1. Programas socioculturais como arte-educação podem ter seu financiamento reduzido com mudanças na Lei Rouanet.
2. Empresas reconhecem que projetos culturais geram mais visibilidade do que ações sociais, apesar de serem menos atraentes para marketing.
3. Organizações debatem como fazer projetos socioculturais serem levados mais a sério pelos departamentos de marketing das empresas.
Programas socioculturais ameaçados por mudanças na Lei Rouanet
1. Por meio da Lei Rouanet, o Mi-
nistério da Cultura (Minc) viabi-
lizou R$ 1,285 bilhão em proje-
tos ao longo de 2011. Para este
ano, está previso na Lei Orça-
mentária Anual (LOA) o desem-
bolso de R$ 1,642 bilhão. Mas
uma das iniciativas mais benefi-
ciadas pelo incentivo do gover-
no à cultura está
sob ameaça: os
projetos de arte-
educação.
Pouco viçosas
para a visibilida-
de das empresas
quando compara-
das a filmes e pe-
ças de teatro, es-
sas iniciativas cos-
tumam ter 100% de reembolso
por meio da Lei. Porém, o mode-
lo de patrocínio viabilizado inte-
gralmente pelo Estado pode aca-
bar, caso seja aprovado o con-
junto de propostas conhecido
como Reforma da Lei Rouanet,
em discussão em Brasília.
Também integram o novo pa-
cote projetos para instituir o Fun-
do de Investimento Cultural e
Artístico e o Vale-Cultura (tíque-
te de R$ 50 reais para trabalhado-
res terem o acesso a bens cultu-
rais ampliados), por exemplo.
A Casa de Cultura e Cidada-
nia da periférica Vila Guacuri,
no limite entre de São Paulo e
Diadema, parceria do governo
com a AES Brasil, foi palco on-
tem de uma dicussão conjunta
entre o Minc e grandes organiza-
ções, mediadas pela H.Melillo,
um grupo de articulação social.
Estiveram lá contando suas
experiências a Microsoft — que
não recorre à Lei Rouanet e só
atua na área filantrópica por
meio da doação de softwares —
e a Companhia Si-
derúrgica Nacio-
nal (CSN), que re-
conheceu o quan-
to o patrocínio
de filmes garante
mais visibilidade
à empresa que os
projetos sociais.
O exemplo mais
notório foi o
apoio a “Tropa de Elite” (2007),
de José Padrilha.
“O maior desafio é ultrapas-
sar a barreira dos departamen-
tos de marketing que ainda
tem a mentalidade de que proje-
to sociocultural é ‘coisa pra po-
brinho’”, afirma Heloisa Meli-
llo, presidente e fundadora da
H.Melillo. “Se faz um projeto
meia-boca porque eles nem
olham para os resultados, que
também ficam meia-boca, cla-
ro.” As sete Casas de Cultura e
Cidadania custam à AES R$ 20
milhões ao ano, 100% viabiliza-
dos via Lei Rouanet. ■
José Gabriel Navarro
jgnavarro@brasileconomico.com.br
Programas sociocultuais na
berlinda com mudanças na lei
Fotos: Pedro Saad
Grupodearticulaçãoentre empresase terceiro setorse reúnecom executivospara debaterrumos da filantropia
A AES Brasil
banca com R$ 20
milhões anuais as
Casas de Cultura e
Cidadanias, tudo
recompensado
via Lei Rouanet
21
4
CULTURA
3
1 A apresentação de
arte circense da Casa de
Cultura e Cidadania inclui
números de dança moderna;
2 As acrobacias
são demonstradas ao
som de música épica;
3 Por trás do espetáculo,
há uma mensagem de
superação de obstáculos,
cara aos jovens da periferia;
4 Os palhgaços, personagens
mais próximos da realidade,
interagem com a plateia.
36 Brasil Econômico Sexta-feira e fim de semana, 27, 28 e 29 de abril, 2012
2. Três anos após o Massacre de Co-
lumbine - quando em abril de
1999, dois alunos dessa escola
americana atiraram contra cole-
gas -, o cantor Marilyn Manson
se pronunciou no documentá-
rio “Tiros em Columbine”, de
Michael Moore. À época, acusa-
vam suas músicas de incitarem
comportamentos superagressi-
vos como o dos jovens assassi-
nos do colégio do Colorado.
Manson disse: “Nós nos es-
quecemos da influência do di-
nheiro, e de que o presidente
[BILL CLINTON] estava atiran-
do bombas sobre o mar. Então
eu sou um cara mau, porque
canto rock 'n' roll. Mas quem é
a influência maior: o presiden-
te ou Marilyn Manson? Eu gos-
taria de me escolher, mas vou
ficar com o presidente”.
O tom político, superficial-
mente raro nesse artista, fica
mais claro quando se entende
que suas canções falam do que
ele chama de “campanha de me-
do e consumismo”. É o timbre
apocalíptico de quem não
aguenta muito bem conviver
com as contradições dos Esta-
dos Unidos.
E é esse discurso que nova-
mente se pode ouvir com graça
no álbum “Born Villain” (algo
como “Vilão de Nascença”),
que “vazou” na madrugada da
última quarta-feira, alastran-
do-se pelas redes sociais. Se
“The High End of Low”, de
2009, empolgou muito pouco a
crítica e os fãs, já se sente de
imediato que “Born Villain”
causa um bom barulho.
Nada comparável ao desem-
penho do auge da banda (que le-
va o nome do vocalista), entre
1995 e 2005, quando era preciso
garimpar para descobrir um fil-
me de terror americano sem
músicas de Manson na trilha so-
nora. Mas, desta vez, a primeira
faixa demonstra uma animação
antes ausente. “Hey, Cruel
World” critica a necessidade de
fixar destinos num mundo em
que o futuro raramente se mos-
tra promissor - e ele canta so-
bre isso com refrão pegajoso.
“Overneath The Path Of Mi-
sery” parece uma tentativa de
Manson, que está com 43
anos, se manter ligado aos jo-
vens, com uma canção que re-
corre a personagens clássicas
para desancar relações familia-
res (“Seu Macbeth confessou
complexo de Édipo, fora do
tempo presente / Seu Macbeth
confessou complexo de Édipo,
fora de pré-sentença”).
Ironia
Outro destaque é “Slo-Mo-
Tion”, uma espécie de ironia so-
bre a sociedade do espetáculo,
cada vez mais veloz (“Este é
meu belo show, e tudo é exibi-
do em câmera lenta”). A faixa-
título dá o recado essencial:
“Nasci vilão / Não finja ser uma
vítima”. É sobre isso que Man-
son versa: assumir responsabili-
dades e posições diante de um
mundo que, às vezes, faz muito
pouco sentido. A treva e a pose
de malvado revestem uma poe-
sia que clama por lucidez, ainda
que ele já tenha feito isso com
mais graça em outros tempos.
Quem tiver coragem de confe-
rir os gemidos e os sintetizadores
tenebrosos pode recorrer à Ama-
zon. “Born Villain” está à venda
por US$ 11,99 (R$ 22,50). ■
O filme é baseado no livro de
memórias de Colin Clark
(1932-2002), “Minha Semana
com Marilyn”. Jovem aristocra-
ta, Colin (Eddie Redmayne) ti-
rou a sorte grande, em seu pri-
meiro trabalho profissional no
cinema, ao receber como um
presente do destino a missão de
assistente pessoal de Marilyn
Monroe (Michelle Williams) em
viagem à Inglaterra para atuar
em “O Príncipe Encantado”
(1957). O filme do diretor e pro-
dutor britânico Simon Curtis
soube contornar clichês. O lon-
ga deixa nas entrelinhas algu-
mas emoções de um primeiro
amor entre Marilyn e Colin co-
mo uma sequência que apresen-
ta uma travessura da estrela, es-
capando ao trabalho com o assis-
tente, para uma divertida visita
a uma escola, seguida por um
mergulho num lago. A política,
que pode ou não ter tido algum
papel em sua morte precoce,
em 1962, aos 36 anos, não é obje-
to deste filme, que aborda um
outro tempo. ■ Reuters
Em 2008, 30 anos após a estreia
de uma de suas criações mais ce-
lebradas, “Kontakthof”, a co-
reógrafa alemã Pina Bausch de-
cidiu remontar o número com
um elenco formado por adoles-
centes sem nenhuma experiên-
cia anterior em dança.
A fascinante iniciativa foi
acompanhada, ao longo de um
ano, no documentário “Sonhos
em Movimento”, dos diretores
Anne Linsel e Rainer Hoffman,
que registraram também as últi-
mas imagens filmadas de Pina,
morta em junho de 2009.
De diversas maneiras, “So-
nhos em Movimento” dialoga
com um outro documentário,
intitulado“Pina”, de Wim Wen-
ders. Isto acontece especial-
mente porque o filme de Wen-
ders, que realiza um amplo ba-
lanço do trabalho da coreógra-
fa, até por ter sido feito após
sua morte, inclui também al-
guns trechos de “Kontakthof”,
que foi remontado em 2000,
com um elenco de maiores de
65 anos. ■ Reuters
O professor da Università Vita-
Salute San Raffaele de Milão, e
escritor italiano Edoardo Bonci-
nelli lança no Brasil seu livro
“Carta a um menino que viverá
100 anos - Como a ciência nos
fará (quase) imortais”, pela edi-
tora Guarda-Chuva. Com uma
linguagem acessível, o autor
sustenta a ideia de que 50% dos
membros da chamada geração
Z - nascidos a partir da segunda
metade da década de 1990, vão
chegar aos cem anos.
“O livro pode ser útil para os
jovens começarem a pensar em
um mundo diferente deste, on-
de as pessoas mais velhas de-
vem encontrar motivações e
propósitos para viver”, afirma
Boncinelli. O livro apresenta es-
tudo sobre o que foi feito, está
acontecendo e provavelmente
ocorrerá no campo da biomedi-
cina, com especial atenção ao
problema do envelhecimento.
O autor é geneticista. ■
“Girimunho”, que estreia hoje
depois de uma boa carreira por
festivais internacionais, não é
apenas um filme sobre o tempo
e a saudade. O primeiro longa
de Clarissa Campolina e Helvé-
cio Marins Júnior mistura docu-
mentário e ficção ao abordar a
nostalgia do não vivido, a per-
da e a capacidade do ser huma-
no de se redescobrir e reencon-
trar. Tudo isso no meio do míti-
co sertão mineiro, à la Guima-
rães Rosa, onde o real e o fantás-
tico nem sempre se definem.
Quem são esses personagens
que viveram diante das câme-
ras e agora estão na tela?
Aos poucos, o filme dá di-
cas, mostra uma coisinha aqui,
outra ali, mas nunca os misté-
rios são completamente des-
vendados, permitindo ao públi-
co compartilhar a vida dessas
pessoas. Mais do que interpre-
tar, as mulheres, homens, jo-
vens e crianças vivem seus pe-
quenos dramas cotidianos e en-
frentam suas grandes dúvidas
existenciais. ■ Reuters
Amor em “Sete
dias com Marilyn”
Pina ganha“Sonhos
em Movimento”
Manson retorna com
algum sangue novo
A imortalidade sob a ótica da genética
Longa baseado no livro de
memórias de Colin Clark
consegue livrar-se de clichês
Documentário de Linsel
e Hoffman mostra as últimas
imagens da coreógrafa alemã
“Girimunho” quer
investigar nostalgia
Destaque na programação da Olimpíada
Divulgação
José Gabriel Navarro
jgnavarro@brasileconomico.com.br
Longa mistura documentário e
ficção ao abordar capacidade
do ser humano de se redescobrir
Ronald Martinez/AFP
Roqueiro volta a clamar, com classe, pela lucidez em meio às trevas
“Hey, Cruel World”
critica a necessidade
de fixar destinos
num mundo em que
o futuro raramente
se mostra promissor
ESTREIAS - CINEMA
Gabriela Murno
gmurno@brasileconomico.com.br
A programação para o Festival Londres 2012 foi anunciada ontem
em uma grande celebração cultural organizada para coincidir com
a Olimpíada e a Paraolimpíada. Serão 12 semanas (de 21 de junho
a 9 de setembro) de espetáculos de música, dança, teatro, cinema e
artes plásticas. Entre os grandes nomes confirmados estão o cantor
britânico Damon Albarn, a atriz australiana Cate Blanchett, o artista
plástico e ativista chinês Ai Weiwei e o rapper norte-americano Jay-Z.
ÁlbumBornVillain“vazou” esealastrounasredessociais
Sexta-feira e fim de semana, 27, 28 e 29 de abril, 2012 Brasil Econômico 37