonista da trama,
explicitando de forma bastante clara as características físicas e étnicas da
personagem. Estas características a destacam das demais, em especial “uma jovem
órfã judia”, uma macroestrutura que sintetiza uma série de informações de interesse
social, político e histórico. Em seguida, são dadas mais informações sobre o
desenrolar da trama e já dá ao leitor o desfecho da história, indicando que a
protagonista foi importante para a cultura judaica.
No campo do léxico, a importância histórica da personagem Ester é
ressaltada por meio de referências histórico-geográficas, utilizando mais adjetivos de
qualificação e ênfase (“Rainha da Pérsia”, “influencia decisivamente”, “futuro”, “seu
40
povo” e “cultura judaica”), que levam o leitor a posicionar-se geograficamente,
culturalmente e também a dar a importância social e histórica da trama do original.
Funcionando também como ferramentas de persuasão, tais referências
atingem também uma parcela de consumidor que a obra audiovisual pretende
atingir: os cristãos. Como o original trata de uma personagem bíblica considerada de
grande importância para os que acreditam e seguem tal cultura, tais escolhas de
referência fazem função maior que a de informação e apelam para a curiosidade e
para o valor moral que o público possa dar à trama.
Continuando o texto, dados sobre os autores da obra são fornecidos, o que
pode servir tanto como referência de intertextualidade para quem já conhece o
trabalho destes profissionais, como também como voz de autoridade para retificar e
justificar a qualidade profissional de A História de Ester, estabelecendo novas
referências para outros produtos a serem exibidos ou lançados futuramente.
Também há mais informações de contexto histórico e geográfico, reforçando o que
já foi dado e pode não ter ficado claro para determinada fatia de consumidor com
menor conhecimento de mundo sobre o tema. Em adição, pode-se entender que o
fornecimento mais completo e objetivo da localização histórico-geográfica vá além
do reforço contextual e sirva como característica persuasiva, pois o Irã é um país
que está em evidência no momento político mundial atual e isso serve como gerador
de interesse e curiosidade cultural.
Concluindo o caso de número dois, os métodos de sumarização escolhidos
para este texto são a generalização e a construção. Generalização, pois as escolhas
lexicais do autor, de modo geral, são todas referenciais, apresentando ao leitor
termos de fácil assimilação e que guardam em si pistas para uma construção mais
elaborada na memória, como pode ser observado, por exemplo, em “jovem órfã
41
judia” e “referência da cultura judaica”, construindo o perfil da protagonista da
minissérie. Construção, já que a conclusão da sinopse traz uma referência que o
autor considera insuficiente para que o leitor faça a conexão de intertextualidade
sozinho, e dá a ele uma nova referência, mais atual e conhecida, para explicar a
informação anterior.
4.2.3 – Caso 3
A terceira e última sinopse selecionada para esta etapa de análises foi
retirada da capa do disco de Blu-ray de uma animação japonesa chamada Akira,
baseada em um famoso mangá e relançada no Brasil pela Focus Filmes:
Kaneda é um líder da gangue de motoqueiros, cujo amigo
Tetsuo é dominado por uma força sobrenatural e passa a ser
objeto de um projeto experimental secreto chamado Akira. Para
salvar seu amigo, Kaneda se envolve com grupos anarquistas e
passa a lutar contra o governo em uma explosiva guerra civil.
Em 1988, Akira foi a principal referência em animação japonesa,
criado e dirigido por Katsuhiro Otomo, o longa revolucionou o
conceito de animação em todo o mundo.
Desconsiderando os erros de construção gramatical desta sinopse, o texto
apresenta a linha básica da trama de Akira e também contextualiza o leitor da
origem da história ao narrar a trajetória do protagonista, dar alguns detalhes do
contexto social e histórico em que o roteiro da produção se desenrola e também
apresentar o autor e o contexto temporal-geográfico em que a animação foi
desenvolvida e exibida pela primeira vez no cinema.
Lexicalmente, o perfil do personagem principal e, consequentemente, de seus
amigos, é escrito por meio de simples descrições, que, quando analisadas como
42
referências, revelam muito mais sobre Kaneda ao recuperar o conhecimento de
mundo que cada leitor possuir. A expressão “gangue de motoqueiros” resgata uma
série de características descritivas sobre comportamento, vestimentas e linguagem e
dão ao leitor o suporte necessário para criar uma imagem do protagonista e dos
outros personagens da trama.
Ainda no campo das referências e da intertextualidade, o desconhecido ou
místico é tratado de forma a fazer uso do conhecimento comum por meio da
expressão “força sobrenatural” quando o autor explica um dos momentos de maior
tensão da animação. Tal escolha lexical remete o leitor a diversas possibilidades de
interpretação, sem relevar, entretanto, o tipo exato de “força” em questão. Na
continuação do texto, é apresentado o clímax da trama de Akira, dando ao leitor
mais informações sobre o percurso que Kaneda percorrerá em sua trajetória para
salvar seu amigo. Dado o contexto, fica implícito que a trama se desenvolve usando
pistas de intertextualidade como “grupos anarquistas” e “guerra civil”, excluindo-se
os adjetivos, para recuperar da memória do leitor mais detalhes de o que seriam
“anarquistas” dentro do conhecimento comum e o que seria uma “guerra civil” neste
mesmo universo. A escolha das palavras também funciona como elemento de
persuasão, já que despertar a curiosidade no leitor é característica básica do
convencimento.
A segunda parte da sinopse trata de apresentar o autor de Akira, Katsuhiro
Otomo, em um momento em que, contrário aos dias presentes, as animações
originárias do Japão não eram tão disseminadas e nem bem conceituadas
internacionalmente. O nome do autor é uma referência de intertextualidade, pois os
aficionados pelas animações do mesmo gênero conhecem o trabalho de Otomo e,
além de servir como descrição da temática da obra, também opera como elemento
43
de persuasão para atrair os fãs do autor. Ao dar ao leitor o ano, 1988, o texto
posiciona o momento do lançamento da animação e destaca a influência que Akira
teve na época de seu lançamento. Este nível de detalhamento oferece a
possibilidade de informar ao possível comprador época e circunstância em que o
longa-metragem foi desenvolvido e também apela ao leitor que já havia visto o filme
naquele momento a revê-lo no relançamento na forma de disco de Blu-ray – funções
informativas e persuasivas, novamente.
Concluindo o terceiro caso, a sumarização das informações do original de
Akira foi feita utilizando a generalização das características da trama por meio de
expressões simples que, no entanto, recuperam na memória do leitor uma série de
eventos de conhecimento comum, facilitando a leitura e a construção de uma linha
geral para o roteiro da animação. A seleção e o apagamento também foram
utilizados nesta sinopse, pois nenhum detalhe revelador da trama é fornecido,
excluindo-se, portanto, tais informações e deixando ao leitor somente o necessário
para elaborar uma vaga idéia, com base no texto construído por meio da
generalização.
Considerando as características encontradas nas três sinopses analisadas,
pode-se estabelecer um padrão de balanceamento de informação e persuasão, já
que a mídia em que os textos são veiculados é bastante semelhante ao das
sinopses de material gráfico de livros. As artes das embalagens de DVDs e discos
de Blu-ray também foram desenhadas para circularem no comércio varejista e nas
vídeolocadoras, ou seja, em contato direto com diversos tipos de público, com
variados níveis de conhecimento comum e de mundo. Logo, estão justificadas as
escolhas lexicais, de construção gramatical e de referenciação, tanto por meio da
generalização ou substituição e do apagamento para sumarizar o original, quanto
44
por meio da intertextualidade, recuperando o que o possível leitor já saiba sobre os
temas abordados.
Como última parte deste subitem, serão realizadas as análises de sinopses
extraídas de jornais, revistas e páginas de internet, com o objetivo de apresentar as
possíveis variações que as mídias em que tais textos são publicados e veiculados
podem provocar.
4.3 – Sinopses encontradas em jornais, revistas e páginas de internet
Este subitem é dedicado à análise de sinopses retiradas de veículos de
comunicação em larga escala, como jornais, revistas e portais de internet que tratam
de assuntos relativos ao entretenimento, como livros, filmes, teatro e música.
4.3.1 – Caso 1
O primeiro texto desta natureza a ser analisado é uma sinopse encontrada no
jornal O Estado de S. Paulo do dia 19 de abril de 2010, na seção Caderno 2, página
D7:
Em 1954, o detetive Teddy Daniels viaja até um hospital
psiquiátrico – localizado em uma ilha – de onde uma perigosa
assassina fugiu. Ao longo de sua investigação, porém, ele
percebe que os médicos podem ser os verdadeiros vilões – e
que ele pode ser uma vítima. E tem de tentar escapar (ou
descobrir a verdade).
A sinopse acima tem como original o filme Ilha do Medo, de Martin Scorsese,
e foi produzida à época do lançamento da produção nos cinemas nacionais.
Bastante curto e objetivo, este texto sintetiza a ideia principal do filme e dá ao leitor
45
algumas pistas da trama central da obra, sem mais detalhes que ajudem a
contextualizar o conteúdo. Antes da sinopse, é apresentada uma ficha do filme, com
nome original, origem, minutagem, gênero, direção e elenco. Tais informações
preparam o leitor para o texto que vem a seguir e também já eliminam possíveis
dados que supostamente deveriam estar contidos na sinopse – o que abre mais
espaço para detalhes da trama no texto.
Por se tratar de um veículo de comunicação que atinge diversas camadas da
população, com grande variação no conceito de conhecimento de mundo, a
construção da sinopse é feita de forma direta e objetiva, sem haver grandes
mudanças na ordem das frases.
As escolhas lexicais são simples e claras para descrever cenários e
personagens, permitindo ao leitor organizar e acessar seus conhecimentos já
existentes sobre a temática do filme.
Em termos de referências, o início do texto, “Em 1954”, já dá ao leitor o ponto
de partida para a construção da imagem de Ilha do Medo, pois tudo o que vier a
partir desta informação deverá ser adequado ao momento temporal a que o autor se
refere. Por consequência, a denominação do protagonista como “detetive” já
recupera na memória do leitor a imagem descritiva de um profissional deste tipo
dentro do período histórico previamente determinado. Depois, é dado o local em que
a ação se passa e uma descrição categórica do motivo desta ação – um hospital
psiquiátrico em uma ilha e uma assassina perigosa. Em seguida, é fornecida da
informação crucial para o momento de transformação da história, revelando os
verdadeiros vilões e o que isso causa ao protagonista.
Ao fornecer ao leitor a informação de que os médicos são os vilões, ou esta
possibilidade, há uma quebra de paradigma, pois o significado da palavra “médico”
46
implícito na memória do leitor vem do conceito de cura ou salvação. Ao dar a
informação oposta e qualificar tal profissional como provável anti-herói, o autor do
texto se aproveita dessa ruptura de expectativa para criar uma ferramenta de
persuasão, uma marca para despertar a curiosidade do leitor.
A parte final da sinopse também trabalha outra marca de persuasão ao
apresentar duas possibilidades para o desfecho de Ilha do Medo – o protagonista
tentar escapar ou descobrir a verdade. Tal conclusão se aproveita da descrição de
um cenário de um hospital psiquiátrico localizado em uma ilha e de os médicos
serem os possíveis vilões para, sem maiores detalhes, dar ao leitor a sensação de
suspense, o que revela mais uma faceta da trama e funciona como estimulador de
curiosidade por meio do conhecimento prévio do leitor e como estas referências são
trabalhadas em conjunto dentro da sinopse.
É importante ressaltar que o tempo da narrativa escolhido para a elaboração
dessa sinopse é zero, logo, não há informação alguma sobre progressão temporal
pelo protagonista ou pela trama em momento algum. O único dado temporal
fornecido é o ano em que se passa a história e isso é parte da construção do
cenário, sem influenciar na progressão temporal da narração.
A principal estratégia de sumarização utilizada para a produção do texto do
caso dois é o apagamento, pois não há detalhamento algum com relação à trama e
suas variações ao longo do filme, à exceção de informações sobre o protagonista e
o mote que dá o estarte à história. Houve nesta sinopse a reconstrução da estrutura
narrativa para passar ao leitor o conflito principal de Ilha do Medo e persuadi-lo a
assistir ao filme nos cinemas, com base na curiosidade que essas informações
podem gerar.
47
4.3.2 – Caso 2
O texto a seguir foi retirado da revista Coleção Grandes Guerras, Volume 5,
especial promovido pela revista Aventuras na História, edição número 5, de abril de
2005, e tem como original o livro As Cruzadas Vistas Pelos Árabes, de Amin Maalouf
(São Paulo: Brasiliense, 2007):
A história ocidental costuma tratar as Cruzadas como um
evento inigualável para o cristianismo, que fez rivais se unirem
para combater o mal definitivo: os conquistadores muçulmanos
de Jerusalém. O livro oferece uma nova e interessantíssima
abordagem à história romantizada dos nobres cavaleiros cristãos
e os retrata como autênticos invasores, capazes de atos
sanguinários em nome da cruz. O livro também expõe as
diferenças culturais e o choque entre Ocidente e Oriente.
Produzida para uma publicação voltada para aficionados à História, em geral,
e em uma edição temática sobre o assunto, a sinopse acima deixa de lado detalhes
de contextualização histórica e já se direciona para a apresentação de informações
que diferenciem o seu original de outras obras que abordam a mesma passagem
histórica – as Cruzadas.
Analisando-se a construção do texto em termos gramaticais e lexicais, não há
nada de incomum, pois a sinopse trabalha a informação de modo simples e direto
por meio de palavras que fazem parte do vocabulário comum do tipo de leitor dessa
publicação, sem jargões ou afins.
Partindo para a análise das referências, esta sinopse não apresenta grandes
núcleos de informação sumarizada. O assunto principal é tratado de forma aberta e
trabalha com o pressuposto de que o leitor já é conhecedor, ao menos em nível
básico, de história geral e do tema do livro, ficando a cargo do texto lidar com as
48
informações novas para tal público – a visão oriental das Cruzadas. No entanto, o
texto não dá margem para o leitor sair da visão já consagrada das Cruzadas ao dar,
logo no início, um tratamento genérico de como certa parte da população encara os
eventos que o original tratará. Na verdade, trata-se da construção da ideia de
oposição, o que é feito retomando a informação comum já existente, de forma a
reforçar tal conceito e apresentando uma nova versão que o livro objeto da sinopse
dará ao leitor em potencial. Os opostos, neste caso, são as sociedades Ocidental e
Oriental, como ressalta o final do texto, e como as duas culturas, bastante diferentes
e conflitantes, abortam o mesmo evento histórico. O grande diferencial é que o livro
contém a visão oriental das Cruzadas e se destina ao leitor ocidental.
As diferenças culturais são bastante enaltecidas por meio de escolhas lexicais
como “evento inigualável” e “mal definitivo” quando as Cruzadas são descritas pela
visão da cultura ocidental. Em seguida, o autor da sinopse apresenta dois adjetivos
para caracterizar as informações que ele apresenta na continuação de seu texto e
que servem para despertar a curiosidade ou causar surpresa no leitor, que é
ocidental e, em sua maioria, cristão: “novo” e “interessantíssimo”. Estes adjetivos
servem para ressaltar o fato de a cultura ocidental, representada pelo leitor em
potencial do livro e que lê a revista, pouco conhecer sobre a versão dos eventos
históricos por outra cultura, a do povo que historicamente foi rival do ocidental nas
Cruzadas. Deste ponto em diante da sinopse, o autor muda a utilização dos
adjetivos para se adequarem à visão oriental, relatando os mesmos eventos do
início do texto à luz de outra cultura – os cruzados são “invasores” e “capazes de
atos violentos em nome da cruz”. Tais colocações já determinam para o leitor o tipo
de abordagem que ele encontrará no livro, caso decida comprá-lo e consumi-lo, o
que poderão ser tratadas como relações de intertextualidade.
49
O texto dá ao leitor duas características que ele já conhece sobre as
diferenças culturais entre Ocidente e Oriente, e que são de extrema importância
para o impacto do livro e da motivação do interesse do leitor: o fato de a obra
literária apresentar de forma aberta e explícita as diferenças culturais e o choque
entre as duas sociedades. Essas duas marcas de referência ao momento conflitante
político e social que o mundo atravessa e que podem ser acompanhados na mídia e
que servem novamente como ferramenta para persuadir o leitor a comprar o livro.
Concluindo, esta sinopse foi produzida utilizando como estratégias de
sumarização o apagamento e a generalização. O apagamento é identificado por
meio da falta de detalhes históricos, proposital, para que o leitor recupere todos os
fatos implícitos utilizando poucas pistas referenciais. Já a generalização está
presente nas escolhas lexicais e estruturas gramaticais do autor, que dá ao leitor o
essencial para o entendimento do conteúdo do original e trabalha os dados
principais do original de forma que o leitor seja convencido do ponto de vista do
autor, entenda a linha-base do original e seja persuadido a comprar o livro.
4.3.3 – Caso 3
A próxima sinopse a ser analisada foi retirada do acervo digital da revista Veja
(http://veja.abril.com.br/acervodigital - acessado em 14 de fevereiro de 2011), edição
número 1, de setembro de 1968, seção Teatro:
O Burguês Fidalgo. Comédia de Molière traduzida por
Stanislaw Ponte Preta, que usa expressões como ‘Vossa
Excelência está me gozando’ e ‘também estou nessa, ta?’, para
dar atualidade ao texto. Um burguês novo-rico quer a todo custo
igualar-se à nobreza, mas acaba ridicularizado e explorado por
ela. Direção de Ademar Guerra.
50
Feitas as adequações ao Português moderno, esta sinopse é produzida de
forma bastante simples e objetiva, mantendo a ordem direta dos elementos das
orações. Em termos lexicais, o vocabulário escolhido pelo autor é o usual, beirando
o coloquial, pois o veículo de comunicação em que o texto está reproduzido, uma
revista de grande circulação nacional, exige que qualquer tipo de leitor tenha fácil
acesso às informações por ela transmitidas. Apesar de ter sido extraída da versão
digital on-line, esta sinopse foi originalmente publicada e circulou pelas bancas à
época de seu lançamento (1969).
A primeira informação a ser dada no texto é o título da peça de teatro e os
autores das versões original e traduzida no Brasil. Tais dados são fundamentais
para que o leitor, antes mesmo de saber de que se trata a trama da obra, saiba que
é escrita e traduzida por grandes nomes da literatura e da dramaturgia – Molière e
Ponte Preta. Pode-se afirmar que essas informações são referências que darão ao
público a que se destina a sinopse os recursos para se situarem na questão da
qualidade da apresentação teatral e dos textos da peça. Isso, considerando o
consumidor-alvo da revista e da natureza do espetáculo.
Em seguida, o autor da sinopse ressalta duas características do texto
adaptado por Ponte Preta, duas expressões idiomáticas que servem para atualizar o
material original clássico de Molière e também serve como atrativo para o público.
Neste ponto, tal informação passa a ser também uma ferramenta de persuasão, pois
quem conhece o texto escrito pelo dramaturgo francês saberá que encontrará na
peça atual novidades com relação à obra escrita em 1670. Encontramos uma pista
de referência quando a sinopse fornece detalhes para comparação e o leitor faz uso
51
de seu conhecimento enciclopédico e de mundo – o que exige nível mais elevado de
cultura por parte do público.
Na sequência da sinopse, o autor fornece maiores detalhes sobre a trama de
O Burguês Fidalgo. Apesar das poucas informações dadas, o leitor tem material
suficiente para construir em sua memória um roteiro-base para a peça teatral.
Descrições como “burguês novo-rico” e “nobreza” dão ao leitor as informações
necessárias para que ele crie com base em seu conhecimento histórico e cultural as
feições destes tipos de membros da sociedade de décadas passadas e criem o
cenário e o contexto para entender melhor a trama da peça. A complicação do
roteiro também é informada ao leitor de forma direta quando o autor da sinopse
informa que o protagonista tenta “igualar-se” aos nobres e acaba sendo “explorado”
e “ridicularizado” por eles. Com estes detalhes, o leitor consegue construir, com
base nos significados das palavras, nas imagens que tais macroestruturas fornecem
de situações similares já conhecidas, e na contextualização delas o desenrolar
provável do espetáculo.
A última informação dada é o nome do diretor, o que serve como referência
para o público que já conhece o cenário teatral nacional e teve contato com o
trabalho dele. São informações adicionais que podem servir de marcas de
intertextualidade para o leitor que busca referências para assistir à peça, assim
servindo o dado como ferramenta também de persuasão.
Para sumarizar o original deste texto, o autor se valeu da seleção por meio da
cópia, ao retomar um trecho do texto da peça, e do apagamento, ao dar detalhes
mínimos para que o leitor construa sua base de referências. Na verdade, as
referências dadas para que o leitor entenda o original ficam restritas aos nomes do
autor e do tradutor, dados no começo do texto, e do diretor da peça, fornecido no
52
final dele. As informações restantes da sinopse são apresentadas em linhas gerais,
como “burguês novo-rico”, por exemplo, que facilitam ao leitor a construção da trama
e do estilo cômico da obra original.
4.3.4 – Caso 4
Para encerrar o subitem e o capítulo, será analisada uma sinopse retirada do
portal on-line G1 (www.g1.com), da seção Entretenimento, sobre o filme O Vidente,
de Lee Tamahori, que foi exibido no programa Tela Quente da Rede Globo de
Televisão (http://redeglobo.globo.com/novidades/filmes/noticia/2011/02/nicolas-cage-
e-o-vidente-na-tela-quente-desta-segunda-feira-dia-14.html - acessado no dia 14 de
fevereiro de 2011):
Cris Johnson (Nicolas Cage) tem que conviver com um
dom que, ao mesmo tempo em que o torna um homem especial,
acaba se transformando em um problema: a capacidade de
prever o futuro lhe deixa menos vulnerável aos imprevistos e
extremamente eficaz em situações de combate ao crime. Essa é
a trama de "O Vidente" (2007), o filme da Tela Quente desta
segunda-feira, dia 14, que vai ao ar às 22h45, logo após o Big
Brother Brasil, na Rede Globo.
Depois de ter sofrido desde criança com testes, exames
médicos e o interesse governamental em sua habilidade, Cris
decidiu viver como mágico em Las Vegas praticando pequenos
golpes para sobreviver. Ao mesmo tempo, ele passou a ter
visões do futuro de uma outra pessoa: Liz (Jessica Biel), uma
jovem mulher que ele nunca conheceu e a quem está
determinado a encontrar.
No entanto, as coisas mudam quando um grupo terrorista
ameaça detonar um artefato nuclear em Los Angeles, e o
governo, por meio da agente do FBI Callie Ferris (Julianne
53
Moore), volta a procurar Cris para usar seus dotes e evitar uma
tragédia.
Produzida para circular pelas páginas de internet tanto do G1, canal de
notícias e variedades, quanto da própria Rede Globo, esta sinopse realiza tanto
função informativa quanto persuasiva. Ela atinge ambos objetivos por meio de
construções simples e que utilizam léxico de uso comum, como em “um homem
especial”, “capacidade de prever o futuro”, “combate ao crime”, “problema” e “eficaz”,
por exemplo, que são de fácil compreensão e não exigem grande conhecimento
prévio de mundo para seu pleno entendimento.
A divisão por parágrafos e a extensão maior que a habitual para uma sinopse
de filme para ser publicada na internet se dão por motivos puramente estéticos (uso
de imagens de destaque e chamadas publicitárias inseridas na diagramação) e para
cumprir o padrão do portal.
O primeiro parágrafo já oferece ao leitor as principais características
descritivas do protagonista do filme O Vidente, sem fornecer nada ainda sobre o
desenvolvimento da trama. Também informa o leitor de detalhes da programação da
emissora de televisão em que a produção será exibida, inclusive o programa que vai
ao ar antes do filme. As informações sobre o filme são transmitidas de modo objetivo
e com traços que descrevem o personagem principal como um herói de qualidades
populares bastante claras. A escolha das palavras para escrever o primeiro
momento da sinopse facilita ao leitor a recuperação de estereótipos de herói
existentes em sua memória para o personagem de destaque da trama, a começar
pela segunda informação dada: logo após o nome do personagem principal do filme,
54
entre parênteses, é fornecido o nome do ator que o interpreta, Nicolas Cage, famoso
por dar vida a personagens de filmes de ação e de identificação popular.
Em seguida, seleção lexical para descrever o personagem de Cage permite
criar o conceito de sobre-humano e de oposição e conflito. Construções como
“convive com um dom” e “um homem especial” contrastam com “problema” e
“vulnerável” e constroem o paradigma tradicional dos roteiros de filmes de ação,
funcionando tanto como pequenos núcleos de informação quanto como ferramentas
para despertar a curiosidade do leitor. A expressão “prever o futuro”, mesmo sem
dar mais detalhes sobre como tal “previsão” é feita para prender a atenção do leitor.
A mesma clareza e objetividade presentes nas primeiras linhas da sinopse
são usadas para passar ao leitor as informações quem vêm na sequência, sobre o
suporte ou veículo de comunicação em que o original será veiculado. Além das
informações básicas sobre o posicionamento na grade de programação da emissora
de TV que exibirá O Vidente, apresentar ao leitor como uma referência de
posicionamento temporal um programa de maior notoriedade junto ao público
funciona como marca de intertextualidade, pois dá ao leitor uma referência de
horário mais precisa, no caso de ele ter o hábito de assistir ao programa em questão
antes da exibição do filme. Novamente, a informação também tem função
persuasiva, pois convida o consumidor do reality show a ver o filme após o horário
do programa.
O segundo parágrafo começa a dar mais pistas sobre a trama de O Vidente,
fornecendo informações sobre a vida do personagem principal, reforçando o mistério
e a curiosidade sobre o desenvolvimento do “dom” dele. Menos informativos e mais
persuasivos, tais detalhes da trama não revelam o clímax ou o desfecho do filme.
Isso no começo do parágrafo. Pouco mais adiante, são dadas mais informações
55
novas sobre a atual situação do protagonista e há a apresentação de mais um
personagem, vivido pela famosa atriz norte-americana Jessica Biel – objeto de
interesse romântico do herói de Nicolas Cage. Duas características que esse trecho
da sinopse traz são novamente relacionadas à informação e à persuasão. A nova
personagem é descrita como um dos pontos de mudança do personagem de Cage
em sua trajetória, pois está relacionada ao “dom” dele e também fica a descrição
expressa dela como uma “jovem mulher”. A marca de intertextualidade está no
momento em que a atriz que interpreta a personagem é apresentada, novamente
entre parênteses para dar ênfase ao nome, já que a atriz é famosa e tem sua
imagem já difundida no Brasil – o que completa a descrição visual da personagem
por meio das características físicas de sua intérprete.
O terceiro e último parágrafo insere mais uma personagem e completa mais
uma etapa para a descrição da trama de O Vidente, que pode ser qualificada como o
ponto de mudança da trajetória do protagonista. Uma agente do governo que recruta
o protagonista para usar seu “dom” em favor de uma boa causa, mas a um custo
penoso para ele. Funcionando como conexão de intertextualidade para recuperar o
arquétipo do herói, as referências de descrição do personagem de Nicolas Cage
dadas no primeiro e no segundo parágrafos são reforçadas novamente.
As escolhas lexicais para dar as descrições de cenários e de tempo e espaço,
como em “Las Vegas”, “Los Angeles”, “quando criança” e “visões do futuro”, são
vagas e todas elas funcionam como reforço para o grande atrativo do filme – os
poderes especiais do protagonista. Outra marca de intertextualidade também surge
da mesma forma que as outras duas: o nome da famosa atriz Julianne Moore é dado
entre parênteses. Recuperando a figura física e os personagens anteriores da atriz,
o leitor da sinopse consegue facilmente criar um perfil para a personagem.
56
Para prender a atenção do leitor no final do texto, uma referência recupera
imagens sensacionalistas e projeta um possível desfecho para a trama do filme. A
palavra “tragédia” traz uma série de significados implícitos e ativa na memória do
leitor uma série de imagens de situações extremas e de perigo, já presentes em seu
repertório ou conhecimento de mundo. Estes detalhes recuperam cognitivamente
informações e possuem dupla funcionalidade neste contexto, dando ao público as
imagens de tragédia para completarem a descrição do filme e também despertam a
curiosidade para descobrir qual o tipo de tragédia de que o filme trata.
Esta última sinopse, desenvolvida para um portal popular de internet, pode
ser considerada, com base nas características de comparação apresentadas ao
longo deste trabalho, a mais popular de todas e a que possui mais marcas de
referências intertextuais entre as estudadas até aqui. Isso é efeito das estratégias de
sumarização aqui utilizadas: a seleção e a construção. A seleção se dá por meio do
apagamento das informações mais específicas do filme e a apresentação de dados
genéricos, copiados do original apenas para dar a base para a leitura e persuasão
do público. A construção se dá no momento em que o autor da sinopse recupera
informações cruciais do original e as reescreve substituindo por pistas, como as
cidades em que acontece a ação do filme e o nome dos atores presentes no elenco
principal, de intertextualidade para criar o estereótipo de herói e a trama de ação,
conforme já mencionado.
Em síntese, as sinopses apresentadas neste capítulo funcionam como
exemplo dos processos e estratégias de sumarização encontrados em diversos tipos
de suporte e de mídia atualmente. Ficou claro por meio das análises que não há
padronização a ser classificada para determinado veículo de comunicação e que há
enorme variedade de apresentação de sinopses para cada suporte, independente de
57
qual seja o seu original e seu público-alvo. Entretanto, as principais estratégias de
redução de informação puderam sem encontradas e identificadas em cada análise.
Também foi encontrada forte presença da persuasão nos textos, fruto da influência
da publicidade nos veículos de comunicação, dada a quantidade de produtos, de
toda a espécie, nos respectivos mercados dos originais.
58
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Um texto de propaganda ou de informação? A sinopse pode ser entendida
como uma forma híbrida de construção de texto. Trata-se uma produção cujo
objetivo não se resume apenas a sumarizar a informação de um original, mas
agrega ao seu conteúdo uma série de escolhas lexicais feitas para atrair o leitor,
capturar sua atenção para a informação que está sendo reduzida. Diferentemente do
resumo e suas variações, todas previamente padronizadas e restritas ao ato de
informar, a sinopse adiciona à informação características que variam de acordo com
o suporte em que é veiculada e o seu original, podendo ser interpretada como um
texto jornalístico e até de propaganda, dado o teor persuasivo de sua linguagem.
Ao aprender o funcionamento do processo cognitivo de criação de um texto,
descobre-se muito sobre o que a leitura posterior poderá recuperar. São formas
diferentes de acessar a mesma informação. Ao escrever uma sinopse, o autor leva
em conta não apenas sua fonte de informação original, mas a forma como ela
deverá chegar e ser interpretada pelo futuro leitor. Assim, não se trata apenas do ato
de informar. A seleção do léxico na sinopse abre um novo leque de acessibilidade
para o leitor, recuperando informações já existentes em sua memória de longo prazo
ou de conhecimento de mundo tido como comum e dando nova interpretação ou
agregando novos dados a ela. É isso o que permite ser a sinopse um texto reduzido
e de fácil leitura.
Entretanto, a sinopse não faz uso de tais estratégias apenas com o intuito de
informar. O suporte em que este tipo de texto é veiculado influencia diretamente nas
escolhas linguísticas com que a sinopse será construída. Pode parecer óbvia tal
informação, mas não se trata apenas de se adequar ao público-alvo. Uma sinopse
59
vai além do mero resumo e almeja capturar a atenção do leitor para o seu objetivo,
um processo de convencimento velado, implícito nas conexões de referência e de
intertextualidade. Se o suporte for um periódico diário destinado a um público
determinado, a linguagem, claro, se adapta a tal mídia. No entanto, em adição a tal
adequação, o texto literalmente vende seu conteúdo por meio de pistas de
persuasão que o autor deixa quando seleciona seus núcleos de informação e
estabelece as ligações de conhecimento comum que quer explorar e remeter para o
leitor acessar durante seu processo cognitivo.
Durante os estudos de casos, foi possível identificar uma série de abordagens
diferentes para cada veículo de comunicação de onde as sinopses foram extraídas,
apesar de as estratégias de sumarização estarem presentes de forma similar em
todos os casos. Os textos retirados de publicações impressas e de cunho jornalístico
apresentaram menos características persuasivas e mais qualidade informativas, com
sinopses muito mais curtas, construídas por meio de estratégias de sumarização
como o apagamento ou a generalização. A única exceção a ser feita é o caso de
uma sinopse retirada de um anúncio publicitário em uma revista, mesmo tipo de
suporte dos textos anteriores, já que a mídia em que esta única exceção se aplica já
pressupõe a necessidade de recursos de persuasão em sua composição.
As sinopses retiradas de materiais gráficos, embalagens e afins, de livros,
filmes e seriados de TV à venda nas lojas do país possuem características próprias
do texto de propaganda mais acentuadas. Além de dar ao leitor uma ideia bastante
simples do conteúdo do produto, a sinopse fornece uma série de dados adicionais
sobre o autor, os intérpretes de personagens e outros fatos relacionados ao original
que possam ser relevantes para cativar o leitor. E não apenas para isso, sem
dúvida, já que arquétipos de personagens e de tramas são recuperados da memória
60
A Redução da Informação nas Sinopses
A Redução da Informação nas Sinopses
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A Redução da Informação nas Sinopses

  • 1. ANDRÉ LUIS CAVALLINI FERREIRA Sinopse: Um Processo de Redução de Informação e Sua Aplicação na Mídia Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP Coordenadoria Geral de Especialização, Aperfeiçoamento e Extensão – COGEAE São Paulo, março de 2011 1
  • 2. ANDRÉ LUÍS CAVALLINI FERREIRA Sinopse: Um Processo de Redução de Informação Aplicado na Mídia 2 Monografia apresentada como exigência parcial para obtenção do título de Especialista em Língua Portuguesa à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob orientação da Profa . Dra. Aparecida Regina Borges Sellan.
  • 3. 3 Para ser grande, sê inteiro: nada Teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és No mínimo que fazes. Assim em cada lago a lua toda Brilha, porque alta vive. Fernando Pessoa (Ricardo Reis)
  • 4. 4 Dedico este trabalho a minha noiva, a quem agradeço pelo apoio, por acreditar em mim e estar ao meu lado, sempre paciente; aos meus pais por estimularem e me darem o suporte para chegar até aqui; a todos os professores de minha graduação e pós- graduação, que contribuíram para construir o estudante e profissional que sou hoje. Dedico aos amigos da Ropema, pela ajuda criativa, e também a todas as pessoas que cruzaram o meu caminho até hoje e contribuíram de alguma forma para que este trabalho fosse concluído.
  • 5. SUMÁRIO Apresentação.............................................................................................................07 Capítulo 1: Em Busca de Compreender o que É Texto.........................................10 1.1 Texto e Informação...................................................................................10 1.2 Organizando a Informação......................................................................13 Capítulo 2: O Processo e as Estratégias de Sumarização da Informação..........16 2.1 O Resumo..................................................................................................17 Capítulo 3: A Informação Reduzida: A Sinopse.....................................................21 3.1 A Estética da Sinopse..............................................................................22 3.1.1 A Aplicação Profissional da Sinopse.........................................23 3.1.2 O Caráter Persuasivo da Sinopse...............................................24 Capítulo 4: A Sinopse na Prática: Estudo de Caso...............................................26 4.1 Sinopses encontradas em capas de livros............................................26 4.1.1 Caso 1.............................................................................................27 4.1.2 Caso 2.............................................................................................31 4.1.3 Caso 3.............................................................................................34 4.2 Sinopses encontradas em capas de DVD e Blu-ray.............................37 4.2.1 Caso 1.............................................................................................37 4.2.2 Caso 2.............................................................................................39 4.2.3 Caso 3.............................................................................................42 4.3 Sinopses encontradas em jornais, revistas e páginas de internet.....45 4.3.1 Caso 1.............................................................................................45 4.3.2 Caso 2.............................................................................................48 4.3.3 Caso 3.............................................................................................50 4.3.4 Caso 4.............................................................................................53 5
  • 7. APRESENTAÇÃO Como se dá a construção de textos sociais que se apresentam em forma reduzida? Como é resumindo o conteúdo de obras literárias e audiovisuais, tanto na mídia impressa quanto no ambiente on-line? O que é e como se constrói uma sinopse? Tais perguntas serviram de motivação para esta monografia, que abordará nas próximas páginas teorias e exemplos acerca da redução da informação, incluindo o estudo de casos a título de amostragem, identificando em textos retirados de veículos de comunicação e mídias do cotidiano a matéria-prima para isso. Para desenvolver tais análises, antes se faz necessário abordar um tema que, apesar de parecer simples e corriqueiro, apresenta-se um tanto complexo: a definição de um texto. O que faz de um conjunto de vocábulos posicionados em determinada ordem ser um texto? Tendo esta diretriz como ponto de partida, a explicação para o que é um texto traz à tona uma série de informações sobre cognição e memória as quais são essenciais para a segunda etapa da fundamentação teórica desta monografia: os processos de redução de informação. A sumarização da informação na memória é um processo comum a todo ser humano. O cérebro não tem a capacidade, nem a necessidade, de armazenar totalmente o universo de dados com que uma pessoa tem contato diariamente. À semelhança de um computador, a memória humana organiza as informações utilizando pistas que servem de conexão entre diversas informações similares e, assim, economizam espaço e facilitam o acesso posterior às informações. Um dos teóricos estudados para esta monografia é Van Dijk, cuja teoria sobre a noção de 7
  • 8. macroestrutura foi essencial para o desenvolvimento tanto da base teórica quanto analítica desta etapa da monografia. As macroestruturas nada mais são que grandes conjuntos de informação, organizados por temas e índices que facilitam a ordenação de dados na memória. Este sistema se mostra funcional e extremamente importante do ponto de vista comparativo quando se analisam exemplos de sinopses no dia a dia. A separação da informação por grandes blocos (macro) e subdividida em conjuntos menores (micro) dá parâmetros para que a escolha de cada palavra na construção de uma sinopse seja importante e valorizada como tal, já que cada escolha lexical serve como link ou pista para um universo particular de informações, guardadas dentro do cérebro do leitor. Em adição à teoria de Van Dijk, os trabalhos de Koch na seara da construção dos sentidos do texto também foram uma notória contribuição para esta monografia. Apoiado na tese de que as informações contidas em um texto são repletas de referências e conexões de intertextualidade, foi possível compreender que as sinopses trabalham, além dos grupos de macroinformação, marcas que recuperam na memória do leitor uma gama de dados de conhecimento comum de mundo e que dão suporte para o entendimento do texto com maior facilidade. Ademais, a atualização constante das informações já existentes na memória pelo acesso aos dados previamente armazenados é de suma importância para a manutenção do conhecimento já estabelecido e sua atualização. Partindo para a concepção de redução de informação, o trabalho de Leite, recuperando as contribuições de Koch e Van Dijk, entre outros, trouxe a esta monografia informações cruciais sobre a produção e o desenvolvimento de resumos, outra forma de texto originado na sumarização da informação, traçando um paralelo 8
  • 9. com as sinopses. O resumo, e suas diversas manifestações no mundo acadêmico e social, é trazido à luz a título de informação e de exemplo para as estratégias de sumarização que, posteriormente, serão retomadas nos estudos de casos de sinopses. Findada a parte de introdução de conceitos teóricos sobre o que é texto, a redução de informação, as estratégias de sumarização e os resumos propriamente ditos, chega-se ao momento de desenvolver os estudos sobre a sinopse, objeto de estudo desta monografia. Compilando os dados teóricos retirados dos capítulos anteriores e com o suporte das estratégias presentes nos resumos, fica mais simples compreender o que é uma sinopse, sua aplicação e como ela é construída, pois este tipo de texto possui sutis diferenças com relação ao resumo, como a mídia em que é veiculada a sinopse e a presença de marcas de persuasão, como pode ser visto nos estudos de caso. Como o título desta monografia já diz, além do estudo da sinopse, também é abordado o local em que tal tipo de texto se apresenta e como isso influencia o seu desenvolvimento, desde sua concepção, considerando o suporte, o leitor, a informação e o objetivo que o texto quer atingir, o que atesta uma afirmação que ecoou nas salas de aula desde o princípio da graduação no curso de Letras: “não há texto sem intenção”. As próximas páginas servirão para mostrar que sinopse não é um resumo, mas uma variação da redução da informação, e traz consigo muito mais do que o simples ato de informar. 9
  • 10. CAPÍTULO 1 EM BUSCA DE COMPREENDER O QUE É TEXTO Para o desenvolvimento do estudo proposto para esta monografia, faz-se necessário discorrer sobre as etapas que compõem o processo de construção do texto, apresentando informações detalhadas sobre o funcionamento cognitivo de criação, produção e compreensão daquilo que conhecemos como um texto. Os subitens que organizarão este capítulo tratarão separadamente da essência do que entendemos ser um texto, dos processos de absorção da informação por parte tanto do produtor quanto do receptor durante o ato comunicativo e durante o funcionamento da atividade de redução da informação, para, por fim, detalhar a construção da sinopse e suas características e funções. 1.1 – Texto e Informação Em um dia comum, além de processar diversas funções básicas do corpo e as informações recorrentes do dia a dia, o cérebro também fica responsável por administrar e armazenar a enorme quantidade de informações novas que recebe a cada momento, como notícias que são vistas na televisão, pessoas novas que são conhecidas, até mesmo as previsões meteorológicas e os planos para o final de semana. Não há limites para esse processo – o trânsito de novidades e de acessos aos “arquivos” da memória é constante. Contudo, nem toda a informação precisa ser guardada por completo. Detalhes insignificantes acabam se perdendo no processo de seleção automática que o cérebro faz na hora de colocar a memória para funcionar. Isso é parte do processo cognitivo do ser humano. 10
  • 11. Quando lemos um texto ou assistimos a um filme, por exemplo, as funções cognitivas automaticamente entram em operação na memória e dividem por meio de macroestruturas a informação que chega ao cérebro. Van Dijk (1984), autor dessa denominação, apresenta em suas teorias que uma das funções cognitivas das macroestruturas é a organização, pelo tratamento na memória, da informação semântica completa, o que implica diretamente a necessidade de reduzir o conteúdo informativo que é recebido, de modo que a informação seja mais facilmente armazenada e posteriormente acessada pela memória. Tal seleção é feita por meio das relações que cada indivíduo estabelece com o conteúdo que está sendo fornecido, novo ou já visto anteriormente, e com as macroestruturas particulares criadas pelo processo cognitivo individual. Em geral, essas estruturas seguem um padrão que pode ser tido como comum em um grupo de pessoas, considerando para isso fatores como cultura, religião e o ambiente socioeconômico, por exemplo, além da idade, formação acadêmica, entre outros. Concluem Van Dijk & Kintsch (1983) em Koch (2010, p.22): Embora venhamos a fazer uso de diferentes tipos de informações, tais como unidades sintáticas ou unidades semânticas, nosso modelo opera em fatias mais complexas. Assim sendo, analisaremos o processamento do discurso partindo das unidades de palavras, no nível inferior, para as unidades de temas gerais ou macroestruturas. Diversos tipos de informações podem ser usados para a compreensão e integração dessas diferentes unidades. Dessa maneira, podemos usar palavras, talvez palavras temáticas, para construir as macroestruturas; e podemos, ainda, usar macroestruturas na compreensão de palavras. 11
  • 12. Conhecido comumente como “uma unidade linguística com superioridade hierárquica em relação à frase” ou como “um apanhado delas formando um sistema ou cadeia”, definições que podem ser encontradas em uma rápida leitura de diferentes autores e em variados níveis de profundidade, o texto também pode ser encarado por diferentes outras formas. Considerando sua natureza pragmática, sendo abordado como um processo de planejamento complexo e em constante construção, uma parte da atividade comunicativa do homem, com função social, interacional, consciente e criativa, baseada em estratégias e com objetivos bem definidos por seu produtor, Koch (2009, p.25-27) define texto como o fruto da seleção racional e direcionada de elementos linguísticos, que são organizados e modelados durante o processo de interação entre seus produtores; assim, não se restringe apenas ao campo semântico, compreendido de acordo com os processos cognitivos individuais, influenciados pelo meio social, mas também à compreensão eficiente das informações passadas pelo texto, pois a comunicação textual efetiva só pode ser considerada bem-sucedida quando os objetivos de seu produtor são atingidos. Em Koch (2009, p.30): Um texto se constitui enquanto tal no momento em que os parceiros de uma atividade comunicativa global, diante de uma manifestação lingüística, pela atuação conjunta de uma complexa rede de fatores de ordem situacional, cognitiva, sociocultural e interacional, são capazes de construir, para ela, determinado sentido. A organização das informações é fundamental para que o texto seja compreendido, logo, é importante frisar alguns pontos-chave sobre a construção dos sentidos e os processos cognitivos que são ativados durante a comunicação verbal. 12
  • 13. 1.2 – Organizando a Informação A organização da informação textual, segundo Koch (2009), tem por base a informação semântica contida no texto. Tal informação é dividida em duas partes: o dado e o novo. Ambas interferem na construção do sentido na comunicação. A informação dada é aquela que já faz parte do repertório dos interlocutores e é o ponto de fixação, ou ancoragem, para a compreensão e assimilação do conteúdo considerado novo. Durante o processo cognitivo no ato comunicativo, o texto pode ser fundamentado em informações que já foram dadas anteriormente. Este processo é realizado por meio da remissão e da referência. Para que o texto fique bem organizado ao recuperar informações já fornecidas e faça sentido, a construção de cadeias coesivas (Koch, 1989) tem papel fundamental. Tais recursos trabalham com conteúdos já presentes na memória dos interlocutores. Eles recuperam dados do passado por meio de pistas, que podem ser artigos, pronomes ou mesmo palavras específicas, que acessam estas informações antigas e as ativam para que o texto atual seja melhor compreendido – uma forma de organização similar à noção de macroestruturas de Van Dijk. Este processo de recuperação de informação antiga chama-se inferência, é uma estratégia cognitiva bastante eficiente e funciona como ponte para a ligação entre a informação dada e a informação nova, sempre considerando o conhecimento supostamente partilhado entre os interlocutores do processo de comunicação. A mesma linha de trabalho cognitivo segue a intertextualidade, que tem por meta acessar conteúdo partilhado entre os interlocutores, considerando o contexto sociocultural em que acontece a comunicação – ou a construção do texto. 13
  • 14. Estabelecidos os processos de construção e de organização, fica mais simples propor uma definição mais clara de o que seria um texto. O texto se constitui no momento em que um ato comunicativo é realizado, por meio de processos de manifestação linguística, considerando fatores culturais, cognitivos, sociais e situacionais, resultando em uma unidade de sentido que seja compreendida por completo pelos participantes. Para Charaudeau (2008), “o texto representa o resultado material do ato comunicativo, resultante de escolhas conscientes (ou não) feitas pelo sujeito falante de acordo com o que oferecem sua língua, o modo de organizar o discurso e a situação em que os interlocutores se encontram”. Há um item importante que deve ser levado em conta, segundo Van Dijk (1977): o contexto comunicativo. Por mais que a construção dos sentidos de um texto ou ato de comunicação sejam embasados no encadeamento coerente de informações e possuam os elementos certos para trabalhar as informações dadas e as novas, o olhar pragmático sobre o contexto em que a comunicação tem como cenário é essencial. As referências de organização e processamento cognitivo de informação trabalham apenas no nível informativo e têm como base as estruturas textuais ou linguísticas. O juízo de valor das informações que cada indivíduo faz não está incluído neste modelo organizacional e deve ser levado em conta quando estratégias de construção lógicas e cognitivas forem utilizadas na elaboração de um enunciado. As informações semânticas que cada palavra guarda estão ligadas diretamente à interpretação relativa de cada falante da língua. Portanto, para a construção de um texto é preciso levar em conta também o nível semântico independente e individual para o uso das macrorregras. Tais estruturas são partes de um texto/informação que possuem o mínimo de significado completo. É por meio 14
  • 15. dessas estruturas básicas que é possível compreender plenamente, todavia, com o mínimo de dados, tudo o que está envolto na semântica daquilo que se teve como fonte original de informação. Conclui-se este raciocínio com o que explica Koch (2009, p.35) acerca deste tópico: A análise estratégica depende não só de características textuais, como também de características dos usuários da língua, tais como seus objetivos, convicções e conhecimento de mundo, quer se trate de conhecimento de tipo episódico, quer do conhecimento mais geral e abstrato, representado na memória semântica ou enciclopédica. Desta forma, as estratégias cogniticas consistem em ‘estratégias de uso’ do conhecimento. E esse uso, em cada situação, depende dos objetivos do usuário, da quantidade de conhecimento disponível a partir do texto e do contexto, bem como de suas crenças, opiniões e atitudes, o que torna possível, no momento da compreensão, reconstruir não somente o sentido intencionado pelo produtor do texto, mas também outros sentidos, não previstos ou mesmo não desejados pelo produtor. Em síntese, os pressupostos apresentados neste capítulo como definição de texto servirão de base para o entendimento e para o desenvolvimento das teorias sustentadas pelos capítulos a seguir, tratando mais especificamente dos processos de sumarização da informação. 15
  • 16. CAPÍTULO 2 O PROCESSO E AS ESTRATÉGIAS DE SUMARIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO A informação é parte do todo que compõe um texto, levando em conta a finalidade com que ele é produzido e a importância que a informação tem dentro deste cenário. Excluindo deste cenário a motivação dos interlocutores (contexto) e as escolhas lexicais e estruturais que foram feitas para a produção do texto (execução da comunicação), a informação que é registrada deste ato comunicativo, nova ou trabalhando com os “arquivos” do cérebro, é armazenada por meio de um complexo processo cognitivo. Este ato de guardar a informação, seja por meio de segmentos de memória não existentes antes, seja agregando a novidade a algum modelo anterior pré-existente, sempre acontece por um processo de seleção automática individual. Este processo de compreensão inclui a redução da informação a pequenas estruturas semânticas – organizadas em macroestruturas – de fácil acesso posterior pelos interlocutores. Pode-se, portanto, afirmar que o cérebro reduz, ou sumariza, dados o tempo todo. É um processo natural ao homem e significa que as informações apresentadas foram compreendidas e registradas, sem considerar o julgamento de valor desta compreensão, o que é relativo e varia para cada interlocutor. Neste cenário mental, criado individualmente, é praticamente impossível explicar em termos gramaticais ou linguísticos a presença de noções de coerência e de interpretação textual da informação dada (nova ou sendo retomada). Um modo alternativo e eficiente de entender e de explicar o sistema de organização da informação e como o discurso foi compreendido pelo indivíduo foi proposto de forma similar por Van Dijk & Kintsch (1983) e Schank & Abelson (1977): 16
  • 17. os modelos de frames ou scripts. Jargões da linguagem cinematográfica, um frame consiste em uma imagem fixa que é capturada pela câmera na película de filme; o script é o roteiro propriamente dito, que ordena as ações em cena. Logo, a ação de cada cena que é produzida é organizada e apresentada em por atos individuais, posteriormente ordenados por um roteiro. O processo cognitivo humano trabalha de forma similar, criando padrões de situações, comuns ao cotidiano ou não, que o cérebro reconhece e grava na memória, e que servem de ponto de partida para a organização da informação que nos é fornecida a todo o momento. Assim, a informação pode ser mais facilmente sumarizada dentro destes denominadores comuns e posteriormente acessada e reproduzida. Lê-se em Van Dijk (2010, p.30): É plausível a ideia de que o usuário da língua adivinhará o tópico a partir de um mínimo de informações textuais provenientes das primeiras proposições. Tais previsões serão sustentadas pelos vários tipos de informações, tais como títulos, palavras temáticas, sentenças temáticas iniciais, conhecimento sobre possíveis ações ou acontecimentos globais resultantes, assim como informação provinda do contexto. 2.1 – O Resumo O processo de sumarização de informações é amplamente utilizado no meio acadêmico, como parte da organização e da apresentação de trabalhos dos mais variados portes, e também por instituições de ensino, como forma de validação da compreensão da leitura e como exercício de fixação. Para estes fins, a sumarização é mais conhecida como resumo. Apesar de uma prática comum, o resumo possui diversas formas de apresentação e de aplicação. Tanto que a Associação Brasileira de Normas 17
  • 18. Técnicas (ABNT) emitiu, em novembro de 2003, uma norma, a NBR 6028, que classifica o resumo em três tipos diferentes – crítico, indicativo e informativo – indicando as regras básicas e limitações para a redação de cada um dos textos destes tipos. A forma crítica de resumir um texto, ou informação, segundo a norma da ABNT, é aquela realizada com juízo de valor por um especialista na área de conhecimento a que o objeto de sumarização se refira. Este modelo de sumarização também é conhecido como resenha e não é o foco deste estudo. O resumo denominado pela norma como sendo indicativo é o mais sucinto de todos, apresentando apenas as ideias principais do texto, sem aprofundamento ou detalhamento de qualquer informação. O terceiro e último modelo de resumo normatizado pela NBR 6028 é o informativo. Este aproveita melhor o conteúdo informativo do original, sintetiza de forma completa as informações do texto-base e assume função de novo original para o leitor, dada a fidelidade que consegue manter da matriz informativa. A mesma norma também indica a forma de apresentação do resumo, incluindo as referências bibliográficas do original, escolha de palavras-chave para classificação do texto e os pontos principais que a forma reduzida do original deve conter (objetivo, método, resultados e conclusões da matriz). A NBR 6028 também indica a voz verbal – preferencialmente ativa e na terceira pessoa do singular – o não uso de tópicos ou itens que enumerem o texto e as construções verbais que não façam parte do conhecimento ou uso comum. A norma é finalizada indicando que o resumo deve ser composto por frases afirmativas. 18
  • 19. Há limitação de palavras para os textos indicativos e informativos, dependendo de sua destinação. Os indicativos são os menores e devem, pela ABNT, conter de 50 a 100 palavras. Já os informativos possuem duas variações, uma composta por uma média entre 150 e 500 palavras quando o resumo for parte de trabalhos acadêmicos ou relatórios técnico-científicos, e entre 100 e 250 palavras quando se tratar de um artigo de periódico. Recomenda-se, por fim, que um resumo de qualquer tipo limite-se a apenas um parágrafo. No âmbito escolar, há poucas regras a serem seguidas e muitas delas se restringem às escolhas pedagógicas e metodológicas de cada instituição e cada docente. Geralmente, os resumos são aplicados como forma de exercício para verificação de leitura de obras literárias, artigos ou textos jornalísticos e material teórico de cada disciplina. Muitas vezes, também são indicados como forma de estudo para aprimorar a memorização e a assimilação de conteúdo. Segundo Leite (2006), “só é possível resumir aquilo que compreendemos”. Considerando os conceitos de ancoragem, pistas e macroestruturas, é importante atentar para os núcleos de informação que cada texto possui. Qualquer ato comunicativo, seja por expressão verbal ou escrita, é composto por palavras selecionadas por critérios individuais, considerando-se inúmeras variáveis. Cada escolha lexical feita, de modo consciente ou não pelos interlocutores, resulta em pontos de referência para o cérebro processar as informações apresentadas durante a comunicação. Esses pontos de referência são fundamentais para a redução da informação durante o processo cognitivo, que realiza, a partir deles, a seleção dos itens que serão armazenados e a parte da informação que o cérebro de cada indivíduo considera irrelevante e que será “apagada” da memória. O processo mental de exclusão de partes que o cérebro considera desnecessárias faz parte de 19
  • 20. uma estratégia denominada seleção (Leite, 2006), que trabalha o conceito de cópia e apagamento, ou seja, as partes da informação que são registradas e gravadas pelo cérebro, eliminando o restante do processo de armazenamento. Outra estratégia comum é a construção (Leite, 2006), que consiste na substituição da sequência de informação dada por outra. Este processo pode ser realizado de duas formas: por meio da generalização (troca das informações consideradas genéricas por outras de conhecimento específico do interlocutor) ou da construção (estabelecendo relações da informação nova com as antigas por meio da associação de significados). O sucesso de qualquer uma das estratégias propostas varia de acordo com o indivíduo e, para os fins deste estudo, elas são apresentadas a título de exemplo, estabelecendo uma relação direta entre os processos cognitivos e métodos práticos de produção de resumos. 20
  • 21. CAPÍTULO 3 A INFORMAÇÃO REDUZIDA: A SINOPSE O resumo, conforme já foi apresentado, possui diversas aplicações, tanto no ambiente acadêmico como no profissional, chegando a ser normatizado pela ABNT (NBR 6028). Entretanto, há outra modalidade de redução de informação que, apesar de muito parecida com o resumo indicativo, ganha características e aplicações um pouco diferentes: a sinopse. Segundo definições de dicionários como Houaiss (versão em CD-ROM, em dezembro de 2010) e Michaelis (versão on-line no portal do UOL, em dezembro de 2010), este tipo de sumarização trata de uma visão geral ou síntese de uma ideia ou teoria, um sumário daquilo que outro texto, seu original mais extenso e completo, apresenta. Conforme consta no material didático da aula de número 12 do curso virtual de Revisão Sistemática e Metanálise (em janeiro de 2011), promovido pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a sinopse... ...É um texto breve dos resultados da revisão, claramente redigido e dirigido aos consumidores e leitores não-especialistas. A sinopse é um produto adicional que não substitui o resumo da revisão sistemática; tem o objetivo de aumentar a acessibilidade da revisão, disseminar amplamente seus achados para a comunidade internacional e servir como ajuda à leitura. Apesar de vastamente utilizada em documentos oficiais de áreas como a legislativa, a científica, a literária, entre muitas outras, a sinopse não possui regulamentação ou delimitações estéticas para a sua construção. Sabe-se, todavia, que é um texto bastante sucinto, por isso comparado, neste estudo, com o resumo indicativo. Esta modalidade de texto é destinada a leitores que desconhecem o tema 21
  • 22. ou objeto de síntese, funcionando muitas vezes como o primeiro contato com a informação que está sendo apresentada. Por essa natureza, as escolhas lexicais e sintáticas são mais genéricas, considerando as variações mais simples do idioma e buscando manter-se o mais claro e objetivo possível com relação ao conteúdo e à compreensão e absorção do máximo da informação. O ato de construir uma sinopse é diferente da produção de um resumo em certos aspectos. Pode-se determinar como pontos comuns entre as duas modalidades de sumarização de informação a obrigatoriedade de se manter a fidelidade ao original, a exclusão de opinião particular no plano das ideias e a limitação da extensão do texto, necessariamente curto. Entretanto, há diferenças importantes a serem destacadas entre o resumo e a sinopse. A ABNT recomenda na NBR 6028 os tempos verbais, a ordem das frases e a forma como o texto deve ser apresentado, o que serve de padrão para a produção do resumo em praticamente todos os seus campos de aplicação. Já a sinopse usufrui certa liberdade estética, já que tem função diferente do resumo. Por se tratar de um texto que é de consumo comum a diversos tipos de público e pode ser encontrado em diferentes veículos de comunicação, é necessário que a sinopse possua mais flexibilidade em sua forma e conteúdo, adequando-se ao leitor e ao meio a que se destine. O subitem a seguir tratará com mais detalhes de características particulares e fundamentais da sinopse. 3.1 – A Estética da Sinopse No item anterior, algumas características comuns da sinopse e do resumo foram apresentadas e comparadas, a título de ilustração dos dois tipos de texto. Todavia, a sinopse tem aplicações práticas que vão muito além daquelas que o 22
  • 23. resumo tradicional possui, e isso exige do produtor do texto certos cuidados e bastante conhecimento sobre o público-alvo a que o texto que está sendo criado se destina. Por isso, a estética da sinopse é um aspecto essencial para o sucesso da compreensão do texto e para que os efeitos desejados pelo produtor sejam de fato obtidos. Apesar de se tratar de um texto basicamente informativo, a sinopse possui estrutura similar à de um texto narrativo-descritivo, ou seja, dependendo do seu original, a versão reduzida do conteúdo deve ser apresentada ou como uma descrição ou como uma narração. Textos que sumarizam originais como livros, filmes, peças de teatro e outros tipos de materiais cuja estrutura básica seja a de uma história devem ter, consequentemente, características similares, ou seja, a sinopse de um livrou ou de um filme, por exemplo, possui estrutura narrativa predominante, reproduzindo de forma reduzida o conteúdo da obra da mesma forma como é apresentada no original. Quando o original é uma reportagem, entrevista, documento ou outro tipo de texto com características diferentes da narrativa, a estrutura da sinopse passa a ser predominantemente descritiva, apresentando ao leitor o conteúdo do original descrevendo sem muitos detalhes, mas de forma simples e direta. 3.1.1 – A Aplicação Profissional da Sinopse Por ter características simples, que facilitam sua leitura por qualquer tipo de público, a sinopse é um tipo de texto bastante utilizado pela mídia, de forma geral. Veículos de comunicação impressos e também on-line utilizam a sinopse frequentemente na hora de apresentar versões curtas de notícias, reportagens e 23
  • 24. afins, dando ao leitor uma noção do que ele encontrará na versão completa do texto, ou seu original. A área do entretenimento também faz uso da sinopse. Pode-se encontrar este tipo de texto em diversos canais de comunicação, como jornais, revistas, portais de notícias, blogs, entre outros, sinopses de filmes, novelas, livros, CDs e shows musicais e espetáculos teatrais, por exemplo. A função da sinopse dentro de tais canais é levar de forma simples, direta e clara para o leitor o máximo de informações sobre o assunto de que trata no menor tamanho possível. Os setores de propaganda e marketing também aproveitam a sinopse para apresentar ao consumidor uma visão geral de qualquer produto, em especial quando o objeto é relacionado ao entretenimento doméstico, casos de livros ou filmes em DVD e Blu-ray, por exemplo. Isso pode acontecer por meio de informes publicitários ou mesmo de anúncios, veiculados em qualquer tipo de mídia impressa ou on-line. E as mesmas sinopses também podem ser encontradas em embalagens (na capa ou contracapa) e materiais de divulgação, em geral. Em todos os casos, pode-se notar uma função comum da sinopse – a persuasiva, já que todas apresentam informações básicas, mas que devem ser suficientemente atrativas para levar o público a ler o texto original ou a comprar o produto que está sendo descrito (resumido). O subitem a seguir tratará com mais profundidade desta característica. 3.1.2 – O Caráter Persuasivo da Sinopse Estruturalmente, além do uso de linguagem simples e de fácil leitura por todo indivíduo, há determinadas expressões e palavras que são escolhidas de acordo com o produto sendo vendido e o tipo de apelo que se quer dar a ele. É nessa hora 24
  • 25. que começam a ser aplicadas técnicas de persuasão, já que o texto da sinopse, em adição à função informativa, tem por meta convencer o leitor a consumir o produto em questão, que seria a fonte original da informação sendo sumarizada e apresentada ao seu público-alvo. A sinopse não é tratada apenas como ato isolado de comunicação. Seu caráter de discurso persuasivo dentro de um determinado ambiente é parte fundamental do seu processo de construção, já que seu desenvolvimento vai além de seu autor e circula como fonte de informação constante e atinge diversos tipos de público como receptores da informação nela contida. Portanto, a sinopse pode ser considerada parte de um discurso persuasivo construído por um enunciador que é desconhecido do público, coletivo ou individual, e parte de um conjunto maior, a mídia, o jornalismo ou o entretenimento, de modo geral, o que Citelli (2007, p.37) considera grandes formações discursivas. Assim sendo, cada uma dessas formações possui estilo peculiar ao seu ambiente de circulação e ao seu destinatário. A leitura de uma sinopse por seu destinatário gera um ato comunicativo e dá início a um novo processo cognitivo de absorção de informação. Seguindo a lógica do discurso persuasivo, além das marcas lexicais que funcionam como gatilhos para que a informação seja facilmente compreendida e memorizada pelo leitor, uma sinopse também exerce a função de convencimento do interlocutor a realizar determinada ação. A sinopse bem-sucedida é aquele que cumpre tanto a função informativa quanto a persuasiva. O próximo item deste estudo apresentará exemplos de sinopses retiradas de diferentes meios de comunicação e uma breve análise de suas estruturas. 25
  • 26. CAPÍTULO 4 A SINOPSE NA PRÁTICA: ESTUDO DE CASO Considerando as informações apresentadas nos capítulos anteriores, este item será destinado a expor alguns exemplos de sinopses encontradas em veículos de comunicação diferentes. Esses exemplos serão analisados tendo por base critérios como a presença de macroestruturas, mecanismos de referência, remissão e intertextualidade, escolhas lexicais e construções que visem a persuasão do leitor, aspecto este comum encontrado em sinopses e que vai além do mero ato de informar. Os textos objetos de análise serão distribuídos em subitens do capítulo nomeados segundo o tipo de mídia em que a sinopse é encontrada. Fotocópias dos originais analisados podem ser encontradas na seção de Anexos deste trabalho. 4.1 – Sinopses encontradas em capas de livros Muito utilizadas nas capas, contracapas, orelhas e também nos meios de divulgação de obras literárias, as sinopses fazem função dupla quando produzidas tendo como original um livro, qualquer que seja o seu conteúdo informativo. Em geral, as sinopses encontradas impressas no material gráfico de uma publicação literária têm por meta dar uma primeira ideia ao futuro leitor/comprador do assunto de que a obra trata, dados sobre o autor, contexto e outros detalhes que indiquem o que está escrito nas páginas do livro. Os primeiros exemplos a serem apresentados são os textos encontrados na quarta capa, ou nas costas, e na orelha da primeira capa do livro 1808 (São Paulo: Planeta, 2009, 2ª Edição), de Laurentino Gomes. 26
  • 27. 4.1.1 – Caso 1 A primeira sinopse que será analisada é aquela que está impressa na orelha da capa do exemplar acima descrito: D. João VI foi o único soberano europeu a colocar os pés em terras americanas em mais de quatro séculos, e foi quem transformou uma colônia em país independente. No entanto, seu reinado no Brasil padece de um relativo esquecimento e, quando lembrado, é tratado de forma caricata, como no filme Carlota Joaquina, de Carla Camurati. Mas o Brasil de D. João VI não se resume a graçolas. A fuga da família real para o Rio de Janeiro ocorreu num dos momentos mais apaixonantes e revolucionários do Brasil, de Portugal e do mundo. Guerras napoleônicas revoluções republicanas e escravidão formaram o caldo no qual se deu a mudança da corte portuguesa e sua instalação no Brasil. O propósito deste livro, resultado de dez anos de investigação jornalística, é resgatar e contar de forma acessível a história da corte portuguesa no Brasil e tentar devolver seus protagonistas à dimensão mais correta possível dos papéis que desempenharam duzentos anos atrás. Como se verá nos capítulos adiante, esses personagens podem ser, sim, inacreditavelmente caricatos, mas isso é algo que se poderia dizer de todos os governantes que os seguiram, inclusive alguns muito atuais. O primeiro aspecto a ser ressaltado antes de dar continuidade à análise da estrutura desta sinopse é o fato de o livro tratar de um relato histórico. Com isso, torna-se pré-requisito para uma leitura completa o mínimo de conhecimento da História do Brasil, portanto, quaisquer referências ou conexões de intertextualidade partem do pressuposto de que o leitor/comprador da obra possui o conhecimento 27
  • 28. prévio (ou de mundo) necessário para compreender e aproveitar o máximo da leitura. Apesar de ser mais longa que o usual, encontramos no texto da orelha da capa de 1808 uma sinopse. Pode-se dizer que a divisão em parágrafos distintos possui maior função estética em detrimento da informativa, pois a construção da ideia apresentada trabalha uma primeira parte informativa afirmativa e duas adversativas – tanto o segundo quanto o terceiro parágrafos começam com conjunções adversativas –, explicando, claro, do que tratará o livro. Seguindo essa linha de raciocínio, o quarto, e último, parágrafo faz uso do conhecimento que ofereceu nos três anteriores e indica ao leitor o objetivo da obra 1808. Outra característica que não deixa dúvidas com relação à classificação deste texto como uma sinopse é sua função informativa-persuasiva, que será abordada um pouco mais adiante neste subitem. Logo no início do primeiro parágrafo, encontramos a informação-síntese que vai acionar no leitor seu conhecimento prévio em relação à História Geral. Quando o autor da sinopse apresenta D. João VI e indica que ele foi o único soberano europeu a pisar no Brasil, o leitor automaticamente traz de sua memória a informação de que grande parte dos regimes governamentais da Europa no século XIX era monárquica e que poucos eram os soberanos que vinham a suas colônias na América. E o autor ainda usa essa informação para determinar que tal visita foi de suma importância para futuros eventos históricos. No segundo parágrafo, há duas marcas interessantes na construção da sinopse e que também são essenciais para a construção de sentido: uma pista macroestrutural (em “caricata”) e outra de intertextualidade (referência ao filme Carlota Joaquina, de Carla Camurati). Quando o autor faz uso da palavra “caricata”, 28
  • 29. ele sintetiza todo o contexto de humor e escárnio que uma caricatura faz, como é usual nos periódicos atuais retratar de forma caricata personagens públicos em destaque, e posiciona os membros da corte real portuguesa em situação tal qual os políticos de hoje se encontram, em detrimento do esquecimento a que o autor também se refere. Já a intertextualidade vem na sequência, quando o autor ilustra a forma caricatural a que ele se refere como os personagens criados pela cineasta Carla Camurati no filme Carlota Joaquina. Tal referência exige/pressupõe que o leitor já tenha assistido à produção de Camurati e compare e relacione o personagem D. João VI, interpretado de forma cômica por Marco Nanini, com o mesmo ícone histórico a que o livro fará referência. Essa é uma forma de ajudar o leitor a criar uma imagem mental do personagem de forma viva, ao contrário das pinturas e retratos estáticos dos livros de história usados nas escolas. A referência ao filme também pode ser considerada como uma função persuasiva, pois Carlota Joaquina fez relativo sucesso nos cinemas do país, já foi televisionado e pode servir de suporte para que o leitor da sinopse se interesse mais por conhecer os fatos narrados por Laurentino Gomes em 1808. O terceiro parágrafo novamente exige do leitor certo conhecimento prévio, pois as escolhas lexicais (“graçolas”) e as referências históricas (guerras e revoluções) feitas pelo autor demandam o saber além da história brasileira – é preciso conhecer História Geral – e conhecimento vocabular do leitor, remetendo-se ao período social e político de tempo em que se situa o livro. Núcleos de informação são encontrados em todas as referências históricas que o texto apresenta e funcionam como pistas e referências a outros momentos passados que aconteceram paralelamente à mudança da corte portuguesa para o Brasil e dão ao leitor maior noção do cenário da narrativa da obra de Gomes. Tal construção também prepara o 29
  • 30. leitor para o parágrafo seguinte, em que o autor explica e justifica as escolhas que fez para construir a sinopse e o próprio livro. A sinopse termina com uma referência de intertextualidade que retoma a ligação da política durante o período colonial brasileiro com o atual momento em que o Brasil se encontra – o humor, resgatado pelo novo uso da palavra “caricata”. Menos politizado e mais histórico e romantizado, o texto encontrado na quarta capa do livro é uma sinopse cuja construção é mais comum e trabalha com ênfase os contextos temporal e social da obra de Laurentino Gomes, 1808: Nunca algo semelhante tinha acontecido na história de Portugal ou de qualquer outro país europeu. Em tempos de guerra, reis e rainhas haviam sido destronados ou obrigados a se refugiar em territórios alheios, mas nenhum deles tinha ido tão longe a ponto de cruzar um oceano para viver e reinar do outro lado do mundo. Embora os europeus dominassem colônias imensas em diversos continentes, até aquele momento nenhum rei havia colocado seus pés em territórios ultramarinos para uma simples visita – muito menos para morar ali e governar. Era, portanto, um acontecimento sem precedentes tanto para os portugueses, que se achavam na condição de órfãos de sua monarquia da noite para o dia, como para os brasileiros, habituados até então a serem tratados como uma simples colônia de Portugal. Construída de forma simples, esta sinopse trabalha a contextualização da trama de 1808 e dá pistas de referência menos elaboradas ao leitor, para que ele tenha acesso mais rápido e de modo mais objetivo às informações básicas para o pleno entendimento da trama da obra – ou o original desse texto. Sem dar nomes ou precisar o momento histórico em que se passa a trama, este texto reduzido 30
  • 31. apresenta mais características de persuasão do que de informação. Tal conclusão pode ser justificada pelo uso de determinadas expressões e construções, como o início do primeiro parágrafo da sinopse: “Nunca algo semelhante tinha acontecido na história de Portugal ou de qualquer outro país europeu”. A marca que determina tal função é a expressão “nunca antes”, que gera surpresa ou curiosidade e convida o leitor que não conhece a trama ou esta versão dela a ler o livro 1808, de Laurentino Gomes. Em vez de trabalhar a redução da informação por meio de apagamento, esta sinopse trabalha com o leitor utilizando referências históricas já conhecidas para provocar nele o “desejo” de saber mais sobre aquilo que já sabe, mas por outra perspectiva que lhe parece interessante, assim, indicando a expansão do conhecimento do leitor – o que muitas vezes o leva à leitura, culminando na aquisição do livro pelo consumidor. A estratégia utilizada pelo autor da sinopse é dar o predomínio da reconstrução de um fato já conhecido e comum ou uma releitura de uma informação já tida como dada no ambiente social e cultural do leitor em potencial. O autor realiza tal estratégia ao escrever de modo diferente algo que já é supostamente conhecido. 4.1.2 – Caso 2 Continuando as análises de sinopses encontradas em capas de livros, o próximo texto a ser estudado foi retirado da obra Curso de Redação, de Antônio Suárez Abreu (São Paulo: Ática, 2002, 11ª Edição), e se encontra na quarta capa, ou verso, da publicação. Curso de Redação é um livro que ensina a redigir da maneira mais eficaz e natural possível, articulando, 31
  • 32. continuamente, a estrutura básica do texto com os objetivos de quem escreve. Essa postura, absolutamente inovadora, coloca sempre a gramática a serviço da resolução de problemas textuais. Os exercícios atendem aos objetivos tanto daqueles que precisam dominar com segurança o discurso argumentativo de informação e pesquisa, quanto daqueles que têm necessidade de narrar acontecimentos ou descrever processos. Este é um livro básico porque apresenta: uma visão moderna do que seja um texto, em sua dimensão de coesão e coerência; a correlação entre tipos textuais e recursos gramaticais retóricos; os procedimentos necessários para conseguir objetivos e efeitos diversos, seja argumentando sobre um tema, seja narrando fatos de qualquer natureza; recursos que possibilitam fazer a composição de um texto de maneira agradável e motivadora; um apêndice gramatical elaborado especificamente em função dos problemas que normalmente ocorrem no processo de redação. Dividida em duas partes, esta sinopse descreve o conteúdo do livro apresentando ao leitor as qualidades e os benefícios que seu conteúdo pode trazer a quem o ler. Voltado para estudantes universitários que precisam dominar a escrita técnica e científica, o autor utiliza termos particulares desta modalidade de texto para persuadir quem lê a sinopse a adquirir o livro. A linguagem, apesar de se tratar da sinopse de uma obra teórica, é bastante simples e não faz uso de vocabulário rebuscado. Também não possui grandes marcas de intertextualidade ou macroestruturas que sumarizem grandes quantidades de informação. Esta primeira parte da sinopse tem como principal foco apresentar as qualidades do conteúdo do livro e informar ao possível comprador o que ele poderá aprender – e como fará isso – lendo a publicação. 32
  • 33. A seletividade lexical, como em “eficaz” e “natural”, e em expressões como “resolução de problemas textuais” e “dominar com segurança o discurso” têm completa função persuasiva, considerando que o público-alvo da obra é o estudante que tem dificuldades para produzir textos ou que precisa de literatura técnica de apoio para desenvolver a escrita, não importando sua área de conhecimento ou de formação acadêmica. Secundariamente, o livro pode também atingir quaisquer interessados em obter mais informações acerca do tema ou queira aprimorar suas técnicas de produção textual. O tema com maior ênfase da sinopse, portanto, é o suporte a quem tem dificuldade para dominar a escrita, de modo geral, não ficando em destaque quaisquer outras informações, como dados sobre o autor, contexto acadêmico ou social. O texto pode ser consumido por qualquer público. A segunda parte da sinopse trabalha mais o conteúdo teórico da publicação, fazendo o uso de tópicos para enumerar os assuntos abordados pelo autor em seu texto, reforçando a tese de que o conteúdo do livro ajudará o leitor a desenvolver ou aprimorar sua produção textual. Apesar de se tratar de um texto mais informativo, as opções lexicais do autor continuam a desempenhar também a função persuasiva, fazendo com que a continuação da sinopse, mesmo com apresentação diferente da primeira parte, persista na tentativa de convencer o leitor a adquirir o livro – explícito nos trechos “uma visão moderna do que seja um texto”, “os procedimentos necessários para conseguir objetivos e efeitos diversos” e “maneira agradável e motivadora”, que visam dizer/indicar ao leitor o que ele será capaz de fazer depois de ler o livro. A soma das duas partes do texto constrói uma unidade informativa, entretanto, sempre buscando convencer o leitor a adquirir o livro, apresentando as qualidades que poderão ser agregadas à produção textual do leitor se ele comprar e 33
  • 34. fizer uso da publicação. O discurso é bastante direto e claro em seus objetivos, fazendo pouco uso de macroestruturas e de referências ou pistas de intertextualidade. 4.1.3 – Caso 3 A terceira e última sinopse a ser estudada como caso encontrado em livros foi retirada de uma versão da obra A Volta ao Mundo em 80 Dias, de Julio Verne, editada e traduzida por Edy Lima para a Coleção Grandes Aventuras (São Paulo: Abril, 1979). Texto retirado a orelha da capa da publicação: Tudo começa em Londres, no século passado: Fíleas Fogg, milionário inglês, aposta com alguns amigos que é capaz de dar a volta ao mundo em oitenta dias. Os amigos, incrédulos, aceitam a aposta. Assim, junto com seu criado, o milionário começa a longa viagem. Trens, navios, carruagens, e até elefantes, ele vai utilizando para cruzar os continentes. E, nessa louca correria, as aventuras e os imprevistos vão se sucedendo, pondo em perigo os planos de Fíleas Fogg. E para complicar um pouco mais sua já atribulada viagem, todo o caminho do milionário também é percorrido por um detetive que quer prendê- lo pelo roubo do Banco da Inglaterra. Lutas, correrias, confusões, gestos de cavalheirismo, tudo se mistura até o inesperado final desta sensacional viagem contra o tempo. O primeiro item a ser ressaltado nesta sinopse é o veículo ou mídia em que está publicada – uma versão para o público jovem de um clássico da literatura mundial. Esta informação indica o público-alvo da obra literária e também o tipo de linguagem que foi empregado na produção do texto – direta, simples e de fácil leitura por um estudante de qualquer nível. 34
  • 35. Alguns detalhes da trama de A Volta ao Mundo em 80 Dias foram propositalmente omitidos, como contexto histórico e social do ambiente em que o protagonista vive suas aventuras, por exemplo. A opção por um texto mais dinâmico e focado nas aventuras de Fíleas Fogg é feita para persuadir o jovem a ler, pois passa a ideia maior de ação e agilidade da trama, em vez de trabalhar aspectos formais ou a importância histórica da obra, considerada um clássico da literatura universal. A linha-base da trama é o ponto de partida da sinopse, dando ao leitor informações como o que motivou a viagem e como a viagem é feita pelo protagonista. O texto exalta fatos inusitados do percurso, como os tipos de transporte que foram utilizados pelo personagem para realizar sua jornada e algumas curiosidades da história, como o uso de um elefante como veículo e a entrada de um possível vilão para dar mais emoção à história. O texto termina criando no leitor a expectativa de saber como termina a longa viagem e algumas das atitudes e momentos de ação que o texto original reserva ao leitor. No lugar de macroestruturas para reduzir a informação, esta sinopse faz uso de algumas referências, que, apesar de parecerem obvias para um leitor mais informado, podem ajudar um estudante (relembrando que este é o público-alvo da publicação) a se posicionar geograficamente melhor, já que poucas pistas de período histórico são dadas – à exceção da primeira informação dada: “Tudo começou em Londres, no século passado”. Se o leitor não possui conhecimento de mundo e de geografia, informações que detalham o modo como a viagem de Fíleas Fogg é feita servem como referência para o leitor ter maior noção de distância e de locomoção ao redor do mundo. 35
  • 36. Retomando o aspecto persuasivo da sinopse em estudo, por se tratar de um texto voltado para atrair o jovem à leitura de uma obra literária, o autor foca seu texto na agilidade da trama e apresenta ao leitor em potencial a ideia de ação e aventura que a história escrita por Julio Verne possui. Trechos como “nessa correria louca” e “atribulada viagem” são construídos com vocabulário extremamente simples e aproximam o texto escrito no século XIX ao leitor do século XX (data da edição da publicação), afora dar um aspecto mais cinematográfico ao texto – outra característica que pode agradar e persuadir o público-alvo. Concluindo as análises das sinopses extraídas do material gráfico de livros, por se tratar de uma mídia impressa e de contato físico com o leitor em potencial, os textos possuem como característica básica – e fundamental – a presença de marcas informativas e persuasivas, já que visam dar dados simples sobre o conteúdo das obras (ou seus textos originais) e também convencer o leitor a comprar o produto. Macroestruturas para fins de sumarização não são frequentemente utilizadas, dando lugar a marcas de referência e intertextualidade – características que podem ser classificadas como de persuasão, já que trabalham a informação do conhecimento de mundo comum do leitor e de seu contexto social e histórico. O vocabulário possui variação simples, pois, por se tratar de um texto que deverá atingir diferentes classes sociais, as sinopses não podem ser construídas de forma rebuscada ou conter detalhes que fogem do universo de conhecimento comum do público. As escolhas lexicais variam também segundo a temática do texto original, adequando-se ao perfil do consumidor do livro, tratado aqui como um produto sendo comercializado. Mesmo com tal adequação, a primeira afirmação deste parágrafo continua a ter valor neste aspecto, já que independente do 36
  • 37. conteúdo, esta forma de mídia sempre fica exposta e em contato com qualquer tipo de audiência, seja em bibliotecas ou no comércio de varejo. A seguir, serão analisadas sinopses extraídas de capas de filmes e seriados em DVD e em Blu-ray, comercializados em lojas varejistas e videolocadoras. Foram escolhidos três produtos como originais, com materiais, públicos-alvo e conteúdos diferentes. 4.2 – Sinopses encontradas em capas de DVD e de Blu-ray 4.2.1 – Caso 1 A primeira sinopse retirada deste tipo de mídia a ser apresentada e analisada será a do box de DVDs do seriado televisivo The Mentalist – A Primeira Temporada Completa, distribuída no Brasil pela Warner Home Vídeo: Um mentalista é um mestre manipulador de pensamentos e de comportamentos. The Mentalist é Patrick Jane (Simon Baker em uma aclamada performance), uma celebridade paranormal cuja esposa e filho são cruelmente assassinados por um terrível serial killer conhecido como Red John. Devastado, Patrick admite que sua paranormalidade é falsa, renuncia sua vida pregressa e usa sua incrível capacidade de observação e análise – talentos que fazem-no parecer portador de poderes psíquicos – para trazer criminosos perante a Justiça. Frequentando cenas de crimes Califórnia afora, Patrick agora ajuda uma equipe de elite de detetives a solucionarem seus casos mais complexos. Mas não importa quantos bandidos ele coloque atrás das grades, Patrick nunca esquece sua principal tarefa, encontrar Red John. E fazê-lo pagar pelos crimes que cometeu. 37
  • 38. Esta sinopse apresenta o conteúdo de um seriado de televisão exibido na TV a cabo por meio de uma breve biografia de seu protagonista, sem dar mais detalhes sobre o conteúdo dos episódios ou dos outros personagens. A estrutura do texto é bastante linear e simples, com orações na ordem direta, com poucas exceções, sem uso de vocabulário rebuscado e com trechos bastante informativos, como mostra logo o início do texto. “Um mentalista é um mestre manipulador de pensamentos e comportamentos” já apresenta ao leitor da sinopse uma explicação do título do seriado e de como o protagonista da história também pode ser visto e considerado, tratado aqui como o original do texto. Em seguida, é contada a história do protagonista, o que explica muito do que poderá ser assistido durante os episódios que compõem o original. Algumas expressões podem ser encontradas no texto como forma de construir uma referência para que o leitor identifique e conheça o personagem principal da trama do seriado, um mentalista. Considerando o conhecimento comum de mundo do consumidor em potencial do produto, como conhecimento geográfico (saber onde fica a Califórnia) e jargões policiais tradicionais (“equipe de elite”, “serial killer” e “cenas de crimes”), a sinopse explora o suspense policial contido na trama e o drama familiar do personagem principal – o que é uma ferramenta de persuasão. O autor faz uso de conexões de intertextualidade com o intuito de levar o leitor a ser persuadido também pelas características peculiares do protagonista dando pistas sobre detalhes que exploram o lado público e célebre das funções de um “manipulador de mentes”, o mentalista do título. Expressões como “celebridade paranormal” e “poderes psíquicos” guardam significados que, apesar de comuns ao tipo de leitor do texto em questão, exploram o lado místico e despertam curiosidade. Expandindo a informação destas duas expressões citadas, todo um universo 38
  • 39. histórico de mistério pode ser encontrado e tal informação, todavia, fica resumida para dar espaço a outras informações consideradas pelo autor como mais relevantes. O processo de sumarização escolhido pelo autor para reduzir a informação original e dar ao leitor os dados necessários para que ele compreenda a sinopse de forma plena é a generalização ou substituição, método que consiste na troca de palavras ou sentenças mais extensas por outras mais simples ou apenas por uma palavra que generalize a informação em um grupo sintético que recupere na memória do leitor, em linhas gerais, o que o autor quer expressar no texto. Termos como “celebridade paranormal” e “manipulador de mentes” funcionam como exemplos dessa técnica e funcionam como gatilhos ou pistas para que o leitor facilmente recupere de sua memória um provável perfil do personagem descrito na sinopse e construa com maior facilidade o conteúdo do texto original. Estas expressões, ainda, além de substituir uma descrição mais elaborada e extensa, funcionam como termos genéricos (ou de generalização) para colocar o personagem descrito no lugar comum do leitor. Também é possível encontrar o recurso da reescrita, trabalhando as informações do original apenas com os dados essenciais para a compreensão do texto. 4.2.2 – Caso 2 Esta sinopse foi retirada da embalagem do disco de Blu-ray da minissérie de televisão A História de Ester, exibida pela Rede Record e lançada no home vídeo pela Flashstar Filmes e pela Record Entretenimento: A trajetória de uma jovem órfã judia, de grande fibra e beleza. Ao despertar o interesse do rei Assuero e tornar-se 39
  • 40. Rainha da Pérsia, Ester (Gabriela Durlo) influencia decisivamente o futuro de seu povo. Coragem, determinação e fé fizeram de Ester uma das grandes referências da cultura judaica e uma das mulheres mais notáveis de toda a História. Com direção geral de João Camargo e adaptação de Vivian de Oliveira, a trama de A História de Ester se passa por volta de 400 a.C., na antiga Pérsia, onde hoje é o Irã. Esta sinopse apresenta o conteúdo de uma obra de temática histórica e religiosa, e apresenta a vida de uma personagem importante para determinada cultura e religião. No entanto, tal faceta do original não é explorada, focando o texto no conhecimento comum do consumidor sobre personagens bíblicos e a protagonista, antes de dar detalhes mais precisos dos autores e desenvolvedores do produto. A sinopse é escrita de forma linear, direta e com vocabulário simples, o que facilita sua leitura por qualquer tipo de consumidor em potencial, considerando que o original é uma obra audiovisual popular que é comercializada no varejo e fica exposta para todos os públicos. O texto começa dando detalhes de quem é a protagonista da trama, explicitando de forma bastante clara as características físicas e étnicas da personagem. Estas características a destacam das demais, em especial “uma jovem órfã judia”, uma macroestrutura que sintetiza uma série de informações de interesse social, político e histórico. Em seguida, são dadas mais informações sobre o desenrolar da trama e já dá ao leitor o desfecho da história, indicando que a protagonista foi importante para a cultura judaica. No campo do léxico, a importância histórica da personagem Ester é ressaltada por meio de referências histórico-geográficas, utilizando mais adjetivos de qualificação e ênfase (“Rainha da Pérsia”, “influencia decisivamente”, “futuro”, “seu 40
  • 41. povo” e “cultura judaica”), que levam o leitor a posicionar-se geograficamente, culturalmente e também a dar a importância social e histórica da trama do original. Funcionando também como ferramentas de persuasão, tais referências atingem também uma parcela de consumidor que a obra audiovisual pretende atingir: os cristãos. Como o original trata de uma personagem bíblica considerada de grande importância para os que acreditam e seguem tal cultura, tais escolhas de referência fazem função maior que a de informação e apelam para a curiosidade e para o valor moral que o público possa dar à trama. Continuando o texto, dados sobre os autores da obra são fornecidos, o que pode servir tanto como referência de intertextualidade para quem já conhece o trabalho destes profissionais, como também como voz de autoridade para retificar e justificar a qualidade profissional de A História de Ester, estabelecendo novas referências para outros produtos a serem exibidos ou lançados futuramente. Também há mais informações de contexto histórico e geográfico, reforçando o que já foi dado e pode não ter ficado claro para determinada fatia de consumidor com menor conhecimento de mundo sobre o tema. Em adição, pode-se entender que o fornecimento mais completo e objetivo da localização histórico-geográfica vá além do reforço contextual e sirva como característica persuasiva, pois o Irã é um país que está em evidência no momento político mundial atual e isso serve como gerador de interesse e curiosidade cultural. Concluindo o caso de número dois, os métodos de sumarização escolhidos para este texto são a generalização e a construção. Generalização, pois as escolhas lexicais do autor, de modo geral, são todas referenciais, apresentando ao leitor termos de fácil assimilação e que guardam em si pistas para uma construção mais elaborada na memória, como pode ser observado, por exemplo, em “jovem órfã 41
  • 42. judia” e “referência da cultura judaica”, construindo o perfil da protagonista da minissérie. Construção, já que a conclusão da sinopse traz uma referência que o autor considera insuficiente para que o leitor faça a conexão de intertextualidade sozinho, e dá a ele uma nova referência, mais atual e conhecida, para explicar a informação anterior. 4.2.3 – Caso 3 A terceira e última sinopse selecionada para esta etapa de análises foi retirada da capa do disco de Blu-ray de uma animação japonesa chamada Akira, baseada em um famoso mangá e relançada no Brasil pela Focus Filmes: Kaneda é um líder da gangue de motoqueiros, cujo amigo Tetsuo é dominado por uma força sobrenatural e passa a ser objeto de um projeto experimental secreto chamado Akira. Para salvar seu amigo, Kaneda se envolve com grupos anarquistas e passa a lutar contra o governo em uma explosiva guerra civil. Em 1988, Akira foi a principal referência em animação japonesa, criado e dirigido por Katsuhiro Otomo, o longa revolucionou o conceito de animação em todo o mundo. Desconsiderando os erros de construção gramatical desta sinopse, o texto apresenta a linha básica da trama de Akira e também contextualiza o leitor da origem da história ao narrar a trajetória do protagonista, dar alguns detalhes do contexto social e histórico em que o roteiro da produção se desenrola e também apresentar o autor e o contexto temporal-geográfico em que a animação foi desenvolvida e exibida pela primeira vez no cinema. Lexicalmente, o perfil do personagem principal e, consequentemente, de seus amigos, é escrito por meio de simples descrições, que, quando analisadas como 42
  • 43. referências, revelam muito mais sobre Kaneda ao recuperar o conhecimento de mundo que cada leitor possuir. A expressão “gangue de motoqueiros” resgata uma série de características descritivas sobre comportamento, vestimentas e linguagem e dão ao leitor o suporte necessário para criar uma imagem do protagonista e dos outros personagens da trama. Ainda no campo das referências e da intertextualidade, o desconhecido ou místico é tratado de forma a fazer uso do conhecimento comum por meio da expressão “força sobrenatural” quando o autor explica um dos momentos de maior tensão da animação. Tal escolha lexical remete o leitor a diversas possibilidades de interpretação, sem relevar, entretanto, o tipo exato de “força” em questão. Na continuação do texto, é apresentado o clímax da trama de Akira, dando ao leitor mais informações sobre o percurso que Kaneda percorrerá em sua trajetória para salvar seu amigo. Dado o contexto, fica implícito que a trama se desenvolve usando pistas de intertextualidade como “grupos anarquistas” e “guerra civil”, excluindo-se os adjetivos, para recuperar da memória do leitor mais detalhes de o que seriam “anarquistas” dentro do conhecimento comum e o que seria uma “guerra civil” neste mesmo universo. A escolha das palavras também funciona como elemento de persuasão, já que despertar a curiosidade no leitor é característica básica do convencimento. A segunda parte da sinopse trata de apresentar o autor de Akira, Katsuhiro Otomo, em um momento em que, contrário aos dias presentes, as animações originárias do Japão não eram tão disseminadas e nem bem conceituadas internacionalmente. O nome do autor é uma referência de intertextualidade, pois os aficionados pelas animações do mesmo gênero conhecem o trabalho de Otomo e, além de servir como descrição da temática da obra, também opera como elemento 43
  • 44. de persuasão para atrair os fãs do autor. Ao dar ao leitor o ano, 1988, o texto posiciona o momento do lançamento da animação e destaca a influência que Akira teve na época de seu lançamento. Este nível de detalhamento oferece a possibilidade de informar ao possível comprador época e circunstância em que o longa-metragem foi desenvolvido e também apela ao leitor que já havia visto o filme naquele momento a revê-lo no relançamento na forma de disco de Blu-ray – funções informativas e persuasivas, novamente. Concluindo o terceiro caso, a sumarização das informações do original de Akira foi feita utilizando a generalização das características da trama por meio de expressões simples que, no entanto, recuperam na memória do leitor uma série de eventos de conhecimento comum, facilitando a leitura e a construção de uma linha geral para o roteiro da animação. A seleção e o apagamento também foram utilizados nesta sinopse, pois nenhum detalhe revelador da trama é fornecido, excluindo-se, portanto, tais informações e deixando ao leitor somente o necessário para elaborar uma vaga idéia, com base no texto construído por meio da generalização. Considerando as características encontradas nas três sinopses analisadas, pode-se estabelecer um padrão de balanceamento de informação e persuasão, já que a mídia em que os textos são veiculados é bastante semelhante ao das sinopses de material gráfico de livros. As artes das embalagens de DVDs e discos de Blu-ray também foram desenhadas para circularem no comércio varejista e nas vídeolocadoras, ou seja, em contato direto com diversos tipos de público, com variados níveis de conhecimento comum e de mundo. Logo, estão justificadas as escolhas lexicais, de construção gramatical e de referenciação, tanto por meio da generalização ou substituição e do apagamento para sumarizar o original, quanto 44
  • 45. por meio da intertextualidade, recuperando o que o possível leitor já saiba sobre os temas abordados. Como última parte deste subitem, serão realizadas as análises de sinopses extraídas de jornais, revistas e páginas de internet, com o objetivo de apresentar as possíveis variações que as mídias em que tais textos são publicados e veiculados podem provocar. 4.3 – Sinopses encontradas em jornais, revistas e páginas de internet Este subitem é dedicado à análise de sinopses retiradas de veículos de comunicação em larga escala, como jornais, revistas e portais de internet que tratam de assuntos relativos ao entretenimento, como livros, filmes, teatro e música. 4.3.1 – Caso 1 O primeiro texto desta natureza a ser analisado é uma sinopse encontrada no jornal O Estado de S. Paulo do dia 19 de abril de 2010, na seção Caderno 2, página D7: Em 1954, o detetive Teddy Daniels viaja até um hospital psiquiátrico – localizado em uma ilha – de onde uma perigosa assassina fugiu. Ao longo de sua investigação, porém, ele percebe que os médicos podem ser os verdadeiros vilões – e que ele pode ser uma vítima. E tem de tentar escapar (ou descobrir a verdade). A sinopse acima tem como original o filme Ilha do Medo, de Martin Scorsese, e foi produzida à época do lançamento da produção nos cinemas nacionais. Bastante curto e objetivo, este texto sintetiza a ideia principal do filme e dá ao leitor 45
  • 46. algumas pistas da trama central da obra, sem mais detalhes que ajudem a contextualizar o conteúdo. Antes da sinopse, é apresentada uma ficha do filme, com nome original, origem, minutagem, gênero, direção e elenco. Tais informações preparam o leitor para o texto que vem a seguir e também já eliminam possíveis dados que supostamente deveriam estar contidos na sinopse – o que abre mais espaço para detalhes da trama no texto. Por se tratar de um veículo de comunicação que atinge diversas camadas da população, com grande variação no conceito de conhecimento de mundo, a construção da sinopse é feita de forma direta e objetiva, sem haver grandes mudanças na ordem das frases. As escolhas lexicais são simples e claras para descrever cenários e personagens, permitindo ao leitor organizar e acessar seus conhecimentos já existentes sobre a temática do filme. Em termos de referências, o início do texto, “Em 1954”, já dá ao leitor o ponto de partida para a construção da imagem de Ilha do Medo, pois tudo o que vier a partir desta informação deverá ser adequado ao momento temporal a que o autor se refere. Por consequência, a denominação do protagonista como “detetive” já recupera na memória do leitor a imagem descritiva de um profissional deste tipo dentro do período histórico previamente determinado. Depois, é dado o local em que a ação se passa e uma descrição categórica do motivo desta ação – um hospital psiquiátrico em uma ilha e uma assassina perigosa. Em seguida, é fornecida da informação crucial para o momento de transformação da história, revelando os verdadeiros vilões e o que isso causa ao protagonista. Ao fornecer ao leitor a informação de que os médicos são os vilões, ou esta possibilidade, há uma quebra de paradigma, pois o significado da palavra “médico” 46
  • 47. implícito na memória do leitor vem do conceito de cura ou salvação. Ao dar a informação oposta e qualificar tal profissional como provável anti-herói, o autor do texto se aproveita dessa ruptura de expectativa para criar uma ferramenta de persuasão, uma marca para despertar a curiosidade do leitor. A parte final da sinopse também trabalha outra marca de persuasão ao apresentar duas possibilidades para o desfecho de Ilha do Medo – o protagonista tentar escapar ou descobrir a verdade. Tal conclusão se aproveita da descrição de um cenário de um hospital psiquiátrico localizado em uma ilha e de os médicos serem os possíveis vilões para, sem maiores detalhes, dar ao leitor a sensação de suspense, o que revela mais uma faceta da trama e funciona como estimulador de curiosidade por meio do conhecimento prévio do leitor e como estas referências são trabalhadas em conjunto dentro da sinopse. É importante ressaltar que o tempo da narrativa escolhido para a elaboração dessa sinopse é zero, logo, não há informação alguma sobre progressão temporal pelo protagonista ou pela trama em momento algum. O único dado temporal fornecido é o ano em que se passa a história e isso é parte da construção do cenário, sem influenciar na progressão temporal da narração. A principal estratégia de sumarização utilizada para a produção do texto do caso dois é o apagamento, pois não há detalhamento algum com relação à trama e suas variações ao longo do filme, à exceção de informações sobre o protagonista e o mote que dá o estarte à história. Houve nesta sinopse a reconstrução da estrutura narrativa para passar ao leitor o conflito principal de Ilha do Medo e persuadi-lo a assistir ao filme nos cinemas, com base na curiosidade que essas informações podem gerar. 47
  • 48. 4.3.2 – Caso 2 O texto a seguir foi retirado da revista Coleção Grandes Guerras, Volume 5, especial promovido pela revista Aventuras na História, edição número 5, de abril de 2005, e tem como original o livro As Cruzadas Vistas Pelos Árabes, de Amin Maalouf (São Paulo: Brasiliense, 2007): A história ocidental costuma tratar as Cruzadas como um evento inigualável para o cristianismo, que fez rivais se unirem para combater o mal definitivo: os conquistadores muçulmanos de Jerusalém. O livro oferece uma nova e interessantíssima abordagem à história romantizada dos nobres cavaleiros cristãos e os retrata como autênticos invasores, capazes de atos sanguinários em nome da cruz. O livro também expõe as diferenças culturais e o choque entre Ocidente e Oriente. Produzida para uma publicação voltada para aficionados à História, em geral, e em uma edição temática sobre o assunto, a sinopse acima deixa de lado detalhes de contextualização histórica e já se direciona para a apresentação de informações que diferenciem o seu original de outras obras que abordam a mesma passagem histórica – as Cruzadas. Analisando-se a construção do texto em termos gramaticais e lexicais, não há nada de incomum, pois a sinopse trabalha a informação de modo simples e direto por meio de palavras que fazem parte do vocabulário comum do tipo de leitor dessa publicação, sem jargões ou afins. Partindo para a análise das referências, esta sinopse não apresenta grandes núcleos de informação sumarizada. O assunto principal é tratado de forma aberta e trabalha com o pressuposto de que o leitor já é conhecedor, ao menos em nível básico, de história geral e do tema do livro, ficando a cargo do texto lidar com as 48
  • 49. informações novas para tal público – a visão oriental das Cruzadas. No entanto, o texto não dá margem para o leitor sair da visão já consagrada das Cruzadas ao dar, logo no início, um tratamento genérico de como certa parte da população encara os eventos que o original tratará. Na verdade, trata-se da construção da ideia de oposição, o que é feito retomando a informação comum já existente, de forma a reforçar tal conceito e apresentando uma nova versão que o livro objeto da sinopse dará ao leitor em potencial. Os opostos, neste caso, são as sociedades Ocidental e Oriental, como ressalta o final do texto, e como as duas culturas, bastante diferentes e conflitantes, abortam o mesmo evento histórico. O grande diferencial é que o livro contém a visão oriental das Cruzadas e se destina ao leitor ocidental. As diferenças culturais são bastante enaltecidas por meio de escolhas lexicais como “evento inigualável” e “mal definitivo” quando as Cruzadas são descritas pela visão da cultura ocidental. Em seguida, o autor da sinopse apresenta dois adjetivos para caracterizar as informações que ele apresenta na continuação de seu texto e que servem para despertar a curiosidade ou causar surpresa no leitor, que é ocidental e, em sua maioria, cristão: “novo” e “interessantíssimo”. Estes adjetivos servem para ressaltar o fato de a cultura ocidental, representada pelo leitor em potencial do livro e que lê a revista, pouco conhecer sobre a versão dos eventos históricos por outra cultura, a do povo que historicamente foi rival do ocidental nas Cruzadas. Deste ponto em diante da sinopse, o autor muda a utilização dos adjetivos para se adequarem à visão oriental, relatando os mesmos eventos do início do texto à luz de outra cultura – os cruzados são “invasores” e “capazes de atos violentos em nome da cruz”. Tais colocações já determinam para o leitor o tipo de abordagem que ele encontrará no livro, caso decida comprá-lo e consumi-lo, o que poderão ser tratadas como relações de intertextualidade. 49
  • 50. O texto dá ao leitor duas características que ele já conhece sobre as diferenças culturais entre Ocidente e Oriente, e que são de extrema importância para o impacto do livro e da motivação do interesse do leitor: o fato de a obra literária apresentar de forma aberta e explícita as diferenças culturais e o choque entre as duas sociedades. Essas duas marcas de referência ao momento conflitante político e social que o mundo atravessa e que podem ser acompanhados na mídia e que servem novamente como ferramenta para persuadir o leitor a comprar o livro. Concluindo, esta sinopse foi produzida utilizando como estratégias de sumarização o apagamento e a generalização. O apagamento é identificado por meio da falta de detalhes históricos, proposital, para que o leitor recupere todos os fatos implícitos utilizando poucas pistas referenciais. Já a generalização está presente nas escolhas lexicais e estruturas gramaticais do autor, que dá ao leitor o essencial para o entendimento do conteúdo do original e trabalha os dados principais do original de forma que o leitor seja convencido do ponto de vista do autor, entenda a linha-base do original e seja persuadido a comprar o livro. 4.3.3 – Caso 3 A próxima sinopse a ser analisada foi retirada do acervo digital da revista Veja (http://veja.abril.com.br/acervodigital - acessado em 14 de fevereiro de 2011), edição número 1, de setembro de 1968, seção Teatro: O Burguês Fidalgo. Comédia de Molière traduzida por Stanislaw Ponte Preta, que usa expressões como ‘Vossa Excelência está me gozando’ e ‘também estou nessa, ta?’, para dar atualidade ao texto. Um burguês novo-rico quer a todo custo igualar-se à nobreza, mas acaba ridicularizado e explorado por ela. Direção de Ademar Guerra. 50
  • 51. Feitas as adequações ao Português moderno, esta sinopse é produzida de forma bastante simples e objetiva, mantendo a ordem direta dos elementos das orações. Em termos lexicais, o vocabulário escolhido pelo autor é o usual, beirando o coloquial, pois o veículo de comunicação em que o texto está reproduzido, uma revista de grande circulação nacional, exige que qualquer tipo de leitor tenha fácil acesso às informações por ela transmitidas. Apesar de ter sido extraída da versão digital on-line, esta sinopse foi originalmente publicada e circulou pelas bancas à época de seu lançamento (1969). A primeira informação a ser dada no texto é o título da peça de teatro e os autores das versões original e traduzida no Brasil. Tais dados são fundamentais para que o leitor, antes mesmo de saber de que se trata a trama da obra, saiba que é escrita e traduzida por grandes nomes da literatura e da dramaturgia – Molière e Ponte Preta. Pode-se afirmar que essas informações são referências que darão ao público a que se destina a sinopse os recursos para se situarem na questão da qualidade da apresentação teatral e dos textos da peça. Isso, considerando o consumidor-alvo da revista e da natureza do espetáculo. Em seguida, o autor da sinopse ressalta duas características do texto adaptado por Ponte Preta, duas expressões idiomáticas que servem para atualizar o material original clássico de Molière e também serve como atrativo para o público. Neste ponto, tal informação passa a ser também uma ferramenta de persuasão, pois quem conhece o texto escrito pelo dramaturgo francês saberá que encontrará na peça atual novidades com relação à obra escrita em 1670. Encontramos uma pista de referência quando a sinopse fornece detalhes para comparação e o leitor faz uso 51
  • 52. de seu conhecimento enciclopédico e de mundo – o que exige nível mais elevado de cultura por parte do público. Na sequência da sinopse, o autor fornece maiores detalhes sobre a trama de O Burguês Fidalgo. Apesar das poucas informações dadas, o leitor tem material suficiente para construir em sua memória um roteiro-base para a peça teatral. Descrições como “burguês novo-rico” e “nobreza” dão ao leitor as informações necessárias para que ele crie com base em seu conhecimento histórico e cultural as feições destes tipos de membros da sociedade de décadas passadas e criem o cenário e o contexto para entender melhor a trama da peça. A complicação do roteiro também é informada ao leitor de forma direta quando o autor da sinopse informa que o protagonista tenta “igualar-se” aos nobres e acaba sendo “explorado” e “ridicularizado” por eles. Com estes detalhes, o leitor consegue construir, com base nos significados das palavras, nas imagens que tais macroestruturas fornecem de situações similares já conhecidas, e na contextualização delas o desenrolar provável do espetáculo. A última informação dada é o nome do diretor, o que serve como referência para o público que já conhece o cenário teatral nacional e teve contato com o trabalho dele. São informações adicionais que podem servir de marcas de intertextualidade para o leitor que busca referências para assistir à peça, assim servindo o dado como ferramenta também de persuasão. Para sumarizar o original deste texto, o autor se valeu da seleção por meio da cópia, ao retomar um trecho do texto da peça, e do apagamento, ao dar detalhes mínimos para que o leitor construa sua base de referências. Na verdade, as referências dadas para que o leitor entenda o original ficam restritas aos nomes do autor e do tradutor, dados no começo do texto, e do diretor da peça, fornecido no 52
  • 53. final dele. As informações restantes da sinopse são apresentadas em linhas gerais, como “burguês novo-rico”, por exemplo, que facilitam ao leitor a construção da trama e do estilo cômico da obra original. 4.3.4 – Caso 4 Para encerrar o subitem e o capítulo, será analisada uma sinopse retirada do portal on-line G1 (www.g1.com), da seção Entretenimento, sobre o filme O Vidente, de Lee Tamahori, que foi exibido no programa Tela Quente da Rede Globo de Televisão (http://redeglobo.globo.com/novidades/filmes/noticia/2011/02/nicolas-cage- e-o-vidente-na-tela-quente-desta-segunda-feira-dia-14.html - acessado no dia 14 de fevereiro de 2011): Cris Johnson (Nicolas Cage) tem que conviver com um dom que, ao mesmo tempo em que o torna um homem especial, acaba se transformando em um problema: a capacidade de prever o futuro lhe deixa menos vulnerável aos imprevistos e extremamente eficaz em situações de combate ao crime. Essa é a trama de "O Vidente" (2007), o filme da Tela Quente desta segunda-feira, dia 14, que vai ao ar às 22h45, logo após o Big Brother Brasil, na Rede Globo. Depois de ter sofrido desde criança com testes, exames médicos e o interesse governamental em sua habilidade, Cris decidiu viver como mágico em Las Vegas praticando pequenos golpes para sobreviver. Ao mesmo tempo, ele passou a ter visões do futuro de uma outra pessoa: Liz (Jessica Biel), uma jovem mulher que ele nunca conheceu e a quem está determinado a encontrar. No entanto, as coisas mudam quando um grupo terrorista ameaça detonar um artefato nuclear em Los Angeles, e o governo, por meio da agente do FBI Callie Ferris (Julianne 53
  • 54. Moore), volta a procurar Cris para usar seus dotes e evitar uma tragédia. Produzida para circular pelas páginas de internet tanto do G1, canal de notícias e variedades, quanto da própria Rede Globo, esta sinopse realiza tanto função informativa quanto persuasiva. Ela atinge ambos objetivos por meio de construções simples e que utilizam léxico de uso comum, como em “um homem especial”, “capacidade de prever o futuro”, “combate ao crime”, “problema” e “eficaz”, por exemplo, que são de fácil compreensão e não exigem grande conhecimento prévio de mundo para seu pleno entendimento. A divisão por parágrafos e a extensão maior que a habitual para uma sinopse de filme para ser publicada na internet se dão por motivos puramente estéticos (uso de imagens de destaque e chamadas publicitárias inseridas na diagramação) e para cumprir o padrão do portal. O primeiro parágrafo já oferece ao leitor as principais características descritivas do protagonista do filme O Vidente, sem fornecer nada ainda sobre o desenvolvimento da trama. Também informa o leitor de detalhes da programação da emissora de televisão em que a produção será exibida, inclusive o programa que vai ao ar antes do filme. As informações sobre o filme são transmitidas de modo objetivo e com traços que descrevem o personagem principal como um herói de qualidades populares bastante claras. A escolha das palavras para escrever o primeiro momento da sinopse facilita ao leitor a recuperação de estereótipos de herói existentes em sua memória para o personagem de destaque da trama, a começar pela segunda informação dada: logo após o nome do personagem principal do filme, 54
  • 55. entre parênteses, é fornecido o nome do ator que o interpreta, Nicolas Cage, famoso por dar vida a personagens de filmes de ação e de identificação popular. Em seguida, seleção lexical para descrever o personagem de Cage permite criar o conceito de sobre-humano e de oposição e conflito. Construções como “convive com um dom” e “um homem especial” contrastam com “problema” e “vulnerável” e constroem o paradigma tradicional dos roteiros de filmes de ação, funcionando tanto como pequenos núcleos de informação quanto como ferramentas para despertar a curiosidade do leitor. A expressão “prever o futuro”, mesmo sem dar mais detalhes sobre como tal “previsão” é feita para prender a atenção do leitor. A mesma clareza e objetividade presentes nas primeiras linhas da sinopse são usadas para passar ao leitor as informações quem vêm na sequência, sobre o suporte ou veículo de comunicação em que o original será veiculado. Além das informações básicas sobre o posicionamento na grade de programação da emissora de TV que exibirá O Vidente, apresentar ao leitor como uma referência de posicionamento temporal um programa de maior notoriedade junto ao público funciona como marca de intertextualidade, pois dá ao leitor uma referência de horário mais precisa, no caso de ele ter o hábito de assistir ao programa em questão antes da exibição do filme. Novamente, a informação também tem função persuasiva, pois convida o consumidor do reality show a ver o filme após o horário do programa. O segundo parágrafo começa a dar mais pistas sobre a trama de O Vidente, fornecendo informações sobre a vida do personagem principal, reforçando o mistério e a curiosidade sobre o desenvolvimento do “dom” dele. Menos informativos e mais persuasivos, tais detalhes da trama não revelam o clímax ou o desfecho do filme. Isso no começo do parágrafo. Pouco mais adiante, são dadas mais informações 55
  • 56. novas sobre a atual situação do protagonista e há a apresentação de mais um personagem, vivido pela famosa atriz norte-americana Jessica Biel – objeto de interesse romântico do herói de Nicolas Cage. Duas características que esse trecho da sinopse traz são novamente relacionadas à informação e à persuasão. A nova personagem é descrita como um dos pontos de mudança do personagem de Cage em sua trajetória, pois está relacionada ao “dom” dele e também fica a descrição expressa dela como uma “jovem mulher”. A marca de intertextualidade está no momento em que a atriz que interpreta a personagem é apresentada, novamente entre parênteses para dar ênfase ao nome, já que a atriz é famosa e tem sua imagem já difundida no Brasil – o que completa a descrição visual da personagem por meio das características físicas de sua intérprete. O terceiro e último parágrafo insere mais uma personagem e completa mais uma etapa para a descrição da trama de O Vidente, que pode ser qualificada como o ponto de mudança da trajetória do protagonista. Uma agente do governo que recruta o protagonista para usar seu “dom” em favor de uma boa causa, mas a um custo penoso para ele. Funcionando como conexão de intertextualidade para recuperar o arquétipo do herói, as referências de descrição do personagem de Nicolas Cage dadas no primeiro e no segundo parágrafos são reforçadas novamente. As escolhas lexicais para dar as descrições de cenários e de tempo e espaço, como em “Las Vegas”, “Los Angeles”, “quando criança” e “visões do futuro”, são vagas e todas elas funcionam como reforço para o grande atrativo do filme – os poderes especiais do protagonista. Outra marca de intertextualidade também surge da mesma forma que as outras duas: o nome da famosa atriz Julianne Moore é dado entre parênteses. Recuperando a figura física e os personagens anteriores da atriz, o leitor da sinopse consegue facilmente criar um perfil para a personagem. 56
  • 57. Para prender a atenção do leitor no final do texto, uma referência recupera imagens sensacionalistas e projeta um possível desfecho para a trama do filme. A palavra “tragédia” traz uma série de significados implícitos e ativa na memória do leitor uma série de imagens de situações extremas e de perigo, já presentes em seu repertório ou conhecimento de mundo. Estes detalhes recuperam cognitivamente informações e possuem dupla funcionalidade neste contexto, dando ao público as imagens de tragédia para completarem a descrição do filme e também despertam a curiosidade para descobrir qual o tipo de tragédia de que o filme trata. Esta última sinopse, desenvolvida para um portal popular de internet, pode ser considerada, com base nas características de comparação apresentadas ao longo deste trabalho, a mais popular de todas e a que possui mais marcas de referências intertextuais entre as estudadas até aqui. Isso é efeito das estratégias de sumarização aqui utilizadas: a seleção e a construção. A seleção se dá por meio do apagamento das informações mais específicas do filme e a apresentação de dados genéricos, copiados do original apenas para dar a base para a leitura e persuasão do público. A construção se dá no momento em que o autor da sinopse recupera informações cruciais do original e as reescreve substituindo por pistas, como as cidades em que acontece a ação do filme e o nome dos atores presentes no elenco principal, de intertextualidade para criar o estereótipo de herói e a trama de ação, conforme já mencionado. Em síntese, as sinopses apresentadas neste capítulo funcionam como exemplo dos processos e estratégias de sumarização encontrados em diversos tipos de suporte e de mídia atualmente. Ficou claro por meio das análises que não há padronização a ser classificada para determinado veículo de comunicação e que há enorme variedade de apresentação de sinopses para cada suporte, independente de 57
  • 58. qual seja o seu original e seu público-alvo. Entretanto, as principais estratégias de redução de informação puderam sem encontradas e identificadas em cada análise. Também foi encontrada forte presença da persuasão nos textos, fruto da influência da publicidade nos veículos de comunicação, dada a quantidade de produtos, de toda a espécie, nos respectivos mercados dos originais. 58
  • 59. CONSIDERAÇÕES FINAIS Um texto de propaganda ou de informação? A sinopse pode ser entendida como uma forma híbrida de construção de texto. Trata-se uma produção cujo objetivo não se resume apenas a sumarizar a informação de um original, mas agrega ao seu conteúdo uma série de escolhas lexicais feitas para atrair o leitor, capturar sua atenção para a informação que está sendo reduzida. Diferentemente do resumo e suas variações, todas previamente padronizadas e restritas ao ato de informar, a sinopse adiciona à informação características que variam de acordo com o suporte em que é veiculada e o seu original, podendo ser interpretada como um texto jornalístico e até de propaganda, dado o teor persuasivo de sua linguagem. Ao aprender o funcionamento do processo cognitivo de criação de um texto, descobre-se muito sobre o que a leitura posterior poderá recuperar. São formas diferentes de acessar a mesma informação. Ao escrever uma sinopse, o autor leva em conta não apenas sua fonte de informação original, mas a forma como ela deverá chegar e ser interpretada pelo futuro leitor. Assim, não se trata apenas do ato de informar. A seleção do léxico na sinopse abre um novo leque de acessibilidade para o leitor, recuperando informações já existentes em sua memória de longo prazo ou de conhecimento de mundo tido como comum e dando nova interpretação ou agregando novos dados a ela. É isso o que permite ser a sinopse um texto reduzido e de fácil leitura. Entretanto, a sinopse não faz uso de tais estratégias apenas com o intuito de informar. O suporte em que este tipo de texto é veiculado influencia diretamente nas escolhas linguísticas com que a sinopse será construída. Pode parecer óbvia tal informação, mas não se trata apenas de se adequar ao público-alvo. Uma sinopse 59
  • 60. vai além do mero resumo e almeja capturar a atenção do leitor para o seu objetivo, um processo de convencimento velado, implícito nas conexões de referência e de intertextualidade. Se o suporte for um periódico diário destinado a um público determinado, a linguagem, claro, se adapta a tal mídia. No entanto, em adição a tal adequação, o texto literalmente vende seu conteúdo por meio de pistas de persuasão que o autor deixa quando seleciona seus núcleos de informação e estabelece as ligações de conhecimento comum que quer explorar e remeter para o leitor acessar durante seu processo cognitivo. Durante os estudos de casos, foi possível identificar uma série de abordagens diferentes para cada veículo de comunicação de onde as sinopses foram extraídas, apesar de as estratégias de sumarização estarem presentes de forma similar em todos os casos. Os textos retirados de publicações impressas e de cunho jornalístico apresentaram menos características persuasivas e mais qualidade informativas, com sinopses muito mais curtas, construídas por meio de estratégias de sumarização como o apagamento ou a generalização. A única exceção a ser feita é o caso de uma sinopse retirada de um anúncio publicitário em uma revista, mesmo tipo de suporte dos textos anteriores, já que a mídia em que esta única exceção se aplica já pressupõe a necessidade de recursos de persuasão em sua composição. As sinopses retiradas de materiais gráficos, embalagens e afins, de livros, filmes e seriados de TV à venda nas lojas do país possuem características próprias do texto de propaganda mais acentuadas. Além de dar ao leitor uma ideia bastante simples do conteúdo do produto, a sinopse fornece uma série de dados adicionais sobre o autor, os intérpretes de personagens e outros fatos relacionados ao original que possam ser relevantes para cativar o leitor. E não apenas para isso, sem dúvida, já que arquétipos de personagens e de tramas são recuperados da memória 60