Conferência SC 24 | Data Analytics e IA: o futuro do e-commerce?
Correio Popular
1. Você que nos lê, hoje tomou
café com leite e comeu pão
ou fruta. Se ainda não se ali-
mentou, está vestindo roupa
de algodão ou usou veículo
abastecido com etanol. Co-
mo em todos os dias, você es-
tá em contato com algum
produto elaborado com ma-
térias-primas que vêm das la-
vouras. Pela presença cons-
tante e a relevância que tem,
o agronegócio é o setor que
alimenta a população e sus-
tenta a economia nacional.
O alicerce desse sólido
segmento está nas institui-
ções de pesquisa, onde são
desenvolvidas tecnologias.
Há mais de um século os ins-
titutos paulistas têm atuado
ativamente em prol do agro
paulista e brasileiro. Há difi-
culdades sim, como em to-
das as instituições brasilei-
ras que amargam em uma
crise sem precedentes. Po-
rém, nada tem a ver com
“inanição”, como o profes-
sor Ciro Rosolem, autor do
artigo intitulado “Competiti-
vidade e pesquisa”, publica-
do neste jornal, em
12/09/2018, se refere ao Ins-
tituto Agronômico (IAC), Ins-
tituto Biológico (IB), Institu-
to de Economia Agrícola
(IEA) e Instituto de Zootec-
nia (IZ).
O termo “ativo” consta en-
tre os antônimos para a pala-
vra “inanição”. Como cientis-
tas que somos, vamos retra-
tar com números a real situa-
ção. Em 2018, IAC, IB, IZ e
Instituto de Tecnologia de
Alimentos (ITAL) foram con-
templados com R$ 49,765 mi-
lhões da Fundação de Ampa-
ro à Pesquisa do Estado de
São Paulo (Fapesp) por meio
de chamada exclusiva para
os 20 institutos de pesquisa
paulista. A Fapesp disponibi-
lizou R$ 120 milhões para
atender as propostas. Cerca
de 40% desse recurso serão
empregados no IAC, IB, IZ e
ITAL, que enviaram um pla-
no de desenvolvimento ava-
liado com todo o rigor da
Fundação.
No biênio, 2016/2017, o
orçamento para os institutos
mencionados acima, soma-
dos ao do Instituto de Pesca
(IP) e ao dos Polos Regio-
nais, todos coordenados pe-
la Agência Paulista de Tecno-
logia dos Agronegócios (AP-
TA), foi de R$ 596 milhões. O
impacto econômico de parte
das tecnologias desenvolvi-
das no período gerou nas ca-
deias de produção que as
adotaram R$ 10,9 bilhões. Is-
so significa mais renda e em-
prego graças às tecnologias
desses institutos que estão
em pleno “vigor”, outro antô-
nimo de “inanição”.
Tudo isso, apesar das difi-
culdades e restrições sim,
porque elas existem, mas
não são impedimentos para
manter a excelência científi-
ca e a credibilidade junto
aos setores de produção. Em
2017, 23,4% do orçamento
desses institutos vieram de
recursos privados. Este índi-
ce é equiparável às universi-
dades americanas e muito
superior ao alcançado pelas
brasileiras e pela Embrapa.
Ninguém investe naquilo
que está prestes a acabar.
Os institutos da APTA reú-
nem 220 normas e procedi-
mentos acreditados pelo IN-
METRO e credenciados pelo
MAPA. São realizadas mais
de 350 mil análises laborato-
riais por ano, que aliadas à
venda de insumos, como as
mais de um milhão de doses
de sêmen de touros melhora-
dos geneticamente pelo IZ,
as 450 toneladas de semen-
tes básicas do IAC e as 60
mil borbulhas de citros, fo-
ram responsáveis pela arre-
cadação de R$ 27,502 mi-
lhões no biênio 2016/2017,
valor 38% superior a
2014/2015.
Soma-se a esses serviços,
a produção de imunobiológi-
cos pelo IB, usados no diag-
nóstico de brucelose e tuber-
culose, que deve bater recor-
de de produção neste ano,
distribuindo para todo o se-
tor 3,8 milhões de doses. O
IB trabalha para triplicar sua
produção, já que é a única
instituição brasileira autori-
zada a produzi-los. Sem eles
não é permitida compra, ven-
da, trânsito e exportação de
bovinos. Acrescenta-se a as-
sessoria do IB na implanta-
ção e manutenção de biofá-
bricas, empresas que produ-
zem organismos usados no
controle biológico de pragas
e doenças. Ao todo, 14 biofá-
bricas assinaram contrato
c o m o I n s t i t u t o e m
2016/2017.
Isso sem contar as infor-
mações estatísticas levanta-
das pelo IEA, que coleta pre-
ços médios nos 645 municí-
pios do Estado, caso único
no País. Com essa informa-
ção, a Secretaria da Fazenda
do Estado de São Paulo ob-
tém anualmente mais de R$
2 bilhões em Imposto de
Transmissão Causa Mortis e
Doação e o governo federal
arrecada montante similar
em Imposto sobre a Proprie-
dade Territorial Rural (ITR).
Com relação à formação
de recursos humanos, esses
institutos também trazem
grande contribuição com
seus cursos de pós-gradua-
ção. No biênio 2016/2017,
108 mestres foram formados
na Pós-Graduação do IAC,
IB, ITAL, IP e IZ e outros 42
doutores se formaram no
IAC e IB. Neste ano, são 218
alunos matriculados, oriun-
dos de diversos estados e até
mesmo do Exterior.
Não se trata de negar a
existência de necessidades
de aporte material e huma-
no. Todos nós reiteramos a
expectativa de ampliar nos-
sas equipes e modernizar ca-
da vez mais as estruturas. En-
tretanto, referir-se a esses
institutos como se estives-
sem “deixados a morrer de
inanição”, quando os fatos
comprovam o contrário,
constitui falta de responsabi-
lidade – por ofender a ima-
gem dessas instituições que
circulam nos setores do agro
e se comprometem com os
diversos elos das cadeias de
produção. Carrega ainda um
desrespeito com esses institu-
tos responsáveis pelo supor-
te tecnológico que faz da
agricultura paulista a mais
eficiente do Brasil. Reconhe-
cemos a história e atuação
do professor Rolosem e por
isso deixamos o convite para
que visite as unidades para
ver de perto que por aqui vi-
bra a paixão pela ciência e
são fartos os frutos de insti-
tuições que não perdem o vi-
gor. Estendemos o convite a
outros profissionais, que mui-
tas vezes fazem críticas por
meio da imprensa, mas que
pouco conhecem de fato ou
há muito não visitam e veem
de perto nosso trabalho.
Nossas prioridades são defi-
nidas de maneira responsi-
va, de acordo com a tragé-
dia do dia. Assim como nos
“Stories” do Instagram, elas
logo saem de cena e da pau-
ta do dia, sendo substituídas
por algo mais recente — não
necessariamente mais im-
portante. O massacre do Ca-
randiru, em 1992, gerou um
clamor geral sobre a insus-
tentabilidade de nosso siste-
ma carcerário. Vinte e cinco
anos depois, já havíamos
até esquecido quando novos
massacres pipocaram em
nossos presídios no ano pas-
sado, com ainda mais mor-
tos. A chacina da Candelá-
ria, em 1993, gerou um cla-
mor geral sobre nossas crian-
ças em situação de vulnera-
bilidade. Novamente, após
vinte e cinco anos, estudo
realizado pelas Organiza-
ções não Governamentais
Observatório das Favelas e
Open Society Foundations,
mostrou que a participação
de crianças no tráfico do RJ
dobrou nos últimos cinco
anos.
Faço essa breve preleção,
apenas para contextualizar e
justificar o meu ceticismo
com toda a celeuma suscita-
da pelo incêndio do Museu
Nacional do Rio de Janeiro
com relação ao nosso patri-
mônio histórico e cultural.
Passado o clamor inicial, ou-
tros temas tomarão o palco
e a nossa história voltará a
ser desinteressante para a
maioria de nossa popula-
ção.
O cuidado por nosso pa-
trimônio tem de se iniciar
no berço, nas escolas de edu-
cação infantil, na conscienti-
zação de nossas crianças so-
bre a importância de nossa
história, de nossa cultura,
de todas as nossas crenças e
valores. As crianças são o
nosso amanhã, as sementes
que germinarão e cujos fru-
tos alimentarão nosso plane-
ta. Assim como a diversida-
de de espécies é indispensá-
vel para a sobrevivência das
plantas, a diversidade cultu-
ral é indispensável para a
preservação de nossa heran-
ça.
Tragédias históricas co-
mo o Nazismo, o Estado Islâ-
mico (ISIS), o Ku Klux Klan,
as Cruzadas, o Nakba, den-
tre outras que já foram ou
ainda estão acontecendo, de-
correm da necessidade estú-
pida e inócua de um ser hu-
mano em impor suas cren-
ças e valores ao seu próxi-
mo. Não adianta querermos
preservar nossos prédios se
não preservarmos nossa gen-
te. Prédios são importantes,
animais e plantas são impor-
tantes, mas quem pensa e
age somos nós, seres huma-
nos.
Essa é a razão pela qual a
Mostra Sustentável, além de
preservar prédios históricos
como o Serviço de Saúde
Dr. Cândido Ferreira, refe-
rência nacional em saúde
mental, se coloca como uma
ferramenta de transforma-
ção social em benefício de
uma instituição de beneme-
rência. É também a razão pe-
lo qual, além de fazermos a
compensação ambiental das
emissões de gases de efeito
estufa, também inserimos
um projeto pedagógico com
visitas escolares para alunos
do ensino fundamental. E
também por isso oferece-
mos visitas inclusivas para
pessoas com deficiência e ex-
pandimos as SustenTalks pa-
ra além da arquitetura e de-
sign.
No final das contas, nos-
so patrimônio é o presente
que cuidamos e o futuro
que plantamos.
Opinião
O voto é um direito do ci-
dadão. É o instrumento mais
eficaz que o povo tem para
reeleger representantes que
cumprem bem a missão de
servir à polis ou de mandá-
los para casa quando eles dri-
blam suas funções. A lem-
brança se faz necessária nes-
se momento em que o eleito-
rado começa a escolher os
quadros que ganharão seu
voto.
Ocorre que esta eleição se
apresenta como uma das
mais importantes de nossa
historia. De um lado, trata-se
da oportunidade de escolher
a pessoa mais capaz de co-
mandar o País, governantes
dos Estados que o compõem
e representantes na esfera
parlamentar. De outro, trata-
se de eleger os núcleos ideo-
lógicos que definirão políti-
cas de Estado.
Portanto, no caso da elei-
ção para a Presidência, o plei-
to leva em consideração uma
visão de mundo, o modo co-
mo os protagonistas enxer-
gam as tarefas do Estado, o
mercado e a economia
(cunho mais estatal e/ou
mais privado), programas so-
ciais, infraestrutura, poten-
ciais e riquezas naturais etc.
Numa tentativa de sumarizar
tais visões, chega-se às três
principais correntes políticas
que governam os Estados
modernos: o socialismo, a so-
cial-democracia e o capitalis-
mo.
De maneira genérica e
sem aprofundamentos (por
não ser o objeto desse texto),
pode-se dizer que o primeiro
tem seu eixo fincado na trans-
formação social por meio da
distribuição de riquezas e da
propriedade, abarcando a lu-
ta de classes (a revolução do
proletariado), a extinção da
propriedade privada, a igual-
dade de todos etc. Na teoria
marxista, o socialismo encar-
na a fase intermediária entre
o fim do capitalismo e a im-
plantação do comunismo.
O capitalismo se ancora
na propriedade privada e na
acumulação do capital, ten-
do como leit motiv a busca
do lucro. Portanto, constitui
o contraponto do socialismo.
Já a social-democracia abriga
a intervenção do Estado na
economia (distribuição de
renda mais igualitária) e nos
programas sociais, sob o es-
copo do Bem-Estar Social e,
no território político, dá gua-
rida à democracia representa-
tiva. Emerge como sistema
que combina aspectos do so-
cialismo (intervenção do Es-
tado) e do capitalismo (pro-
priedade privada).
O fato é que a derrocada
do socialismo clássico, a par-
tir do desmantelamento da
URSS e a queda do Muro de
Berlim, em 1989, estendeu o
território da social-democra-
cia, sendo este o modelo de
Nações democráticas, princi-
palmente no continente euro-
peu.
Por nossas plagas, o socia-
lismo tem sido badalado por
partidos, a partir do PSB. Al-
guns, como o PT, chegam a
exagerar na defesa do socia-
lismo quando, na verdade, o
que fazem é adotar a prática
social-democrata ou seguir a
trilha de um “socialismo-mo-
reno”, aquele que Leonel Bri-
zola e Darcy Ribeiro prega-
vam: o Estado com o contro-
le de setores da economia
(petróleo e energia), e a ini-
ciativa privada com o comér-
cio, a indústria e os serviços.
O que vemos no ideário
dos partidos, aliás, é uma
identificação com a social-de-
mocracia, com ênfase a al-
guns aspectos, como o repú-
dio à privatização de empre-
sas estatais (como prega o
PT). Acirra ânimos, isso sim,
o uso da máquina do Estado,
como fez o PT em 13 anos de
mando. Política de terra arra-
sada: “para o petismo, pão;
para os adversários, pau;
nós, os mocinhos; outros, os
bandidos”. Haddad, a propó-
sito, é um teórico que se de-
clara marxista. Eleito, deixa-
ria seu marxismo a ver na-
vios. Mas o PT não abando-
nará o palavrório socialista.
Já na outra banda do arco
ideológico aparece Bolsona-
ro, candidato de um Partido
Social-Liberal, arremedo de
costela da social democracia.
Ex-capitão do Exército, sim-
boliza repressão, defende o
armamentismo, é antídoto
contra tudo que remeta ao
comunismo. Nem mesmo é
defensor rígido do capital, eis
que em seu pensamento vice-
ja uma seara nacionalista e
um Estado com controle de
áreas da economia, pensa-
mento atenuado por seu gu-
ru, Paulo Guedes.
No meio, Ciro, Alckmin e
Marina, cada qual puxando o
Estado mais pra lá ou mais
pra cá. Resumo: seja qual for
o vencedor, a real politik bra-
sileira imporá barreiras in-
transponíveis para a instala-
ção de uma ideologia radical.
Disso não devemos ter re-
ceio.
Eleições e visão
de Estado
Qual o nosso patrimônio?
Coordenação: Marcelo Pereira marcelop@rac.com.br Correio do Leitor leitor@rac.com.br
torquato
O vigor e a competência
SÉRGIO A. M.CARBONELL
ANTONIO BATISTA FILHO
CELSO VEGRO
RENATA H. B. ARNANDES
I I Sérgio Augusto Moraes Carbonell,
diretor-geral do IAC, Antonio Batista Filho,
diretor-geral do IB, Celso Vegro, diretor-geral
do IEA, e Renata Helena Branco Arnandes,
diretora-geral do IZ
SUSTENTABILIDADE
FERNANDO
CAPARICA
charge
I I Gaudêncio Torquato é jornalista,
consultor político e professor titular da
USP
INSTITUTOS PAULISTAS
I I Fernando O. Caparica Santos é empresário
e empreendedor, engenheiro eletricista,
diretor e curador da Mostra+Sustentável
“Mesmo em ano eleitoral, investir no mercado
imobiliário é uma boa aposta”
Marcelo Coluccini, diretor regional do Secovi em Campinas, sobre o panorama positivo do setor
opiniao@rac.com.br
A2 CORREIO POPULARA2 Campinas, terça-feira, 18 de setembro de 2018