1) O presidente da Associação Portuguesa de Seguradores afirma que o mercado de seguros vive um momento "muito volátil" e que "vão existir alterações significativas" além da venda da Caixa Seguros.
2) O novo contrato coletivo do setor permite uma gestão de recursos humanos mais adequada à crise atual, com maior flexibilização compensada por melhores garantias de proteção social.
3) As seguradoras enfrentam desafios como resultados financeiros negativos e novas exigências regul
Entrevista - Pedro Seixas Vale Jornal de Negócios 02/05/2012 PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE SEGURADORES
1. Entrevista - Pedro Seixas Vale
Jornal de Negócios 02/05/2012
PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO
PORTUGUESA DE SEGURADORES
"Vão existir alterações significativas além da Seguros devem compensar
MARIA JOÃO GAGO
mjgago@negocios.pt
venda da Caixa Seguros" flexibilização salarial e laboral
Mercado de seguros vive significativas, podendo não ficar limitadas à efeito menos positivo dessas mudanças. destes mecanismos é cada vez maior", garante No automóvel, há anos que algumas
Caixa Seguros. Vai haver mudanças, além o representante do sector. companhias defendem uma subida dos
momento "muito volátil" e deve dessa. Às vezes há surpresas quanto à origem Em que sentido? preços, que ainda não ocorreu.
viver "alterações significativas". dos adquirentes. Acredito que algumas áreas e Reduzimos o número de categorias No início do ano afirmou que 2012 seria tão Neste momento, o número de acidentes não
Para já, houve "uma revolução" empresas possam ser adquiridas por [profissionais] de forma drástica, acabámos mau ou pior do que 2011. Já é possível saber está a diminuir, porque os portugueses têm
portugueses. como será este ano?
no contrato de trabalho. com as promoções obrigatórias, aumentámos mais coberturas e, nalguns casos, estão a ter
fortemente a mobilidade geográfica e funcional, Em vendas, os resultados do primeiro trimestre mais sinistros. Essa situação, e os resultados
A venda da Caixa Seguros pode colocar mais de As novas exigências regulatórias implicam
dois terços do sector segurador em mãos flexibilizando os horários de trabalho e criando confirmam essa ideia. A produção continua a financeiros muito negativos, fez com que o ramo
mais capital. Como se compatibiliza isso condições para o tele-trabalho. Na formação descer, sobretudo no ramo vida, mas também automóvel tenha resultados positivos, mas
estrangeiras. Isso "não preocupa" Seixas Vale. com a fraca rentabilidade?
Líder da APS avisa que "vão existir [outras] dos salários eliminámos as antiguidades e no não vida. Felizmente, o volume de activos insuficientes. Naturalmente que se vão criar
alterações significativas". Os últimos três anos têm sido muito maus, pela alguns dos suplementos, fizemos uma redução sob gestão está estabilizado desde final do ano. condições, pela redução dos custos, do
desvalorização significativa dos activos e das categorias profissionais enormíssima. O Conseguiu-se estagnar a tendência de quebra aumento dos preços ou da melhoria dos
A crise vai acelerar a consolidação do diminuição dos capitais próprios. Apesar de contrato tem um terço dos artigos. dos activos sob gestão dos PPR, até houve um resultados financeiros, para terem, no futuro,
sector? A venda da Caixa Seguros, o grupo tudo, o nível de solvência é de quase 180%. ligeiríssimo aumento. As entregas novas é que melhores resultados. Não é um aumento ou
líder, terá consequências? Pelas regras actuais, o sector tem um E quais foram as compensações? são menores. uma diminuição generalizada [de preços].
excedente de capitais de 80%. A introdução do Introduzimos a obrigatoriedade de as empresas
Estamos preocupados com o facto de o maior A "guerra" que a banca fez aos seguros de Nos seguros de saúde, o ligeiro crescimento
Solvência II, nos termos em que está prevista, fazerem a avaliação de desempenho. A
grupo do mercado ir passar por um momento de poupança pela pressão para obter liquidez de que falou é sustentável?
permite dizer que as necessidades de capital promoção na carreira e salarial é sobretudo
mudança Em qualquer país, uma mudança já terminou? Não vai haver mais transfe-
podem ser acomodadas. Pontualmente, uma fruto dessa avaliação que deve ser conhecida É. Neste momento, por razões orçamentais, há
desta dimensão num sector tão importante rência dos seguros para os depósitos
ou outra empresa pode ter alguma dificuldade. dos trabalhadores. Introduzimos um esquema dificuldades de financiamento do sistema
como os seguros, tem de ser feita com cuidado. bancários?
de plano individual de reforma para todas as nacional de saúde (SNS), o que faz com que o
Não está preocupado? pessoas. É um plano com contribuições Não houve guerra nenhuma. Estado tenha limitações, que podem propiciar
Um terço do mercado pode passar a ser
controlado por um só grupo internacional. Uma das razões para o sector estar bem definidas e é portátil. As pessoas têm direito a que, a preços semelhantes aos que estamos a
Numa altura em que há países mais frágeis, capitalizado é o nível de resultados não distri- ele no final da sua carreira e também se saírem O sector ressentiu-se ... praticar, a diferenciação [dos seguros de saúde]
como Portugal, preocupa-o? buídos. A situação é mais grave do que das empresas. Aumentámos os níveis de Claro. Os bancos agiram de forma racional. em relação ao SNS é cada vez menor. Porque o
esperávamos. Vamos ter que ter mais capital, segurança social, com seguros de saúde, vida e Neste momento, encontraram fontes de que eu tenho de pagar a mais é, em termos
O sector hoje é praticamente metade de medicina do trabalho. relativos, cada vez menos. Isso justifica que as
empresas de origem portuguesa e metade de mas temos a noção de que temos alguns meios financiamento e estão a usar menos essa
já nas empresas para podermos fazer face à redução dos produtos seguradores. pessoas que querem ter liberdade de escolha e
estrangeiros. O novo contrato segue o sentido de mais serviço, possam escolher mais os
volatilidade da situação económica e das
obrigações de aumento de capital. evolução do acordo de concertação social? A redução nos ramos não vida é um reflexo seguros. É o que temos vindo a assistir.
Mais de dois terços serão estrangeiros.
É muito mais avançado e equilibrado. A maior da recessão económica?
Há países que têm 100% e não morrem. As Como tem evoluído o emprego? flexibilização, correspondemos com garantias Numa altura em que as famílias e as
empresas internacionais que actuam em Sobretudo nos acidentes de trabalho, o que tem empresas estão a cortar custos, não há uma
Nos últimos cinco anos, praticamente tem de protecção social que outros sectores não que ver com a circunstância do volume de
Portugal são de grande dimensão, muito têm. Quisemos responsabilizar as pessoas pelo ameaça a esta evolução?
eficientes e níveis de performance muito havido uma estabilidade, nas 11 mil pessoas. emprego estar a diminuir e também com a
seu desempenho, criar um nível salarial estagnação salarial - nalguns casos há mesmo É uma dificuldade. Mas se grande parte do
positivos. Não tenho nada a objectar. Há alguma redução na área comercial, mas
correcto e ter um sector atractivo em termos reduções. No automóvel, o número de veículos ajustamento que está a ser feito na sociedade
noutras áreas há um aumento. Isso não
salariais e de protecção social. novos é claramente inferior ao de anos portuguesa tem que ver com os rendimentos do
O BES vai comprar 50% da BES Vida ao significa que não haja reestruturações e que,
anteriores. Na área de doença há ligeiros trabalho e com as pensões, isso está a afectar
Crédit Agricole não só, mas também, porque nalgumas companhias, haja redução. Têm sido
"Cada vez mais, procuramos alternativas crescimentos. sobretudo pessoas cuja única fonte de
as regras dos franceses penalizaram o compensadas por outras que têm aumentado o
aos tribunais" rendimento é o seu trabalho ou a sua pensão.
desempenho da companhia. seu volume de negócio. A área da saúde tem As empresas portuguesas, apesar do esforço
tido mais crescimento. "Estamos muito atentos a essa questão dos Nos acidentes de trabalho, como é que o
O proprietário da principal empresa de seguros atrasos dos tribunais e sabemos que dão sector se poderá ajustar se o desemprego se de redução de custos, sabem também que
portuguesa, o Estado, decidiu vender. Fá-lo da O novo bastante ocupação aos advogados e vai manter elevado? algumas flexibilizações que estão a ser
maneira que achar conveniente e suponho que O novo contrato colectivo introduzidas nos salários e no emprego, devem
pessoal permite uma
contrato do juízes. Por isso, cada vez mais,
não vai criar nenhuma restrição a que uma A actividade nos seguros de acidentes de ser compensadas para que as pessoas, apesar
gestão de recursos sector é muito mais fomentamos os mecanismos de
trabalho não depende apenas do volume de
empresa estrangeira compre. Se amanhã dois de terem menores níveis salariais e menores
terços das empresas ou da produção tiver humanos mais avançado que o acordo resolução alternativa de conflitos emprego, mas também do nível salarial. O níveis de segurança no trabalho, poderem ter
origem em grupos estrangeiros, a minha adequada à crise da concertação social. À que não os tribunais".É desta forma emprego será inferior, mas se houver uma melhor protecção social.
actual? que Seixas Vale responde ao
opinião é a mesma, desde que actuem m a i o r f l e x i b i l i z a ç ã o Procurador-Geral da República e evolução positiva no nível salarial isso poderá
correctamente. Negociámos um novo [laboral], correspondemos ao Bastonário da Ordem dos compensar. Por outro lado, os prémios médios Os seguros de saúde podem funcionar
contrato com três c o m g a r a n t i a s d e Advogados que acusaram as têm estado a diminuir e penso que não vão como uma compensação das empresas
Essa operação e as novas regras de sindicatos e fizemos continuar a diminuir. pelos cortes salariais?
protecção social que companhias de ganharem dinheiro
solvência poderão contribuir para a acordo com dois. Foi com o atraso dos processos judiciais Também os seguros de protecção em qualquer
aceleração do processo de consolidação? uma pequena revo- outros sectores não q u e a s o p ô e m a cl i e n te s."O As seguradoras não têm margem para mais situação. Estamos a sentir isso e encorajo
lução. O contrato estava têm. protelamento das decisões só são reduções de preços? vivamente as associações patronais a
Estamos num momento muito volátil quanto à
estrutura da oferta do mercado. No sector datado. Com bom senso de prejudiciais às seguradoras e só Os resultados não são positivos nesta área, fomentarem junto dos seus associados essa
segurador, a estabilidade não vai ser o sinal de ambas as partes, aceitaram-se aumentam os seus custo. Estamos a fomentar antes pelo contrário. Essa é uma das maiores. política. E não é numa perspectiva egoísta do
futuro. Vão existir, com certeza, alterações algumas mudanças e formas de compensar o meios alternativos para os conflitos. O peso preocupações do sector neste momento. sector, é numa perspectiva nacional.
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