O documento discute o mistério da morte e como recuperar seu sentido na sociedade moderna. Ele argumenta que (1) a morte faz parte da vida e nos prepara para o momento final, (2) ao invés de temer a morte, devemos vê-la como um ato positivo que completa nossa existência, e (3) precisamos ensinar as novas gerações a encarar a morte de forma diferente para que a sociedade não entre em decomposição.
1. 6. O mistério da morte
• Ao entrar no sagrado e misterioso
templo da morte, temos que deixar
de lado as sandálias do raciocínio e
entendimento
• Não entender o mistério: além dele,
há algo tão grande que não nos cabe.
• A morte à luz da fé, da esperança, do
amor e da moderna antropologia.
2. 6. O mistério da morte
Recuperar o sentido da morte
Se o grão de trigo cai em terra
firme e não morre, permanece
só, porém, se morre, dá muito
fruto. (Jo 12,24)
3. 6. O mistério da morte
Recuperar o sentido da morte
• Todos os seres existentes – seja
planta, animal ou pessoa – termina
por morrer.
• Morrer não é um fato pontual,
acontece constantemente. Estamos
aqui depois de havermos passado
pelas mortes que levamos dentro.
4. 6. O mistério da morte
Recuperar o sentido da morte
• A criança que se é aos 7 anos ou o
jovem que fomos já não existem
quando somos maiores.
• A morte acompanha-nos em toda a
vida, o que nos serve de preparação
ou ensaio para o momento de morrer
5. 6. O mistério da morte
Recuperar o sentido da morte
• Temer a morte é uma perversão,
temos sido vítimas de uma
devastação humana.
• O homem é um ser para a morte: é o
que de mais glorioso pode nos
acontecer, porque é aquela
passagem à vida que faz com que
esta vida seja vida.
6. 6. O mistério da morte
Recuperar o sentido da morte
Mas a sociedade não entende assim...
• Sociedade do séc. XXI: desfruta de
tudo, menos a morte; dissimula-a,
marginaliza-a, esconde-a das
crianças e jovens
• A morte pertence ao homem: é mais
nossa do que a vida.
7. 6. O mistério da morte
Recuperar o sentido da morte
• Urge recuperar a morte: uma
sociedade que não é capaz de olhar a
morte de frente, é uma sociedade em
decomposição
• Futuras gerações: devem ser
preparadas para encarar a morte de
outra maneira.
• Antropologias modernas: a morte é
ato positivo, o mais intenso da vida.
8. 6. O mistério da morte
Recuperar o sentido da morte
O que a antropologia tem que fazer
para recuperar a morte?
• A morte é um elemento da vida e
coexistente com ela.
• A morte não é passiva, é ativa. Homem:
autor de sua vida e morte.
• Problemática: situada na relação ter-ser.
Na morte deixa-se tudo o que se tem,
assegura-se e leva-se tudo o que se é.
16. Eu sou Aquele que É
Ex 3, 14
† Ser
Ser
Ser
Eu
Ser
Ser
Ser Ser Ser
E Deus será Tudo em todos 1Cor 15, 28
17. 6. O mistério da morte
Recuperar o sentido da morte
• O homem não pode ser medido por seu
rendimento ou utilidade
• Utilitarismo: traz conseqüências
• Aproximação da morte: a vida é menos
intensa; degradação do físico
• Quanto mais nos construímos, mais nos
rompemos
• O que mostramos por fora não
corresponde ao que levamos dentro
18. 6. O mistério da morte
Recuperar o sentido da morte
Crescer para a eternidade é
decrescer na dimensão desta
vida?
“Se seguras a semente na mão,
não dá fruto, porém, se a semeias
na umidade da terra, no final, dá
uma colheita”.
19. 6. O mistério da morte
Recuperar o sentido da morte
A morte dá a impressão de tudo
o que somos, temos que colocá-
lo em um ponto, que parece uma
despedida – a despedida da
morte.
Porém, neste instante, todas as
coisas que, de verdade, somos,
são recuperadas para sempre.
20. 6. O mistério da morte
Recuperar o sentido da morte
E o que fica de mim, é o que
levo?
Tu te levas todo, com a dimensão que
conheces, mais todas as galáxias que
te envolvem. O Céu novo e a Terra
nova são construídos na chegada de
cada homem à eternidade.
21. 6. O mistério da morte
Recuperar o sentido da morte
Sociedade utilitária
• Envelhecimento: descalabro
• Visão falsa da velhice, assim como da
morte
• Visto de fora, dir-se-ia que o homem
perde capacidades.
• De dentro: as capacidades do homem já
construíram a pessoa que ele é (na
colheita só são necessárias as
ferramentas de recolher).
22. 6. O mistério da morte
Recuperar o sentido da morte
O cinzel não corta quando o escultor
termina a estátua, disse Cícero.
• Ao invés de assistir de fora à decadência
dos sentidos, não deveríamos assistir ao
crescimento interior?
• A vida foi-nos dada para dá-la em bem dos
outros e de nós mesmos.
23. †
Curva da a bondade
qualidade humana a verdade
– curva do ser a beleza
Curva biológica
†
24. 6. O mistério da morte
Recuperar o sentido da morte
Antropologia: descoberta da morte é
recente
• A morte não pertencia à vida, era
considerada como uma ruptura, uma
desgraça ou um castigo; por isso era
descartada, considerada como a negação da
vida.
• Conseqüência: uma sociedade que
considera a morte como desgraça, não quer
morrer. Por isso, separa-se, esquiva-se,
camufla-a e, definitivamente, ignora-a
25. 6. O mistério da morte
Morrer é despertar
• A vida é um despertar constante e, quanto
mais se vive, mais desperto, mais acordado
se está ou, como disse Jesus Cristo a
Nicodemos, a vida é um nascer constante.
• Visão equivocada: a partir do nascimento
começamos a morrer
• Morrer é acabar de nascer ou acabar de
despertar
26. 6. O mistério da morte
Morrer é despertar
• Para explicar a vida de um Homem,
temos que conhecer sua morte.
• Heidegger: o homem é um ser-para-a-
morte (Sein-Zum-Tode).
• Sein-Zum: eu sou o que sou, graças
ao fato de que estou destinado a
morrer, senão nem sequer seria.
27. 6. O mistério da morte
Morrer é despertar
• Na morte não se perde nada além da
mortalidade.
• Paradoxo: na morte perde-se o que
pode morrer, porém, ganha-se o que
não pode morrer.
• Tudo o que temos de mortal morre na
morte, porém, tudo o que temos de
vivo, na morte, vive para sempre.
28. 6. O mistério da morte
Morrer é despertar
• Heidegger: “o homem descobre sua
vida no momento de perdê-la”.
• o Homem vive mais sua vida no
momento da morte que em toda a sua
vida.
• Aquele que não quisesse morrer não
“sobreviveria” à vida.
29. 6. O mistério da morte
Morrer é despertar
Frente à morte e frente a Deus é
preciso mudar de linguagem
• “Moisés, tira as sandálias de teus pés,
porque o lugar em que estás é terra
sagrada” (Ex 3, 5).
• Nossa maneira de existir no mundo (os
sentidos) nos levam até a meta: tudo o
que recolhemos com os sentidos faz-se
colheita dentro.
30. 6. O mistério da morte
Morrer é despertar
O que significa: quando vivemos,
morremos; quando morremos, vivemos?
• Estamos vivos aqui, graças ao que fomos
deixando nos caminhos da vida
• Tudo o que tenho morto dentro de mim,
vive em mim: a criança de dois anos que
não sou, levo-a dentro de mim, porém
morta.
31. 6. O mistério da morte
Morrer é despertar
• Os que me fizeram pessoa – meus pais,
meus mestres, meus amigos, que já
morreram, e sem os quais eu não seria o
que sou – são mortos que estão dentro de
mim
• A vida que chamamos vida está tecida de
morte.
• Se se entende a morte como morte, vemo-
la como negação da vida.
32. 6. O mistério da morte
Morrer é despertar
• A matéria permanece onde está a matéria.
• Deus, no mesmo momento da morte, dá a
cada um, um corpo que não é material,
mas um corpo novo, que cada um terá
construído em sua vida
• A morte não é uma liberação, é uma
plenitude.
• o Homem é tarefa de si mesmo
33. 6. O mistério da morte
Morrer é despertar
• Existir é estar no tempo para chegar a ser.
• Quando se chega a ser, deixa-se de existir
[no tempo]: isto é morrer
• Morrer não é deixar de ser nada, mas,
conduzir ao Ser aquilo que se quis
edificar na tarefa da própria existência.
• Eu não existo para prolongar minha
existência, mas para obtê-la.
34. 6. O mistério da morte
Morrer é despertar
• O homem é o construtor e o autor de sua
morte
• A morte e, sobretudo, o ato de morrer, não
é padecido, é feito, é criado
• o único lugar possível em que a morte e o
morrer podem ser criados é ao longo da
linha da vida.
• “Perder o tempo” é deixar de criar a
morte; viver criativamente é ganhar a vida.
O homem morre segundo viveu..
35. 6. O mistério da morte
Morrer é despertar
O homem que perde esta
vida, perde a outra:
a árvore cai do lado para o
qual se inclina