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RESISTANCE
4ª Edição   Dezembro 2011
Editorial
“If you have ideas, you have the main asset you need, and there isn’t any limit to what
you can do with your business and your life. Ideas are any man’s greatest asset.”
Harvey S. Firestone
Sim, temos de escrever sempre um editorial mas nunca           crescer em quantidade e qualidade. Com os nossos novos
sabemos o que escrever. Decidimos, então, bater o paleio       membros, Guilherme Simões de Eng. Informática e da nova
do costume (NOT!). Já repararam mas os cantos da revista       caloirinha Catarina Oliveira de Eng. Biomédica, as nossas
foram alterados: sim o nosso logótipo mudou, tal como é        áreas de incisão estão a aumentar, sendo os temas abordados
visível na capa. E se estiveram na festa de lançamento de      cada vez mais diversificados. Qualquer coisa já sabem,
quinta-feira já se devem ter apercebido que a revista está a   comuniquem:




                                                                      resistancemag@gmail.com
                                                                      facebook.com/resistancemag

Table of contents
2_”TEDX”. Sérgio Pinto
3_”Biomédica, curso do futuro”. Ana Cortez                         Ficha técnica:
5_”Um olhar...DFUC”.Miguel Morgado, Ph.D
7_”À grande e à fracesa”. Carlos Moreira
8_”Caminhos do cinema português”. Fred Borges
9_”Entrevista”. Maria Constança                                    Editores:
Providência Santarém e Costa                                       Joana Faria, Frederico Borges, Pedro Silva
12_”Se divertindo em Genebra”. Edson Ferreira
13_”Estado estacionário”. João Borba                               Colaboradores:
14_”Estado excitado”.Pierre Barroca                                Karen Duarte, Patrícia Silva, Ana Telma
15_”16 fps”.                                                       Santos, Rui Nunes, André Silva, Guilherme
17_”78 rpm”.                                                       Simões e Catarina Oliveira
19_”Stanford e Milgram”. Pedro Cunha
21_”Alfazema amarela”. Catarina Oliveira                           Revisão:
22_”Pensamentos ao acaso”. Bernardo Fabrica                        Ângela Dinis
23_”Crónicas”
25_”Mãe, afinal sei cozinhar”. Nuno Balhau                         Capa e Design
26_”A gamer (re)view”                                              Rui Nunes e Pedro Silva

1            Dezembro 2011                                                                                    RESISTANCE
Sérgio Pinto


                                                                 – João Ramalho Santos – Porque às vezes a investigação
 TEDx Coimbra                                                    tem destas coisas, nem tudo está escrito como numa receita,
                                                                 nem tudo é fácil, às vezes é preciso inovar, à bom português
15 de Outubro de 2011                                            é preciso “desenrascar”, esta palestra foi o mais puro
                                                                 exemplo disso, como conseguir investigar o que não pode ser
                                                                 investigado, aliando o tema com a à-vontade demonstrada pelo
O grupo TED foi fundado em 1984 e a primeira conferência         orador, temos a receita para uma excelente TED talk. “Uma
aconteceu em 1990. Poderia começar por tentar explicar o que     nova era na imagem digital”: André Boto – Quem não tem
é o conceito de uma TED talk, mas certamente nada melhor         um fundo daqueles todos “futuristas” como wallpapper do
do que dar um exemplo, numa altura em que possivelmente          PC? Mas será que sabemos como é feito? O André primou
se perdeu o melhor orador que alguma vez fez uma TED talk        por mostrar o resultado final mas acima de tudo fazer algo que
mesmo não tendo sido num evento oficial, estou a falar de        nunca tinha visto que é a evolução como pegar numa imagem
Steve Jobs e do seu discurso em Stanford, uma TED talk é         de um Castelo, uma pedra e uma correntes e provar que é
apenas uma conversa, uma conversa para “dar assas aos            possível fazer um castelo levitar ao ponto de ter de estar preso
pensamentos”. Atualmente um evento TED aborda as mais            por correntes... Afinal muitas das vezes para poder apreciar
amplas temáticas, quase todos os aspectos de ciência e cultura   a complexidade de uma imagem era bom poder ver como
podendo até ser apenas uma conversa moral, uma história,         começou, como evoluiu até chegar ao resultado final...Ficção
um retrato de vida...possivelmente é por ser isto tudo que os    Digital na sua mais pura essência. “Voluntariado”: Fernanda
eventos TED conseguem ter o sucesso global que possuem.          Freitas – Talvez um tema que muitas pudessem achar que
Passando ao evento TEDx Coimbra, este começou por                estaria desenquadrado de uma TED talk, ficou provado que
prestar 2 homenagens, 2 homenagens mais que merecidas,           todos os temas têm espaço nestes eventos, simplesmente
homenagens devidas. Falo de 2 TED talkers que faleceram          fabulosa a interação com a plateia, suficiente para que todos
recentemente, Steve Jobs, mais que um visionário, um             se levantassem e aplaudissem (quem lá esteve percebe melhor
exemplo de sucesso e de entrega e de Diogo Vasconcelos, um       esta). Não me posso alongar muito mais, deixo uma sugestão
dos melhores empreendedores que existia em Portugal e que        não percam a próxima edição e deixem os vossos pensamentos
tinha confirmado presença neste evento...Cada um diferente       voar!
mas ao mesmo tempo referencias, mais que oradores, eram
inspiradores! Com estas homenagens iniciou-se o TEDx
Coimbra, de seguida passamos a uma velocidade estonteante
por todas as palestras, cada uma diferente da anterior e da
seguinte, cada uma única. Não vou falar de todas, apenas
de algumas, daquelas que a mim me surpreenderam ou pela
temática ou pelo próprio orador:
“Ossos”: Eugénia Cunha – E não é que afinal a série “Bones”
não é ficção? Pois é, realmente tudo aquilo é verdade, é
possível e mais que isso é passado, costuma-se dizer que os
olhos são o espelho da alma, pois então agora digo então os
ossos são o espelho de uma história de vida.
“Estratégias para investigar o que não pode ser investigado”




 RESISTANCE                                                                                        Dezembro 2011                    2
Biomédica
        Curso do futuro
                                                                                                    Ana Cortez
                   “Foi em tempo de adversidade que os portugueses
                        souberam realizar os seus maiores feitos”


Começo esta breve “reflexão” com uma       bom estado. Para isso tem de haver          suficientes preparados para esse efeito.
análise prática dos acontecimentos que     mecânicos. Para o investigador se           Das dez categorias previstas, oito dizem
acomodam a sociedade em que vivemos        poder alimentar tem de haver pão, por       respeito à saúde ou cuidados médicos,
e influenciamos. De facto, todos os dias   isso tem de existir o padeiro. Para o       uma a serviços financeiros e a última
fazemos parte de uma História, que         investigador dividir trabalho, tem de ter   ao campo da tecnologia. Contudo, um
apesar de um passado e de um presente      uma secretária. Para a rua estar limpa e    outro alerta é salientado pela mesma
cheio de acontecimentos marcantes e        evitar a propagação de doenças tem de       entidade, o facto de estas serem as áreas
evolutivos, não esquece nunca o futuro     haver o “homem do lixo”. De facto, para     com maior oferta e com maior índice
e os novos passos que ficarão                                                                  de crescimento nos próximos
marcados      pelo     significado                                                             anos, tal não significa que todos
profissional, pessoal e científico                                                             os interessados tenham um
daqui a alguns anos. O caminho                                                                 emprego, já que estas exigem
adoptado pela sociedade actual                                                                 muito tempo e muitas áreas
não é totalmente correcto, ou será                                                             de formação. Em 17 de Abril
que hoje em dia e no futuro, todos                                                             deste ano, o The New York
os cidadãos deverão ter uma                                                                    Times publicou a lista dos dez
formação académica superior?                                                                   empregos mais promissores,
A questão é controversa. Mas de                                                                intitulada de Top 10 List:
facto, a evolução da humanidade                                                                Where the Jobs Are. Com base
é baseada nas descobertas que                                                                  no juízo crítico que apresentei
todos os dias são potenciadas                                                                  anteriormente, o Engenheiro
nas mais diversas áreas e, dessa                                                               Biomédico surge em primeiro
forma, os efeitos da inovação têm          haver conhecimento e inovação, tem          lugar, com um crescimento de 72%, ou
uma forte influência nos costumes e        de existir uma sinergia de funções na       seja, 12 000 novos empregos em 2018.
comportamentos das sociedades. Assim,      sociedade, isto é, nas profissões. Apesar   A descrição feita acerca das funções de
será que amanhã ainda existirão pessoas    desta realidade, deve-se ainda partir       um Engenheiro Biomédico é cada vez
para desempenharem as funções              para “o outro lado da moeda”. À medida      mais clara, passando por áreas muito
mais básicas da nossa sociedade? A         que a sociedade muda, existem outras        abrangentes, desde os Biomateriais até
resposta é óbvia, mas não tanto como       necessidades e dessa forma é imperativa     aos Componentes Electrónicos com
há vinte anos atrás, em especial em        a adaptação dos sujeitos e das profissões   especial destaque na inovação e até nas
Portugal. O exemplo é muito fácil,         a essas mesmas modificações. Segundo        adaptações de técnicas já existentes. O
para um investigador poder fazer o         o Bureau of Labor Statistics’ list of the   principal objectivo de um profissional
seu trabalho tem de se deslocar para o     fastest-growing occupations prevê-se o      nesta área visa criar técnicas mais
local do laboratório, por exemplo, para    surgimento de mais de um milhão de          rápidas, eficientes e não invasivas
isso é necessário que o seu veículo        novos empregos até 2018, mas o mesmo        para diagnóstico e tratamento médico,
de transporte esteja disponível e em       não significa que existam profissionais     com vista à melhoria da qualidade de


3           Dezembro 2011                                                                                          RESISTANCE
vida da sociedade. Obviamente para         mudar de rumo para nos sentirmos             relatos de que os talentos portugueses
isso, os profissionais desta área devem    realizados profissionalmente. É neste        “fogem” para o estrangeiro em busca
passar por uma formação académica          contexto que nasce o conceito de             de melhores oportunidades. Na minha
muito intensiva nas mais diversas          Empreendedorismo! As funções de um           opinião, é em busca de melhores
áreas da Matemática, Física, Química,      Engenheiro Biomédico exigem-lhe que          salários, já que em Portugal existem
Medicina e Engenharia, sem nunca           seja empreendedor na aplicação prática       locais de instituições de prestígio
pôr de parte o espírito de inovação e      e nas ideias de negócio. Isto é, não basta   para a divulgação científica de novos
empreendedorismo. Na minha opinião,        ter a ideia brilhante e pôr um dispositivo   trabalhos, mas os financiamentos ainda
os gostos profissionais na sociedade       em prática, é necessário levá-lo a           não são os suficientes. No mês passado
passam por ciclos, consoante a área        conhecer ao mercado de trabalho e            foi apresentada uma nova plataforma
que oferece emprego e confere estatuto.    fundar um negócio próprio inovador e         que mostra toda a investigação que está
Infelizmente, existem sujeitos que         obviamente sustentável. Nos tempos           a ser produzida em Portugal na área
exercem uma dada profissão para a          actuais, a conjuntura aconselha à            das ciências da Saúde. O projecto dá a
                                                                                        conhecer os projectos de Health Cluster
    ...o The New York Times publicou a lista dos                                        Portugal, salientando a importância
dez empregos mais promissores (…) o Engenheiro                                          da retenção dos talentos nacionais
                                                                                        nesta grande área para uma ajuda na
Biomédico surge em primeiro lugar                                                       recuperação económica do nosso país.
qual não tem aptidão porque sabiam         prudência, mas não ao marasmo. Foi em        A maior ligação dos jovens talentos
que após a sua formação teriam um          tempo de adversidade que os portugueses      entre a investigação e as empresas
emprego garantido e/ou porque a sua        souberam realizar os seus maiores feitos.    poderia evitar essa fuga e ajudar a criar
influência na sociedade lhes confere       O universo empresarial não é excepção.       melhores condições de trabalho de modo
importância e altos salários. No nosso     Com riscos e investimentos mais              a produzir mais riqueza para a ciência
país essa é uma realidade, infelizmente.   controlados é possível empreender em         e para Portugal, já que actualmente
Assim, olhando à condição sócio-           Portugal, desafiando todas as barreiras      24% dos investigadores trabalham em
económica de Portugal, e até mesmo do      (in Expresso – Emprego 22 de Outubro         empresas e 76% em Universidades.
Mundo, existem profissões sobrelotadas     de 2011). A ideia final que pretendo         Para terem ideia, nos EUA acontece o
e desgastadas, pelo que é necessário       partilhar é que existem cada vez mais        contrário.




 RESISTANCE                                                                                        Dezembro 2011                    4
Um olhar sobre os cursos de
Engenharia no DFUC

                                                                                                 Miguel Morgado, Ph.D
Não sei precisar a data, mas em Setembro      fazia sentido e era contrária à missão do     primeiro computador português. Apesar de
passaram 27 anos desde o dia em que um        DFUC. Ensinar um curso de Engenharia          todos os constrangimentos, o curso de EF
grupo de 20 alunos, no qual me orgulho de     era visto como algo que desvirtuava a         prosperou. Se olharmos para os primeiros
estar incluído, iniciava as primeiras aulas   pureza do ensino da Física. Recordo bem o     10 anos da sua existência, verificamos que
da Licenciatura em Engenharia Física da       cartoon, da autoria de um professor, com      o curso conseguiu sempre atrair alunos,
Universidade de Coimbra (UC). Com isso        que a nova licenciatura e os seus alunos      muitos deles de elevada qualidade. Quando
começava também a coordenação de cursos       foram mimados. Importa notar que o            em 1989 os licenciados começaram a sair
de Engenharia no Departamento de Física       DFUC assumia a tarefa de coordenar o          para o mercado de trabalho beneficiaram
(DFUC). Estávamos no ano lectivo de           curso de EF sem que nele existisse qualquer   de um forte crescimento económico e, em
1984/1985. Hoje, setenta por cento dos        cultura de engenharia. Não havia              particular, da expansão da rede de ensino
alunos inscritos nos cursos coordenados       praticamente contactos entre o DFUC e o       superior e de investigação científica. Entre
pelo DFUC são alunos de cursos de             tecido empresarial. Dos seus professores      1989 e 1994, o curso teve 37 licenciados.
Engenharia. A criação do curso de             em 1984, apenas 3 eram detentores de uma      Destes, apenas 10 tiveram o seu primeiro
Engenharia Física (EF) foi impulsionada       licenciatura em Engenharia. O principal       emprego fora do sistema científico. Na
por um conjunto de professores do DFUC,       argumento para tal coordenação era a forte    minha opinião, e algo paradoxalmente, o
dos quais é justo destacar o Prof. Carlos     componente de investigação em Física          sucesso na atracção de alunos de qualidade
Nabais Conde. Contudo, conforme               Tecnológica,      particularmente       em    (54% dos licenciados entre 1989 e 1994
rapidamente me vim a aperceber, o novo        instrumentação,     testemunhada      pelas   vieram a doutorar-se) acabou por ser
curso não foi bem visto por toda a            diversas publicações relacionadas com         prejudicial para o curso. Não existindo
comunidade do DFUC. Uma parte                 detectores de radiação ou com electrónica     relações entre o sector empresarial e o
significativa dos docentes achava que a       nuclear e pela participação em projectos      DFUC, também não houve a preocupação
existência de um curso de Engenharia não      como o desenvolvimento do ENER1000, o         de as criar. Afinal o curso ia suprindo as
                                                                                            necessidades dos centros de investigação
                                                                                            do DFUC e isso era considerado como
                                                                                            indicador de que tudo estava bem. Quase
                                                                                            que poderíamos dizer que ao DFUC
                                                                                            bastava que o curso cumprisse esta função.
                                                                                            E com este conforto nunca houve a
                                                                                            preocupação em criar relações com o
                                                                                            mundo empresarial. Claro que as
                                                                                            consequências surgiram. Apesar de o
                                                                                            número de recém-licenciados com primeiro
                                                                                            emprego fora do sistema científico ter
                                                                                            aumentado a partir do meio da década de
                                                                                            90, uma boa parte destes empregos
                                                                                            correspondiam a funções de docência no
                                                                                            Ensino Secundário e em Formação
                                                                                            Profissional. Nem o facto de a designação
                                                                                            “Engenharia Física” ter adquirido maior
                                                                                            visibilidade junto dos empregadores obstou
                                                                                            a que se criasse a ideia, na minha opinião
                                                                                            injusta, de que o curso, além de ser difícil,
                                                                                            não dava emprego. As candidaturas

5            Dezembro 2011                                                                                                 RESISTANCE
incentivadas com o programa de Estágios         empresários no DFUC, particularmente
                                                de Verão, que já envolveu 71 alunos. Qual       aquelas que promovam uma cultura
                                                é o panorama actual? Desde há uns anos, o       empreendedora. Mas não pode fazer tudo.
                                                DFUC encarou o problema do recrutamento         Há limitações institucionais que dificultam
                                                de alunos para os seus cursos, adoptou uma      a promoção dos cursos e dos seus
                                                atitude proactiva e realizou um trabalho        diplomados. A solução passa, na minha
                                                notável de divulgação junto das Escolas         opinião, pela criação de Associações de
                                                Secundárias que foi crucial para se atingir o   Apoio aos cursos do DFUC, iniciativa que
                                                estado actual em que todas as vagas de EF       deverá partir necessariamente dos antigos e
                                                e EB são preenchidas na 1ª fase. No entanto     actuais alunos. Sei que está na forja uma
                                                muito está ainda por fazer. Os próximos         associação de apoio ao curso de EB. Penso
                                                anos vão ser de grande exigência em termos      que há lugar para outras associações, em
                                                de colocação dos nossos Engenheiros no          particular para a EF. Elas podem captar
                                                mercado. Quer por condicionantes externas       recursos financeiros e ter instrumentos de
                                                como a crise económica, quer pelo maior         promoção que não estão ao alcance do
                                                número de finalistas que resulta                DFUC. Um simples site web de divulgação
                                                inevitavelmente do sucesso no recrutamento      dos perfis dos alunos finalistas, dos
                                                de alunos. E o DFUC não pode esquecer           projectos que eles realizam, dos seus CVs,
                                                que a empregabilidade dos seus cursos é o       das carreiras daqueles que já acabaram o
                                                melhor argumento para esse recrutamento.        curso, foi algo que nunca foi possível fazer
                                                Ainda são poucos os empresários que se          dentro dos limites impostos pelos recursos
                                                lembram do DFUC quando querem recrutar          do DFUC e pela imagem institucional da
diminuíram, as vagas de acesso deixaram         um engenheiro. Os que se lembram são            UC. E isto é apenas uma ideia relativamente
de ser preenchidas. O DFUC demorou a            basicamente sempre os mesmos. É raro ver        óbvia. Terminada uma primeira fase de
reagir. Muitas vezes ouvi dizer que não         um empresário no DFUC a dar uma                 consolidação do curso de EB e de
havia problema. As vagas não eram               palestra. Menos ainda a leccionar um            recuperação do curso de EF, é urgente
preenchidas mas os alunos que vinham            módulo numa cadeira ou a avaliar um             trabalhar para um novo patamar. É
eram muito bons… Em 2002 entrava em             curso. Se exceptuarmos a Blueworks e a          fundamental que seja criada, na comunidade
funcionamento o segundo curso de                jeKnowledge, nos últimos 15 anos pouco          empresarial, a percepção de que o DFUC é
engenharia coordenado pelo DFUC: a              há a assinalar em termos de                     também uma escola de engenharia. Tal
então Licenciatura, hoje Mestrado               empreendedorismo. Apesar do sucesso do          exige um esforço considerável para tornar
Integrado, em Engenharia Biomédica (EB).        curso, 50% dos diplomados de EB estão           o DFUC um lugar que os empresários se
A sua criação inseriu-se numa vaga              colocados no sector de investigação             habituem a frequentar. É tarefa do DFUC
nacional de cursos de Engenharia                científica, um número muito superior ao         iniciar e promover esse esforço mas a sua
Biomédica, quase todos criados no seio de       desejável (cerca de 20%). O número de           total realização implica a criação de
departamentos de Física. E se é verdade         empresas que colabora com o curso de EB         organizações onde actuais e antigos alunos
que estes departamentos já realizavam           estagnou nos últimos anos. Diria que os         se possam congregar no apoio e promoção
investigação biomédica, nomeadamente            cursos de Engenharia do DFUC estão a            deles próprios e dos seus cursos.
nas áreas da imagem e da instrumentação,        precisar de um novo
também o é que a criação destes cursos          abanão. E há urgência em
resultou essencialmente da conjugação de        fazê-lo. O DFUC pode e
dois factores: a falta de alunos nos cursos     tem que fazer mais. Pode
oferecidos por esses departamentos, com         fazer um esforço adicional
consequências no seu financiamento, e o         para aumentar o número de
elevado número de alunos de grande              empresas que proporcionam
qualidade que ficavam de fora dos cursos        estágios e projectos e para
de Medicina. Com o curso de EB, o DFUC          alargar a base geográfica
procurou não repetir erros passados. A          dessas empresas. Pode criar
convivência com o curso de EF e o evoluir       estruturas de avaliação e
dos       tempos        tinham      alterado    aconselhamento dos seus
substancialmente a forma de encarar a           cursos      que     integrem
presença de cursos de Engenharia. Os            elementos externos à UC.
alunos foram incentivados a realizar o          Pode abrir a leccionação de
Projecto final fora da Universidade: dos        matérias        de      cariz
184 projectos já concluídos, 41% foram          tecnológico a especialistas
totalmente realizados em empresas ou            de empresas. Pode, em
instituições externas à UC e outros 16%         colaboração com o NEDF,
resultaram     de     colaborações      entre   criar     iniciativas    que
instituições externas e a UC. As ligações ao    resultem na presença de
mundo       empresarial      foram     ainda

 RESISTANCE                                                                                                 Dezembro 2011                      6
À grande e à francesa



                                                  Carlos Moreira
Pode-se dizer que esta expressão é levada à letra pela           que a organização tentou atrair assim mais espectadores.
indústria cinematográfica Francesa. Com um dos mais              Resultou comigo. Ainda assim, não me vi a comprar mais
prestigiados festivais de cinema do Mundo, a França tem          bilhetes para além do passe, como no ano passado. Talvez a
habituado ávidos cinéfilos a obras da sétima arte que tocam      crise tenha chegado, não à minha carteira, mas à organização
os píncaros da excelência. Pela 12ª vez, Portugal partilhou      do festival. Isto porque, desta vez, nem a inauguração teve
de obras cinematográficas Francesas “novinhas em folha”,         tanta pompa nem os organizadores falaram bem português.
do mais “audaz” e “eclético” que por lá se fez, “delirantes”,    Ah! E não houve macarrons… Pena. A escolhida para abrir
“corrosivas”, “magistrais” e mais qualquer coisa de causar       a festa foi a fita Poupoupidou de Hustache-Mathieu, mas sem
“pele de galinha”. Na verdade, aqui por Coimbra, o festival      a presença da protagonista Sophie Quinton, que deu o ar de
passou nos dias 2 aa 8 de Novembro, mais uma vez, pelo           sua graça na abertura em Lisboa. Um filme premiado e com
Teatro Académico de Gil Vicente e os                                                      óptimas criticas, conta uma historia
anfitriões deste evento não se pouparam                                                   incomum ao estilo inimitável do
nos elogios na sessão de inauguração.                                                     realizador. Mas nada comparável ao
O sucesso deste festival por terras                                                       inesquecível L’Arnacoeur que abriu
lusitanas parece ser crescente ao                                                         por estes lados o festival passado. Vi
longo das sucessivas edições e não há                                                     que este acontecimento teve o apoio
dúvidas de que veio para ficar. Como                                                      de tudo o que se possa imaginar,
nos anos anteriores, a Festa do Cinema                                                    incluindo a Universidade, mas por
Francês trouxe estreias que ainda não                                                     Coimbra isso não se notou assim
saíram comercialmente, comédias e                                                         tanto. Até as legendas dos filmes
dramas bem ao estilo europeu e até                                                        tiravam folgas por momentos, o que
animações para os amantes de cinefilia                                                    irritava sobretudo naquela comédia
mais novinhos. E, para meu agrado,                                                        onde a única pessoa a rir-se era o
acrescentou novamente este ano                                                            estudante francês sentado na fila da
vários clássicos recuperados e inovou                                                     frente. Nem a madrinha do festival,
com a nova categoria de homenagem.                                                        a excepcional Carole Bouquet cá
Também para festejar o 50º aniversário                                                    pôs os pés, ficando-se também pela
da Semana da Crítica do Festival                                                          capital.Mas esquisitices à parte, há
de Cannes, foi possível fazer uma                                                         que concordar que iniciativas destas
pequena retrospectiva ao melhor                                                           são muito bem-vindas. Pela minha
cinema feito até hoje. Mas nem tudo                                                       parte, até podiam fazer festas do
foi perfeito como me fizeram acreditar,                                                   cinema de outras origens quaisquer,
com alguns trabalhos de fazer contar os                                                   já que, no fim de contas, vi bons
minutos no relógio e outros que intrigam e põem em causa a       filmes, excelentes histórias e grandes actores. Os bilhetes são
suposta criatividade do realizador. Sim, porque, por detrás de   relativamente baratos e o TAGV tem excelentes condições. E
películas de me levar às lágrimas tanto de rir às gargalhadas,   agora, vestindo a pele daqueles críticos de cinema mas sem as
como de chorar discretamente, há outras que me fizeram levar     expressões carregadas de palavras difíceis que impressionam,
as mãos à cabeça, tanto de pasmo por tantas cenas ocas e         mas que ninguém percebe muito bem, acho que resumo esta
sem nexo todas juntas como de revolta pelo investimento          experiência como uma oportunidade única para admirar
de 3,5€ numas horinhas de consecutivos bocejos e reflexões       o espantoso trabalho que nesta velha Europa se faz. Uma
sobre as leis do Universo.Com a possibilidade de adquirir        viagem à cultura gaulesa sem ir muito longe, numa magnífica
um passe para 5 filmes num valor mais em conta, suspeito         ocasião que deve ser partilhada.


7            Dezembro 2011                                                                                         RESISTANCE
Caminhos do cinema português

“Porque não gostam os portugueses do cinema
português?
— Ninguém gosta de se ver ao espelho!”
Manoel de Oliveira

                                                                                                 Frederico Borges
Manoel de Oliveira, um realizador            (heroínas?) num Portugal que desejamos    das histórias esquecidas em Portugal.
português com 103 anos, responde com         fingir que não existe. Vencedor de 4      Nas curtas-metragens vemos os novos
uma frase genial à relação dos portugueses   prémios, incluindo o grande prémio        grandes realizadores a crescer para
com a cultura. Nós não gostamos de nos       do júri, realizador, argumento original   assegurarem um futuro brilhante ao
ver ao espelho. Preferimos, ver, ouvir       e actriz principal. Mas o que fez do      cinema português. Nuno Piloto (vencedor
ou ler histórias fantásticas sobre seres     Festival uma experiêancia a não perder    do prémio da melhor curta) e André
que têm as vidas que gostaríamos de                                                    Badalo são exemplos disso. No entanto é
ter. Contam-nos as histórias dos nossos                                                nas longas-metragens que o cinema chega
sonhos e brincam com as nossas emoções                                                 à sua essência. Com “Viagem a Portugal”,
de forma a terem a maior receita possível.                                             vencedor da melhor longa-metragem
Mas a arte não é isso. Como disse o Woody                                              e com uma representação assombrosa
Allen no seu último filme, o objectivo                                                 de Maria de Medeiros, e “América”,
da arte é procurar um antídoto para a                                                  a grande revelação do festival, ambos
insignificância da vida. “Caminhos do                                                  abordando o tema da imigração em
Cinema Português” mostram as diversas                                                  Portugal. “O Barão”, um remake de um
tentativas dos nossos realizadores para                                                filme destruído pelo Estado Novo com
chegar a esse mesmo antídoto. Por isso,                                                uma montagem e fotografia memorável ,
                                                                                       e “Quinze Pontos na Alma”. Estes filmes
                                                                                       ficaram com os prémios do “Caminhos”.
      Contam-nos as                                                                    O grande perdedor foi “A Morte de
                                                                                       Carlos Gardel”, numa adaptação de um
histórias dos nossos                                                                   livro do António Lobo Xavier. Deverá
sonhos e brincam com as                                                                ter ficado em segundo lugar em muitas
                                                                                       categorias, tais como, melhor realizador
nossas emoções de forma                                                                e melhor longa-metragem. Também tenho
a terem a maior receita                                                                de referir a não atribuição do prémio de
                                                                                       melhor actor secundário a Nuno Melo
possível.                                                                              por “Sangue do Meu Sangue” como uma
                                              foi a diversidade e quantidade de bons   enorme surpresa negativa. Nuno Melo
no TAGV não houve efeitos especiais,         filmes. Grandes documentários como        encheu a tela com esta representação.
nem filmes em 3D, explosões ruidosas         “José e Pilar” (Melhor documentário e     Este festival proporcionou cerca de 50
ou perseguições de carros. Só houve          Prémio do Público), “Chamo-me António     horas de Cinema Português oferecendo
Amor. Amor pelo Cinema. E que melhor         da Cunha Teles” (sobre a nova vaga        uma experiência fantástica a todos os que
filme para demonstrar esse amor, que o       do cinema português), “Meio Metro         participaram. Durante uma semana vimos
grande vencedor do festival. “Sangue         de Pedra” (história do rock português)    o verdadeiro Portugal e as suas tristezas e
do Meu Sangue” de João Canijo. Com           ou “Éden” (Amor dos cabo-verdianos        felicidades. Já é altura de nos começarmos
grandes interpretações das três mulheres     pelo Cinema), exploram a realidade        a ver ao espelho, não??


 RESISTANCE                                                                                        Dezembro 2011                     8
Entrevista

              Maria Constança Providência Santarém e Costa
                                    Profª Catedrática da FCTUC
                                                    texto_Rui Nunes



Quando despertou o seu interesse pelas       desafiaram-me para integrar o cortejo         altura, logo após a licenciatura houve um
ciências exactas, ou mais concretamente,     e fui com uma cartola, não como agora,        concurso para vários lugares, de modo que
para a física?                               que a cartola na altura era preta, mas fui.   fiquei colocada. Agora não é tão fácil… Eu
Eu sempre gostei muito de Matemática,        Apesar disso nunca fiquei muito ligada às     também não vejo tão mal o que agora se
mas a Matemática só por si acho que é        tradições e às vezes acho que há muitos       passa no que diz respeito à possibilidade
um pouco abstracta, e a Física completa-a    excessos. Se calhar porque nunca vivi         de, depois de terminarmos um mestrado,
porque temos que usar a matemática           as tradições como têm sido vividas aqui,      podemos ter facilmente uma bolsa e
para descrever o mundo que nos rodeia.       mas eu, quando fui fazer doutoramento         tirar um doutoramento, porque também
Eu não tinha ideia nenhuma em mente          em Inglaterra, fui considerada caloira,       quebrava (a continuidade). Depois de
para outra carreira, mas sempre gostei de    ou “fresher”, e os caloiros lá também         terminar o mestrado, tínhamos sempre
Matemática e de Física, portanto foi um      são muito bem tratados. Não como aqui:        que dar aulas e só depois podíamos ter
percurso natural. No final do secundário     lá são convidados para todos os clubes,       uma possibilidade de dispensa para
tive muito bons resultados também a                                                        fazer um doutoramento. Quebrava a
Biologia e disse à professora de Biologia                                                  continuidade do estudo e uma pessoa, nos
que estava indecisa se havia de ir para                                                    anos em que é mais activa e pode produzir
Física ou para Biologia e ela disse que                                                    mais, ficava parada e tinha que dar aulas.
Biologia não, que devia apostar na Física                                                  Conseguia conciliar, mas não com aquela
(risos). A partir daí não tive mais nenhum                                                 dedicação que devia acontecer. Eu acho
ponto de interrogação sobre o que deveria                                                  que nos primeiros anos nós devíamos ter
seleccionar.                                                                               a possibilidade de ficarmos especialistas
                                                                                           numa área de modo a tornarmo-nos
Apesar de ter nascido em Birmingham,                                                       independentes para podermos fazer a
tem nacionalidade Portuguesa e veio                                                        nossa própria investigação. Se não há
a Licenciar-se pela Universidade de                                                        aquele empurrão naqueles anos, depois é
Coimbra. Como era estudar em Coimbra                                                       mais difícil e as coisas vão estender-se no
nesse tempo? Quão diferente era do que o     para todas as associações e instituições      tempo.
que observa agora?                           que estão ligadas à vida académica ou à
Eu nasci em Inglaterra mas só fiquei lá      vida cultural… à vida da cidade. Portanto,    Mais tarde, após o mestrado, doutorou-
um ano. O meu pai estava lá a estudar,       aquele primeiro trimestre é um trimestre      se em Oxford. O que a levou a voltar a
nasci lá e quando regressei tinha um ano,    de ir tomar o “port wine”, de integração.     Inglaterra?
portanto os estudos foram todos feitos       Ficamos a conhecer bem a oferta e eu          Na altura em que terminei o mestrado
cá em Portugal. Estudar em Coimbra           acabei por fazer parte da equipa feminina     tive uma bolsa Alemã, por 2 meses, para
nesse tempo não era muito diferente de       dos barcos de 8 (remo). Isto só foi           ir discutir o meu tema de mestrado com
agora. Bem, não havia barulho… (risos)       possível porque os estudantes que chegam      um professor e a experiência que eu tive
Eu acabei a minha licenciatura, que na       todos os anos são integrados e acho que       na Alemanha foi má. A comunicação
altura eram 5 anos, em 1981. A tradição      a integração é importante. Coimbra tem        era a seguinte: tudo o que dizia respeito
académica foi reposta em 1980, ano           essa vida académica: tem uma Associação       à Física, discutia-se em Inglês, mas não
em que houve já cortejo da Queima das        Académica muito forte, uma vida cultural      havia nada para além disso. Portanto,
Fitas… no qual eu não participei.            e desportiva com uma oferta muito variada     durante dois meses eu vivi como uma
                                             e eu acho que é importante integrar os        ermita. Discutia Física mas não havia
Algum motivo pessoal?                        estudantes, mas às vezes há excessos.         vida própria. Infelizmente, fui para
Tenho a impressão que foi uma questão de                                                   uma Universidade não muito grande,
não ter crescido com a tradição e portanto   Começou a dar aulas logo após a               que ficava num meio industrial, sem
não me dizia nada de especial. No ano        licenciatura…                                 vida cultural e eu senti isolamento. Lá
seguinte, em 1981, os meus colegas           E na altura foi mais fácil do que agora. Na   está, não houve integração. O grupo era

9            Dezembro 2011                                                                                               RESISTANCE
disciplina. Tínhamos que fazer três
                                               disciplinas por trimestre e os trimestres    Como investigadora, faz parte do Centro
                                               tinham 8 semanas, sem feriados. Podia        de Física Computacional. Que tipo de
                                               haver feriados na cidade, que eram sempre    trabalho é desenvolvido?
                                               à segunda-feira, mas a Universidade          O Centro de Física Computacional está
                                               não tinha feriados. Exigia trabalho          dividido em cinco grupos: o grupo a que
                                               dos alunos, tinham as aulas teóricas,        eu pertenço dedica-se a problemas do
                                               chamadas lectures, e aulas tutoriais, onde   núcleo ou de muitos corpos. O meu tema
                                               se discutiam todos os problemas que          de investigação é as estrelas compactas
                                               tinham sido resolvidos. Isso obrigava a      e a equação de estado de matéria
                                               um trabalho permanente… mas também           assimétrica. Uma estrela compacta é
                                               havia festa. Dava tempo para tudo.           aquilo que é conhecido por uma estrela de
                                                                                            neutrões com muitos neutrões e poucos
                                               Como eram os momentos de lazer?              protões. Isso permite explorar a matéria
                                               As pessoas encontravam-se nos colégios       nuclear numa região do espaço que não
pequeno, e talvez esse tivesse sido outro
                                               uns dos outros. Vivíamos em colégios, e      era conhecida e que agora, com os novos
motivo que dificultou… Aí eu logo pensei
                                               encontrávamo-nos no bar de cada colégio.     equipamentos nos laboratórios, vai sendo
“Alemanha, não”. Como o Inglês era uma
                                               O bar não ficava aberto até às 5h da         possível obter resultados experimentais.
língua que eu conhecia, pois tinha nascido
                                               manhã… (risos) No máximo até à 1h ou         Há também um conjunto de pessoas que
em Inglaterra e tinha vontade de voltar ao
                                               2h da manhã. Também havia saídas, ia-se      estão mais ligadas a modelos de quarks
país, fui trabalhar com um Professor de
                                               ouvir um concerto, ver uma peça de teatro,   ou mesões. Há um segundo grupo que
Física, David Brink [1], em Oxford. Ele
                                               idas até Londres ver um espectáculo          também está ligado a esta vertente, a
era muito boa pessoa do ponto de vista
                                               e havia um grande envolvimento no            matéria hadrónica, um terceiro grupo que
científico e também muito agradável do
                                               desporto: todos os colégios tinham campos    tem como tema de investigação tanto a
ponto de vista humano. Conjuguei essas
                                               de ténis, campos de squash… Mesmo que        Astrofísica como a Geofísica e há ainda
duas coisas: voltar a Inglaterra e trabalhar
                                               não fossemos peritos, pegávamos numa         um quarto grupo que está relacionado
com uma pessoa de quem eu gostava e
                                               raquete e jogávamos, e tudo isso eram        com a história, o ensino da Física e a
que já conhecia.
                                               momentos de encontro.                        divulgação da Física, que tem sido sempre
                                                                                            uma vertente forte deste Centro. Há ainda
Que diferença notou no método Britânico?
                                               Em que incidiu a sua tese de                 outro grupo muito activo, coordenado
A investigação, neste momento, é feita
                                               Doutoramento?                                pelo Professor Fernando Nogueira, que
em todos os lados segundo os mesmos
                                               Naquela altura era um problema que           presentemente se tem dedicado ao estudo
parâmetros. Mas claro, se estamos num
                                               estava a ser discutido em meados dos anos    da resposta de nano-partículas incluindo
meio que tem um grande número de
                                               ’80: a produção de piões, ou de fotões       biomoléculas complexas a perturbações
pessoas a fazer investigação em temas
                                               muito energéticos, em colisões de iões       exteriores.
de fronteira é muito mais fácil ficar a
                                               pesados com energias intermédias (por
conhecer os novos campos, os novos
                                               volta de 50 MeV/partícula). Numa colisão     Para o futuro, tanto próximo/distante:
temas, e de estabelecer ligações para
                                               de carbono em carbono, ia haver um           Alguma descoberta importante eminente?
futuras colaborações, o que torna tudo
                                               núcleo com 12 x 50 = 600 MeV de energia      Tem algum(s) projecto (s) em vista?
muito mais rico. Além disso, uma saída
                                               cinética que ia incidir no alvo. O que se    Numa estrela compacta, uma estrela de
do país é sempre importante porque
                                               verificava é que era possível produzir       neutrões por exemplo, um objecto de
nos mostra que o país é pequeno, que
                                               piões com uma massa de 140 MeV. Ora          12km (de diâmetro), toda a informação
há muito para lá das nossas fronteiras.
                                               uma só partícula, resultante da colisão de   que nos chega, atravessa a crosta que tem
É algo sempre vantajoso, mesmo que
                                               uma partícula com outra, não era possível    1 km. Enquanto o interior é composto,
a experiência não seja 100% positiva,
                                               produzir esse pião. A única maneira era      mais ou menos, por matéria homogénea, a
porque nos dá outra perspectiva. Ali, no
                                               juntar a energia de parte dos nucleões       crosta não é homogénea. Neste momento
Departamento de Física Teórica, que
                                               para conseguir produzir essa partícula, o    tenho-me dedicado mais às propriedades
estava também próximo do Departamento
                                               que significava que tinha que haver um       da crosta, e perceber coisas como como
de Física Nuclear e do “Rutherford
                                               movimento colectivo que possibilitasse       é que se propagam as excitações e as
Laboratory”, as pessoas encontravam-
                                               a sua produção. Chamava-se a isso “a         ondas, e quais as propriedades dos
se e falava-se dos vários temas, o que é
                                               produção de piões abaixo do limiar”,
muito enriquecedor. Relativamente às
                                               ou seja, abaixo do limiar nucleão-
aulas, tive que frequentar cursos durante
                                               nucleão. Tratava-se de um problema
dois trimestres, obrigatoriamente, mais
                                               núcleo-núcleo e o meu trabalho
um trimestre optativo, e tínhamos que
                                               desenvolveu-se de modo a tentar
resolver problemas. Todas as semanas
                                               perceber se um certo mecanismo
tínhamos uma folha de problemas para
                                               podia explicar essa produção de
resolver, alternadamente, ou seja, na
                                               piões, ou de fotões muito energéticos,
mesma semana não tínhamos de outra
                                               que é o mesmo tipo de problema.


 RESISTANCE                                                                                            Dezembro 2011                10
materiais da crosta (viscosidade, etc.).    e dá aso à imaginação.
 Tudo isto é importante para perceber
 o sinal que recebemos dessas estrelas       Será que a Professora está a lançar um
 e é a perceber este sinal que podemos       desafio aos estudantes do Departamento?
 ficar a saber mais sobre a matéria dos      Eu acho que isso era uma boa ideia! Em
 núcleos. Este objecto é como um só          primeiro lugar, estão mais próximos:
 núcleo enorme, com 10km diâmetro e          as crianças gostam muito e reagem
 com uma matéria muito densa, enquanto       muito bem a ter visitas na sala de aula,
 que o campo magnético da terra é 0,5 G,     principalmente para abordar este tipo de
 lá pode ser 1015 G à superfície. Neste      temas. O meu método era partir de uma
 momento estou envolvida na descoberta       pergunta, por exemplo “quantas cores
 das propriedades internas destes objectos   tem a tua caneta preta?”, algo em que       com quem possamos dialogar de modo a
 e é um tema que me atrai.                   eles nunca tinham pensado. Fazíamos         encontrar as funções que sejam as mais
                                             primeiro uma discussão, via-se o que é      adequadas. O trabalho de presidir, ou
 Também já esteve ligada a projectos de      que eles sabiam ou não sobre o tema,        dirigir, uma instituição é simplesmente
 divulgação e ensino da Física…              o que é que eles já tinham pensado e        um trabalho de pôr as pessoas a falar e
 Estive ligada a vários projectos da         por vezes perguntava-lhes como é que        a chegar a soluções para os problemas
 Ciência Viva porque, à medida que           podiam testar alguma ideia que já tivesse   que se levantam na instituição. Na altura,
 as minhas filhas foram crescendo,           surgido. Se não tivesse ideias, propunha-   naqueles dois anos, já se tinha feito toda
 eu fui acompanhando as escolas e            as e eles realizavam a experiência,         a transformação de “Bolonha”, já tinham
 desenvolvendo algumas actividades           interpretávamo-la      e     discutíamos.   sido aprovados os primeiro e segundo
 nas escolas delas, que acabei por juntar    É um percurso que acho que todos            ciclos, de Física e de Engenharia Física,
 em livros. Penso que a maneira como         podiam desenvolver, nomeadamente            e o curso de Engenharia Biomédica já
 as ciências são abordadas no 1º, 2º e 3º    aperceberem-se que há questões para         havia sido formulado como mestrado
 Ciclos em Portugal não é como podia ser:    as quais não temos respostas, mas           integrado. Foram os anos em que foi
 o programa permite que se faça mais mas     podemos tentar encontrar uma resposta       preciso pôr a funcionar esses novos
 os professores não têm essa preparação.     e tentar perceber o que se está a passar.   currículos e criar os terceiros ciclos.
                                                                                         Acho que o essencial é o diálogo e ter-
     Mas vocês, estudantes, já sabem: se precisarem                                      se bons colaboradores. Tem que se ver
de alguma coisa é só virem ter comigo e falarmos,                                        quais são as actividades que é importante
                                                                                         desenvolver, e responsabilizar pessoas
estou à vossa disposição para diálogo.                                                   para essas actividades. Isso é bom para
                                                                                         a instituição, porque temos o ponto de
 Os professores têm medo de fazer            Descobrir que podemos pensar sobre um       vista de outras pessoas, que é sempre
 experiências. Isso era um campo em que      problema e chegar a algo que leve a uma     enriquecedor, e é bom para a pessoa,
 vocês, como estudantes, podiam ganhar       solução, que não é magia, e que as coisas   porque se ganha experiência em algo que
 experiência: obriga a pessoa a ganhar       que estão nos livros é porque alguém as     talvez ainda não se tenha feito, e isso é
 vocabulário, a conseguir exprimir ideias    testou e alguém as experimentou.            sempre importante.
 complexas de uma maneira simples,
 ajuda a saber relacionar-se com os outros   Foi presidente do Conselho Científico       Quais são as suas espectativas para a
                                             do Departamento de Física desde 2007        Direcção do Departamento de Física?
                                             a 2009. Como consegue conciliar tantas      Para já não tenho espectativas nenhumas
                                             actividades? Quais são as principais        porque foi inesperado… (risos) Para já,
                                             funções desempenhadas neste Conselho?       ainda não estou bem inteirada e ainda
                                             Essa experiência terminou mas já vai        nem estudei bem os problemas que o
                                             recomeçar brevemente pois acabei de         Departamento possivelmente tenha como
                                             ser eleita Directora do Departamento        Instituição. Sempre estive envolvida
                                             de Física. Eu acho que temos que ser        mais na parte científica, mas logo que
                                             organizados e é necessário colaborar. Ser   tome posse como Directora ficarei a
                                             Directora do Departamento ainda não sei     saber quais são os problemas que terei
                                             bem o que é mas rapidamente saberei         que resolver. Mas vocês, estudantes, já
                                             (risos). Como presidente do Conselho        sabem: se precisarem de alguma coisa é
                                             Científico tinha que resolver problemas     só virem ter comigo e falarmos, estou à
                                             do âmbito científico do Departamento        vossa disposição para diálogo.
                                             e os problemas são problemas de um
                                             Departamento, de um conjunto de             1 Prof. David Brink, Ph.D. é um dos
                                             pessoas que vivem num Departamento.         fundadores da Física Teórica Nuclear,
                                             É preciso perceber o que é que se passa     membro da Royal Society e galardoado
                                             e é preciso ter colaboradores com quem      com a Rutheford Medal do Institute of
                                             trabalhemos bem, em quem confiemos e        Physics, Reino Unido.

11            Dezembro 2011                                                                                           RESISTANCE
Se divertindo em Genebra
                                                 Edson Ferreira
                                           15,0 franco suíço se procurar algo um        andando. A descida foi bem divertida, a
                                           pouco mais elaborada o preço sobe            chão estava um pouco molhado, resultado
                                           exponencialmente. Se paga bem mais a         muitas pessoas escorregaram, nada
                                           qualidade dos produtos é excelente, por      séria, mas suficiente para ser motivo de
                                           isso os relógios e os canivetes suíços       muita graça. Descobri que levo jeito para
                                           são conhecidos mundialmente pela sua         descer montanha, e que isto pode ser uma
                                           excelência. Não fica só nisto, até os        atividade muito interessante. Perdemo-
                                           biscoitos considerados mais baratos são      nos durante a descida, mas conhecemos
                                           deliciosos! Em relação à diversificação      um pequeno povoado muito bonito e em
                                           cultural encontram-se pessoas vindas de      que os moradores eram bem simpáticos.
                                           várias partes do planeta. Nota-se uma        Depois de algumas voltas encontramos
                                           grande concentração de árabe, chinês,        novamente o caminho, toda esta aventura
                                           português etc. A Suíça possui vários         levou cerca de três horas e meia. A
                                           idiomas entres eles: alemão, francês e       descida em si valeu muito a pena. Outro
A viagem foi fantástica, pois a cidade     italiano. O idioma oficial de Genebra        lugar interessante que visitamos foi o
de Genebra é linda, muito organizada e     é o francês, mas quase toda gente fala       Museu de História Natural, que é um
as pessoas são simpáticas. Basicamente     também o inglês, e desta forma não           prédio com cerca de cinco andares. Em
toda a cidade de Genebra é plana, este     tivemos problemas com o idioma. Fomos        que cada andar ficava com uma classe
é uns dos motivos pelos quais grande       visitar o CERN, o maior acelerador           de animal como: mamíferos, repteis etc.
parte da população andam de bicicleta.     de partículas do planeta, não deu para       Além disso, possuía uma sessão destinada
É interessante e até engraçado você        ver muita coisa, pois os aceleradores        aos minérios possuindo rochas e cristais
esta caminhado pela cidade e vê muitas     estavam em funcionamento. Mas deu            de varias partes do planeta.Visitamos
pessoas várias delas com terno indo        para conhecer o seu funcionamento,           também o Jardim botânico que tinha
trabalhar de bicicleta, e as crianças      visitar a estação onde são processadas       cerca de 30 hectares, o interessante além
andam de patinete. Uma coisa que me        as informações de um dos aceleradores        de ser a paisagem que possuía espécies
chamou muito a atenção é a organização     que é o Atlas, conhecemos também um          de vários países, eram as estufas por
dos suíços, é espetacular! Eles possuem    enorme armazém onde são construídos e        eles construídas. Estas estufas buscava
um sistema de transporte bem eficiente,    testados os equipados que serão utilizados   representar as varias características
composta de autocarro (ônibus), trem       nos aceleradores, deu para ver vários        como pressão, umidade, temperatura
e pequenas embarcações. Que para os        equipamentos de perto, foi fantástico!       etc. De diversos ambientes diferentes.
visitantes é gratuito, isto mesmo desde    Por fim visitamos o microcosmo que é         Conhecemos também o Museu Ariana,
o aeroporto e durante toda a sua estadia   uma exposição permanente de divulgação       que é um museu de artes cerâmica,
em Genebra os transportes públicos são     científica que por sinal foi muito           que possuía uma grande coleção de
gratuito. Quando você está caminhando      interessante. Por Genebra ser toda plana     porcelanas das diferentes regiões e
pelas ruas e fecha o sinal de transito,    a estratégia utilizada para conhecê-la       épocas históricas. Como era fantásticos
mesmo que não esteja vindo nenhum          melhor foi à caminhada visitamos quase       os detalhes empregados na construção
carro ninguém atravessa a faixa. Genebra   todos os principais pontos andando.          das peças, algo realmente digno de
é um dos centros mais importantes da       Visitamos a ONU (Organização das             admiração. Como não podia deixar de
diplomacia internacional, sendo sede       Nações Unidas), foi uma visita guiada        ser visitamos três igrejas: uma cristã,
de vários órgãos de cooperação, como       com uma senhora muito simpática,             uma protestante e uma russa. Cada
a ONU, a Cruz Vermelha, OMC, OIT,          conhecemos a estrutura da organização,       uma com suas diferentes arquiteturas e
CERN etc. Sendo por isso conhecida         um pouco da sua história e deu para entrar   peculiaridade.
como a Capital da Paz. Genebra também      e sentar nas cadeiras dos representantes
se destaca como um dos principais          dos vários países, foi bem divertido!
centros financeiros do mundo. Em várias    Demos um pulinho em França para subir
partes da cidade você encontra enormes     uma de suas montanhas de teleférico,
bancos internacionais. Este é uns dos      chegamos ao ponto mais alto que era 1
motivos pelos quais os preços dos          100 m de altitude em cinco minutos. A
produtos em Genebra são considerados       vista lá de cima era descomunal, dava
bem elevados em relação a grande parte     para ver toda Genebra e uma parte da
da Europa. Geralmente uma refeição         França. Para tornar o passeio um pouco
simples fica no mínimo entre 12,5 e        mais interessante decidimos descer

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Estado estacionário


                                   Ilha Terceira
                                                     João Borba

 É algures entre os EUA e Portugal Continental, no meio do         qualquer ilha
 Oceano Atlântico, que se situa a minha terra natal. Sendo uma     dos Açores) é,
 das mais carismáticas ilhas do arquipélago dos Açores, a Ilha     obviamente, no Verão.
 Terceira apresenta no mapa uma forma praticamente elíptica, e     Primeiro, porque é
 tem um perímetro de 90 kms e uma área de cerca de 402,2 km2.      Verão, e apesar do
 Estes números já me valeram as mais diversas piadas durante       clima ameno e húmido
 os meus seis anos em Coimbra, que vão desde “Lá onde vives        predominar durante
 sais de casa, dás um passo errado e cais ao mar!” ou “Quando      os doze meses de
 as crianças vão para o infantário levam sempre braçadeiras para   cada ano, a humidade
 o caso de acontecer algo de errado!” ou até “Lá nos Açores, os    é menor durante o
 carros têm duas mudanças…a primeira e a segunda! A mudança        Verão, o que permite
 para fazer recuo não é precisa, dá-se a volta à Ilha!”, entre     a existência de ondas
 outras anedotas que até já me valeram algumas risadas. Por        de calor. E segundo,
 vezes, porque tiveram mesmo piada, outras vezes porque são        porque a ilha Terceira,
 o auge da ignorância. E aviso desde já: nós, os Terceirenses,     durante o Verão (e
 somos pessoas bastante protectoras do seu território e qualquer   fazendo uma analogia
 piada semelhante poderá não ser respondida da forma mais          com Coimbra),
 agradável. No entanto, e não querendo afugentar qualquer          resume-se a festa atrás de festa. Nós até costumamos dizer
 turista, nós somos, por norma, pessoas extremamente               em jeito de piada que os Açores têm oito ilhas e um parque de
 acolhedoras, humildes, e divertidas. Comunicamos entre nós        diversões! Desde Junho a inícios de Outubro que a festa não
 num dialecto extremamente peculiar (e que não tem nada            pára, tendo como exemplos maioritários as míticas Sanjoaninas
 a ver com o dialecto de São Miguel, como muitos julgam),          e as sempre esperadas Festas da Praia. De salientar também
 onde falamos extremamente rápido, não acabamos as sílabas e       a cultura taurina da ilha Terceira. Se um dia estiver nalguma
 adicionamos “Is” antes de certas palavras. Para nós “Escada”,     rua e esta ficar vedada ao trânsito, não estranhem. É apenas
 dito é “Esquiada”, ou “Vamos Embora” é “Vamos Embiora”,           uma das maiores atracções da nossa Ilha, as touradas à corda!
 uma ‘Sagres Mini’ é uma ‘Fresca’, ou quando estamos               Nestas, um touro é amarrado com uma corda pelo pescoço que
 impressionados com algo, usamos uma variância do termo “É,        é segurada por 6 homens (os denominados ‘pastores’). O touro
 Homem!”, que é “É, uóme!” para exprimir o nosso espanto.          é então, largado na rua que tinha ficado vedada, e alguns mais
 Existem diversos locais onde este dialecto é mais forte,          corajosos saem à rua para correr com ele. As outras pessoas
 principalmente nas freguesias onde habitam menos pessoas.         juntam-se nas casas e convidam os amigos e conhecidos para
 A melhor altura para vir visitar a ilha Terceira (bem como        entrarem para comer e beber enquanto vislumbram a tourada da
                                                                   varanda ou da entrada da casa. Não se preocupem se perderem
                                                                   uma tourada! É raro o dia de Verão em que não haja pelo menos
                                                                   uma toirada à corda em algum local, é só estar informado sobre
                                                                   qual será o próximo sítio! Não menos importante será referir
                                                                   que Angra do Heroísmo (uma das duas cidades da Ilha Terceira,
                                                                   sendo a outra a Praia da Vitória) é considerada Património
                                                                   Mundial pela UNESCO, e que temos, num território pequeno,
                                                                   uma beleza natural praticamente inigualável no Mundo [1]. O
                                                                   único senão para se deslocarem aos Açores poderá ser os preços
                                                                   das passagens. Devido à monopolização da parceria SATA/TAP,
                                                                   90% das passagens ida e volta rondam os 300 euros por pessoa
                                                                   de Lisboa para qualquer ilha, um valor que não é certamente
                                                                   suportável por grande parte dos Portugueses, e ainda mais em
                                                                   época de crise. No entanto, será um crime ir deste Mundo sem
                                                                   nunca ter visitado os Açores, e principalmente, sem nunca ter
                                                                   passado umas belas semanas no seu parque de diversões, a Ilha
                                                                   Terceira!
                                                                   [1] Relativamente a esta afirmação, falo em nome dos Açores.

13            Dezembro 2011                                                                                         RESISTANCE
Estado exitado



Ser Estudante em Uppsala:
viajar é aprender
                                                                                                  Pierre Barroca

“SÓ viajas, SÓ viajas”, dizem uns; “SÓ vida boa, não fazes nenhum”, dizem
outros.

Em parte é verdade mas não é SÓ            Nações que são mini-associações            estudantes e até uma sala dedicada aos
isso. Tenho tido o privilégio de           de estudantes que representam os           estudantes de muçulmanos poderem
viajar por alguns países com estatuto      estudantes cujos associados podem dar      rezar na paz de Alá. Não se cobra
diferente de mero turista e é difícil      entrada nos bares a custo zero. Não        qualquer tipo de propina para além
passar esta ideia para o outro lado.       sendo associado paga-se um pequeno         de se garantir quase imediatamente
Mais que visitar a cidade, esforço-        valor de entrada onde a cerveja é          uma bolsa de no mínimo 200euros
me em aprendê-la e, nessa medida,          baratíssima! Baratíssima em Uppsala        para ajudar os estudantes a suportar
considero-me mais um Estudante             é sinónimo de 3,50eur no mínimo por        custos de alojamento em residências
Viajante que um mero Turista. Em           garrafinha de 33cl de birra!! Depois       universitárias.No que resulta tudo isto?
Abril deste ano tive a sorte de ser        de dar entrada é dá-se lugar à festa até   Conforto, sem dúvida mas não só.
aceite como ajudante na organização        máximo dos máximos 2h da manhã.            Entre estudantes sentia-me um primata
de um curso para estudantes europeus       Agora fora a vida noturna, que Uppsala     durante discussões sem qualquer tipo
na cidade universitária de Uppsala,        não se resume só a combeber, tenho         de atropelo lógico, na pontualidade
Suécia. Em Uppsala podem encontrar         a referir que o modo de vida Sueco         e na forma de interpretar algumas
umas das universidades mais antigas        é totalmente diferente do que estava       questões. Dou como exemplo uma
da Europa, fundada em 1477 e à noite,      habituado. O meio de transporte            das maiores lições que vem de uma
ruas recheadas de estudantes em festa!     número um de todo e qualquer               história de um grande amigo meu que
À semelhança de Coimbra, são os            estudante é a bicicleta. Mesmo vivendo     estudou em Uppsala que irei tentar
estudantes que fazem da cidade de          a 30 min da sua Faculdade. Perdi           transcrever. “Estava eu a meio de um
Uppsala uma cidade cheia de vida,          todos os dias, no mínimo, 1h30min de       exame quando vários suecos saem
no entanto Caros conterrâneos, não         bicicleta a percorrer as ruas achatadas    subitamente da sala com o professor
esperem sentir-se em casa por terras       da cidade. Fiquei impressionado com        presente. Passado algum tempo voltam
escadinavas! Esqueçam saídas à noite       a capacidade física de meninas de          e retomam o exame. Depois do exame
a partir da 1h, esqueçam escandaleira      cabelo amarelo e dos velhotes.Indo         acabado perguntei o que tinham ido
nas ruas, esqueçam cerveja a 50cent,       a uma cidade maravilhosa como esta         fazer fora da sala, no que eles me
esqueçam aquele xixi orgásmico             podemos darmo-nos conta daquilo            dizem com toda a calma do mundo que
nos recantos das ruelas ou no meio         que é realmente o resultado de um          tinham ido a casa de banho. Chocado,
de arbustos, esqueçam fazer lixo,          sistema de Educação que funciona.          perguntei como podia o professor
ESQUEÇAM! 20h de quarta-feira              O sistema sueco ultrapassa qualquer        aceitar tal coisa visto assim ser fácil
(melhor noite em Uppsala a par de          coisa que alguma vez pude imaginar.        copiar, no que eles me respondem:
sexta) e já se viam fileiras a seguir      Desde infraestruturas super cuidadas       “Copiar, como assim? Se copiares não
ordeiramente rua fora toneladas de         e com tecnologia recente, serviços         aprendes!”. “ Posto isto o meu amigo
meninas bonitas bem vestidas (reitero,     competentes, todo o tipo de serviços       calou-se, acenou educadamente e
TONELADAS) e meia dúzia de seres           oferecidos aos alunos dentro do            refugiou-se na vergonha em que a sua
humanos do sexo masculino. Perante         próprio edifício da faculdade como         pergunta, aparentemente ridícula, o
isto, pensava eu: “Toda a gente a jantar   chuveiros acessíveis a qualquer hora       deixou. Esta é parte da realidade que se
fora? Rica vida!”. Mas NÃO! Eles já        do dia, salas comuns com equipamento       vive numa cidade de estudantes sueca
se estavam a preparar para mais uma        de cozinha recente para fazermos           que só um Estudante terá oportunidade
noite boémia. Em Uppsala os bares          as nossas próprias refeições, salas        de viver e que eu recomendo a todos
alvo estão divididos pelas chamadas        de estudo para pequenos grupos de          experimentarem.

 RESISTANCE                                                                                      Dezembro 2011               14
16 frames por segundo

                  “Jamaica Inn” (1939)
                  Um dos filmes mais esquecidos e injustiçados de Hitchcock - um caso sério de afecto. Por volta
                  de 1800, na Cornualha, um bando de contrabandistas liderados discretamente por Sir Humphrey
                  Pengallan, o juiz local, provoca naufrágios na costa marítima, saqueando os navios. O seu “quartel-
                  general” é a “Pousada da Jamaica”, gerida pelo casal Merlyn, que acolhe Mary Yellan, uma sobrinha
                  órfã que vai alterar o estado das coisas. Última fita britânica de Hitchcock antes do rumo à América,
                  A Pousada da Jamaica é uma surpreendente obra que não merece o desprezo a que foi votada. Tem
                  um preto-e-branco apaixonante, com a fotografia contendo uma saudável “sujidadezita” que emana na
                  perfeição aquela pureza dos filmes antigos consideravelmente estilizados. E que estilo tem Hitchcock!
                  Aproveita com uma perícia insuperável o céu, os navios, os cenários naturais exteriores, os close-ups
                  e até a indumentária dos actores para projectar planos de um deslumbramento visual arrebatador. É
                  sim um filme de cenas marcantes, mas acima de tudo, é um filme de sentimento estético marcante.
                  Charles Laughton dá um autêntico show interpretativo como Pengallan, com um egocentrismo
                  destacável mas com uma classe assombrosa. É um imponente e requintado vilão que só deixa boas
                  recordações. Já Maureen O’Hara, faz aqui a sua estreia ao encarnar a protagonista feminina, e fá-lo em
                  grande, demonstrando um carácter forte e um empenho não menos sentido, intervindo exemplarmente
                  num bom leque de cenas de puro fascínio superiormente filmadas. Quanto à cena final do filme, que
                  obviamente não revelarei, e que poderá parecer algo estranha, não prima por uma surpresa estonteante,
                  mas sim por uma afinada inteligência que proporciona um adequamento superior à obra. Não há
                  dúvidas: a fase britânica de Sir Alfred merece mais.




                  Artur Almeida



                  “Peaceful Warrior” (2006)
                  Filme de 2006, realizado por Victor Salva e baseado no livro “pseudo-auto-biográfico” motivacional,
                  The Way of The Peaceful Warrior. A história contada é a de Dan Millman (Scott Mechlowicz),
                  um estudante universitário e ginasta que sonha representar o seu país nas olimpíadas. E apesar de
                  aparentemente ter tudo o que deseja, o arrogante Dan parece não conseguir preencher um vazio no
                  campo da felicidade. Até que conhece Socrates (o veterano Nick Nolte), e se aventura por estradas
                  que ainda não tinha percorrido. As performances dos dois actores principais estão dentro do aceitável
                  tendo em conta o guião, que em muitos momentos se revela demasiado surreal. Aceitando que este
                  se baseia numa história verídica, e que o ponto forte do filme é a sua mensagem, de crença na força
                  do espírito humano, seria de esperar um argumento que reflectisse melhor a realidade. Que não desse
                  azo a que o espectador sinta que tudo não passa de mais uma historia banal e figurada de esperança.
                  Ainda assim, não deixa de ser uma historia inspiradora, que relembra ao espectador que mesmo nas
                  alturas mais difíceis, o Homem dá a volta ao mais improvável rumo dos acontecimentos. No final fica
                  a sensação que o filme perde credibilidade na transmissão do seu significado, e com isso, valor. Mas
                  se o espectador conseguir abstrair-se de alguns momentos menos credíveis, encontrando o verdadeiro
                  significado do filme, então não são (de todo!) duas horas perdidas.




                   Gonçalo Louzada

15     Dezembro 2011                                                                                        RESISTANCE
16 frames por segundo

“Submarine” (2010)
Oliver Tate (Craig Roberts) é um jovem de 15 anos que vive problemas com as duas mulheres da
sua vida. De um lado, a sua depressiva mãe (Sally Hawkins) que vive um aborrecido e monótono
casamento com o seu ainda mais depressivo pai (Noah Taylor). As coisas ainda ficam piores com a
presença de um ex-namorado (Paddy Considine) de longa data da sua mãe na vizinhança. De outro
lado Jordana (Yasmin Paige), a sua recente namorada, e cuja relação entre ambos aparenta ser o oposto
do tradicional romance. O realizador Richard Ayoade retrata um Oliver que vive as ansiedades da
juventude (romance, sexualidade, pais, escola, colegas…) com um sentido de humor cru e por vezes
cruel, enriquecendo a história alegoricamente, fugindo à monotonia e linearidade. Num filme povoado
de pessoas aparentemente tristes, Ayoade evita o foco nessa tristeza, levando a viagem para o modo
como Oliver e companhia encaram a sua realidade. Os porquês são subjectivos, o tempo não pára e
Oliver segue caminho, perseguido pelas questões tão comuns da idade: Crescer? Viver? Fugir? Mas
desengane-se quem pensa que este é um filme comum. A banda sonora, composta pelo génio britânico
de Alex Turner, parece sempre encaixar perfeitamente nos momentos chave do filme. Nesses instantes,
a música fala pelas personagens. A peça que faltava a este puzzle. Uma comédia delicada, por vezes
negra, agridoce, que vive da sua continuidade enquanto história. A bela sensação de estar na mente
do alguém com 15 anos é real. Oliver pode não ser feliz para sempre. Mas por agora, o sempre não é
assim tão importante.


Gonçalo Louzada

“Atonement” (2007)
Expiação. Castigo. Pena. Penitência. Termos que a nossa mente não reconhece, na medida em que,
na sua perspectiva, tudo se trata da realidade; e o que é real é autêntico, não havendo forma de ser
revertido. Deste modo, é sempre uma tarefa árdua incutir-lhe não a realidade, pois ela própria constrói
uma sua, mas sim instigar-lhe a interpretação correcta do mundo exterior. Para isso, é necessário um
treino quase transcendental do nosso entendimento. E que o diga a pequena Briony, que, vitimada
por uma versão errónea dos factos que a sua mente lhe terá apresentado, despedaçara o afortunado
futuro da sua irmã, Cecilia, ao lado do seu eterno amado, Robbie, um simples filho de um caseiro.
Tudo terá sucedido no dia mais quente do Verão de 1935 que, apesar dos banhos refrescantes nas
mais paradisíacas lagoas; das roupas frescas e leves a “voluptuarem-se” sobre os corpos tórridos; dos
passeios no éden de jardins verdejantes; um balde de gelo precipitava-se sobre Inglaterra, vaticinando
a terrífica 2ª Guerra Mundial. Com 13 anos, uma vida luxuosa e oponente, e influenciada pelas piores
atitudes das pessoas menos indicadas, que se erguiam à sua volta, a pobre Briony terá iniciado a sua
própria guerra… um confronto invencível com a sua própria mente, com a conquista da paz interior.
Uma sequência de mal-entendidos, cenários irreais postos em causa, mentiras, e o velho problema do
“timing” errado, aniquila assim qualquer possibilidade de Robbie e Cecilia resistirem às atrocidades
hitlerianas. Um filme fantástico, arrepiante, emocionante e, acima de tudo, purificante; sim, porque
nos dá leveza à alma, porque nos obriga a rever-nos na personagem da pequena Briony e relembrar
todas as situações em que poderemos ter colocado a felicidade de alguém em causa, vitimizados pela
nossa mente frágil e adúltera e; paralelamente, a encontrarmos a paz interior. Sim, porque a realidade
verdadeira, aquela que não é falsificada pelo nosso intelecto, passa por nós a sorrir; nós é que não lhe
retribuímos o gesto, preferindo abraçar o espírito esvoaçante de um propósito egoísta sem retribuição
definida. Resta ver, para gratificar a realidade “concreta” pelo gesto tão simpático.




Joana Paiva
 RESISTANCE                                                                                           Dezembro 2011   16
78 rotações por minuto

                          Foals

                                                                      Florence + The Machine

 Antidotes


                                                                   Ceremonials

 Desengane-se quem pensa que Oxford é só Universidade.
 Depois de construírem uma sólida comunidade de fãs, com
 singles como Hummer ou Mathletics, e com loucas festas que         Devido a um primeiro álbum de enorme qualidade (Lungs,
 protagonizaram pelo meio, os Foals lançam Antidotes em 2008.       2009), a uma atitude carismática fora e dentro do palco, e a
 Produzido originalmente por Dave Sitek (guitarrista de TV          espectáculos ao vivo emocionantes e intimistas, Florence Welch
 on The Radio), os próprios Foals refizeram esse trabalho em        e a sua ‘máquina’ ganhou rapidamente uma fanbase fiel e elitista,
 Londres depois de não ficarem totalmente satisfeitos. Antidotes    sem deixar de conseguir chegar ser mainstream num ou noutro
 é um álbum revigorante em que é impossível ser absorvido           momento (principalmente com a tão conhecida “You Got The
 pelas agudas guitarras de Yannis (também vocalista) e Jimmy,       Love”). Ceremonials é o sophomore effort de Florence, e foi
 que tão bem se completam e conjugam durante 44 minutos.            lançado no dia 31 de Outubro. Acaba por ser difícil descrever
 The French Open dá as boas vindas da melhor maneira,               Ceremonials. Florence deu asas à imaginação, e sempre frágil
 conseguindo transmitir várias das sensações que o álbum vai        mas confiante, exprime-se ainda mais do que se julgava possível.
 explorar. Depois da solene abertura, Cassius estala o verniz,      Florence explora novos caminhos, algures entre o soul e o gospel,
 está na hora de dançar. Red Socks Pugie é reconhecida pela sua     o que resulta num álbum com um clima bastante sombrio. Esses
 inconfundível e enérgica bateria mas no final dá espaço para       ambientes mais negros estão exemplarmente expressos na faixa
 Olympic Airways estabelecer o ambiente perfeito à entrada de       inicial “Only If For The Night”, na misteriosa “Seven Devils” e
 Electric Bloom. Sublime e bela na sua simplicidade, dura quase     na honesta “Never Let Me Go”. E para não destoar, “What The
 5 minutos, ainda assim demasiado efémeros. Balloons volta          Water Gave Me” e “Breaking Down” juntam ambientes pseudo
 a subir o ritmo e as tímidas Heavy Water e Two Steps Twice         – progressivos aos coros de igreja. Pelo meio, Florence continua
 guardam o melhor para o seu fim. Inatamente alegre é Big Big       com uma facilidade notável em fabricar hinos atrás de hinos
 Love (Fig. 2), leve e serena. No final, um mergulho em Like        (“Shake It Out”, “No Light, No Light”) e em saber construir
 Swimming e Tron, que tal como o filme homónimo nos leva            músicas poderosas, capazes de mandar uma casa abaixo como
 ao virtual e nos deixa por lá. Uma fusão da energia do “Dance-     “Heartlines” ou “Spectrum” (provavelmente a melhor faixa
 Rock”, a complexidade do “Math-Rock” e aquele toque único          do álbum). “Leave My Body” é também uma forma perfeita
 de “Brit-Indie-Rock”, tornam este álbum um misto de emoções        de acabar um álbum emotivo: com um estrondo (e com uma
 e energia, um antídoto para a monotonia musical que se vive        fantástica performance vocal de Florence Welch). Ceremonials
 cada vez mais no mundo artístico.                                  é uma investida extremamente bem-sucedida por caminhos
                                                                    bastante perigosos. Durante as dozes músicas, dá sempre a
                                                                    sensação que Florence canta os seus temas com o anjo e o diabo
 Gonçalo Louzada                                                    em cada mão. O resultado é misto gritante de emoções à flor da
                                                                    pele. Ceremonials é violento, poderoso, intenso, humano. Um
                                                                    dos álbuns do ano!


                                                                    João Borba

17            Dezembro 2011                                                                                             RESISTANCE
78 rotações por minuto

                                                    Noel Gallagher High Flying Birds
                                                    Noel Gallagher’s High Flying Birds
                                                    João Borba
                                                    Oasis. É difícil não reconhecer pelo menos uma/duas músicas de uma das
                                                    bandas mais icónicas da infância/adolescência da tão injustamente afamada
                                                    geração “à rasca”. Apesar deste sucesso a nível mundial, era certo e sabido que
                                                    o ambiente dentro da banda nunca foi o melhor e que as brigas dos orgulhosos
irmãos Gallagher iriam, eventualmente, levar ao fim da banda. Há dois anos, esse final foi uma realidade, e cada irmão seguiu o seu
caminho. Liam Gallagher segurou os elementos dos Oasis e criou a banda Beady Eye logo após o término dos Oasis. Já com um
álbum lançado, a banda atingiu algum sucesso no Reino Unido. Já Noel preparou algo que há muito pretendia: a sua carreira a solo.
E assim nasceu Noel Gallagher’s High Flying Birds, cujo álbum homónimo foi lançado no dia 17 de Outubro em território europeu.
O álbum abre com “Everybody’s On The Run”, que ou muito me engano, ou estará na lista de melhores músicas de 2011. A mistura
de elementos clássicos com uma vontade auspiciosa de gritar a cantar está magistral. É também possível vislumbrar que a chama
dos Oasis ainda não se apagou no coração de Noel. “Dream On” e “If I Had A Gun” são cheesy brit pop, “The Death Of You And
Me” parece uma “The Importance Of Being Idle” (Oasis - Don’t Believe The Truth, 2005) limada até à perfeição, e “I Wanna Live
A Dream (In My Record Machine)” faz lembrar os bons psicadelismos de certos álbuns. E se julgavam que não é possível dançar
num álbum de Noel, serão surpreendidos por “AKA…What a Life!”, onde um piano triunfante dita um ritmo irresistível. Destaque
ainda para a polémica “Stop The Clocks”, uma música que estaria prevista para sair num dos álbuns do Oasis, mas que nunca chegou
a ver a luz do dia. É brilhante, e extremamente pessoal a produção que Noel colocou nesta música. Perdão, obra-prima! Foi Noel
quem decidiu colocar um ponto final nos Oasis. Terá sido a melhor decisão, em termos de fazer a sua música chegar às massas?
Claramente, não. Terá sido a melhor decisão a nível musical? Provavelmente. O prólogo do livro de Noel Gallagher tem um começo
mais auspicioso que o do seu irmão. Seguem-se os próximos capítulos…



Umphrey’s McGee
Anchor Drops
Rui Nunes
Desta vez trago-vos uma banda originária de Chicago; pouco conhecida no
panorama Americano, muito menos internacionalmente. O primeiro contacto que
tive com a música deles foi em Abril de 2007, no dia da Terra, num concerto
gratuito (e genial), ao ar livre, no Millennium Park, em Chicago. Os Umphrey’s
McGee tocaram literalmente do início ao fim, com sessões de jamming e solos
de guitarra e bateria unindo as músicas (enquanto um dos elementos da banda descansava, à vez). Devo dizer que ouvir este
álbum é uma experiência musical, mas vê-los ao vivo é algo único. A energia e a versatilidade dos Umphrey’s McGee, banda
preferencialmente de Rock Progressivo, é claramente audível neste álbum com muitas músicas criadas a partir de jam sessions (a
arte de improvisar em conjunto, seguindo ou não um dos elementos da banda). Anchor Drops foi o terceiro álbum da banda e une
as raízes de rock progressivo com outras linhas de influência, desde electrónicas (como por exemplo, em “Robot World”) ao folk
americano (em “Bullhead City”). Pessoalmente, a minha música preferida é a terceira, “In the Kitchen”, por começar com uma
gravação da voz ouvida no metro de Chicago anunciando “This is Chicago. Doors Closing” (ouve-se no final da música anterior)
e por retratar o rigoroso inverno de Chicago, transportando-me para uma noite de Janeiro, a nevar lá fora. Dou uma classificação
de 5 estrelas a este álbum, pela sua versatilidade e textura, que explora vários ritmos e instrumentos, em fusões pouco comuns ao
ouvido. É de destacar a qualidade do baterista, que tanto consegue criar aberturas explosivas (“Mulche’s Odyssey”) como de criar
um ambiente jazzy e reconfortante (trechos iniciais de “13 days”).


 RESISTANCE                                                                                          Dezembro 2011                18
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  • 1. RESISTANCE 4ª Edição Dezembro 2011
  • 2. Editorial “If you have ideas, you have the main asset you need, and there isn’t any limit to what you can do with your business and your life. Ideas are any man’s greatest asset.” Harvey S. Firestone Sim, temos de escrever sempre um editorial mas nunca crescer em quantidade e qualidade. Com os nossos novos sabemos o que escrever. Decidimos, então, bater o paleio membros, Guilherme Simões de Eng. Informática e da nova do costume (NOT!). Já repararam mas os cantos da revista caloirinha Catarina Oliveira de Eng. Biomédica, as nossas foram alterados: sim o nosso logótipo mudou, tal como é áreas de incisão estão a aumentar, sendo os temas abordados visível na capa. E se estiveram na festa de lançamento de cada vez mais diversificados. Qualquer coisa já sabem, quinta-feira já se devem ter apercebido que a revista está a comuniquem: resistancemag@gmail.com facebook.com/resistancemag Table of contents 2_”TEDX”. Sérgio Pinto 3_”Biomédica, curso do futuro”. Ana Cortez Ficha técnica: 5_”Um olhar...DFUC”.Miguel Morgado, Ph.D 7_”À grande e à fracesa”. Carlos Moreira 8_”Caminhos do cinema português”. Fred Borges 9_”Entrevista”. Maria Constança Editores: Providência Santarém e Costa Joana Faria, Frederico Borges, Pedro Silva 12_”Se divertindo em Genebra”. Edson Ferreira 13_”Estado estacionário”. João Borba Colaboradores: 14_”Estado excitado”.Pierre Barroca Karen Duarte, Patrícia Silva, Ana Telma 15_”16 fps”. Santos, Rui Nunes, André Silva, Guilherme 17_”78 rpm”. Simões e Catarina Oliveira 19_”Stanford e Milgram”. Pedro Cunha 21_”Alfazema amarela”. Catarina Oliveira Revisão: 22_”Pensamentos ao acaso”. Bernardo Fabrica Ângela Dinis 23_”Crónicas” 25_”Mãe, afinal sei cozinhar”. Nuno Balhau Capa e Design 26_”A gamer (re)view” Rui Nunes e Pedro Silva 1 Dezembro 2011 RESISTANCE
  • 3. Sérgio Pinto – João Ramalho Santos – Porque às vezes a investigação TEDx Coimbra tem destas coisas, nem tudo está escrito como numa receita, nem tudo é fácil, às vezes é preciso inovar, à bom português 15 de Outubro de 2011 é preciso “desenrascar”, esta palestra foi o mais puro exemplo disso, como conseguir investigar o que não pode ser investigado, aliando o tema com a à-vontade demonstrada pelo O grupo TED foi fundado em 1984 e a primeira conferência orador, temos a receita para uma excelente TED talk. “Uma aconteceu em 1990. Poderia começar por tentar explicar o que nova era na imagem digital”: André Boto – Quem não tem é o conceito de uma TED talk, mas certamente nada melhor um fundo daqueles todos “futuristas” como wallpapper do do que dar um exemplo, numa altura em que possivelmente PC? Mas será que sabemos como é feito? O André primou se perdeu o melhor orador que alguma vez fez uma TED talk por mostrar o resultado final mas acima de tudo fazer algo que mesmo não tendo sido num evento oficial, estou a falar de nunca tinha visto que é a evolução como pegar numa imagem Steve Jobs e do seu discurso em Stanford, uma TED talk é de um Castelo, uma pedra e uma correntes e provar que é apenas uma conversa, uma conversa para “dar assas aos possível fazer um castelo levitar ao ponto de ter de estar preso pensamentos”. Atualmente um evento TED aborda as mais por correntes... Afinal muitas das vezes para poder apreciar amplas temáticas, quase todos os aspectos de ciência e cultura a complexidade de uma imagem era bom poder ver como podendo até ser apenas uma conversa moral, uma história, começou, como evoluiu até chegar ao resultado final...Ficção um retrato de vida...possivelmente é por ser isto tudo que os Digital na sua mais pura essência. “Voluntariado”: Fernanda eventos TED conseguem ter o sucesso global que possuem. Freitas – Talvez um tema que muitas pudessem achar que Passando ao evento TEDx Coimbra, este começou por estaria desenquadrado de uma TED talk, ficou provado que prestar 2 homenagens, 2 homenagens mais que merecidas, todos os temas têm espaço nestes eventos, simplesmente homenagens devidas. Falo de 2 TED talkers que faleceram fabulosa a interação com a plateia, suficiente para que todos recentemente, Steve Jobs, mais que um visionário, um se levantassem e aplaudissem (quem lá esteve percebe melhor exemplo de sucesso e de entrega e de Diogo Vasconcelos, um esta). Não me posso alongar muito mais, deixo uma sugestão dos melhores empreendedores que existia em Portugal e que não percam a próxima edição e deixem os vossos pensamentos tinha confirmado presença neste evento...Cada um diferente voar! mas ao mesmo tempo referencias, mais que oradores, eram inspiradores! Com estas homenagens iniciou-se o TEDx Coimbra, de seguida passamos a uma velocidade estonteante por todas as palestras, cada uma diferente da anterior e da seguinte, cada uma única. Não vou falar de todas, apenas de algumas, daquelas que a mim me surpreenderam ou pela temática ou pelo próprio orador: “Ossos”: Eugénia Cunha – E não é que afinal a série “Bones” não é ficção? Pois é, realmente tudo aquilo é verdade, é possível e mais que isso é passado, costuma-se dizer que os olhos são o espelho da alma, pois então agora digo então os ossos são o espelho de uma história de vida. “Estratégias para investigar o que não pode ser investigado” RESISTANCE Dezembro 2011 2
  • 4. Biomédica Curso do futuro Ana Cortez “Foi em tempo de adversidade que os portugueses souberam realizar os seus maiores feitos” Começo esta breve “reflexão” com uma bom estado. Para isso tem de haver suficientes preparados para esse efeito. análise prática dos acontecimentos que mecânicos. Para o investigador se Das dez categorias previstas, oito dizem acomodam a sociedade em que vivemos poder alimentar tem de haver pão, por respeito à saúde ou cuidados médicos, e influenciamos. De facto, todos os dias isso tem de existir o padeiro. Para o uma a serviços financeiros e a última fazemos parte de uma História, que investigador dividir trabalho, tem de ter ao campo da tecnologia. Contudo, um apesar de um passado e de um presente uma secretária. Para a rua estar limpa e outro alerta é salientado pela mesma cheio de acontecimentos marcantes e evitar a propagação de doenças tem de entidade, o facto de estas serem as áreas evolutivos, não esquece nunca o futuro haver o “homem do lixo”. De facto, para com maior oferta e com maior índice e os novos passos que ficarão de crescimento nos próximos marcados pelo significado anos, tal não significa que todos profissional, pessoal e científico os interessados tenham um daqui a alguns anos. O caminho emprego, já que estas exigem adoptado pela sociedade actual muito tempo e muitas áreas não é totalmente correcto, ou será de formação. Em 17 de Abril que hoje em dia e no futuro, todos deste ano, o The New York os cidadãos deverão ter uma Times publicou a lista dos dez formação académica superior? empregos mais promissores, A questão é controversa. Mas de intitulada de Top 10 List: facto, a evolução da humanidade Where the Jobs Are. Com base é baseada nas descobertas que no juízo crítico que apresentei todos os dias são potenciadas anteriormente, o Engenheiro nas mais diversas áreas e, dessa Biomédico surge em primeiro forma, os efeitos da inovação têm haver conhecimento e inovação, tem lugar, com um crescimento de 72%, ou uma forte influência nos costumes e de existir uma sinergia de funções na seja, 12 000 novos empregos em 2018. comportamentos das sociedades. Assim, sociedade, isto é, nas profissões. Apesar A descrição feita acerca das funções de será que amanhã ainda existirão pessoas desta realidade, deve-se ainda partir um Engenheiro Biomédico é cada vez para desempenharem as funções para “o outro lado da moeda”. À medida mais clara, passando por áreas muito mais básicas da nossa sociedade? A que a sociedade muda, existem outras abrangentes, desde os Biomateriais até resposta é óbvia, mas não tanto como necessidades e dessa forma é imperativa aos Componentes Electrónicos com há vinte anos atrás, em especial em a adaptação dos sujeitos e das profissões especial destaque na inovação e até nas Portugal. O exemplo é muito fácil, a essas mesmas modificações. Segundo adaptações de técnicas já existentes. O para um investigador poder fazer o o Bureau of Labor Statistics’ list of the principal objectivo de um profissional seu trabalho tem de se deslocar para o fastest-growing occupations prevê-se o nesta área visa criar técnicas mais local do laboratório, por exemplo, para surgimento de mais de um milhão de rápidas, eficientes e não invasivas isso é necessário que o seu veículo novos empregos até 2018, mas o mesmo para diagnóstico e tratamento médico, de transporte esteja disponível e em não significa que existam profissionais com vista à melhoria da qualidade de 3 Dezembro 2011 RESISTANCE
  • 5. vida da sociedade. Obviamente para mudar de rumo para nos sentirmos relatos de que os talentos portugueses isso, os profissionais desta área devem realizados profissionalmente. É neste “fogem” para o estrangeiro em busca passar por uma formação académica contexto que nasce o conceito de de melhores oportunidades. Na minha muito intensiva nas mais diversas Empreendedorismo! As funções de um opinião, é em busca de melhores áreas da Matemática, Física, Química, Engenheiro Biomédico exigem-lhe que salários, já que em Portugal existem Medicina e Engenharia, sem nunca seja empreendedor na aplicação prática locais de instituições de prestígio pôr de parte o espírito de inovação e e nas ideias de negócio. Isto é, não basta para a divulgação científica de novos empreendedorismo. Na minha opinião, ter a ideia brilhante e pôr um dispositivo trabalhos, mas os financiamentos ainda os gostos profissionais na sociedade em prática, é necessário levá-lo a não são os suficientes. No mês passado passam por ciclos, consoante a área conhecer ao mercado de trabalho e foi apresentada uma nova plataforma que oferece emprego e confere estatuto. fundar um negócio próprio inovador e que mostra toda a investigação que está Infelizmente, existem sujeitos que obviamente sustentável. Nos tempos a ser produzida em Portugal na área exercem uma dada profissão para a actuais, a conjuntura aconselha à das ciências da Saúde. O projecto dá a conhecer os projectos de Health Cluster ...o The New York Times publicou a lista dos Portugal, salientando a importância dez empregos mais promissores (…) o Engenheiro da retenção dos talentos nacionais nesta grande área para uma ajuda na Biomédico surge em primeiro lugar recuperação económica do nosso país. qual não tem aptidão porque sabiam prudência, mas não ao marasmo. Foi em A maior ligação dos jovens talentos que após a sua formação teriam um tempo de adversidade que os portugueses entre a investigação e as empresas emprego garantido e/ou porque a sua souberam realizar os seus maiores feitos. poderia evitar essa fuga e ajudar a criar influência na sociedade lhes confere O universo empresarial não é excepção. melhores condições de trabalho de modo importância e altos salários. No nosso Com riscos e investimentos mais a produzir mais riqueza para a ciência país essa é uma realidade, infelizmente. controlados é possível empreender em e para Portugal, já que actualmente Assim, olhando à condição sócio- Portugal, desafiando todas as barreiras 24% dos investigadores trabalham em económica de Portugal, e até mesmo do (in Expresso – Emprego 22 de Outubro empresas e 76% em Universidades. Mundo, existem profissões sobrelotadas de 2011). A ideia final que pretendo Para terem ideia, nos EUA acontece o e desgastadas, pelo que é necessário partilhar é que existem cada vez mais contrário. RESISTANCE Dezembro 2011 4
  • 6. Um olhar sobre os cursos de Engenharia no DFUC Miguel Morgado, Ph.D Não sei precisar a data, mas em Setembro fazia sentido e era contrária à missão do primeiro computador português. Apesar de passaram 27 anos desde o dia em que um DFUC. Ensinar um curso de Engenharia todos os constrangimentos, o curso de EF grupo de 20 alunos, no qual me orgulho de era visto como algo que desvirtuava a prosperou. Se olharmos para os primeiros estar incluído, iniciava as primeiras aulas pureza do ensino da Física. Recordo bem o 10 anos da sua existência, verificamos que da Licenciatura em Engenharia Física da cartoon, da autoria de um professor, com o curso conseguiu sempre atrair alunos, Universidade de Coimbra (UC). Com isso que a nova licenciatura e os seus alunos muitos deles de elevada qualidade. Quando começava também a coordenação de cursos foram mimados. Importa notar que o em 1989 os licenciados começaram a sair de Engenharia no Departamento de Física DFUC assumia a tarefa de coordenar o para o mercado de trabalho beneficiaram (DFUC). Estávamos no ano lectivo de curso de EF sem que nele existisse qualquer de um forte crescimento económico e, em 1984/1985. Hoje, setenta por cento dos cultura de engenharia. Não havia particular, da expansão da rede de ensino alunos inscritos nos cursos coordenados praticamente contactos entre o DFUC e o superior e de investigação científica. Entre pelo DFUC são alunos de cursos de tecido empresarial. Dos seus professores 1989 e 1994, o curso teve 37 licenciados. Engenharia. A criação do curso de em 1984, apenas 3 eram detentores de uma Destes, apenas 10 tiveram o seu primeiro Engenharia Física (EF) foi impulsionada licenciatura em Engenharia. O principal emprego fora do sistema científico. Na por um conjunto de professores do DFUC, argumento para tal coordenação era a forte minha opinião, e algo paradoxalmente, o dos quais é justo destacar o Prof. Carlos componente de investigação em Física sucesso na atracção de alunos de qualidade Nabais Conde. Contudo, conforme Tecnológica, particularmente em (54% dos licenciados entre 1989 e 1994 rapidamente me vim a aperceber, o novo instrumentação, testemunhada pelas vieram a doutorar-se) acabou por ser curso não foi bem visto por toda a diversas publicações relacionadas com prejudicial para o curso. Não existindo comunidade do DFUC. Uma parte detectores de radiação ou com electrónica relações entre o sector empresarial e o significativa dos docentes achava que a nuclear e pela participação em projectos DFUC, também não houve a preocupação existência de um curso de Engenharia não como o desenvolvimento do ENER1000, o de as criar. Afinal o curso ia suprindo as necessidades dos centros de investigação do DFUC e isso era considerado como indicador de que tudo estava bem. Quase que poderíamos dizer que ao DFUC bastava que o curso cumprisse esta função. E com este conforto nunca houve a preocupação em criar relações com o mundo empresarial. Claro que as consequências surgiram. Apesar de o número de recém-licenciados com primeiro emprego fora do sistema científico ter aumentado a partir do meio da década de 90, uma boa parte destes empregos correspondiam a funções de docência no Ensino Secundário e em Formação Profissional. Nem o facto de a designação “Engenharia Física” ter adquirido maior visibilidade junto dos empregadores obstou a que se criasse a ideia, na minha opinião injusta, de que o curso, além de ser difícil, não dava emprego. As candidaturas 5 Dezembro 2011 RESISTANCE
  • 7. incentivadas com o programa de Estágios empresários no DFUC, particularmente de Verão, que já envolveu 71 alunos. Qual aquelas que promovam uma cultura é o panorama actual? Desde há uns anos, o empreendedora. Mas não pode fazer tudo. DFUC encarou o problema do recrutamento Há limitações institucionais que dificultam de alunos para os seus cursos, adoptou uma a promoção dos cursos e dos seus atitude proactiva e realizou um trabalho diplomados. A solução passa, na minha notável de divulgação junto das Escolas opinião, pela criação de Associações de Secundárias que foi crucial para se atingir o Apoio aos cursos do DFUC, iniciativa que estado actual em que todas as vagas de EF deverá partir necessariamente dos antigos e e EB são preenchidas na 1ª fase. No entanto actuais alunos. Sei que está na forja uma muito está ainda por fazer. Os próximos associação de apoio ao curso de EB. Penso anos vão ser de grande exigência em termos que há lugar para outras associações, em de colocação dos nossos Engenheiros no particular para a EF. Elas podem captar mercado. Quer por condicionantes externas recursos financeiros e ter instrumentos de como a crise económica, quer pelo maior promoção que não estão ao alcance do número de finalistas que resulta DFUC. Um simples site web de divulgação inevitavelmente do sucesso no recrutamento dos perfis dos alunos finalistas, dos de alunos. E o DFUC não pode esquecer projectos que eles realizam, dos seus CVs, que a empregabilidade dos seus cursos é o das carreiras daqueles que já acabaram o melhor argumento para esse recrutamento. curso, foi algo que nunca foi possível fazer Ainda são poucos os empresários que se dentro dos limites impostos pelos recursos lembram do DFUC quando querem recrutar do DFUC e pela imagem institucional da diminuíram, as vagas de acesso deixaram um engenheiro. Os que se lembram são UC. E isto é apenas uma ideia relativamente de ser preenchidas. O DFUC demorou a basicamente sempre os mesmos. É raro ver óbvia. Terminada uma primeira fase de reagir. Muitas vezes ouvi dizer que não um empresário no DFUC a dar uma consolidação do curso de EB e de havia problema. As vagas não eram palestra. Menos ainda a leccionar um recuperação do curso de EF, é urgente preenchidas mas os alunos que vinham módulo numa cadeira ou a avaliar um trabalhar para um novo patamar. É eram muito bons… Em 2002 entrava em curso. Se exceptuarmos a Blueworks e a fundamental que seja criada, na comunidade funcionamento o segundo curso de jeKnowledge, nos últimos 15 anos pouco empresarial, a percepção de que o DFUC é engenharia coordenado pelo DFUC: a há a assinalar em termos de também uma escola de engenharia. Tal então Licenciatura, hoje Mestrado empreendedorismo. Apesar do sucesso do exige um esforço considerável para tornar Integrado, em Engenharia Biomédica (EB). curso, 50% dos diplomados de EB estão o DFUC um lugar que os empresários se A sua criação inseriu-se numa vaga colocados no sector de investigação habituem a frequentar. É tarefa do DFUC nacional de cursos de Engenharia científica, um número muito superior ao iniciar e promover esse esforço mas a sua Biomédica, quase todos criados no seio de desejável (cerca de 20%). O número de total realização implica a criação de departamentos de Física. E se é verdade empresas que colabora com o curso de EB organizações onde actuais e antigos alunos que estes departamentos já realizavam estagnou nos últimos anos. Diria que os se possam congregar no apoio e promoção investigação biomédica, nomeadamente cursos de Engenharia do DFUC estão a deles próprios e dos seus cursos. nas áreas da imagem e da instrumentação, precisar de um novo também o é que a criação destes cursos abanão. E há urgência em resultou essencialmente da conjugação de fazê-lo. O DFUC pode e dois factores: a falta de alunos nos cursos tem que fazer mais. Pode oferecidos por esses departamentos, com fazer um esforço adicional consequências no seu financiamento, e o para aumentar o número de elevado número de alunos de grande empresas que proporcionam qualidade que ficavam de fora dos cursos estágios e projectos e para de Medicina. Com o curso de EB, o DFUC alargar a base geográfica procurou não repetir erros passados. A dessas empresas. Pode criar convivência com o curso de EF e o evoluir estruturas de avaliação e dos tempos tinham alterado aconselhamento dos seus substancialmente a forma de encarar a cursos que integrem presença de cursos de Engenharia. Os elementos externos à UC. alunos foram incentivados a realizar o Pode abrir a leccionação de Projecto final fora da Universidade: dos matérias de cariz 184 projectos já concluídos, 41% foram tecnológico a especialistas totalmente realizados em empresas ou de empresas. Pode, em instituições externas à UC e outros 16% colaboração com o NEDF, resultaram de colaborações entre criar iniciativas que instituições externas e a UC. As ligações ao resultem na presença de mundo empresarial foram ainda RESISTANCE Dezembro 2011 6
  • 8. À grande e à francesa Carlos Moreira Pode-se dizer que esta expressão é levada à letra pela que a organização tentou atrair assim mais espectadores. indústria cinematográfica Francesa. Com um dos mais Resultou comigo. Ainda assim, não me vi a comprar mais prestigiados festivais de cinema do Mundo, a França tem bilhetes para além do passe, como no ano passado. Talvez a habituado ávidos cinéfilos a obras da sétima arte que tocam crise tenha chegado, não à minha carteira, mas à organização os píncaros da excelência. Pela 12ª vez, Portugal partilhou do festival. Isto porque, desta vez, nem a inauguração teve de obras cinematográficas Francesas “novinhas em folha”, tanta pompa nem os organizadores falaram bem português. do mais “audaz” e “eclético” que por lá se fez, “delirantes”, Ah! E não houve macarrons… Pena. A escolhida para abrir “corrosivas”, “magistrais” e mais qualquer coisa de causar a festa foi a fita Poupoupidou de Hustache-Mathieu, mas sem “pele de galinha”. Na verdade, aqui por Coimbra, o festival a presença da protagonista Sophie Quinton, que deu o ar de passou nos dias 2 aa 8 de Novembro, mais uma vez, pelo sua graça na abertura em Lisboa. Um filme premiado e com Teatro Académico de Gil Vicente e os óptimas criticas, conta uma historia anfitriões deste evento não se pouparam incomum ao estilo inimitável do nos elogios na sessão de inauguração. realizador. Mas nada comparável ao O sucesso deste festival por terras inesquecível L’Arnacoeur que abriu lusitanas parece ser crescente ao por estes lados o festival passado. Vi longo das sucessivas edições e não há que este acontecimento teve o apoio dúvidas de que veio para ficar. Como de tudo o que se possa imaginar, nos anos anteriores, a Festa do Cinema incluindo a Universidade, mas por Francês trouxe estreias que ainda não Coimbra isso não se notou assim saíram comercialmente, comédias e tanto. Até as legendas dos filmes dramas bem ao estilo europeu e até tiravam folgas por momentos, o que animações para os amantes de cinefilia irritava sobretudo naquela comédia mais novinhos. E, para meu agrado, onde a única pessoa a rir-se era o acrescentou novamente este ano estudante francês sentado na fila da vários clássicos recuperados e inovou frente. Nem a madrinha do festival, com a nova categoria de homenagem. a excepcional Carole Bouquet cá Também para festejar o 50º aniversário pôs os pés, ficando-se também pela da Semana da Crítica do Festival capital.Mas esquisitices à parte, há de Cannes, foi possível fazer uma que concordar que iniciativas destas pequena retrospectiva ao melhor são muito bem-vindas. Pela minha cinema feito até hoje. Mas nem tudo parte, até podiam fazer festas do foi perfeito como me fizeram acreditar, cinema de outras origens quaisquer, com alguns trabalhos de fazer contar os já que, no fim de contas, vi bons minutos no relógio e outros que intrigam e põem em causa a filmes, excelentes histórias e grandes actores. Os bilhetes são suposta criatividade do realizador. Sim, porque, por detrás de relativamente baratos e o TAGV tem excelentes condições. E películas de me levar às lágrimas tanto de rir às gargalhadas, agora, vestindo a pele daqueles críticos de cinema mas sem as como de chorar discretamente, há outras que me fizeram levar expressões carregadas de palavras difíceis que impressionam, as mãos à cabeça, tanto de pasmo por tantas cenas ocas e mas que ninguém percebe muito bem, acho que resumo esta sem nexo todas juntas como de revolta pelo investimento experiência como uma oportunidade única para admirar de 3,5€ numas horinhas de consecutivos bocejos e reflexões o espantoso trabalho que nesta velha Europa se faz. Uma sobre as leis do Universo.Com a possibilidade de adquirir viagem à cultura gaulesa sem ir muito longe, numa magnífica um passe para 5 filmes num valor mais em conta, suspeito ocasião que deve ser partilhada. 7 Dezembro 2011 RESISTANCE
  • 9. Caminhos do cinema português “Porque não gostam os portugueses do cinema português? — Ninguém gosta de se ver ao espelho!” Manoel de Oliveira Frederico Borges Manoel de Oliveira, um realizador (heroínas?) num Portugal que desejamos das histórias esquecidas em Portugal. português com 103 anos, responde com fingir que não existe. Vencedor de 4 Nas curtas-metragens vemos os novos uma frase genial à relação dos portugueses prémios, incluindo o grande prémio grandes realizadores a crescer para com a cultura. Nós não gostamos de nos do júri, realizador, argumento original assegurarem um futuro brilhante ao ver ao espelho. Preferimos, ver, ouvir e actriz principal. Mas o que fez do cinema português. Nuno Piloto (vencedor ou ler histórias fantásticas sobre seres Festival uma experiêancia a não perder do prémio da melhor curta) e André que têm as vidas que gostaríamos de Badalo são exemplos disso. No entanto é ter. Contam-nos as histórias dos nossos nas longas-metragens que o cinema chega sonhos e brincam com as nossas emoções à sua essência. Com “Viagem a Portugal”, de forma a terem a maior receita possível. vencedor da melhor longa-metragem Mas a arte não é isso. Como disse o Woody e com uma representação assombrosa Allen no seu último filme, o objectivo de Maria de Medeiros, e “América”, da arte é procurar um antídoto para a a grande revelação do festival, ambos insignificância da vida. “Caminhos do abordando o tema da imigração em Cinema Português” mostram as diversas Portugal. “O Barão”, um remake de um tentativas dos nossos realizadores para filme destruído pelo Estado Novo com chegar a esse mesmo antídoto. Por isso, uma montagem e fotografia memorável , e “Quinze Pontos na Alma”. Estes filmes ficaram com os prémios do “Caminhos”. Contam-nos as O grande perdedor foi “A Morte de Carlos Gardel”, numa adaptação de um histórias dos nossos livro do António Lobo Xavier. Deverá sonhos e brincam com as ter ficado em segundo lugar em muitas categorias, tais como, melhor realizador nossas emoções de forma e melhor longa-metragem. Também tenho a terem a maior receita de referir a não atribuição do prémio de melhor actor secundário a Nuno Melo possível. por “Sangue do Meu Sangue” como uma foi a diversidade e quantidade de bons enorme surpresa negativa. Nuno Melo no TAGV não houve efeitos especiais, filmes. Grandes documentários como encheu a tela com esta representação. nem filmes em 3D, explosões ruidosas “José e Pilar” (Melhor documentário e Este festival proporcionou cerca de 50 ou perseguições de carros. Só houve Prémio do Público), “Chamo-me António horas de Cinema Português oferecendo Amor. Amor pelo Cinema. E que melhor da Cunha Teles” (sobre a nova vaga uma experiência fantástica a todos os que filme para demonstrar esse amor, que o do cinema português), “Meio Metro participaram. Durante uma semana vimos grande vencedor do festival. “Sangue de Pedra” (história do rock português) o verdadeiro Portugal e as suas tristezas e do Meu Sangue” de João Canijo. Com ou “Éden” (Amor dos cabo-verdianos felicidades. Já é altura de nos começarmos grandes interpretações das três mulheres pelo Cinema), exploram a realidade a ver ao espelho, não?? RESISTANCE Dezembro 2011 8
  • 10. Entrevista Maria Constança Providência Santarém e Costa Profª Catedrática da FCTUC texto_Rui Nunes Quando despertou o seu interesse pelas desafiaram-me para integrar o cortejo altura, logo após a licenciatura houve um ciências exactas, ou mais concretamente, e fui com uma cartola, não como agora, concurso para vários lugares, de modo que para a física? que a cartola na altura era preta, mas fui. fiquei colocada. Agora não é tão fácil… Eu Eu sempre gostei muito de Matemática, Apesar disso nunca fiquei muito ligada às também não vejo tão mal o que agora se mas a Matemática só por si acho que é tradições e às vezes acho que há muitos passa no que diz respeito à possibilidade um pouco abstracta, e a Física completa-a excessos. Se calhar porque nunca vivi de, depois de terminarmos um mestrado, porque temos que usar a matemática as tradições como têm sido vividas aqui, podemos ter facilmente uma bolsa e para descrever o mundo que nos rodeia. mas eu, quando fui fazer doutoramento tirar um doutoramento, porque também Eu não tinha ideia nenhuma em mente em Inglaterra, fui considerada caloira, quebrava (a continuidade). Depois de para outra carreira, mas sempre gostei de ou “fresher”, e os caloiros lá também terminar o mestrado, tínhamos sempre Matemática e de Física, portanto foi um são muito bem tratados. Não como aqui: que dar aulas e só depois podíamos ter percurso natural. No final do secundário lá são convidados para todos os clubes, uma possibilidade de dispensa para tive muito bons resultados também a fazer um doutoramento. Quebrava a Biologia e disse à professora de Biologia continuidade do estudo e uma pessoa, nos que estava indecisa se havia de ir para anos em que é mais activa e pode produzir Física ou para Biologia e ela disse que mais, ficava parada e tinha que dar aulas. Biologia não, que devia apostar na Física Conseguia conciliar, mas não com aquela (risos). A partir daí não tive mais nenhum dedicação que devia acontecer. Eu acho ponto de interrogação sobre o que deveria que nos primeiros anos nós devíamos ter seleccionar. a possibilidade de ficarmos especialistas numa área de modo a tornarmo-nos Apesar de ter nascido em Birmingham, independentes para podermos fazer a tem nacionalidade Portuguesa e veio nossa própria investigação. Se não há a Licenciar-se pela Universidade de aquele empurrão naqueles anos, depois é Coimbra. Como era estudar em Coimbra mais difícil e as coisas vão estender-se no nesse tempo? Quão diferente era do que o para todas as associações e instituições tempo. que observa agora? que estão ligadas à vida académica ou à Eu nasci em Inglaterra mas só fiquei lá vida cultural… à vida da cidade. Portanto, Mais tarde, após o mestrado, doutorou- um ano. O meu pai estava lá a estudar, aquele primeiro trimestre é um trimestre se em Oxford. O que a levou a voltar a nasci lá e quando regressei tinha um ano, de ir tomar o “port wine”, de integração. Inglaterra? portanto os estudos foram todos feitos Ficamos a conhecer bem a oferta e eu Na altura em que terminei o mestrado cá em Portugal. Estudar em Coimbra acabei por fazer parte da equipa feminina tive uma bolsa Alemã, por 2 meses, para nesse tempo não era muito diferente de dos barcos de 8 (remo). Isto só foi ir discutir o meu tema de mestrado com agora. Bem, não havia barulho… (risos) possível porque os estudantes que chegam um professor e a experiência que eu tive Eu acabei a minha licenciatura, que na todos os anos são integrados e acho que na Alemanha foi má. A comunicação altura eram 5 anos, em 1981. A tradição a integração é importante. Coimbra tem era a seguinte: tudo o que dizia respeito académica foi reposta em 1980, ano essa vida académica: tem uma Associação à Física, discutia-se em Inglês, mas não em que houve já cortejo da Queima das Académica muito forte, uma vida cultural havia nada para além disso. Portanto, Fitas… no qual eu não participei. e desportiva com uma oferta muito variada durante dois meses eu vivi como uma e eu acho que é importante integrar os ermita. Discutia Física mas não havia Algum motivo pessoal? estudantes, mas às vezes há excessos. vida própria. Infelizmente, fui para Tenho a impressão que foi uma questão de uma Universidade não muito grande, não ter crescido com a tradição e portanto Começou a dar aulas logo após a que ficava num meio industrial, sem não me dizia nada de especial. No ano licenciatura… vida cultural e eu senti isolamento. Lá seguinte, em 1981, os meus colegas E na altura foi mais fácil do que agora. Na está, não houve integração. O grupo era 9 Dezembro 2011 RESISTANCE
  • 11. disciplina. Tínhamos que fazer três disciplinas por trimestre e os trimestres Como investigadora, faz parte do Centro tinham 8 semanas, sem feriados. Podia de Física Computacional. Que tipo de haver feriados na cidade, que eram sempre trabalho é desenvolvido? à segunda-feira, mas a Universidade O Centro de Física Computacional está não tinha feriados. Exigia trabalho dividido em cinco grupos: o grupo a que dos alunos, tinham as aulas teóricas, eu pertenço dedica-se a problemas do chamadas lectures, e aulas tutoriais, onde núcleo ou de muitos corpos. O meu tema se discutiam todos os problemas que de investigação é as estrelas compactas tinham sido resolvidos. Isso obrigava a e a equação de estado de matéria um trabalho permanente… mas também assimétrica. Uma estrela compacta é havia festa. Dava tempo para tudo. aquilo que é conhecido por uma estrela de neutrões com muitos neutrões e poucos Como eram os momentos de lazer? protões. Isso permite explorar a matéria As pessoas encontravam-se nos colégios nuclear numa região do espaço que não pequeno, e talvez esse tivesse sido outro uns dos outros. Vivíamos em colégios, e era conhecida e que agora, com os novos motivo que dificultou… Aí eu logo pensei encontrávamo-nos no bar de cada colégio. equipamentos nos laboratórios, vai sendo “Alemanha, não”. Como o Inglês era uma O bar não ficava aberto até às 5h da possível obter resultados experimentais. língua que eu conhecia, pois tinha nascido manhã… (risos) No máximo até à 1h ou Há também um conjunto de pessoas que em Inglaterra e tinha vontade de voltar ao 2h da manhã. Também havia saídas, ia-se estão mais ligadas a modelos de quarks país, fui trabalhar com um Professor de ouvir um concerto, ver uma peça de teatro, ou mesões. Há um segundo grupo que Física, David Brink [1], em Oxford. Ele idas até Londres ver um espectáculo também está ligado a esta vertente, a era muito boa pessoa do ponto de vista e havia um grande envolvimento no matéria hadrónica, um terceiro grupo que científico e também muito agradável do desporto: todos os colégios tinham campos tem como tema de investigação tanto a ponto de vista humano. Conjuguei essas de ténis, campos de squash… Mesmo que Astrofísica como a Geofísica e há ainda duas coisas: voltar a Inglaterra e trabalhar não fossemos peritos, pegávamos numa um quarto grupo que está relacionado com uma pessoa de quem eu gostava e raquete e jogávamos, e tudo isso eram com a história, o ensino da Física e a que já conhecia. momentos de encontro. divulgação da Física, que tem sido sempre uma vertente forte deste Centro. Há ainda Que diferença notou no método Britânico? Em que incidiu a sua tese de outro grupo muito activo, coordenado A investigação, neste momento, é feita Doutoramento? pelo Professor Fernando Nogueira, que em todos os lados segundo os mesmos Naquela altura era um problema que presentemente se tem dedicado ao estudo parâmetros. Mas claro, se estamos num estava a ser discutido em meados dos anos da resposta de nano-partículas incluindo meio que tem um grande número de ’80: a produção de piões, ou de fotões biomoléculas complexas a perturbações pessoas a fazer investigação em temas muito energéticos, em colisões de iões exteriores. de fronteira é muito mais fácil ficar a pesados com energias intermédias (por conhecer os novos campos, os novos volta de 50 MeV/partícula). Numa colisão Para o futuro, tanto próximo/distante: temas, e de estabelecer ligações para de carbono em carbono, ia haver um Alguma descoberta importante eminente? futuras colaborações, o que torna tudo núcleo com 12 x 50 = 600 MeV de energia Tem algum(s) projecto (s) em vista? muito mais rico. Além disso, uma saída cinética que ia incidir no alvo. O que se Numa estrela compacta, uma estrela de do país é sempre importante porque verificava é que era possível produzir neutrões por exemplo, um objecto de nos mostra que o país é pequeno, que piões com uma massa de 140 MeV. Ora 12km (de diâmetro), toda a informação há muito para lá das nossas fronteiras. uma só partícula, resultante da colisão de que nos chega, atravessa a crosta que tem É algo sempre vantajoso, mesmo que uma partícula com outra, não era possível 1 km. Enquanto o interior é composto, a experiência não seja 100% positiva, produzir esse pião. A única maneira era mais ou menos, por matéria homogénea, a porque nos dá outra perspectiva. Ali, no juntar a energia de parte dos nucleões crosta não é homogénea. Neste momento Departamento de Física Teórica, que para conseguir produzir essa partícula, o tenho-me dedicado mais às propriedades estava também próximo do Departamento que significava que tinha que haver um da crosta, e perceber coisas como como de Física Nuclear e do “Rutherford movimento colectivo que possibilitasse é que se propagam as excitações e as Laboratory”, as pessoas encontravam- a sua produção. Chamava-se a isso “a ondas, e quais as propriedades dos se e falava-se dos vários temas, o que é produção de piões abaixo do limiar”, muito enriquecedor. Relativamente às ou seja, abaixo do limiar nucleão- aulas, tive que frequentar cursos durante nucleão. Tratava-se de um problema dois trimestres, obrigatoriamente, mais núcleo-núcleo e o meu trabalho um trimestre optativo, e tínhamos que desenvolveu-se de modo a tentar resolver problemas. Todas as semanas perceber se um certo mecanismo tínhamos uma folha de problemas para podia explicar essa produção de resolver, alternadamente, ou seja, na piões, ou de fotões muito energéticos, mesma semana não tínhamos de outra que é o mesmo tipo de problema. RESISTANCE Dezembro 2011 10
  • 12. materiais da crosta (viscosidade, etc.). e dá aso à imaginação. Tudo isto é importante para perceber o sinal que recebemos dessas estrelas Será que a Professora está a lançar um e é a perceber este sinal que podemos desafio aos estudantes do Departamento? ficar a saber mais sobre a matéria dos Eu acho que isso era uma boa ideia! Em núcleos. Este objecto é como um só primeiro lugar, estão mais próximos: núcleo enorme, com 10km diâmetro e as crianças gostam muito e reagem com uma matéria muito densa, enquanto muito bem a ter visitas na sala de aula, que o campo magnético da terra é 0,5 G, principalmente para abordar este tipo de lá pode ser 1015 G à superfície. Neste temas. O meu método era partir de uma momento estou envolvida na descoberta pergunta, por exemplo “quantas cores das propriedades internas destes objectos tem a tua caneta preta?”, algo em que com quem possamos dialogar de modo a e é um tema que me atrai. eles nunca tinham pensado. Fazíamos encontrar as funções que sejam as mais primeiro uma discussão, via-se o que é adequadas. O trabalho de presidir, ou Também já esteve ligada a projectos de que eles sabiam ou não sobre o tema, dirigir, uma instituição é simplesmente divulgação e ensino da Física… o que é que eles já tinham pensado e um trabalho de pôr as pessoas a falar e Estive ligada a vários projectos da por vezes perguntava-lhes como é que a chegar a soluções para os problemas Ciência Viva porque, à medida que podiam testar alguma ideia que já tivesse que se levantam na instituição. Na altura, as minhas filhas foram crescendo, surgido. Se não tivesse ideias, propunha- naqueles dois anos, já se tinha feito toda eu fui acompanhando as escolas e as e eles realizavam a experiência, a transformação de “Bolonha”, já tinham desenvolvendo algumas actividades interpretávamo-la e discutíamos. sido aprovados os primeiro e segundo nas escolas delas, que acabei por juntar É um percurso que acho que todos ciclos, de Física e de Engenharia Física, em livros. Penso que a maneira como podiam desenvolver, nomeadamente e o curso de Engenharia Biomédica já as ciências são abordadas no 1º, 2º e 3º aperceberem-se que há questões para havia sido formulado como mestrado Ciclos em Portugal não é como podia ser: as quais não temos respostas, mas integrado. Foram os anos em que foi o programa permite que se faça mais mas podemos tentar encontrar uma resposta preciso pôr a funcionar esses novos os professores não têm essa preparação. e tentar perceber o que se está a passar. currículos e criar os terceiros ciclos. Acho que o essencial é o diálogo e ter- Mas vocês, estudantes, já sabem: se precisarem se bons colaboradores. Tem que se ver de alguma coisa é só virem ter comigo e falarmos, quais são as actividades que é importante desenvolver, e responsabilizar pessoas estou à vossa disposição para diálogo. para essas actividades. Isso é bom para a instituição, porque temos o ponto de Os professores têm medo de fazer Descobrir que podemos pensar sobre um vista de outras pessoas, que é sempre experiências. Isso era um campo em que problema e chegar a algo que leve a uma enriquecedor, e é bom para a pessoa, vocês, como estudantes, podiam ganhar solução, que não é magia, e que as coisas porque se ganha experiência em algo que experiência: obriga a pessoa a ganhar que estão nos livros é porque alguém as talvez ainda não se tenha feito, e isso é vocabulário, a conseguir exprimir ideias testou e alguém as experimentou. sempre importante. complexas de uma maneira simples, ajuda a saber relacionar-se com os outros Foi presidente do Conselho Científico Quais são as suas espectativas para a do Departamento de Física desde 2007 Direcção do Departamento de Física? a 2009. Como consegue conciliar tantas Para já não tenho espectativas nenhumas actividades? Quais são as principais porque foi inesperado… (risos) Para já, funções desempenhadas neste Conselho? ainda não estou bem inteirada e ainda Essa experiência terminou mas já vai nem estudei bem os problemas que o recomeçar brevemente pois acabei de Departamento possivelmente tenha como ser eleita Directora do Departamento Instituição. Sempre estive envolvida de Física. Eu acho que temos que ser mais na parte científica, mas logo que organizados e é necessário colaborar. Ser tome posse como Directora ficarei a Directora do Departamento ainda não sei saber quais são os problemas que terei bem o que é mas rapidamente saberei que resolver. Mas vocês, estudantes, já (risos). Como presidente do Conselho sabem: se precisarem de alguma coisa é Científico tinha que resolver problemas só virem ter comigo e falarmos, estou à do âmbito científico do Departamento vossa disposição para diálogo. e os problemas são problemas de um Departamento, de um conjunto de 1 Prof. David Brink, Ph.D. é um dos pessoas que vivem num Departamento. fundadores da Física Teórica Nuclear, É preciso perceber o que é que se passa membro da Royal Society e galardoado e é preciso ter colaboradores com quem com a Rutheford Medal do Institute of trabalhemos bem, em quem confiemos e Physics, Reino Unido. 11 Dezembro 2011 RESISTANCE
  • 13. Se divertindo em Genebra Edson Ferreira 15,0 franco suíço se procurar algo um andando. A descida foi bem divertida, a pouco mais elaborada o preço sobe chão estava um pouco molhado, resultado exponencialmente. Se paga bem mais a muitas pessoas escorregaram, nada qualidade dos produtos é excelente, por séria, mas suficiente para ser motivo de isso os relógios e os canivetes suíços muita graça. Descobri que levo jeito para são conhecidos mundialmente pela sua descer montanha, e que isto pode ser uma excelência. Não fica só nisto, até os atividade muito interessante. Perdemo- biscoitos considerados mais baratos são nos durante a descida, mas conhecemos deliciosos! Em relação à diversificação um pequeno povoado muito bonito e em cultural encontram-se pessoas vindas de que os moradores eram bem simpáticos. várias partes do planeta. Nota-se uma Depois de algumas voltas encontramos grande concentração de árabe, chinês, novamente o caminho, toda esta aventura português etc. A Suíça possui vários levou cerca de três horas e meia. A idiomas entres eles: alemão, francês e descida em si valeu muito a pena. Outro A viagem foi fantástica, pois a cidade italiano. O idioma oficial de Genebra lugar interessante que visitamos foi o de Genebra é linda, muito organizada e é o francês, mas quase toda gente fala Museu de História Natural, que é um as pessoas são simpáticas. Basicamente também o inglês, e desta forma não prédio com cerca de cinco andares. Em toda a cidade de Genebra é plana, este tivemos problemas com o idioma. Fomos que cada andar ficava com uma classe é uns dos motivos pelos quais grande visitar o CERN, o maior acelerador de animal como: mamíferos, repteis etc. parte da população andam de bicicleta. de partículas do planeta, não deu para Além disso, possuía uma sessão destinada É interessante e até engraçado você ver muita coisa, pois os aceleradores aos minérios possuindo rochas e cristais esta caminhado pela cidade e vê muitas estavam em funcionamento. Mas deu de varias partes do planeta.Visitamos pessoas várias delas com terno indo para conhecer o seu funcionamento, também o Jardim botânico que tinha trabalhar de bicicleta, e as crianças visitar a estação onde são processadas cerca de 30 hectares, o interessante além andam de patinete. Uma coisa que me as informações de um dos aceleradores de ser a paisagem que possuía espécies chamou muito a atenção é a organização que é o Atlas, conhecemos também um de vários países, eram as estufas por dos suíços, é espetacular! Eles possuem enorme armazém onde são construídos e eles construídas. Estas estufas buscava um sistema de transporte bem eficiente, testados os equipados que serão utilizados representar as varias características composta de autocarro (ônibus), trem nos aceleradores, deu para ver vários como pressão, umidade, temperatura e pequenas embarcações. Que para os equipamentos de perto, foi fantástico! etc. De diversos ambientes diferentes. visitantes é gratuito, isto mesmo desde Por fim visitamos o microcosmo que é Conhecemos também o Museu Ariana, o aeroporto e durante toda a sua estadia uma exposição permanente de divulgação que é um museu de artes cerâmica, em Genebra os transportes públicos são científica que por sinal foi muito que possuía uma grande coleção de gratuito. Quando você está caminhando interessante. Por Genebra ser toda plana porcelanas das diferentes regiões e pelas ruas e fecha o sinal de transito, a estratégia utilizada para conhecê-la épocas históricas. Como era fantásticos mesmo que não esteja vindo nenhum melhor foi à caminhada visitamos quase os detalhes empregados na construção carro ninguém atravessa a faixa. Genebra todos os principais pontos andando. das peças, algo realmente digno de é um dos centros mais importantes da Visitamos a ONU (Organização das admiração. Como não podia deixar de diplomacia internacional, sendo sede Nações Unidas), foi uma visita guiada ser visitamos três igrejas: uma cristã, de vários órgãos de cooperação, como com uma senhora muito simpática, uma protestante e uma russa. Cada a ONU, a Cruz Vermelha, OMC, OIT, conhecemos a estrutura da organização, uma com suas diferentes arquiteturas e CERN etc. Sendo por isso conhecida um pouco da sua história e deu para entrar peculiaridade. como a Capital da Paz. Genebra também e sentar nas cadeiras dos representantes se destaca como um dos principais dos vários países, foi bem divertido! centros financeiros do mundo. Em várias Demos um pulinho em França para subir partes da cidade você encontra enormes uma de suas montanhas de teleférico, bancos internacionais. Este é uns dos chegamos ao ponto mais alto que era 1 motivos pelos quais os preços dos 100 m de altitude em cinco minutos. A produtos em Genebra são considerados vista lá de cima era descomunal, dava bem elevados em relação a grande parte para ver toda Genebra e uma parte da da Europa. Geralmente uma refeição França. Para tornar o passeio um pouco simples fica no mínimo entre 12,5 e mais interessante decidimos descer RESISTANCE Dezembro 2011 12
  • 14. Estado estacionário Ilha Terceira João Borba É algures entre os EUA e Portugal Continental, no meio do qualquer ilha Oceano Atlântico, que se situa a minha terra natal. Sendo uma dos Açores) é, das mais carismáticas ilhas do arquipélago dos Açores, a Ilha obviamente, no Verão. Terceira apresenta no mapa uma forma praticamente elíptica, e Primeiro, porque é tem um perímetro de 90 kms e uma área de cerca de 402,2 km2. Verão, e apesar do Estes números já me valeram as mais diversas piadas durante clima ameno e húmido os meus seis anos em Coimbra, que vão desde “Lá onde vives predominar durante sais de casa, dás um passo errado e cais ao mar!” ou “Quando os doze meses de as crianças vão para o infantário levam sempre braçadeiras para cada ano, a humidade o caso de acontecer algo de errado!” ou até “Lá nos Açores, os é menor durante o carros têm duas mudanças…a primeira e a segunda! A mudança Verão, o que permite para fazer recuo não é precisa, dá-se a volta à Ilha!”, entre a existência de ondas outras anedotas que até já me valeram algumas risadas. Por de calor. E segundo, vezes, porque tiveram mesmo piada, outras vezes porque são porque a ilha Terceira, o auge da ignorância. E aviso desde já: nós, os Terceirenses, durante o Verão (e somos pessoas bastante protectoras do seu território e qualquer fazendo uma analogia piada semelhante poderá não ser respondida da forma mais com Coimbra), agradável. No entanto, e não querendo afugentar qualquer resume-se a festa atrás de festa. Nós até costumamos dizer turista, nós somos, por norma, pessoas extremamente em jeito de piada que os Açores têm oito ilhas e um parque de acolhedoras, humildes, e divertidas. Comunicamos entre nós diversões! Desde Junho a inícios de Outubro que a festa não num dialecto extremamente peculiar (e que não tem nada pára, tendo como exemplos maioritários as míticas Sanjoaninas a ver com o dialecto de São Miguel, como muitos julgam), e as sempre esperadas Festas da Praia. De salientar também onde falamos extremamente rápido, não acabamos as sílabas e a cultura taurina da ilha Terceira. Se um dia estiver nalguma adicionamos “Is” antes de certas palavras. Para nós “Escada”, rua e esta ficar vedada ao trânsito, não estranhem. É apenas dito é “Esquiada”, ou “Vamos Embora” é “Vamos Embiora”, uma das maiores atracções da nossa Ilha, as touradas à corda! uma ‘Sagres Mini’ é uma ‘Fresca’, ou quando estamos Nestas, um touro é amarrado com uma corda pelo pescoço que impressionados com algo, usamos uma variância do termo “É, é segurada por 6 homens (os denominados ‘pastores’). O touro Homem!”, que é “É, uóme!” para exprimir o nosso espanto. é então, largado na rua que tinha ficado vedada, e alguns mais Existem diversos locais onde este dialecto é mais forte, corajosos saem à rua para correr com ele. As outras pessoas principalmente nas freguesias onde habitam menos pessoas. juntam-se nas casas e convidam os amigos e conhecidos para A melhor altura para vir visitar a ilha Terceira (bem como entrarem para comer e beber enquanto vislumbram a tourada da varanda ou da entrada da casa. Não se preocupem se perderem uma tourada! É raro o dia de Verão em que não haja pelo menos uma toirada à corda em algum local, é só estar informado sobre qual será o próximo sítio! Não menos importante será referir que Angra do Heroísmo (uma das duas cidades da Ilha Terceira, sendo a outra a Praia da Vitória) é considerada Património Mundial pela UNESCO, e que temos, num território pequeno, uma beleza natural praticamente inigualável no Mundo [1]. O único senão para se deslocarem aos Açores poderá ser os preços das passagens. Devido à monopolização da parceria SATA/TAP, 90% das passagens ida e volta rondam os 300 euros por pessoa de Lisboa para qualquer ilha, um valor que não é certamente suportável por grande parte dos Portugueses, e ainda mais em época de crise. No entanto, será um crime ir deste Mundo sem nunca ter visitado os Açores, e principalmente, sem nunca ter passado umas belas semanas no seu parque de diversões, a Ilha Terceira! [1] Relativamente a esta afirmação, falo em nome dos Açores. 13 Dezembro 2011 RESISTANCE
  • 15. Estado exitado Ser Estudante em Uppsala: viajar é aprender Pierre Barroca “SÓ viajas, SÓ viajas”, dizem uns; “SÓ vida boa, não fazes nenhum”, dizem outros. Em parte é verdade mas não é SÓ Nações que são mini-associações estudantes e até uma sala dedicada aos isso. Tenho tido o privilégio de de estudantes que representam os estudantes de muçulmanos poderem viajar por alguns países com estatuto estudantes cujos associados podem dar rezar na paz de Alá. Não se cobra diferente de mero turista e é difícil entrada nos bares a custo zero. Não qualquer tipo de propina para além passar esta ideia para o outro lado. sendo associado paga-se um pequeno de se garantir quase imediatamente Mais que visitar a cidade, esforço- valor de entrada onde a cerveja é uma bolsa de no mínimo 200euros me em aprendê-la e, nessa medida, baratíssima! Baratíssima em Uppsala para ajudar os estudantes a suportar considero-me mais um Estudante é sinónimo de 3,50eur no mínimo por custos de alojamento em residências Viajante que um mero Turista. Em garrafinha de 33cl de birra!! Depois universitárias.No que resulta tudo isto? Abril deste ano tive a sorte de ser de dar entrada é dá-se lugar à festa até Conforto, sem dúvida mas não só. aceite como ajudante na organização máximo dos máximos 2h da manhã. Entre estudantes sentia-me um primata de um curso para estudantes europeus Agora fora a vida noturna, que Uppsala durante discussões sem qualquer tipo na cidade universitária de Uppsala, não se resume só a combeber, tenho de atropelo lógico, na pontualidade Suécia. Em Uppsala podem encontrar a referir que o modo de vida Sueco e na forma de interpretar algumas umas das universidades mais antigas é totalmente diferente do que estava questões. Dou como exemplo uma da Europa, fundada em 1477 e à noite, habituado. O meio de transporte das maiores lições que vem de uma ruas recheadas de estudantes em festa! número um de todo e qualquer história de um grande amigo meu que À semelhança de Coimbra, são os estudante é a bicicleta. Mesmo vivendo estudou em Uppsala que irei tentar estudantes que fazem da cidade de a 30 min da sua Faculdade. Perdi transcrever. “Estava eu a meio de um Uppsala uma cidade cheia de vida, todos os dias, no mínimo, 1h30min de exame quando vários suecos saem no entanto Caros conterrâneos, não bicicleta a percorrer as ruas achatadas subitamente da sala com o professor esperem sentir-se em casa por terras da cidade. Fiquei impressionado com presente. Passado algum tempo voltam escadinavas! Esqueçam saídas à noite a capacidade física de meninas de e retomam o exame. Depois do exame a partir da 1h, esqueçam escandaleira cabelo amarelo e dos velhotes.Indo acabado perguntei o que tinham ido nas ruas, esqueçam cerveja a 50cent, a uma cidade maravilhosa como esta fazer fora da sala, no que eles me esqueçam aquele xixi orgásmico podemos darmo-nos conta daquilo dizem com toda a calma do mundo que nos recantos das ruelas ou no meio que é realmente o resultado de um tinham ido a casa de banho. Chocado, de arbustos, esqueçam fazer lixo, sistema de Educação que funciona. perguntei como podia o professor ESQUEÇAM! 20h de quarta-feira O sistema sueco ultrapassa qualquer aceitar tal coisa visto assim ser fácil (melhor noite em Uppsala a par de coisa que alguma vez pude imaginar. copiar, no que eles me respondem: sexta) e já se viam fileiras a seguir Desde infraestruturas super cuidadas “Copiar, como assim? Se copiares não ordeiramente rua fora toneladas de e com tecnologia recente, serviços aprendes!”. “ Posto isto o meu amigo meninas bonitas bem vestidas (reitero, competentes, todo o tipo de serviços calou-se, acenou educadamente e TONELADAS) e meia dúzia de seres oferecidos aos alunos dentro do refugiou-se na vergonha em que a sua humanos do sexo masculino. Perante próprio edifício da faculdade como pergunta, aparentemente ridícula, o isto, pensava eu: “Toda a gente a jantar chuveiros acessíveis a qualquer hora deixou. Esta é parte da realidade que se fora? Rica vida!”. Mas NÃO! Eles já do dia, salas comuns com equipamento vive numa cidade de estudantes sueca se estavam a preparar para mais uma de cozinha recente para fazermos que só um Estudante terá oportunidade noite boémia. Em Uppsala os bares as nossas próprias refeições, salas de viver e que eu recomendo a todos alvo estão divididos pelas chamadas de estudo para pequenos grupos de experimentarem. RESISTANCE Dezembro 2011 14
  • 16. 16 frames por segundo “Jamaica Inn” (1939) Um dos filmes mais esquecidos e injustiçados de Hitchcock - um caso sério de afecto. Por volta de 1800, na Cornualha, um bando de contrabandistas liderados discretamente por Sir Humphrey Pengallan, o juiz local, provoca naufrágios na costa marítima, saqueando os navios. O seu “quartel- general” é a “Pousada da Jamaica”, gerida pelo casal Merlyn, que acolhe Mary Yellan, uma sobrinha órfã que vai alterar o estado das coisas. Última fita britânica de Hitchcock antes do rumo à América, A Pousada da Jamaica é uma surpreendente obra que não merece o desprezo a que foi votada. Tem um preto-e-branco apaixonante, com a fotografia contendo uma saudável “sujidadezita” que emana na perfeição aquela pureza dos filmes antigos consideravelmente estilizados. E que estilo tem Hitchcock! Aproveita com uma perícia insuperável o céu, os navios, os cenários naturais exteriores, os close-ups e até a indumentária dos actores para projectar planos de um deslumbramento visual arrebatador. É sim um filme de cenas marcantes, mas acima de tudo, é um filme de sentimento estético marcante. Charles Laughton dá um autêntico show interpretativo como Pengallan, com um egocentrismo destacável mas com uma classe assombrosa. É um imponente e requintado vilão que só deixa boas recordações. Já Maureen O’Hara, faz aqui a sua estreia ao encarnar a protagonista feminina, e fá-lo em grande, demonstrando um carácter forte e um empenho não menos sentido, intervindo exemplarmente num bom leque de cenas de puro fascínio superiormente filmadas. Quanto à cena final do filme, que obviamente não revelarei, e que poderá parecer algo estranha, não prima por uma surpresa estonteante, mas sim por uma afinada inteligência que proporciona um adequamento superior à obra. Não há dúvidas: a fase britânica de Sir Alfred merece mais. Artur Almeida “Peaceful Warrior” (2006) Filme de 2006, realizado por Victor Salva e baseado no livro “pseudo-auto-biográfico” motivacional, The Way of The Peaceful Warrior. A história contada é a de Dan Millman (Scott Mechlowicz), um estudante universitário e ginasta que sonha representar o seu país nas olimpíadas. E apesar de aparentemente ter tudo o que deseja, o arrogante Dan parece não conseguir preencher um vazio no campo da felicidade. Até que conhece Socrates (o veterano Nick Nolte), e se aventura por estradas que ainda não tinha percorrido. As performances dos dois actores principais estão dentro do aceitável tendo em conta o guião, que em muitos momentos se revela demasiado surreal. Aceitando que este se baseia numa história verídica, e que o ponto forte do filme é a sua mensagem, de crença na força do espírito humano, seria de esperar um argumento que reflectisse melhor a realidade. Que não desse azo a que o espectador sinta que tudo não passa de mais uma historia banal e figurada de esperança. Ainda assim, não deixa de ser uma historia inspiradora, que relembra ao espectador que mesmo nas alturas mais difíceis, o Homem dá a volta ao mais improvável rumo dos acontecimentos. No final fica a sensação que o filme perde credibilidade na transmissão do seu significado, e com isso, valor. Mas se o espectador conseguir abstrair-se de alguns momentos menos credíveis, encontrando o verdadeiro significado do filme, então não são (de todo!) duas horas perdidas. Gonçalo Louzada 15 Dezembro 2011 RESISTANCE
  • 17. 16 frames por segundo “Submarine” (2010) Oliver Tate (Craig Roberts) é um jovem de 15 anos que vive problemas com as duas mulheres da sua vida. De um lado, a sua depressiva mãe (Sally Hawkins) que vive um aborrecido e monótono casamento com o seu ainda mais depressivo pai (Noah Taylor). As coisas ainda ficam piores com a presença de um ex-namorado (Paddy Considine) de longa data da sua mãe na vizinhança. De outro lado Jordana (Yasmin Paige), a sua recente namorada, e cuja relação entre ambos aparenta ser o oposto do tradicional romance. O realizador Richard Ayoade retrata um Oliver que vive as ansiedades da juventude (romance, sexualidade, pais, escola, colegas…) com um sentido de humor cru e por vezes cruel, enriquecendo a história alegoricamente, fugindo à monotonia e linearidade. Num filme povoado de pessoas aparentemente tristes, Ayoade evita o foco nessa tristeza, levando a viagem para o modo como Oliver e companhia encaram a sua realidade. Os porquês são subjectivos, o tempo não pára e Oliver segue caminho, perseguido pelas questões tão comuns da idade: Crescer? Viver? Fugir? Mas desengane-se quem pensa que este é um filme comum. A banda sonora, composta pelo génio britânico de Alex Turner, parece sempre encaixar perfeitamente nos momentos chave do filme. Nesses instantes, a música fala pelas personagens. A peça que faltava a este puzzle. Uma comédia delicada, por vezes negra, agridoce, que vive da sua continuidade enquanto história. A bela sensação de estar na mente do alguém com 15 anos é real. Oliver pode não ser feliz para sempre. Mas por agora, o sempre não é assim tão importante. Gonçalo Louzada “Atonement” (2007) Expiação. Castigo. Pena. Penitência. Termos que a nossa mente não reconhece, na medida em que, na sua perspectiva, tudo se trata da realidade; e o que é real é autêntico, não havendo forma de ser revertido. Deste modo, é sempre uma tarefa árdua incutir-lhe não a realidade, pois ela própria constrói uma sua, mas sim instigar-lhe a interpretação correcta do mundo exterior. Para isso, é necessário um treino quase transcendental do nosso entendimento. E que o diga a pequena Briony, que, vitimada por uma versão errónea dos factos que a sua mente lhe terá apresentado, despedaçara o afortunado futuro da sua irmã, Cecilia, ao lado do seu eterno amado, Robbie, um simples filho de um caseiro. Tudo terá sucedido no dia mais quente do Verão de 1935 que, apesar dos banhos refrescantes nas mais paradisíacas lagoas; das roupas frescas e leves a “voluptuarem-se” sobre os corpos tórridos; dos passeios no éden de jardins verdejantes; um balde de gelo precipitava-se sobre Inglaterra, vaticinando a terrífica 2ª Guerra Mundial. Com 13 anos, uma vida luxuosa e oponente, e influenciada pelas piores atitudes das pessoas menos indicadas, que se erguiam à sua volta, a pobre Briony terá iniciado a sua própria guerra… um confronto invencível com a sua própria mente, com a conquista da paz interior. Uma sequência de mal-entendidos, cenários irreais postos em causa, mentiras, e o velho problema do “timing” errado, aniquila assim qualquer possibilidade de Robbie e Cecilia resistirem às atrocidades hitlerianas. Um filme fantástico, arrepiante, emocionante e, acima de tudo, purificante; sim, porque nos dá leveza à alma, porque nos obriga a rever-nos na personagem da pequena Briony e relembrar todas as situações em que poderemos ter colocado a felicidade de alguém em causa, vitimizados pela nossa mente frágil e adúltera e; paralelamente, a encontrarmos a paz interior. Sim, porque a realidade verdadeira, aquela que não é falsificada pelo nosso intelecto, passa por nós a sorrir; nós é que não lhe retribuímos o gesto, preferindo abraçar o espírito esvoaçante de um propósito egoísta sem retribuição definida. Resta ver, para gratificar a realidade “concreta” pelo gesto tão simpático. Joana Paiva RESISTANCE Dezembro 2011 16
  • 18. 78 rotações por minuto Foals Florence + The Machine Antidotes Ceremonials Desengane-se quem pensa que Oxford é só Universidade. Depois de construírem uma sólida comunidade de fãs, com singles como Hummer ou Mathletics, e com loucas festas que Devido a um primeiro álbum de enorme qualidade (Lungs, protagonizaram pelo meio, os Foals lançam Antidotes em 2008. 2009), a uma atitude carismática fora e dentro do palco, e a Produzido originalmente por Dave Sitek (guitarrista de TV espectáculos ao vivo emocionantes e intimistas, Florence Welch on The Radio), os próprios Foals refizeram esse trabalho em e a sua ‘máquina’ ganhou rapidamente uma fanbase fiel e elitista, Londres depois de não ficarem totalmente satisfeitos. Antidotes sem deixar de conseguir chegar ser mainstream num ou noutro é um álbum revigorante em que é impossível ser absorvido momento (principalmente com a tão conhecida “You Got The pelas agudas guitarras de Yannis (também vocalista) e Jimmy, Love”). Ceremonials é o sophomore effort de Florence, e foi que tão bem se completam e conjugam durante 44 minutos. lançado no dia 31 de Outubro. Acaba por ser difícil descrever The French Open dá as boas vindas da melhor maneira, Ceremonials. Florence deu asas à imaginação, e sempre frágil conseguindo transmitir várias das sensações que o álbum vai mas confiante, exprime-se ainda mais do que se julgava possível. explorar. Depois da solene abertura, Cassius estala o verniz, Florence explora novos caminhos, algures entre o soul e o gospel, está na hora de dançar. Red Socks Pugie é reconhecida pela sua o que resulta num álbum com um clima bastante sombrio. Esses inconfundível e enérgica bateria mas no final dá espaço para ambientes mais negros estão exemplarmente expressos na faixa Olympic Airways estabelecer o ambiente perfeito à entrada de inicial “Only If For The Night”, na misteriosa “Seven Devils” e Electric Bloom. Sublime e bela na sua simplicidade, dura quase na honesta “Never Let Me Go”. E para não destoar, “What The 5 minutos, ainda assim demasiado efémeros. Balloons volta Water Gave Me” e “Breaking Down” juntam ambientes pseudo a subir o ritmo e as tímidas Heavy Water e Two Steps Twice – progressivos aos coros de igreja. Pelo meio, Florence continua guardam o melhor para o seu fim. Inatamente alegre é Big Big com uma facilidade notável em fabricar hinos atrás de hinos Love (Fig. 2), leve e serena. No final, um mergulho em Like (“Shake It Out”, “No Light, No Light”) e em saber construir Swimming e Tron, que tal como o filme homónimo nos leva músicas poderosas, capazes de mandar uma casa abaixo como ao virtual e nos deixa por lá. Uma fusão da energia do “Dance- “Heartlines” ou “Spectrum” (provavelmente a melhor faixa Rock”, a complexidade do “Math-Rock” e aquele toque único do álbum). “Leave My Body” é também uma forma perfeita de “Brit-Indie-Rock”, tornam este álbum um misto de emoções de acabar um álbum emotivo: com um estrondo (e com uma e energia, um antídoto para a monotonia musical que se vive fantástica performance vocal de Florence Welch). Ceremonials cada vez mais no mundo artístico. é uma investida extremamente bem-sucedida por caminhos bastante perigosos. Durante as dozes músicas, dá sempre a sensação que Florence canta os seus temas com o anjo e o diabo Gonçalo Louzada em cada mão. O resultado é misto gritante de emoções à flor da pele. Ceremonials é violento, poderoso, intenso, humano. Um dos álbuns do ano! João Borba 17 Dezembro 2011 RESISTANCE
  • 19. 78 rotações por minuto Noel Gallagher High Flying Birds Noel Gallagher’s High Flying Birds João Borba Oasis. É difícil não reconhecer pelo menos uma/duas músicas de uma das bandas mais icónicas da infância/adolescência da tão injustamente afamada geração “à rasca”. Apesar deste sucesso a nível mundial, era certo e sabido que o ambiente dentro da banda nunca foi o melhor e que as brigas dos orgulhosos irmãos Gallagher iriam, eventualmente, levar ao fim da banda. Há dois anos, esse final foi uma realidade, e cada irmão seguiu o seu caminho. Liam Gallagher segurou os elementos dos Oasis e criou a banda Beady Eye logo após o término dos Oasis. Já com um álbum lançado, a banda atingiu algum sucesso no Reino Unido. Já Noel preparou algo que há muito pretendia: a sua carreira a solo. E assim nasceu Noel Gallagher’s High Flying Birds, cujo álbum homónimo foi lançado no dia 17 de Outubro em território europeu. O álbum abre com “Everybody’s On The Run”, que ou muito me engano, ou estará na lista de melhores músicas de 2011. A mistura de elementos clássicos com uma vontade auspiciosa de gritar a cantar está magistral. É também possível vislumbrar que a chama dos Oasis ainda não se apagou no coração de Noel. “Dream On” e “If I Had A Gun” são cheesy brit pop, “The Death Of You And Me” parece uma “The Importance Of Being Idle” (Oasis - Don’t Believe The Truth, 2005) limada até à perfeição, e “I Wanna Live A Dream (In My Record Machine)” faz lembrar os bons psicadelismos de certos álbuns. E se julgavam que não é possível dançar num álbum de Noel, serão surpreendidos por “AKA…What a Life!”, onde um piano triunfante dita um ritmo irresistível. Destaque ainda para a polémica “Stop The Clocks”, uma música que estaria prevista para sair num dos álbuns do Oasis, mas que nunca chegou a ver a luz do dia. É brilhante, e extremamente pessoal a produção que Noel colocou nesta música. Perdão, obra-prima! Foi Noel quem decidiu colocar um ponto final nos Oasis. Terá sido a melhor decisão, em termos de fazer a sua música chegar às massas? Claramente, não. Terá sido a melhor decisão a nível musical? Provavelmente. O prólogo do livro de Noel Gallagher tem um começo mais auspicioso que o do seu irmão. Seguem-se os próximos capítulos… Umphrey’s McGee Anchor Drops Rui Nunes Desta vez trago-vos uma banda originária de Chicago; pouco conhecida no panorama Americano, muito menos internacionalmente. O primeiro contacto que tive com a música deles foi em Abril de 2007, no dia da Terra, num concerto gratuito (e genial), ao ar livre, no Millennium Park, em Chicago. Os Umphrey’s McGee tocaram literalmente do início ao fim, com sessões de jamming e solos de guitarra e bateria unindo as músicas (enquanto um dos elementos da banda descansava, à vez). Devo dizer que ouvir este álbum é uma experiência musical, mas vê-los ao vivo é algo único. A energia e a versatilidade dos Umphrey’s McGee, banda preferencialmente de Rock Progressivo, é claramente audível neste álbum com muitas músicas criadas a partir de jam sessions (a arte de improvisar em conjunto, seguindo ou não um dos elementos da banda). Anchor Drops foi o terceiro álbum da banda e une as raízes de rock progressivo com outras linhas de influência, desde electrónicas (como por exemplo, em “Robot World”) ao folk americano (em “Bullhead City”). Pessoalmente, a minha música preferida é a terceira, “In the Kitchen”, por começar com uma gravação da voz ouvida no metro de Chicago anunciando “This is Chicago. Doors Closing” (ouve-se no final da música anterior) e por retratar o rigoroso inverno de Chicago, transportando-me para uma noite de Janeiro, a nevar lá fora. Dou uma classificação de 5 estrelas a este álbum, pela sua versatilidade e textura, que explora vários ritmos e instrumentos, em fusões pouco comuns ao ouvido. É de destacar a qualidade do baterista, que tanto consegue criar aberturas explosivas (“Mulche’s Odyssey”) como de criar um ambiente jazzy e reconfortante (trechos iniciais de “13 days”). RESISTANCE Dezembro 2011 18