1. GAZETA DO PARANÁ I Domingo I 7 de Setembro de 2014 Global 3
MERCADO
Mercado
Os alimentos
geneticamente
modificados
também podem
sofrer alterações
quanto aos seus
nutrientes
A
produção de trans-
gênicos é promessa
de vantagens para a
economia e dúvidas
para o meio ambiente e o consu-
midor. Mas você sabe o que são
alimentos transgênicos?
Transgênicos são organismos
vivos geneticamente modifica-
dos por meio de uma manipula-
ção da engenharia genética, que
inclui informações genéticas
de organismos diferentes ou da
mesma espécie.
Os transgênicos surgiram em
1970comaengenhariagenética.
Por meio de recombinações de
uma bactéria incluída em um
genedeanimal.Posteriormente,
foramfeitosoDNArecombinan-
te para a produção de insulina
humana. As insulinas eram pro-
duzidas com bactérias modifi-
cadas no seu DNA, notava-se
pouca rejeição das insulinas nos
pacientes e eficácia no trata-
mento para diabéticos.
“No Brasil, os primeiros ali-
mentos transgênicos surgiram
de forma ilegal, sementes tra-
zidas por contrabando da Ar-
gentina e do Uruguai para o Rio
Grande do Sul, nos anos 90”,
conta Milton Locatelli, diretor
financeiro da Areac (Associa-
ção Regional de Engenheiros
Agrônomos de Cascavel). Em
2002/2003, agricultores luta-
vam para a regulamentação dos
transgênicosnoBrasil,enquanto
órgãos de defesa do consumidor
conseguiram na Justiça a proi-
bição do plantio, porém, mes-
mo assim cresceu a produção
de transgênicos na Região Sul
do país.
A produção de alimentos
transgênicos foi legalizada no
Brasil em 2003, porém várias
exigênciasforamfeita,comopor
exemplo, o estudo antecipado
sobre os impactos ambientais
pela CTNBio (Comissão Técni-
ca Nacional de Biosseguran-
ça) e a produção convencional
em parte da área destinada ao
plantio chamada refúgio, para a
produção de sementes que não
fossem transgênicas e para não
contaminar a área de plantação
comum. A fim de evitar o sur-
gimento de pragas resistentes,
normas que foram desrespeita-
das, revela Milton.
Atualmente são dois prin-
cipais grupos de transgênicos
produzidos no Brasil: do milho
- a planta geneticamente mo-
dificada contém uma proteína
que destrói o sistema digestivo
das lagartas - e da soja, a plan-
ta é resistente às aplicações de
herbicidas.
É isso mesmo. Os alimentos
transgênicos têm estas duas
principais funções: ou são des-
trutivas para as pragas ou são
resistentes aos agrotóxicos.
No entanto, a promessa da
produção transgênica era o
menor gasto com a produção
e manuseio da terra e o menor
uso de agrotóxicos nas lavouras.
Promessas que parecem ser des-
cumpridas.
Milton planta milho transgê-
nico desde 2010. O Plantio deu
certo nos dois primeiros anos,
não havia pragas e era extrema-
mente produtivo, porém no ano
passado os problemas surgiram.
Pragasantesjamaisvistascome-
çaram a surgir, “no milho havia
apenas um tipo de praga e agora
são mais de dez”, revela.
A hipótese é de que há um
desequilíbrio ambiental, “nós
quebramos a cadeia alimentar”,
avalia. Inicialmente as pragas
morrem, mas as que ficam no
solo criam resistência e o agro-
tóxiconãoconseguefazeroefei-
to, por isso aumenta-se o uso de
agrotóxicos para tentar livrar a
plantação das pragas.
Outro problema é que as se-
mentes transgênicas são mais
caras do que as comuns e com
o aumento dos agrotóxicos,
elevam-se ainda mais os custos
de produção, tornando inviável
a produção transgênica. “Ano
que vem farei o plantio conven-
cional, terei dificuldade para
encontrar sementes, mas não
quero mais plantar transgêni-
cos. E mesmo que as normas do
refúgio [plantio comum] fossem
respeitadas, o problema viria
mais tarde”, afirma Milton.
As dúvidas acerca dos impac-
tos ambientais com o plantio de
transgênicos são muitas, o que
aconteceéainserçãodosprodu-
tos no mercado sem garantia dos
riscos. Na Alemanha, estudos
buscam esclarecer se a mortali-
dade de abelhas está sendo cau-
sada pelo uso dos transgênicos.
Ele tinha produção de mel em
seu sítio, depois que começou a
cultivar transgênicos as abelhas
desapareceram. Como não há
estudos suficientes para saber
se estes e outros desequilíbrios
ambientais são decorrentes da
produção transgênica, não se
pode afirmar que a produção
transgênica é culpada. A es-
peculação é de que as abelhas
quando alimentadas com pólen
transgênicoficamdesorientadas
e não conseguem retornar para
a caixa.
Produtos transgênicos
Para o consumidor não res-
ta muita opção, os produtos
transgênicos tomam conta das
prateleiras dos supermercados.
Parecem ser invisíveis, mas es-
Colaboração Univel
GRAZIELE RODRIGUES
Produtos transgênicos que são encontrados nos supermercados João Guilherme
Produção de transgênicos
ainda semeia dúvidas
Pesquisa A produção de alimentos transgênicos foi legalizada no Brasil em 2003, porém
várias exigências foram feitas, como por exemplo, o estudo antecipado sobre os impactos
ambientais
tão em todo o lugar, temos bis-
coitos, salgadinhos de milho,
amido de milho, óleo de soja,
farofa de milho e a novidade:
cerveja de milho e, como dita
a lei, os produtos estão identifi-
cados, mas para Victor que fazia
suas compras no momento da
reportagem, a indicação é muito
pequena, “passa despercebido
nem notamos isso ai”.
Victor não é o único consu-
midor que reclama da difícil vi-
sualização no rótulo dos produ-
tos e para resolver o problema
uma lei está em tramitação na
Câmara Federal pelo deputado
Miriquinho Batista (PT-PA). O
projeto pretende separar os pro-
dutos convencionais dos produ-
tos geneticamente modificados
nas prateleiras dos supermer-
cados para facilitar a identifica-
ção. Dona Laura enquanto pega
alguma batatas das bancas, se
esforça para enxergar o selo no
óleo de soja ao qual lhe mostro
e demora perceber que a letra T
rotulada no produto se trata de
umtransgênico,masconsideraa
lei interessante para o consumi-
dor que terá ciência do que esta-
rá levando. Para Rodrigo Rufati,
encarregado do supermercado
a lei seria interessante para o
consumidor, pessoas leigas te-
riam maior informação e esta-
riam cientes dos produtos que
compram, “como já fazemos no
mercado com os produtos light,
diet e sem glúten” afirma. Ro-
naldo que fazia compras durante
a matéria, tem opinião contrá-
ria ele é engenheiro agrônomo
e confia nos produtos transgê-
nicos, não vê necessidade de
separar os produtos dos demais
conforme o projeto de lei, con-
sidera os produtos seguros para
o consumo.
Transgênicos e a saúde
Por enquanto, os transgênicos
são dúvidas quanto aos male-
fícios para a saúde e os con-
sumidores são as cobaias dos
produtos, se fará algum mal só
o tempo poderá dizer, porque
poucas pesquisas são realizadas
neste âmbito e a produção de
transgênico comemora uma dé-
cada de incertezas.
A nutricionista Eroni Lupati-
ni acredita que os transgênicos
possam ser a causa de algumas
alergias e casos de aumento de
‘hipotireoidismo’ após o con-
sumo da soja. Ela relaciona es-
tes sintomas com o aumento do
cultivo do transgênico. “Acredi-
to que algum dos componentes
inseridos na transferência de
genes para a produção de OGM
(Organismos Geneticamente
Modificados) esteja produzindo
proteínas que podem ser preju-
diciais. Pois, a soja transgênica,
por exemplo, contém vários ge-
nes de espécies diferentes. Por
outro lado, há estudos que já
confirmaram que a proteína in-
seticida que o milho transgênico
Btcarregaemtodasassuascélu-
las foi encontrada no sangue de
bebês, ainda no útero materno,
explica.” Os alimentos geneti-
camente modificados também
podem sofrer alterações quanto
aos seus nutrientes, pois os ge-
nesdasplantassãoalteradoseos
efeitos desta transmutação po-
dem causar a perda ou mudança
dos valores nutricionais.
O Brasil é o segundo maior
consumidor de agrotóxicos e se-
gundo maior produtor de trans-
gênicos no mundo, o que é um
indicativo dos possíveis riscos
para a saúde. Eroni explica que
a produção agrícola deve tra-
balhar com bom senso os fins
lucrativos, a saúde humana e o
meio ambiente, o crescimen-
to econômico precisa caminhar
com princípios óbvios de garan-
tia do que estamos comendo,
para que estes fatores sejam pre-
judicados.
OFICINA DE
REPORTAGEM
Atualmente são
dois principais gru-
pos de transgênicos
produzidos no Bra-
sil: o milho e a soja