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SEMINÁRIO PRESBITERIANO DO NORTE
BACHARELADO EM TEOLOGIA
A SANTIFICAÇÃO PROGRESSIVA NA PESPECTIVA REFORMADA
Sérgio José do Nascimento
Monografia apresentada sob orientação do
Rev. Gaspar de Souza, como parte dos
requisitos para conclusão do Curso de
Bacharelado em Teologia pelo Seminário
Presbiteriano do Norte, bem como atender
junto ao Presbitério Centro de Pernambuco,
as disposições contidas no Art. 120 alínea “b”
da CI/IPB, que trata de licenciatura e
ordenação de candidatos ao Sagrado
Ministério.
Recife
2009
2
AGRADECIMENTO
Agradeço ao Eterno, e Soberano Deus que derramou sobre mim abundante graça e
misericórdia ao longo do curso no S. P. N.
A minha amada esposa, Maria Betânia, por suas orações e incentivo.
A minha filha Sarah ágata um grande presente de Deus em minha vida que me tem dado
muitas alegrias.
Aos diletos professores do S. P. N., por suas preciosas informações em sala de aula.
A Igreja Presbiteriana de Jardim Uchoa que me abriu às portas para o caminho do Ministério
Pastoral. O irmão Edison que muito nos ajudou não só em oração mais na provisão.
Ao Presbitério Centro de Pernambuco que me recebeu como candidato ao Ministério Pastoral,
e por ter nos ajudado também nos custos do seminário durante todo curso.
Ao meu amado Pastor, tutor e amigo Rev. Geraldo Neto que nos encaminhou ao Seminário,
pelos conselhos e orientações.
E a todos que por mim oram e que de certa forma contribuíram direta ou indiretamente para a
minha formação.
3
DEDICATÓRIA
A minha querida esposa Maria Betânia silva Nascimento e a nossa filha Sarah
Ágata silva do Nascimento, pessoas que Deus me confiou para amar e cuidar.
4
APROVADO POR
Orientador: Rev. Gasparde Souza
Observações: _______________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Nota: ______ (_______________________________________)
5
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 06
I O DESENVOLVIMENTO NA HISTÓRIA 08
1.1 - Conceito das Escrituras 08
1.1.1 - No Antigo Testamento 08
1.1.2 - No Novo Testamento 09
1.2 - Diferentes Conceitos na História 12
1.2.1 - Na Patrística 12
1.2.2 - Na Idade Média 14
1.3 - Conceito na Reforma Protestante 17
II ASPECTOS TEOLOGICOS DA SANTIFICAÇÃO 21
2.1 - Ela é Exclusiva dos Regenerados 21
2.1.1 - Afeta o Homem Todo 23
2.2 - É uma Experiência Sem a Qual Ninguém Verá a Deus. 25
III IMPLICAÇÕES DA SANTIFICAÇÃO PARA A IGREJA 32
3.1 - A Santificação não se Limita a Atos Exteriores 32
3.2 - Na santificação é o Espírito Santo quem conduz os cristãos. 35
3.3 - Exige um esforço em obediência a Deus. 37
CONCLUSÃO 43
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS 46
6
INTRODUÇÃO
Há em nossos dias uma busca frenética pela espiritualidade, embora isso seja bom no
que diz respeito à vida do regenerado que busca viver conforme a palavra de Deus. Mas, o
problema esta na motivação, que tem como sua principal característica as experiências
pessoais que se acredita ser fonte de mais poder, como diz Hernandes dias Lopes ao comentar
as tendências das Igrejas Brasileiras: “As pessoas buscam os sopros poderosos, as visões
celestiais, as revelações forâneas às Escrituras, as experiências arrebatadoras, as emoções
fortes, mas continuam cada vez mais vazias.”1 O que leva a entender esse fenomeno como
uma perda da verdade bíblica com relação à santidade.
J. I. Packer comenta que os Puritanos insistiram que toda a nossa vida e
relacionamento precisava torna-se “santos para o Senhor.” E esse movimento Puritano que
perdurou por mais ou menos 100 anos trouxe por parte de alguns líderes um “reavivamento da
santidade.” 2 Mas, hoje não se vê o destaque merecido por toda igreja nos dias atuais. Como
por exmplo, os sermões não confrontam as pessoas quanto ao comportamento, e não são
levadas a uma reflexão.
Paralelo a esse movimento inreflexivo encontra-se também o asceticismo que teve sua
influência nos tempos monaisticos, por meio de monges que procuravam uma vida de piedade
e renucia dos prazeres do corpo. Hoje esse movimento se destaca, inclusive nos carismaticos
que ênfatizam o ascetiscimo como diz John MacArthur: “O ascetismo, que cria um padrão para
si mesmo, exalta a carne e faz a pessoa orgulhar-se de seus sacrifícios, visões e realizações
espirituais. Tal ascetismo afasta de Cristo e escraviza sua vítima ao orgulho carnal.”3 Esse
pensamento se faz presente neste século com muita ênfase, no que diz respeito a uma vida de
santidade.
Mas, a santificação bíblica que é expresada pela confissão de Fé diz que somos: (...)
mais e mais vivificados e fortalecidos em toda graça salvadora, para a prática da verdadeira
santidade sem a qual ninguém verá a Deus (...)4. O Espírito Santo é que tem que conduzir o
homem a uma vida de santidade para servi-lo melhor.
Todavia, esse guiar do Espírito é conforme o “temor do Senhor”, pois, uma santidade
sem as Escrituras, como padrão que determina tudo, é misticismo. E o homem em resposta a
essa ação se torna submisso e se consagra a Deus em santidade.
1 LOPES, Hernandes Dias. As faces da Espiritualidade. São Paulo: Editora Candeia, 2000, p., 12 (Disco
Rígido)
2 PACKER, J. I. A Redescoberta da Santidade. 1ª ed são Paulo: Editora Cultura Cristã, 2002. P., 10-11
3 J.R, John MacArthur. A Procura de Algo Mais. Editora Fiel, p., 30 (Disco Rígido)
4 Confissão de Fé de Westminster. Cp. XIII, I
7
Daí justifica-se o nosso trabalho, pois, a progressividade da santificação não pode estar
em desarmonia com a Palavra de Deus.
Diante do problema exposto, o objetivo geral deste trabalho consiste em
analisar a santificação progressiva e suas implicações para o homem e o processo no qual ele
tem participação ativa, impulsionado pela ação do Espírito Santo.
No Primeiro capítulo se analisará o desenvolvimento da Santificação Progressiva na
História, observando o conceito das Escrituras no AT e no NT. Bem com também diferentes
conceitos na História na Patrística No início do período Monástico, na Idade média e como
também na Reforma Protestante.
No segundo capítulo se observará os aspectos bíblicos e teológicos, como por
exemplo, a santificação é exclusiva dos regenerados, afeta do homem, e é uma experiência
sem a qual ninguém verá ao Senhor.
No terceiro capítulo abordará as implicações para a Igreja. Mostrando que a
santificação não se limita apenas a atos exteriores, e que o Espírito Santo é quem conduz os
cristãos a uma vida santa, e por fim afirmar que a santificação progressiva exige dos cristãos
um esforço em obediência a Deus. E tendo como conclusão uma volta a verdadeira
Santificação Bíblica.
8
I- O DESENVOLVIMENTO NA HISTÓRIA
Desde o Antigo Testamento, Deus determinou a Moisés que ordenasse ao povo de
Israel: “Santo sereis, porque eu, o SENHOR vosso Deus, sou santo” (Levítico 19:2). O
apóstolo Pedro, mais tarde, ecoa essas palavras na sua primeira epístola: “... segundo é santo
aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso
procedimento, porque escrito está: Sede santos, porque eu sou santo” (1Pedro 1:15-16). Uma
vez que o próprio Deus é santo, ele deseja que nós, a quem ele criou à sua imagem, também
sejamos santos. A obra de Deus pela qual ele nos torna santos é chamada santificação.
Portanto, antes de aprofundarmos mais no estudo sobre a santificação progressiva,
apresentaremos o conceito de santificação nas Escrituras Sagradas e no seu desenvolvimento
histórico.
1.1– Conceito das Escrituras
1.1.1– No Antigo Testamento
O verbo usado no Antigo Testamento é vd;q' qadash “santificar” que também tem
seus derivados como: Ser consagrado, ser santo, ser santificado; consagrar, preparar, dedicar.
Este verbo pode ser empregado nas formas do qal, nifal e piel.
No qal o verbo é empregado um maior número de vezes para demonstrar o estado de
consagração efetuado pelo ritual levítico. Êxodo 29: 21, 37; 30: 29 certos objetos usados no
serviço levítico eram consagrados a Deus e, por esse motivo, eram reconhecidos como
pertencentes do âmbito sagrado.
Já no piel a palavra é usada na maioria das vezes para designar o ato de consagração.
Em Êxodo 19:23 a consagração do Monte Sinai, mediante o estabelecimento de limites ao seu
redor, serviu para manter à distância de tudo que poderia ter profanado a santa presença de
Deus. E no nifal o verbo vd;q' qadash pode ter a conotação de demonstrar a própria
santificação.
Berkhof diz: “que o verbo vd;q' qadash “santificar” vem da raiz dq' qad
“cortar”.5 De modo que podemos dar a seguinte definição: “Cortar, separar e reservar para
Deus, consagrar e entregar a Deus”.
5BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 2. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2000. p.,485.
9
O adjetivo correspondente do verbo vd;q' qadash é o adjetivo vAdq' qadosh
“santo”, que qualifica aquilo que é intrinsecamente sagrado (separado). A palavra vAdq'
qadosh é uma das mais importantes palavras da religião do Antigo Testamento, e é aplicado a
Deus. O erudito do Antigo Testamento, Eichrodt, diz: “As raízes empregadas nas mais
diferentes línguas para designar esse âmbito, enquanto se pode extrair etimologicamente,
fazem aparecer o santo como o separado, o apartado, o subtraído do uso normal.” 6
E o substantivo correspondente do verbo vd;q' qadash é o substantivo vd,q
qodesh. Esse substantivo tem a idéia de “santificação”, a natureza essencial daquilo que
pertence ao domínio do sagrado e que, por esse motivo, se distingue daquilo que é comum ou
profano. A esse respeito R. Laird Harris diz: “Aquilo que é sagrado, aquilo que é santo não
apenas se distingue do profano, mas também se opõe a isso”.7
Deste modo este verbo e seus derivados quando estão relacionados ao ser de Deus,
significa aquilo que é separado ou distinto para Deus. Sendo assim, vimos que o conceito de
santificação está implícito no Antigo Testamento.
1.1.2 - No Novo Testamento
O verbo a`gia,zw (hagiazo) e seus vários significados. O verbo a`gia,zw
(hagiazo) é derivado de a[gioj (hagios), que, como a palavra hebraica vAdq' (qadosh),
expressa primariamente a idéia de separação. Todavia é empregado em vários sentidos
diferentes no Novo Testamento. Podemos distinguir os seguintes: (1) É empregado no sentido
mental, com referência a pessoas ou coisas, Mt. 6:9; Lc. 11:2; 1Ped. 3:15. Em casos como
esses, significa “considerar um objeto como santo”, “atribuir santidade a”, ou “reconhecer sua
santidade por palavra ou ato”. (2) Também é empregado, ocasionalmente, num sentido ritual,
isto é, num sentido de “separar do ordinário para propósitos sagrados”, ou de “por de lado
para certo ofício”, Mt. 23. 17,19; Jo. 10,36; 2Tm. 2.21. (3) É empregado ainda para denotar a
operação de Deus pela qual Ele, especialmente por intermédio do Seu Espírito, produz no
homem a qualidade subjetiva da santidade, Jo. 17,17; At. 20,32; 26,18; 1Co. 1,2; 1Ts. 5,23.
(4) Finalmente na epístola aos Hebreus, é ao que parece empregado num sentido expiatório, e
6EICHRODT, Walther. Teologia do Antigo Testamento. 1. ed. São Paulo: Hagnos Filadélfia, 2005. p., 240.
7HARRIS, R.L. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1998. p.,
1323.
10
também no sentido correlato do dikaio,w (dikaioo) Paulino, Hb. 9,13; 10.10,29; 13,12. Os
adjetivos que expressam a idéia de santidade são: (1) i`ero,z (Hieros). A palavra menos
empregada, e também menos expressiva, é i`ero,z (hieros). Acha-se unicamente em 1Co.
9.13; 2Tm. 3.15, e, aí, não se referindo as pessoas, mas as coisas. Não expressa excelência
moral, mas o caráter inviolável da coisa referida, resultante da sua relação com Deus. Sua
melhor tradução do Inglês é “sagrado”. (2) o[sioz (Hosios). A palavra o[sioz (hosios)
ocorre com maior freqüência. Acha-se em At. 2.27; 13.34, 35; 1Tm. 2.8; Tt. 1.8; Hb. 7.26;
Ap. 25.4; 16.5, e se aplica não somente a coisas, mas também a Deus e a Cristo. Descreve
uma pessoa ou coisa como livre de profanação ou de iniqüidade, ou mais ativamente (quando
a pessoa), como cumprindo religiosamente toda obrigação moral. (3) a`gnou.j (Hagnos).
A palavra a`gnou.j (hagnos) ocorre em 2Co. 7.11; 11.2; Fp. 4.8; 1Tm. 5.22; Tg. 3.17;
1Pe. 3.2; 1Jo. 3.3. Ao que parece, a idéia fundamental da palavra é a de liberdade da impureza
e corrupção, num sentido ético. (4) a[gioj (Hagios). A palavra que é realmente
característica do Novo Testamento é, porém, a[gioj (hagios). Seu significado primário é o
de separação na consagração e dedicação ao serviço de Deus. Com isto se relaciona a idéia de
que aquilo que é posto a parte do mundo para Deus, também deve separar-se da corrupção do
mundo e participar da pureza de Deus. Isto explica por que a[gioj (hagios) depressa
adquiriu um significado ético. Nem sempre a palavra tem o mesmo sentido no Novo
Testamento. (a) É indicada para uma relação oficial externa, uma separação dos propósitos
comuns para o serviço de Deus, como por exemplo, quando lemos sobre os “santos profetas”,
Lc. 1.70, os “santos apóstolos”, Ef. 3.5, e os “homens santos”, 2Pe. 1.21. (b) Mas
freqüentemente, porém, é empregada num sentido ético para descrever a qualidade necessária
para manter-se uma estreita relação com Deus, para servi-lo aceitável-mente, Ef. 1.4; 5.27; Cl.
1.22; 1Pe. 1.15,16. Deve-se ter em mente que, ao tratarmos da santificação, utilizamos a
palavra primordialmente neste último sentido. Quando falamos da santidade em conexão com
a santificação, temos em mente tanto uma relação externa como uma qualidade subjetiva
interior.Os substantivos que denotam santificação e santidade: O vocábulo no Novo
Testamento para santificação é avgiasmo,s a`giasmo,z (hagiasmos). Ocorre dez vezes,
a saber, em Rm. 6.19, 22; 1Co. 1.30; 1Ts. 4.3, 4,7; 2Ts. 2.13; 1Tm. 2.15; Hb. 12.14; 1Pe. 1.2.
Embora denote purificação ética, inclui a idéia de separação, isto é, “a separação do espírito
de tudo que é impuro e corrupto, e uma renúncia aos pecados para os quais os desejos da
carne e da mente nos levam”. Enquanto a`giasmo,z (hagiasmos) denota a obra da
santificação, há outras duas palavras que descrevem o resultado do processo, que são
11
a`gio,thj (hagiotes), e a`giwsu,nh (hagiosune). A primeira se acha em 1Co. 1.30 e
Hb 12.10; e a segunda em Rm. 1.4; 2Co. 7.1 e 1Ts. 3.13. Estas passagens mostram a
qualidade da santidade ou de estar livre da corrupção e da impureza é essencial para Deus, foi
demonstrada por Jesus Cristo, e é dada ao cristão.
Portanto, seja no Antigo Testamento ou no Novo Testamento, a palavra santidade tem
o mesmo significado; separar e consagrar para Deus.
12
1.2 Diferentes Conceitos na História
1.2.1 – Na Patrística
O nome “Pai da Igreja” originou-se do uso do nome “Pai”, dado em especial aos bispos
do Ocidente, para exprimir uma carinhosa lealdade. O termo Patrística ou patrologia é o nome
do estudo da vida e das obras destes homens, que viveram em sua maioria entre o fim da era
apostólica e a realização do concílio de Calcedônia. A maior parte de seus livros, artigos e
sermões foram escritos mais ou menos entre 95 e 150 da era cristã8. É interessante também
observar que os Pais da Igreja para serem reconhecidos teriam que ter uma vida santa, sendo
uma característica de um Pai da igreja como também sua antiguidade, ou seja, conforme a sua
presença no período apostólico. “Tendo inicio por volta do ano 96, com a epístola First
Clement (Clemente I) e terminado no Oriente com a morte de João de Damasco, em 750”.9 Os
quais se dedicaram à interpretação e exposição das Escrituras Sagradas.
A santificação neste período tinha como base fundamental uma vida ascética, e não só
dos pais da igreja, mas era uma característica de todo aquele que deseja-se ser mais santo,
como por exemplo, as mulheres piedosas que se destacaram neste período como cita
Christopher:
Consequentemente, o papel das mulheres na igreja primitiva era
circunscritos por limites específicos. Entretanto, como já vimos, as mulheres
pudera ampliar esses limites expressivamente, renunciando aos papeis
tradicionais sexuais e domésticos para uma vida de ascetismo cristão —
comportamento que os pais da igreja como Jerônimo incentivam.10
Como se observa essa era uma pratica muito comum na época, e apoiada pelos pais da
igreja, conforme a citação declara que Jerônimo apoiava essa pratica.
No Ocidente, a vida monástica só se fez sentir a partir de 370. E o mais conhecido
monge do Ocidente foi Jerônimo (340-420). Ao lado de Ambrósio e de Agostinho, Jerônimo é
um dos três grandes mestres da Igreja latina. No deserto da Síria, morou em uma caverna, que
transformou em sua sala de trabalho. Em Belém, construiu uma série de conventos
masculinos, além de um convento feminino, no qual residiam mulheres, em boa parte
oriundas de Roma que colaboravam na edição de suas obras11.
8 CAIRNS, E. Cairns..O Cristianismo Através dos Séculos: Uma História da Igreja Cristã. São Paulo: Vida
Nova, 1995. p., 57.
9 HALL, Christopher A. Lendo as Escrituras com os Pais da Igreja. Tradução Rubens Castilho. 1. ed. Viçosa,
MG: Ultimato, 2000. p. 52.
10 Ibid., p., 49.
11 N., Martin Dreher. Coleção História da Igreja vol. I: A Igreja no Império Romano. Rio Grande do Sul:
Sinodal, 1993. p., 75.
13
Agostinho (354-430) foi um bérbere africano, que deu à Igreja latina sua conformação
teológica. Ambrósio levou-o à leitura da Bíblia. A pessoa de Cristo ficou sendo para ele a
fonte de toda a revelação. A conversão de Agostinho foi uma ruptura radical com a vida
mundana e a passagem para a vivência cristã pessoal. A vida da qual ele se despedia era a
vida formada por bens materiais, profissão, prestígio, amor matrimônio e família. A vida nova
era ascese12 para experimentar a riqueza de Deus. Para Agostinho as pessoas que destruídas
pelo pecado, eram reconduzidas ao estado original através da graça. Quem vive sob a graça
faz o bem. A vontade da pessoa natural só pode querer o mal; à vontade dominada pela graça
tem apenas a liberdade de ver tudo como o poder da graça. A redenção é no fundo, a
libertação da vontade humana, para que possa ser obediente à graça. Essa graça libertadora,
no entanto, não se destina a todas as pessoas, e sim apenas a uma pequena parcela. Esses
eleitos, predestinados à salvação segundo a livre vontade de Deus, são todos aqueles que são
destinados a serem partícipes da graça. Todos os demais, a massa perditionis, são os
condenados e como tais irremediavelmente perdidos. Há, pois, uma dupla predestinação: para
a redenção ou para a perdição. Nenhum dos condenados pode esperar graça13.
Mas, embora Agostinho tenha contribuído com sua teologia, se faz necessário ressaltar
a sua experiência no maniqueísmo que o levou a uma vida ascética.
Agostinho abraçou o chamado Maniqueísmo. Conheceu esta doutrina na cidade de
Cartago. Era uma filosofia nascida na Pérsia no século III, fundada por Mani, que a exemplo
de Cristo também foi martirizado pelos romanos. Esta filosofia ensinava que havia um
dualismo entre o bem e o mal. O mal era um princípio independente de Deus. Existem então
duas forças eternas e igualmente poderosas, o bem e o mal.14 O pensamento maniqueísta era
extremamente pessimista em relação à natureza do ser humano, influência que permanecerá
nos escritos cristãos de Agostinho, e havia também no maniqueísmo a crença numa elite
piedosa usada pela divindade do bem que se salvava, e algo parecido aparecerá na doutrina da
predestinação de Agostinho.15 No Maniqueísmo, a exemplo do gnosticismo, havia um
ascetismo rigoroso para se buscar a salvação.
No Ocidente os maniqueus se consideravam como a mais elevada forma de
cristianismo. O homem possui em sua alma uma centelha da luz divina, e a redenção consiste
em unir essa centelha a Deus. O ascetismo dentro do maniqueísmo era reservado só para os
12 Exercício espiritual que visa à prática das virtudes por meio de orações,estudo,meditação, mortificações,
penitência.
13 N., Martin Dreher. op. cit. p., 76-78.
14 OLSON, Roger. História da Teologia Cristã. 1. ed. São Paulo: Editora Vida, 2000. p., 261
15 JOHNSON, Paul. História do Cristianismo. Rio de Janeiro: Imago, 2001. p., 138
14
perfeitos. Mas, Agostinho nunca realmente se iniciou no maniqueísmo, e sempre permaneceu
apenas como ouvinte, mas o que ouvia o irá influenciar bastante.
1.2.2 - Na Idade Média
Depois que o cristianismo se impôs e permeou todo o Império Romano, o
mundanismo invadiu a igreja e fez prevalecer seus costumes. 16 Devemos observar que um
pouco antes de Agostinho, começou-se a ensinar que um estado de isolamento e solidão,
permanentemente afastado dos envolvimentos normais do ser humano, seria uma ajuda e, até
mesmo, uma necessidade, para a prática da santidade. Entretanto, a noção de que uma pessoa, caso
se isole da família, igreja, e sociedade, ganhará a liberdade para mover-se em um nível mais
profundo com Deus, é completamente equivocada. Esta idéia, ao que parece, surgiu no século IV da
era cristã quando os primeiros monges cristãos se isolaram para praticar a mortificação do corpo e as
atividades espirituais que, na época, definiam a santificação. No seu livro O Cristianismo Através
dos Séculos, Cairns, expõe as fases do monasticismo na seguinte seqüência:
No período da gradual decadência interna do império romano, o
monasticismo exerceu um forte apelo para muitos que prontamente
renunciaram a sociedade em favor do claustro. Este movimento tem sua
origem no século IV, quando leigos em número cada vez maior começaram a
se ausentar do mundo. Ao final do século VI, o monasticismo tinha fundas
raízes na igreja ocidental e oriental. Um segundo período de grandeza do
monasticismo ocorreu por ocasião das reformas monásticas dos séculos X e
XI. A era dos frades no século XIII constitui um terceiro período. O
surgimento dos jesuítas na Contra Reforma do século XVI constitui o
período final em que o monasticismo atingiu profundamente a Igreja17
.
Conforme o resumo apresentado por Cairnes estas foram as fase do monasticismo na
idade media, mas gostaríamos de nos deter em apenas dois que ira nos dar uma visão objetiva
sobre este movimento. No sexto século, período citado por Cairnes encontra se são Benedito
ou são Bento como é conhecido. Embora existam outras figuras que deram inicio ao
monasticismo. Como por exemplo, Antônio sendo o primeiro monge a viver de forma isolada
e ascética, que deixou a fazenda de sua família no Egito por volta do ano 270 e retirou-se
sozinho para o deserto a fim de encontrar a Deus.18 Mas São Bento surgi em sua época com
uma visão monástica mais limitada, quanto ao ascetismo. E que segundo Mark, ele tenha dado
a forma mais decisiva e mais benéfica.19 Influenciando de forma positiva o movimento
16 HERLBULT, José.Lyman. História da Igreja Cristã. São Paulo: Editora Vida, 1979. p., 83.
17 CAIRNS. Earle. E. O Cristianismo Através dos Séculos: Uma História da Igreja Cristã. São Paulo: Vida
Nova, 1995. p., 122.
18 NOLL, Mark A. Momentos decisivos na História do Cristianismo. São Paulo: Cultura Cristã, 2000. p., 93.
19Id.Ibid., p., 93
15
monástico pra sempre. E essa influência se deu por suas regras que foram muito importantes
para o aperfeiçoamento dos mosteiros, como por exemplo:
Disciplina um espírito Zeloso que frequentimente havia se aproximado do
fanatismo; limitar uma prática de asceticismo que facilmente descambava
para o gnosticismo, o docetismo ou coisas piores; preservar a centralidade
das Escrituras em um movimento que valorizava grandemente a iluminação
espiritual interior; colocar a oração no centro da vida Cristã; conectar uma
experiência elevada com as realidades básicas do trabalho, estudo,
alimentação e repouso; e, não menos importante, oferecer um ideal de vida
monástica no qual muitos reformadores acharam inspiração e encorajamento
durante mil e quinhentos anos.20
È fato que o movimento monástico tem a sua ênfase no ascetismo, e que foi na sua
forma embrionária uma ação contraria a imoralidade e a injustiça, pregada pela realeza. Bem
como também, que houve uma grande contribuição por parte de São Bento e suas regras, que
contribuíram de certa Maneira para a defesa da fé. Mas isso não apaga a idéia de que neste
período da Idade Média, muitas pessoas alimentavam a idéia da santidade como uma opção
pessoal por uma vida mais elevada, vivida por cristãos extremamente sérios. Tais pessoas não
tinham dúvidas de que era certo buscar a separação, aparentemente, necessária para esse tipo
de vida, renunciando o casamento, e às riquezas e tornando-se um monge, uma freira ou um
eremita, sendo assim uma pratica ascética. Esse conceito deturpado de santificação, presente
neste período, era de uma santificação obtida ou desenvolvida através da auto-flagelação do
corpo.
Lutero foi um exemplo prático destas “disciplinas”. Ele entregava-se a severas práticas
de autoflagelação, dentre elas passar vários dias jejuando, vigílias de oração mais longas que
as comumente praticadas, recusa em possuir uma porção normal de cobertores causando ao
corpo intenso frio, ou mesmo castigos deferidos contra o corpo. Citando as palavras de
Lutero, quanto a sua diligência nestas autoflagelações, assim colocou R. C. Sproul: “Fui um
bom monge, guardei as regras da minha Ordem tão estritamente, que posso dizer que se
algum monge fosse para o céu por causa disso, esse seria eu. Todos os meus irmãos no
monastério podem confirmar: Se tivesse continuado assim, teria me matado com vigílias,
orações, leituras e outras obras”21.
20 NOLL, op. cit, p. 93.
21 SPROUL, C., R.. A Santidade de Deus: A Grandeza, a Majestade e a Glória de Deus. São Paulo: Cultura
Cristã, 1997. p., 95.
16
Além das práticas já citadas, Lutero tinha como hábito à confissão diária, e procurava
em seu confessor a absolvição para seus pecados. 22 Era comum aos monges a prática de
confessarem os pecados cometidos. O sacerdote que ele confessava, Staupitz discutia
brandamente com ele, e falava-lhe do amor de Deus e que Deus não estava zangado com ele,
como Lutero supunha; mas o monge continuava desconsolado.23 "É em vão", dizia Lutero
tristemente a Staupitz, "que eu faço tantas promessas a Deus: o pecado é sempre o mais
forte". Ele fazia esforços extraordinários para reformar o seu modo de viver, e para expiar o
passado por meio de orações e penitências, e foram muitos os votos que ele fez para se abster
de pecado, mas estes esforços nunca o satisfizeram, e quebrava sempre os seus votos.24 "É em
vão", dizia Lutero tristemente a Staupitz, "que eu faço tantas promessas a Deus: o pecado é
sempre o mais forte".
Assim perdurou a angústia. A culpa que tenazmente o perseguia até o momento que
em contato com a epístola de Paulo aos Romanos, descobrindo que Deus não somente era
justo e zangado, como sempre o definia, mas que era um Deus santo, justo e acima de tudo
justificador, Lutero foi lançado ao abismo e por Deus foi salvo.
22 NICHOLS, Robert Hastings. História da Igreja Cristã. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 2000. p., 156-
157.
23 I KNIGHT, A. E. Historia do Cristianismo. CPAD, p., 131. (Disco Rígido).
24Ibid., p., 131.
17
1.3 Conceito na Reforma Protestante
Grandes reformas doutrinárias foram introduzidas. Foram sustentadas todas as doutrinas
da trindade, a deidade e ressurreição de Cristo, a Bíblia como única revelação de Deus, a
queda do homem, o pecado original e a necessidade de uma vida moral para o cristão. Os
protestantes eram unânimes em torno da salvação pela fé somente, da autoridade exclusiva da
Bíblia como única regra infalível de fé e prática e o sacerdócio universal de todos os crentes.
Um aspecto de grande importância provocado pela Reforma foi a, renovação da exposição
Bíblica. Lutero brilhou como excelente expositor Bíblico. Calvino dedicou muito de seu
tempo à pregação e ao ensino da Palavra.
Essa renovação levou os reformadores reagiram contra a tradição da igreja medieval de
que defendia um esforço externo por ganhar mérito, ou seja, que a santificação seria obtida
pela obras, conforme afirma o Catecismos da Igreja Católica: O trabalho humano procede
imediatamente das pessoas criadas à imagem de Deus e chamadas a prolongar, ajudando-se
mutuamente, a obra da criação, dominando a terra. O trabalho pode ser um meio de
santificação e uma animação das realidades terrestres no Espírito de Cristo.25 Mas os
reformadores afirmavam que a santificação, em vez de ser egocêntrica, é excêntrica, orientada
para glória de Deus e o bem do próximo.26 Os reformadores, não a consideravam como algo
sobrenaturalmente infuso no homem pelos sacramentos, mas, uma obra sobrenatural e
graciosa operada pelo Espírito Santo. Ao ensinarem acerca das doutrinas da justificação e
santificação, os reformadores fizeram clara distinção entre uma e outra. A justificação era
vista por eles como um ato legal da graça divina, e a santificação como sendo uma obra
moral ou recriadora, que muda a natureza interior do homem. Eles não se detinham
apenas na diferenciação ou na cuidadosa distinção entre as duas doutrinas, mas também
explicitaram a conexão que há entre elas. Visto que a justificação se dá por meio da fé,
mas a fé que justifica se segue à santificação. Deus envia o Espírito do Seu Filho aos
corações dos eleitos que, sendo justificados por intermédio desse mesmo Espírito, são
também santificados. Vejamos como Grudem apresenta a diferença entre justificação e
santificação.
JUSTIFICAÇÃO SANTIFICAÇÃO
Posição legal Condição interna
De uma vez por todas Continua por toda a vida
25 RATZINGER, Joseph. Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Editora Loyola, 2000. p., 627
26 SMITH, William S. A História das Doutrinas. Minas Gerais: Editora Ceibel, 1981. p., 148.
18
Obra inteiramente de Deus Nós cooperamos
Perfeita nesta vida Não perfeita nesta vida
A mesma em todos os cristãos Maior em alguns do que em outros.
Como esta lista indica, a santificação é algo que continua por toda a nossa vida cristã.
O curso normal da vida do cristão envolve contínuo crescimento na santificação, e essa é uma
questão para o qual o Novo Testamento nos encoraja a dar atenção e por ele demonstrar
zelo.27 A santificação, no Catecismo de Westminster, é definida como sendo “a obra da livre
graça de Deus, pela qual somos renovados em todo o nosso ser, segundo a imagem de Deus, e
habilitados a morrer mais e mais para o pecado e a viver para justiça”.
Em conformidade com essa definição, a justificação difere da santificação: (1.) Em
que a primeira é um ato transitório e a segunda, uma obra progressiva. (2.) A justificação é
um ato forense,28 agindo Deus como juiz, declarando satisfeita a justiça relativa ao pecador
crente, enquanto a santificação é um efeito devido à eficácia divina. (3.) A justificação
modifica ou declara modificada a relação do pecador com a justiça de Deus; a santificação
envolve a mudança de caráter. (4.) A primeira, portanto, é objetiva; e a segunda, subjetiva.
(5.) A primeira baseia-se no que Cristo fez por nós; a segunda, no efeito do que ela faz em
nós. (6.) A justificação é completa e igual em todos; enquanto a santificação é progressiva, e é
mais completa em alguns do que em noutros.
Da santificação declara-se que é uma obra da livre graça de Deus. Duas coisas estão aí
incluídas. Primeiro que o poder ou a influência mediante a qual ela é concretizada é
supernatural. Segundo, que a concessão desta influência a qualquer pecador, a um pecador ao
em vez de outro, e a um mais do que a outro, é questão de favor. Ninguém tem pessoalmente,
nem a si próprio, com base em algo que porventura tenha feito, o direito de reivindicar esta
influência como uma recompensa justa, nem como questão de justiça. 29
O bispo anglicano J. C. Ryle, em seu livro Santidade coloca com muita clareza a
conexão e a distinção entre justificação e santificação. Para Ryle, a justificação e a
santificação se a semelham nos seguintes pontos: Tanto a justificação como a santificação,
procede da graça de Deus, ambas fazem parte da grandiosa obra de salvação que Jesus Cristo
realizou em favor de seu povo. Aqueles que são justificados também são sempre santificados.
Tanto a justificação como a santificação, começam no mesmo tempo, no momento em que um
27 GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999. p., 622-623.
28 “Forense”, adj.2g. Relativo ao foro Judicial ou aos tribunais.
29 HODGE, Charles. Teologia sistemática. São Paulo: Hagnos, 2001. Resumo da, p., 1182.
19
eleito começa a ser um crente justificado, começa a ser um crente santificado, ambas são
igualmente necessárias à salvação30.
Ryle apresenta também a distinção entre justificação e santificação, fazendo as
seguintes considerações: A justificação é quando Deus declara que um homem é justo, com
base nos méritos de Cristo. A santificação é o desenvolvimento progressivo da justiça no
interior do homem. A retidão que o homem recebe pela justificação não é sua própria, mas é a
perfeita e eterna retidão de Cristo, atribuída ao homem apenas pela fé, ao passo que a retidão
que o homem tem por meio da santificação é a sua própria retidão, inerente, em nós, operada
pelo Espírito Santo, embora com grande imperfeição. Na justificação as obras humanas não
fazem à menor diferença, na santificação as obras têm grande importância. A justificação é
uma obra terminada e completa no eleito, a partir do momento em que crê. No entanto, a
santificação é uma obra imperfeita, comparativamente falando; jamais será completa enquanto
não chegarmos ao céu. A justificação não admite qualquer desenvolvimento. A santificação
tem natureza progressiva permitindo um crescimento enquanto o crente estiver vivo. A
justificação tem referencia a nossa posição, à nossa libertação da culpa. Ao passo que a
santificação está relacionada à nossa natureza e a renovação moral dos nossos corações. A
justificação nos confere o direito de ir para o céu. A santificação nos tornar adequados para
morar no céu. 31 Ryle desenvolveu estas idéias acerca da doutrina da santificação, partindo de
um sério e profundo estudo das Escrituras, com a finalidade de que o povo de Deus fosse
instruído e edificado nas verdades bíblicas, e a assim rejeitassem todo falso ensino das
Escrituras.
Em oposição a esse pensamento reformado encontra-se o perfeccionismo de John
Wesley, que foi um dos maiores pregadores desta doutrina, dizia que: “A perfeição consiste
em amar a Deus de todo o coração, mente, alma e força. Isso implica que nenhum
temperamento forte, nada contrário ao amor, permanece na alma; e que todos os pensamentos,
palavras e ações são governados pelo amor”.32 Portanto, para John Wesley uma vez que o
crente ama a Deus, esse amor o impulsiona a prestar perfeita obediência a ele. Sendo assim, a
perfeita santificação não só deve ser buscada como também atingida pelo crente.
Ainda John Wesley, para defender o perfeccionismo, também dizia que a perfeição é:
“Morte total para o pecado e total renovação à imagem de Deus... no momento ‘da
30 RYLE, J. C. Santidade Sem a Qual Ninguém verá o Senhor. São Paulo: Editora Fiel, 1987. Resumo p., 53-
54.
31Ibid., p., 54.
32HODGE, op. cit. p.,1212.
20
santificação plena’, todo pecado interior é retirado”.33Ele também dizia que: “Alguns deslizes
e transgressões precisam de expiação; mas não são pecados. Eu não lhes dou o nome de
pecado”.34 Sendo assim, o homem pode guardar perfeitamente a lei, pois, ela não é a lei moral
original, mas uma lei apropriada ao seu estado debilitado depois da queda, chamada de a lei
de Cristo.
De fato, a teoria perfeccionista, não tem base bíblica nenhuma. Os próprios santos, que
Deus levantou para trabalharem no seu reino, assumiram que apesar de regenerados ainda
eram pecadores e por isso não chegariam à perfeita santidade nesta vida. Archibald Alexander
Hodge nos diz que as biografias e testemunhos registrados de todos os santos da Escritura
impossibilitam atribuir perfeição impecável a qualquer um deles.35 Nesta mesma linha de
pensamento, John Charles Ryle nos diz da seguinte forma:
Qual santo pode ser citado, dentro da Palavra de Deus, de cuja vida muitos
detalhes foram registrados, que tenha sido absoluta e literalmente perfeito?
Qual dentre eles, ao escrever sobre si mesmo, falou em sentir-se isento de
imperfeições? Pelo contrário, homens como Davi, Paulo e João declaram, na
linguagem mais vigorosa, que eles sentiam em seus próprios corações
debilidade e pecado.36
Em concordância com esse pensamento Charles Hodge ao falar sobre o
perfeccionismo, diz que, realmente, Deus, de maneira maravilhosa, fez provisão, em Cristo,
para a completa salvação de seu povo, ou seja, para total libertação deles da culpa e do
domínio do pecado. Todavia, isso não significa que nesta vida o povo chegará à total
santificação, pois o próprio Deus não promete isso.37
Verdadeiramente, os reformados, enfatizam a necessidade diária, contínua que o servo
do Senhor tem de se entregar mais e mais ao Senhor. Levando a sério a luta da carne contra o
Espírito, do velho homem com o novo homem, e de seguir a vocação que o Senhor lhe deu de
se despojar do velho homem e de se revestir do novo homem.
Sendo assim, concluímos esta parte do trabalho, afirmando que o conceito reformado,
ao contrário dos demais conceitos, apresenta a doutrina da santificação como qualquer
doutrina deve ser apresentada, ou seja, com fundamentos bíblicos. Por isso, o conceito
reformado também defende que a busca da santificação evidencia uma conversão genuína. E
sem conversão não há salvação.
33ANTHONY, Hoekema. Salvos Pela Graça. 2. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2002. p., 210.
34David S. Clark. Compêndio de Teologia Sistemática. 2. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 1988. p., 367.
35HODGE,Archibald Alexander. Esboço de Teologia. 1. ed. São Paulo: Editora PES, 2001. p., 746-747.
36RYLE, op. cit, p.,11.
37HODGE, Charles. op. cit, p., 1205-1206.
21
II- ASPECTOS TEOLOGICOS DA SANTIFICAÇÃO
2.1 Ela é Exclusiva dos Regenerados
Para que se possa afirma que a santificação é exclusiva dos regenerados, primeiro se
faz necessário explicar de forma sucinta o conceito de regeneração na perspectiva reformada e
a sua relação com a santificação, sem nos deter muito sobre o assunto. Propondo assim um
entendimento sobre a santificação no novo homem regenerado, transformado pelo Espírito
Santo de Deus e por sua palavra. Portanto veremos primeiro há semelhança e a diferença entre
as duas.
“A santificação é a obra da livre graça de Deus, pela qual somos renovados em todo o
nosso ser, segundo a imagem de Deus, e habilitados a morrer cada vez mais para o pecado e a
viver para a retidão”38. É uma mudança contínua operada por Deus em nós, livrando-nos dos
hábitos pecaminosos e formando em nós afeições, disposições e virtudes semelhantes às de
Cristo. É uma real transformação, não mera aparência. Essa renovação moral ocorre pela ação
do Espírito que habita em nós (1Co 6.9-11,19-20; Ef 4.17-24). Deus chama seus filhos para a
santidade e, graciosamente, lhes dá o que Ele mesmo exige (1Ts 4.4, 5.22-23).
Regeneração é nascimento; santificação é crescimento que necessariamente resulta
dele. Na regeneração, Deus implanta em nós desejos que antes não tínhamos (desejo por
Deus, pela santidade, de glorificar o nome de Deus, orar, cultuar, fazer bem aos outros). Na
santificação, o Espírito “efetua em nós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa
vontade”, que capacita o seu povo para cumprir seus novos e santos desejos (Fp 2.12-13). Os
cristãos se tornam crescentemente semelhantes a Cristo, quando o perfil moral de Jesus (o
“fruto do Espírito”) é progressivamente formado neles (2 Co 3.18, Gl 5.22-25).
A regeneração é um ato instantâneo, que leva a pessoa da morte espiritual para a vida;
é obra exclusiva de Deus. A santificação é um processo constante, que depende da ação
contínua de Deus no crente, e consiste na contínua luta do crente contra o pecado. O método
de santificação usado por Deus não é ativismo, nem apatia, mas esforço humano dependente
de Deus (Fp 3.8-14). Sabendo que: (1) sem a capacitação dada por Cristo não podemos fazer
boas obras e (2) que Ele está pronto a fortalecer-nos em tudo o que devemos fazer (Fp 4.13),
“permanecemos em Cristo”, pedindo e recebendo Seu auxílio (Cl 1.11, 2 Tm 2.1). Cristo é o
supremo padrão (1Pd 2.21).
38 Breve Catecismo de Westminster, pergunta. 35.
22
Anthony Hoekema ao falar sobre a regeneração diz que a mesma é um novo
nascimento: “regeneração é uma mudança radical da morte espiritual para a vida espiritual,
operada pelo Espírito Santo — Uma transformação na qual somos completamente passivos.
Essa mudança envolve uma transformação interna de nossa natureza, é fruto da graça
soberana de Deus, e ocorre na união com Cristo.” 39
Para tanto, Luiz Berkof faz uma comparação da santificação com a regeneração, ao
considera a regeneração parte do estagio da obra da salvação. Ao comenta sobre o assunto
diz:
A regeneração é completada de uma vez, pois o homem não pode ser mais
ou menos regenerado; está vivo ou morto espiritualmente. A santificação é
um processo que produz mudanças graduais, de sorte que é possível
distinguir diferentes graus da santidade resultante. Daí, somos admoestados a
aperfeiçoar a santidade, no temor do Senhor, 2 Co 7.1. O Catecismo de
Heidelberg também pressupõe a existência de graus de santidade, quando
declara que, mesmo “os homens mais santos, nesta existência, têm apenas
um pequeno princípio desta obediência”. Ao mesmo tempo, a regeneração é
o princípio da santificação. A obra de renovação, iniciada naquela, tem
prosseguimento nesta, Fp 1.6. Diz Strong: “Ela (a santificação) se distingue
da regeneração como o crescimento se distingue do nascimento, ou como o
fortalecimento de uma santa disposição se distingue da comunicação original
dela”.40
Como se pode observar a obra da salvação tem seu inicio na regeneração e prossegue
na santificação. Pois a regeneração que é uma obra definitiva, e a santificação pode ser
definitiva (posicional) e progressiva. Definitiva porque é obra do Espírito Santo.
Como comenta A CFW:
Os que são eficazmente chamados e regenerados, tendo criado em si um
novo coração e um novo espírito, são, além disso, santificados real e
pessoalmente pela virtude da morte e ressurreição de Cristo, pela sua palavra
e pelo seu Espírito, que neles habita; o domínio do corpo do pecado neles
todo destruído, as suas várias concupiscências são mais e mais enfraquecidas
e mortificadas, e eles são mais e mais vivificados e fortalecidos em todas as
graças salvadoras, para a prática da verdadeira santidade, sem a qual
ninguém verá a Deus.41
Como podemos observa Deus santifica os pecadores de uma vez e para sempre de uma
vez por todas os que são chamados eficazmente por Deus por meio de Jesus Cristo para Si,
separando-os do mundo, livrando-os de Satanás e do pecado, e recebendo-os em seu
39 HOEKEMA, Anthony A. salvos Pela Graça. op. cit, p., 107.
40BERKOF, Luis. Teologia Sistemática. p., 536. ( Disco Rígido)
41 WESTMINSTER, Cp. XIII, I.
23
companheirismo.42Para Packer esse acontecimento é passado, pois uma vez santificado
permanece sendo santo em virtude da ação santificadora de Cristo na cruz (1Co 1.2). E por
conta disso os crentes não devem “ter vidas santas a fim de se tornarem santos; ao invés disso,
ensinar que os crentes, por serem santos, devem viver vidas santas!43
Portanto conforme as definições acima e a sua relação, prosseguiremos agora na busca
de um entendimento sobre a santificação no novo homem regenerado transformado pelo
Espírito Santo de Deus e por sua palavra. Portanto veremos a ação da santificação na vida do
regenerado. Afirmando que ela.
2.1.1- Afeta o Homem Todo
Ao falar sobre a verdade de que a santificação afeta o homem todo, John Murray nos
diz que: a santificação envolve a concentração do pensamento, do interesse, do coração,
mente vontade e propósito, em direção à soberana vocação de Deus em Cristo Jesus e ao
desempenho da totalidade de nosso ser no uso daqueles meios que Deus instituiu com o fim
de atingir essa destinação.44
Conforme Berkhof: “... a santificação ocorre na vida interior do homem, no coração, e
este não pode ser mudado sem se mudar todo organismo do homem”.45
Realmente, a santificação afeta o homem todo. Ou seja, o intelecto, as emoções, o
espírito e o corpo físico de uma pessoa.
Augustus Hopkins Strong diz que a operação de Deus na santificação do regenerado é
tanto em sua vida prática quanto em seu intelecto.46 Verdadeiramente, percebemos que a
santificação afeta o intelecto de uma pessoa quando Paulo diz que os regenerados são
revestidos do novo homem “que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem
daquele que o criou” (Colossenses 3:10). A santificação do intelecto de uma pessoa
envolverá crescimento em sabedoria e conhecimento à medida que ela leva “cativo todo
pensamento à obediência de Cristo” (2Coríntios 10:5), constatando assim que seu
pensamento é cada vez mais os pensamentos que o próprio Deus a concede pela sua palavra.
Além disso, a santificação afetará as emoções de uma pessoa. Ou seja, sentimentos
como “amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão,
42 PACKER, J.I. Vocábulos de Deus. 1. ed.São Paulo: Editora Fiel, 2002. p. 162.
43 Id. Ibid., P. 163.
44MUNRRAY, John. Redenção Consumada e Aplicada. 1. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 1993. p., 166.
45BERKHOF, Louis, op. cit. p.,537. (Dísco Rígido)
46STRONG, Augustus Hopkins. Sysematic Theology. 1th. ed. Old Tappan, New Jersey, USA: Editors. Revel,
1979. p., 871.
24
domínio próprio” (Gálatas 5:22-23) vão estar gradualmente mais constantes na vida da pessoa
regenerada. Cada vez mais a pessoa, que está no processo de santificação, será capaz de
obedecer de coração a Deus (Romanos 6:17) e, então, descartará as emoções negativas
associadas a “amargura, e cólera, e ira, e gritarias, e blasfêmias e bem assim toda malícia”
(Efésios 4:31).
Também, a santificação terá um efeito sobre a vontade de uma pessoa. Como diz as
Escrituras, todos, sem exceção, se desviam para seu próprio caminho, seguem sua própria
vontade (Isaías 53:6). Enquanto nossa vontade não for controlada por Deus, ela continuará
negligenciando os mandatos de Deus. Assim, à medida que ela cresce na sua santificação, ela
também terá sua vontade mais moldada à vontade de Deus. Pois, “... Deus é quem efetua em
vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade” (Filipenses 2:13).
A santificação também afetará nosso espírito, ou seja, a parte não física do nosso ser.
Portanto, uma pessoa regenerada deve purificar-se “de toda impureza, tanto da carne como
do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus” (2Coríntios 7:1). O apóstolo
Paulo diz que a preocupação com as coisas do Senhor significa dar atenção a como ser santo
“assim no corpo como no espírito” (1Coríntios 7:34).
Por fim, a santificação também afeta o corpo de uma pessoa regenerada. Como nossos
corpos são partes integrantes de nossa pessoa, seus instintos e apetites agem imediatamente
sobre os sentimentos de nossa alma; e daí devem manter o sujeito sob o controle da vontade
santificada, e todos os membros do corpo, como órgão da alma, feitos instrumentos da justiça
para Deus (Romanos 6:13; 1 Tessalonicenses 4:4). Herman Ridderbos nos diz que a
santificação, a nova vida de uma pessoa é em toda sua constituição, inclusive em seu corpo.47
Archibald Alexander Hodge nos explica em que sentido é santificado o corpo:
1°. Como Consagrado: (1) por ser templo do Espírito Santo, 1Cor. 6:19; (2)
por ser membro de Cristo – 1 Cor. 6:15. 2°. Como santificado: sendo o corpo
parte integrante da nossa pessoa, seus instintos e apetites operam
imediatamente sobre as paixões da alma, e, por isso, é necessário que os
sujeitemos à direção da alma santificada e que façamos de todos os
membros, como órgãos da alma, instrumentos de justiça para Deus – Rom.
6:13; 1Tess. 4:4.
3°Nossos corpos hão de tornar-se semelhantes ao corpo glorificado de Cristo
– 1Cor. 15:44; Fil. 3:21.48
Portanto, o corpo de uma pessoa regenerada não deve ser impensadamente vítima de
maus tratos, mas deve tornar-se útil e capaz de reagir à vontade de Deus: “Acaso, não sabeis
47RIDDERBOS, Herman. A Teologia do Apóstolo Paulo. 1. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2004. p., 292.
48HODGE, Archibald Alexander. op.cit, p.,729.
25
que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de
Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço. Agora, pois,
glorificai a Deus no vosso corpo” (1Coríntios 6:19-20).
Não seria correto terminar sem observar que a santificação traz alegria ao regenerado.
Quanto mais ele cresce conforme a semelhança de Cristo, experimentara tanto mais a
“alegria” e a “paz” que são parte do fruto do Espírito Santo (Gl. 5:22) para aproximar-se do
tipo de vida que se espera no céu. Paulo diz que à medida que nos tornamos cada vez mais
obedientes a Deus, temos nosso “fruto para a santificação e, por fim a vida eterna” (Rm.
6:22). Ele entende ser essa a fonte da nossa verdadeira alegria. “Porque o reino de Deus não é
comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (Rm. 14:17). À medida
que crescemos em santidade, crescemos em conformidade à imagem de Cristo, e cada vez
mais a beleza de seu caráter é vista em nossa própria vida. Essa é a meta da perfeita
santificação que esperamos e almejamos, e que será nossa quando Cristo retornar. “E a si
mesmo purifica todo o que nele tem esperança, assim como ele é puro” (1Jo. 3:3). 49
Portanto a santificação é uma experiência exclusiva dos regenerados, pois somente os
regenerados podem ser santificados e se santificar. Pois a santificação conforme Vincet
Cheung afirma que, é definitiva refere-se à quebra instantânea e decisiva do domínio do
pecado no crente recém-convertido, quando ele chega à fé em Cristo. Deus o consagra e o
separa do mundo.50
2.2 É uma Experiência Sem a Qual Ninguém Verá a Deus.
Para este ponto tentaremos desenvolver o aspecto posicional e progressivo da
santificação no homem na perspectiva reformada. Mas antes observaremos a relação entre a
justificação sendo um ato de uma vez para sempre, e Santificação sendo tanto um ato
(instantâneo, posicional, judicial, legal, de Deus) quanto também como um processo
(perseverante e progressivo, experiencial). Vejamos:
Na aliança da graça a justificação precede a santificação e lhe é básica. Na aliança das
obras a ordem da justiça e da santidade é precisamente o inverso.
Adão foi criado com uma santa disposição e inclinação para servir a Deus, mas, com
base nesta santidade, ele tinha que se sair bem na prática da justiça para ter direito à vida
eterna. A justificação é à base judicial da santificação. Deus tem o direito de exigir de nós à
49 GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. 1. ed. São Paulo: Vida Nova. 1994, p., 631-633.
50 CHENUG, Vincent. Teologia Sistemática. (Disco Rígido), p.,190.
26
santidade no viver, mas, uma vez que não podemos ter bom êxito com esta santidade por nós
mesmos, ele gratuitamente a produz em nós, por intermédio do Espírito Santo, com base na
justiça de Jesus Cristo, que nos é imputada na justificação. O próprio fato de que ela se baseia
na justificação, na qual a livre graça de Deus sobressai com a máxima proeminência, exclui a
idéia de que alguma vez possamos merecer alguma coisa na santificação. A idéia Católica
Romana de que a justificação habilita o homem para praticar obras meritórias é contrária a
Escritura.
A justificação, como tal, não efetua mudança em nosso ser interior e, portanto,
necessita da santificação como seu complemento. Não basta que o pecador tenha a posição de
justo diante de Deus; é preciso também que ele seja santo em sua vida interior. Barth tem uma
descrição bem incomum da relação entre justificação e a santificação. Com o fim de evitar
toda justiça própria, ele insiste em que as duas sejam sempre consideradas juntamente. Elas
andam juntas e não devem ser consideradas quantitativamente, como se uma segui-se a outra.
A justificação não é um posto pelo qual a gente passa um fato realizado em cuja base
logo parte para a estrada principal da santificação. Não é um fato consumado que se possa ver
olhando para trás com definida segurança, mas ocorre sempre de novo, toda vez que o homem
chega ao ponto de completo desespero, e então vai de mãos dadas com a santificação. E,
exatamente como o homem continua sendo pecador depois da justificação, assim continua
sendo pecador na santificação; mesmo as suas melhores ações continuam sendo pecado.
A santificação não gera uma disposição santa, e não purifica gradativamente o homem.
Não lhe dá posse de alguma santidade pessoal, não faz dele um santo, mas o deixa pecador. A
santificação passa a ser realmente um ato declarativo, como a justificação. McConnachie,
intérprete de Barth que o vê com muita simpatia, diz: “Portanto, para Barth a justificação e a
santificação são duas faces de um ato de Deus sobre os homens. A justificação é o perdão do
pecador, pelo qual Deus declara justo o pecador. A santificação é a do pecador (santificatio
impii), pela qual Deus declara ‘santo’ o pecador”. Por mais louvável que seja o desejo de
Barth de destruir todo prestígio de justiça das obras, certamente ele vai a um extremo
destruído de fundamento, no qual virtualmente confunde a justificação com a santificação,
nega a vida cristã e elimina a possibilidade de confiante segurança.
A fé é a causa mediata ou instrumental da santificação, como também da justificação.
Não merece a santificação, como tampouco a justificação, mas nos une a Cristo e nos mantém
em contato com Aquele que é a Cabeça da nova humanidade, a fonte da nova vida em nós, e
também da nossa progressiva santificação, através da operação do Espírito Santo.
27
A consciência do fato de que a santificação se baseia na justificação e de que é
impossível sobre qualquer outra base, e de que o constante exercício da fé é necessário para
haver avanço no caminho da santidade, nos protegerá de toda justiça própria em nossa luta
para progredir na vida piedosa e na santidade em nosso viver. Merece particular atenção aqui
o fato de que, enquanto é proporcional ao vigor da fé cristã e á persistência com que se apega
a Cristo51
Por fim a santificação deve ser diferenciada da justificação. A justificação consiste de
uma absolvição divina que é totalmente realizada de uma vez por todas. Não sendo
desenvolvida nem aumentada como a santificação que tem a sua origem na regeneração, e que
exige nutrição para desenvolver-se até alcançar o ápice somente quando for revelada com
Cristo.
Quanto ao aspecto progressivo podemos observar que no Antigo Testamento (AT),
Deus ordenou a Moisés e ao povo de Israel que todos fossem santos: “Santo sereis, porque eu,
o Senhor vosso Deus, sou Santo” (Lv 19. 2). Por sua vez, o Apóstolo Pedro no Novo
Testamento (NT), abordando o assunto santificação progressiva afirma que: “Mas, como é
Santo aquele que vos chamou sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver;
Porquanto está escrito: Sede santos, porque eu sou santo”(1Pe 1.15, 16).
Quanto a essa Santificação o Catecismo maior diz:
Sendo a Santificação uma obra da graça de Deus, pela qual, os que Deus
escolheu antes da fundação do mundo, para serem santos, são nesta vida pela
poderosa operação de Seu Espírito e pela aplicação da morte e ressurreição
de Cristo plenamente renovados, segundo a imagem de Deus, tendo as
sementes do arrependimento que conduz á vida, e de todas as outras graças
salvíficas implantadas e fortalecidas. Assim eles morrem cada vez mais para
o pecado e ressuscitam para a novidade de vida.52
Dentro desta perspectiva progressiva o apóstolo Paulo destaca: “Ora, amados, pois que
temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do espírito,
aperfeiçoando a santificação no temor de Deus” (2Co 7.1). Entendendo-se assim, que o
homem deve manter-se puro, sendo um processo contínuo e crescente.
João Calvino, o Reformador de Genebra, em sua obra, As Institutas da Religião
Cristã comenta que: a santificação é a mortificação da própria vontade.53
Que seria uma vida
de renúncia. Ele ainda declara no seu comentário sobre a santificação da igreja, afirmando que
51 BERKHOF, Louis. Op. Cit. p., 492-494. (Disco Rígido)
52 MARRA, Cláudio A. B.O Catecismo Maior de Westminster. São Paulo: Cultura Cristã série Símbolos de
Fé. Pergunta nº 75
53 CALVINO, João. Institutas ou Tratado das Religiões. Editora Cultura Cristã. Cp VIII, p., 155. (Disco
Rígido)
28
ela é progressiva. Onde o mesmo diz que enquanto o Cristão (Igreja) estiver aqui será santo,
porém, ainda imperfeito:
Entretanto, também nada é menos verdadeiro que isto: que o Senhor opera
diariamente para desfazer as rugas e apagar as manchas. Do quê se segue
que sua santidade ainda não está plenamente consumada. Portanto, assim é
santa a Igreja: visto que avança diariamente, ainda não é perfeita, está
fazendo progresso diariamente, contudo ainda não chegou à meta de
santidade.54
Por sua vez, A CFW afirma que:
Os que são eficazmente chamados e regenerados, tendo criado em si um
novo coração e um novo espírito, são, além disso, santificados real e
pessoalmente pela virtude da morte e ressurreição de Cristo, pela sua palavra
e pelo seu Espírito, que neles habita; o domínio do corpo do pecado neles
todo destruído, as suas várias concupiscências são mais e mais enfraquecidas
e mortificadas, e eles são mais e mais vivificados e fortalecidos em todas as
graças salvadoras, para a prática da verdadeira santidade, sem a qual
ninguém verá a Deus.55
Neste processo de santificação além de Deus nos santificar conforme pôde ser visto, o
homem também na sua vida prática, sendo fortalecido pelo Espírito, é estimulado por ele para
a prática da santidade, que é na verdade crescer em graça, em meio às guerras contra a sua
própria natureza pecaminosa. A CFW ainda afirma:
Esta santificação é no homem todo, porém imperfeita nesta vida; ainda
persistem em todas as partes dele restos da corrupção, e daí nasce uma
guerra contínua e irreconciliável a carne lutando contra o espírito e o espírito
contra a carne. 1Ts 5:23; 1Jo 1:10; Fp 3:12; Gl 5:17; 1Pd 2:11.56
Ao contrário do que afirma a Confissão de Fé e a Teologia Reformada, John Wesley,
um expoente do movimento perfeccionista, afirma e reafirma a possibilidade de perfeição na
presente dimensão ao afirmar que: “(...) Um homem perfeito é limpo de toda impureza, tanto
da carne como do espírito (...) em quem não há tropeço e que, assim, não comete pecado.”57
Hermann Banvink comenta que os regenerados não são imediatamente aperfeiçoados
e, de fato, eles não alcançam a perfeição nessa vida.58
No meio teológico reformado contemporâneo, encontra-se Francis A. Schaeffer, que
54 Id. Ibid., Livro IV. Cap. I p. 42.
55 WESTMINSTER, op.cit. Cp. XIII, I
56 Ibid. Cp, XIII. II
57 WESLEY, John. Explicação Clara da Perfeição Cristã. Recife: Imprensa Metodista,1984. p., 36.
58 BANVIK, Hermann. Teologia Sistemática. São Paulo: Editora SOCEP, 2001. p., 538.
29
ao tratar sobre a salvação passada, presente e futura afirma que: “a justificação é de uma vez
por todas; a santificação é contínua, desde nossa aceitação de Cristo até o ponto da nossa
morte.”59 Enfatizando assim a progressividade da santificação no homem na salvação, ao
contrário de Wesley que crer em uma perfeição ainda nesta vida.
Anthony Hoekema, em concordância com o pensamento reformado sobre o assunto
em pauta afirma que:
A Santificação, porém, também envolve nossa participação responsável.
Para tanto, Paulo diz aos membros da igreja de Corinto, chamados noutra
epistola de santificados em Jesus Cristo. Tendo, pois ó amados, tais
promessas, purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne, como do
espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus. (2ª Co 7.1).60
Depois de definirmos a relação da Justificação com a santificação, e sua posição,
Afirmando que ela é também progressiva. Tentaremos agora conforme o tema sugerido, que
tem como base o texto de Hb 12.14 “Seguir a paz com todos e a santificação, sem a qual
ninguém verá o Senhor” Fazer uma abordagem teológica exegética do texto quanto à
santificação posicional e progressiva.
No texto em analise encontra-se o verbo diw,kete “seguir” que esta na segunda
pessoa do plural no tempo presente ativo imperativo. E que seria uma exortação aos leitores a
continuarem ativamente na busca pela Eivrh,nhn “paz”. O verbo “seguir” poderia ser
traduzido também como “perseguir” “pressionar”, “correr” após”, “esforça-se por” no sentido
de insistência esforço, pois conforme a ação do verbo sendo uma ação presente e ativa nos
leva a entender como algo continuo. Champlin argumenta que esta palavra era usada
figuradamente, indicando uma busca moral e espiritual bem definida, ou indicando um alvo
ou uma realização espiritual que é buscada. (Ver Rom. 9:30, 31; 12:13; I Cor. 14:1 ; Fil. 3:12,
14; I Tes. 5:15 ; I Tim. 6:11 e II Tim. 2:22).61
Temos Então, uma ordem aos irmãos no texto por meio de um imperativo diw,kete
“perseguir” que seria uma ordem aos irmãos perseguirem a paz, ou seja, continue perseguindo
o alvo, isto é, a paz. Na verdade seria sem descanso até alcançar essa paz, mas com todos,
conforme o autor diz: “seguir a paz com todos” não só com os irmãos, mas com todos sem
exceção. É interessante também observar que o verbo diw,kete “seguir” esta enfatizando
a idéia de que o substantivo masculino acusativo a`giasmo,n “santificação” seja o
59 SCHAEFFER, A. Francis. Verdadeira Espiritualidade.1. ed,. São Paulo: Editora Cultura Cristã. 1999, p., 98.
60 HOEKEMA, Anthony. Salvos Pela Graça: A Doutrina Bíblica da Salvação. 1. ed. São Paulo: Cultura
Cristã. 1997, p., 207. (Grifo meu).
61 CHAMPLIN, Russel Norman, PhD. D. Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. 1. ed. São
Paulo. Editora Milenium. 1979, p., 647.
30
objeto direto do verbo principal, por ser precedido pelo artigo definido, expressando assim o
processo de santificação, não o estado ou fato da santificação. Substantivos terminados em
mo,j descrevem ação.62 Levando a entender que deve ser perseguido ou buscado com
esforço, e como também a conjunção aditiva kai. “e” que liga a oração “seguir a paz com
todos e a santificação.”
Temos ainda uma preposição genitiva cwri.j “sem” e que quando se trata do caso
genitivo é geralmente usado para indicar que uma coisa está intimamente relacionada com
outra (normalmente pertencendo ou sendo possuída pela outra). 63 Entendendo assim que
existe uma relação entre a paz e a santificação, ou seja, uma depende da outra.
O verbo o;yetai “verá” esta no futuro do indicativo médio, o modo indicativo
indica um fato, sendo o modo da afirmação. Apresenta ação ou estado como algo real, fato.64
Indicando que seria impossível sem a santificação ver ao ku,rion “Senhor”
Portanto, após fazermos uma analise exegética percebemos que a santificação expressa
no texto analisado, se trata de uma santificação progressiva no sentido de que ela deve ser
perseguida por todos aqueles que foram eleitos por Cristo antes da fundação do mundo. E se
empenhando em confirmar seu chamado e eleição (Ef 1.4; 2Pe 1.10). Compreendendo assim
que foram santificados pelo sacrifício de Cristo e devem diw,kete “seguir” a santificação
como uma ordem de Deus para os seus filhos. De seguirem essa santificação cwri.j “sem”
a qual ninguém o;yetai “verá” a Deus. Entendendo assim que existe uma relação entre a
paz e a santificação, ou seja, uma depende da outra. Como também observando no texto o
aspecto posicional da santificação em que ela é fundamental por ser uma ação de Deus, e
necessária por ter o esforço do cristão neste processo progressivo, ou seja, durante toda a vida,
até chegar à presença de Deus. Como o texto mesmo diz, “Sem a qual ninguém verá a Deus”
Pois só verá a Deus os puros de coração, os que foram santificados por ele (posicional) ou que
estão sendo santificados, conforme diz o texto de Hb 10.14-22, sendo uma ação realizada por
Deus, onde nos somos passivos nesta santificação posicional. Mas na progressiva nos somos
ativos, como diz o verso 22 onde encontramos o verbo prosercw,meqa na voz media
depoente onde as formas depoente média ou passiva em quase todos os casos são traduzidas
como voz ativa. Ativa indicando que também neste aspecto a santificação é progressiva.
Percebendo assim que, devemos perseguir a santificação que por sua vez foi realizada de
62KISTEMAKER, Simon. J. Comentário do Novo Testamento de Hebreus. São Paulo: Cultura Cristã, 2006.
p., 546.
63JOHN, H. Dobson.Aprenda o Grego do Novo Testamento. (Disco Rígido), p., 293
64 PINTO, Carlos Osvaldo Cardoso. Fundamentos para exegese do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova,
2002. p., 29
31
forma definitiva (monergistica) em nossas vidas, para alcançarmos a perfeição em Cristo
Jesus. Sendo assim uma experiência sem a qual ninguém verá a Deus, pois para se chegar a
Deus e não ser consumido pela sua ira, só mesmo sendo santo. Assim como os sacerdotes
precisavam se santificar para entrar no santo dos santos, nós também para chegarmos à
presença de Deus precisamos ser purificados por ele escolhidos por meio do seu espírito que
nos santificou e nos santifica, bem como também sermos obedientes ao seu mandamento de
sermos santo assim como ele É. E de perseguirmos a paz e a santificação sem a qual ninguém
verá a Deus.
32
III- IMPLICAÇÕES DA SANTIFICAÇÃO PARA A IGREJA
3.1 A Santificação não se Limita a Atos Exteriores
A prática da santidade, segundo a concepção bíblica, não se limita a atos exteriores,
embora o crente seja luz e sal da terra isto não significa que o cristão deve viver isolado deste
mundo. Ainda que o mesmo lute com grandes pecados que habitam em sua natureza é dever
dele buscar uma santidade com o auxílio do Espírito.
A CFW diz:
Nesta guerra, embora prevaleçam por algum tempo as corrupções que
permanecem, contudo, pelo contínuo socorro da eficácia do santificador, o
Espírito de Cristo, a parte regenerada do homem novo vence, e assim os
santos crescem em graça, aperfeiçoando a santidade no temor de Deus.65
A santificação progressiva não promove pessoalmente nenhuma pessoa, não
engrandece acima de outros irmãos menos santificados; pelo contrário, esta santificação
promove o Reino de Deus onde o cristão é servo. O melhor escravo é o que mais se submete e
mais trabalha para o seu senhor. Como “douloi” (escravos) de Cristo, o cristão santificado e
regenerado deve servir com submissão e consagração: isto é, ser separado de tudo o que
desagrada ou fere a Lei de Deus. Não é meramente uma santidade baseada em uma
experiência que depois desaparece, ou em um só momento, pelo contrário, tal realidade ocorre
em uma vida de renúncia e entrega ao Deus que o regenerou com a eficácia do seu Espírito
Santificador. Que atua como um socorro no homem ao ponto de conduzi-lo a uma vida santa
no Senhor, pois a Santificação é uma experiência que vivifica e aproxima o crente de Deus.
Mas o que se tem visto e presenciado nos dias atuais é uma ênfase crescente a
uma falsa espiritualidade. Onde, o que prevalece é uma experiência espiritual que levam
pessoas a uma vida externa ou aparente.
A santificação é uma real transformação, não mera aparência. O significado básico de
“santificar” é separar para Deus, para seu uso. Porém Deus opera naqueles a quem ele
reivindica como sua propriedade, de maneira a torná-los semelhantes à “imagem de seu
Filho” (Rm. 8:29). Embora os atos exteriores não seja o termômetro que medi a santificação,
e que ela não se limita a esses atos. Contudo, seria importante observamos os verdadeiros
sinais visíveis (externos) dessa santificação como evidência interior no homem. Para tanto,
neste capitulo decorreremos o tema fazendo as seguintes perguntas. Quais são os sinais
visíveis de uma pessoa santificada? O que poderíamos esperar ver em sua vida?
65 WESTMINSTER, op.cit. Cp. XIII, seção. III.
33
Dentro desta pespectiva Hernanes Dias lopes comenta que, Há pessoas vivendo um
papel de santidade, representando como ator uma vida bonita, piedosa mas, em casa, não
conseguem esconder o que realmente são e, no fundo do coração, abrigam pecados ver-
gonhosos e vis.66 Pessoas que falam tão fluentemente sobre as doutrinas cristãs que nos levam
a pensar serem crentes autênticos. Repetem, sem cessar, palavras tais como "conversão",
"Salvador", "evangelho", "graça", mas permanecem vivendo e servindo ao pecado. Não
estariam elas fazendo juramentos falsos e usando o nome de Deus em vão? Cristo não quer
que usemos "apenas" a língua no Seu serviço, mas todo o nosso ser. Trombetas vazias,
címbalos retumbantes, cuidados apenas com o exterior: São perigos enganadores (Mateus 23.
1-5, 25-28, I João 3.18).
Mas, há, também, quem se manifeste tocado, sensibilizado e despertado pela pregação
do evangelho; mas, tudo é superficial. À semelhança dos ouvintes duros como pedra, recebem
a Palavra "com alegria", mas não custa muito para abandonarem e voltarem às suas origens!
(Mateus 13.20). As consequências de um emocionalismo falso tornam-se numa mortífera
doença da alma. As intensas emoções religiosas não significam, necessariamente, ter
acontecido novo nascimento. Santificação não consiste apenas em puro formalismo externo
ou em devoção exterior; não se limita à frequência aos cultos, às reuniões, à observação do
calendário cristão, às gesticulações, à austeridade ou autonegação. Para muitas pessoas essa
religiosidade externa existe para substituir à santidade interna. Que grande perigo espiritual
corre aqueles que vivem apenas para serem vistos em suas ações!
Santificação não é afastamento das ocupações diárias da vida comum, renunciando aos
nossos deveres sociais. Nenhum cadeado poderá trancar uma porta para impedir a entrada do
diabo. Convento ou mosteiro não nos isentam das tentações. A santificação não nos livra das
dificuldades, mas nos prepara para enfrentá-las e conquistá-las. Somos o sal em meio à
corrupção e luz em meio às trevas. Cristão santificado é o que glorifica a Deus seja ele um
senhor ou um servo, um pai ou filho, no lar ou na sociedade, no trabalho profissional ou no
lazer (João 17.15).
Santificação não significa corretas ações eventuais. É, sim, um princípio celestial que
influencia o cristão em todo tempo e qualquer circunstância. Sua sede é o coração. Não se liga
a Deus em alguns momentos, mas vive com Deus, sem interrupção. Há pessoas que são
tomadas por eventuais atos de bondade, quando estão, por exemplo, sob a influência de
enfermidades, próximas da realidade da morte, das calamidades ou algum sinal de peso em
66 LOPES, Hernandes Dias. Derramamento do Espírito. (Disco Rígido). p., 26.
34
sua consciência. Mas, o verdadeiro coração santificado age como Ezequias ou como o
Salmista (II Cr. 31.21, Sl. 119.104).67 Faz com todo coração e sinceridade para o Senhor.
J.I. Packer comenta que, aqueles que desejam, com todo coração, ser santos, são
certamente, o sal de Deus no mundo.68
Mas o que falar sobre a obediência a lei de Deus não como uma ação limitada a atos
externos, e sim vendo a lei como um guia amigo em busca da santidade. Pois, se tratando de
lei, o próprio Jesus Cristo não menosprezou os Dez Mandamentos; o apóstolo Paulo escreveu:
"sabemos, porém, que a lei é boa, se alguém dela se utiliza de modo legítimo..." (I Tm 1.8),
"...no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus" (Rm 7.22). Como poderá
alguém viver em santidade e ao mesmo tempo viver com mentiras, hipocrisia, imoralidade,
sem domínio próprio, entre outras proibições da lei.
Essa obediência a lei de Deus exige do cristão um relacionamento verdadeiro tanto
para com Deus como para com o próximo. Mas para muitos a vida santa significa cumprir a
lei sem se relacionar. Para esse a santidade é essencialmente o cumprimento da lei. E para
esses o cumprir a lei se resume em ser extremamente honestos nos negócios, bem como
também ser extremamente machista no que diz respeito à liderança tanto em casa como na
igreja. Meticulosamente conscientes em fugir do mal e evitar atividades classificadas como
mundanas; beber, fumar, dançar e jogar, maquiar-se, etc. Bem como também, ter uma
disposição própria em apontar os erros e pecados de outras pessoas. E sua paixão por andar de
acordo com as regras merece verdadeira admiração e aplausos. Mas, esses são pessoas que
não se relacionam e que são frias e distantes, que vem na lei a essência da santidade e se
concentram mais na retidão formal da lei do que na proximidade pessoal com Deus ou com o
próximo.69 O respeito e obediência a lei de Deus se dar por uma ávida pratica e não legalista
(externa). Pois aquele que tenta cumprir a lei com base nestas ações sem nenhum
relacionamento com o seu próximo, estar sendo mentiroso e evasivo em suas ações, por não
ter a aprovação de Deus. Sendo assim uma atitude especificamente externa, e não uma ação
interior que se manifesta em demonstração de uma vida, santa e piedosa, para a gloria de
Deus, ou seja, Deus sendo glorificado em todas as nossas ações.
Outro ponto também importante é quanto ao nosso esforço em fazer a vontade de
Deus. Os ensinos de Cristo são aplicados em nossas vidas, e a mesma não devem ser
entendidas apenas como palavras verbais ou teóricas e sim como verdades que devem ser
67 RYLE, J. C, Santidade Sem a Qual Ninguém verá o Senhor. op. cit, p., 47-50. (Resumo).
68 PACKER, J. I. A Redescoberta da santidade. Op. Cit, p., 144.
69 Ibid., p,145. (Resumo).
35
colocadas em pratica. São lições que servem como regras para uma vida de santidade no
Senhor e não teórica ou externa. E isso se revela numa vida de obediência aos seus
mandamentos (Jo 15.14).
E essa obediência vai gerar um cuidado de viver o amor cristão como reflexo do amor
recebido de Jesus. Pois, um cristão santificado busca praticar o bem, criar felicidade ao seu
redor, tratando os que estão próximos com gentileza que vai além de palavras vazias e
superficiais (Jo 13.34-35). A atitude egoísta de alguém, que se auto proclame um "cristão
verdadeiro", mas que não reconhece seu próximo, não se dispõe a acolhê-lo, não o vê ao seu
redor, revela ausência de santificação. O cristão verdadeiro é imagem de Jesus (Cl 3.10)
Portanto, é preciso que a igreja reflita nestas verdades. Que todos são santificados por
Deus para viverem uma vida de demonstração pratica quanto ao seu compromisso com a
verdade de Deus. Pois, essas verdades são evidências de uma vida de responsabilidade para
com Deus e para com o seu próximo, entendo assim, que a santificação é uma real
transformação, e não mera aparência.
3.2 – Na santificação é o Espírito Santo quem conduz os cristãos.
Neste ponto, observando a santificação progressiva sendo produzida por meio do
Espírito Santo na vida do homem, como um agente da santidade. O Apostolo Paulo declara
que mortificamos o pecado pelo Espírito (Rm 8.13) e que nossos hábitos sadios são o fruto do
Espírito (Gl 5.22).70 Mas é de importância também afirmarmos que este Espírito conduz o
homem ao crescimento nesta santificação, e que o crente não foi dotado de um reservatório de
forças, ao qual pode recorrer, e sim buscar essa força nele. É sempre “pelo Espírito” que será
realizada toda atividade santificada e santificadora. Ou seja, somente o Espírito Santo de Deus
pode conduzir o homem a uma vida de santidade.
Anthony Hokema ao tratar sobre a santificação no povo de Deus, diz, que a
Santificação é também comumente atribuída ao Espírito Santo.71 É o Espírito de Deus quem
nos escolhe conforme a sua presciência, como Pedro fala em sua carta, que é ...em santidade
no Espírito para a obediência diz Pedro ( 1 Pe 1.2).
Justifica-se que a santificação é atribuída ao Espírito Santo, pelo fato do próprio nome
ser associado à santidade e santificação. Pois em I Tessalonicenses 2.13, Paulo endossa a idéia
de que é Deus quem escolheu desde o princípio para a salvação, e essa salvação seria
70 PACKER, J.I. Op. Cit, p. 153.
71 HOKEMA, Anthony. SalvosPela Graça. Op. Cit. p., 207.
36
atribuída a operação do Espírito Santo e a fé na verdade. Em concordância com esta passagem
a confissão de Fé de Westminster chama o Espírito Santo de o “... santificador Espírito de
Cristo...” 72 Levando ao entendimento de que esse, o Espírito de Cristo age em nosso favor ou
em nossa defesa, nos preservando com o seu poder e nos fazendo perceber a nossa verdadeira
situação. Pois, é ofício do Espírito iluminar a mente, ou, nas palavras de Paulo, “iluminar os
olhos do entendimento” (Ef. 1:18), para que conheçam as coisas que Deus nos deu
graciosamente (1 Co. 2:12), ou seja, as coisas que Deus revelou; ou, como são denominadas
em (1 Co. 2.14), “as coisas do Espírito de Deus”. Essas coisas, que o homem natural não pode
compreender.
O Espírito capacita o crente “para discerni-las”, e para compreender sua verdade e
excelência, bem como experimentar assim o seu poder. Somos ensinados que o Espírito, de
maneira especial, abre os olhos para que vejamos a glória de Cristo, para que vejamos que ele
é Deus manifestado em carne; para que discirnamos não só suas divinas perfeições, mas
igualmente seu amor para conosco e quão adequado ele é em todos os aspectos como nosso
Salvador, de modo que aqueles que não o viram, mas nele creram, exultem nele com alegria
inexprimível cheia de glória. Essa apreensão de Cristo é transformadora; a alma é por ela
transformada em sua imagem, de glória em glória, pelo Espírito do Senhor. Foi esta revelação
interna de Cristo através da qual Paulo foi, no caminho de Damasco, repentinamente
convertido de blasfemo em adorador e servo abnegado do Senhor Jesus.
Não obstante a isso, não só um objeto que o olho aberto do crente pode discernir. O
Espírito o capacita a ver a glória de Deus revelada em suas obras e em sua palavra; a
santidade e a espiritualidade da lei; a enorme pecaminosidade do pecado; sua própria
culpabilidade; contaminação e impotência; a largura e o cumprimento, a profundidade e a
altura da economia da redenção; e a realidade, gloriosa e infinita importância das coisas não
vistas e eternas. A alma se sente assim elevada acima do mundo. Vive em uma esfera mais
sublime. Torna-se mais celestial em seu caráter e anelos. Todas as grandes doutrinas da Bíblia
acerca de Deus, de Cristo e das coisas espirituais não só são corretamente discernidas, mas
exercem, em certa medida, sua apropriada influência no coração e na vida dos cristãos. E
assim a oração de cristo (Jo. 17:17): “Santifica-os na verdade”, recebe resposta na experiência
de seu povo.73 Que é conduzido pelo Espírito da verdade, (Jo. 16.13).
Para finalizarmos este ponto em que é o Espírito Santo que conduz o cristão, vejamos
o que Hermann Bavink diz sobre o Espírito Santo no Cristão:
72 WESTMINSTER, XIII, seção. III.
73 HODGE, Charles. Op. Cit, p., 1192-1194.
37
O Espírito Santo é a grande e Todo-Poderosa testemunha de Cristo, que dá
testemunho de Cristo em nossos corações, traz-nos à fé em Seu nome e faz
com que conheçamos os benefícios que nos foram dados por Deus em Cristo
Mas este Espírito de Cristo ao mesmo tempo faz com que nós conheçamos a
nós mesmo, não somente a nossa culpa e impureza, mas também em nossa
porção nele [...] Um Espírito que é favorável aos filhos e mora neles (Rm
8.15) e que faz com que saibamos que somos filhos. [...] e Ele faz tudo isso –
sem falar nas outras coisas que Ele realiza – para nos selar para o dia da
redenção. 74
Por isso o Espírito Santo, quando habita deste modo em nós, é quem nos ilumina com
sua luz para que aprendamos e tenhamos perfeitamente as infinitas riquezas que, pela divina
bondade, possuímos em Cristo. O Espírito Santo é quem inflama nossos corações com o fogo
de um ardente amor a Deus e ao próximo. É Ele quem, a cada dia e cada vez mais, mortifica e
destrói os vícios de nossa cobiça, de maneira que se existe em nós algumas boas obras, são
frutos e efeitos de sua graça. Sem Ele não haveria mais do que trevas em nossa inteligência e
perversidade em nossos corações.
Esse Espírito tão Poderoso é na verdade o nosso grande Deus, esse Deus que de forma
graciosa nos conduz para Ele por meio de Cristo. O Espírito Santo que é a testemunha fiel de
Deus trás paz e segurança aos nossos corações (Jo 15.26), fazendo com que conheçamos as
grandezas de Deus realizadas em nossas vidas, grandezas essas que foram dadas em Cristo
reveladas por meio da cruz. E assim de forma tremenda, Cristo por meio do seu Espírito Santo
nos conduz como filhos amados de Deus e selados por seu Espírito que é o Espírito da
verdade o consolador, que conduz os cristãos a uma vida santa diante de Deus para o dia da
redenção.
3.3 – Exige um esforço em obediência a Deus.
Para falarmos do esforço dos cristãos, nesse processo de santificação na visão
progressiva, compreende-se que ela é realizada primeiro como obra do Espírito Santo
(monergistica) e o esforço humano, conforme a sua responsabilidade (sinergistica).
Observaremos primeiro o que diz Packer em seu livro à redescoberta da santidade:
(...) é um assunto que envolve ação e motivação, conduta e, graça divina e
esforço humano, obediência e criatividade, submissão e iniciativa,
consagração a Deus e compromisso com as pessoas, autodisciplina e entrega
pessoal, justiça e amor.75
É de suma importância compreender que a santificação é algo que exige do homem
74BAVINK, Hermann. Op. Cit. P., 561
75PACKER, J.I. Op. Cit. p., 27.
38
também um esforço em obediência a Deus, até porque foi para isso que o Senhor elegeu o
homem “em santificação do Espírito, para obediência.” (1Pe 1.1,2).
John Murray comenta que:
A obra de Deus em nós não é suspensa em virtude da nossa atividade e nem
a nossa atividade é suspensa em virtude da atividade de Deus. Tampouco é a
relação estritamente uma de cooperação como se fizesse Deus a sua parte e
nós o resto, para que a combinação ou cooperação de ambos produza o
resultado desejado. Deus opera em nós e nós também operamos. Toda e
qualquer operação da salvação, de nossa parte, é o efeito da operação de
Deus em nós...76
Em suma podemos dizer que a santificação é a obra sobrenatural de Deus na qual os
crentes são ativos. Quanto mais somos efetivos na santificação, mais certos estamos de que
vem de Deus o poder energizador que nos habilita a essa atividade.77
Deus atua na nossa santificação e nós também, tudo com o mesmo propósito. Não
estamos dizendo que temos papéis iguais na santificação ou que ambas às atuações são iguais,
mas Deus opera em nós e nós também atuamos em resposta a Ele, pelo fato de sermos seus
filhos. Pois, as Escrituras enfatizam o papel que desempenhamos na santificação (com todos
os mandamentos morais do Novo Testamento), é certo ensinar que Deus ordena que nos
esforcemos nessa atividade. Apresentaremos agora de forma clara e sucinta, a concepção
reformada da ação do homem, e de Deus no processo da santificação, conforme o texto de
Filipenses 2.12. "Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha
presença, porém muito mais agora, na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com
temor e tremor".
“Desenvolvei a vossa salvação”. No grego é o presente do imperativo “esforçai-vos
incessantemente para desenvolver a vossa salvação”. Não é uma ordem dada a incrédulos,
mas a crentes. Não é, portanto, um esforço para se ganhar a salvação, pois esta é um dom de
Deus. Mas é um chamado aos crentes para que se esforcem e sejam diligentes no viver santo
(2 Coríntios 7:1; Efésios 4:1). O sentido mais correto não é “trabalharem pela salvação”, mas
“trabalharem na salvação” em direção à consumação da fé em busca da santidade. Vamos ao
texto de Filipenses 2:12. Aqui vemos 5 frases que nos ajudam a entender como desenvolver a
nossa salvação.
“Assim, pois”, compreendam o exemplo que lhes foi apresentado. Essa expressão nos
leva de volta a Filipenses 2:5-11, onde Jesus é apresentado como modelo de humildade,
obediência e submissão. Ele é o nosso padrão de vida (1 João 16).
76 MURRAY, John. Redenção. Consumação e Aplicada. São Paulo: Cultura Cristã, 1993. p., 165.
77HOEKEMA, op. cit, p., 209.
39
“Amados meus”, entendam que vocês são amados. A Igreja de Filipos era uma igreja
fiel, mas tinha problemas de orgulho e desunião e por isso Paulo dá ênfase na questão da
unidade. Evódia e Sintique, duas mulheres, lideraram facções opostas uma a outra (Filipenses
4:2-3). Porém, apesar de tudo, Paulo os amava e por isso os corrigia e chamava de “amados”.
Deus é assim, ama, tem misericórdia de nós, mesmo quando fracassamos no processo de
santificação.
“Como sempre obedecestes”, entendam o valor da obediência. A palavra grega
traduzida por “obedecestes” u`phkou,sate (hupekousate) significa literalmente “atender
à porta”, ou “obedecer como resultado de ouvir”. Ou seja, submeter-se ao que se ouviu. Foi
o que aconteceu com Lídia ao ouvir a pregação de Paulo. Ela atendeu ao apelo do evangelho,
converteu-se, foi batizada e passou a servir a Paulo e seus companheiros. O mesmo aconteceu
com o carcereiro de Filipos. Eles atenderam à palavra.
“Não só na minha presença, porém muito mais agora na minha ausência”, entendam
seus recursos e responsabilidades. Eles buscaram a santidade por conta própria, e esta é uma
responsabilidade de cada cristão. O apoio de irmãos é importante, mas é fácil nos tornamos
dependentes deles. Certos crentes perdem a pureza e a santidade, quando perdem o apoio
espiritual de alguém. Mas, quando Paulo exige que eles desenvolvam a santificação (“vossa
salvação”), está dando a entender que, em Cristo, eles podiam viver em santidade,
independentes de qualquer ajuda externa. Nós somos responsáveis por nossa vida espiritual.
“Com temor e tremor”, entendemos as conseqüências do pecado. O pecado traz
conseqüências, e esta é a razão porque devemos andar em santidade com temor e tremor. A
palavra grega para “temor” é fo,boj (phobos) da qual se originou fobia. A palavra grega
para “tremor” é tro,moj (tromos) que originou a palavra trauma. Estas palavras falam de
um saudável temor de ofender a Deus, temor de pecar, de desonrar Deus, do colapso moral,
de entristecer a Deus e assim trazer a correção divina. Isaías no capítulo 66:2, fala do temor
que Lhe aguarda – “O homem para quem olharei é este: o aflito e abatido de espírito e que
treme da minha palavra”. E no versículo 5 afirma: “Ouvi a palavra do Senhor, vós, que a
temeis”.
Portando, a santidade exige esforço não é algo fácil, pois significa ter disciplina, seguir
a Jesus, ser obediente à palavra, exercitar os dons e avaliar as conseqüências de pecado. Mas
um temor saudável a Deus nos motivará a buscar esta santidade que Ele requer de nós.
Em Fl. 2:13 Paulo explica.- “Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o
realizar, segundo a sua vontade”. É Ele que habita em nós e nos dá poder de fazermos a Sua
vontade. Não temos a capacidade em nós mesmos, a nossa capacidade vem de Deus. (2
40
Coríntios 15). Em Filipenses 2:13 vemos 5 verdades a respeito de Deus, que nos ajudarão a
compreender o que Deus faz por nós na santificação.
1. A pessoa e Deus. “Deus é quem efetua em vós...” É Deus quem está envolvido com
a nossa vida, com o nosso bem-estar espiritual. Ele habita em nós e quer que façamos o que
Ele ordena. Nosso progresso espiritual não depende de nós, nem de nossas habilidades, nem
da ajuda de outros crentes, nem dos pastores, nem mesmo de anjos. Mas é Deus quem opera
em nós, realizando a nossa santificação. O mesmo Deus que nos conheceu de antemão, nos
predestinou, nos chamou e nos justificou, é o mesmo que nos santifica e haverá de nos
glorificar (Romanos 8:30). Que diferença dos deuses pagãos! Mas Deus nos acompanha e nos
supre por toda a vida.
2. O poder de Deus: Operando. “É Deus quem efetua...”. Esta palavra no original é
en evnerge,w (energeo) que se refere a uma energia ativa e produtiva. É poder que opera
o nosso progresso espiritual, a nossa santificação. Por isso estaremos seguros até o fim.
“Aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até o dia de Cristo Jesus”
(Filipenses 1:6).
3. A presença de Deus: Em nós. Deus opera em nós. Paulo diz, em Efésios 3:20, que
Deus “é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos,
conforme o Seu poder que opera em nós”. Paulo não diz que Ele opera nos céus e sim em
nós. Ele é a nossa suficiência. Aqui devemos lembrar que o V.T. os crentes adoravam no
Tabernáculo, no Templo. Mas agora somos templo de Deus, pois Cristo habita no coração de
cada crente. “Nós somos santuário do Deus vivente...” (2 Coríntios 6:16). Ele está conosco,
sustentando-nos, suprindo e fortalecendo a nossa santificação.
4. O propósito de Deus: O querer realizar. É Ele quem nos impulsiona a querer e a
efetuar, dá-nos tanto o desejo como a habilidade. A palavra “querer” no grego é qe,lw
(thelo) que significa intento e inclinação. Deus nos dá uma santa insatisfação para com a
nossa natureza carnal e corrompida. Foi isso que fez Paulo dizer em Romanos 7:14
“Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?”. Em segundo
lugar, Ele nos dá um desejo pelas coisas santas e puras, isso pode ser visto na biografia dos
santos do passado e percebemos o quanto estamos longe desta dedicação a Deus. Em terceiro
lugar, Deus nos dá o desejo de Lhe agradar, de causar-lhe satisfação e isso resulta em um
proceder santo.
5. A santificação divina: Segundo a Sua boa vontade. A palavra grega traduzida por
“boa vontade” é euvdoki,a (eudokia) que significa satisfação ou agrado. Deus opera em
nós para que façamos aquilo que Lhe agrada e satisfaz. Ou seja, desenvolver a nossa salvação
41
com temor e tremor agrada a Deus. Somos muito queridos de Deus e quando fazemos aquilo
que Lhe agrada, Ele fica satisfeito. Esta é a essência de qualquer relacionamento: queremos
agradar a quem amamos. Queremos causar satisfação Àquele que perdoa as nossas
iniqüidades, resgatam-nos da condenação eterna, coroa-nos com graça e misericórdia, enche
de bens os nossos anos, de modo que a nossa mocidade se renova como a da águia (Salmos
103:3-5).
Vemos que há uma maravilhosa combinação entre os nossos esforços e os recursos,
providenciados por Deus. Servimos a um Deus que nos dá poder para vivermos para Sua
glória. Este é o mistério do Cristianismo: “Cristo em vós, a esperança da glória”
(Colossenses 1:27). Deus nos chamou para vivermos vidas santas, mas é Ele quem nos
santifica. Deus nos convoca a servi-Lo, mas na realidade, é Ele mesmo que nos impulsiona a
isso por meio de seu próprio poder em nós. A obra é dEle, mas é nossa também. A glória,
contudo, pertence somente a ELE. 78
Assim entende-se que a santificação é uma ordem divina, como o próprio texto diz:
“Sede santo por que Eu Sou Santo” (1 Pe 1.16). Santo é um atributo de Deus e também deve
ser do Seu povo. A idéia principal de santidade é a separação dos modos ímpios do mundo e
dedicação a Deus, por amor, para o seu serviço e adoração. Santidade é o alvo e o propósito
da nossa eleição em Cristo (Ef 1.4); significa ser semelhante a Deus, ser dedicado a Deus e
viver para agradar a Deus (Rm 12.; Ef 1.4; 2.10), é ficar perto de Deus, e, de todo coração,
buscar sua presença, sua justiça e sua comunhão.
Mas, O homem em si mesmo não pode fazer nada para se santificar (2ª Co 3.5; 5.17-
18). E embora o homem seja privilegiado em cooperar com o Espírito de Deus, vamos
lembrar que ele pode fazer isso somente em virtude da graça e força que o Espírito partilha
com ele dia-a-dia. O desenvolvimento espiritual do homem não é então uma realização
humana, mas uma obra da graça divina. O homem, porém na santificação dependendo de
Deus, isto é, ele trabalha porque e porquanto o Espírito Santo trabalha nele (Rm 8.13-14; Gl
5.16-19). Portanto, cada novo impulso espiritual que o crente tem, e cada nova boa obra, é
impulsionado e executado nele mediante o gracioso poder do Espírito Santo (Fp 1.6; 2.13).
Embora a ação na santificação seja sobrenatural, e a habitação e operação do Espírito Santo
são requeridas, não apenas para iniciar, mas para continuar o crescimento na graça, mesmo
assim, Ele opera normalmente por vários meios. O homem não merece crédito nenhum
porque tudo quanto ele contribui à sua santificação é ser apenas instrumento nas mãos de
78 F., John MacArthur Jr. Extraído do Jornal “Os Puritanos” Ano IV – Nº. 4 – 1996.
42
Deus. Paulo diz aos filipenses: “Porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer
como o realizar, segundo a sua boa vontade”(Fp 2.13). Fé na obra redentora de Cristo é a
causa mediadora ou condicional de santificação. Aquele que crê em Cristo é santificado
posicionalmente, pois Cristo é naquele momento feito para ele santificação (1ª Co 1.30). Mas
também é mediante a fé que o crente se torna experimentavelmente santificado, isto é, torna-
se experiência e na prática separado do poder do pecado para a obediência a Deus. (At 26.18;
15.9; Hb 13.12-13; Gl 6.14; Cl 2.12). Devemos lembrar que o objeto da nossa fé é Cristo
Jesus. Santificação não começa olhando por dentro, mas por estar em Cristo e olhando para
Ele.
O homem não se torna santificado em experiência nem cresce em santificação por
fazer esforço para experimentar ou crescer, mas colocar a si mesmo nas condições de
crescimento, por viver e permanecer em Cristo em obediência a sua palavra. A lua não faz
esforço para brilhar, nem poder em si mesma para brilhar. Ela brilha somente por refletir a luz
do sol. À medida que permanecemos em Cristo, reconhecemos o que temos nele e confiando
nele refletimos Cristo em nossa vida. A Bíblia não ensina que um grau mais alto de fé é
necessário para santificação do que justificação. A fé envolve temor a Deus e a Sua Palavra
sem duvidar ou raciocinar. É fé independente de todo o sentimento e desapegado de qualquer
outra dependência senão só de Cristo.
A nossa santificação é realmente mediante a renúncia ao pecado e o seguir a santidade.
Mediante a rendição total da própria vida (Rm 12.1; 6.12-13, 19). Uma rendição que é
voluntária, completa e definitiva (final) é uma ação necessária para que o crente possa
experimentar inteira santificação. Uma entrega definitiva da vida para Deus constitui a
condição suprema para a santificação prática. Se o homem que ser santo, ele deve oferecer a
si mesmo a Deus, para que este possa realizar esta obra nele.
43
CONCLUSÃO
Para a conclusão deste trabalho não podemos nos esquecer de comentar que a nossa
intenção foi a de tentar resgatar a o conceito da santificação progressiva na perspectiva
reformada. Mostrando a origem dela no AT e no NT bem como também a influência da
santificação nos Pais da igreja no monasticismo, na reforma e suas implicações bíblicas
teológicas. E, nesta parte conclusiva gostaria de mostrar a necessidade de voltarmos à
verdadeira santificação bíblica. Ao Resgatarmos assim o principio bíblico que foi tão
importante para as igrejas durante a sua historia, e que infelizmente foi esquecido por grande
maioria das igrejas. Mas como resgatar esse princípio nos dias atuais? O que a igreja tem que
fazer para ser santa assim como o nosso Deus ordena (1 Pe. 1.16).
Primeiro devemos entender que é Deus quem santifica: “E o mesmo Deus de paz vos
santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados
irrepreensível para vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1ª Ts 5.23).
Somos santificados observando a Palavra de Deus: Jesus diz: “Santifica-os na verdade;
a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17). “Para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da
lavagem de água pela palavra” (Ef 5.26). “Vós já estais limpo pela palavra que vos tenho
falado” (Jo 15.3).
A igreja precisa resgatar esse principio de que a santificação só é possível mediante a
obediência integra a Santa Palavra do Senhor. Somos santificados pela Palavra e a oração:
“Porque pela palavra de Deus e pela oração é santificado” (1ª Tm 4.5). A Palavra de Deus
serve para nos orientar o caminho certo, nos purificar, lavar e santificar o nosso espírito, alma
e corpo para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Mas, infelizmente a ênfase das igrejas hoje
é mais nas experiências pessoais nas curas nas línguas. E como também na pratica ascética,
como em muitos casos por interpretações equivocadas da palavra de Deus, como por
exemplo, jejuns que levam as pessoas a uma abstenção do alimento por mais de uma semana
ou até mais, com base em textos bíblicos que não afirmam que essa pratica ou esse mesmo
método deve ser aplicado aos nossos dias.
A santificação não vem pelos sacrifícios, mas unicamente pela Palavra. Nem mesmo o
jejum tem este poder.
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Monografia conculida corrigido- sérgio

  • 1. 1 SEMINÁRIO PRESBITERIANO DO NORTE BACHARELADO EM TEOLOGIA A SANTIFICAÇÃO PROGRESSIVA NA PESPECTIVA REFORMADA Sérgio José do Nascimento Monografia apresentada sob orientação do Rev. Gaspar de Souza, como parte dos requisitos para conclusão do Curso de Bacharelado em Teologia pelo Seminário Presbiteriano do Norte, bem como atender junto ao Presbitério Centro de Pernambuco, as disposições contidas no Art. 120 alínea “b” da CI/IPB, que trata de licenciatura e ordenação de candidatos ao Sagrado Ministério. Recife 2009
  • 2. 2 AGRADECIMENTO Agradeço ao Eterno, e Soberano Deus que derramou sobre mim abundante graça e misericórdia ao longo do curso no S. P. N. A minha amada esposa, Maria Betânia, por suas orações e incentivo. A minha filha Sarah ágata um grande presente de Deus em minha vida que me tem dado muitas alegrias. Aos diletos professores do S. P. N., por suas preciosas informações em sala de aula. A Igreja Presbiteriana de Jardim Uchoa que me abriu às portas para o caminho do Ministério Pastoral. O irmão Edison que muito nos ajudou não só em oração mais na provisão. Ao Presbitério Centro de Pernambuco que me recebeu como candidato ao Ministério Pastoral, e por ter nos ajudado também nos custos do seminário durante todo curso. Ao meu amado Pastor, tutor e amigo Rev. Geraldo Neto que nos encaminhou ao Seminário, pelos conselhos e orientações. E a todos que por mim oram e que de certa forma contribuíram direta ou indiretamente para a minha formação.
  • 3. 3 DEDICATÓRIA A minha querida esposa Maria Betânia silva Nascimento e a nossa filha Sarah Ágata silva do Nascimento, pessoas que Deus me confiou para amar e cuidar.
  • 4. 4 APROVADO POR Orientador: Rev. Gasparde Souza Observações: _______________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ Nota: ______ (_______________________________________)
  • 5. 5 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 06 I O DESENVOLVIMENTO NA HISTÓRIA 08 1.1 - Conceito das Escrituras 08 1.1.1 - No Antigo Testamento 08 1.1.2 - No Novo Testamento 09 1.2 - Diferentes Conceitos na História 12 1.2.1 - Na Patrística 12 1.2.2 - Na Idade Média 14 1.3 - Conceito na Reforma Protestante 17 II ASPECTOS TEOLOGICOS DA SANTIFICAÇÃO 21 2.1 - Ela é Exclusiva dos Regenerados 21 2.1.1 - Afeta o Homem Todo 23 2.2 - É uma Experiência Sem a Qual Ninguém Verá a Deus. 25 III IMPLICAÇÕES DA SANTIFICAÇÃO PARA A IGREJA 32 3.1 - A Santificação não se Limita a Atos Exteriores 32 3.2 - Na santificação é o Espírito Santo quem conduz os cristãos. 35 3.3 - Exige um esforço em obediência a Deus. 37 CONCLUSÃO 43 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS 46
  • 6. 6 INTRODUÇÃO Há em nossos dias uma busca frenética pela espiritualidade, embora isso seja bom no que diz respeito à vida do regenerado que busca viver conforme a palavra de Deus. Mas, o problema esta na motivação, que tem como sua principal característica as experiências pessoais que se acredita ser fonte de mais poder, como diz Hernandes dias Lopes ao comentar as tendências das Igrejas Brasileiras: “As pessoas buscam os sopros poderosos, as visões celestiais, as revelações forâneas às Escrituras, as experiências arrebatadoras, as emoções fortes, mas continuam cada vez mais vazias.”1 O que leva a entender esse fenomeno como uma perda da verdade bíblica com relação à santidade. J. I. Packer comenta que os Puritanos insistiram que toda a nossa vida e relacionamento precisava torna-se “santos para o Senhor.” E esse movimento Puritano que perdurou por mais ou menos 100 anos trouxe por parte de alguns líderes um “reavivamento da santidade.” 2 Mas, hoje não se vê o destaque merecido por toda igreja nos dias atuais. Como por exmplo, os sermões não confrontam as pessoas quanto ao comportamento, e não são levadas a uma reflexão. Paralelo a esse movimento inreflexivo encontra-se também o asceticismo que teve sua influência nos tempos monaisticos, por meio de monges que procuravam uma vida de piedade e renucia dos prazeres do corpo. Hoje esse movimento se destaca, inclusive nos carismaticos que ênfatizam o ascetiscimo como diz John MacArthur: “O ascetismo, que cria um padrão para si mesmo, exalta a carne e faz a pessoa orgulhar-se de seus sacrifícios, visões e realizações espirituais. Tal ascetismo afasta de Cristo e escraviza sua vítima ao orgulho carnal.”3 Esse pensamento se faz presente neste século com muita ênfase, no que diz respeito a uma vida de santidade. Mas, a santificação bíblica que é expresada pela confissão de Fé diz que somos: (...) mais e mais vivificados e fortalecidos em toda graça salvadora, para a prática da verdadeira santidade sem a qual ninguém verá a Deus (...)4. O Espírito Santo é que tem que conduzir o homem a uma vida de santidade para servi-lo melhor. Todavia, esse guiar do Espírito é conforme o “temor do Senhor”, pois, uma santidade sem as Escrituras, como padrão que determina tudo, é misticismo. E o homem em resposta a essa ação se torna submisso e se consagra a Deus em santidade. 1 LOPES, Hernandes Dias. As faces da Espiritualidade. São Paulo: Editora Candeia, 2000, p., 12 (Disco Rígido) 2 PACKER, J. I. A Redescoberta da Santidade. 1ª ed são Paulo: Editora Cultura Cristã, 2002. P., 10-11 3 J.R, John MacArthur. A Procura de Algo Mais. Editora Fiel, p., 30 (Disco Rígido) 4 Confissão de Fé de Westminster. Cp. XIII, I
  • 7. 7 Daí justifica-se o nosso trabalho, pois, a progressividade da santificação não pode estar em desarmonia com a Palavra de Deus. Diante do problema exposto, o objetivo geral deste trabalho consiste em analisar a santificação progressiva e suas implicações para o homem e o processo no qual ele tem participação ativa, impulsionado pela ação do Espírito Santo. No Primeiro capítulo se analisará o desenvolvimento da Santificação Progressiva na História, observando o conceito das Escrituras no AT e no NT. Bem com também diferentes conceitos na História na Patrística No início do período Monástico, na Idade média e como também na Reforma Protestante. No segundo capítulo se observará os aspectos bíblicos e teológicos, como por exemplo, a santificação é exclusiva dos regenerados, afeta do homem, e é uma experiência sem a qual ninguém verá ao Senhor. No terceiro capítulo abordará as implicações para a Igreja. Mostrando que a santificação não se limita apenas a atos exteriores, e que o Espírito Santo é quem conduz os cristãos a uma vida santa, e por fim afirmar que a santificação progressiva exige dos cristãos um esforço em obediência a Deus. E tendo como conclusão uma volta a verdadeira Santificação Bíblica.
  • 8. 8 I- O DESENVOLVIMENTO NA HISTÓRIA Desde o Antigo Testamento, Deus determinou a Moisés que ordenasse ao povo de Israel: “Santo sereis, porque eu, o SENHOR vosso Deus, sou santo” (Levítico 19:2). O apóstolo Pedro, mais tarde, ecoa essas palavras na sua primeira epístola: “... segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento, porque escrito está: Sede santos, porque eu sou santo” (1Pedro 1:15-16). Uma vez que o próprio Deus é santo, ele deseja que nós, a quem ele criou à sua imagem, também sejamos santos. A obra de Deus pela qual ele nos torna santos é chamada santificação. Portanto, antes de aprofundarmos mais no estudo sobre a santificação progressiva, apresentaremos o conceito de santificação nas Escrituras Sagradas e no seu desenvolvimento histórico. 1.1– Conceito das Escrituras 1.1.1– No Antigo Testamento O verbo usado no Antigo Testamento é vd;q' qadash “santificar” que também tem seus derivados como: Ser consagrado, ser santo, ser santificado; consagrar, preparar, dedicar. Este verbo pode ser empregado nas formas do qal, nifal e piel. No qal o verbo é empregado um maior número de vezes para demonstrar o estado de consagração efetuado pelo ritual levítico. Êxodo 29: 21, 37; 30: 29 certos objetos usados no serviço levítico eram consagrados a Deus e, por esse motivo, eram reconhecidos como pertencentes do âmbito sagrado. Já no piel a palavra é usada na maioria das vezes para designar o ato de consagração. Em Êxodo 19:23 a consagração do Monte Sinai, mediante o estabelecimento de limites ao seu redor, serviu para manter à distância de tudo que poderia ter profanado a santa presença de Deus. E no nifal o verbo vd;q' qadash pode ter a conotação de demonstrar a própria santificação. Berkhof diz: “que o verbo vd;q' qadash “santificar” vem da raiz dq' qad “cortar”.5 De modo que podemos dar a seguinte definição: “Cortar, separar e reservar para Deus, consagrar e entregar a Deus”. 5BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 2. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2000. p.,485.
  • 9. 9 O adjetivo correspondente do verbo vd;q' qadash é o adjetivo vAdq' qadosh “santo”, que qualifica aquilo que é intrinsecamente sagrado (separado). A palavra vAdq' qadosh é uma das mais importantes palavras da religião do Antigo Testamento, e é aplicado a Deus. O erudito do Antigo Testamento, Eichrodt, diz: “As raízes empregadas nas mais diferentes línguas para designar esse âmbito, enquanto se pode extrair etimologicamente, fazem aparecer o santo como o separado, o apartado, o subtraído do uso normal.” 6 E o substantivo correspondente do verbo vd;q' qadash é o substantivo vd,q qodesh. Esse substantivo tem a idéia de “santificação”, a natureza essencial daquilo que pertence ao domínio do sagrado e que, por esse motivo, se distingue daquilo que é comum ou profano. A esse respeito R. Laird Harris diz: “Aquilo que é sagrado, aquilo que é santo não apenas se distingue do profano, mas também se opõe a isso”.7 Deste modo este verbo e seus derivados quando estão relacionados ao ser de Deus, significa aquilo que é separado ou distinto para Deus. Sendo assim, vimos que o conceito de santificação está implícito no Antigo Testamento. 1.1.2 - No Novo Testamento O verbo a`gia,zw (hagiazo) e seus vários significados. O verbo a`gia,zw (hagiazo) é derivado de a[gioj (hagios), que, como a palavra hebraica vAdq' (qadosh), expressa primariamente a idéia de separação. Todavia é empregado em vários sentidos diferentes no Novo Testamento. Podemos distinguir os seguintes: (1) É empregado no sentido mental, com referência a pessoas ou coisas, Mt. 6:9; Lc. 11:2; 1Ped. 3:15. Em casos como esses, significa “considerar um objeto como santo”, “atribuir santidade a”, ou “reconhecer sua santidade por palavra ou ato”. (2) Também é empregado, ocasionalmente, num sentido ritual, isto é, num sentido de “separar do ordinário para propósitos sagrados”, ou de “por de lado para certo ofício”, Mt. 23. 17,19; Jo. 10,36; 2Tm. 2.21. (3) É empregado ainda para denotar a operação de Deus pela qual Ele, especialmente por intermédio do Seu Espírito, produz no homem a qualidade subjetiva da santidade, Jo. 17,17; At. 20,32; 26,18; 1Co. 1,2; 1Ts. 5,23. (4) Finalmente na epístola aos Hebreus, é ao que parece empregado num sentido expiatório, e 6EICHRODT, Walther. Teologia do Antigo Testamento. 1. ed. São Paulo: Hagnos Filadélfia, 2005. p., 240. 7HARRIS, R.L. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1998. p., 1323.
  • 10. 10 também no sentido correlato do dikaio,w (dikaioo) Paulino, Hb. 9,13; 10.10,29; 13,12. Os adjetivos que expressam a idéia de santidade são: (1) i`ero,z (Hieros). A palavra menos empregada, e também menos expressiva, é i`ero,z (hieros). Acha-se unicamente em 1Co. 9.13; 2Tm. 3.15, e, aí, não se referindo as pessoas, mas as coisas. Não expressa excelência moral, mas o caráter inviolável da coisa referida, resultante da sua relação com Deus. Sua melhor tradução do Inglês é “sagrado”. (2) o[sioz (Hosios). A palavra o[sioz (hosios) ocorre com maior freqüência. Acha-se em At. 2.27; 13.34, 35; 1Tm. 2.8; Tt. 1.8; Hb. 7.26; Ap. 25.4; 16.5, e se aplica não somente a coisas, mas também a Deus e a Cristo. Descreve uma pessoa ou coisa como livre de profanação ou de iniqüidade, ou mais ativamente (quando a pessoa), como cumprindo religiosamente toda obrigação moral. (3) a`gnou.j (Hagnos). A palavra a`gnou.j (hagnos) ocorre em 2Co. 7.11; 11.2; Fp. 4.8; 1Tm. 5.22; Tg. 3.17; 1Pe. 3.2; 1Jo. 3.3. Ao que parece, a idéia fundamental da palavra é a de liberdade da impureza e corrupção, num sentido ético. (4) a[gioj (Hagios). A palavra que é realmente característica do Novo Testamento é, porém, a[gioj (hagios). Seu significado primário é o de separação na consagração e dedicação ao serviço de Deus. Com isto se relaciona a idéia de que aquilo que é posto a parte do mundo para Deus, também deve separar-se da corrupção do mundo e participar da pureza de Deus. Isto explica por que a[gioj (hagios) depressa adquiriu um significado ético. Nem sempre a palavra tem o mesmo sentido no Novo Testamento. (a) É indicada para uma relação oficial externa, uma separação dos propósitos comuns para o serviço de Deus, como por exemplo, quando lemos sobre os “santos profetas”, Lc. 1.70, os “santos apóstolos”, Ef. 3.5, e os “homens santos”, 2Pe. 1.21. (b) Mas freqüentemente, porém, é empregada num sentido ético para descrever a qualidade necessária para manter-se uma estreita relação com Deus, para servi-lo aceitável-mente, Ef. 1.4; 5.27; Cl. 1.22; 1Pe. 1.15,16. Deve-se ter em mente que, ao tratarmos da santificação, utilizamos a palavra primordialmente neste último sentido. Quando falamos da santidade em conexão com a santificação, temos em mente tanto uma relação externa como uma qualidade subjetiva interior.Os substantivos que denotam santificação e santidade: O vocábulo no Novo Testamento para santificação é avgiasmo,s a`giasmo,z (hagiasmos). Ocorre dez vezes, a saber, em Rm. 6.19, 22; 1Co. 1.30; 1Ts. 4.3, 4,7; 2Ts. 2.13; 1Tm. 2.15; Hb. 12.14; 1Pe. 1.2. Embora denote purificação ética, inclui a idéia de separação, isto é, “a separação do espírito de tudo que é impuro e corrupto, e uma renúncia aos pecados para os quais os desejos da carne e da mente nos levam”. Enquanto a`giasmo,z (hagiasmos) denota a obra da santificação, há outras duas palavras que descrevem o resultado do processo, que são
  • 11. 11 a`gio,thj (hagiotes), e a`giwsu,nh (hagiosune). A primeira se acha em 1Co. 1.30 e Hb 12.10; e a segunda em Rm. 1.4; 2Co. 7.1 e 1Ts. 3.13. Estas passagens mostram a qualidade da santidade ou de estar livre da corrupção e da impureza é essencial para Deus, foi demonstrada por Jesus Cristo, e é dada ao cristão. Portanto, seja no Antigo Testamento ou no Novo Testamento, a palavra santidade tem o mesmo significado; separar e consagrar para Deus.
  • 12. 12 1.2 Diferentes Conceitos na História 1.2.1 – Na Patrística O nome “Pai da Igreja” originou-se do uso do nome “Pai”, dado em especial aos bispos do Ocidente, para exprimir uma carinhosa lealdade. O termo Patrística ou patrologia é o nome do estudo da vida e das obras destes homens, que viveram em sua maioria entre o fim da era apostólica e a realização do concílio de Calcedônia. A maior parte de seus livros, artigos e sermões foram escritos mais ou menos entre 95 e 150 da era cristã8. É interessante também observar que os Pais da Igreja para serem reconhecidos teriam que ter uma vida santa, sendo uma característica de um Pai da igreja como também sua antiguidade, ou seja, conforme a sua presença no período apostólico. “Tendo inicio por volta do ano 96, com a epístola First Clement (Clemente I) e terminado no Oriente com a morte de João de Damasco, em 750”.9 Os quais se dedicaram à interpretação e exposição das Escrituras Sagradas. A santificação neste período tinha como base fundamental uma vida ascética, e não só dos pais da igreja, mas era uma característica de todo aquele que deseja-se ser mais santo, como por exemplo, as mulheres piedosas que se destacaram neste período como cita Christopher: Consequentemente, o papel das mulheres na igreja primitiva era circunscritos por limites específicos. Entretanto, como já vimos, as mulheres pudera ampliar esses limites expressivamente, renunciando aos papeis tradicionais sexuais e domésticos para uma vida de ascetismo cristão — comportamento que os pais da igreja como Jerônimo incentivam.10 Como se observa essa era uma pratica muito comum na época, e apoiada pelos pais da igreja, conforme a citação declara que Jerônimo apoiava essa pratica. No Ocidente, a vida monástica só se fez sentir a partir de 370. E o mais conhecido monge do Ocidente foi Jerônimo (340-420). Ao lado de Ambrósio e de Agostinho, Jerônimo é um dos três grandes mestres da Igreja latina. No deserto da Síria, morou em uma caverna, que transformou em sua sala de trabalho. Em Belém, construiu uma série de conventos masculinos, além de um convento feminino, no qual residiam mulheres, em boa parte oriundas de Roma que colaboravam na edição de suas obras11. 8 CAIRNS, E. Cairns..O Cristianismo Através dos Séculos: Uma História da Igreja Cristã. São Paulo: Vida Nova, 1995. p., 57. 9 HALL, Christopher A. Lendo as Escrituras com os Pais da Igreja. Tradução Rubens Castilho. 1. ed. Viçosa, MG: Ultimato, 2000. p. 52. 10 Ibid., p., 49. 11 N., Martin Dreher. Coleção História da Igreja vol. I: A Igreja no Império Romano. Rio Grande do Sul: Sinodal, 1993. p., 75.
  • 13. 13 Agostinho (354-430) foi um bérbere africano, que deu à Igreja latina sua conformação teológica. Ambrósio levou-o à leitura da Bíblia. A pessoa de Cristo ficou sendo para ele a fonte de toda a revelação. A conversão de Agostinho foi uma ruptura radical com a vida mundana e a passagem para a vivência cristã pessoal. A vida da qual ele se despedia era a vida formada por bens materiais, profissão, prestígio, amor matrimônio e família. A vida nova era ascese12 para experimentar a riqueza de Deus. Para Agostinho as pessoas que destruídas pelo pecado, eram reconduzidas ao estado original através da graça. Quem vive sob a graça faz o bem. A vontade da pessoa natural só pode querer o mal; à vontade dominada pela graça tem apenas a liberdade de ver tudo como o poder da graça. A redenção é no fundo, a libertação da vontade humana, para que possa ser obediente à graça. Essa graça libertadora, no entanto, não se destina a todas as pessoas, e sim apenas a uma pequena parcela. Esses eleitos, predestinados à salvação segundo a livre vontade de Deus, são todos aqueles que são destinados a serem partícipes da graça. Todos os demais, a massa perditionis, são os condenados e como tais irremediavelmente perdidos. Há, pois, uma dupla predestinação: para a redenção ou para a perdição. Nenhum dos condenados pode esperar graça13. Mas, embora Agostinho tenha contribuído com sua teologia, se faz necessário ressaltar a sua experiência no maniqueísmo que o levou a uma vida ascética. Agostinho abraçou o chamado Maniqueísmo. Conheceu esta doutrina na cidade de Cartago. Era uma filosofia nascida na Pérsia no século III, fundada por Mani, que a exemplo de Cristo também foi martirizado pelos romanos. Esta filosofia ensinava que havia um dualismo entre o bem e o mal. O mal era um princípio independente de Deus. Existem então duas forças eternas e igualmente poderosas, o bem e o mal.14 O pensamento maniqueísta era extremamente pessimista em relação à natureza do ser humano, influência que permanecerá nos escritos cristãos de Agostinho, e havia também no maniqueísmo a crença numa elite piedosa usada pela divindade do bem que se salvava, e algo parecido aparecerá na doutrina da predestinação de Agostinho.15 No Maniqueísmo, a exemplo do gnosticismo, havia um ascetismo rigoroso para se buscar a salvação. No Ocidente os maniqueus se consideravam como a mais elevada forma de cristianismo. O homem possui em sua alma uma centelha da luz divina, e a redenção consiste em unir essa centelha a Deus. O ascetismo dentro do maniqueísmo era reservado só para os 12 Exercício espiritual que visa à prática das virtudes por meio de orações,estudo,meditação, mortificações, penitência. 13 N., Martin Dreher. op. cit. p., 76-78. 14 OLSON, Roger. História da Teologia Cristã. 1. ed. São Paulo: Editora Vida, 2000. p., 261 15 JOHNSON, Paul. História do Cristianismo. Rio de Janeiro: Imago, 2001. p., 138
  • 14. 14 perfeitos. Mas, Agostinho nunca realmente se iniciou no maniqueísmo, e sempre permaneceu apenas como ouvinte, mas o que ouvia o irá influenciar bastante. 1.2.2 - Na Idade Média Depois que o cristianismo se impôs e permeou todo o Império Romano, o mundanismo invadiu a igreja e fez prevalecer seus costumes. 16 Devemos observar que um pouco antes de Agostinho, começou-se a ensinar que um estado de isolamento e solidão, permanentemente afastado dos envolvimentos normais do ser humano, seria uma ajuda e, até mesmo, uma necessidade, para a prática da santidade. Entretanto, a noção de que uma pessoa, caso se isole da família, igreja, e sociedade, ganhará a liberdade para mover-se em um nível mais profundo com Deus, é completamente equivocada. Esta idéia, ao que parece, surgiu no século IV da era cristã quando os primeiros monges cristãos se isolaram para praticar a mortificação do corpo e as atividades espirituais que, na época, definiam a santificação. No seu livro O Cristianismo Através dos Séculos, Cairns, expõe as fases do monasticismo na seguinte seqüência: No período da gradual decadência interna do império romano, o monasticismo exerceu um forte apelo para muitos que prontamente renunciaram a sociedade em favor do claustro. Este movimento tem sua origem no século IV, quando leigos em número cada vez maior começaram a se ausentar do mundo. Ao final do século VI, o monasticismo tinha fundas raízes na igreja ocidental e oriental. Um segundo período de grandeza do monasticismo ocorreu por ocasião das reformas monásticas dos séculos X e XI. A era dos frades no século XIII constitui um terceiro período. O surgimento dos jesuítas na Contra Reforma do século XVI constitui o período final em que o monasticismo atingiu profundamente a Igreja17 . Conforme o resumo apresentado por Cairnes estas foram as fase do monasticismo na idade media, mas gostaríamos de nos deter em apenas dois que ira nos dar uma visão objetiva sobre este movimento. No sexto século, período citado por Cairnes encontra se são Benedito ou são Bento como é conhecido. Embora existam outras figuras que deram inicio ao monasticismo. Como por exemplo, Antônio sendo o primeiro monge a viver de forma isolada e ascética, que deixou a fazenda de sua família no Egito por volta do ano 270 e retirou-se sozinho para o deserto a fim de encontrar a Deus.18 Mas São Bento surgi em sua época com uma visão monástica mais limitada, quanto ao ascetismo. E que segundo Mark, ele tenha dado a forma mais decisiva e mais benéfica.19 Influenciando de forma positiva o movimento 16 HERLBULT, José.Lyman. História da Igreja Cristã. São Paulo: Editora Vida, 1979. p., 83. 17 CAIRNS. Earle. E. O Cristianismo Através dos Séculos: Uma História da Igreja Cristã. São Paulo: Vida Nova, 1995. p., 122. 18 NOLL, Mark A. Momentos decisivos na História do Cristianismo. São Paulo: Cultura Cristã, 2000. p., 93. 19Id.Ibid., p., 93
  • 15. 15 monástico pra sempre. E essa influência se deu por suas regras que foram muito importantes para o aperfeiçoamento dos mosteiros, como por exemplo: Disciplina um espírito Zeloso que frequentimente havia se aproximado do fanatismo; limitar uma prática de asceticismo que facilmente descambava para o gnosticismo, o docetismo ou coisas piores; preservar a centralidade das Escrituras em um movimento que valorizava grandemente a iluminação espiritual interior; colocar a oração no centro da vida Cristã; conectar uma experiência elevada com as realidades básicas do trabalho, estudo, alimentação e repouso; e, não menos importante, oferecer um ideal de vida monástica no qual muitos reformadores acharam inspiração e encorajamento durante mil e quinhentos anos.20 È fato que o movimento monástico tem a sua ênfase no ascetismo, e que foi na sua forma embrionária uma ação contraria a imoralidade e a injustiça, pregada pela realeza. Bem como também, que houve uma grande contribuição por parte de São Bento e suas regras, que contribuíram de certa Maneira para a defesa da fé. Mas isso não apaga a idéia de que neste período da Idade Média, muitas pessoas alimentavam a idéia da santidade como uma opção pessoal por uma vida mais elevada, vivida por cristãos extremamente sérios. Tais pessoas não tinham dúvidas de que era certo buscar a separação, aparentemente, necessária para esse tipo de vida, renunciando o casamento, e às riquezas e tornando-se um monge, uma freira ou um eremita, sendo assim uma pratica ascética. Esse conceito deturpado de santificação, presente neste período, era de uma santificação obtida ou desenvolvida através da auto-flagelação do corpo. Lutero foi um exemplo prático destas “disciplinas”. Ele entregava-se a severas práticas de autoflagelação, dentre elas passar vários dias jejuando, vigílias de oração mais longas que as comumente praticadas, recusa em possuir uma porção normal de cobertores causando ao corpo intenso frio, ou mesmo castigos deferidos contra o corpo. Citando as palavras de Lutero, quanto a sua diligência nestas autoflagelações, assim colocou R. C. Sproul: “Fui um bom monge, guardei as regras da minha Ordem tão estritamente, que posso dizer que se algum monge fosse para o céu por causa disso, esse seria eu. Todos os meus irmãos no monastério podem confirmar: Se tivesse continuado assim, teria me matado com vigílias, orações, leituras e outras obras”21. 20 NOLL, op. cit, p. 93. 21 SPROUL, C., R.. A Santidade de Deus: A Grandeza, a Majestade e a Glória de Deus. São Paulo: Cultura Cristã, 1997. p., 95.
  • 16. 16 Além das práticas já citadas, Lutero tinha como hábito à confissão diária, e procurava em seu confessor a absolvição para seus pecados. 22 Era comum aos monges a prática de confessarem os pecados cometidos. O sacerdote que ele confessava, Staupitz discutia brandamente com ele, e falava-lhe do amor de Deus e que Deus não estava zangado com ele, como Lutero supunha; mas o monge continuava desconsolado.23 "É em vão", dizia Lutero tristemente a Staupitz, "que eu faço tantas promessas a Deus: o pecado é sempre o mais forte". Ele fazia esforços extraordinários para reformar o seu modo de viver, e para expiar o passado por meio de orações e penitências, e foram muitos os votos que ele fez para se abster de pecado, mas estes esforços nunca o satisfizeram, e quebrava sempre os seus votos.24 "É em vão", dizia Lutero tristemente a Staupitz, "que eu faço tantas promessas a Deus: o pecado é sempre o mais forte". Assim perdurou a angústia. A culpa que tenazmente o perseguia até o momento que em contato com a epístola de Paulo aos Romanos, descobrindo que Deus não somente era justo e zangado, como sempre o definia, mas que era um Deus santo, justo e acima de tudo justificador, Lutero foi lançado ao abismo e por Deus foi salvo. 22 NICHOLS, Robert Hastings. História da Igreja Cristã. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 2000. p., 156- 157. 23 I KNIGHT, A. E. Historia do Cristianismo. CPAD, p., 131. (Disco Rígido). 24Ibid., p., 131.
  • 17. 17 1.3 Conceito na Reforma Protestante Grandes reformas doutrinárias foram introduzidas. Foram sustentadas todas as doutrinas da trindade, a deidade e ressurreição de Cristo, a Bíblia como única revelação de Deus, a queda do homem, o pecado original e a necessidade de uma vida moral para o cristão. Os protestantes eram unânimes em torno da salvação pela fé somente, da autoridade exclusiva da Bíblia como única regra infalível de fé e prática e o sacerdócio universal de todos os crentes. Um aspecto de grande importância provocado pela Reforma foi a, renovação da exposição Bíblica. Lutero brilhou como excelente expositor Bíblico. Calvino dedicou muito de seu tempo à pregação e ao ensino da Palavra. Essa renovação levou os reformadores reagiram contra a tradição da igreja medieval de que defendia um esforço externo por ganhar mérito, ou seja, que a santificação seria obtida pela obras, conforme afirma o Catecismos da Igreja Católica: O trabalho humano procede imediatamente das pessoas criadas à imagem de Deus e chamadas a prolongar, ajudando-se mutuamente, a obra da criação, dominando a terra. O trabalho pode ser um meio de santificação e uma animação das realidades terrestres no Espírito de Cristo.25 Mas os reformadores afirmavam que a santificação, em vez de ser egocêntrica, é excêntrica, orientada para glória de Deus e o bem do próximo.26 Os reformadores, não a consideravam como algo sobrenaturalmente infuso no homem pelos sacramentos, mas, uma obra sobrenatural e graciosa operada pelo Espírito Santo. Ao ensinarem acerca das doutrinas da justificação e santificação, os reformadores fizeram clara distinção entre uma e outra. A justificação era vista por eles como um ato legal da graça divina, e a santificação como sendo uma obra moral ou recriadora, que muda a natureza interior do homem. Eles não se detinham apenas na diferenciação ou na cuidadosa distinção entre as duas doutrinas, mas também explicitaram a conexão que há entre elas. Visto que a justificação se dá por meio da fé, mas a fé que justifica se segue à santificação. Deus envia o Espírito do Seu Filho aos corações dos eleitos que, sendo justificados por intermédio desse mesmo Espírito, são também santificados. Vejamos como Grudem apresenta a diferença entre justificação e santificação. JUSTIFICAÇÃO SANTIFICAÇÃO Posição legal Condição interna De uma vez por todas Continua por toda a vida 25 RATZINGER, Joseph. Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Editora Loyola, 2000. p., 627 26 SMITH, William S. A História das Doutrinas. Minas Gerais: Editora Ceibel, 1981. p., 148.
  • 18. 18 Obra inteiramente de Deus Nós cooperamos Perfeita nesta vida Não perfeita nesta vida A mesma em todos os cristãos Maior em alguns do que em outros. Como esta lista indica, a santificação é algo que continua por toda a nossa vida cristã. O curso normal da vida do cristão envolve contínuo crescimento na santificação, e essa é uma questão para o qual o Novo Testamento nos encoraja a dar atenção e por ele demonstrar zelo.27 A santificação, no Catecismo de Westminster, é definida como sendo “a obra da livre graça de Deus, pela qual somos renovados em todo o nosso ser, segundo a imagem de Deus, e habilitados a morrer mais e mais para o pecado e a viver para justiça”. Em conformidade com essa definição, a justificação difere da santificação: (1.) Em que a primeira é um ato transitório e a segunda, uma obra progressiva. (2.) A justificação é um ato forense,28 agindo Deus como juiz, declarando satisfeita a justiça relativa ao pecador crente, enquanto a santificação é um efeito devido à eficácia divina. (3.) A justificação modifica ou declara modificada a relação do pecador com a justiça de Deus; a santificação envolve a mudança de caráter. (4.) A primeira, portanto, é objetiva; e a segunda, subjetiva. (5.) A primeira baseia-se no que Cristo fez por nós; a segunda, no efeito do que ela faz em nós. (6.) A justificação é completa e igual em todos; enquanto a santificação é progressiva, e é mais completa em alguns do que em noutros. Da santificação declara-se que é uma obra da livre graça de Deus. Duas coisas estão aí incluídas. Primeiro que o poder ou a influência mediante a qual ela é concretizada é supernatural. Segundo, que a concessão desta influência a qualquer pecador, a um pecador ao em vez de outro, e a um mais do que a outro, é questão de favor. Ninguém tem pessoalmente, nem a si próprio, com base em algo que porventura tenha feito, o direito de reivindicar esta influência como uma recompensa justa, nem como questão de justiça. 29 O bispo anglicano J. C. Ryle, em seu livro Santidade coloca com muita clareza a conexão e a distinção entre justificação e santificação. Para Ryle, a justificação e a santificação se a semelham nos seguintes pontos: Tanto a justificação como a santificação, procede da graça de Deus, ambas fazem parte da grandiosa obra de salvação que Jesus Cristo realizou em favor de seu povo. Aqueles que são justificados também são sempre santificados. Tanto a justificação como a santificação, começam no mesmo tempo, no momento em que um 27 GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999. p., 622-623. 28 “Forense”, adj.2g. Relativo ao foro Judicial ou aos tribunais. 29 HODGE, Charles. Teologia sistemática. São Paulo: Hagnos, 2001. Resumo da, p., 1182.
  • 19. 19 eleito começa a ser um crente justificado, começa a ser um crente santificado, ambas são igualmente necessárias à salvação30. Ryle apresenta também a distinção entre justificação e santificação, fazendo as seguintes considerações: A justificação é quando Deus declara que um homem é justo, com base nos méritos de Cristo. A santificação é o desenvolvimento progressivo da justiça no interior do homem. A retidão que o homem recebe pela justificação não é sua própria, mas é a perfeita e eterna retidão de Cristo, atribuída ao homem apenas pela fé, ao passo que a retidão que o homem tem por meio da santificação é a sua própria retidão, inerente, em nós, operada pelo Espírito Santo, embora com grande imperfeição. Na justificação as obras humanas não fazem à menor diferença, na santificação as obras têm grande importância. A justificação é uma obra terminada e completa no eleito, a partir do momento em que crê. No entanto, a santificação é uma obra imperfeita, comparativamente falando; jamais será completa enquanto não chegarmos ao céu. A justificação não admite qualquer desenvolvimento. A santificação tem natureza progressiva permitindo um crescimento enquanto o crente estiver vivo. A justificação tem referencia a nossa posição, à nossa libertação da culpa. Ao passo que a santificação está relacionada à nossa natureza e a renovação moral dos nossos corações. A justificação nos confere o direito de ir para o céu. A santificação nos tornar adequados para morar no céu. 31 Ryle desenvolveu estas idéias acerca da doutrina da santificação, partindo de um sério e profundo estudo das Escrituras, com a finalidade de que o povo de Deus fosse instruído e edificado nas verdades bíblicas, e a assim rejeitassem todo falso ensino das Escrituras. Em oposição a esse pensamento reformado encontra-se o perfeccionismo de John Wesley, que foi um dos maiores pregadores desta doutrina, dizia que: “A perfeição consiste em amar a Deus de todo o coração, mente, alma e força. Isso implica que nenhum temperamento forte, nada contrário ao amor, permanece na alma; e que todos os pensamentos, palavras e ações são governados pelo amor”.32 Portanto, para John Wesley uma vez que o crente ama a Deus, esse amor o impulsiona a prestar perfeita obediência a ele. Sendo assim, a perfeita santificação não só deve ser buscada como também atingida pelo crente. Ainda John Wesley, para defender o perfeccionismo, também dizia que a perfeição é: “Morte total para o pecado e total renovação à imagem de Deus... no momento ‘da 30 RYLE, J. C. Santidade Sem a Qual Ninguém verá o Senhor. São Paulo: Editora Fiel, 1987. Resumo p., 53- 54. 31Ibid., p., 54. 32HODGE, op. cit. p.,1212.
  • 20. 20 santificação plena’, todo pecado interior é retirado”.33Ele também dizia que: “Alguns deslizes e transgressões precisam de expiação; mas não são pecados. Eu não lhes dou o nome de pecado”.34 Sendo assim, o homem pode guardar perfeitamente a lei, pois, ela não é a lei moral original, mas uma lei apropriada ao seu estado debilitado depois da queda, chamada de a lei de Cristo. De fato, a teoria perfeccionista, não tem base bíblica nenhuma. Os próprios santos, que Deus levantou para trabalharem no seu reino, assumiram que apesar de regenerados ainda eram pecadores e por isso não chegariam à perfeita santidade nesta vida. Archibald Alexander Hodge nos diz que as biografias e testemunhos registrados de todos os santos da Escritura impossibilitam atribuir perfeição impecável a qualquer um deles.35 Nesta mesma linha de pensamento, John Charles Ryle nos diz da seguinte forma: Qual santo pode ser citado, dentro da Palavra de Deus, de cuja vida muitos detalhes foram registrados, que tenha sido absoluta e literalmente perfeito? Qual dentre eles, ao escrever sobre si mesmo, falou em sentir-se isento de imperfeições? Pelo contrário, homens como Davi, Paulo e João declaram, na linguagem mais vigorosa, que eles sentiam em seus próprios corações debilidade e pecado.36 Em concordância com esse pensamento Charles Hodge ao falar sobre o perfeccionismo, diz que, realmente, Deus, de maneira maravilhosa, fez provisão, em Cristo, para a completa salvação de seu povo, ou seja, para total libertação deles da culpa e do domínio do pecado. Todavia, isso não significa que nesta vida o povo chegará à total santificação, pois o próprio Deus não promete isso.37 Verdadeiramente, os reformados, enfatizam a necessidade diária, contínua que o servo do Senhor tem de se entregar mais e mais ao Senhor. Levando a sério a luta da carne contra o Espírito, do velho homem com o novo homem, e de seguir a vocação que o Senhor lhe deu de se despojar do velho homem e de se revestir do novo homem. Sendo assim, concluímos esta parte do trabalho, afirmando que o conceito reformado, ao contrário dos demais conceitos, apresenta a doutrina da santificação como qualquer doutrina deve ser apresentada, ou seja, com fundamentos bíblicos. Por isso, o conceito reformado também defende que a busca da santificação evidencia uma conversão genuína. E sem conversão não há salvação. 33ANTHONY, Hoekema. Salvos Pela Graça. 2. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2002. p., 210. 34David S. Clark. Compêndio de Teologia Sistemática. 2. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 1988. p., 367. 35HODGE,Archibald Alexander. Esboço de Teologia. 1. ed. São Paulo: Editora PES, 2001. p., 746-747. 36RYLE, op. cit, p.,11. 37HODGE, Charles. op. cit, p., 1205-1206.
  • 21. 21 II- ASPECTOS TEOLOGICOS DA SANTIFICAÇÃO 2.1 Ela é Exclusiva dos Regenerados Para que se possa afirma que a santificação é exclusiva dos regenerados, primeiro se faz necessário explicar de forma sucinta o conceito de regeneração na perspectiva reformada e a sua relação com a santificação, sem nos deter muito sobre o assunto. Propondo assim um entendimento sobre a santificação no novo homem regenerado, transformado pelo Espírito Santo de Deus e por sua palavra. Portanto veremos primeiro há semelhança e a diferença entre as duas. “A santificação é a obra da livre graça de Deus, pela qual somos renovados em todo o nosso ser, segundo a imagem de Deus, e habilitados a morrer cada vez mais para o pecado e a viver para a retidão”38. É uma mudança contínua operada por Deus em nós, livrando-nos dos hábitos pecaminosos e formando em nós afeições, disposições e virtudes semelhantes às de Cristo. É uma real transformação, não mera aparência. Essa renovação moral ocorre pela ação do Espírito que habita em nós (1Co 6.9-11,19-20; Ef 4.17-24). Deus chama seus filhos para a santidade e, graciosamente, lhes dá o que Ele mesmo exige (1Ts 4.4, 5.22-23). Regeneração é nascimento; santificação é crescimento que necessariamente resulta dele. Na regeneração, Deus implanta em nós desejos que antes não tínhamos (desejo por Deus, pela santidade, de glorificar o nome de Deus, orar, cultuar, fazer bem aos outros). Na santificação, o Espírito “efetua em nós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade”, que capacita o seu povo para cumprir seus novos e santos desejos (Fp 2.12-13). Os cristãos se tornam crescentemente semelhantes a Cristo, quando o perfil moral de Jesus (o “fruto do Espírito”) é progressivamente formado neles (2 Co 3.18, Gl 5.22-25). A regeneração é um ato instantâneo, que leva a pessoa da morte espiritual para a vida; é obra exclusiva de Deus. A santificação é um processo constante, que depende da ação contínua de Deus no crente, e consiste na contínua luta do crente contra o pecado. O método de santificação usado por Deus não é ativismo, nem apatia, mas esforço humano dependente de Deus (Fp 3.8-14). Sabendo que: (1) sem a capacitação dada por Cristo não podemos fazer boas obras e (2) que Ele está pronto a fortalecer-nos em tudo o que devemos fazer (Fp 4.13), “permanecemos em Cristo”, pedindo e recebendo Seu auxílio (Cl 1.11, 2 Tm 2.1). Cristo é o supremo padrão (1Pd 2.21). 38 Breve Catecismo de Westminster, pergunta. 35.
  • 22. 22 Anthony Hoekema ao falar sobre a regeneração diz que a mesma é um novo nascimento: “regeneração é uma mudança radical da morte espiritual para a vida espiritual, operada pelo Espírito Santo — Uma transformação na qual somos completamente passivos. Essa mudança envolve uma transformação interna de nossa natureza, é fruto da graça soberana de Deus, e ocorre na união com Cristo.” 39 Para tanto, Luiz Berkof faz uma comparação da santificação com a regeneração, ao considera a regeneração parte do estagio da obra da salvação. Ao comenta sobre o assunto diz: A regeneração é completada de uma vez, pois o homem não pode ser mais ou menos regenerado; está vivo ou morto espiritualmente. A santificação é um processo que produz mudanças graduais, de sorte que é possível distinguir diferentes graus da santidade resultante. Daí, somos admoestados a aperfeiçoar a santidade, no temor do Senhor, 2 Co 7.1. O Catecismo de Heidelberg também pressupõe a existência de graus de santidade, quando declara que, mesmo “os homens mais santos, nesta existência, têm apenas um pequeno princípio desta obediência”. Ao mesmo tempo, a regeneração é o princípio da santificação. A obra de renovação, iniciada naquela, tem prosseguimento nesta, Fp 1.6. Diz Strong: “Ela (a santificação) se distingue da regeneração como o crescimento se distingue do nascimento, ou como o fortalecimento de uma santa disposição se distingue da comunicação original dela”.40 Como se pode observar a obra da salvação tem seu inicio na regeneração e prossegue na santificação. Pois a regeneração que é uma obra definitiva, e a santificação pode ser definitiva (posicional) e progressiva. Definitiva porque é obra do Espírito Santo. Como comenta A CFW: Os que são eficazmente chamados e regenerados, tendo criado em si um novo coração e um novo espírito, são, além disso, santificados real e pessoalmente pela virtude da morte e ressurreição de Cristo, pela sua palavra e pelo seu Espírito, que neles habita; o domínio do corpo do pecado neles todo destruído, as suas várias concupiscências são mais e mais enfraquecidas e mortificadas, e eles são mais e mais vivificados e fortalecidos em todas as graças salvadoras, para a prática da verdadeira santidade, sem a qual ninguém verá a Deus.41 Como podemos observa Deus santifica os pecadores de uma vez e para sempre de uma vez por todas os que são chamados eficazmente por Deus por meio de Jesus Cristo para Si, separando-os do mundo, livrando-os de Satanás e do pecado, e recebendo-os em seu 39 HOEKEMA, Anthony A. salvos Pela Graça. op. cit, p., 107. 40BERKOF, Luis. Teologia Sistemática. p., 536. ( Disco Rígido) 41 WESTMINSTER, Cp. XIII, I.
  • 23. 23 companheirismo.42Para Packer esse acontecimento é passado, pois uma vez santificado permanece sendo santo em virtude da ação santificadora de Cristo na cruz (1Co 1.2). E por conta disso os crentes não devem “ter vidas santas a fim de se tornarem santos; ao invés disso, ensinar que os crentes, por serem santos, devem viver vidas santas!43 Portanto conforme as definições acima e a sua relação, prosseguiremos agora na busca de um entendimento sobre a santificação no novo homem regenerado transformado pelo Espírito Santo de Deus e por sua palavra. Portanto veremos a ação da santificação na vida do regenerado. Afirmando que ela. 2.1.1- Afeta o Homem Todo Ao falar sobre a verdade de que a santificação afeta o homem todo, John Murray nos diz que: a santificação envolve a concentração do pensamento, do interesse, do coração, mente vontade e propósito, em direção à soberana vocação de Deus em Cristo Jesus e ao desempenho da totalidade de nosso ser no uso daqueles meios que Deus instituiu com o fim de atingir essa destinação.44 Conforme Berkhof: “... a santificação ocorre na vida interior do homem, no coração, e este não pode ser mudado sem se mudar todo organismo do homem”.45 Realmente, a santificação afeta o homem todo. Ou seja, o intelecto, as emoções, o espírito e o corpo físico de uma pessoa. Augustus Hopkins Strong diz que a operação de Deus na santificação do regenerado é tanto em sua vida prática quanto em seu intelecto.46 Verdadeiramente, percebemos que a santificação afeta o intelecto de uma pessoa quando Paulo diz que os regenerados são revestidos do novo homem “que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou” (Colossenses 3:10). A santificação do intelecto de uma pessoa envolverá crescimento em sabedoria e conhecimento à medida que ela leva “cativo todo pensamento à obediência de Cristo” (2Coríntios 10:5), constatando assim que seu pensamento é cada vez mais os pensamentos que o próprio Deus a concede pela sua palavra. Além disso, a santificação afetará as emoções de uma pessoa. Ou seja, sentimentos como “amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, 42 PACKER, J.I. Vocábulos de Deus. 1. ed.São Paulo: Editora Fiel, 2002. p. 162. 43 Id. Ibid., P. 163. 44MUNRRAY, John. Redenção Consumada e Aplicada. 1. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 1993. p., 166. 45BERKHOF, Louis, op. cit. p.,537. (Dísco Rígido) 46STRONG, Augustus Hopkins. Sysematic Theology. 1th. ed. Old Tappan, New Jersey, USA: Editors. Revel, 1979. p., 871.
  • 24. 24 domínio próprio” (Gálatas 5:22-23) vão estar gradualmente mais constantes na vida da pessoa regenerada. Cada vez mais a pessoa, que está no processo de santificação, será capaz de obedecer de coração a Deus (Romanos 6:17) e, então, descartará as emoções negativas associadas a “amargura, e cólera, e ira, e gritarias, e blasfêmias e bem assim toda malícia” (Efésios 4:31). Também, a santificação terá um efeito sobre a vontade de uma pessoa. Como diz as Escrituras, todos, sem exceção, se desviam para seu próprio caminho, seguem sua própria vontade (Isaías 53:6). Enquanto nossa vontade não for controlada por Deus, ela continuará negligenciando os mandatos de Deus. Assim, à medida que ela cresce na sua santificação, ela também terá sua vontade mais moldada à vontade de Deus. Pois, “... Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade” (Filipenses 2:13). A santificação também afetará nosso espírito, ou seja, a parte não física do nosso ser. Portanto, uma pessoa regenerada deve purificar-se “de toda impureza, tanto da carne como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus” (2Coríntios 7:1). O apóstolo Paulo diz que a preocupação com as coisas do Senhor significa dar atenção a como ser santo “assim no corpo como no espírito” (1Coríntios 7:34). Por fim, a santificação também afeta o corpo de uma pessoa regenerada. Como nossos corpos são partes integrantes de nossa pessoa, seus instintos e apetites agem imediatamente sobre os sentimentos de nossa alma; e daí devem manter o sujeito sob o controle da vontade santificada, e todos os membros do corpo, como órgão da alma, feitos instrumentos da justiça para Deus (Romanos 6:13; 1 Tessalonicenses 4:4). Herman Ridderbos nos diz que a santificação, a nova vida de uma pessoa é em toda sua constituição, inclusive em seu corpo.47 Archibald Alexander Hodge nos explica em que sentido é santificado o corpo: 1°. Como Consagrado: (1) por ser templo do Espírito Santo, 1Cor. 6:19; (2) por ser membro de Cristo – 1 Cor. 6:15. 2°. Como santificado: sendo o corpo parte integrante da nossa pessoa, seus instintos e apetites operam imediatamente sobre as paixões da alma, e, por isso, é necessário que os sujeitemos à direção da alma santificada e que façamos de todos os membros, como órgãos da alma, instrumentos de justiça para Deus – Rom. 6:13; 1Tess. 4:4. 3°Nossos corpos hão de tornar-se semelhantes ao corpo glorificado de Cristo – 1Cor. 15:44; Fil. 3:21.48 Portanto, o corpo de uma pessoa regenerada não deve ser impensadamente vítima de maus tratos, mas deve tornar-se útil e capaz de reagir à vontade de Deus: “Acaso, não sabeis 47RIDDERBOS, Herman. A Teologia do Apóstolo Paulo. 1. ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2004. p., 292. 48HODGE, Archibald Alexander. op.cit, p.,729.
  • 25. 25 que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo” (1Coríntios 6:19-20). Não seria correto terminar sem observar que a santificação traz alegria ao regenerado. Quanto mais ele cresce conforme a semelhança de Cristo, experimentara tanto mais a “alegria” e a “paz” que são parte do fruto do Espírito Santo (Gl. 5:22) para aproximar-se do tipo de vida que se espera no céu. Paulo diz que à medida que nos tornamos cada vez mais obedientes a Deus, temos nosso “fruto para a santificação e, por fim a vida eterna” (Rm. 6:22). Ele entende ser essa a fonte da nossa verdadeira alegria. “Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (Rm. 14:17). À medida que crescemos em santidade, crescemos em conformidade à imagem de Cristo, e cada vez mais a beleza de seu caráter é vista em nossa própria vida. Essa é a meta da perfeita santificação que esperamos e almejamos, e que será nossa quando Cristo retornar. “E a si mesmo purifica todo o que nele tem esperança, assim como ele é puro” (1Jo. 3:3). 49 Portanto a santificação é uma experiência exclusiva dos regenerados, pois somente os regenerados podem ser santificados e se santificar. Pois a santificação conforme Vincet Cheung afirma que, é definitiva refere-se à quebra instantânea e decisiva do domínio do pecado no crente recém-convertido, quando ele chega à fé em Cristo. Deus o consagra e o separa do mundo.50 2.2 É uma Experiência Sem a Qual Ninguém Verá a Deus. Para este ponto tentaremos desenvolver o aspecto posicional e progressivo da santificação no homem na perspectiva reformada. Mas antes observaremos a relação entre a justificação sendo um ato de uma vez para sempre, e Santificação sendo tanto um ato (instantâneo, posicional, judicial, legal, de Deus) quanto também como um processo (perseverante e progressivo, experiencial). Vejamos: Na aliança da graça a justificação precede a santificação e lhe é básica. Na aliança das obras a ordem da justiça e da santidade é precisamente o inverso. Adão foi criado com uma santa disposição e inclinação para servir a Deus, mas, com base nesta santidade, ele tinha que se sair bem na prática da justiça para ter direito à vida eterna. A justificação é à base judicial da santificação. Deus tem o direito de exigir de nós à 49 GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. 1. ed. São Paulo: Vida Nova. 1994, p., 631-633. 50 CHENUG, Vincent. Teologia Sistemática. (Disco Rígido), p.,190.
  • 26. 26 santidade no viver, mas, uma vez que não podemos ter bom êxito com esta santidade por nós mesmos, ele gratuitamente a produz em nós, por intermédio do Espírito Santo, com base na justiça de Jesus Cristo, que nos é imputada na justificação. O próprio fato de que ela se baseia na justificação, na qual a livre graça de Deus sobressai com a máxima proeminência, exclui a idéia de que alguma vez possamos merecer alguma coisa na santificação. A idéia Católica Romana de que a justificação habilita o homem para praticar obras meritórias é contrária a Escritura. A justificação, como tal, não efetua mudança em nosso ser interior e, portanto, necessita da santificação como seu complemento. Não basta que o pecador tenha a posição de justo diante de Deus; é preciso também que ele seja santo em sua vida interior. Barth tem uma descrição bem incomum da relação entre justificação e a santificação. Com o fim de evitar toda justiça própria, ele insiste em que as duas sejam sempre consideradas juntamente. Elas andam juntas e não devem ser consideradas quantitativamente, como se uma segui-se a outra. A justificação não é um posto pelo qual a gente passa um fato realizado em cuja base logo parte para a estrada principal da santificação. Não é um fato consumado que se possa ver olhando para trás com definida segurança, mas ocorre sempre de novo, toda vez que o homem chega ao ponto de completo desespero, e então vai de mãos dadas com a santificação. E, exatamente como o homem continua sendo pecador depois da justificação, assim continua sendo pecador na santificação; mesmo as suas melhores ações continuam sendo pecado. A santificação não gera uma disposição santa, e não purifica gradativamente o homem. Não lhe dá posse de alguma santidade pessoal, não faz dele um santo, mas o deixa pecador. A santificação passa a ser realmente um ato declarativo, como a justificação. McConnachie, intérprete de Barth que o vê com muita simpatia, diz: “Portanto, para Barth a justificação e a santificação são duas faces de um ato de Deus sobre os homens. A justificação é o perdão do pecador, pelo qual Deus declara justo o pecador. A santificação é a do pecador (santificatio impii), pela qual Deus declara ‘santo’ o pecador”. Por mais louvável que seja o desejo de Barth de destruir todo prestígio de justiça das obras, certamente ele vai a um extremo destruído de fundamento, no qual virtualmente confunde a justificação com a santificação, nega a vida cristã e elimina a possibilidade de confiante segurança. A fé é a causa mediata ou instrumental da santificação, como também da justificação. Não merece a santificação, como tampouco a justificação, mas nos une a Cristo e nos mantém em contato com Aquele que é a Cabeça da nova humanidade, a fonte da nova vida em nós, e também da nossa progressiva santificação, através da operação do Espírito Santo.
  • 27. 27 A consciência do fato de que a santificação se baseia na justificação e de que é impossível sobre qualquer outra base, e de que o constante exercício da fé é necessário para haver avanço no caminho da santidade, nos protegerá de toda justiça própria em nossa luta para progredir na vida piedosa e na santidade em nosso viver. Merece particular atenção aqui o fato de que, enquanto é proporcional ao vigor da fé cristã e á persistência com que se apega a Cristo51 Por fim a santificação deve ser diferenciada da justificação. A justificação consiste de uma absolvição divina que é totalmente realizada de uma vez por todas. Não sendo desenvolvida nem aumentada como a santificação que tem a sua origem na regeneração, e que exige nutrição para desenvolver-se até alcançar o ápice somente quando for revelada com Cristo. Quanto ao aspecto progressivo podemos observar que no Antigo Testamento (AT), Deus ordenou a Moisés e ao povo de Israel que todos fossem santos: “Santo sereis, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou Santo” (Lv 19. 2). Por sua vez, o Apóstolo Pedro no Novo Testamento (NT), abordando o assunto santificação progressiva afirma que: “Mas, como é Santo aquele que vos chamou sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver; Porquanto está escrito: Sede santos, porque eu sou santo”(1Pe 1.15, 16). Quanto a essa Santificação o Catecismo maior diz: Sendo a Santificação uma obra da graça de Deus, pela qual, os que Deus escolheu antes da fundação do mundo, para serem santos, são nesta vida pela poderosa operação de Seu Espírito e pela aplicação da morte e ressurreição de Cristo plenamente renovados, segundo a imagem de Deus, tendo as sementes do arrependimento que conduz á vida, e de todas as outras graças salvíficas implantadas e fortalecidas. Assim eles morrem cada vez mais para o pecado e ressuscitam para a novidade de vida.52 Dentro desta perspectiva progressiva o apóstolo Paulo destaca: “Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus” (2Co 7.1). Entendendo-se assim, que o homem deve manter-se puro, sendo um processo contínuo e crescente. João Calvino, o Reformador de Genebra, em sua obra, As Institutas da Religião Cristã comenta que: a santificação é a mortificação da própria vontade.53 Que seria uma vida de renúncia. Ele ainda declara no seu comentário sobre a santificação da igreja, afirmando que 51 BERKHOF, Louis. Op. Cit. p., 492-494. (Disco Rígido) 52 MARRA, Cláudio A. B.O Catecismo Maior de Westminster. São Paulo: Cultura Cristã série Símbolos de Fé. Pergunta nº 75 53 CALVINO, João. Institutas ou Tratado das Religiões. Editora Cultura Cristã. Cp VIII, p., 155. (Disco Rígido)
  • 28. 28 ela é progressiva. Onde o mesmo diz que enquanto o Cristão (Igreja) estiver aqui será santo, porém, ainda imperfeito: Entretanto, também nada é menos verdadeiro que isto: que o Senhor opera diariamente para desfazer as rugas e apagar as manchas. Do quê se segue que sua santidade ainda não está plenamente consumada. Portanto, assim é santa a Igreja: visto que avança diariamente, ainda não é perfeita, está fazendo progresso diariamente, contudo ainda não chegou à meta de santidade.54 Por sua vez, A CFW afirma que: Os que são eficazmente chamados e regenerados, tendo criado em si um novo coração e um novo espírito, são, além disso, santificados real e pessoalmente pela virtude da morte e ressurreição de Cristo, pela sua palavra e pelo seu Espírito, que neles habita; o domínio do corpo do pecado neles todo destruído, as suas várias concupiscências são mais e mais enfraquecidas e mortificadas, e eles são mais e mais vivificados e fortalecidos em todas as graças salvadoras, para a prática da verdadeira santidade, sem a qual ninguém verá a Deus.55 Neste processo de santificação além de Deus nos santificar conforme pôde ser visto, o homem também na sua vida prática, sendo fortalecido pelo Espírito, é estimulado por ele para a prática da santidade, que é na verdade crescer em graça, em meio às guerras contra a sua própria natureza pecaminosa. A CFW ainda afirma: Esta santificação é no homem todo, porém imperfeita nesta vida; ainda persistem em todas as partes dele restos da corrupção, e daí nasce uma guerra contínua e irreconciliável a carne lutando contra o espírito e o espírito contra a carne. 1Ts 5:23; 1Jo 1:10; Fp 3:12; Gl 5:17; 1Pd 2:11.56 Ao contrário do que afirma a Confissão de Fé e a Teologia Reformada, John Wesley, um expoente do movimento perfeccionista, afirma e reafirma a possibilidade de perfeição na presente dimensão ao afirmar que: “(...) Um homem perfeito é limpo de toda impureza, tanto da carne como do espírito (...) em quem não há tropeço e que, assim, não comete pecado.”57 Hermann Banvink comenta que os regenerados não são imediatamente aperfeiçoados e, de fato, eles não alcançam a perfeição nessa vida.58 No meio teológico reformado contemporâneo, encontra-se Francis A. Schaeffer, que 54 Id. Ibid., Livro IV. Cap. I p. 42. 55 WESTMINSTER, op.cit. Cp. XIII, I 56 Ibid. Cp, XIII. II 57 WESLEY, John. Explicação Clara da Perfeição Cristã. Recife: Imprensa Metodista,1984. p., 36. 58 BANVIK, Hermann. Teologia Sistemática. São Paulo: Editora SOCEP, 2001. p., 538.
  • 29. 29 ao tratar sobre a salvação passada, presente e futura afirma que: “a justificação é de uma vez por todas; a santificação é contínua, desde nossa aceitação de Cristo até o ponto da nossa morte.”59 Enfatizando assim a progressividade da santificação no homem na salvação, ao contrário de Wesley que crer em uma perfeição ainda nesta vida. Anthony Hoekema, em concordância com o pensamento reformado sobre o assunto em pauta afirma que: A Santificação, porém, também envolve nossa participação responsável. Para tanto, Paulo diz aos membros da igreja de Corinto, chamados noutra epistola de santificados em Jesus Cristo. Tendo, pois ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne, como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus. (2ª Co 7.1).60 Depois de definirmos a relação da Justificação com a santificação, e sua posição, Afirmando que ela é também progressiva. Tentaremos agora conforme o tema sugerido, que tem como base o texto de Hb 12.14 “Seguir a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” Fazer uma abordagem teológica exegética do texto quanto à santificação posicional e progressiva. No texto em analise encontra-se o verbo diw,kete “seguir” que esta na segunda pessoa do plural no tempo presente ativo imperativo. E que seria uma exortação aos leitores a continuarem ativamente na busca pela Eivrh,nhn “paz”. O verbo “seguir” poderia ser traduzido também como “perseguir” “pressionar”, “correr” após”, “esforça-se por” no sentido de insistência esforço, pois conforme a ação do verbo sendo uma ação presente e ativa nos leva a entender como algo continuo. Champlin argumenta que esta palavra era usada figuradamente, indicando uma busca moral e espiritual bem definida, ou indicando um alvo ou uma realização espiritual que é buscada. (Ver Rom. 9:30, 31; 12:13; I Cor. 14:1 ; Fil. 3:12, 14; I Tes. 5:15 ; I Tim. 6:11 e II Tim. 2:22).61 Temos Então, uma ordem aos irmãos no texto por meio de um imperativo diw,kete “perseguir” que seria uma ordem aos irmãos perseguirem a paz, ou seja, continue perseguindo o alvo, isto é, a paz. Na verdade seria sem descanso até alcançar essa paz, mas com todos, conforme o autor diz: “seguir a paz com todos” não só com os irmãos, mas com todos sem exceção. É interessante também observar que o verbo diw,kete “seguir” esta enfatizando a idéia de que o substantivo masculino acusativo a`giasmo,n “santificação” seja o 59 SCHAEFFER, A. Francis. Verdadeira Espiritualidade.1. ed,. São Paulo: Editora Cultura Cristã. 1999, p., 98. 60 HOEKEMA, Anthony. Salvos Pela Graça: A Doutrina Bíblica da Salvação. 1. ed. São Paulo: Cultura Cristã. 1997, p., 207. (Grifo meu). 61 CHAMPLIN, Russel Norman, PhD. D. Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo. 1. ed. São Paulo. Editora Milenium. 1979, p., 647.
  • 30. 30 objeto direto do verbo principal, por ser precedido pelo artigo definido, expressando assim o processo de santificação, não o estado ou fato da santificação. Substantivos terminados em mo,j descrevem ação.62 Levando a entender que deve ser perseguido ou buscado com esforço, e como também a conjunção aditiva kai. “e” que liga a oração “seguir a paz com todos e a santificação.” Temos ainda uma preposição genitiva cwri.j “sem” e que quando se trata do caso genitivo é geralmente usado para indicar que uma coisa está intimamente relacionada com outra (normalmente pertencendo ou sendo possuída pela outra). 63 Entendendo assim que existe uma relação entre a paz e a santificação, ou seja, uma depende da outra. O verbo o;yetai “verá” esta no futuro do indicativo médio, o modo indicativo indica um fato, sendo o modo da afirmação. Apresenta ação ou estado como algo real, fato.64 Indicando que seria impossível sem a santificação ver ao ku,rion “Senhor” Portanto, após fazermos uma analise exegética percebemos que a santificação expressa no texto analisado, se trata de uma santificação progressiva no sentido de que ela deve ser perseguida por todos aqueles que foram eleitos por Cristo antes da fundação do mundo. E se empenhando em confirmar seu chamado e eleição (Ef 1.4; 2Pe 1.10). Compreendendo assim que foram santificados pelo sacrifício de Cristo e devem diw,kete “seguir” a santificação como uma ordem de Deus para os seus filhos. De seguirem essa santificação cwri.j “sem” a qual ninguém o;yetai “verá” a Deus. Entendendo assim que existe uma relação entre a paz e a santificação, ou seja, uma depende da outra. Como também observando no texto o aspecto posicional da santificação em que ela é fundamental por ser uma ação de Deus, e necessária por ter o esforço do cristão neste processo progressivo, ou seja, durante toda a vida, até chegar à presença de Deus. Como o texto mesmo diz, “Sem a qual ninguém verá a Deus” Pois só verá a Deus os puros de coração, os que foram santificados por ele (posicional) ou que estão sendo santificados, conforme diz o texto de Hb 10.14-22, sendo uma ação realizada por Deus, onde nos somos passivos nesta santificação posicional. Mas na progressiva nos somos ativos, como diz o verso 22 onde encontramos o verbo prosercw,meqa na voz media depoente onde as formas depoente média ou passiva em quase todos os casos são traduzidas como voz ativa. Ativa indicando que também neste aspecto a santificação é progressiva. Percebendo assim que, devemos perseguir a santificação que por sua vez foi realizada de 62KISTEMAKER, Simon. J. Comentário do Novo Testamento de Hebreus. São Paulo: Cultura Cristã, 2006. p., 546. 63JOHN, H. Dobson.Aprenda o Grego do Novo Testamento. (Disco Rígido), p., 293 64 PINTO, Carlos Osvaldo Cardoso. Fundamentos para exegese do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2002. p., 29
  • 31. 31 forma definitiva (monergistica) em nossas vidas, para alcançarmos a perfeição em Cristo Jesus. Sendo assim uma experiência sem a qual ninguém verá a Deus, pois para se chegar a Deus e não ser consumido pela sua ira, só mesmo sendo santo. Assim como os sacerdotes precisavam se santificar para entrar no santo dos santos, nós também para chegarmos à presença de Deus precisamos ser purificados por ele escolhidos por meio do seu espírito que nos santificou e nos santifica, bem como também sermos obedientes ao seu mandamento de sermos santo assim como ele É. E de perseguirmos a paz e a santificação sem a qual ninguém verá a Deus.
  • 32. 32 III- IMPLICAÇÕES DA SANTIFICAÇÃO PARA A IGREJA 3.1 A Santificação não se Limita a Atos Exteriores A prática da santidade, segundo a concepção bíblica, não se limita a atos exteriores, embora o crente seja luz e sal da terra isto não significa que o cristão deve viver isolado deste mundo. Ainda que o mesmo lute com grandes pecados que habitam em sua natureza é dever dele buscar uma santidade com o auxílio do Espírito. A CFW diz: Nesta guerra, embora prevaleçam por algum tempo as corrupções que permanecem, contudo, pelo contínuo socorro da eficácia do santificador, o Espírito de Cristo, a parte regenerada do homem novo vence, e assim os santos crescem em graça, aperfeiçoando a santidade no temor de Deus.65 A santificação progressiva não promove pessoalmente nenhuma pessoa, não engrandece acima de outros irmãos menos santificados; pelo contrário, esta santificação promove o Reino de Deus onde o cristão é servo. O melhor escravo é o que mais se submete e mais trabalha para o seu senhor. Como “douloi” (escravos) de Cristo, o cristão santificado e regenerado deve servir com submissão e consagração: isto é, ser separado de tudo o que desagrada ou fere a Lei de Deus. Não é meramente uma santidade baseada em uma experiência que depois desaparece, ou em um só momento, pelo contrário, tal realidade ocorre em uma vida de renúncia e entrega ao Deus que o regenerou com a eficácia do seu Espírito Santificador. Que atua como um socorro no homem ao ponto de conduzi-lo a uma vida santa no Senhor, pois a Santificação é uma experiência que vivifica e aproxima o crente de Deus. Mas o que se tem visto e presenciado nos dias atuais é uma ênfase crescente a uma falsa espiritualidade. Onde, o que prevalece é uma experiência espiritual que levam pessoas a uma vida externa ou aparente. A santificação é uma real transformação, não mera aparência. O significado básico de “santificar” é separar para Deus, para seu uso. Porém Deus opera naqueles a quem ele reivindica como sua propriedade, de maneira a torná-los semelhantes à “imagem de seu Filho” (Rm. 8:29). Embora os atos exteriores não seja o termômetro que medi a santificação, e que ela não se limita a esses atos. Contudo, seria importante observamos os verdadeiros sinais visíveis (externos) dessa santificação como evidência interior no homem. Para tanto, neste capitulo decorreremos o tema fazendo as seguintes perguntas. Quais são os sinais visíveis de uma pessoa santificada? O que poderíamos esperar ver em sua vida? 65 WESTMINSTER, op.cit. Cp. XIII, seção. III.
  • 33. 33 Dentro desta pespectiva Hernanes Dias lopes comenta que, Há pessoas vivendo um papel de santidade, representando como ator uma vida bonita, piedosa mas, em casa, não conseguem esconder o que realmente são e, no fundo do coração, abrigam pecados ver- gonhosos e vis.66 Pessoas que falam tão fluentemente sobre as doutrinas cristãs que nos levam a pensar serem crentes autênticos. Repetem, sem cessar, palavras tais como "conversão", "Salvador", "evangelho", "graça", mas permanecem vivendo e servindo ao pecado. Não estariam elas fazendo juramentos falsos e usando o nome de Deus em vão? Cristo não quer que usemos "apenas" a língua no Seu serviço, mas todo o nosso ser. Trombetas vazias, címbalos retumbantes, cuidados apenas com o exterior: São perigos enganadores (Mateus 23. 1-5, 25-28, I João 3.18). Mas, há, também, quem se manifeste tocado, sensibilizado e despertado pela pregação do evangelho; mas, tudo é superficial. À semelhança dos ouvintes duros como pedra, recebem a Palavra "com alegria", mas não custa muito para abandonarem e voltarem às suas origens! (Mateus 13.20). As consequências de um emocionalismo falso tornam-se numa mortífera doença da alma. As intensas emoções religiosas não significam, necessariamente, ter acontecido novo nascimento. Santificação não consiste apenas em puro formalismo externo ou em devoção exterior; não se limita à frequência aos cultos, às reuniões, à observação do calendário cristão, às gesticulações, à austeridade ou autonegação. Para muitas pessoas essa religiosidade externa existe para substituir à santidade interna. Que grande perigo espiritual corre aqueles que vivem apenas para serem vistos em suas ações! Santificação não é afastamento das ocupações diárias da vida comum, renunciando aos nossos deveres sociais. Nenhum cadeado poderá trancar uma porta para impedir a entrada do diabo. Convento ou mosteiro não nos isentam das tentações. A santificação não nos livra das dificuldades, mas nos prepara para enfrentá-las e conquistá-las. Somos o sal em meio à corrupção e luz em meio às trevas. Cristão santificado é o que glorifica a Deus seja ele um senhor ou um servo, um pai ou filho, no lar ou na sociedade, no trabalho profissional ou no lazer (João 17.15). Santificação não significa corretas ações eventuais. É, sim, um princípio celestial que influencia o cristão em todo tempo e qualquer circunstância. Sua sede é o coração. Não se liga a Deus em alguns momentos, mas vive com Deus, sem interrupção. Há pessoas que são tomadas por eventuais atos de bondade, quando estão, por exemplo, sob a influência de enfermidades, próximas da realidade da morte, das calamidades ou algum sinal de peso em 66 LOPES, Hernandes Dias. Derramamento do Espírito. (Disco Rígido). p., 26.
  • 34. 34 sua consciência. Mas, o verdadeiro coração santificado age como Ezequias ou como o Salmista (II Cr. 31.21, Sl. 119.104).67 Faz com todo coração e sinceridade para o Senhor. J.I. Packer comenta que, aqueles que desejam, com todo coração, ser santos, são certamente, o sal de Deus no mundo.68 Mas o que falar sobre a obediência a lei de Deus não como uma ação limitada a atos externos, e sim vendo a lei como um guia amigo em busca da santidade. Pois, se tratando de lei, o próprio Jesus Cristo não menosprezou os Dez Mandamentos; o apóstolo Paulo escreveu: "sabemos, porém, que a lei é boa, se alguém dela se utiliza de modo legítimo..." (I Tm 1.8), "...no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus" (Rm 7.22). Como poderá alguém viver em santidade e ao mesmo tempo viver com mentiras, hipocrisia, imoralidade, sem domínio próprio, entre outras proibições da lei. Essa obediência a lei de Deus exige do cristão um relacionamento verdadeiro tanto para com Deus como para com o próximo. Mas para muitos a vida santa significa cumprir a lei sem se relacionar. Para esse a santidade é essencialmente o cumprimento da lei. E para esses o cumprir a lei se resume em ser extremamente honestos nos negócios, bem como também ser extremamente machista no que diz respeito à liderança tanto em casa como na igreja. Meticulosamente conscientes em fugir do mal e evitar atividades classificadas como mundanas; beber, fumar, dançar e jogar, maquiar-se, etc. Bem como também, ter uma disposição própria em apontar os erros e pecados de outras pessoas. E sua paixão por andar de acordo com as regras merece verdadeira admiração e aplausos. Mas, esses são pessoas que não se relacionam e que são frias e distantes, que vem na lei a essência da santidade e se concentram mais na retidão formal da lei do que na proximidade pessoal com Deus ou com o próximo.69 O respeito e obediência a lei de Deus se dar por uma ávida pratica e não legalista (externa). Pois aquele que tenta cumprir a lei com base nestas ações sem nenhum relacionamento com o seu próximo, estar sendo mentiroso e evasivo em suas ações, por não ter a aprovação de Deus. Sendo assim uma atitude especificamente externa, e não uma ação interior que se manifesta em demonstração de uma vida, santa e piedosa, para a gloria de Deus, ou seja, Deus sendo glorificado em todas as nossas ações. Outro ponto também importante é quanto ao nosso esforço em fazer a vontade de Deus. Os ensinos de Cristo são aplicados em nossas vidas, e a mesma não devem ser entendidas apenas como palavras verbais ou teóricas e sim como verdades que devem ser 67 RYLE, J. C, Santidade Sem a Qual Ninguém verá o Senhor. op. cit, p., 47-50. (Resumo). 68 PACKER, J. I. A Redescoberta da santidade. Op. Cit, p., 144. 69 Ibid., p,145. (Resumo).
  • 35. 35 colocadas em pratica. São lições que servem como regras para uma vida de santidade no Senhor e não teórica ou externa. E isso se revela numa vida de obediência aos seus mandamentos (Jo 15.14). E essa obediência vai gerar um cuidado de viver o amor cristão como reflexo do amor recebido de Jesus. Pois, um cristão santificado busca praticar o bem, criar felicidade ao seu redor, tratando os que estão próximos com gentileza que vai além de palavras vazias e superficiais (Jo 13.34-35). A atitude egoísta de alguém, que se auto proclame um "cristão verdadeiro", mas que não reconhece seu próximo, não se dispõe a acolhê-lo, não o vê ao seu redor, revela ausência de santificação. O cristão verdadeiro é imagem de Jesus (Cl 3.10) Portanto, é preciso que a igreja reflita nestas verdades. Que todos são santificados por Deus para viverem uma vida de demonstração pratica quanto ao seu compromisso com a verdade de Deus. Pois, essas verdades são evidências de uma vida de responsabilidade para com Deus e para com o seu próximo, entendo assim, que a santificação é uma real transformação, e não mera aparência. 3.2 – Na santificação é o Espírito Santo quem conduz os cristãos. Neste ponto, observando a santificação progressiva sendo produzida por meio do Espírito Santo na vida do homem, como um agente da santidade. O Apostolo Paulo declara que mortificamos o pecado pelo Espírito (Rm 8.13) e que nossos hábitos sadios são o fruto do Espírito (Gl 5.22).70 Mas é de importância também afirmarmos que este Espírito conduz o homem ao crescimento nesta santificação, e que o crente não foi dotado de um reservatório de forças, ao qual pode recorrer, e sim buscar essa força nele. É sempre “pelo Espírito” que será realizada toda atividade santificada e santificadora. Ou seja, somente o Espírito Santo de Deus pode conduzir o homem a uma vida de santidade. Anthony Hokema ao tratar sobre a santificação no povo de Deus, diz, que a Santificação é também comumente atribuída ao Espírito Santo.71 É o Espírito de Deus quem nos escolhe conforme a sua presciência, como Pedro fala em sua carta, que é ...em santidade no Espírito para a obediência diz Pedro ( 1 Pe 1.2). Justifica-se que a santificação é atribuída ao Espírito Santo, pelo fato do próprio nome ser associado à santidade e santificação. Pois em I Tessalonicenses 2.13, Paulo endossa a idéia de que é Deus quem escolheu desde o princípio para a salvação, e essa salvação seria 70 PACKER, J.I. Op. Cit, p. 153. 71 HOKEMA, Anthony. SalvosPela Graça. Op. Cit. p., 207.
  • 36. 36 atribuída a operação do Espírito Santo e a fé na verdade. Em concordância com esta passagem a confissão de Fé de Westminster chama o Espírito Santo de o “... santificador Espírito de Cristo...” 72 Levando ao entendimento de que esse, o Espírito de Cristo age em nosso favor ou em nossa defesa, nos preservando com o seu poder e nos fazendo perceber a nossa verdadeira situação. Pois, é ofício do Espírito iluminar a mente, ou, nas palavras de Paulo, “iluminar os olhos do entendimento” (Ef. 1:18), para que conheçam as coisas que Deus nos deu graciosamente (1 Co. 2:12), ou seja, as coisas que Deus revelou; ou, como são denominadas em (1 Co. 2.14), “as coisas do Espírito de Deus”. Essas coisas, que o homem natural não pode compreender. O Espírito capacita o crente “para discerni-las”, e para compreender sua verdade e excelência, bem como experimentar assim o seu poder. Somos ensinados que o Espírito, de maneira especial, abre os olhos para que vejamos a glória de Cristo, para que vejamos que ele é Deus manifestado em carne; para que discirnamos não só suas divinas perfeições, mas igualmente seu amor para conosco e quão adequado ele é em todos os aspectos como nosso Salvador, de modo que aqueles que não o viram, mas nele creram, exultem nele com alegria inexprimível cheia de glória. Essa apreensão de Cristo é transformadora; a alma é por ela transformada em sua imagem, de glória em glória, pelo Espírito do Senhor. Foi esta revelação interna de Cristo através da qual Paulo foi, no caminho de Damasco, repentinamente convertido de blasfemo em adorador e servo abnegado do Senhor Jesus. Não obstante a isso, não só um objeto que o olho aberto do crente pode discernir. O Espírito o capacita a ver a glória de Deus revelada em suas obras e em sua palavra; a santidade e a espiritualidade da lei; a enorme pecaminosidade do pecado; sua própria culpabilidade; contaminação e impotência; a largura e o cumprimento, a profundidade e a altura da economia da redenção; e a realidade, gloriosa e infinita importância das coisas não vistas e eternas. A alma se sente assim elevada acima do mundo. Vive em uma esfera mais sublime. Torna-se mais celestial em seu caráter e anelos. Todas as grandes doutrinas da Bíblia acerca de Deus, de Cristo e das coisas espirituais não só são corretamente discernidas, mas exercem, em certa medida, sua apropriada influência no coração e na vida dos cristãos. E assim a oração de cristo (Jo. 17:17): “Santifica-os na verdade”, recebe resposta na experiência de seu povo.73 Que é conduzido pelo Espírito da verdade, (Jo. 16.13). Para finalizarmos este ponto em que é o Espírito Santo que conduz o cristão, vejamos o que Hermann Bavink diz sobre o Espírito Santo no Cristão: 72 WESTMINSTER, XIII, seção. III. 73 HODGE, Charles. Op. Cit, p., 1192-1194.
  • 37. 37 O Espírito Santo é a grande e Todo-Poderosa testemunha de Cristo, que dá testemunho de Cristo em nossos corações, traz-nos à fé em Seu nome e faz com que conheçamos os benefícios que nos foram dados por Deus em Cristo Mas este Espírito de Cristo ao mesmo tempo faz com que nós conheçamos a nós mesmo, não somente a nossa culpa e impureza, mas também em nossa porção nele [...] Um Espírito que é favorável aos filhos e mora neles (Rm 8.15) e que faz com que saibamos que somos filhos. [...] e Ele faz tudo isso – sem falar nas outras coisas que Ele realiza – para nos selar para o dia da redenção. 74 Por isso o Espírito Santo, quando habita deste modo em nós, é quem nos ilumina com sua luz para que aprendamos e tenhamos perfeitamente as infinitas riquezas que, pela divina bondade, possuímos em Cristo. O Espírito Santo é quem inflama nossos corações com o fogo de um ardente amor a Deus e ao próximo. É Ele quem, a cada dia e cada vez mais, mortifica e destrói os vícios de nossa cobiça, de maneira que se existe em nós algumas boas obras, são frutos e efeitos de sua graça. Sem Ele não haveria mais do que trevas em nossa inteligência e perversidade em nossos corações. Esse Espírito tão Poderoso é na verdade o nosso grande Deus, esse Deus que de forma graciosa nos conduz para Ele por meio de Cristo. O Espírito Santo que é a testemunha fiel de Deus trás paz e segurança aos nossos corações (Jo 15.26), fazendo com que conheçamos as grandezas de Deus realizadas em nossas vidas, grandezas essas que foram dadas em Cristo reveladas por meio da cruz. E assim de forma tremenda, Cristo por meio do seu Espírito Santo nos conduz como filhos amados de Deus e selados por seu Espírito que é o Espírito da verdade o consolador, que conduz os cristãos a uma vida santa diante de Deus para o dia da redenção. 3.3 – Exige um esforço em obediência a Deus. Para falarmos do esforço dos cristãos, nesse processo de santificação na visão progressiva, compreende-se que ela é realizada primeiro como obra do Espírito Santo (monergistica) e o esforço humano, conforme a sua responsabilidade (sinergistica). Observaremos primeiro o que diz Packer em seu livro à redescoberta da santidade: (...) é um assunto que envolve ação e motivação, conduta e, graça divina e esforço humano, obediência e criatividade, submissão e iniciativa, consagração a Deus e compromisso com as pessoas, autodisciplina e entrega pessoal, justiça e amor.75 É de suma importância compreender que a santificação é algo que exige do homem 74BAVINK, Hermann. Op. Cit. P., 561 75PACKER, J.I. Op. Cit. p., 27.
  • 38. 38 também um esforço em obediência a Deus, até porque foi para isso que o Senhor elegeu o homem “em santificação do Espírito, para obediência.” (1Pe 1.1,2). John Murray comenta que: A obra de Deus em nós não é suspensa em virtude da nossa atividade e nem a nossa atividade é suspensa em virtude da atividade de Deus. Tampouco é a relação estritamente uma de cooperação como se fizesse Deus a sua parte e nós o resto, para que a combinação ou cooperação de ambos produza o resultado desejado. Deus opera em nós e nós também operamos. Toda e qualquer operação da salvação, de nossa parte, é o efeito da operação de Deus em nós...76 Em suma podemos dizer que a santificação é a obra sobrenatural de Deus na qual os crentes são ativos. Quanto mais somos efetivos na santificação, mais certos estamos de que vem de Deus o poder energizador que nos habilita a essa atividade.77 Deus atua na nossa santificação e nós também, tudo com o mesmo propósito. Não estamos dizendo que temos papéis iguais na santificação ou que ambas às atuações são iguais, mas Deus opera em nós e nós também atuamos em resposta a Ele, pelo fato de sermos seus filhos. Pois, as Escrituras enfatizam o papel que desempenhamos na santificação (com todos os mandamentos morais do Novo Testamento), é certo ensinar que Deus ordena que nos esforcemos nessa atividade. Apresentaremos agora de forma clara e sucinta, a concepção reformada da ação do homem, e de Deus no processo da santificação, conforme o texto de Filipenses 2.12. "Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença, porém muito mais agora, na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor". “Desenvolvei a vossa salvação”. No grego é o presente do imperativo “esforçai-vos incessantemente para desenvolver a vossa salvação”. Não é uma ordem dada a incrédulos, mas a crentes. Não é, portanto, um esforço para se ganhar a salvação, pois esta é um dom de Deus. Mas é um chamado aos crentes para que se esforcem e sejam diligentes no viver santo (2 Coríntios 7:1; Efésios 4:1). O sentido mais correto não é “trabalharem pela salvação”, mas “trabalharem na salvação” em direção à consumação da fé em busca da santidade. Vamos ao texto de Filipenses 2:12. Aqui vemos 5 frases que nos ajudam a entender como desenvolver a nossa salvação. “Assim, pois”, compreendam o exemplo que lhes foi apresentado. Essa expressão nos leva de volta a Filipenses 2:5-11, onde Jesus é apresentado como modelo de humildade, obediência e submissão. Ele é o nosso padrão de vida (1 João 16). 76 MURRAY, John. Redenção. Consumação e Aplicada. São Paulo: Cultura Cristã, 1993. p., 165. 77HOEKEMA, op. cit, p., 209.
  • 39. 39 “Amados meus”, entendam que vocês são amados. A Igreja de Filipos era uma igreja fiel, mas tinha problemas de orgulho e desunião e por isso Paulo dá ênfase na questão da unidade. Evódia e Sintique, duas mulheres, lideraram facções opostas uma a outra (Filipenses 4:2-3). Porém, apesar de tudo, Paulo os amava e por isso os corrigia e chamava de “amados”. Deus é assim, ama, tem misericórdia de nós, mesmo quando fracassamos no processo de santificação. “Como sempre obedecestes”, entendam o valor da obediência. A palavra grega traduzida por “obedecestes” u`phkou,sate (hupekousate) significa literalmente “atender à porta”, ou “obedecer como resultado de ouvir”. Ou seja, submeter-se ao que se ouviu. Foi o que aconteceu com Lídia ao ouvir a pregação de Paulo. Ela atendeu ao apelo do evangelho, converteu-se, foi batizada e passou a servir a Paulo e seus companheiros. O mesmo aconteceu com o carcereiro de Filipos. Eles atenderam à palavra. “Não só na minha presença, porém muito mais agora na minha ausência”, entendam seus recursos e responsabilidades. Eles buscaram a santidade por conta própria, e esta é uma responsabilidade de cada cristão. O apoio de irmãos é importante, mas é fácil nos tornamos dependentes deles. Certos crentes perdem a pureza e a santidade, quando perdem o apoio espiritual de alguém. Mas, quando Paulo exige que eles desenvolvam a santificação (“vossa salvação”), está dando a entender que, em Cristo, eles podiam viver em santidade, independentes de qualquer ajuda externa. Nós somos responsáveis por nossa vida espiritual. “Com temor e tremor”, entendemos as conseqüências do pecado. O pecado traz conseqüências, e esta é a razão porque devemos andar em santidade com temor e tremor. A palavra grega para “temor” é fo,boj (phobos) da qual se originou fobia. A palavra grega para “tremor” é tro,moj (tromos) que originou a palavra trauma. Estas palavras falam de um saudável temor de ofender a Deus, temor de pecar, de desonrar Deus, do colapso moral, de entristecer a Deus e assim trazer a correção divina. Isaías no capítulo 66:2, fala do temor que Lhe aguarda – “O homem para quem olharei é este: o aflito e abatido de espírito e que treme da minha palavra”. E no versículo 5 afirma: “Ouvi a palavra do Senhor, vós, que a temeis”. Portando, a santidade exige esforço não é algo fácil, pois significa ter disciplina, seguir a Jesus, ser obediente à palavra, exercitar os dons e avaliar as conseqüências de pecado. Mas um temor saudável a Deus nos motivará a buscar esta santidade que Ele requer de nós. Em Fl. 2:13 Paulo explica.- “Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua vontade”. É Ele que habita em nós e nos dá poder de fazermos a Sua vontade. Não temos a capacidade em nós mesmos, a nossa capacidade vem de Deus. (2
  • 40. 40 Coríntios 15). Em Filipenses 2:13 vemos 5 verdades a respeito de Deus, que nos ajudarão a compreender o que Deus faz por nós na santificação. 1. A pessoa e Deus. “Deus é quem efetua em vós...” É Deus quem está envolvido com a nossa vida, com o nosso bem-estar espiritual. Ele habita em nós e quer que façamos o que Ele ordena. Nosso progresso espiritual não depende de nós, nem de nossas habilidades, nem da ajuda de outros crentes, nem dos pastores, nem mesmo de anjos. Mas é Deus quem opera em nós, realizando a nossa santificação. O mesmo Deus que nos conheceu de antemão, nos predestinou, nos chamou e nos justificou, é o mesmo que nos santifica e haverá de nos glorificar (Romanos 8:30). Que diferença dos deuses pagãos! Mas Deus nos acompanha e nos supre por toda a vida. 2. O poder de Deus: Operando. “É Deus quem efetua...”. Esta palavra no original é en evnerge,w (energeo) que se refere a uma energia ativa e produtiva. É poder que opera o nosso progresso espiritual, a nossa santificação. Por isso estaremos seguros até o fim. “Aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até o dia de Cristo Jesus” (Filipenses 1:6). 3. A presença de Deus: Em nós. Deus opera em nós. Paulo diz, em Efésios 3:20, que Deus “é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, conforme o Seu poder que opera em nós”. Paulo não diz que Ele opera nos céus e sim em nós. Ele é a nossa suficiência. Aqui devemos lembrar que o V.T. os crentes adoravam no Tabernáculo, no Templo. Mas agora somos templo de Deus, pois Cristo habita no coração de cada crente. “Nós somos santuário do Deus vivente...” (2 Coríntios 6:16). Ele está conosco, sustentando-nos, suprindo e fortalecendo a nossa santificação. 4. O propósito de Deus: O querer realizar. É Ele quem nos impulsiona a querer e a efetuar, dá-nos tanto o desejo como a habilidade. A palavra “querer” no grego é qe,lw (thelo) que significa intento e inclinação. Deus nos dá uma santa insatisfação para com a nossa natureza carnal e corrompida. Foi isso que fez Paulo dizer em Romanos 7:14 “Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?”. Em segundo lugar, Ele nos dá um desejo pelas coisas santas e puras, isso pode ser visto na biografia dos santos do passado e percebemos o quanto estamos longe desta dedicação a Deus. Em terceiro lugar, Deus nos dá o desejo de Lhe agradar, de causar-lhe satisfação e isso resulta em um proceder santo. 5. A santificação divina: Segundo a Sua boa vontade. A palavra grega traduzida por “boa vontade” é euvdoki,a (eudokia) que significa satisfação ou agrado. Deus opera em nós para que façamos aquilo que Lhe agrada e satisfaz. Ou seja, desenvolver a nossa salvação
  • 41. 41 com temor e tremor agrada a Deus. Somos muito queridos de Deus e quando fazemos aquilo que Lhe agrada, Ele fica satisfeito. Esta é a essência de qualquer relacionamento: queremos agradar a quem amamos. Queremos causar satisfação Àquele que perdoa as nossas iniqüidades, resgatam-nos da condenação eterna, coroa-nos com graça e misericórdia, enche de bens os nossos anos, de modo que a nossa mocidade se renova como a da águia (Salmos 103:3-5). Vemos que há uma maravilhosa combinação entre os nossos esforços e os recursos, providenciados por Deus. Servimos a um Deus que nos dá poder para vivermos para Sua glória. Este é o mistério do Cristianismo: “Cristo em vós, a esperança da glória” (Colossenses 1:27). Deus nos chamou para vivermos vidas santas, mas é Ele quem nos santifica. Deus nos convoca a servi-Lo, mas na realidade, é Ele mesmo que nos impulsiona a isso por meio de seu próprio poder em nós. A obra é dEle, mas é nossa também. A glória, contudo, pertence somente a ELE. 78 Assim entende-se que a santificação é uma ordem divina, como o próprio texto diz: “Sede santo por que Eu Sou Santo” (1 Pe 1.16). Santo é um atributo de Deus e também deve ser do Seu povo. A idéia principal de santidade é a separação dos modos ímpios do mundo e dedicação a Deus, por amor, para o seu serviço e adoração. Santidade é o alvo e o propósito da nossa eleição em Cristo (Ef 1.4); significa ser semelhante a Deus, ser dedicado a Deus e viver para agradar a Deus (Rm 12.; Ef 1.4; 2.10), é ficar perto de Deus, e, de todo coração, buscar sua presença, sua justiça e sua comunhão. Mas, O homem em si mesmo não pode fazer nada para se santificar (2ª Co 3.5; 5.17- 18). E embora o homem seja privilegiado em cooperar com o Espírito de Deus, vamos lembrar que ele pode fazer isso somente em virtude da graça e força que o Espírito partilha com ele dia-a-dia. O desenvolvimento espiritual do homem não é então uma realização humana, mas uma obra da graça divina. O homem, porém na santificação dependendo de Deus, isto é, ele trabalha porque e porquanto o Espírito Santo trabalha nele (Rm 8.13-14; Gl 5.16-19). Portanto, cada novo impulso espiritual que o crente tem, e cada nova boa obra, é impulsionado e executado nele mediante o gracioso poder do Espírito Santo (Fp 1.6; 2.13). Embora a ação na santificação seja sobrenatural, e a habitação e operação do Espírito Santo são requeridas, não apenas para iniciar, mas para continuar o crescimento na graça, mesmo assim, Ele opera normalmente por vários meios. O homem não merece crédito nenhum porque tudo quanto ele contribui à sua santificação é ser apenas instrumento nas mãos de 78 F., John MacArthur Jr. Extraído do Jornal “Os Puritanos” Ano IV – Nº. 4 – 1996.
  • 42. 42 Deus. Paulo diz aos filipenses: “Porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade”(Fp 2.13). Fé na obra redentora de Cristo é a causa mediadora ou condicional de santificação. Aquele que crê em Cristo é santificado posicionalmente, pois Cristo é naquele momento feito para ele santificação (1ª Co 1.30). Mas também é mediante a fé que o crente se torna experimentavelmente santificado, isto é, torna- se experiência e na prática separado do poder do pecado para a obediência a Deus. (At 26.18; 15.9; Hb 13.12-13; Gl 6.14; Cl 2.12). Devemos lembrar que o objeto da nossa fé é Cristo Jesus. Santificação não começa olhando por dentro, mas por estar em Cristo e olhando para Ele. O homem não se torna santificado em experiência nem cresce em santificação por fazer esforço para experimentar ou crescer, mas colocar a si mesmo nas condições de crescimento, por viver e permanecer em Cristo em obediência a sua palavra. A lua não faz esforço para brilhar, nem poder em si mesma para brilhar. Ela brilha somente por refletir a luz do sol. À medida que permanecemos em Cristo, reconhecemos o que temos nele e confiando nele refletimos Cristo em nossa vida. A Bíblia não ensina que um grau mais alto de fé é necessário para santificação do que justificação. A fé envolve temor a Deus e a Sua Palavra sem duvidar ou raciocinar. É fé independente de todo o sentimento e desapegado de qualquer outra dependência senão só de Cristo. A nossa santificação é realmente mediante a renúncia ao pecado e o seguir a santidade. Mediante a rendição total da própria vida (Rm 12.1; 6.12-13, 19). Uma rendição que é voluntária, completa e definitiva (final) é uma ação necessária para que o crente possa experimentar inteira santificação. Uma entrega definitiva da vida para Deus constitui a condição suprema para a santificação prática. Se o homem que ser santo, ele deve oferecer a si mesmo a Deus, para que este possa realizar esta obra nele.
  • 43. 43 CONCLUSÃO Para a conclusão deste trabalho não podemos nos esquecer de comentar que a nossa intenção foi a de tentar resgatar a o conceito da santificação progressiva na perspectiva reformada. Mostrando a origem dela no AT e no NT bem como também a influência da santificação nos Pais da igreja no monasticismo, na reforma e suas implicações bíblicas teológicas. E, nesta parte conclusiva gostaria de mostrar a necessidade de voltarmos à verdadeira santificação bíblica. Ao Resgatarmos assim o principio bíblico que foi tão importante para as igrejas durante a sua historia, e que infelizmente foi esquecido por grande maioria das igrejas. Mas como resgatar esse princípio nos dias atuais? O que a igreja tem que fazer para ser santa assim como o nosso Deus ordena (1 Pe. 1.16). Primeiro devemos entender que é Deus quem santifica: “E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados irrepreensível para vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1ª Ts 5.23). Somos santificados observando a Palavra de Deus: Jesus diz: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17). “Para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra” (Ef 5.26). “Vós já estais limpo pela palavra que vos tenho falado” (Jo 15.3). A igreja precisa resgatar esse principio de que a santificação só é possível mediante a obediência integra a Santa Palavra do Senhor. Somos santificados pela Palavra e a oração: “Porque pela palavra de Deus e pela oração é santificado” (1ª Tm 4.5). A Palavra de Deus serve para nos orientar o caminho certo, nos purificar, lavar e santificar o nosso espírito, alma e corpo para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Mas, infelizmente a ênfase das igrejas hoje é mais nas experiências pessoais nas curas nas línguas. E como também na pratica ascética, como em muitos casos por interpretações equivocadas da palavra de Deus, como por exemplo, jejuns que levam as pessoas a uma abstenção do alimento por mais de uma semana ou até mais, com base em textos bíblicos que não afirmam que essa pratica ou esse mesmo método deve ser aplicado aos nossos dias. A santificação não vem pelos sacrifícios, mas unicamente pela Palavra. Nem mesmo o jejum tem este poder.