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CanalBrasil l 12 anos
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“O clima no
set era tão
bom que
não parecia
trabalho.
Éramos jovens
apaixonados
por cinema
querendo
muito fazer
aquilo juntos“
por josé gabriel navarro
Ou de que forma Matheus Souza e seus amigos da PUC-RJ se reuniram para
fazerumlongacompoucosrecursos,umaótimahistóriaemuitasinceridade
UMA CÂMERA NA MÃO,
uma ideia na cabeça e
pouco dinheiro no bolso.
Compartilhada pela maior
parte dos estudantes de cinema de todo
o mundo, essa realidade pode ser de-
sestimulante ou se traduzir em curtas-
metragens – que, apesar de geralmente
exigirem mais esforços na hora de
editar, costumam ter poucas locações,
reduzindo os gastos com aluguel, trans-
porte, etc. Quando, em 2008, Matheus
Souza ainda estava na faculdade, a área
de atuação de seu primeiro longa foi bem
delimitada: o único set seria o campus da
Pontifícia Universidade Católica do Rio
de Janeiro (PUC-RJ), onde se formou
no fim do ano passado.
Com isso em mente, escreveu o
roteiro de Apenas o Fim. Na história,
Tom (Gregório Duvivier) é o aluno de
Apenas o Fimdia 20, segunda, 22h
cinema que, no caminho, apressado
para chegar a tempo para uma prova, é
interrompido pela namorada, primeiro
papel de protagonista de Erika Mader,
coapresentadora do Bastidores (sextas,
22h30, Multishow, 42). Ela avisa que
vai deixar o rapaz, a família e os estu-
dos para trás, e eles só têm uma hora
juntos antes de ela partir. Ela quer
mudar de vida e ponto final.
“A ideia veio da vontade de fazer um
filme do melhor jeito possível com o
que tínhamos. E a temática veio do fato
de que já estávamos sendo ousados por
tentar fazer um longa aos 20 anos, sem
experiência. Então resolvi ser modesto
e sincero na trama. Resolvi falar do
que sabia falar bem, do que já vivi, das
conversas que já tive, do meu compor-
tamento e das pessoas que me cercam”,
explica Souza. Ele, Duvivier e Erika já
se conheciam d’O Tablado, tradicional
escola de teatro carioca que formou,
entre outros atores, Miguel Falabella,
Drica Moraes, Cláudia Abreu e Malu
Mader, tia de Erika.
A convivência garantiu um clima
de descontração nos bastidores. Ou,
como define Duvivier: “Todos éramos
meio sócios. N’O Tablado, os atores
aprendem um pouco a participar da
parte técnica, da montagem. E a gente
[a equipe de atores] participava bastante,
dava sugestões para a produção. Foi um
dos filmes mais tranquilos que já fiz”.
O ator já esteve em outros quatro longas-
metragens, incluindo Chico Xavier, mais
um sucesso da lavra de Daniel Filho.
Souza concorda. “Foi sempre ótima
essa proximidade. O clima no set era
tão bom que não parecia trabalho.
Éramos jovens apaixonados por cinema
querendo muito fazer aquilo juntos.”
E haja vontade. As cenas na universidade
foram gravadas em apenas duas semanas,
durante os dias letivos em que os alunos
realmente circularam pelo local. Outras
tomadas,ambientadasnumquarto,foram
gravadas na casa de uma das garotas da
equipe, que contou com “entre 25 e 30
pessoas”, segundo o jovem cineasta.
Metade do orçamento de R$ 8 mil
veio da Vice-Reitoria de Desenvolvi-
mento da faculdade. O restante, do
sorteio de uma rifa de uísque. “Boas
histórias, bons diálogos não precisam
de grandes recursos. Tem gente que
faz um roteiro ruim com um monte de
efeitos especiais e pensa que vai ficar
incrível. Existem roteiros ótimos que
não se passam numa locação deslum-
brante nem dependem de uma foto-
grafia incrível, mas se garantem com o
carisma dos personagens”, diz Duvivier,
que se formou em Letras na PUC-RJ
no fim de 2008. A prova de que eles
estavam certos veio no ano seguinte ao
lançamento, com os prêmios de melhor
filme de ficção pela escolha do público
no Festival do Rio e na Mostra Interna-
cional de Cinema em São Paulo.
O tema “casal com pouquíssimo
tempo para viver o amor” é bastante
associado a Antes do Amanhecer (1995)
e a sua continuação, Antes do Pôr-do-
Sol (2004). Mas, a julgar pelos elogios
do público e da crítica, a proximidade
maior é com Juno (2007), um filme
cheio de referências à cultura jovem
contemporânea e com olhar sóbrio
acerca dessa fase da vida – sem dramas
suicidas nem prazeres infinitos, apenas
uma simpática tragicomédia. A vida real
é bem mais por aí, não é mesmo? n
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