Importância da quase memória para manter a identidade
1. QUASE MEMÓRIA OU DA IMPORTÂNCIA DELA PARA ME MANTER
Ji-Paraná, 21 de julho de 2019. Quase 03 horas. Meu Deus e Querido Amigo,
quantas voltas e reviravoltas deram minha vida? Desde as andanças,
pequenos voos e peregrinações intensas no Lote da Linha 102 do Projeto
Riachuelo. Quanta saudade daquele início de minha meninice. Pobreza
(material), risos e sobressaltos. Da hora da Ave-Maria ao final da tarde,
tristíssima hora e o pai não chegava com a mochila de compras às costas.
Quando regressava com aquele saco de pano branco, lembro-me até do
cheiro, (porque as memórias perpassam por nosso olfato), quanta alegria. Seu
retorno trazia além do sustento, a segurança da presença dele. Maior era a
ausência quando o pai e a mãe estavam na cidade. O sentimento de orfandade
era mais intenso. A chegada deles também era inexoravelmente redobrada em
alegrias e pequenas surpresas. Bons tempos. Saudade! Depois veio a
necessidade de prosseguir nos estudos e nosso êxodo para a cidade. Toda a
família se muda e com ela todo outro mundo se constrói. (...) Um cheiro me traz
vívida lembrança: mangueiras em flor e com elas, os primeiros ensaios do
exercício da sexualidade. Já sabia quem eu era e quais eram meus objetos de
desejos. Identidade definida e todo um mundo rico que se descortinava sem
me avisar que frustrações também fariam parte dele! Ah, vida, vida breve,
milagre maior é estar vivo, é ter vivido tudo isto!