1. Monitorização hemodinâmica e os estados de choque
O choque é uma condição fisiopatológica caracterizada por insuficiência
circulatória, acompanhada de inadequação da perfusão tecidual. Em geral, a
pressão arterial apresenta-se reduzida, contudo, pode estar normal (hipotensão
arterial não é fundamental no diagnóstico de choque). A princípio, a lesão celular é
reversível; mas, na ausência de intervenção terapêutica, alcança-se uma lesão
tecidual irreversível, que pode vir a levar o paciente a óbito.
As causas do choque dividem-se em três categorias gerais: choque
cardiogênico (decorrente de reduzido débito cardíaco, devido à insuficiência
miocárdica), choque hipovolêmico (redução da volemia, causando débito cardíaco
baixo) e choque séptico (primariamente, uma infecção bacteriana ou fúngica
desencadeia uma reação imunológica sistêmica que concorre para uma
vasodilatação e acúmulo sanguíneo periférico).
O sucesso da terapêutica do estado de choque depende da sua
identificação precoce e rapidez com a qual a causa de base do choque é combatida
com medidas eficazes. Dessa forma, para tratá-lo é fundamental classificá-lo. O
diagnostico diferencial dependerá sobremaneira de anamnese e exame físico bem
feitos; oferecer atenção especial aos sinais indicativos de hipoperfusão
tecidual―confusão mental, taquicardia e oligúria. Exames complementares também
podem ser utilizados nesse diagnóstico: medidas de ureia e creatinina, gasometria
completa, função hepática, amilase, lipase, coagulograma, enzimas cardíacas, nível
de lactato, ECG, radiografia de tórax.
A despeito do supracitado, quando um paciente possui um suspeita de
choque, é mister agir prontamente, adotando medidas básicas, das quais vão
depender seu prognóstico e evolução―Correção da pressão arterial, ofertar
oxigênio, iniciar prova de volume e instalar um monitorização básica. É importante
adicionar que essa intervenção deve preceder coleta da história, realização do
exame físico, laboratório ou exame de imagem.
Deve-se providenciar para os pacientes em estado de choque um acesso
venoso, preferencialmente periférico; contudo, em sua impossibilidade, levar a cabo
acesso venoso central. A escolha da solução do sistema ainda é discutida, tendo
2. como escopo soluções cristaloide ou coloide. As soluções cristaloides são de custo
bem inferior; todavia, a literatura (e a prática clínica) aponta as soluções coloides
como de reposição mais ágil. Durante a reposição volêmica, devem-se usar
soluções cristaloides (por exemplo) aquecidas, para evitar o aparecimento de
hipotermia, comum durante o processo.
Os parâmetros utilizados para monitorar a reposição volêmica―Pressão
da artéria pulmonar, pressão venosa central―não se constituem como parâmetros
ideais, em decorrência da alteração da complacência cardíaca, característica dos
pacientes críticos. Na terapêutica da insuficiência respiratória desses pacientes,
deve-se utilizar suplementação de oxigênio com ventilação mecânica, visando à
poupá-los consumo energético.
Dessa forma, no paciente em estado de choque, a monitorização de
indicadores hemodinâmicos e clínicos se torna componente essencial no diagnóstico
bem com mensuração de distúrbios perfusionais. Essas informações vão orientar a
terapêutica e auxiliar na determinação do prognóstico. No entanto, é igualmente
relevante citar que os monitores não podem sobrepujar o paciente; o médico não
deve tratar de valores numéricos em detrimento da clínica do paciente. Nesse
sentido, a consonância entre a habilidade de análise clínica e interpretação da
tecnologia apropriada constitui-se como a abordagem mais adequada no manejo do
paciente crítico.
Referências
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patológicas das doenças. 8ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. p. 129.
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Valle.1ª ed. São Paulo: Artes Médicas, 2011.