Este documento resume um estudo sobre o impacto psicológico do aborto clandestino em adolescentes e jovens entre 15-24 anos no Hospital Geral de Chamanculo entre 2021-2022. O estudo avaliou a prevalência de ansiedade, depressão e stress através de questionários e encontrou níveis mínimos de ansiedade e depressão, e níveis normais de stress na maioria dos participantes. Não houve diferenças significativas entre adolescentes e jovens.
1. INSTITUTO SUPERIOR DE GESTAO E EMPREENDEDORISMO
GWAZA MUTHINI
CURSO DE PSICOLOGIA CLINICA E SOCIO EDUCACIONAL
Impacto psicológico do aborto clandestino em adolescentes e Jovens com
idade compreendida entre 15 a 24 anos: Caso Hospital Geral de
Chamanculo, Julho de 2021 a Abril de 2022
Autora:
Mafalda António Manhiça
Supervisor:
Marracuene, Setembro de 2022
Dr. Edson Alfredo
2. Estrutura da apresentação
1. Introdução
2. Revisão da Literatura
3. Metodologia de pesquisa
4. Resultados e discussão
5. Conclusão e Recomendações
3. Segundo a Organização Mundial da Saúde (2014) estima-se que
aproximadamente 50 milhões de abortos inseguros ocorram anualmente
no mundo, sendo 25% desses com complicações graves para a saúde da
mulher; também, cerca de 66.500 mulheres morrem por consequências
do aborto inseguro. A cada 1.000 mulheres em idade fértil (15 aos 44
anos), 29 induziram o aborto em algum momento da vida.
Aproximadamente 1/3 das 205 milhões de gravidezes que ocorrem no
mundo anualmente são indesejadas e 20% acabam em aborto
provocado.
Introdução
4. Problematização
O aborto clandestino é defenido pela OMS (2014) como um
procedimento que visa terminar uma gravidez não desejada, feito
por alguém sem qualificações ou habilidades ou num lugar sem o
mínimo de condições de biossegurança para tal ou em ambas
situações.
O aborto é um grave e preocupante problema de saúde pública, não
só devido à morte materna que causa, mas também as
consequências sociais tais como a destruição da família e várias
formas de ostracismo a que a mulher muitas vezes é votada (OMS,
2014).
5. Neste sentido, com vista a situar este fenómeno dentro da pesquisa, surge a
seguinte questão: Qual é o impacto psicológico do aborto clandestino nas
adolescentes e jovens com idade compreendida entre 15 a 24 anos, em
seguimento no H.G.C?
O aborto clandestino é em Moçambique, tal como em outros países em vias
de desenvolvimento, particularmente em África, uma das principais causas
de morte materna, sendo esta entendida como a morte da mulher durante a
gravidez ou dentro de um período de 42 dias após o parto.
Cont.
6. Objetivos
Geral
Avaliar o impacto psicológico do aborto clandestino nas
adolescentes e jovens com idade compreendida entre 15 a 24
anos em seguimento no H.G.C.
Específicos
Proceder a adaptação dos instrumentos de avaliação da
ansiedade, depressão, e stress, ao contexto Moçambicano;
Identificar a prevalência do stress, ansiedade, e depressão nas
adolescentes e jovens envolvidas no estudo;
7. Averiguar uma possível associação entre o estado emocional e as
variáveis sociodemográficas;
Comparar as médias dos níveis de ansiedade, depressão e stress
entre adolescentes dos 15 a 19 anos, e jovens dos 20 a 24 anos.
Cont.
8. Hipóteses
A ansiedade é menos prevalente nas adolescentes e jovens que praticam o
aborto clandestino, uma vez que muitas delas fazem-no por vontade
própria;
A depressão é mais prevalente nas adolescentes e jovens que praticam o
aborto clandestino, uma vez que, a maior parte delas não o fazem por
vontade própria;
O stress é muito prevalente nas adolescentes e jovens que praticam o
aborto clandestino, uma vez que os procedimentos para o aborto são
complicados…
9. Revisão da literatura
Ansiedade
Pode-se definir ansiedade como, uma emoção causada pela antecipação
de um perigo vago, de difícil previsão e controlo. Ou uma emoção que se
transforma em medo face a um perigo bem identificado.
10. Categorias nosológicas
• Ataques de Pânico,
• Perturbações de Pânico com
Agorofobia,
• Fobia Social,
• Perturbação Obsessiva – Compulsiva,
• Perturbações Pós-Stress Traumático
• Perturbação Aguda de Stress,
• Perturbação da Ansiedade
Generalizada,
• Geral, Perturbação da Ansiedade
Induzida por Substância e
• Perturbação da Ansiedade Sem
Outra Especificação.
Segundo o DSM-IV nas Pertubações da ansiedade encontramos:
11. Depressão
A depressão é entendida como uma síndrome que pode traduzir múltiplas
etiologias, desde um pólo puramente psicológico, de reacções a
acontecimentos exteriores, a tristeza anímica; a um pólo biológico em que
a tristeza, dita vital, mais referida ao corpo, reflecte qualquer obscura
disfunção do sistema nervoso central, ou uma disfunção do humor
secundário a patologia somática ou induzida por fármacos, por exemplo.
(Costa & Matez, 2002).
12. Categorias nosológicas
As Perturbações Depressivas encontram-se no DSM-IV dentro das
Perturbações do Humor como:
• Perturbação Depressiva
Major;
• Perturbação Distímica;
• Perturbação Bipolar I;
• Perturbação Bipolar II;
• Perturbação Ciclotímica;
• Perturbação Bipolar Sem Outra
Especificação;
• Perturbação do Humor Devida a um
Estado Físico Geral;
• Perturbação do Humor Induzida por
Substância e Perturbação do Humor
Sem Outra Especificação.
13. Stress
Stress é a condição que resulta quando as trocas (transacções) pessoa-meio
ambiente, levam o indivíduo a perceber, sentir uma discrepância, que pode
ser real ou não, entre as exigências de uma determinada situação e os
recursos do indivíduo, ao nível biológico, psicológico ou de sistemas
sociais (Santos & Castro, 1998).
14. Adolescência e juventude
A Organização Mundial da Saúde (2014) circunscreve a adolescência à
segunda década da vida (de 10 a 19 anos) e considera que a juventude se
estende dos 15 aos 24 anos. Esses conceitos comportam desdobramentos,
identificando-se adolescentes jovens (de 15 a 19 anos) e adultos jovens
(de 20 a 24 anos)
15. Aborto
De acordo com a OMS (2014), o aborto inseguro é definido como
sendo a terminação de uma gravidez, quer por pessoas sem o
conhecimento técnico necessário, quer num meio sem as
mínimas condições de higiene ou ambos. Por outro lado, o aborto
seguro é aquele que é feito por pessoas qualificadas para tal e
em instituições de saúde reconhecidas.
16. Tipos de Abortos
O aborto é classificado de acordo com a sua natureza, nesta senda,
Araújo (2011) propõe a seguinte classificação:
Aborto Voluntário ou Provocado: quando o aborto ocorre por
interferência de agentes mecânicos (cureta, aspiração) ou químico
(remédios abortivos).
• Aborto Involuntário ou Espontâneo: é quando há interrupção da
gravidez por causa natural.
17. Consequências físicas do Aborto
Perfuração uterina
• Dilaceração cervical
• Câncer de Mama
• Gravidez ectópica
• Endometrioses
• Gravidez ectópica
• Morte
Consequências Psicológicas da gravidez
• Sentimentos de culpa
• Estresse
Tristeza,
Depressão etc.
• Ansiedade,
18. Metodologia
Tipo de estudo: Trata-se de um estudo quantitativo.
Amostra/Amostragem: trata-se de um inquérito, onde
participaram 42 adolescentes e jovens
População: 46 adolescentes que compareceram no Hospital
Geral de Chamanculo, com história de aborto clandestino.
Técnicas e instrumentos de recolha de dados: usados os
inventários de Stress, ansiedade e depressão de Beck.
Análise e tratamento de dados: Para análise e tratamento
estatístico dos dados irá se recorrer ao software SPSS, versão 22.
19. Estatística descritiva do item
Estatísticas descritivas
Item N Mínimo Máximo Média Desvio Padrão
Ansiedade 42 1 4 1,93 ,808
Depressão 42 1 3 1,33 ,526
Stress 42 1 4 1,93 ,808
Total 42 1,00 3,67 1,7302 ,68763
Fonte: Dados do SPSS
20. Estatística Inferencial
Estatísticas de confiabilidade
Alfa de
Cronbach
Alfa de
Cronbach com
base em itens
padronizados N de itens
,94 ,95 3
Fonte: Dados do SPSS
21. Prevalência da ansiedade, depressão, e stress
Ansiedade Frequência Percentagem
Mínimo 14 33,3
Leve 18 42,9
Moderado 9 21,4
Severo 1 2,4
Total 42 100,0
Prevalência Ansiedade
Fonte: Dados do SPSS
22. Prevalência da depressão
Depressão Frequência Percentagem
Mínima 29 69,0
Leve 12 28,6
Moderada 1 2,4
Total 42 100,0
Fonte: Dados do SPSS
23. • Prevalência do stress
Stress Frequência Percentagem
Normal 13 30,9
Leve 19 45,2
Moderado 10 23,9
Total 42 100,0
Fonte: Dados do SPSS
24. Dados do terceiro objectivo: Correlação entre as variáveis
• Correlação entre as variáveis
Correlações
1 2 3 4 5
Escolaridade
Religião ,016
,922
Ansiedade ,084 -,214
,598 ,173
Depressão -,050 -,146 ,804**
,753 ,355 ,000
Stress ,084 -,214 1,00** ,804**
,598 ,173 ,000 ,000
**. A correlação é significativa no nível 0,01 (2 extremidades).
25. Dados do quarto objectivo:
• Comparação de médias da ansiedade, depressão e stress, em função da
idade
Idade Ansiedade Depressão Stress
15 - 19 Média 1,88 1,28 1,88
N 25 25 25
Desvio Padrão ,781 ,458 ,781
20 - 24 Média 2,00 1,41 2,00
N 17 17 17
Desvio Padrão ,866 ,618 ,866
Total Média 1,93 1,33 1,93
N 42 42 42
Desvio Padrão ,808 ,526 ,808
Fonte: Dados do SPSS
26. Discussão dos resultados
• Análise da fiabilidade
Os questionários apresentaram bons índices de fiabilidade o que significa
boa consistência interna destes instrumentos e algum grau de adequação
ao contexto em que foram aplicados. De acordo com Marôco (2014) um
bom coeficiente do alfa de cronbach indica a robustez do instrumento.
27. Prevalência da ansiedade, Stress e Depressão
• A maioria dos sujeitos envolvidos no estudo apresentou uma prevalência
de ansiedade mínima.
• Das análises feitas confirma-se a ansiedade como um dos impactos
psicológicos não muito significativos do aborto clandestino, visto que, a
sua prevalência é muito menor.
Este resultado foi também encontrado em um estudo paralelo, realizado por
Cougle, Reardon e Coleman (2005) onde concluíram que, existe
probabilidade de experimentar problemas de ansiedade nas mulheres que
abortam uma gravidez intencionalmente.
28. Em relação ao stress, a maioria dos sujeitos envolvidos no estudo
apresentou uma prevalência de stress normal.
Portanto, pode-se se assumir parcialmente que o stress é um dos impactos
negativos do aborto clandestino. Uma pesquisa semelhante foi feita por
Soderberg, Janzon, e Sjoberg (1998), na Suécia baseada em entrevistas
efectuadas a mulheres no período de um ano após terem efectuado uma
interrupção da gravidez, mostrou que cerca de 50- 60% das mulheres
sentiram stress emocional após o aborto.
Cont.
29. Em relação a depressão, confirmou-se através dos dados obtidos que,
a maioria dos sujeitos envolvidos apresentaram uma prevalência de
depressão mínima. Estes dados refutam a nossa segunda hipótese
segundo a qual "a depressão é mais prevalente nas adolescentes e
jovens que praticam o aborto clandestino, uma vez que, a maior parte
delas não o fazem por vontade própria".
O estudo de Coleman, Reardon, Rue e Cougle (2002) alcançou o
mesmo resultado, ao concluir que o aborto induzido e inseguro tem
riscos significativos de episódios psiquiátricos.
Cont.
30. Associação entre variáveis
Em conformidade com os pressupostos de correlações proposto por
Marôco, 2018 (vide 2.6), não foram encontradas associações
significativas entre as variáveis ansiedade, depressão e stress, em
relação as variáveis escolaridade e religião, o que nos sugere que,
provavelmente, a religião e a escolaridade não tenham grande
contributo sobre o impacto psicológico do aborto clandestino nas
adolescentes e jovens envolvidas no estudo.
31. Há, porém, que destacar o facto de terem sido encontradas
correlações positivas e significativas que foram identificadas
entre a variável depressão e ansiedade; entre stress e
ansiedade; e entre stress e depressão; sugerindo que quanto
maior for a ansiedade, depressão, maior também será o stress,
quanto maior a ansiedade maior também será o stress e vice-
versa. Segundo Marôco (2018), as fortes associações entre as
dimensões do questionário confirmam a robustez da correlação
entre os itens.
Cont.
32. Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre os
adolescentes (dos 15 a 19 anos) e jovens (20 a 24 anos), em relação a
ansiedade
Os resultados obtidos demostram que a idade não influencia
significativamente no desenvolvimento da ansiedade, depressão e stress dos
sujeitos envolvidos no estudo. Contrariamente ao nosso estudo, algumas
pesquisas apontam que, as mulheres mais novas apresentaram índices de
ansiedade e depressão mais elevados apos um aborto provocado. Adler, 1979
(citado por Noya & Leal, 1998) relativamente às respostas das mulheres no
pós aborto referiu que as mulheres mais jovens têm uma maior tendência
para traumas emocionais que as mulheres mais velhas.
33. Conclusão
• Pela análise dos resultados, não podemos “afirmar” que o aborto
clandestino induza alterações psicológicas que ultrapassem a
fronteira dos estados reactivos “normais” face ao processo em
causa, que acabam por se atenuar depois de efectuada a
interrupção da gravidez.
• No entanto, e como temos plena consciência das limitações desta
investigação, seria fundamental fazer uma avaliação às três
dimensões, três e seis meses após o aborto clandestino, com vista
a confirmar tais ilações.
34. • No entanto, podemos, apontar alguns estados emocionais que
resultam desta investigação, e que pensa-se que surgem como
consequência psicológica da prática do abordo clandestino.
Tais estados emocionais incluem a ansiedade, o stress, e a
depressão, no entanto, todos verificam-se em menor escala.
Cont.
35. Sugestões de pesquisas futuras
• Como proposta de acções futuras, ao MISAU, sugere-se a
criação de um canal de comunicação, via e-mail, ouvidoria ou
telefone, para que sejam esclarecidas dúvidas sobre o aborto
clandestino. Tal acção objectiva orientar as adolescentes e
jovens sobre os impactos do aborto clandestino.
• Sendo um estudo que não teve pretensão de esgotar as
possibilidades de análise, considerando-a uma pesquisa inicial,
existe espaço para uma expansão dos factores estudados.
36. Referências bibliográficas
1. ALMEIDA, Jorge Salvador Pinto de. (2014). A Saúde Mental Global, a Depressão, a Ansiedade e os
Comportamentos de Risco nos Estudantes de Ensino Superior: estudos de prevalência e correlação. Tese
para obtenção do grau de Doutor em Ciências da Vida, Especialidade em Saúde Mental. Universidade Nova
de Lisboa;
2. ARAÚJO F, V. M. (2011) Gravidez na Adolescência: Opinião das Adolescentes frente á gestação. Patos,
Paraíba.
3. ARNAUD, Lívia Krause. (2008). Mulheres e aborto: negociando moralidades. Dissertação de Mestrado.
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro;
4. BARROSO, C. BONDER, G. (1898). Pesquisas sobre aborto: o impacto do estudo do aborto em mulheres
na América latina. UNESCO;
5. BERDIN, L. (2006). Análise de conteúdos. 70ª Ed. L. de A. Rego & A. Pinheiro, Trads. Lisboa.
6. Bello, P., Dolto, C. & Schiffmann, A. (1984). Contracepção, gravidez e aborto. (1ªed.). Lisboa: Publicações
Dom Quixote.