O documento resume a história da psiquiatria infantil no Brasil, desde as primeiras iniciativas no início do século XX até os desafios atuais. Aborda figuras importantes que contribuíram para o desenvolvimento da especialidade e a criação de instituições dedicadas ao atendimento de crianças e adolescentes. Aponta a carência de psiquiatras infantis no país e a necessidade de atrair mais médicos para a área.
2. Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma
forma, continuamos a viver naqueles olhos que
aprenderam a ver o mundo na magia da nossa
palavra. O professor, assim, não morre jamais...
Rubem Alves
O ENSINO nos possibilita trabalhar com os valores
internos dos nossos alunos, despertando neles a vibração
pelo ideal e o prazer pela profissão.
Ser professor de Medicina significa reunir
conhecimentos e humildade, tornando-nos capazes de
aprender com o jovem estudante e com a dor do nosso
Paciente – Privilégio dos Verdadeiros Mestres.
3. A Psiquiatria se ocupa do estudo das
enfermidades mentais, ou seja, quadros
caracterizados por transtornos da
afetividade, inteligência, vontade e
instintos.
Modernamente, ela é uma
especialidade médica que tem como
foco o estudo e o tratamento das
doenças mentais.
4. As crianças e os adolescentes estão em formação de conceitos, juízo,
personalidade, autoestima, autoconfiança e principalmente no seu
processo de aprendizagem.
Há um número significativo de indivíduos em desenvolvimento que
apresentam sintomas que não tratados podem acarretar intensos e,
talvez, irrecuperáveis prejuízos ao longo da vida.
Sabe-se que muitos transtornos psiquiátricos dos adultos tiveram
início na infância e adolescência e não foram tratados.
Crianças não são adultos em miniaturas. Possuem particularidades
relacionadas ao seu desenvolvimento, aspectos biológicos, genéticos
e a influência do meio-ambiente. Daí a importância da existência e
desenvolvimento da subespecialidade PSIQUIATRIA DA INFÂNCIA E
ADOLESCÊNCIA.
5. Os transtornos mais frequentes encontrados pelos estudos,
foram: depressão, transtornos de ansiedade, transtorno de
déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), transtorno por uso
de substâncias e transtorno de conduta.
Fatores que mais se mostraram associados aos diferentes
transtornos foram: fatores biológicos, fatores genéticos e fatores
ambientais.
(THIENGO; CAVALCANTE; LOUVISE. Prevalência das doenças mentais e
fatores associados: revisão sistemática. Jornal Brasileiro de Psiquiatria,
Rio de Janeiro v. 63, n. 4, dez. 2014)
6. “Todo adulto foi criança e
adolescente e são nestas faixas
etárias que muitas patologias
são iniciadas. Aliás, sempre
defendemos a ideia de que o
Psiquiatra Geral deveria fazer
primeiro a Residência de
Psiquiatria Infantil, pela
necessidade de saber como se
processa o desenvolvimento
motor, cognitivo, afetivo e
intelectual do indivíduo em
desenvolvimento” (LIPPI, 2017).
Figura 1: Raimundo Lippihttp
Fonte:://www.abp.org.br
Doutor José Raimundo Lippi, Professor de Psiquiatria e Neurologia
da Faculdade de Medicina da UFMG, Especialista em Psiquiatria
Infantil.
7. Stanilsau Krynski (polonês) foi
um dos introdutores da
Psiquiatria Infantil no Brasil,
influenciado pela psiquiatria
francesa.
Dedicou-se ao estudo da
deficiência mental e do autismo
em São Paulo.
Ocupou a Cadeira 37 na
Academia Paulista de Psicologia
de 1982 a 1996, quando faleceu.
Figura 2 – Stanilsau Krynski
Fonte: www.google.com.br
8. Prof. Krynski foi fundador e primeiro presidente
da Associação Brasileira para Estudos da
Deficiência Mental e da Associação Ibero-
Americana.
Defendeu a criança e a sua proteção pelo
Estado e pela sociedade. Chamou a atenção
para os maus-tratos sociais e familiares contra as
crianças, falou da violência física, da criança
escrava, do abandono emocional, abuso sexual e
privação educacional a que estão sujeitas em
nossa sociedade.
9. Haim Grunspun (1927-2006),
nascido na Romênia, foi professor
de Psicopatologia Infantil na PUC/SP.
Autor dos livros: Distúrbios
Neuróticos da Criança, Distúrbios
Psiquiátricos da Criança, Autoridade
dos Pais e Educação da Liberdade,
entre outros.
Figura marcante na implantação
da subespecialidade no Brasil.
Figura 3 : Haim Grunspun
Fonte: www.google.com.br
10. Antônio Frederico Branco Lefèvre
(São Paulo, 1916-1981)
Médico neurologista brasileiro, reconhecido
hoje como o pai da neurologia infantil no
Brasil.
Figura 4: Lefèvre
Fonte: www.google.com.br/
Atuou na Faculdade de Medicina da USP e
no Hospital das Clínicas de São Paulo.
Publicações: "Contribuição para o estudo da
patologia da afasia em crianças" (tese
pioneira no assunto, de repercussão
internacional) e "Contribuição para
padronização do exame neurológico
do recém-nascido normal“.
11. Obras relevantes: A Dislexia em Questão, A Escrita
Infantil Evolução e Dificuldades, Manual de
Psiquiatria Infantil, A Prática da Psicomotricidade,
entre outras.
[...] a evolução da criança é sinônimo de
consciencialização e de conhecimento cada vez mais
profundos do seu corpo, ou seja, do seu eu total. É
com o corpo que a criança elabora todas as suas
experiências vitais e organiza a sua personalidade
única, total e evolutiva [...].
Julian de Ajuriaguerra (1911-1993),
psiquiatra de origem espanhola, viveu em
vários países da Europa, principalmente na
França.
Teve sua atenção voltada para o
desenvolvimento da criança
Figura 5: Ajuriaguerra
Fonte: www.google.com.br/
12. Década de 1920 – Criação do Pavilhão-Escola
Bourneville (no antigo Hospício Nacional de
Alienados - Rio de Janeiro). Foi o primeiro
serviço de assistência a crianças anormais, e
articulou tratamento médico-pedagógico.
Nesse momento, essas crianças passaram a
ser objeto da ciência psiquiátrica e das
políticas públicas.
13. 1935 - Foi criado o Instituto Pestallozzi de Belo
Horizonte, objetivando o atendimento de “toda
criança suspeita de qualquer deficiência ou
perturbação mental, como debilidade ou
retardamento mental, nervosismo, perturbações de
linguagem, da escrita, surdo-mudez, enurese, defeitos
de caráter social e moral, etc.”
1947 - Inauguração do Hospital de Neuropsiquiatria
Infantil de Belo Horizonte sob a direção de José
Abranches Gonçalves
14. 1938-1950 – Publicação dos “Anais do
Instituto de Psiquiatria”, sem periodicidade
regular.
1952 - Criação do Jornal Brasileiro de
Psiquiatria JBP. Nessa época, eram
poucos os trabalhos na área de Psiquiatria
Infantil, sendo os existentes ligados às
oligofrenias e às questões psicodinâmicas.
15. Nos anos 1960, no Brasil, já existia uma
grande preocupação com o método de
avaliação dos pacientes portadores de
patologias neuropsiquiátricas.
Os diagnósticos eram baseados na
fenomenologia e os estudos eram
predominantemente clínicos, embasados por
exame objetivo, cuidadoso e acurado.
16. • Dr. Stanislau Krynski e Dr. Antonio Branco
Lefèvre estruturaram um modelo de pensamento
que culminou com a fundação em 4 de janeiro de
1967 da Associação Brasileira de
Neuropsiquiatria Infantil (ABENEPI).
• Em 1981, a sigla se manteve e o nome foi
modificado para Associação Brasileira de
Neurologia e Psiquiatria Infantil.
• Congresso ABENEPI BA na década de 70.
17. • 1983 - Fundação da Associação de Amigos do
Autista (AMA) - São Paulo, embasada nos
conhecimentos específicos para o cuidado da
pessoa com autismo do Dr. Raymond
Rosemberg.
• “ É importante cuidarmos do autista e não do
autismo. Não se trata do autismo e sim do autista,
pois cada indivíduo tem suas características.”
18. PIA – Brasil
Aline Sampaio – Bahia
Ana Cristina Magester Pimentel – Belo Horizonte
Enio Roberto de Andrade – São Paulo
Francisco Baptista Assumpção – São Paulo
Fábio Mello Barbirato Nascimento Silva – Rio de Janeiro
Genario Alves Barbosa – João Pessoa
Isabel Bordin – São Paulo
José Ferreira Belisário Filho – Minas Gerais
José Raimundo da Silva Lippi – Minas Gerais
Lee Fu – São Paulo
Lúcio Simões de Lima – Rio de Janeiro
Luís Augusto Rohde – Rio Grande do Sul
Heloísa Helena Alves Brasil – Rio de Janeiro
Maria da Conceição do Rosário – São Paulo
Entre outros colegas.
ALGUNS MEMBROS DA PSIQUIATRIA INFANTIL NO BRASIL
Figura 6: F.B.Assumpção
Figura 7:F.Barbirato
Figura 8:
L.A.Rohde
Figura 9:
A.C.Pimentel
19. Álvaro Rubim de Pinho (1922-1994) .
Na graduação, desenvolveu a
Psicologia Médica; ampliou o
Programa de Residência Médica em
Psiquiatria e instituiu o hospital-dia no
HUPES.
Titular de Psiquiatria à época.
Figura 10 : Álvaro Rubim de Pinho
Fonte: Acervo da família
“O histórico da psiquiatria na Bahia remonta ao ano de
1808”. Coutinho; Saback, 2007.
Grandes mestres da UFBA fizeram história:
Nelson Soares Pires e Álvaro Rubim de Pinho.
20. Década de 1950 - Rubim de Pinho inicia os
primeiros atendimentos psiquiátricos dirigidos
a crianças na Clínica Pediátrica do HUPES.
Década de 1960 - Criação do Ambulatório de
Neuropediatria na UFBA pelos Profs. Orlando
Filgueiras Salles e Edilson Martins. Ambos
participaram da formação dos neuropediatras da
Bahia.
21. Início da década de 1980 – Criação, na
FAMED-UFBA, do Setor de Psiquiatria Infantil,
Departamento de Pediatria da UFBA, que se
ampliou durante a gestão de Nelson Barros.
Neste período, o Setor contou com a
participação dos professores: Solange Rubim
de Pinho, Olga Hastenreiter, Paulo Marcos de
Mattos César, Ana Teresa Rodrigues de Abreu
Santos e Celso Villas Boas.
22. 1989 - Solange Rubim de Pinho (especialista em
psiquiatria infanto-juvenil pela UFRJ e Doutora
em Medicina Interna pela FBDC) assume a
coordenação do agora Setor de Saúde Mental
Infanto-Juvenil do Departamento de Pediatria,
com a aposentadoria de Luiz Fernando Mattos
Pinto.
Passavam por este Setor: estudantes, internos e
residentes da Psiquiatria, além de estagiários de
Psicologia.
23. Com a Portaria 336 promulgada no ano de 2002,
foram criadas as modalidades de CAPS: CAPS I,
CAPS II e CAPS III, vinculados à Secretaria
Municipal de Saúde. Espaço de prática para
estudantes de diferentes áreas de saúde.
24. O Hospital Juliano Moreira foi fundado em 1874,
sucedendo o Asilo São João de Deus.
A Residência em Psiquiatria se iniciou em 1982,
tendo como coordenador Dr. Domingos Coutinho.
Em 2006, teve início a Residência em Psiquiatria
da Infância, sendo Dra. Stella Márcia Benitez
aprovada no primeiro concurso R4 do Pia. A partir
de então, o HJM recebe regularmente de dois a três
médicos aprovados na seleção.
Figura 11: Hospital Juliano Moreira
Fonte: http://www.saude.ba.gov.br/
25. Os espaços acadêmicos são restritos. O número de
Psiquiatras Infantis é insuficiente em decorrência do
desestímulo ao jovem médico a dedicar-se a áreas
especializadas.
Constituir o corpo teórico de profissionais envolvidos
com a área tem sido nossa meta.
Estudos nosológicos, etiológicos, sociais e da fusão
de todas as áreas contribuíram para o surgimento da
psiquiatria da infância moderna, autônoma, com
características próprias e em constante construção.
26. Segundo Ana Haunie (2015), estima-se que
existam apenas 500 psiquiatras infantis no Brasil.
Essa função é exercida por outros especialistas:
neuropediatra, neurocirurgião, neurologista e
psiquiatras de adulto.
Os estados que possuem maior número de
psiquiatras infantis: São Paulo, Rio Grande do
Sul, Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina.
Fica clara a importância de atrair médicos para
esta subespecialidade.
27. Ano Situação
ADRIANA CASE DIAS 2012 Concluído
ANA PAULA MAGALHAES CARDOSO 2010 Concluído
CAMILLE DA SILVA BATISTA 2015 Concluído
DIEGO CUNHA REIS 2016 Concluído
JAMILLA DEYSIANNE RIBEIRO SOUZA 2018 Em curso
KARINE SIQUARA QUADROS PASCHOAL 2008 Concluído
LARISSA DAMASCENO DOS SANTOS 2018 Concluído
LUCIANA DANTAS OLIVEIRA 2009 Concluído
MARIANA KERNER LACERDA 2014 Concluído
PATRYCIA MOREIRA BACURAU 2018 Em curso
PAULA LORENA CORREIA DOS ANJOS 2018 Em curso
SAULO LEAL MERELLES 2015 Concluído
STELLA MARCIA BENITE Z 2007 Concluído
TATIANA DE MELLO FREITAS 2016 Concluído
28. Psiquiatras que exercem Psiquiatria Infantil - Salvador/Bahia:
Adriana Casé
Aline Sampaio
Ana Paola Robatto Nunes
Camille Batista
Diego Cunha Reis
Ilza Borges
Ivan Araújo
Larissa Damasceno
Mariana Kerner
Milena Pondé
Márcia Pinho
Paulo Mattos
Stella Márcia Benitez
Jamilla Dasyanne
Entre outros colegas.
(2018)
29. Somar conhecimentos clínicos, psicofarmacológicos,
progressos da Neurociência, técnicas psicoterápicas,
contribuições da Fonoaudiologia, Psicomotricidade,
Psicopedagogia e outros significa estar consciente da
complexidade do ser humano e ter um olhar mais
amplo para o psiquismo.
Com reavaliações constantes, crítica adequada e
trabalho incessante, o comprometimento e a seriedade
de todos vocês, a Psiquiatria Infanto-Juvenil se
expandirá. Este fato resultará numa melhor formação
para as gerações que virão e numa atenção mais
efetiva às crianças e adolescentes que demandam a
nossa assistência.
31. IDENTIFICAÇÃO
Reconheço-me nos olhos sonhadores das crianças
Enxergo neles algumas palavras
Torno outras muito mais belas...
assim como caminhar é preciso...
Viajo na Rosa dos Ventos.
Sinto girar terra, lua e estrelas
Percebo que todas as Idades têm sua infância e juventude
No adulto, coragem e perseverança se procuram
E como amigas, se encontram.
...Assim posso sentir o mundo
com os olhos sonhadores das crianças ...
Solange Rubim de Pinho (1999)
O reconhecimento e agradecimento aos Profs. Rubim de Pinho,
Nelson Barros e Luís Fernando Pinto, que marcaram a trajetória ora
descrita, com conhecimento, dignidade e sabedoria.
POR QUE PSIQUIATRIA INFANTIL?
32. AGRADECIMENTOS
Aos alunos;
Aos meus pais e aos profs. Nelson Barros e Luís Fernando Pinto;
Aos colegas, especialmente os Profs. William Dunningham e Wânia
Aguiar;
À família, em especial, meus filhos e netos;
À Dra. Larissa Damasceno e a todos os residentes aqui presentes,
pela convivência, carinho, estímulo e alegria que vocês me
transmitem.
Espero assim ter contribuído para a construção de uma
sociedade mais solidária.
O meu maior legado, que tenho a honra de compartilhar aqui
com vocês, é ter colaborado para o desenvolvimento de uma
geração de jovens e crianças mais saudáveis, física e
psiquicamente.
Muito obrigada!
33. ASSUMPÇÃO JR., F.B.; KUCZYNSKI., E. Tratado de psiquiatria da
infância e da adolescência. 2.ed. São Paulo: Atheneu, 2012.
COUTINHO, D.; SABACK, E. História da psiquiatria na Bahia. Gazeta
Médica da Bahia, v. 2, p. 210-218, jun.-dez. 2007.
HOUNIE, Ana. Psiquiatria na Infância e Adolescência: histórico da lista de
Psiquiatra da Infância e Adolescência no Brasil PIA. Psychiatry on line
Brasil, v. 20, n.11, nov. 2015. Disponível em:< www..pobr.med.br > Acesso
em: 22 mar. 2018.