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Peça de Teatro – O Príncipe Nabo.
Cenários: 1º Sala do trono 2º Salão azul; 3º Casinha humilde do músico
António 4º Sala de festas do castelo do príncipe Austero da Mailândia.
Aurora –
Carolina –
Lucas –
Cozinheiro –
Marechal da Corte
do castelo da Abundância –
Mademoiselle, Marquesa
de Fanfaronnade –
Rei do Castelo da Abundância –
Princesa –
Damas de Honor –
Príncipe Ali-Gato –
Príncipe Partmupescoço de Bonaco –
Príncipe Austero ou Nabo da Nabolândia ou Músico António –
1ª Rapariga –
O Rapaz –
Bobo –
Marechal da Corte do Palácio do Príncipe Austero –
2ª Rapariga –
3ª Rapariga -
2º rapaz –
4 rapariga -
Zézé e Necas ( Matias e António).
Primeiro Acto
A Sala do Trono: um tapete, cortinados pesados, algumas cadeiras, móvel carregados
de bibelots, um jarrão. O retrato do rei na parede, um espelho. No centro, o trono
AURORA – (A limpar o jarrão com um espanador) – Hoje é que vai ser. Estou
ansiosa por saber o que irá acontecer. Vou espreitar pelo buraco da fechadura…
“ Não devemos perder os momentos históricos” costuma dizer o rei… ( ri-se…)
CAROLINA – Será um momento histórico… se acontecer. Lembra-te que já é a
sexta vez que mandam cá vir carradas de príncipes para casarem com a
princesa.
AURORA – Depois de casar será um príncipe consorte…
CAROLINA – Com sorte… casar com esta princesa? Não sei se será uma sorte!
AURORA – Que má língua tu és!!
CAROLINA – Ora essa, eu só repito o que toda a gente diz. Aliás, sorte tem a
princesa porque os pretendentes aparecem-lhe em casa, ela nem precisa de
procurar. Já as raparigas como nós têm de correr quilómetros, fazer sinais de
luzes, sinais de fumo e homens para casar nem vê-los… (Suspira) Ai, Ai, vida de
pobre!
LUCAS – Tu não nasceste princesa, nem tens castelo nem fortuna!
AURORA – Será que algum dos pretendentes de hoje lhe irá agradar?
LUCAS – Não me parece, Príncipes como ela quer, não existem neste mundo. Ou
são gordos, ou são magros, pequenos, altos de mais…
CAROLINA – Ou então loiros de mais, morenos de mais…
AURORA – Ela quer um príncipe perfeito…
LUCAS – Um príncipe perfeito… eu já sirvo neste castelo há tantos anos e nunca
vi nenhum. Afinal, todos temos falhas sejam príncipes sejam empregados. Eu
por exemplo…
CAROLINA – És magro de mais.
LUCAS – Pronto, lá está!
(Aparece o cozinheiro)
AURORA – E o cozinheiro é gordo de mais.
COZINHEIRO - (ofendido) – Estás a falar a sério, Aurora?
AURORA – Não faças beicinho, rapaz. Bem sabes que gosto de ti ( faz-lhe uma
festinha na cara). Eu não sou tão difícil de contentar como a princesa Beatriz…
( Entra o Marechal da Corte)
MARECHAL DA CORTE – Então no bate papo, hein? e a sala por limpar! ( os três
põem-se de imediato a trabalhar. O Marechal da Corte espreita para todos os cantos,
passa o dedo sobre o móvel e depois sobre o jarrão). Hum! Carolina, torna a
espanar este jarrão, está cheio de pó. E tu, cozinheiro, que andas por aqui a
fazer? Se não me engano o teu lugar é na cozinha. Estou a ver que hoje não
vamos ter o jantar pronto a horas, seu mandrião!
COZINHEIRO – O senhor Marechal da Corte pode estar sossegado, da minha
parte está tudo pronto. Logo que a princesa escolha o seu príncipe consorte, V.
Ex.ª há-de comer o mais saboroso, o mais delicioso jantar da sua vida…
MARECHAL DA CORTE – ( sôfrego) – Diz lá, diz lá!
COZINHEIRO – Canja de galinha, lagosta ao natural, salmão cozido, arroz à
valenciana, peru recheado, veado estufado, vitela assada, pudim francês, torta
de morangos, salada de ananás, petit gateau…
MARECHAL DA CORTE ( a laber os beiços) – Petit gateau!! Ai minha Nossa
Senhora! Petit gateau!... Mas que estão vocês a fazer? Todos pasmados, a olhar
para mim… não se olha assim para um Marechal da Corte, cambada de
preguiçosos…toca a ir trabalhar… Petit gateau ( para o público) – Tomara eu que
que tudo se resolvesse hoje…mas a princesa é capaz de estragar os meus
lindos planos mais uma vez…Isso já aconteceu cinco vezes. Eu, pobre de mim,
fico com o estômago a dar horas.
( Entra a velha Mademoiselle, a Marquesa de Fanfaronnade.)
MADEMOISELLE (carregando nos rr) – O que aconteceu, Marechal da Corte?
Porquê essa cara tristonha? Outra vez mal do estômago?
MARECHAL DA CORTE – Pelo contrário, sinto-me até muito bem.
MADEMOISELLE –Muito bem? Quer dizer que não tem fome?
MARECHAL DA CORTE – Minha estimada Mademoiselle e Marquesa de
Fanfaronnade, por favor, não use termos tão banais. Se tenho fome? Por acaso
sou um mísero criado? Esses é que têm fome. Eu, quando muito, tenho apetite.
Compreendeu Mademoiselle? Constou-me que nos vão servir ao jantar trutas e
salmão. E petit gateau… Isto é, se houver jantar.
MADEMOISELLE – Haverá jantar se a princesa aceitar um dos pretendentes.
MARECHAL DA CORTE – ( suspirando) Deus queira que sim! Afinal a princesa
quer casar-se com um príncipe ou com um homem qualquer?
MADEMOISELLE ( indignada porque percebeu que o Marechal queria que a princesa
casasse com um homem qualquer) – Senhor Marechal da Corte, como se atreve?
Casar com um homem qualquer? A nossa princesa Beatriz? O senhor perdeu o
juízo. Está aflito por causa dos petit gateau? Decerto não quer que a princesa
aceite o primeiro homem que lhe apareça só para regalar o estômago?!
MARECHAL DA CORTE ( Levando as mãos à cabeça) – O quê? O primeiro que lhe
apareça??? Essa é boa! A princesa já desprezou trinta príncipes… é demais,
deve concordar…
MADEMOISELLE – Trinta? Isso não é nada! A princesa Beatriz é sobrinha da
famosa princesa Não-me-toques… é finíssima, chiquérrima… seria pecado casar
com alguém que não a mereça!
MARECHAL DA CORTE –Olhe, nesse caso, o melhor é a Mademoiselle ir
procurar um príncipe à Disney. Oxalá o encontre lá, oxalá! Eu não consigo
encontrar mais nenhum, bonito ou feio.
MADEMOISELLE – Há pessoas que acham o senhor Marechal inteligente,
brilhante mas é uma verdadeira fraude! ( Ouvem-se passos. Entra o rei. Os dois
fazem uma vénia.)
REI – Tudo em ordem, senhor Merechal da Corte?
MARECHAL DA CORTE – Tudo em ordem, Majestade.
REI – Quantos príncipes se apresentam hoje?
MARECHAL DA CORTE – Três, Majestade.
REI – Só três??
MARECHAL DA CORTE – Infelizmente, majestade, foi só o que consegui. Se a
princesa Beatriz não se resolver desta vez, não sei o que hei de fazer…só se
arranjar um de barro!!
MADEMOISELLE – “Ridicule”, perfeitamente “ridicule”!
MARECHAL DA CORTE – Ridícula é a senhora, Marquesa de Fanfaronnade. Não
sabe nada do mundo real. Anda a sonhar com o príncipe da Bela Adormecida e a
chupar rebuçados e a falar frrrancês( carrega nos rr)
REI – Basta! Como se atrevem a discutir na minha ilustre presença?
Mademoiselle, não se meta nos assuntos do Estado, contratei-a apenas para
educar a minha filha. Faça o favor de se retirar, vá mas é ajudar a princesa.
( magoada, a Mademoiselle faz uma vénia e retira-se)
REI – Então, senhor Marechal da Corte, quem são os pretendentes de hoje?
MARECHAL DA CORTE ( tira de uma pasta uma folha de papel e lê em voz alta) –
Sua Majestade o Príncipe Ali Gato, da terra dos Trinta Mil Habitantes( rei
interrompe alertando que é alérgico a gatos); Sua Alteza o Príncipe Partmupescoço,
da terra do Bonaco; Sua Alteza o Príncipe Austero, da terra da Mailândia.
REI – ( suspirando)- Ummm, Material fraco, senhor Marechal da Corte. Príncipes
sem tradições, sem um passado grandioso, sem fortunas notáveis. O melhor
dos três ainda é o Austero. Não que possua um castelo muito grande, mas ao
menos tem fama de bom homem. Oxalá a princesa escolha bem, que se decida
hoje!
MARECHAL DA CORTE – Totalmente de acordo, Majestade, também é esse o
meu desejo! Já se desperdiçaram seis jantares de noivado…
REI, (severo) – Senhor Marechal da Corte, é por causa dos jantares que o senhor
aprova o meu desejo?
MARECHAL DA CORTE – Por amor de Deus, não pense isso deste seu humilde
servidor, Majestade. Aprovo o seu desejo porque as festas são muito caras.
Estou a pensar na prosperidade do Reino e na felicidade da princesa…
REI – Bem, bem. E quero que saiba, senhor Marechal da Corte, se a minha filha
não se decidir hoje vou castigá-la severamente. Estou farto disto.
LUCAS ( Entra e faz uma vénia) – Saiba vossa Majestade que chegaram os três
príncipes ilustres.
REI – Que entrem para o salão azul e façam o favor de esperar uns momentos.
( O Lucas sai às arrecuas, inclinando-se várias vezes.)
REI – E a si, senhor Marechal da Corte, peço-lhe que chame a minha filha.
( O Marechal da Corte inclina-se e sai)
REI – (para o público) – Acreditem. Estou cansado de tudo isto. Quem me dera
que isto se decida para eu poder ir à pesca e logo com um tempo tão bonito!
(sai)
( Mudança de cenário – Sala Azul: Entram a princesa Beatriz, a Mademoiselle, duas
damas de honor e o Marechal da Corte. O rei chegara antes e já se encontrava
sentado no trono.)
PRINCESA – Meu pai, mandou chamar-me? Alguma novidade?
REI – Não te faças de desentendida, Beatriz. Bem sabes do que se trata. Senhor
Marechal da Corte, mande entrar os príncipes. Um de cada vez.
( A princesa senta-se ao lado do rei. Mademoiselle coloca-se de pé ao seu lado e as
damas de honor vão para detrás da princesa. A princesa e a Mademoiselle abanam-se
com leques.)
PRINCESA – ( Em voz baixa para a Mademoiselle) – Vamos ter um espectáculo tão
divertido. ( ambas riem à sucapa)
REI – ( que ouviu tudo) – Acabem com essas parvoíces! Ouve bem Beatriz, se
hoje zombares dos príncipes, que vieram de muito longe por tua causa, a festa
irá acabar muito mal para o teu lado!
PRINCESA ( com ar de gozo) – Meu pai, o que pensa de mim? Então não me hei
de portar bem diante dos ilustres príncipes que desejam casar comigo? Eu, uma
princesinha tão modesta e sossegada… Fique descansado, não se preocupe,
sou bem educada e sei como devo proceder…
REI – Oxalá, minha filha!
( A princesa sorri para a Mademoiselle. Ambas escondem os rostos por detrás dos
leques. Surge o Marechal da Corte)
MARECHAL DA CORTE ( em voz alta) – Sua Alteza o príncipe Ali-Gato, da terra
dos Trinta Mil Habitantes!
( O príncipe entra. É muito alto e magro. Inclina-se diante do rei e da princesa.)
PRÍNCIPE – Desejo a Vossa Majestade e à princesa Beatriz uma muito boa tarde
e permito-me oferecer à bela princesa esta prenda insignificante e indigna dos
seus encantos.
( A princesa pega no embrulho e atira-o com indiferença para a Mademoiselle, que o
abre cheia de curiosidade. Tira um espelho de cabo doirado e admira-se nele.)
PRINCESA ( Examina, entretanto, o príncipe Ali-Gato dos pés à cabeça e, por fim, dá
uma gargalhada) – Ai que alto que ele é, parece a torre da igreja! E magro como
um bacalhau! Seja bem-vindo, príncipe da Torre de Bacalhau.
MADEMOISELLE – Delicioso, princesa, delicioso!
Príncipe ( recua, surpreendido, aterrorizado) – Majestade, eu…mas eu…ora essa…
é um atrevimento…
REI – ( Irritado) – Basta Beatriz, Basta! O príncipe tem razão, é um atrevimento.
Perdoe-me, príncipe Ali-Gato, pode acreditar que o estimo e lamento que a
minha filha tenha sido tão desagradável…
(O Marechal da Corte conduz o príncipe Ali-Gato, delicadamente, pelo braço, para
fora)
REI ( Bate com o punho sobre o braço da cadeira do trono.) – Tem cautela Beatriz.
Eu avisei-te. E torno a avisar-te. Não te perdoarei…
MARECHAL DA CORTE – Sua Alteza, o príncipe Partmupescoço do Bonaco!
( O príncipe entra. É redondinho e corado. Inclina-se diante do rei e da princesa)
PRÍNCIPE ( De um jeito patético) – Muito boa tarde, Majestade. Muito boa tarde
princesa Beatriz, cuja Beleza deslumbra os meus olhos e por onde passa até a
relva cresce. Posso oferecer-lhe esta prendinha muito modesta?
( A princesa recebe o embrulho e atira-o com indiferença para a Mademoiselle, que o
abre, cheia de curiosidade. Tira um colar de pérolas, põe-no no pescoço e mira-se ao
espelho)
PRINCESA ( Examina, entretanto, o príncipe Partmupescoço dos pés à cabeça e, por
fim, dá uma gargalhada) – Ai que ele é tão rechonchudo! E tão coradinho, parece
um pudim de morangos! Seja bem-vindo, príncipe Pudim de Morangos!
MADEMOISELLE – Delicioso, princesa, delicioso.
Príncipe ( recua, aterrorizado e diz, furioso mas no seu tom patético) – Princesa,
saiba que eu sou o famoso príncipe Partmupescoço. Nunca ninguém me
ofendeu, nunca fui insultado por ninguém. A princesa foi a primeira pessoa a
zombar de mim, do príncipe de Bonaco… ( O rei e o Marechal da Corte põem as
mão à cabeça)
PRINCESA ( Dando uma gargalhada) – O príncipe Pudim de Morangos nunca foi
insultado por ninguém. Ouviu, Mademoiselle, ouviu?
REI – Cala-te! Estás a ir longe de mais com as tuas brincadeiras. Perdoe-me,
príncipe Partmupescoço, eu estimo-o muito, lamento que a minha filha tenha
sido tão inconveniente.
PRÍNCIPE – Nunca mais hei de pôr os pés neste castelo, vai-se arrepender de
não ter casado com um homem lindo e jeitoso como eu… ( Sai apressadamente
acompanhado pelo marechal da Corte)
PRINCESA – ( bate palmas) – Bravo! Assim é que eu gosto dos meus
pretendentes…de costas! Ah! Ah!Ah!
(Surge o Marechal da Corte…)
MARECHAL DA CORTE – Sua Alteza o príncipe Austero da Mailândia!
( Entra o príncipe. Tem boa aparência, mas o seu queixo é muito comprido. Inclina-se
diante do rei e da princesa.)
PRÍNCIPE – Boa tarde a si sua Majestade e à jovem princesa Beatriz.
PRINCESA ( Examina-o detalhadamente. Acaba por reparar-lhe no queixo) – Ora
vejam! Tem um queixo tão comprido que parece um nabo. ( Desata a rir) –
Mademoiselle, sabe quem ele é? O príncipe Nabo da Nabolândia!
Príncipe ( encara corajosamente a princesa de frente) – Ah, é verdade, quase me
esquecia, trouxe uma prenda, bela princesa Beatriz. Uma prenda insignificante
para uma princesa com uma fantasia tão rica. E agora, desejo muita felicidade a
toda a gente neste castelo. ( Vira-se para sair)
REI – Espere um momento, ilustre príncipe Austero! Quero que aceite as minhas
desculpas pela indelicadeza da minha filha. ( entretanto, a princesa atirou o
embrulhinho à Mademoiselle, que perplexa o abriu tirando uma palmatória…)
- E agora para ti, minha filha, já que nenhum dos príncipes que cá vieram te
agradou por terem defeitos, resolvi oferecer-te ao primeiro homem que apareça
a partir de agora na porta do castelo, seja pobre ou rico…
( O príncipe inclina-se e abandona a sala. A Mademoiselle e as damas de honor
mostram-se indignadas)
Mademoiselle e as damas de honor – Vossa Majestade não pode….
REI – Posso sim, minhas senhoras. Vão ver se não posso.
PRINCESA – Não se preocupem, eu conheço o meu pai, ele não está a falar a
sério. Seria lá capaz de me fazer casar com um músico pobre ou com um
pedinte! (O rei levanta-se e prepara-se para sair. Entretanto entra o Lucas)
LUCAS – (Inclinando-se) – Majestade, devo informá-lo que está um pobre músico
que pede para o deixarem entrar) ( A princesa tenta sair mas o rei segura-a pela
mão)
REI – Não fujas, minha pombinha, não fujas. Uma cançãozinha não te vai fazer
mal, pois não?
(Muito aborrecida a princesa torna a sentar-se, tal como o rei. Entra o músico pobre
com uma viola. Inclina-se diante do rei e da princesa.)
MÚSICO – Desejo uma boa tarde a vossa Majestade e a vossa Alteza a princesa
Beatriz. Peço humildemente que me dediquem uns momentos de atenção e de
paciência.
Rei –Canta, bom músico, canta! Estamos ansiosos por te ouvir. (O músico toca a
viola e canta..)
Havia em tempos uma donzela
No Castelo da Abundância,
Era jovem e muito bela
Mas um poço de arrogância.
Desprezava, trocista e vaidosa
Os príncipes à sua procura.
Mas o tempo não pára
E ela acabou por ficar só.
Sentada no trono, chorava,
Já velha e abandonada
E em pedra se transformou
Há pouco, ainda lá se via,
No Castelo da Abundância,
Uma estátua solitária e fria
Símbolo da vaidade e da arrogância.
REI – Bravo, Bravo!! Bela canção. Não achas Beatriz?
PRINCESA – Já ouvi canções mais bonitas ( boceja…)
MÚSICO – Majestade quer ouvir mais alguma?
REI – Não, cá por mim fiquei satisfeito com o que ouvi. A minha filha terá
oportunidade de as ouvir todas, na sua casinha…
PRINCESA - Meu pai! Por favor, não!
MADEMOISELLE – Vossa Majestade, isto é perfeitamente incrível, ridicule,
ridicule…
DAMAS DE HONOR - Isso não, isso não!
MARECHAL DA CORTE - Vossa Majestade, não estará a exagerar??
MÚSICO – Mas…então…Vossa Majestade quer dizer que…
REI – Que lhe dou a minha filha como esposa em recompensa pela sua linda
canção.
MÚSICO – Que grande honra, Majestade, que grande honra!
REI, (com um gesto com a mão) – Leve-a já. Preciso urgentemente de sossego.
Amanhã vou à pesca…
( A princesa tenta fugir, mas o músico segura-a com mão firme!)
MÚSICO – Onde vais minha linda princesa? Seria uma pena se me fugisse, pois
não é todos os dias que me oferecem uma esposa tão ilustre.
PRINCESA – Meu pai, meu querido paizinho, pai justo, o melhor pai do mundo,
não me importo de casar com um dos príncipes que cá vieram. Com um
qualquer, por exemplo aquele do queixo comprido.
REI – Ah, o Príncipe Nabo da Nabolândia? Ora, ora, o músico também tem um
queixo vistoso. Estás bem servida. ( O músico arrasta consigo a princesa…)
PRINCESA – Não quero! Não quero ir! Largue-me! Mademoiselle, ajude-me,
ajude-me…
MÚSICO – Acabaram-se as mademoiselles, Beatriz. Agora vai começar uma nova
vida. Vais gostar tenho a certeza. Muito obrigado Majestade. Até breve!
( Empurra a princesa pela porta fora, ouve-se choro… silêncio e a Mademoiselle
acaba por desmaiar. Entra o Lucas)
LUCAS – O cozinheiro manda perguntar se pode servir o jantar de noivado.
REI – Jantar de noivado? Ele que o atire pela janela. Nunca mais quero ouvir
falar de jantares de noivado (O Marechal da Corte desmaia também..) Agora
deixem-me ir descansar, por favor, amanhã cedo vou à pesca. ( Sai e todos se
inclinam)
FIM DO 1º ATO II ATO
(Seis meses passaram desde que o músico António levou do Castelo da Abundância,
a princesa Beatriz para sua casa. Vemos agora a princesa sentada em frente duma
casinha pobre. Ainda traz o vestido com que saiu da Corte de seu pai, mas sujo… e
com um avental por cima… Está sentada a descascar batatas…)
PRINCESA – Coitada de mim! O que me foi acontecer…. Tenho as mãos todas
estragadas. Nunca pensei que a vida de pobre fosse tão dura. Tenho de fazer as
camas, lavar roupa, descascar batatas, fazer o almoço, … Nem tenho tempo para
descansar… Que saudades da vida de princesa! Fui muito castigada, podem
acreditar! ( Surge o Músico António e ainda ouviu a parte final do desabafo da
princesa)
MÚSICO – Não sei qual de nós foi mais castigado, princesinha. Eu chego a casa
cansado e tu pouco ou nada fizeste. O rei pregou-me uma bela partida, não há
dúvida.
( observa a princesa a descascar batatas)- Vá lá, ao menos já sabes descascar
batatas…
PRINCESA – António, tens que ter um pouco de paciência comigo! Eu não
estava habituada a trabalhar, os criados faziam-me tudo!
ANTÓNIO ( Dá uma gargalhada) Ora vê lá! Se calhar queres que eu te arranje uma
equipa de empregados para fazer as tarefas aqui da barraca…tem dó…
PRINCESA – ( Começa a chorar) António, não te zangues comigo! Será que já não
me humilhei o suficiente nestes últimos meses?
MÚSICO – Havia em tempos, uma donzela/No Castelo da Abundância/Jovem e
muito bela/ Mas era um poço de arrogância…
PRINCESA - ( interrompe-o) – Oh! Por favor, essa canção não, é tão feia!
Músico – Achas feia? O teu pai gostou muito dela… Bem,… estou farto de
discussão e tenho muita fome. Vou à aldeia comer qualquer coisa num tasco. Vê
la se trabalhas para ganharmos dinheiro… (Sai e aprincesa segue-o com os olhos)
PRINCESA – Lá vai ele e deixa-me ficar aqui sozinha, só por ter dito que achava
a canção feia. Eu não gosto dela porque ela conta a minha história e ela acaba
mal… Mas ele tem de ver que eu já mudei um bocadinho…
(Entram 4 raparigas, um rapaz e um bobo)
RAPARIGA 1 – Esta casinha é de quem?
O RAPAZ – Do músico António. Alugou-a há uns meses e trouxe para cá aquela
beleza! ( aponta para a princesa).
A RAPARIGA 4 – Coitada, não tem jeitinho nenhum para a vida doméstica…
O Bobo - Olhem para ela, trabalho rápido e perfeito como as máquinas mais
modernas, a motor.
( Riem e aproximam-se da princesa. Zézé espreita para dentro da coelheira cheio de
curiosidade.)
ZéZé – Lindos coelhinhos! Deixa ver se tenho uma cenoura. (Remexe nos seus
bolsos profundos e tira uma cenoura e atira-a para a coelheira. Bom apetite, !
Sobe para cima de um banco e espreita para dentro de casa)
Necas – Ricos coelhos,… estufadinhos…era de comer e chorar por mais!!!
RAPARIGA 2 – Como te chamas? ( falando para Beatriz)
PRINCESA - Beatriz.
O RAPAZ - ( No gozo) – Lindo nome!!
RAPARIGA 2 – De onde vieste?
PRINCESA - De longe. Da terra do rei do Castelo da Abundância.
O BOBO – Mas a abundância era só para o rei e não para as meninas que se
chamam Beatriz, embora seja um lindo nome!(Volta a espreitar para dentro da
casa)
RAPARIGA 3 – E lá na tua terra não aprendeste a trabalhar?
PRINCESA – Não, não aprendi….
O BOBO – Olha que sorte, querem ver que ela frequentou a Universidade?
O RAPAZ – O que é que aprendeste a fazer lá na tua terra?
PRINCESA – Aprendi a falar francês, a tocar piano e a pintar flores. ( Desatam a
rir, o bobo até se rebola no chão)
O RAPAZ – Ouviram? Uau, ela sabe falar francês e tocar piano e pintar flores,
que chique!!
O BOBO – ( fazendo vénias diante da princesa) – Madame, estimada Madame, oui,
oui! Mais non, bonjour, bon soir, au revoir… é uma senhora muito fina que casou
com um músico também muito fino.
RAPARIGA 1 – Anda, fala lá um bocadinho de francês para a gente ouvir!
PRINCESA – ( Desesperada) O que querem de mim? Por que não me deixam em
paz? Fiz-lhes algum mal?
O BOBO – “ Mais non, madame, mais non” . Mas onde está o piano? Não o vi
dentro de casa. A madame vive numa casa de luxo… falta só o piano. Talvez não
caiba lá dentro e a madame anda com ele às costas. Deixa-me cá ver ( examina
as costas da princesa)
( Os três põe-se a dançar à volta dela) - “Fala francês, monsieur, madame, pinta
florinhas com perícia, toca piano, esta donzela é uma delícia, oui monsieur, nom
madame, bonjour, bom soir, au revoir, ”
Músico – Então, arranjaste amigos?
A RAPARIGA 2 – Ela diz que fala francês, toca piano e pinta flores!
O RAPAZ – É muito fina esta madame!
O BOBO – E tem um jeitão para trabalhar! Parece uma máquina a motor… Não
há dúvida, é uma madame, oui monsieur…
Músico – Parem com isso, não gozem com ela, vão para vossas casas, está a
escurecer.
OS TRÊS ( fazem uma grande vénia) – Boa noite, madame, boa noite monsieur!
O BOBO – Bonne nuit! Au revoir! ( risos)
MÚSICO – (entregando um tacho à princesa) – Anda, come. É arroz. ( A princesa
senta-se e põe-se a comer esfomeada) - Tiveste mesmo azar ao casar comigo que
não te posso dar uma boa vida. Olha, quem teve sorte foi a noiva do Príncipe
Nabo da Nabolândia…
PRINCESA – A noiva do Príncipe Nabo? Mas… ele vai casar?
MÚSICO – Vai, depois de amanhã, Contaram-me lá na aldeia.
PRINCESA – Quem é a noiva?
Músico – Ninguém sabe. Dizem que é de longe. Ele demorou seis meses a
encontrá-la. Mas tu é que podias ter casado com ele??
PRINCESA – Pois podia…
MÚSICO – Mas achaste-lhe o queixo muito comprido!!!! ( A princesa suspira) e
acabaste por casar com um marido que também tem um queixo comprido, só
que numa versão pobre…
PRINCESA – Eu acho-te um homem bonito, António.
Músico – A minha mulher acha-me bonito, até me fazes corar! Ah! Outra
novidade…
PRINCESA – Outra?
MÚSICO – Na aldeia fiquei a saber que o Príncipe Nabo, isto é, o Príncipe
Austero precisa de uma ajudante de cozinha e tu até descascas bem as batatas.
Eu fui ao castelo inscrever-te e eles aceitaram-te. Começas amanhã…
PRINCESA – Eu? Descascar batatas? No Castelo do Príncipe Austero?
MÚSICO – Deixa-te disso, o dinheiro que vais ganhar faz-nos muito jeito e de vez
em quando podes trazer uns petiscozinhos aqui pró teu maridinho…
PRINCESA – Não sei se serei capaz, tenho medo!
MÚSICO – Claro que és capaz, o trabalho não será tão duro como aqui em casa.
Vá lá coragem!
PRINCESA – António, será que algum dia me transformarei numa estátua fria???
MÚSICO – Acho que não mas isso dependerá de ti… ( saem de cena…)
Fim do 2º Ato/ Início do 3º Ato
Sala de festas no Castelo do Píncipe Austero da Mailândia.
Rapariga 1 ( da cena anterior) – O príncipe Austero ainda não chegou. Há mais de
meio ano que se foi embora, para procurar noiva. Parece que já encontrou, foi
difícil encontrar uma que lhe agradasse.
Rapariga 4– E quem é ela, afinal??
Rapariga 3 – Ninguém sabe. Dizem que o príncipe nos quer fazer uma surpresa.
Estou mortinha de curiosidade!
O Rapaz ( da cena anterior) – Eu também estou curioso, deve ser lindíssima.
Cabelo loiro, olhos azuis a brilharem como estrelas….
O BOBO ( Surge de repente interrompendo o rapaz) – E uma pele tão delicada
como a dos pêssegos e uma boca tão vermelha como o vinho tinto e as
mãozinhas tão finas e pequenas como ovos de pomba ( agora com voz grossa) E
uma voz tão grossa como a do lobo que comeu o capuchinho vermelho e as
orelhas tão grandes como as… de um burro…
O RAPAZ – Para lá com os teus disparates, não consegues levar nada a sério.
Aposto que ela é linda como o Sol.
RAPARIGA 2 – És mesmo tolo! Vocês os rapazes acham sempre as princesas
mais bonitas do que as outras raparigas mas o que as torna mais bonitas são
apenas os vestidos ricos. Se eu trouxesse um vestido de princesa vocês até
babavam por mim… ( Entra o Marechal da Corte do príncipe Austero)
MARECHAL DA CORTE2 – Então, a sala está bonita? Sua Alteza deve estar a
chegar de um momento para o outro…
O RAPAZ – E traz a princesa consigo?
2º Rapaz (Diogo) – E ela é bonita?
Rapariga 1 – E eles vêm de automóvel?
O BOBO – Ou de bicicleta? Ou a pé?
MARECHAL DA CORTE 2 - Calma, Calma! Sua alteza não me deu pormenores
mas suponho que traz a princesa. Afinal foi para arranjar uma princesa que ele
saiu daqui há seis meses.
RAPARIGA 3 – O Senhor Marechal da Corte não sabe como ela se chama?
MARECHAL DA CORTE - Já é curiosidade a mais. O príncipe quer fazer-nos um
surpresa e temos de esperar com paciência.
O BOBO – Claro, o senhor Marechal da Corte sabe tudo: de onde ela vem, como
se chama, se é bonita, inteligente, se vem de automóvel ou de bicicleta. Não
quer é estragar a surpresa do príncipe…
MARECHAL DA CORTE – Ó bobo, pareces um realejo, não te cansas de falar. Vai
mas é ajudar nos preparativos para a festa.
Rapaz 2 (Diogo) – ( para o bobo) Quem é aquela?
O BOBO – Olhem quem ela é! A Madame! A ilustre senhora que trabalha como
uma máquina a motor. A senhora que fala francês… Como vai o seu ilustre
marido, o músico da viola? Onde deixou o piano? Então hoje não o traz às
costas? E não nos oferece um quadrinho com flores pintadas? (gargalhadas)
MARECHAL DA CORTE 2 – Silêncio! Silêncio! Tu não és a nova ajudante do
cozinheiro?
PRINCESA – Sou sim, senhor Marechal da Corte. Eu estava para sair mas o meu
marido que há-de vir buscar-me, ainda não chegou…E então pensei que podia,
num instante espreitar para a sala, já que amanhã é o casamento do príncipe
Austero. Gosto muito de ver salas enfeitadas!
Rapariga 4 ( para a princesa) – Sai-me da frente, não vês que estás a atrapalhar?
Desajeitada!
PRINCESA – Vou-me embora…
O BOBO – Oh, querida Madame, não se vá embora tão depressa. Eu adoraria
dançar consigo, só um vez. Orquestra, um samba por favor, para o bobo e para a
Madame! ( o samba começa…e a princesa tenta fugir mas o bobo agarra-a pelo
vestido)
- Não fuja, fofuxa. Sou um bailarino famoso, Marcelino, o bailarino incomparável.
(Arrasta a princesa para o meio da sala e de repente cai um tachinho debaixo do xaile
da princesa. O bobo afasta-se da princesa… quem estava na sala aproxima-se, olham
para o chão e depois para a princesa…)
O BOBO – As surpresas estão a começar!
MARECHAL DA CORTE 2 – Sim senhora, um tachinho com batatinhas e vitela
assada…
PRINCESA (Assustada…) É que… é que… o meu marido, o músico António… Ele
trabalha muito…mas ganha pouco e não podemos comer vitela assada e eu
pensei que se tirasse um tachinho…
MARECHAL DA CORTE 2 – Pois pensaste mal. E se todos os criados pensassem
assim, onde íamos parar? És uma grande atrevida!
1ª RAPARIGA – Ó senhor marechal, tenha dó. O músico António não parece má
pessoa. Conheci-o ontem e é um bonito homem…
1º RAPAZ – E canta bem e sabe tocar viola…
O BOBO – E a Madame toca piano, pinta flores e fala francês. São luxos muito
caros para o músico António. Como quer que ele tenha dinheiro para comprar
carne de vitela?
MARECHAL DA CORTE 2 – Está bem, compreendo. Hoje é dia de festa, não
quero ser severo.
PRINCESA – Obrigada, senhor Marechal da Corte, obrigada.
2ª RAPARIGA – O príncipe!
TODOS – O príncipe!!!
( A princesa foge sem ninguém se aperceber. O príncipe entra de capa larga e de
chapéu. Todos se inclinam)
PRÍNCIPE AUSTERO – Muito boas tardes, minha gente. Espero que tenham
passado bem durante a minha ausência. Está tudo preparado para o casamento
de amanhã?
MARECHAL DA CORTE – Tudo, Alteza. Fez-se o que se pôde, sem grandes
despesas. Oxalá goste do nosso trabalho. Mas, se me permite perguntar – onde
está Sua Alteza, a noiva?
PRÍNCIPE – Um pouco de paciência… a minha noiva não demora… (repara no
tachinho no chão) – Mas que vem a ser isto? ( As raparigas vão
imediatamente limpar…)
MARECHAL DA CORTE 2 – Perdoe-me Alteza. A empregada que contratámos foi
atrevida e roubou um tachito com batatas e vitela e escondeu-o debaixo do xaile,
entretanto, o bobo meteu-se com ela e caiu tudo ao chão. Ela desculpou-se
dizendo que a comida era para o marido que trabalhava muito e não tinham
dinheiro…
PRÍNCIPE – Onde está ela?
3ª RAPARIGA – Fugiu.
1ª RAPARIGA – Deve estar lá fora à espera do músico.
PRÍNCIPE ( Vai até à janela e olha lá para fora) – Será aquela, ali, junto do portão?
(O Marechal da Corte vai até à janela, o bobo também . Os três olham lá para fora.)
MARECHAL DA CORTE 2 - É ela , Alteza.
PRÍNCIPE – Chamem-na! (o 1º rapaz sai para ir buscar a princesa)
2ª Rapariga – Vai castigá-la, Alteza?
O BOBO – Olhe que ela fala francês!! ( Entra o rapaz com a princesa pela
mão)
MARECHAL DA CORTE 2 – Uma vénia, desgraçada! Não vês que estás em
presença do príncipe Austero? ( A princesa faz uma vénia)
PRÍNCIPE – Aproxima-te. (A princesa aproxima-se) Como te chamas?
PRINCESA – Beatriz.
O BOBO – Madame Beatriz!
PRÍNCIPE – Onde moras?
PRINCESA – No Beco Estreito, com o meu marido, o músico António.
O BOBO – No Beco Estreito…numa rua elegante, numa casa catita cheia de
quadros com flores pintadas. O piano como não cabia ela trá-lo sempre às
costas…
PRÍNCIPE – Cala-te bobo! Pára com as patetices… (virando-se para a princesa) –
Gostas de trabalhar no meu castelo?
PRINCESA – Gosto sim, Alteza.
PRÍNCIPE – Então porque roubaste logo no primeiro dia?
PRINCESA – É que…Vossa Alteza compreende.. eu…
PRÍNCIPE – Vamos diz lá, preciso de saber.
PRINCESA – Eram batatas e vitela assada. O meu marido pediu-me: “ Traz um
petisco para mim. Já há muito tempo que não como um bom pedaço de carne
assada”… ( o príncipe desata numa gargalhada. A princesa assustada e
envergonhada, quer fugir.)
PRÍNCIPE – Não fujas, Beatriz. O teu marido com certeza ainda não chegou, e eu
gostava que nos fizesses um pouco de companhia. ( A princesa fica parada no
meio da sala. O bobo põe-se a dançar em volta dela)
2 rapariga – Vamos mas é trabalhar! ( limpam, arrumam…)
PRÍNCIPE - Sr. Marechal o jantar está pronto?
MARECHAL DA CORTE 2 – Quando vossa Alteza quiser.
PRÍNCIPE – E os hóspedes, já chegaram?
MARECHAL DA CORTE 2 – Os primeiros devem estar a chegar. Os aposentos
estão prontos.
PRÍNCIPE – Ótimo. Estou satisfeito!
MARECHAL DA CORTE 2 – Desculpe Alteza, estou preocupado, será que
aconteceu alguma coisa à sua noiva?
PRÍNCIPE – Compreendo a sua preocupação. Eu sem noiva não posso casar…
O BOBO – ( A caminhar como uma mulher a dar às ancas) – Só se sua alteza
quisesse casar comigo…
PRÍNCIPE – ( Dirige-se em direção à princesa. Toma-lhe a mão e diz em voz alta para
todos) – Minhas senhoras, meus senhores, apresento-lhes a minha mulher, a
princesa Beatriz. Na verdade, nós já nos casámos mas foi uma casamento sem
alegria, no frio do inverno. Não foi um casamento bonito e ela não gostava muito
do meu queixo mas parece que já se habituou ao meu aspecto e à minha
maneira de ser.
( O príncipe tira a sua capa e todos – AAHH! Diante da princesa está agora o músico
António)
PRINCESA – António!
O BOBO – Olha! É o músico… não, o príncipe… não, o músico! Bem, estou
confuso!
MARECHAL DA CORTE 2 – Isto só pode ser uma brincadeira! O que se está aqui
a passar Alteza?
( o príncipe tira o xaile à princesa. Ela está com o vestido habitual e o avental.)
PRINCIPE - E agora o que me dizes, linda princesinha?
PRINCESA ( emocionada, quase a chorar de alegria) – Não posso acreditar no que
os meus olhos vêem. Tu foste sempre o príncipe Nabo! (tapa a boca com as duas
mãos)
PRÍNCIPE (a rir) – Sim, podes dizê-lo sem medo, o Príncipe Nabo da Nabolândia,
o teu marido…
PRINCESA ( Encostando-se a ele) – Oh, António!
O BOBO – Austero Madame, Austero!
PRINCESA – Não sei como me hei de habituar.
O BOBO ( excitado para a princesa) – Sua Alteza, Madame… oh, perdão…
princesa Beatriz, então sempre sabe falar francês e toca piano e pinta flores?
Não era mentira?
PRINCESA – Não era mentira, vocês é que não se quiseram acreditar…
O BOBO – Como queria que acreditássemos? Vivia no Beco Estreito, nº 15, a
descascar batatas e a estender roupa… A vida tem cada surpresa! Mas esta não
me entra na cabeça! Um músico, uma madame, um piano, piano nenhum, nem
cadeirões e depois vitela roubada e um príncipe e um castelo. Que confusão!
MARECHAL DA CORTE 2 – Sua Alteza, estão a chegar os primeiros convidados.
PRÍNCIPE – Depressa, um manto real para a princesa.
( o Bobo corre e vai buscar um pesado manto vermelho. As raparigas ajudam a
princesa a colocá-lo. Os rapazes ajudam o príncipe a colocar a sua capa. Entra o rei
do Castelo da Abundância, o marechal da Corte 1 e a Mademoiselle. A princesa corre
a abraçar o pai.)
PRINCESA – Meu pai, meu querido pai!
MARECHAL DA CORTE 1 – Bons olhos a vejam, princesa Beatriz. Será que é
hoje que vou comer os meus petit gateau?
PRINCESA – Não se preocupe, vou tratar disso, fique descansado. ( saem todos)
O BOBO – Querido público!... bem… estou um pouco atrapalhado…o que não é
normal em mim, enfim deve ser da emoção!
Esta história acabou
Acredito que vos agradou
Espero que penseis nela
Na donzela rica e bela
Que de tamanho desdém,
Ia ficando sem ninguém.
Mas a vida que amargou
De maior desgraça a salvou
Agora vou-me calar.
Como sabeis temos festa…
E portanto só me resta,
Despedir de si,
Amigo espectador!
Uma salva de palmas, por favor!
( o bobo dá várias cambalhotas e sai..)
Reentram todos e agradecem com três vénias ao público e voltam a sair
despedindo-se, acenando…
Adaptação realizada pelo professor José Antunes

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  • 1. Peça de Teatro – O Príncipe Nabo. Cenários: 1º Sala do trono 2º Salão azul; 3º Casinha humilde do músico António 4º Sala de festas do castelo do príncipe Austero da Mailândia. Aurora – Carolina – Lucas – Cozinheiro – Marechal da Corte do castelo da Abundância – Mademoiselle, Marquesa de Fanfaronnade – Rei do Castelo da Abundância – Princesa – Damas de Honor – Príncipe Ali-Gato – Príncipe Partmupescoço de Bonaco – Príncipe Austero ou Nabo da Nabolândia ou Músico António – 1ª Rapariga – O Rapaz – Bobo – Marechal da Corte do Palácio do Príncipe Austero – 2ª Rapariga – 3ª Rapariga - 2º rapaz – 4 rapariga - Zézé e Necas ( Matias e António).
  • 2. Primeiro Acto A Sala do Trono: um tapete, cortinados pesados, algumas cadeiras, móvel carregados de bibelots, um jarrão. O retrato do rei na parede, um espelho. No centro, o trono AURORA – (A limpar o jarrão com um espanador) – Hoje é que vai ser. Estou ansiosa por saber o que irá acontecer. Vou espreitar pelo buraco da fechadura… “ Não devemos perder os momentos históricos” costuma dizer o rei… ( ri-se…) CAROLINA – Será um momento histórico… se acontecer. Lembra-te que já é a sexta vez que mandam cá vir carradas de príncipes para casarem com a princesa. AURORA – Depois de casar será um príncipe consorte… CAROLINA – Com sorte… casar com esta princesa? Não sei se será uma sorte! AURORA – Que má língua tu és!! CAROLINA – Ora essa, eu só repito o que toda a gente diz. Aliás, sorte tem a princesa porque os pretendentes aparecem-lhe em casa, ela nem precisa de procurar. Já as raparigas como nós têm de correr quilómetros, fazer sinais de luzes, sinais de fumo e homens para casar nem vê-los… (Suspira) Ai, Ai, vida de pobre! LUCAS – Tu não nasceste princesa, nem tens castelo nem fortuna! AURORA – Será que algum dos pretendentes de hoje lhe irá agradar? LUCAS – Não me parece, Príncipes como ela quer, não existem neste mundo. Ou são gordos, ou são magros, pequenos, altos de mais… CAROLINA – Ou então loiros de mais, morenos de mais… AURORA – Ela quer um príncipe perfeito… LUCAS – Um príncipe perfeito… eu já sirvo neste castelo há tantos anos e nunca vi nenhum. Afinal, todos temos falhas sejam príncipes sejam empregados. Eu por exemplo… CAROLINA – És magro de mais. LUCAS – Pronto, lá está! (Aparece o cozinheiro) AURORA – E o cozinheiro é gordo de mais. COZINHEIRO - (ofendido) – Estás a falar a sério, Aurora?
  • 3. AURORA – Não faças beicinho, rapaz. Bem sabes que gosto de ti ( faz-lhe uma festinha na cara). Eu não sou tão difícil de contentar como a princesa Beatriz… ( Entra o Marechal da Corte) MARECHAL DA CORTE – Então no bate papo, hein? e a sala por limpar! ( os três põem-se de imediato a trabalhar. O Marechal da Corte espreita para todos os cantos, passa o dedo sobre o móvel e depois sobre o jarrão). Hum! Carolina, torna a espanar este jarrão, está cheio de pó. E tu, cozinheiro, que andas por aqui a fazer? Se não me engano o teu lugar é na cozinha. Estou a ver que hoje não vamos ter o jantar pronto a horas, seu mandrião! COZINHEIRO – O senhor Marechal da Corte pode estar sossegado, da minha parte está tudo pronto. Logo que a princesa escolha o seu príncipe consorte, V. Ex.ª há-de comer o mais saboroso, o mais delicioso jantar da sua vida… MARECHAL DA CORTE – ( sôfrego) – Diz lá, diz lá! COZINHEIRO – Canja de galinha, lagosta ao natural, salmão cozido, arroz à valenciana, peru recheado, veado estufado, vitela assada, pudim francês, torta de morangos, salada de ananás, petit gateau… MARECHAL DA CORTE ( a laber os beiços) – Petit gateau!! Ai minha Nossa Senhora! Petit gateau!... Mas que estão vocês a fazer? Todos pasmados, a olhar para mim… não se olha assim para um Marechal da Corte, cambada de preguiçosos…toca a ir trabalhar… Petit gateau ( para o público) – Tomara eu que que tudo se resolvesse hoje…mas a princesa é capaz de estragar os meus lindos planos mais uma vez…Isso já aconteceu cinco vezes. Eu, pobre de mim, fico com o estômago a dar horas. ( Entra a velha Mademoiselle, a Marquesa de Fanfaronnade.) MADEMOISELLE (carregando nos rr) – O que aconteceu, Marechal da Corte? Porquê essa cara tristonha? Outra vez mal do estômago? MARECHAL DA CORTE – Pelo contrário, sinto-me até muito bem. MADEMOISELLE –Muito bem? Quer dizer que não tem fome? MARECHAL DA CORTE – Minha estimada Mademoiselle e Marquesa de Fanfaronnade, por favor, não use termos tão banais. Se tenho fome? Por acaso sou um mísero criado? Esses é que têm fome. Eu, quando muito, tenho apetite. Compreendeu Mademoiselle? Constou-me que nos vão servir ao jantar trutas e salmão. E petit gateau… Isto é, se houver jantar. MADEMOISELLE – Haverá jantar se a princesa aceitar um dos pretendentes. MARECHAL DA CORTE – ( suspirando) Deus queira que sim! Afinal a princesa quer casar-se com um príncipe ou com um homem qualquer?
  • 4. MADEMOISELLE ( indignada porque percebeu que o Marechal queria que a princesa casasse com um homem qualquer) – Senhor Marechal da Corte, como se atreve? Casar com um homem qualquer? A nossa princesa Beatriz? O senhor perdeu o juízo. Está aflito por causa dos petit gateau? Decerto não quer que a princesa aceite o primeiro homem que lhe apareça só para regalar o estômago?! MARECHAL DA CORTE ( Levando as mãos à cabeça) – O quê? O primeiro que lhe apareça??? Essa é boa! A princesa já desprezou trinta príncipes… é demais, deve concordar… MADEMOISELLE – Trinta? Isso não é nada! A princesa Beatriz é sobrinha da famosa princesa Não-me-toques… é finíssima, chiquérrima… seria pecado casar com alguém que não a mereça! MARECHAL DA CORTE –Olhe, nesse caso, o melhor é a Mademoiselle ir procurar um príncipe à Disney. Oxalá o encontre lá, oxalá! Eu não consigo encontrar mais nenhum, bonito ou feio. MADEMOISELLE – Há pessoas que acham o senhor Marechal inteligente, brilhante mas é uma verdadeira fraude! ( Ouvem-se passos. Entra o rei. Os dois fazem uma vénia.) REI – Tudo em ordem, senhor Merechal da Corte? MARECHAL DA CORTE – Tudo em ordem, Majestade. REI – Quantos príncipes se apresentam hoje? MARECHAL DA CORTE – Três, Majestade. REI – Só três?? MARECHAL DA CORTE – Infelizmente, majestade, foi só o que consegui. Se a princesa Beatriz não se resolver desta vez, não sei o que hei de fazer…só se arranjar um de barro!! MADEMOISELLE – “Ridicule”, perfeitamente “ridicule”! MARECHAL DA CORTE – Ridícula é a senhora, Marquesa de Fanfaronnade. Não sabe nada do mundo real. Anda a sonhar com o príncipe da Bela Adormecida e a chupar rebuçados e a falar frrrancês( carrega nos rr) REI – Basta! Como se atrevem a discutir na minha ilustre presença? Mademoiselle, não se meta nos assuntos do Estado, contratei-a apenas para educar a minha filha. Faça o favor de se retirar, vá mas é ajudar a princesa. ( magoada, a Mademoiselle faz uma vénia e retira-se) REI – Então, senhor Marechal da Corte, quem são os pretendentes de hoje?
  • 5. MARECHAL DA CORTE ( tira de uma pasta uma folha de papel e lê em voz alta) – Sua Majestade o Príncipe Ali Gato, da terra dos Trinta Mil Habitantes( rei interrompe alertando que é alérgico a gatos); Sua Alteza o Príncipe Partmupescoço, da terra do Bonaco; Sua Alteza o Príncipe Austero, da terra da Mailândia. REI – ( suspirando)- Ummm, Material fraco, senhor Marechal da Corte. Príncipes sem tradições, sem um passado grandioso, sem fortunas notáveis. O melhor dos três ainda é o Austero. Não que possua um castelo muito grande, mas ao menos tem fama de bom homem. Oxalá a princesa escolha bem, que se decida hoje! MARECHAL DA CORTE – Totalmente de acordo, Majestade, também é esse o meu desejo! Já se desperdiçaram seis jantares de noivado… REI, (severo) – Senhor Marechal da Corte, é por causa dos jantares que o senhor aprova o meu desejo? MARECHAL DA CORTE – Por amor de Deus, não pense isso deste seu humilde servidor, Majestade. Aprovo o seu desejo porque as festas são muito caras. Estou a pensar na prosperidade do Reino e na felicidade da princesa… REI – Bem, bem. E quero que saiba, senhor Marechal da Corte, se a minha filha não se decidir hoje vou castigá-la severamente. Estou farto disto. LUCAS ( Entra e faz uma vénia) – Saiba vossa Majestade que chegaram os três príncipes ilustres. REI – Que entrem para o salão azul e façam o favor de esperar uns momentos. ( O Lucas sai às arrecuas, inclinando-se várias vezes.) REI – E a si, senhor Marechal da Corte, peço-lhe que chame a minha filha. ( O Marechal da Corte inclina-se e sai) REI – (para o público) – Acreditem. Estou cansado de tudo isto. Quem me dera que isto se decida para eu poder ir à pesca e logo com um tempo tão bonito! (sai) ( Mudança de cenário – Sala Azul: Entram a princesa Beatriz, a Mademoiselle, duas damas de honor e o Marechal da Corte. O rei chegara antes e já se encontrava sentado no trono.) PRINCESA – Meu pai, mandou chamar-me? Alguma novidade? REI – Não te faças de desentendida, Beatriz. Bem sabes do que se trata. Senhor Marechal da Corte, mande entrar os príncipes. Um de cada vez. ( A princesa senta-se ao lado do rei. Mademoiselle coloca-se de pé ao seu lado e as damas de honor vão para detrás da princesa. A princesa e a Mademoiselle abanam-se com leques.)
  • 6. PRINCESA – ( Em voz baixa para a Mademoiselle) – Vamos ter um espectáculo tão divertido. ( ambas riem à sucapa) REI – ( que ouviu tudo) – Acabem com essas parvoíces! Ouve bem Beatriz, se hoje zombares dos príncipes, que vieram de muito longe por tua causa, a festa irá acabar muito mal para o teu lado! PRINCESA ( com ar de gozo) – Meu pai, o que pensa de mim? Então não me hei de portar bem diante dos ilustres príncipes que desejam casar comigo? Eu, uma princesinha tão modesta e sossegada… Fique descansado, não se preocupe, sou bem educada e sei como devo proceder… REI – Oxalá, minha filha! ( A princesa sorri para a Mademoiselle. Ambas escondem os rostos por detrás dos leques. Surge o Marechal da Corte) MARECHAL DA CORTE ( em voz alta) – Sua Alteza o príncipe Ali-Gato, da terra dos Trinta Mil Habitantes! ( O príncipe entra. É muito alto e magro. Inclina-se diante do rei e da princesa.) PRÍNCIPE – Desejo a Vossa Majestade e à princesa Beatriz uma muito boa tarde e permito-me oferecer à bela princesa esta prenda insignificante e indigna dos seus encantos. ( A princesa pega no embrulho e atira-o com indiferença para a Mademoiselle, que o abre cheia de curiosidade. Tira um espelho de cabo doirado e admira-se nele.) PRINCESA ( Examina, entretanto, o príncipe Ali-Gato dos pés à cabeça e, por fim, dá uma gargalhada) – Ai que alto que ele é, parece a torre da igreja! E magro como um bacalhau! Seja bem-vindo, príncipe da Torre de Bacalhau. MADEMOISELLE – Delicioso, princesa, delicioso! Príncipe ( recua, surpreendido, aterrorizado) – Majestade, eu…mas eu…ora essa… é um atrevimento… REI – ( Irritado) – Basta Beatriz, Basta! O príncipe tem razão, é um atrevimento. Perdoe-me, príncipe Ali-Gato, pode acreditar que o estimo e lamento que a minha filha tenha sido tão desagradável… (O Marechal da Corte conduz o príncipe Ali-Gato, delicadamente, pelo braço, para fora) REI ( Bate com o punho sobre o braço da cadeira do trono.) – Tem cautela Beatriz. Eu avisei-te. E torno a avisar-te. Não te perdoarei… MARECHAL DA CORTE – Sua Alteza, o príncipe Partmupescoço do Bonaco! ( O príncipe entra. É redondinho e corado. Inclina-se diante do rei e da princesa)
  • 7. PRÍNCIPE ( De um jeito patético) – Muito boa tarde, Majestade. Muito boa tarde princesa Beatriz, cuja Beleza deslumbra os meus olhos e por onde passa até a relva cresce. Posso oferecer-lhe esta prendinha muito modesta? ( A princesa recebe o embrulho e atira-o com indiferença para a Mademoiselle, que o abre, cheia de curiosidade. Tira um colar de pérolas, põe-no no pescoço e mira-se ao espelho) PRINCESA ( Examina, entretanto, o príncipe Partmupescoço dos pés à cabeça e, por fim, dá uma gargalhada) – Ai que ele é tão rechonchudo! E tão coradinho, parece um pudim de morangos! Seja bem-vindo, príncipe Pudim de Morangos! MADEMOISELLE – Delicioso, princesa, delicioso. Príncipe ( recua, aterrorizado e diz, furioso mas no seu tom patético) – Princesa, saiba que eu sou o famoso príncipe Partmupescoço. Nunca ninguém me ofendeu, nunca fui insultado por ninguém. A princesa foi a primeira pessoa a zombar de mim, do príncipe de Bonaco… ( O rei e o Marechal da Corte põem as mão à cabeça) PRINCESA ( Dando uma gargalhada) – O príncipe Pudim de Morangos nunca foi insultado por ninguém. Ouviu, Mademoiselle, ouviu? REI – Cala-te! Estás a ir longe de mais com as tuas brincadeiras. Perdoe-me, príncipe Partmupescoço, eu estimo-o muito, lamento que a minha filha tenha sido tão inconveniente. PRÍNCIPE – Nunca mais hei de pôr os pés neste castelo, vai-se arrepender de não ter casado com um homem lindo e jeitoso como eu… ( Sai apressadamente acompanhado pelo marechal da Corte) PRINCESA – ( bate palmas) – Bravo! Assim é que eu gosto dos meus pretendentes…de costas! Ah! Ah!Ah! (Surge o Marechal da Corte…) MARECHAL DA CORTE – Sua Alteza o príncipe Austero da Mailândia! ( Entra o príncipe. Tem boa aparência, mas o seu queixo é muito comprido. Inclina-se diante do rei e da princesa.) PRÍNCIPE – Boa tarde a si sua Majestade e à jovem princesa Beatriz. PRINCESA ( Examina-o detalhadamente. Acaba por reparar-lhe no queixo) – Ora vejam! Tem um queixo tão comprido que parece um nabo. ( Desata a rir) – Mademoiselle, sabe quem ele é? O príncipe Nabo da Nabolândia! Príncipe ( encara corajosamente a princesa de frente) – Ah, é verdade, quase me esquecia, trouxe uma prenda, bela princesa Beatriz. Uma prenda insignificante
  • 8. para uma princesa com uma fantasia tão rica. E agora, desejo muita felicidade a toda a gente neste castelo. ( Vira-se para sair) REI – Espere um momento, ilustre príncipe Austero! Quero que aceite as minhas desculpas pela indelicadeza da minha filha. ( entretanto, a princesa atirou o embrulhinho à Mademoiselle, que perplexa o abriu tirando uma palmatória…) - E agora para ti, minha filha, já que nenhum dos príncipes que cá vieram te agradou por terem defeitos, resolvi oferecer-te ao primeiro homem que apareça a partir de agora na porta do castelo, seja pobre ou rico… ( O príncipe inclina-se e abandona a sala. A Mademoiselle e as damas de honor mostram-se indignadas) Mademoiselle e as damas de honor – Vossa Majestade não pode…. REI – Posso sim, minhas senhoras. Vão ver se não posso. PRINCESA – Não se preocupem, eu conheço o meu pai, ele não está a falar a sério. Seria lá capaz de me fazer casar com um músico pobre ou com um pedinte! (O rei levanta-se e prepara-se para sair. Entretanto entra o Lucas) LUCAS – (Inclinando-se) – Majestade, devo informá-lo que está um pobre músico que pede para o deixarem entrar) ( A princesa tenta sair mas o rei segura-a pela mão) REI – Não fujas, minha pombinha, não fujas. Uma cançãozinha não te vai fazer mal, pois não? (Muito aborrecida a princesa torna a sentar-se, tal como o rei. Entra o músico pobre com uma viola. Inclina-se diante do rei e da princesa.) MÚSICO – Desejo uma boa tarde a vossa Majestade e a vossa Alteza a princesa Beatriz. Peço humildemente que me dediquem uns momentos de atenção e de paciência. Rei –Canta, bom músico, canta! Estamos ansiosos por te ouvir. (O músico toca a viola e canta..) Havia em tempos uma donzela No Castelo da Abundância, Era jovem e muito bela Mas um poço de arrogância. Desprezava, trocista e vaidosa Os príncipes à sua procura. Mas o tempo não pára E ela acabou por ficar só. Sentada no trono, chorava, Já velha e abandonada E em pedra se transformou Há pouco, ainda lá se via, No Castelo da Abundância, Uma estátua solitária e fria Símbolo da vaidade e da arrogância. REI – Bravo, Bravo!! Bela canção. Não achas Beatriz?
  • 9. PRINCESA – Já ouvi canções mais bonitas ( boceja…) MÚSICO – Majestade quer ouvir mais alguma? REI – Não, cá por mim fiquei satisfeito com o que ouvi. A minha filha terá oportunidade de as ouvir todas, na sua casinha… PRINCESA - Meu pai! Por favor, não! MADEMOISELLE – Vossa Majestade, isto é perfeitamente incrível, ridicule, ridicule… DAMAS DE HONOR - Isso não, isso não! MARECHAL DA CORTE - Vossa Majestade, não estará a exagerar?? MÚSICO – Mas…então…Vossa Majestade quer dizer que… REI – Que lhe dou a minha filha como esposa em recompensa pela sua linda canção. MÚSICO – Que grande honra, Majestade, que grande honra! REI, (com um gesto com a mão) – Leve-a já. Preciso urgentemente de sossego. Amanhã vou à pesca… ( A princesa tenta fugir, mas o músico segura-a com mão firme!) MÚSICO – Onde vais minha linda princesa? Seria uma pena se me fugisse, pois não é todos os dias que me oferecem uma esposa tão ilustre. PRINCESA – Meu pai, meu querido paizinho, pai justo, o melhor pai do mundo, não me importo de casar com um dos príncipes que cá vieram. Com um qualquer, por exemplo aquele do queixo comprido. REI – Ah, o Príncipe Nabo da Nabolândia? Ora, ora, o músico também tem um queixo vistoso. Estás bem servida. ( O músico arrasta consigo a princesa…) PRINCESA – Não quero! Não quero ir! Largue-me! Mademoiselle, ajude-me, ajude-me… MÚSICO – Acabaram-se as mademoiselles, Beatriz. Agora vai começar uma nova vida. Vais gostar tenho a certeza. Muito obrigado Majestade. Até breve! ( Empurra a princesa pela porta fora, ouve-se choro… silêncio e a Mademoiselle acaba por desmaiar. Entra o Lucas) LUCAS – O cozinheiro manda perguntar se pode servir o jantar de noivado. REI – Jantar de noivado? Ele que o atire pela janela. Nunca mais quero ouvir falar de jantares de noivado (O Marechal da Corte desmaia também..) Agora
  • 10. deixem-me ir descansar, por favor, amanhã cedo vou à pesca. ( Sai e todos se inclinam) FIM DO 1º ATO II ATO (Seis meses passaram desde que o músico António levou do Castelo da Abundância, a princesa Beatriz para sua casa. Vemos agora a princesa sentada em frente duma casinha pobre. Ainda traz o vestido com que saiu da Corte de seu pai, mas sujo… e com um avental por cima… Está sentada a descascar batatas…) PRINCESA – Coitada de mim! O que me foi acontecer…. Tenho as mãos todas estragadas. Nunca pensei que a vida de pobre fosse tão dura. Tenho de fazer as camas, lavar roupa, descascar batatas, fazer o almoço, … Nem tenho tempo para descansar… Que saudades da vida de princesa! Fui muito castigada, podem acreditar! ( Surge o Músico António e ainda ouviu a parte final do desabafo da princesa) MÚSICO – Não sei qual de nós foi mais castigado, princesinha. Eu chego a casa cansado e tu pouco ou nada fizeste. O rei pregou-me uma bela partida, não há dúvida. ( observa a princesa a descascar batatas)- Vá lá, ao menos já sabes descascar batatas… PRINCESA – António, tens que ter um pouco de paciência comigo! Eu não estava habituada a trabalhar, os criados faziam-me tudo! ANTÓNIO ( Dá uma gargalhada) Ora vê lá! Se calhar queres que eu te arranje uma equipa de empregados para fazer as tarefas aqui da barraca…tem dó… PRINCESA – ( Começa a chorar) António, não te zangues comigo! Será que já não me humilhei o suficiente nestes últimos meses? MÚSICO – Havia em tempos, uma donzela/No Castelo da Abundância/Jovem e muito bela/ Mas era um poço de arrogância… PRINCESA - ( interrompe-o) – Oh! Por favor, essa canção não, é tão feia! Músico – Achas feia? O teu pai gostou muito dela… Bem,… estou farto de discussão e tenho muita fome. Vou à aldeia comer qualquer coisa num tasco. Vê la se trabalhas para ganharmos dinheiro… (Sai e aprincesa segue-o com os olhos) PRINCESA – Lá vai ele e deixa-me ficar aqui sozinha, só por ter dito que achava a canção feia. Eu não gosto dela porque ela conta a minha história e ela acaba mal… Mas ele tem de ver que eu já mudei um bocadinho… (Entram 4 raparigas, um rapaz e um bobo) RAPARIGA 1 – Esta casinha é de quem?
  • 11. O RAPAZ – Do músico António. Alugou-a há uns meses e trouxe para cá aquela beleza! ( aponta para a princesa). A RAPARIGA 4 – Coitada, não tem jeitinho nenhum para a vida doméstica… O Bobo - Olhem para ela, trabalho rápido e perfeito como as máquinas mais modernas, a motor. ( Riem e aproximam-se da princesa. Zézé espreita para dentro da coelheira cheio de curiosidade.) ZéZé – Lindos coelhinhos! Deixa ver se tenho uma cenoura. (Remexe nos seus bolsos profundos e tira uma cenoura e atira-a para a coelheira. Bom apetite, ! Sobe para cima de um banco e espreita para dentro de casa) Necas – Ricos coelhos,… estufadinhos…era de comer e chorar por mais!!! RAPARIGA 2 – Como te chamas? ( falando para Beatriz) PRINCESA - Beatriz. O RAPAZ - ( No gozo) – Lindo nome!! RAPARIGA 2 – De onde vieste? PRINCESA - De longe. Da terra do rei do Castelo da Abundância. O BOBO – Mas a abundância era só para o rei e não para as meninas que se chamam Beatriz, embora seja um lindo nome!(Volta a espreitar para dentro da casa) RAPARIGA 3 – E lá na tua terra não aprendeste a trabalhar? PRINCESA – Não, não aprendi…. O BOBO – Olha que sorte, querem ver que ela frequentou a Universidade? O RAPAZ – O que é que aprendeste a fazer lá na tua terra? PRINCESA – Aprendi a falar francês, a tocar piano e a pintar flores. ( Desatam a rir, o bobo até se rebola no chão) O RAPAZ – Ouviram? Uau, ela sabe falar francês e tocar piano e pintar flores, que chique!! O BOBO – ( fazendo vénias diante da princesa) – Madame, estimada Madame, oui, oui! Mais non, bonjour, bon soir, au revoir… é uma senhora muito fina que casou com um músico também muito fino. RAPARIGA 1 – Anda, fala lá um bocadinho de francês para a gente ouvir!
  • 12. PRINCESA – ( Desesperada) O que querem de mim? Por que não me deixam em paz? Fiz-lhes algum mal? O BOBO – “ Mais non, madame, mais non” . Mas onde está o piano? Não o vi dentro de casa. A madame vive numa casa de luxo… falta só o piano. Talvez não caiba lá dentro e a madame anda com ele às costas. Deixa-me cá ver ( examina as costas da princesa) ( Os três põe-se a dançar à volta dela) - “Fala francês, monsieur, madame, pinta florinhas com perícia, toca piano, esta donzela é uma delícia, oui monsieur, nom madame, bonjour, bom soir, au revoir, ” Músico – Então, arranjaste amigos? A RAPARIGA 2 – Ela diz que fala francês, toca piano e pinta flores! O RAPAZ – É muito fina esta madame! O BOBO – E tem um jeitão para trabalhar! Parece uma máquina a motor… Não há dúvida, é uma madame, oui monsieur… Músico – Parem com isso, não gozem com ela, vão para vossas casas, está a escurecer. OS TRÊS ( fazem uma grande vénia) – Boa noite, madame, boa noite monsieur! O BOBO – Bonne nuit! Au revoir! ( risos) MÚSICO – (entregando um tacho à princesa) – Anda, come. É arroz. ( A princesa senta-se e põe-se a comer esfomeada) - Tiveste mesmo azar ao casar comigo que não te posso dar uma boa vida. Olha, quem teve sorte foi a noiva do Príncipe Nabo da Nabolândia… PRINCESA – A noiva do Príncipe Nabo? Mas… ele vai casar? MÚSICO – Vai, depois de amanhã, Contaram-me lá na aldeia. PRINCESA – Quem é a noiva? Músico – Ninguém sabe. Dizem que é de longe. Ele demorou seis meses a encontrá-la. Mas tu é que podias ter casado com ele?? PRINCESA – Pois podia… MÚSICO – Mas achaste-lhe o queixo muito comprido!!!! ( A princesa suspira) e acabaste por casar com um marido que também tem um queixo comprido, só que numa versão pobre… PRINCESA – Eu acho-te um homem bonito, António. Músico – A minha mulher acha-me bonito, até me fazes corar! Ah! Outra novidade…
  • 13. PRINCESA – Outra? MÚSICO – Na aldeia fiquei a saber que o Príncipe Nabo, isto é, o Príncipe Austero precisa de uma ajudante de cozinha e tu até descascas bem as batatas. Eu fui ao castelo inscrever-te e eles aceitaram-te. Começas amanhã… PRINCESA – Eu? Descascar batatas? No Castelo do Príncipe Austero? MÚSICO – Deixa-te disso, o dinheiro que vais ganhar faz-nos muito jeito e de vez em quando podes trazer uns petiscozinhos aqui pró teu maridinho… PRINCESA – Não sei se serei capaz, tenho medo! MÚSICO – Claro que és capaz, o trabalho não será tão duro como aqui em casa. Vá lá coragem! PRINCESA – António, será que algum dia me transformarei numa estátua fria??? MÚSICO – Acho que não mas isso dependerá de ti… ( saem de cena…) Fim do 2º Ato/ Início do 3º Ato Sala de festas no Castelo do Píncipe Austero da Mailândia. Rapariga 1 ( da cena anterior) – O príncipe Austero ainda não chegou. Há mais de meio ano que se foi embora, para procurar noiva. Parece que já encontrou, foi difícil encontrar uma que lhe agradasse. Rapariga 4– E quem é ela, afinal?? Rapariga 3 – Ninguém sabe. Dizem que o príncipe nos quer fazer uma surpresa. Estou mortinha de curiosidade! O Rapaz ( da cena anterior) – Eu também estou curioso, deve ser lindíssima. Cabelo loiro, olhos azuis a brilharem como estrelas…. O BOBO ( Surge de repente interrompendo o rapaz) – E uma pele tão delicada como a dos pêssegos e uma boca tão vermelha como o vinho tinto e as mãozinhas tão finas e pequenas como ovos de pomba ( agora com voz grossa) E uma voz tão grossa como a do lobo que comeu o capuchinho vermelho e as orelhas tão grandes como as… de um burro… O RAPAZ – Para lá com os teus disparates, não consegues levar nada a sério. Aposto que ela é linda como o Sol. RAPARIGA 2 – És mesmo tolo! Vocês os rapazes acham sempre as princesas mais bonitas do que as outras raparigas mas o que as torna mais bonitas são apenas os vestidos ricos. Se eu trouxesse um vestido de princesa vocês até babavam por mim… ( Entra o Marechal da Corte do príncipe Austero)
  • 14. MARECHAL DA CORTE2 – Então, a sala está bonita? Sua Alteza deve estar a chegar de um momento para o outro… O RAPAZ – E traz a princesa consigo? 2º Rapaz (Diogo) – E ela é bonita? Rapariga 1 – E eles vêm de automóvel? O BOBO – Ou de bicicleta? Ou a pé? MARECHAL DA CORTE 2 - Calma, Calma! Sua alteza não me deu pormenores mas suponho que traz a princesa. Afinal foi para arranjar uma princesa que ele saiu daqui há seis meses. RAPARIGA 3 – O Senhor Marechal da Corte não sabe como ela se chama? MARECHAL DA CORTE - Já é curiosidade a mais. O príncipe quer fazer-nos um surpresa e temos de esperar com paciência. O BOBO – Claro, o senhor Marechal da Corte sabe tudo: de onde ela vem, como se chama, se é bonita, inteligente, se vem de automóvel ou de bicicleta. Não quer é estragar a surpresa do príncipe… MARECHAL DA CORTE – Ó bobo, pareces um realejo, não te cansas de falar. Vai mas é ajudar nos preparativos para a festa. Rapaz 2 (Diogo) – ( para o bobo) Quem é aquela? O BOBO – Olhem quem ela é! A Madame! A ilustre senhora que trabalha como uma máquina a motor. A senhora que fala francês… Como vai o seu ilustre marido, o músico da viola? Onde deixou o piano? Então hoje não o traz às costas? E não nos oferece um quadrinho com flores pintadas? (gargalhadas) MARECHAL DA CORTE 2 – Silêncio! Silêncio! Tu não és a nova ajudante do cozinheiro? PRINCESA – Sou sim, senhor Marechal da Corte. Eu estava para sair mas o meu marido que há-de vir buscar-me, ainda não chegou…E então pensei que podia, num instante espreitar para a sala, já que amanhã é o casamento do príncipe Austero. Gosto muito de ver salas enfeitadas! Rapariga 4 ( para a princesa) – Sai-me da frente, não vês que estás a atrapalhar? Desajeitada! PRINCESA – Vou-me embora… O BOBO – Oh, querida Madame, não se vá embora tão depressa. Eu adoraria dançar consigo, só um vez. Orquestra, um samba por favor, para o bobo e para a Madame! ( o samba começa…e a princesa tenta fugir mas o bobo agarra-a pelo vestido)
  • 15. - Não fuja, fofuxa. Sou um bailarino famoso, Marcelino, o bailarino incomparável. (Arrasta a princesa para o meio da sala e de repente cai um tachinho debaixo do xaile da princesa. O bobo afasta-se da princesa… quem estava na sala aproxima-se, olham para o chão e depois para a princesa…) O BOBO – As surpresas estão a começar! MARECHAL DA CORTE 2 – Sim senhora, um tachinho com batatinhas e vitela assada… PRINCESA (Assustada…) É que… é que… o meu marido, o músico António… Ele trabalha muito…mas ganha pouco e não podemos comer vitela assada e eu pensei que se tirasse um tachinho… MARECHAL DA CORTE 2 – Pois pensaste mal. E se todos os criados pensassem assim, onde íamos parar? És uma grande atrevida! 1ª RAPARIGA – Ó senhor marechal, tenha dó. O músico António não parece má pessoa. Conheci-o ontem e é um bonito homem… 1º RAPAZ – E canta bem e sabe tocar viola… O BOBO – E a Madame toca piano, pinta flores e fala francês. São luxos muito caros para o músico António. Como quer que ele tenha dinheiro para comprar carne de vitela? MARECHAL DA CORTE 2 – Está bem, compreendo. Hoje é dia de festa, não quero ser severo. PRINCESA – Obrigada, senhor Marechal da Corte, obrigada. 2ª RAPARIGA – O príncipe! TODOS – O príncipe!!! ( A princesa foge sem ninguém se aperceber. O príncipe entra de capa larga e de chapéu. Todos se inclinam) PRÍNCIPE AUSTERO – Muito boas tardes, minha gente. Espero que tenham passado bem durante a minha ausência. Está tudo preparado para o casamento de amanhã? MARECHAL DA CORTE – Tudo, Alteza. Fez-se o que se pôde, sem grandes despesas. Oxalá goste do nosso trabalho. Mas, se me permite perguntar – onde está Sua Alteza, a noiva? PRÍNCIPE – Um pouco de paciência… a minha noiva não demora… (repara no tachinho no chão) – Mas que vem a ser isto? ( As raparigas vão imediatamente limpar…)
  • 16. MARECHAL DA CORTE 2 – Perdoe-me Alteza. A empregada que contratámos foi atrevida e roubou um tachito com batatas e vitela e escondeu-o debaixo do xaile, entretanto, o bobo meteu-se com ela e caiu tudo ao chão. Ela desculpou-se dizendo que a comida era para o marido que trabalhava muito e não tinham dinheiro… PRÍNCIPE – Onde está ela? 3ª RAPARIGA – Fugiu. 1ª RAPARIGA – Deve estar lá fora à espera do músico. PRÍNCIPE ( Vai até à janela e olha lá para fora) – Será aquela, ali, junto do portão? (O Marechal da Corte vai até à janela, o bobo também . Os três olham lá para fora.) MARECHAL DA CORTE 2 - É ela , Alteza. PRÍNCIPE – Chamem-na! (o 1º rapaz sai para ir buscar a princesa) 2ª Rapariga – Vai castigá-la, Alteza? O BOBO – Olhe que ela fala francês!! ( Entra o rapaz com a princesa pela mão) MARECHAL DA CORTE 2 – Uma vénia, desgraçada! Não vês que estás em presença do príncipe Austero? ( A princesa faz uma vénia) PRÍNCIPE – Aproxima-te. (A princesa aproxima-se) Como te chamas? PRINCESA – Beatriz. O BOBO – Madame Beatriz! PRÍNCIPE – Onde moras? PRINCESA – No Beco Estreito, com o meu marido, o músico António. O BOBO – No Beco Estreito…numa rua elegante, numa casa catita cheia de quadros com flores pintadas. O piano como não cabia ela trá-lo sempre às costas… PRÍNCIPE – Cala-te bobo! Pára com as patetices… (virando-se para a princesa) – Gostas de trabalhar no meu castelo? PRINCESA – Gosto sim, Alteza. PRÍNCIPE – Então porque roubaste logo no primeiro dia? PRINCESA – É que…Vossa Alteza compreende.. eu… PRÍNCIPE – Vamos diz lá, preciso de saber.
  • 17. PRINCESA – Eram batatas e vitela assada. O meu marido pediu-me: “ Traz um petisco para mim. Já há muito tempo que não como um bom pedaço de carne assada”… ( o príncipe desata numa gargalhada. A princesa assustada e envergonhada, quer fugir.) PRÍNCIPE – Não fujas, Beatriz. O teu marido com certeza ainda não chegou, e eu gostava que nos fizesses um pouco de companhia. ( A princesa fica parada no meio da sala. O bobo põe-se a dançar em volta dela) 2 rapariga – Vamos mas é trabalhar! ( limpam, arrumam…) PRÍNCIPE - Sr. Marechal o jantar está pronto? MARECHAL DA CORTE 2 – Quando vossa Alteza quiser. PRÍNCIPE – E os hóspedes, já chegaram? MARECHAL DA CORTE 2 – Os primeiros devem estar a chegar. Os aposentos estão prontos. PRÍNCIPE – Ótimo. Estou satisfeito! MARECHAL DA CORTE 2 – Desculpe Alteza, estou preocupado, será que aconteceu alguma coisa à sua noiva? PRÍNCIPE – Compreendo a sua preocupação. Eu sem noiva não posso casar… O BOBO – ( A caminhar como uma mulher a dar às ancas) – Só se sua alteza quisesse casar comigo… PRÍNCIPE – ( Dirige-se em direção à princesa. Toma-lhe a mão e diz em voz alta para todos) – Minhas senhoras, meus senhores, apresento-lhes a minha mulher, a princesa Beatriz. Na verdade, nós já nos casámos mas foi uma casamento sem alegria, no frio do inverno. Não foi um casamento bonito e ela não gostava muito do meu queixo mas parece que já se habituou ao meu aspecto e à minha maneira de ser. ( O príncipe tira a sua capa e todos – AAHH! Diante da princesa está agora o músico António) PRINCESA – António! O BOBO – Olha! É o músico… não, o príncipe… não, o músico! Bem, estou confuso! MARECHAL DA CORTE 2 – Isto só pode ser uma brincadeira! O que se está aqui a passar Alteza? ( o príncipe tira o xaile à princesa. Ela está com o vestido habitual e o avental.) PRINCIPE - E agora o que me dizes, linda princesinha?
  • 18. PRINCESA ( emocionada, quase a chorar de alegria) – Não posso acreditar no que os meus olhos vêem. Tu foste sempre o príncipe Nabo! (tapa a boca com as duas mãos) PRÍNCIPE (a rir) – Sim, podes dizê-lo sem medo, o Príncipe Nabo da Nabolândia, o teu marido… PRINCESA ( Encostando-se a ele) – Oh, António! O BOBO – Austero Madame, Austero! PRINCESA – Não sei como me hei de habituar. O BOBO ( excitado para a princesa) – Sua Alteza, Madame… oh, perdão… princesa Beatriz, então sempre sabe falar francês e toca piano e pinta flores? Não era mentira? PRINCESA – Não era mentira, vocês é que não se quiseram acreditar… O BOBO – Como queria que acreditássemos? Vivia no Beco Estreito, nº 15, a descascar batatas e a estender roupa… A vida tem cada surpresa! Mas esta não me entra na cabeça! Um músico, uma madame, um piano, piano nenhum, nem cadeirões e depois vitela roubada e um príncipe e um castelo. Que confusão! MARECHAL DA CORTE 2 – Sua Alteza, estão a chegar os primeiros convidados. PRÍNCIPE – Depressa, um manto real para a princesa. ( o Bobo corre e vai buscar um pesado manto vermelho. As raparigas ajudam a princesa a colocá-lo. Os rapazes ajudam o príncipe a colocar a sua capa. Entra o rei do Castelo da Abundância, o marechal da Corte 1 e a Mademoiselle. A princesa corre a abraçar o pai.) PRINCESA – Meu pai, meu querido pai! MARECHAL DA CORTE 1 – Bons olhos a vejam, princesa Beatriz. Será que é hoje que vou comer os meus petit gateau? PRINCESA – Não se preocupe, vou tratar disso, fique descansado. ( saem todos) O BOBO – Querido público!... bem… estou um pouco atrapalhado…o que não é normal em mim, enfim deve ser da emoção! Esta história acabou Acredito que vos agradou Espero que penseis nela Na donzela rica e bela Que de tamanho desdém, Ia ficando sem ninguém. Mas a vida que amargou De maior desgraça a salvou Agora vou-me calar. Como sabeis temos festa… E portanto só me resta, Despedir de si, Amigo espectador! Uma salva de palmas, por favor! ( o bobo dá várias cambalhotas e sai..)
  • 19. Reentram todos e agradecem com três vénias ao público e voltam a sair despedindo-se, acenando… Adaptação realizada pelo professor José Antunes