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Brasília - DF
Seminário de Prevenção
de Acidentes de
Trabalho
TEORIA DO ATO INSEGURO E SUA
(IN)VALIDADE ATUAL
Prof Ass Dr Ildeberto Muniz de Almeida
Depto de Saúde Pública da Faculdade de Medicina
de Botucatu - UNESP
O Viés Retrospectivo
O conhecimento sobre o desfecho do acidente
distorce a visão dos analistas acerca da
natureza da prática.
[...] Simplifica dilemas, complexidades e
dificuldades que os operadores encontram e os
modos habitualmente usados para “produzir com
sucesso”.
Woods & Cook 2002
Se Correr o Bicho Pega, Se Ficar ...
• Trabalhador de equipe de manutenção morreu em
colisão entre trens enquanto tentava salvar
equipamento da empresa levando-o até o desvio
mais próximo.
– Ato inseguro por não ter pulado da composição
de manutenção em movimento.
E se tivesse morrido por ter pulado da
composição em movimento como seria julgado
seu comportamento?
Introdução à Noção de Ato Inseguro
Ato Inseguro e Seus Pressupostos
• Origens no trabalho de Heinrich, anos 30, Séc XX
• Ato ou omissão, consciente ou não que desencadeia
o acidente
• Causa principal em até 90% dos acidentes
• Acidente é explicado de modo centrado na pessoa
– Equipe de análise não precisa mostrar como
chegou às suas conclusões
• A prevenção se baseia na cenoura ou no chicote:
– Premiar o comportamento desejado (consenso)
– Punir o comportamento não desejado
• “Uma organização que pune o faltoso não está
preparada para uma cultura de segurança”
A Roupa Nova
• Programas de Segurança Comportamental que, em
sua pior forma, associam:
– Vigilância de comportamentos individuais por
colegas adestrados
• De operadores (não de gestores)
• Privilegia o observável (estável no tempo)
• Exclui observação de condições materiais
– Feedback individual direcionado para a “confissão”
de culpa individual:
• “Lavagem cerebral” feita por colega adestrado
– Punições de comportamentos faltosos
– Cultura de segurança: soma dos comportamentos
Pressupostos da Noção de Ato Inseguro
Principais Pressupostos
• O comportamento faltoso é:
– Produto de escolhas conscientes, livres, racionais
quando podia agir do jeito “certo e seguro”
– Atributo da pessoa: propensão ao acidente
– Independe do MODO (PSÍQUICO) DE
CONTROLE DA AÇÃO e do tipo de situação de
trabalho
• O acidente:
– É fenômeno simples, paucicausal
– A estrutura de todos os tipos de acidentes seria
assemelhada.
Principais Pressupostos: O Trabalho
• O trabalho não muda: Prescrito igual ao real.
– Recursos humanos e materiais
– Contexto temporal e de produção,
– Ambiente externo em que se situa o sistema
– [...]
• Sempre estão de acordo com o previsto.
– O jeito certo e seguro é previamente conhecido
e só depende do operador para ser usado
Críticas à Noção de Ato Inseguro
A Atribuição de Culpa é Construção Social
• Nos anos 80, nos EUA, Berman denunciou
práticas empresariais que recomendavam aos
patrões a difusão de idéias como:
• Acidentes aconteceriam por culpa dos
trabalhadores ou como produto do acaso
• Descuidos dos trabalhadores causariam os
acidentes
Lax, MB, 2006
Conceito Ideológico e Construção Social
• Nos anos 80, no Brasil e nos EUA estudiosos
denunciam processo multi-institucional de:
– Uso ideológico da categoria ato inseguro
– Diluição da responsabilidade do empregador
– Produção da consciência culposa (do trabalhador)
Sass & Crook; 1981
Cohn, Karsh, Hirano e Sato; 1985
Culpar a Vítima e Inibir a Prevenção
No Brasil, são muitos os estudos mostrando que o
uso da noção de ato inseguro está ligado ao
desenvolvimento de cultura de atribuição de
culpa às vítimas de acidentes e,
simultaneamente, de disseminação de práticas
de inibição da prevenção desses eventos.
O sistema não teria problemas, bastaria
treinar e punir o faltoso e tudo voltaria ao
normal.
Com a evolução dos conhecimentos das Psicologias
Cognitiva e do Trabalho, das Engenharias de
Produção e de Sistemas, das Ciências Sociais,
da Ergonomia etc o anacronismo e a fragilidade
dessa concepção tornam-se tão evidentes que o
que deveria causar estranheza é a persistência
de sua utilização no âmbito de empresas.
Trabalhador Seria o Elo Fraco da
Corrente da Segurança
Desconstruindo a Idéia do Trabalhador Como
Elo Fraco da Corrente
O Acidente Não é um Fenômeno Individual.
• É visto como sinal de disfunção em sistema sócio-
técnico (SST) aberto
• Explicado por rede de fatores e aspectos em
interação e suas origens, incluindo:
– Faltas ou falhas de barreiras de prevenção ou
proteção
– Mudanças em componentes ou interações em
relação ao trabalho sem acidente
– A contribuição humana no acidente é explicada
com conceitos já usados em estudos de AT
• É evento com história, bem representado por
gravata-borboleta
O Acidente e Suas Tipologias
Acidentes São Diferentes
• Tipologia segundo mudanças necessárias ao seu
desencadeamento (Monteau)
– Tipo 1, Tipo 2 e Tipo 3
• Tipo 1: Na operação normal do sistema
ocorrem “acidentes esperando para acontecer”
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acidente”
• Tipos 2 e 3 ocorrem quando melhora a gestão
de segurança do sistema
• Acidente Psico-organizacional (Reason; Llory)
• Acidente normal ou decorrente da complexidade
estrutural do sistema (Perrow)
O Acidente é Fenômeno Psico-Organizacional
O Acidente Organizacional de James Reason
Perigo,
fatores
de risco
Perdas
Causas
Análise
Falhas ativas
Fatores do ambiente de trabalho
Fatores organizacionais
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• O comportamento que fracassa (falha ativa) é
consequência, e não causa do acidente
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Duas Concepções de Segurança em Disputa
• Segurança comportamental:
– Atribui o acidente às falhas ativas, que devem
ser priorizadas na prevenção
• Segurança sistêmica:
– Principais razões dos acidentes são as condições
latentes e a prevenção deve priorizá-las.
Novo Olhar Sobre a Dimensão Humana:
Aspectos da Literatura
Comportamento em Situação e Acidentes
• O modo de controle da ação muda com o tipo de
situação
– Gestão por automatismos, por regras e pelo
conhecimento se associam a diferentes tipos de
acidentes
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psíquico do trabalhador aumentando a chance de
omissões e de acidentes.
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• Nem todo erro leva a acidentes.
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• [...]
Novo Olhar Sobre a Dimensão Humana:
Atos Inseguros ou Comportamentos Com
Origens Organizacionais e Gerenciais?
Acidentes e Modos de Controle da Ação
• Choque em colega ao religa sistema em final de
manutenção
– Erros por invasão do habitual + GSST
desconsidera característica psíquica do operador
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– Erros por fadiga, sonolência, mudanças mínimas na
situação de trabalho (Não “usa” a atenção).
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falta de formação, adaptação habitual no sistema
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com ar refrigerado.
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ecológica. Concepção desconhece uso do aviso.
A Regra Não Antecipa o Real
• Última viagem, cabine fechada, arranca sem
autorização (como costume) - colisão trens
– Situação diferente é apresentada com mesmos
sinais da habitual. Age como de hábito.
– Fronteira entre tarefas desconsiderada na
gestão de segurança.
• Retornando de férias não obedece alarme
historicamente desregulado e recém ajustado
– Erro por excesso de confiança e falha de
comunicação no sistema
• A noção de ato inseguro desconsidera as
implicações das diferenças do modo de controle
da ação e do tipo de situação nas origens do
acidente e na recomendação de medidas de
prevenção
A Invalidade da Noção de Ato Inseguro
A análise de acidentes deve esclarecer se a
gestão de segurança e de produção consideram
essas diferenças nas decisões sobre divisão de
homens e tarefas no sistema.
Invalidade da Noção de Ato Inseguro
• Se esse tipo de comportamento for
interpretado como de natureza individual
(centrado na pessoa) as condições sistêmicas
que o originam serão deixadas intocadas.
• Um sistema de segurança não pode depender
exclusivamente da memória e da atenção do
operador.
A Ergonomia e o Acidente
O Risco Não Depende Apenas de fatores
Técnicos Anteriores
• Pressupostos. O trabalho prescrito é diferente do
real:
– Se bem feita, a segurança formal (prescrito
externo) só considera o que pode ser antecipado
• No trabalho real o risco depende da Experiência do
Operador e de seu conhecimento sobre a atividade
– No trabalho sempre se lida com variabilidades não
antecipadas ou não consideradas pela segurança
formal
– Diagnosticar o estado do sistema e resolver isso
exige negociações, constantes re-normalizações:
cooperações, há impedimentos não previstos [...]
O Comportamento que Fracassa foi Usado
Antes com Sucesso
• A análise da atividade mostra que a norma é álibi:
– Comportamentos explicados como desrespeito a
normas da empresa eram parte de estratégias
do trabalho real:
• Comunicar-se por sinais para economizar
pilhas de rádio a ser usado em situações sem
contato visual
• Fazer sozinho o trabalho de dois quando a
equipe está reduzida
• Intervir em co-atividade com sistema
energizado
A Concepção Precisa Respeitar as
Características Psíquicas dos Operadores
Erros de Modo e Feedback Inadequado
• A informação mostrada pelo sistema ao operador
deve ser clara, direta e compatível com o raciocínio
humano.
• Com as novas tecnologias abundam sistemas
concebidos para:
– Agir sem aviso prévio (surpresa automática)
– Apresentar mesmos sinais em situações diferentes
– Apresentar sinais que nada informam sobre a
realização da ação comandada (ordenada)
– Apresentar sinais que não informam o modo
selecionado e nem o que o sistema está fazendo
A Invalidade da Noção de Ato Inseguro
• Erros previsíveis associados a falhas de
concepção de sistemas, em especial, por
inadequação do feedback às características
psíquicas do ser humano em situação de
trabalho são reduzidos a falhas humanas
quando descritos com a noção de ato inseguro.
Por Que Fazia Sentido Para o Operador Agir
Daquela Forma Naquele Instante e Situação?
A Invalidade da Noção de Ato Inseguro
• O enfoque ergonômico não julga o comportamento
que fracassa.
• A análise deve explicar:
– Razões para o fracasso de comportamento
(estratégias, modos operatórios) usados com
sucesso no passado
De modo geral o acidente tem origens em
constrangimentos da OT que diminuem as
margens de manobra dos operadores face às
variabilidades da atividade
Os Conhecimentos Mostrados Reforçam
Compreensão Sobre a Invalidade Atual da
Noção de Ato Inseguro
A Invalidade da Noção de Ato Inseguro
• Dada a trajetória conceitual apresentada sobre: a
cognição humana em situação; o fenômeno acidente e
o trabalho humano;
• Dada a inconsistência dos pressupostos embutidos na
noção de ato inseguro entendemos que:
– Trata-se de concepção anacrônica e ultrapassada
– Não mais se justifica a utilização dessa categoria
para referir comportamentos humanos no trabalho
– É praticamente impossível encontrar situação de
trabalho que possa ser explicada como “culpa
exclusiva da vítima”
• Segurança não está em pessoas isoladas,
equipamentos ou departamentos de uma
organização.
• Encontre vulnerabilidades sistêmicas e não
falhas individuais.
Woods & Cook 2002
A Segurança e Confiabilidade São Produtos da
Organização
Sites da Faculdade de Medicina de Botucatu
• “Fórum Acidentes de Trabalho: Análise, Prevenção
e Aspectos Associados”
http://www.moodle.fmb.unesp.br/course/view.php?id=
52
Disciplina de Pós Graduação: “Concepções de
Acidentes e Suas Implicações Para Análise e
Prevenção”
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Prof Ass Dr. Ildeberto Muniz de Almeida
ialmeida@fmb.unesp.br

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  • 1. Brasília - DF Seminário de Prevenção de Acidentes de Trabalho TEORIA DO ATO INSEGURO E SUA (IN)VALIDADE ATUAL Prof Ass Dr Ildeberto Muniz de Almeida Depto de Saúde Pública da Faculdade de Medicina de Botucatu - UNESP
  • 2. O Viés Retrospectivo O conhecimento sobre o desfecho do acidente distorce a visão dos analistas acerca da natureza da prática. [...] Simplifica dilemas, complexidades e dificuldades que os operadores encontram e os modos habitualmente usados para “produzir com sucesso”. Woods & Cook 2002
  • 3. Se Correr o Bicho Pega, Se Ficar ... • Trabalhador de equipe de manutenção morreu em colisão entre trens enquanto tentava salvar equipamento da empresa levando-o até o desvio mais próximo. – Ato inseguro por não ter pulado da composição de manutenção em movimento. E se tivesse morrido por ter pulado da composição em movimento como seria julgado seu comportamento?
  • 4. Introdução à Noção de Ato Inseguro
  • 5. Ato Inseguro e Seus Pressupostos • Origens no trabalho de Heinrich, anos 30, Séc XX • Ato ou omissão, consciente ou não que desencadeia o acidente • Causa principal em até 90% dos acidentes • Acidente é explicado de modo centrado na pessoa – Equipe de análise não precisa mostrar como chegou às suas conclusões • A prevenção se baseia na cenoura ou no chicote: – Premiar o comportamento desejado (consenso) – Punir o comportamento não desejado • “Uma organização que pune o faltoso não está preparada para uma cultura de segurança”
  • 6. A Roupa Nova • Programas de Segurança Comportamental que, em sua pior forma, associam: – Vigilância de comportamentos individuais por colegas adestrados • De operadores (não de gestores) • Privilegia o observável (estável no tempo) • Exclui observação de condições materiais – Feedback individual direcionado para a “confissão” de culpa individual: • “Lavagem cerebral” feita por colega adestrado – Punições de comportamentos faltosos – Cultura de segurança: soma dos comportamentos
  • 7. Pressupostos da Noção de Ato Inseguro
  • 8. Principais Pressupostos • O comportamento faltoso é: – Produto de escolhas conscientes, livres, racionais quando podia agir do jeito “certo e seguro” – Atributo da pessoa: propensão ao acidente – Independe do MODO (PSÍQUICO) DE CONTROLE DA AÇÃO e do tipo de situação de trabalho • O acidente: – É fenômeno simples, paucicausal – A estrutura de todos os tipos de acidentes seria assemelhada.
  • 9. Principais Pressupostos: O Trabalho • O trabalho não muda: Prescrito igual ao real. – Recursos humanos e materiais – Contexto temporal e de produção, – Ambiente externo em que se situa o sistema – [...] • Sempre estão de acordo com o previsto. – O jeito certo e seguro é previamente conhecido e só depende do operador para ser usado
  • 10. Críticas à Noção de Ato Inseguro
  • 11. A Atribuição de Culpa é Construção Social • Nos anos 80, nos EUA, Berman denunciou práticas empresariais que recomendavam aos patrões a difusão de idéias como: • Acidentes aconteceriam por culpa dos trabalhadores ou como produto do acaso • Descuidos dos trabalhadores causariam os acidentes Lax, MB, 2006
  • 12. Conceito Ideológico e Construção Social • Nos anos 80, no Brasil e nos EUA estudiosos denunciam processo multi-institucional de: – Uso ideológico da categoria ato inseguro – Diluição da responsabilidade do empregador – Produção da consciência culposa (do trabalhador) Sass & Crook; 1981 Cohn, Karsh, Hirano e Sato; 1985
  • 13. Culpar a Vítima e Inibir a Prevenção No Brasil, são muitos os estudos mostrando que o uso da noção de ato inseguro está ligado ao desenvolvimento de cultura de atribuição de culpa às vítimas de acidentes e, simultaneamente, de disseminação de práticas de inibição da prevenção desses eventos. O sistema não teria problemas, bastaria treinar e punir o faltoso e tudo voltaria ao normal.
  • 14. Com a evolução dos conhecimentos das Psicologias Cognitiva e do Trabalho, das Engenharias de Produção e de Sistemas, das Ciências Sociais, da Ergonomia etc o anacronismo e a fragilidade dessa concepção tornam-se tão evidentes que o que deveria causar estranheza é a persistência de sua utilização no âmbito de empresas. Trabalhador Seria o Elo Fraco da Corrente da Segurança
  • 15. Desconstruindo a Idéia do Trabalhador Como Elo Fraco da Corrente
  • 16. O Acidente Não é um Fenômeno Individual. • É visto como sinal de disfunção em sistema sócio- técnico (SST) aberto • Explicado por rede de fatores e aspectos em interação e suas origens, incluindo: – Faltas ou falhas de barreiras de prevenção ou proteção – Mudanças em componentes ou interações em relação ao trabalho sem acidente – A contribuição humana no acidente é explicada com conceitos já usados em estudos de AT • É evento com história, bem representado por gravata-borboleta
  • 17. O Acidente e Suas Tipologias
  • 18. Acidentes São Diferentes • Tipologia segundo mudanças necessárias ao seu desencadeamento (Monteau) – Tipo 1, Tipo 2 e Tipo 3 • Tipo 1: Na operação normal do sistema ocorrem “acidentes esperando para acontecer” – “Ah! Doutor: Aqui: uma bobeira leva ao acidente” • Tipos 2 e 3 ocorrem quando melhora a gestão de segurança do sistema • Acidente Psico-organizacional (Reason; Llory) • Acidente normal ou decorrente da complexidade estrutural do sistema (Perrow)
  • 19. O Acidente é Fenômeno Psico-Organizacional
  • 20. O Acidente Organizacional de James Reason Perigo, fatores de risco Perdas Causas Análise Falhas ativas Fatores do ambiente de trabalho Fatores organizacionais
  • 21. Errar é Humano • O comportamento que fracassa (falha ativa) é consequência, e não causa do acidente • Há acidentes sem “falhas ativas” Duas Concepções de Segurança em Disputa • Segurança comportamental: – Atribui o acidente às falhas ativas, que devem ser priorizadas na prevenção • Segurança sistêmica: – Principais razões dos acidentes são as condições latentes e a prevenção deve priorizá-las.
  • 22. Novo Olhar Sobre a Dimensão Humana: Aspectos da Literatura
  • 23. Comportamento em Situação e Acidentes • O modo de controle da ação muda com o tipo de situação – Gestão por automatismos, por regras e pelo conhecimento se associam a diferentes tipos de acidentes • Passos da tarefa influenciam o funcionamento psíquico do trabalhador aumentando a chance de omissões e de acidentes. – Armadilha cognitiva e “bypass” previsível • Nem todo erro leva a acidentes. – Trabdores experientes erram mais que novatos. – Detectam e corrigem a maioria de seus erros • [...]
  • 24. Novo Olhar Sobre a Dimensão Humana: Atos Inseguros ou Comportamentos Com Origens Organizacionais e Gerenciais?
  • 25. Acidentes e Modos de Controle da Ação • Choque em colega ao religa sistema em final de manutenção – Erros por invasão do habitual + GSST desconsidera característica psíquica do operador • Acidente na operação normal de máquina (GSST) – Erros por fadiga, sonolência, mudanças mínimas na situação de trabalho (Não “usa” a atenção). • Acidente ao realizar a tarefa pela primeira vez. – Desproteção cognitiva + Designação improvisada, falta de formação, adaptação habitual no sistema • Morte por não ouvir aviso da rocha e ficar na cabine com ar refrigerado. – Inovação tecnológica impedindo uso da segurança ecológica. Concepção desconhece uso do aviso.
  • 26. A Regra Não Antecipa o Real • Última viagem, cabine fechada, arranca sem autorização (como costume) - colisão trens – Situação diferente é apresentada com mesmos sinais da habitual. Age como de hábito. – Fronteira entre tarefas desconsiderada na gestão de segurança. • Retornando de férias não obedece alarme historicamente desregulado e recém ajustado – Erro por excesso de confiança e falha de comunicação no sistema
  • 27. • A noção de ato inseguro desconsidera as implicações das diferenças do modo de controle da ação e do tipo de situação nas origens do acidente e na recomendação de medidas de prevenção A Invalidade da Noção de Ato Inseguro A análise de acidentes deve esclarecer se a gestão de segurança e de produção consideram essas diferenças nas decisões sobre divisão de homens e tarefas no sistema.
  • 28. Invalidade da Noção de Ato Inseguro • Se esse tipo de comportamento for interpretado como de natureza individual (centrado na pessoa) as condições sistêmicas que o originam serão deixadas intocadas. • Um sistema de segurança não pode depender exclusivamente da memória e da atenção do operador.
  • 29. A Ergonomia e o Acidente
  • 30. O Risco Não Depende Apenas de fatores Técnicos Anteriores • Pressupostos. O trabalho prescrito é diferente do real: – Se bem feita, a segurança formal (prescrito externo) só considera o que pode ser antecipado • No trabalho real o risco depende da Experiência do Operador e de seu conhecimento sobre a atividade – No trabalho sempre se lida com variabilidades não antecipadas ou não consideradas pela segurança formal – Diagnosticar o estado do sistema e resolver isso exige negociações, constantes re-normalizações: cooperações, há impedimentos não previstos [...]
  • 31. O Comportamento que Fracassa foi Usado Antes com Sucesso • A análise da atividade mostra que a norma é álibi: – Comportamentos explicados como desrespeito a normas da empresa eram parte de estratégias do trabalho real: • Comunicar-se por sinais para economizar pilhas de rádio a ser usado em situações sem contato visual • Fazer sozinho o trabalho de dois quando a equipe está reduzida • Intervir em co-atividade com sistema energizado
  • 32. A Concepção Precisa Respeitar as Características Psíquicas dos Operadores
  • 33. Erros de Modo e Feedback Inadequado • A informação mostrada pelo sistema ao operador deve ser clara, direta e compatível com o raciocínio humano. • Com as novas tecnologias abundam sistemas concebidos para: – Agir sem aviso prévio (surpresa automática) – Apresentar mesmos sinais em situações diferentes – Apresentar sinais que nada informam sobre a realização da ação comandada (ordenada) – Apresentar sinais que não informam o modo selecionado e nem o que o sistema está fazendo
  • 34. A Invalidade da Noção de Ato Inseguro • Erros previsíveis associados a falhas de concepção de sistemas, em especial, por inadequação do feedback às características psíquicas do ser humano em situação de trabalho são reduzidos a falhas humanas quando descritos com a noção de ato inseguro.
  • 35. Por Que Fazia Sentido Para o Operador Agir Daquela Forma Naquele Instante e Situação?
  • 36. A Invalidade da Noção de Ato Inseguro • O enfoque ergonômico não julga o comportamento que fracassa. • A análise deve explicar: – Razões para o fracasso de comportamento (estratégias, modos operatórios) usados com sucesso no passado De modo geral o acidente tem origens em constrangimentos da OT que diminuem as margens de manobra dos operadores face às variabilidades da atividade
  • 37. Os Conhecimentos Mostrados Reforçam Compreensão Sobre a Invalidade Atual da Noção de Ato Inseguro
  • 38. A Invalidade da Noção de Ato Inseguro • Dada a trajetória conceitual apresentada sobre: a cognição humana em situação; o fenômeno acidente e o trabalho humano; • Dada a inconsistência dos pressupostos embutidos na noção de ato inseguro entendemos que: – Trata-se de concepção anacrônica e ultrapassada – Não mais se justifica a utilização dessa categoria para referir comportamentos humanos no trabalho – É praticamente impossível encontrar situação de trabalho que possa ser explicada como “culpa exclusiva da vítima”
  • 39. • Segurança não está em pessoas isoladas, equipamentos ou departamentos de uma organização. • Encontre vulnerabilidades sistêmicas e não falhas individuais. Woods & Cook 2002 A Segurança e Confiabilidade São Produtos da Organização
  • 40. Sites da Faculdade de Medicina de Botucatu • “Fórum Acidentes de Trabalho: Análise, Prevenção e Aspectos Associados” http://www.moodle.fmb.unesp.br/course/view.php?id= 52 Disciplina de Pós Graduação: “Concepções de Acidentes e Suas Implicações Para Análise e Prevenção” http://www.moodle.fmb.unesp.br/course/view.php?id= 106 Prof Ass Dr. Ildeberto Muniz de Almeida ialmeida@fmb.unesp.br