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Consumo de álcool e comportamentos violentos
Liliana Queirós Fonseca (26289@ufp.edu.pt)
Universidade Fernando Pessoa (Criminologia Noturno)
Resumo – Este artigo incide sobre a complexa relação existente entre o consumo de álcool e
os comportamentos violentos, recaindo em particular sobre a agressividade. Os
comportamentos violentos estão dependentes do contexto onde o indivíduo se insere e
dependem de fatores individuais, sociais e culturais. São ainda apresentados os fatores de
risco que tornam o indivíduo mais propenso ao consumo de substâncias alcoólicas e a
comportamentos violentos e os fatores de proteção que refreiam esse mesmo consumo e
previnem comportamentos desviantes. Os fatores de risco e de proteção assumem um caráter
dinâmico, pois resultam da interação dos indivíduos.
Palavras-chave: Álcool, Comportamentos violentos, Fatores de risco e de proteção.
Abstract - This article is focused on the complex relationship between alcohol consumption
and violent behavior, focusing in particular on aggression. The violent behaviors are
dependent on the context in which the individual belongs and they depend on individual,
social and cultural factors. It also presents the risk factors that make people more inclined to
consumption of alcohol and violent behaviors and protection factors that impede this same
consumption and prevent delinquency. Risk factors and protection factors assume a dynamic
character, because they result from the interaction of individuals.
Keywords: Alcohol, Violent behavior, Risk and protection factors.
Introdução
O álcool e os comportamentos violentos associam-se cada vez com mais frequência,
transformando-se num sério problema da sociedade atual. Jovens e adultos consomem álcool
em proporções desmesuradas, sentem-se mais desinibidos e, consequentemente, ficam mais
propensos a envolver-se em conflitos, dos quais resulta quase inevitavelmente terríveis atos
de violência. Apesar de considerado comum e pouco prejudicial, por grande parte da
humanidade, a verdade é que o consumo de álcool pode transformar-se num grave problema e
num hábito difícil de perder, comportando consequências nefastas ao consumidor. São vários
os estudos ligados ao álcool que demonstram o caráter complexo desta substância e do seu
consumo e suas consequências nefastas na vida de um indivíduo, bem como o grande número
de indivíduos de ambos os sexos afetados por esta dependência (Anderson et al., 2006).
O tema deste artigo é, precisamente, a eventual existência de uma ligação entre o consumo
de álcool e a ocorrência de atos violentos, cometidos por parte dos consumidores. Este tema
assume especial pertinência, na medida em que, cada vez mais jovens e adolescentes
consomem substâncias alcoólicas. Este é um motivo de maior preocupação e
responsabilidade, porque tal significa que será de prever um aumento da violência entre as
gerações vindouras, tornando urgente a criação de estratégias de alerta aos jovens e de
medidas que reduzam o consumo de álcool tão precoce. Além disso, este artigo procura ainda
colocar em evidência os fatores de risco para o consumo de álcool, bem como fatores que
conferem proteção ao indivíduo, relativamente ao consumo de álcool, e a comportamentos
violentos. Este artigo começa por apresentar uma definição geral do que é o álcool e sua
dependência e fornece uma caracterização dos comportamentos violentos que podem resultar
do consumo de substâncias alcoólicas. Por fim, procura-se demostrar a violência e a
agressividade como causa direta e praticamente constante do consumo excessivo de álcool.
Assumindo o álcool como um problema emergente da sociedade com tendência a assumir
graves proporções e afectando um número incalculável de pessoas em todo o mundo, é
imperativo que sejam postas em prática ações preventivas, que devem plantar suas raízes nas
escolas e locais frequentados pelos jovens, pois é durante a adolescência que se inicia a
prática de maus hábitos, que influenciarão o percurso futuro de cada um. De igual forma,
devem ser organizados grupos de apoio a consumidores de substâncias alcoólicas em excesso
e procurar reduzir a violência associada a esta dependência. Portugal têm um grande número
de consumidores de álcool, sensivelmente um milhão e meio, dentre os quais são inúmeros os
dependentes que apresentam problemas associados a esta substância. Não esquecendo que a
juventude actual consome cada vez mais substâncias alcoólicas, deduz-se que este número
aumente, não deixando adivinhar um futuro promissor às gerações futuras (Cardoso, 2001).
1. Álcool e comportamentos violentos
Hoje em dia, o consumo de álcool é um comportamento natural a cada indivíduo, é aceite
pela sociedade e faz parte da nossa própria cultura. O indivíduo festeja momentos importantes
da sua vida com álcool e consome substâncias alcoólicas enquanto socializa entre amigos em
locais públicos ou privados. Este é um hábito comum, aceitável e característico de grande
parte dos indivíduos. É por essa razão que nem sempre é fácil tomarmos consciência das
consequências que este consumo pode comportar e aceitá-las como sendo prejudiciais. Como
é o caso dos comportamentos violentos que surgem, frequentemente, após o consumo de
bebidas alcoólicas, devido à agressividade e falta de inibição que o álcool provoca.
Em Portugal e em grande parte do mundo, o álcool é uma droga legal e comercializada,
estando ao acesso de qualquer um de nós numa superfície comercial, num café ou até num
posto de gasolina. A venda e compra de álcool é uma atitude trivial e até regular e o consumo
de substâncias alcoólicas acaba por fazer parte até das nossas refeições e hábitos alimentares,
sendo este um costume que já tem suas raízes no passado. O álcool apresenta-se assim como
uma das dependências mais perigosas, na medida em que nem sempre o individuo apresenta
consciência das suas consequências, sendo agravado pelo facto de ser uma droga socialmente
aceite e comum entre adolescentes e jovens. O caráter violento que esta dependência assume
conduz a diversos conflitos que acabam muitas vezes em morte ou comportam consequências
irreversíveis à vida social e pessoal do seu consumidor e restantes envolvidos.
1.1.O álcool e dependência alcoólica
O Álcool está relacionado com o etanol ou o álcool etílico, sendo estes os seus principais
componentes, ou seja, as bebidas consideradas alcoólicas são aquelas que contêm álcool
(UNODCCP, 2000). Ainda segundo Doron e Parot (2001) o álcool é uma molécula natural ou
sintética designada por etiálcool ou etanol que provoca um efeito quer sedativo, quer
hipnótico. Contudo, importa ressaltar que a maioria das bebidas que possuem etanol têm
também outras substâncias que lhes são acrescentadas durante o processo de fabrico,
designadas por congéneres, que afetam as taxas de absorção e de distribuição do álcool,
provocando efeitos diretos no organismo, como alterações ao nível das hormonas sexuais e
efeitos sobre o cérebro (Schuckit, 1998).
O álcool é uma droga psicotrópica que tem efeitos depressores e ataca o sistema nervoso
central, conduzindo a alterações de comportamento daqueles que o consomem. (UNODCCP,
2000). Essas alterações de comportamento podem provocar reacções extremas que conduzem
frequentemente à violência e no pior dos casos pode levar à morte. Existem bebidas alcoólicas
que são fermentadas como o vinho e a cerveja ou destiladas como as aguardentes e os licores.
A sua graduação alcoólica é definida pela percentagem volumétrica de álcool puro que
contém. Geralmente as bebidas destiladas possuem uma graduação alcoólica maior que as
fermentadas. Ainda segundo a Organização Mundial de Saúde o alcoolismo é compreendido
como a totalidade dos problemas causados pelo álcool, problemas estes que se podem
estender por vários domínios: familiar, profissional e pessoal, causando perturbações de
várias ordens. Os alcoólicos são consumidores excessivos com grande dependência e podem
apresentar perturbações mentais, problemas de saúde física, desenvolver conflitos com os
outros e assumir um comportamento social e económico problemático (Mello, 2001).
No que respeita a dependência alcoólica, esta está subjacente à definição de alcoolismo na
medida em que o alcoolismo pode ser definido como um estado de dependência física e
psíquica, que determina os comportamentos dirigidos para um consumo compulsivo e
continuado de álcool, assumindo consequências devastadoras para os consumidores (Nunes &
Jólluskin, 2010). Quando alcoolizado o indivíduo perde frequentemente o controlo e torna-se
incapaz de controlar a quantidade de álcool a ingerir e prever o momento em que deve cessar
o seu consumo (Secades, 2001). De salientar, que o consumo de álcool e suas consequências
estão intimamente ligadas a outros aspectos como idade, sexo e peso. Sendo que nas crianças,
por exemplo, o consumo de álcool é sempre prejudicial (Nunes & Jólluskin, 2010).
Por último, à dependência alcoólica está subjacente o conceito de síndrome de abstinência
e uma certa tolerância ao consumo de álcool pela sua habituação. Por síndrome de abstinência
compreende-se os sintomas adquiridos pelos dependentes aquando da abstinência de álcool,
desde tremores matinais, sudorese, náuseas e distúrbios de humor (Nunes & Jólluskin, 2010).
A dependência alcoólica conduz à seguinte sintomatologia: estreitamento do reportório de
beber, evidência de comportamentos de busca de álcool, aumento da tolerância, sintomas
repetidos de abstinência, alívio ou eliminação da abstinência pela ingestão de álcool,
consciência subjectiva da compulsão para beber e possível reinstalação da síndrome após
abstinência (Seibel, 2001). O consumo problemático de álcool assume-se como um grave
problema de saúde pública, comportando consequências prejudiciais à saúde e conduzindo
por diversas vezes à morte (Niemela et al 2006). O alcoolismo apresenta-se atualmente como
a maior toxicodependência a nível internacional e nacional, sendo Portugal um dos países da
União Europeia com taxas mais elevadas de consumo de bebidas alcoólicas, registando uma
grande percentagem de problemas graves associados ao álcool e sua dependência, atingindo
quase 10% da população total (Fernandes & Teixeira, 2006).
Vários estudos reflectem a dependência e o aumento do consumo do álcool, por exemplo,
segundo uma análise de Pichard e Payne (2005) uma população de jovens australianos detidos
com idades entre os 12 e os 19 anos, o álcool era a droga mais consumida, por 37, 6 % dos
indivíduos. O mesmo estudo revelou que entre os estudantes australianos, mais de 90 % dos
jovens de 16 e 17 anos, cerca de 90 % dos adolescentes de 14 e 15 anos, e perto de 80 % dos
indivíduos de 12 e 13 anos, já tinham consumido álcool, sendo a substância mais consumida
entre os estudantes em geral. Ainda neste contexto, de acordo com o Observatório Europeu da
Droga e da Toxicodependência (2003) e os estudos realizados em escolas dos Estados-
membros evidenciaram que 33% dos jovens portugueses entre os 15 e os 16 anos de idade, já
experimentaram o estado de embriaguez (Nunes & Jólluskin, 2010).
1.2.Comportamentos violentos
Os comportamentos violentos são usualmente consequência de substâncias alcoólicas, que
deixam o individuo desinibido e mais propenso a envolver-se em conflitos. Vários autores
defendem que o álcool é um dos maiores responsáveis pela mudança de comportamento,
provocada por efeitos psicofarmológicos, que resultam em violência (Minayo e Deslandes,
1998). Estudos experimentais mostram que o abuso de álcool pode ser responsável pelo
aumento da agressividade entre os usuários (Fagan, 1990, 1993). Outros pesquisadores
demonstram que o álcool altera a perceção das interacções sociais, elevando os riscos de
conflito entre os indivíduos que participam nessa situação (Coid, 1986). O consumo de álcool
figura-se como um dos maiores fatores de risco para a violência, contudo é de salientar que
esta violência surge mais frequentemente em determinados locais e sob condições específicas.
Alguns espaços sociais ou comunidades apresentam mais conflitos que outros, pois a
violência depende do contexto. O consumo de álcool e a violência estão intimamente ligados
e dependentes de fatores individuais, sociais e culturais (Minayo & Deslandes, 1998).
O consumo excessivo de álcool e o uso de drogas não são suficientes para se determinar
uma relação direta entre consumo de substâncias alcoólicas e comportamentos violentos.
Contudo, a verdade é que o álcool surge como causa direta de 50 % dos homicídios
cometidos, mais de 30% dos suicídios e tentativas de suicídio, e está associado ainda à grande
maioria dos acidentes de trânsito, de acordo com os dados da OPAS (1993). Ora, tais dados
acabam por sustentar a ideia de que, apesar do álcool não ser o total responsável pelos atos de
violência, não deixa de ser o seu desinibidor e um forte motivo para a sua realização.
1.3.Consequências – Agressividade
De entre as consequências provocadas pelo consumo de álcool, este artigo visa a
agressividade. A agressividade é entendida como sendo uma propensão para assumir uma
conduta real que tem por objectivo causar malefícios a outrem (Laplanche & Pontalis, 1970),
ganhando forma através de insultos e de agressões físicas com a intenção de provocar
sofrimento e constrangimento na vítima em questão. É a agressividade que está na base dos
conflitos gerados durante e após o consumo de álcool. Assim, o individuo que consome
bebidas alcoólicas sente-se mais descontraído agindo sem reflectir. Consequentemente, torna-
se mais conflituoso e agressivo e esta agressividade conduzi-lo-á a envolver-se em condutas
impróprias, das quais surgem comportamentos violentos. Importa referir que a violência e a
agressividade são distintas. A violência está relacionada com as imagens que nos são
apresentadas diariamente pelos meios de comunicação: roubos, atos ilícitos, vandalismo, que
não podemos prevenir e desconhecemos o local e o momento em que ocorrerá (Ferrari, 2006).
A agressividade é uma característica que resulta da nossa personalidade, está presente na
nossa constituição como seres humanos e é dependente da nossa relação com o outro e com os
objectos que nos rodeiam. A agressividade é um traço da nossa personalidade, no entanto
muitos conseguem atenua-la (Freud & Lacan, s/d, cit. In Ferrari, 2006).
2. Fatores de risco e de proteção para o consumo de álcool
O risco assume-se como resultado de uma decisão consciente perante determinada
situação que pode conduzir à perda ou ao dano físico, material e psicológico (Schenker &
Minayo, 2005). Este implica perigo, mas apresenta-se apenas como ameaça e possibilidade
deste último ocorrer (Giddens, 1991). Os factores de risco apresentam um carácter dinâmico,
pois resultam da interacção dos indivíduos, da qual podem surgir manifestações
problemáticas (Davies & Cummings, 2006). Por outro lado, os factores de proteção, que
também possuem carácter dinâmico, permitem ao indivíduo, apesar de exposto ao risco, não
ser influenciado e evitar condutas erróneas (Milkman & Wanberg, 2004). De ressaltar, que os
factores de risco e de protecção formam variáveis independentes, pois não existe um regime
de complementaridade entre eles (Jessor, Van Den Bos, Vanderryn, Costa & Turbin, 1995).
Deste modo, os fatores de risco conduzem a condutas conflituosas e os factores de protecção
permitem ao individuo afastar-se de situações problemáticas, possibilitando um maior
domínio pessoal e social (Jessor, Turbin & Costa, 1998). Importa especificar de que forma os
factores de risco e proteção influenciam o individuo a nível pessoal e social e a sua conduta.
2.1.Fatores de risco para o consumo de álcool e comportamentos violentos
Entre os factores de risco para o consumo de álcool e comportamentos violentos estão os
factores biológicos, que estão interligados com aspectos hereditários e constitucionais. Não
existe uma relação genética estreita, mas uma predisposição fisiológica ao consumo de álcool,
que se traduz numa maior tolerância gastrointestinal ao álcool e numa maior ou menor
sensibilidade ao álcool. Os fatores psicológicos que se apresentam através da vulnerabilidade
psicológica e dos modelos de aprendizagem. Entenda-se vulnerabilidade psicológica como
maior ou menor risco para o consumo de álcool em função da personalidade do indivíduo e
das suas atitudes face ao ato de beber, bem como com as suas estratégias para resolver
situações de stress e de dificuldade. E os modelos de aprendizagem representam a influência
que os familiares exercem sobre o individuo, eles assumem um papel decisivo, pois são os
primeiros modelos que a criança utilizará nas suas acções futuras. Por último, os factores
sociais que assumem uma vertente sociocultural. O consumo de álcool surge geralmente
associado à aceitação social, ou seja, o indivíduo consome substâncias alcoólicas para se
integrar em determinado grupo social e a sua dependência alcoólica também não é vista pela
sociedade como algo nefasto, na medida em que é um comportamento normativo e
naturalmente aceite. De igual forma, a disponibilidade do álcool, o seu baixo custo e a falta de
restrições ao seu consumo funcionam como factores determinantes para o consumo
generalizado e muitas vezes patológico da substância (Echeburua, 2002). Segundo Loeber e
Farrington (2000) existem ainda os factores de risco ambientais dos quais fazem parte a
presença de delinquência ou de consumo de drogas nos pais, práticas educativas erróneas,
supervisão insuficiente, falta de comunicação e negligência, escassez de recursos
socioeconómicos, com pais desempregados, família numerosa ou reduzido nível educacional
dos pais, abuso por parte destes, frequente mudança de cuidadores e desacordo entre as
figuras parentais sobre as práticas educativas. São diversos os factores de risco que conduzem
ao consumo de álcool excessivo e, inevitavelmente, ao aumento de comportamentos violentos
e a práticas delituosas entre jovens e adultos.
2.2. Fatores de protecção para o consumo de álcool e comportamentos violentos
Dos factores de protecção para o consumo de álcool e comportamentos violentos fazem
parte os factores biológicos/genéticos que estão relacionados com a elevada inteligência do
indivíduo que lhe permite defender-se de influências negativas e não se envolver em práticas
problemáticas e nefastas. Fatores relacionados com a personalidade e temperamento e que se
traduzem na elevada vinculação, ou seja, ligação forte com grupos de pares de influência
positiva, aquisição de valores pró-sociais e elevada auto-estima. Fatores decorrentes do
comportamento que se reflectem em bons resultados obtidos a nível profissional, na adesão a
actividades convencionais, na rejeição de condutas desviantes e interesse e dedicação pela
actividade profissional desempenhada. Fatores sociais que incluem modelos normativos, pais
e pares pró-sociais, acesso a oportunidades e expectativas de futuro que conduzem o
indivíduo a preocupar-se com o seu desempenho e atitudes, bem como com o seu sucesso a
nível pessoal e social. Por último, fatores ambientais como acesso a oportunidades de
aprendizagem, valores pró-sociais, harmonia familiar e boa relação familiar, vínculo à
profissão desempenhada, sentimento de pertença ao local de trabalho, pertença a atividades e
grupos organizados e estimulantes, transmissão de valores convencionais por aqueles que nos
rodeiam, sucesso e adaptação e boas interacções sociais, sendo que estas características
devem verificar-se desde logo, no espaço escolar, entre os jovens, de forma a prevenir
precocemente o consumo e aquisição de substâncias nocivas ao individuo, bem como de
forma a prevenir e a reduzir a afluência de comportamentos violentos (Jessor, 1991). No que
se refere aos factores ambientais a família ocupa um lugar de relevo, considerando-se como
factores de protecção a existência de relações consistentes e vinculativas com os pais, a
supervisão e a atenção por parte daqueles (Hirschi, 2002), e a existência de apoio social com
acesso a oportunidades educacionais, sendo fundamental a harmonia familiar (Hawkins,
Catalano & Miller, 1992). Deste modo, os factores de protecção estão profundamente ligados
ao processo de socialização do indivíduo e ao modo como interage com os grupos de pares.
Conclusão
Em suma, o consumo de álcool e os comportamentos violentos estão inteiramente
relacionados, na medida em que as substâncias alcoólicas permitem ao individuo se desinibir
e tornam-no mais propenso a envolver-se em conflitos.
Existem contudo factores de risco e de protecção para o consumo de álcool e
comportamentos violentos que, por sua vez, influenciam o individuo durante o seu percurso
de vida e aquando do seu processo de socialização. Os factores de risco conduzem o individuo
a envolver-se em situações problemáticas e comportam consequências nefastas à sua vida,
enquanto os factores de protecção afastam o indivíduo de comportamentos desviantes e
permitem-lhe uma conduta idónea.
De salientar que, devido ao número crescente de dependentes de álcool, é urgente atuar
sobre esta problemática que assume uma presença constante na nossa sociedade e procurar
junto dos jovens reduzir esta dependência através de alertas e da prevenção. Desta forma será
possível a minorar as consequências provocadas pelo consumo excessivo de álcool e atenuar
os comportamentos violentos.
Referências bibliográficas
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  • 1. Consumo de álcool e comportamentos violentos Liliana Queirós Fonseca (26289@ufp.edu.pt) Universidade Fernando Pessoa (Criminologia Noturno) Resumo – Este artigo incide sobre a complexa relação existente entre o consumo de álcool e os comportamentos violentos, recaindo em particular sobre a agressividade. Os comportamentos violentos estão dependentes do contexto onde o indivíduo se insere e dependem de fatores individuais, sociais e culturais. São ainda apresentados os fatores de risco que tornam o indivíduo mais propenso ao consumo de substâncias alcoólicas e a comportamentos violentos e os fatores de proteção que refreiam esse mesmo consumo e previnem comportamentos desviantes. Os fatores de risco e de proteção assumem um caráter dinâmico, pois resultam da interação dos indivíduos. Palavras-chave: Álcool, Comportamentos violentos, Fatores de risco e de proteção. Abstract - This article is focused on the complex relationship between alcohol consumption and violent behavior, focusing in particular on aggression. The violent behaviors are dependent on the context in which the individual belongs and they depend on individual, social and cultural factors. It also presents the risk factors that make people more inclined to consumption of alcohol and violent behaviors and protection factors that impede this same consumption and prevent delinquency. Risk factors and protection factors assume a dynamic character, because they result from the interaction of individuals. Keywords: Alcohol, Violent behavior, Risk and protection factors.
  • 2. Introdução O álcool e os comportamentos violentos associam-se cada vez com mais frequência, transformando-se num sério problema da sociedade atual. Jovens e adultos consomem álcool em proporções desmesuradas, sentem-se mais desinibidos e, consequentemente, ficam mais propensos a envolver-se em conflitos, dos quais resulta quase inevitavelmente terríveis atos de violência. Apesar de considerado comum e pouco prejudicial, por grande parte da humanidade, a verdade é que o consumo de álcool pode transformar-se num grave problema e num hábito difícil de perder, comportando consequências nefastas ao consumidor. São vários os estudos ligados ao álcool que demonstram o caráter complexo desta substância e do seu consumo e suas consequências nefastas na vida de um indivíduo, bem como o grande número de indivíduos de ambos os sexos afetados por esta dependência (Anderson et al., 2006). O tema deste artigo é, precisamente, a eventual existência de uma ligação entre o consumo de álcool e a ocorrência de atos violentos, cometidos por parte dos consumidores. Este tema assume especial pertinência, na medida em que, cada vez mais jovens e adolescentes consomem substâncias alcoólicas. Este é um motivo de maior preocupação e responsabilidade, porque tal significa que será de prever um aumento da violência entre as gerações vindouras, tornando urgente a criação de estratégias de alerta aos jovens e de medidas que reduzam o consumo de álcool tão precoce. Além disso, este artigo procura ainda colocar em evidência os fatores de risco para o consumo de álcool, bem como fatores que conferem proteção ao indivíduo, relativamente ao consumo de álcool, e a comportamentos violentos. Este artigo começa por apresentar uma definição geral do que é o álcool e sua dependência e fornece uma caracterização dos comportamentos violentos que podem resultar do consumo de substâncias alcoólicas. Por fim, procura-se demostrar a violência e a agressividade como causa direta e praticamente constante do consumo excessivo de álcool. Assumindo o álcool como um problema emergente da sociedade com tendência a assumir graves proporções e afectando um número incalculável de pessoas em todo o mundo, é imperativo que sejam postas em prática ações preventivas, que devem plantar suas raízes nas escolas e locais frequentados pelos jovens, pois é durante a adolescência que se inicia a prática de maus hábitos, que influenciarão o percurso futuro de cada um. De igual forma, devem ser organizados grupos de apoio a consumidores de substâncias alcoólicas em excesso e procurar reduzir a violência associada a esta dependência. Portugal têm um grande número de consumidores de álcool, sensivelmente um milhão e meio, dentre os quais são inúmeros os dependentes que apresentam problemas associados a esta substância. Não esquecendo que a
  • 3. juventude actual consome cada vez mais substâncias alcoólicas, deduz-se que este número aumente, não deixando adivinhar um futuro promissor às gerações futuras (Cardoso, 2001). 1. Álcool e comportamentos violentos Hoje em dia, o consumo de álcool é um comportamento natural a cada indivíduo, é aceite pela sociedade e faz parte da nossa própria cultura. O indivíduo festeja momentos importantes da sua vida com álcool e consome substâncias alcoólicas enquanto socializa entre amigos em locais públicos ou privados. Este é um hábito comum, aceitável e característico de grande parte dos indivíduos. É por essa razão que nem sempre é fácil tomarmos consciência das consequências que este consumo pode comportar e aceitá-las como sendo prejudiciais. Como é o caso dos comportamentos violentos que surgem, frequentemente, após o consumo de bebidas alcoólicas, devido à agressividade e falta de inibição que o álcool provoca. Em Portugal e em grande parte do mundo, o álcool é uma droga legal e comercializada, estando ao acesso de qualquer um de nós numa superfície comercial, num café ou até num posto de gasolina. A venda e compra de álcool é uma atitude trivial e até regular e o consumo de substâncias alcoólicas acaba por fazer parte até das nossas refeições e hábitos alimentares, sendo este um costume que já tem suas raízes no passado. O álcool apresenta-se assim como uma das dependências mais perigosas, na medida em que nem sempre o individuo apresenta consciência das suas consequências, sendo agravado pelo facto de ser uma droga socialmente aceite e comum entre adolescentes e jovens. O caráter violento que esta dependência assume conduz a diversos conflitos que acabam muitas vezes em morte ou comportam consequências irreversíveis à vida social e pessoal do seu consumidor e restantes envolvidos. 1.1.O álcool e dependência alcoólica O Álcool está relacionado com o etanol ou o álcool etílico, sendo estes os seus principais componentes, ou seja, as bebidas consideradas alcoólicas são aquelas que contêm álcool (UNODCCP, 2000). Ainda segundo Doron e Parot (2001) o álcool é uma molécula natural ou sintética designada por etiálcool ou etanol que provoca um efeito quer sedativo, quer hipnótico. Contudo, importa ressaltar que a maioria das bebidas que possuem etanol têm também outras substâncias que lhes são acrescentadas durante o processo de fabrico, designadas por congéneres, que afetam as taxas de absorção e de distribuição do álcool, provocando efeitos diretos no organismo, como alterações ao nível das hormonas sexuais e efeitos sobre o cérebro (Schuckit, 1998).
  • 4. O álcool é uma droga psicotrópica que tem efeitos depressores e ataca o sistema nervoso central, conduzindo a alterações de comportamento daqueles que o consomem. (UNODCCP, 2000). Essas alterações de comportamento podem provocar reacções extremas que conduzem frequentemente à violência e no pior dos casos pode levar à morte. Existem bebidas alcoólicas que são fermentadas como o vinho e a cerveja ou destiladas como as aguardentes e os licores. A sua graduação alcoólica é definida pela percentagem volumétrica de álcool puro que contém. Geralmente as bebidas destiladas possuem uma graduação alcoólica maior que as fermentadas. Ainda segundo a Organização Mundial de Saúde o alcoolismo é compreendido como a totalidade dos problemas causados pelo álcool, problemas estes que se podem estender por vários domínios: familiar, profissional e pessoal, causando perturbações de várias ordens. Os alcoólicos são consumidores excessivos com grande dependência e podem apresentar perturbações mentais, problemas de saúde física, desenvolver conflitos com os outros e assumir um comportamento social e económico problemático (Mello, 2001). No que respeita a dependência alcoólica, esta está subjacente à definição de alcoolismo na medida em que o alcoolismo pode ser definido como um estado de dependência física e psíquica, que determina os comportamentos dirigidos para um consumo compulsivo e continuado de álcool, assumindo consequências devastadoras para os consumidores (Nunes & Jólluskin, 2010). Quando alcoolizado o indivíduo perde frequentemente o controlo e torna-se incapaz de controlar a quantidade de álcool a ingerir e prever o momento em que deve cessar o seu consumo (Secades, 2001). De salientar, que o consumo de álcool e suas consequências estão intimamente ligadas a outros aspectos como idade, sexo e peso. Sendo que nas crianças, por exemplo, o consumo de álcool é sempre prejudicial (Nunes & Jólluskin, 2010). Por último, à dependência alcoólica está subjacente o conceito de síndrome de abstinência e uma certa tolerância ao consumo de álcool pela sua habituação. Por síndrome de abstinência compreende-se os sintomas adquiridos pelos dependentes aquando da abstinência de álcool, desde tremores matinais, sudorese, náuseas e distúrbios de humor (Nunes & Jólluskin, 2010). A dependência alcoólica conduz à seguinte sintomatologia: estreitamento do reportório de beber, evidência de comportamentos de busca de álcool, aumento da tolerância, sintomas repetidos de abstinência, alívio ou eliminação da abstinência pela ingestão de álcool, consciência subjectiva da compulsão para beber e possível reinstalação da síndrome após abstinência (Seibel, 2001). O consumo problemático de álcool assume-se como um grave problema de saúde pública, comportando consequências prejudiciais à saúde e conduzindo por diversas vezes à morte (Niemela et al 2006). O alcoolismo apresenta-se atualmente como a maior toxicodependência a nível internacional e nacional, sendo Portugal um dos países da
  • 5. União Europeia com taxas mais elevadas de consumo de bebidas alcoólicas, registando uma grande percentagem de problemas graves associados ao álcool e sua dependência, atingindo quase 10% da população total (Fernandes & Teixeira, 2006). Vários estudos reflectem a dependência e o aumento do consumo do álcool, por exemplo, segundo uma análise de Pichard e Payne (2005) uma população de jovens australianos detidos com idades entre os 12 e os 19 anos, o álcool era a droga mais consumida, por 37, 6 % dos indivíduos. O mesmo estudo revelou que entre os estudantes australianos, mais de 90 % dos jovens de 16 e 17 anos, cerca de 90 % dos adolescentes de 14 e 15 anos, e perto de 80 % dos indivíduos de 12 e 13 anos, já tinham consumido álcool, sendo a substância mais consumida entre os estudantes em geral. Ainda neste contexto, de acordo com o Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (2003) e os estudos realizados em escolas dos Estados- membros evidenciaram que 33% dos jovens portugueses entre os 15 e os 16 anos de idade, já experimentaram o estado de embriaguez (Nunes & Jólluskin, 2010). 1.2.Comportamentos violentos Os comportamentos violentos são usualmente consequência de substâncias alcoólicas, que deixam o individuo desinibido e mais propenso a envolver-se em conflitos. Vários autores defendem que o álcool é um dos maiores responsáveis pela mudança de comportamento, provocada por efeitos psicofarmológicos, que resultam em violência (Minayo e Deslandes, 1998). Estudos experimentais mostram que o abuso de álcool pode ser responsável pelo aumento da agressividade entre os usuários (Fagan, 1990, 1993). Outros pesquisadores demonstram que o álcool altera a perceção das interacções sociais, elevando os riscos de conflito entre os indivíduos que participam nessa situação (Coid, 1986). O consumo de álcool figura-se como um dos maiores fatores de risco para a violência, contudo é de salientar que esta violência surge mais frequentemente em determinados locais e sob condições específicas. Alguns espaços sociais ou comunidades apresentam mais conflitos que outros, pois a violência depende do contexto. O consumo de álcool e a violência estão intimamente ligados e dependentes de fatores individuais, sociais e culturais (Minayo & Deslandes, 1998). O consumo excessivo de álcool e o uso de drogas não são suficientes para se determinar uma relação direta entre consumo de substâncias alcoólicas e comportamentos violentos. Contudo, a verdade é que o álcool surge como causa direta de 50 % dos homicídios cometidos, mais de 30% dos suicídios e tentativas de suicídio, e está associado ainda à grande maioria dos acidentes de trânsito, de acordo com os dados da OPAS (1993). Ora, tais dados
  • 6. acabam por sustentar a ideia de que, apesar do álcool não ser o total responsável pelos atos de violência, não deixa de ser o seu desinibidor e um forte motivo para a sua realização. 1.3.Consequências – Agressividade De entre as consequências provocadas pelo consumo de álcool, este artigo visa a agressividade. A agressividade é entendida como sendo uma propensão para assumir uma conduta real que tem por objectivo causar malefícios a outrem (Laplanche & Pontalis, 1970), ganhando forma através de insultos e de agressões físicas com a intenção de provocar sofrimento e constrangimento na vítima em questão. É a agressividade que está na base dos conflitos gerados durante e após o consumo de álcool. Assim, o individuo que consome bebidas alcoólicas sente-se mais descontraído agindo sem reflectir. Consequentemente, torna- se mais conflituoso e agressivo e esta agressividade conduzi-lo-á a envolver-se em condutas impróprias, das quais surgem comportamentos violentos. Importa referir que a violência e a agressividade são distintas. A violência está relacionada com as imagens que nos são apresentadas diariamente pelos meios de comunicação: roubos, atos ilícitos, vandalismo, que não podemos prevenir e desconhecemos o local e o momento em que ocorrerá (Ferrari, 2006). A agressividade é uma característica que resulta da nossa personalidade, está presente na nossa constituição como seres humanos e é dependente da nossa relação com o outro e com os objectos que nos rodeiam. A agressividade é um traço da nossa personalidade, no entanto muitos conseguem atenua-la (Freud & Lacan, s/d, cit. In Ferrari, 2006). 2. Fatores de risco e de proteção para o consumo de álcool O risco assume-se como resultado de uma decisão consciente perante determinada situação que pode conduzir à perda ou ao dano físico, material e psicológico (Schenker & Minayo, 2005). Este implica perigo, mas apresenta-se apenas como ameaça e possibilidade deste último ocorrer (Giddens, 1991). Os factores de risco apresentam um carácter dinâmico, pois resultam da interacção dos indivíduos, da qual podem surgir manifestações problemáticas (Davies & Cummings, 2006). Por outro lado, os factores de proteção, que também possuem carácter dinâmico, permitem ao indivíduo, apesar de exposto ao risco, não ser influenciado e evitar condutas erróneas (Milkman & Wanberg, 2004). De ressaltar, que os factores de risco e de protecção formam variáveis independentes, pois não existe um regime de complementaridade entre eles (Jessor, Van Den Bos, Vanderryn, Costa & Turbin, 1995). Deste modo, os fatores de risco conduzem a condutas conflituosas e os factores de protecção permitem ao individuo afastar-se de situações problemáticas, possibilitando um maior
  • 7. domínio pessoal e social (Jessor, Turbin & Costa, 1998). Importa especificar de que forma os factores de risco e proteção influenciam o individuo a nível pessoal e social e a sua conduta. 2.1.Fatores de risco para o consumo de álcool e comportamentos violentos Entre os factores de risco para o consumo de álcool e comportamentos violentos estão os factores biológicos, que estão interligados com aspectos hereditários e constitucionais. Não existe uma relação genética estreita, mas uma predisposição fisiológica ao consumo de álcool, que se traduz numa maior tolerância gastrointestinal ao álcool e numa maior ou menor sensibilidade ao álcool. Os fatores psicológicos que se apresentam através da vulnerabilidade psicológica e dos modelos de aprendizagem. Entenda-se vulnerabilidade psicológica como maior ou menor risco para o consumo de álcool em função da personalidade do indivíduo e das suas atitudes face ao ato de beber, bem como com as suas estratégias para resolver situações de stress e de dificuldade. E os modelos de aprendizagem representam a influência que os familiares exercem sobre o individuo, eles assumem um papel decisivo, pois são os primeiros modelos que a criança utilizará nas suas acções futuras. Por último, os factores sociais que assumem uma vertente sociocultural. O consumo de álcool surge geralmente associado à aceitação social, ou seja, o indivíduo consome substâncias alcoólicas para se integrar em determinado grupo social e a sua dependência alcoólica também não é vista pela sociedade como algo nefasto, na medida em que é um comportamento normativo e naturalmente aceite. De igual forma, a disponibilidade do álcool, o seu baixo custo e a falta de restrições ao seu consumo funcionam como factores determinantes para o consumo generalizado e muitas vezes patológico da substância (Echeburua, 2002). Segundo Loeber e Farrington (2000) existem ainda os factores de risco ambientais dos quais fazem parte a presença de delinquência ou de consumo de drogas nos pais, práticas educativas erróneas, supervisão insuficiente, falta de comunicação e negligência, escassez de recursos socioeconómicos, com pais desempregados, família numerosa ou reduzido nível educacional dos pais, abuso por parte destes, frequente mudança de cuidadores e desacordo entre as figuras parentais sobre as práticas educativas. São diversos os factores de risco que conduzem ao consumo de álcool excessivo e, inevitavelmente, ao aumento de comportamentos violentos e a práticas delituosas entre jovens e adultos. 2.2. Fatores de protecção para o consumo de álcool e comportamentos violentos Dos factores de protecção para o consumo de álcool e comportamentos violentos fazem parte os factores biológicos/genéticos que estão relacionados com a elevada inteligência do
  • 8. indivíduo que lhe permite defender-se de influências negativas e não se envolver em práticas problemáticas e nefastas. Fatores relacionados com a personalidade e temperamento e que se traduzem na elevada vinculação, ou seja, ligação forte com grupos de pares de influência positiva, aquisição de valores pró-sociais e elevada auto-estima. Fatores decorrentes do comportamento que se reflectem em bons resultados obtidos a nível profissional, na adesão a actividades convencionais, na rejeição de condutas desviantes e interesse e dedicação pela actividade profissional desempenhada. Fatores sociais que incluem modelos normativos, pais e pares pró-sociais, acesso a oportunidades e expectativas de futuro que conduzem o indivíduo a preocupar-se com o seu desempenho e atitudes, bem como com o seu sucesso a nível pessoal e social. Por último, fatores ambientais como acesso a oportunidades de aprendizagem, valores pró-sociais, harmonia familiar e boa relação familiar, vínculo à profissão desempenhada, sentimento de pertença ao local de trabalho, pertença a atividades e grupos organizados e estimulantes, transmissão de valores convencionais por aqueles que nos rodeiam, sucesso e adaptação e boas interacções sociais, sendo que estas características devem verificar-se desde logo, no espaço escolar, entre os jovens, de forma a prevenir precocemente o consumo e aquisição de substâncias nocivas ao individuo, bem como de forma a prevenir e a reduzir a afluência de comportamentos violentos (Jessor, 1991). No que se refere aos factores ambientais a família ocupa um lugar de relevo, considerando-se como factores de protecção a existência de relações consistentes e vinculativas com os pais, a supervisão e a atenção por parte daqueles (Hirschi, 2002), e a existência de apoio social com acesso a oportunidades educacionais, sendo fundamental a harmonia familiar (Hawkins, Catalano & Miller, 1992). Deste modo, os factores de protecção estão profundamente ligados ao processo de socialização do indivíduo e ao modo como interage com os grupos de pares. Conclusão Em suma, o consumo de álcool e os comportamentos violentos estão inteiramente relacionados, na medida em que as substâncias alcoólicas permitem ao individuo se desinibir e tornam-no mais propenso a envolver-se em conflitos. Existem contudo factores de risco e de protecção para o consumo de álcool e comportamentos violentos que, por sua vez, influenciam o individuo durante o seu percurso de vida e aquando do seu processo de socialização. Os factores de risco conduzem o individuo a envolver-se em situações problemáticas e comportam consequências nefastas à sua vida, enquanto os factores de protecção afastam o indivíduo de comportamentos desviantes e permitem-lhe uma conduta idónea.
  • 9. De salientar que, devido ao número crescente de dependentes de álcool, é urgente atuar sobre esta problemática que assume uma presença constante na nossa sociedade e procurar junto dos jovens reduzir esta dependência através de alertas e da prevenção. Desta forma será possível a minorar as consequências provocadas pelo consumo excessivo de álcool e atenuar os comportamentos violentos. Referências bibliográficas Anderson, P., Baumberg, B., McNeill, A. (2006). Alcohol in Europe - a public health perspective: a report to the European Commission. London: Institute of Alcohol Studies. Cardoso, C. (2001). «Droga» Um problema de saúde pública. Porto, Volume III nº 4 Julho /Agosto. Coid, J., 1986. Alcohol, rape and sexual assault. In: Alcohol and Aggression (P. F. Brain, org.), pp. 161-183, London: Croom Helm. Davies, P., & Cummings, M. (2006). Interparental discord, family process, and developmental psychopathology. In D. Cicchetti, & D. Cohen (Eds.), Developmental psychopathology. Risk, disorder, and adaptation (pp. 86-128). Oxford: John Wiley and Sons. Doron, R. & Parot, F. (2001). Dicionário de psicologia (Gabinete de Tradução da Climepsi, Trad.). Lisboa, Climepsi. (Original publicado em 1991). Echeburua, E. (2002). Abuso de álcool. Madrid, Sintesis. Fagan, J., 1990. Intoxication and aggression. In: Drugs and Crime (M. Tonry & J. Q. Wilson, eds.), pp. 8-43, Chicago: Chicago University Press. Fagan, J., 1993. Drugs, alcohol and violence. Health Affairs, 12:66-79. Fernandes, M., S. & Teixeira, Z. (2006). Alcoolismo, comportamentos de risco e doenças sexualmente transmissíveis. In: Boletim de Alcoologia, 1 (3), pp. 4-15. Ferrari, I. (2006). Agressividade e Violência. Psic. Clin., Rio de Janeiro, Vol.18, N.2, P.49 – 62, 2006. Giddens, A. (1991). Modernity and self-identity. Oxford: Blackwell Publishing. Hawkins, J., Catalano, R., & Miller, J. (1992). Risk and protective factors for alcohol and other drug problems in adolescence and early adulthood: Implications for substance abuse prevention. Psychological Bulletin, 112 (1), 64-105. Hirschi, T. (2002). Causes of delinquency (With a new introduction by the author). New Jersey: Transaction Publishers.
  • 10. Jessor, R. (1991). Risk behavior in adolescence: A psychosocial framework for understanding and action. Journal of Adolescent Health, 12, 597-605. Jessor, R., Van Den Bos, J., Banderín, J., Costa, F., & Turbin, M. (1995). Protective factors in adolescent problem behavior: Moderator effects and developmental change. Developmental Psychology, 31 (6), 923-933. Laplanche, J. & Pontalis, J. (1970). Vocabulário de Psicanálise. Lisboa: Edições Moraes. Loeber, R., & Farrington, D. (2000). Young children who commit crime: Epidemiology, developmental origins, risk factors, early interventions, and policy implications. Development and Psychopathology, 12 (4), 737-762. Mello, M. et al (2001). Álcool e Problemas ligados ao álcool em Portugal. Lisboa: DGS. Milkman, H., & Wanberg, K. (2004). Criminal conduct and substance abuse treatment for adolescents: Pathways to self-discovery and change. The providers guide. London: Sage. Minayo, M. C. S & Deslandes, S. F. (1998). A complexidade das relações entre drogas, álcool e violência. Cad. Saúde Públ., Rio de Janeiro, 14 (1):35-42, jan-mar, 1998. Niemela, S. et al. (2006). Childhood predictors of drunkenness in late adolescence among males: a 10/year population - based follow – up study. In: addiction, 101 (4), pp. 512-521. Nunes L. & Jólluskin, G. (2010). Drogas e Comportamentos de Adição. (2ºed.) – Um Manual para Estudantes e Profissionais da Saúde. Porto, Edições Universidade Fernando Pessoa. OPAS (Organização Panamericana de Saúde), 1993. Resolución XIX: Violência y Salud. Washington: OPAS. (mimeo.) Pichard, J. & Payne, J. (2005). Alcohol, drugs and crime: a study of juvenils in detention. Camberra, Autralian Institute os Criminology. Schenker, M., & Minayo, M. (2005). Factores de risco e de protecção para o uso de drogas na adolescência. Ciências e Saúde Colectiva, 10 (3), 707-717. Secades, R. (2001). Alcoholismo juvenil. Prevención y Tratamiento. Madrid: Ediciones Pirámide. Seibel, S. D. (2001). Álcool. In: S.D. Seibel e A. Toscano Jr. Dependência de Drogas. São Paulo, Editora Atheneu, pp. 51-61. Schuckit, M. A. (1998). Abuso de álcool e drogas (J. Almeida, Trad.). Lisboa, Climepsi. (Original publicado em 1995). UNODCCP – United Nations Office for Drugs Control and Crime Prevention (2000). World Drug Report 2000. New York: Oxford Press. Disponível em: http://www.undcp.org.adhocworld_drug_report_2000/report.html.