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i
Eusébio Fernando Chitlango
Estudo atribuído 17,0 Valores na Defesa em 2016.
(Autorizo o uso desta produção científica, desde que seja citada devidamente)
Valorização da Estética do Traje Feminino Afro-Moçambicano:
Caso das Adolescentes e Jovens da Cidade de Xai-Xai.
Licenciatura em Educação Visual com Habilitação em Ensino de Desenho de Construção
Universidade Pedagógica
Gaza
2016
i
Eusébio Fernando Chitlango
Valorização da Estética do Traje Feminino Afro-Moçambicano:
Caso das Adolescentes e Jovens da Cidade de Xai-Xai.
Universidade Pedagógica
Gaza
2016
Monografia Científica a ser entregue e apresentada
no Departamento da Escola Superior Técnica
Delegação de Gaza, para a obtenção do grau
académico de Licenciatura em Educação Visual
com Habilitação em Ensino de Desenho de
Construção.
Supervisor:
dr. Sérgio Cumbucane Estefáneo Witimisse
ii
Índice
Agradecimentos.........................................................................................................................iv
Dedicatória..................................................................................................................................v
Declaração de Honra .................................................................................................................vi
Lista de abreviaturas.................................................................................................................vii
Lista de figuras ........................................................................................................................viii
Resumo......................................................................................................................................ix
Abstract......................................................................................................................................ix
Epígrafe ......................................................................................................................................x
CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO ...........................................................................................11
1. Introdução.............................................................................................................................11
1.1. Delimitação do tema .........................................................................................................12
1.2. Problema...........................................................................................................................12
1.3. Questões científicas ..........................................................................................................13
1.4. Objectivos.........................................................................................................................14
1.4.1. Objectivo geral...........................................................................................................14
1.4.2. Objectivos específicos................................................................................................14
1.5. Justificativa.......................................................................................................................14
CAPÍTULO II - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................16
2. Referencial Teórico ..............................................................................................................16
2.1. Conceitos básicos..............................................................................................................16
2.1.1. Cultura........................................................................................................................16
2.1.2. Estética.......................................................................................................................17
2.1.3. Arte.............................................................................................................................17
2.1.4. Moda ..........................................................................................................................18
2.1.5. Traje ...........................................................................................................................19
2.2. Enquadramento teórico.....................................................................................................20
2.2.1. Moda como valor sociocultural..................................................................................20
2.2.1.1. Traje como Obra de Arte e Objecto Estético ...................................................21
2.2.2. As Adolescentes, as Jovens, a Moda e o Movimento da Contracultura ....................21
2.2.3. Traje Feminino Afro-Moçambicano ..........................................................................23
2.2.3.1. Características do Traje Feminino Afro-Moçambicano...................................23
2.2.3.2. A capulana como símbolo do Traje Feminino Afro-Moçambicano ................24
iii
2.2.3.2.1. Breve historial da capulana moçambicana..........................................24
2.2.3.2.2. Educação, uso e simbologia da capulana moçambicana.....................25
2.2.3.3. Observações feitas por Samora Machel e por Avelino Mondlane ..................26
2.3. Relação do presente tema com a disciplina de Educação Visual .....................................27
CAPÍTULO III - MÉTODOS E TÉCNICAS ......................................................................28
3. Metodologia..........................................................................................................................28
3.1. Tipo de pesquisa ...............................................................................................................28
3.2. Método de abordagem ......................................................................................................28
3.3. Procedimentos metodológicos ..........................................................................................28
3.4. Técnicas e instrumentos de recolha de dados ...................................................................28
3.5. Público-alvo e amostra......................................................................................................29
3.6. Procedimentos para análise e interpretação de dados.......................................................30
3.7. Breve descrição da área de estudo (Cidade de Xai-Xai) ..................................................30
CAPÍTULO IV - ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS ....................................31
4. Estética do Traje Feminino Afro-Moçambicano na Cidade de Xai-Xai ..............................31
4.1. Traje com elementos estético-culturais ocidentais na Cidade de Xai-Xai........................31
4.2. Percepção do fenómeno....................................................................................................33
4.2.1. A beleza do traje feminino afro-moçambicano..........................................................33
4.2.2. O valor do traje feminino afro-moçambicano............................................................39
4.2.3. As principais motivações que conduzem às tendências ocidentais............................40
4.2.4. As alternativas para maior valorização da estética do traje afro-moçambicano........47
CAPÍTULO V - CONCLUSÕES E SUGESTÕES..............................................................48
5. Conclusão .............................................................................................................................48
5.1. Constrangimentos .............................................................................................................49
5.2. Sugestões ..........................................................................................................................49
5.3. Propostas para estudos similares.......................................................................................50
Referências bibliográficas........................................................................................................51
Bibliografia recomendada........................................................................................................56
APÊNDICES ...........................................................................................................................58
ANEXOS .................................................................................................................................65
iv
Agradecimentos
Meus agradecimentos vão:
À Deus omnipotente, omnisciente e omnipresente, pelo amparo neste todo percurso de vida.
Ao meu supervisor, dr. Sérgio Cumbucane Estefáneo Witimisse, pela motivação, pela
compreensão, pela paciência e pelo apoio na orientação que tornou possível a conclusão deste
estudo.
Aos meus pais, Fernando Jivanisse e Maria Macomane, pela oportunidade de crescimento que
dão-me a partir das suas estéticas de cuidados e pelo apoio dia após dia.
Aos meus 16 irmãos, em particular ao mano Monteiro Matola pelo todo apoio concedido.
Ao meu cunhado Mateus Ubisse e a minha cunhada Esta António pelo apoio constante.
Aos meus padrinhos de baptismo, dr. Sebastião Massingue e Dona Equinência Massingue,
pelo carinho e encorajamento.
Ao meu amor, Assucena Mambo e ao meu primogénito, Hernandes pela linda companhia,
principalmente nos dias difíceis da minha formação.
Às direcções das escolas e das igrejas, que permitiram fazer-se este estudo com facilidade.
Às 40 Adolescentes e Jovens que participaram neste estudo, contribuindo com os seus pontos
de vista.
Aos outros participantes da pesquisa, Costureiros, Jovens Masculinos, Encarregados de
Educação, Colaboradora da Casa Provincial de Cultura, Psicólogo e Antropólogo.
Às minhas amigas, Clara Mafumo (amiga virtual), Amélia Ruco (costureira/ estilista), dra.
Arsénia Rodrigues (Socióloga) e dra. Patrocínia Mugabe (Psicóloga Social), pelos debates a
partir das Redes Sociais.
Aos meus amigos fiéis António Munguambe e Vasco Chaúque, e aos meus colegas do curso e
em particular os do grupo de estudos, Fernando Mate, Inocêncio Sigaúque, Odemiro Zeus e
Simão M. Simão, que sempre estiveram ao meu lado e tornaram este desafio maravilhoso.
E, por fim, a todos que directa ou indirectamente com muito carinho, não mediram esforços
para apoiarem-me até eu chegar aqui.
v
Dedicatória
À minha Professora da 1a
Classe (1996),
Vovó Arminda Dgedge.
Por abrir a minha mente com sucesso!
vi
Declaração de Honra
Declaro que esta Monografia Científica é resultado da minha investigação pessoal e das
orientações do meu supervisor, o seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão
devidamente mencionadas no texto e nas referências bibliográficas.
Declaro ainda que este estudo não foi apresentado em nenhuma outra instituição para
obtenção de qualquer grau académico.
Xai-Xai, 28 de Junho de 2016
_______________________________
(Eusébio Fernando Chitlango)
vii
Lista de abreviaturas
Afro Africano;
CD Disco Compacto;
Fig. Figura;
UNICEF Fundo das Nações Unidas para Infância.
viii
Lista de figuras
Fig. 01. Jovens numa das paragens movimentadas da Baixa da Cidade de Xai-Xai...............15
Fig. 02. Jovens dentro de um transporte semi-colectivo na Cidade de Xai-Xai. .....................15
Fig. 03. Diferentes designs de moda feminina. ........................................................................20
Fig. 04. Tendência de realçar a coluna na moda feminina em adolescentes............................23
Fig. 05. Capulanas afro-moçambicanas dobradas....................................................................24
Fig. 06. Uso de capulana como cingilo do corpo feminino......................................................25
Fig. 07. Uso de capulana para amarrar e carregar bebé. ..........................................................25
Fig. 08. Uma jovem na Baixa da Cidade de Xai-Xai...............................................................31
Fig. 09. Três Adolescentes em grupo de estudos. ....................................................................31
Fig. 10. Uma Jovem de saia com 10 cm acima do joelho........................................................32
Fig. 11. Uma adolescente de vestido de capulana, curto, com coluna não coberta..................32
Fig. 12. Duas Adolescentes, uma de vestido cai-cai e outra de estica sem mangas. ...............32
Fig. 13. Adolescentes e Jovens da Escola Secundária de Xai-Xai...........................................33
Fig. 14. Adolescentes e Jovens da Igreja Católica São João Baptista......................................33
Fig. 15. Alguns trajes femininos na Cidade de Xai-Xai...........................................................35
Fig. 16. A capulana como tecido para cingir o corpo da mulher. ............................................37
Fig. 17. Saia com 10 cm acima de joelho.................................................................................38
Fig. 18. Entrevista as Adolescentes e Jovens na Igreja Evangélica Assembleia de Deus........41
Fig. 19. Num dos ateliês com panfletos colados na parede......................................................43
Fig. 20. Panfletos usados pelos Costureiros.............................................................................43
Fig. 21. Comparação directa de dois tipos de trajes.................................................................44
Fig. 22. Uma adolescente de saia indo a escola. ......................................................................46
Fig. 23. Enquadramento da Província de Gaza em Moçambique. ...........................................66
Fig. 24. Enquadramento da Cidade de Xai-Xai na Província de Gaza. ...................................66
ix
Resumo
Trata-se de uma abordagem transversal, sustentada pela visão estética-cultural. Este estudo
objectivou contribuir com alternativas para maior Valorização da Estética do Traje Feminino
Afro-Moçambicano. Metodologicamente falando, trata-se de uma Pesquisa Qualitativa, em
que participaram 40 Adolescentes e Jovens das escolas secundárias de Xai-Xai e Joaquim
Chissano e de igrejas Evangélica Assembleia de Deus BP Xai-Xai e Católica São João
Baptista, com o foco nas idades entre 13 e 23 anos. Participaram também: quatro Costureiros
(Estilistas/ Modistas), três Jovens Masculinos, três Encarregados de Educação, uma
Colaboradora da Casa Provincial de Cultura, um Psicólogo e um Antropólogo. Foi a partir de
uma Amostra Aleatória Estratificada que com base em duas técnicas, observação directa
intensiva e entrevista semi-estruturada recolheu-se os dados. A análise e interpretação de
dados, baseou-se nas imagens capturadas durante a observação e seguidamente, em função
das quatro categorias de estudo, usou-se a técnica de análise de conteúdo. Os resultados
emergentes do estudo indicam que na Cidade de Xai-Xai o traje feminino afro-moçambicano
é considerado belo por todos entrevistados, mas as Adolescentes e Jovens valorizam-no mais
nas Cerimónias Sociais. Nesta Cidade, a escolha do traje em Adolescentes e Jovens dos 13
aos 23 anos tem como principais influências a televisão (aparição de modelos ou actrizes
internacionais ocidentais e cantoras nos palcos durante as actuações televisivas) e amigas em
grupo. Diante destas influências, para maior Valorização da Estética do Traje Feminino Afro-
Moçambicano, propôs-se a promoção de palestras nas escolas e igrejas, realização de
workshops e festivais de capulana, atenção especial na adolescência, capacitação dos
Costureiros em inovação artística na moda e intervenção da sociedade no geral.
Palavras-chave: cultura, arte, estética, moda, traje.
Abstract
This is about a transversal approach, sustained by an aesthetical-cultural vision. This study
has the objective of contributing with alternatives for the Afro-Mozambican Female Costume
Aesthetics major Appreciation. Concerning to the methodologies, we may say that this is a
qualitative research, in which take part 40 teenagers and young people from school like: Xai-
Xai Secondary School and Joaquim Chissano Secondary School, and Evangélica Assembleia
de Deus church as well as São João Batista Catholic Church, focusing in ages around 13 to
23.We also had the participation of four Couturiers (Stylists/ Fashion Designers), three
Young Men, three Sponsors of Education, a Collaborator from the Provincial Hall of Culture,
a Psychologist and an Anthropologist. It was through a random stratified sample which relied
in two techniques: intensive direct observation and the interview for the data collection. The
data analysis and interpretations were based on images captured during the observation then
through the four categories of the study. The results emerging from the studies indicate that in
Xai-Xai city the afro-mozambican female costume is considered beautiful by all interviewed,
not withstanding teenagers and younger people only value it in social ceremonies. In this city,
the choice of costume between teenagers and younger has been influenced by those from the
TVs (international models and actresses and singers on stages during TV shows) and friends
in groups. In front of these influences, to Afro-Mozambican Female Costume Aesthetics major
Appreciation it was proposed to promoting lectures at schools and churches, realization of
workshops and capulana festival, focused specially on teenagers, building capacities to the
dressmakers in artistic innovation in fashion and in general society intervention.1
Key-words: culture, art, aesthetics, fashion, costume.
1
Tradução: Ilídio dos Anjos (Licenciado em Ensino de Português pela Universidade Pedagógica – Gaza).
x
Epígrafe
Ao olharmos para uma pessoa e para o que traz vestida podemos
perceber o seu estilo, hábitos, costumes, personalidade e até o seu
estado de espírito. Muitos de nós, e muitas vezes, nem temos a noção da
dimensão, importância e, consequente, influência que este fenómeno
tem nas nossas vidas (GARCIA, 2011:1).
11
CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO
1. Introdução
Visualmente falando, o tema desenvolvido gira em torno da Valorização da Estética do Traje
Feminino Afro-Moçambicano por Adolescentes e Jovens da Cidade de Xai-Xai. Tem-se a
convicção de que é sempre um grande desafio tratar de um tema transversal como a moda,
pois, toda pessoa, independentemente do seu nível académico ou crença, tem algo a comentar
a respeito. Apesar disto, é importante salientar-se que qualquer estudo na disciplina de
Educação Estética remete ao campo da Arte, onde enquadram-se as Artes Visuais, incluindo a
moda. Neste contexto, o presente estudo é fruto da observação quotidiana da valorização da
riqueza estética-cultural africana. Assim, vários estudos como de SOUZA (2008), SAMPAIO
(2012) e CARVALHO & LOPES (2012) sublinham que, a Estética teve desde sempre um
papel importante ligado à beleza, bem-estar, sedução e arte, e que este conceito nasce na
Grécia Antiga como disciplina da Filosofia que estuda as formas de manifestação da beleza
natural ou artística. Para estes autores, a noção de estética foi evoluindo ao longo das épocas,
sempre em busca de um equilíbrio entre vários elementos e destacou-se a partir do século XX.
Tendo em vista este foco geral, ao invés de se olhar a Estética no seu sentido mais filosófico,
o olhar foi no sentido da sua funcionalidade no design de moda (meio social). Sobre este
ponto, GARCIA (2011:1) introduz afirmando que a moda é um movimento sociocultural que
expressa os valores da sociedade num determinado tempo e espaço. No mesmo raciocínio, ao
tratar da estética no seu meio social, especificando o traje feminino, OLIVEIRA (2011:7)
assegura que o conhecimento histórico sobre a mulher tem-se deparado há muito tempo com
questões relacionadas às suas representações culturais na sociedade. Apesar de ANDRIOLI
(2012:9) dizer que nós vivemos na era da globalização, tudo converge, os limites vão
desaparecendo, esta, é uma discussão que está na actualidade e está no centro do debate.
A partir desta abordagem, durante o desenrolar do trabalho, traça-se, os contornos
introdutórios no presente capítulo. No segundo capítulo debruça-se em três planos, os
conceitos básicos, os resultados de estudos similares e a relação do tema com a vertente
pedagógica. No terceiro, expõe-se a metodologia para o alcance dos objectivos deste estudo.
No quarto capítulo, apresenta-se os resultados e sua discussão em simultâneo. No último
capítulo, são dadas as conclusões e as sugestões em volta do estudo feito, e ilustra-se
seguidamente, as referências bibliográficas, os apêndices e os anexos.
12
1.1. Delimitação do tema
O estudo foi desenvolvido entre Setembro e Dezembro de 2015, na Cidade de Xai-Xai, capital
da Província de Gaza. Baseando-se num sorteio, foram envolvidas as escolas secundárias de
Xai-Xai e Joaquim Chissano, assim como as igrejas Evangélica Assembleia de Deus BP Xai-
Xai e Católica São João Baptista. Trabalhou-se com Adolescentes e Jovens com idades
compreendidas entre 13 e 23 anos. Portanto, com o foco principal na visão estética-cultural, o
estudo cingiu-se na busca de alternativas para maior Valorização da Estética do Traje
Feminino Afro-Moçambicano.
1.2. Problema
A maneira de trajar tem sempre uma relação com o tempo que se vive e tem assim, uma
explicação social (GARCIA, 2011:1). Esta autora acredita que é no vestuário feminino que
sempre se observam maiores mudanças e radicalismos, por ter mais opções de coordenação.
Neste sentido, nas últimas décadas, vive-se em uma sociedade complexa, na qual a troca de
informações, referências e produtos entre povos distintos acontece dia após dia, através de
importantes mídias como a internet e a televisão (MARINHO, 2008:1). Desta forma, a cultura
nas Adolescentes e Jovens está num ritmo bastante acelerado, como afirma CHIARI (apud
VITELLI, 2005:19) a globalização espalha a cultura jovem com mais velocidade.
Diante deste fenómeno visual, em Moçambique, na arena cultural, de acordo com a
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA no seu artigo 11 alínea i), um dos objectivos
fundamentais do Estado moçambicano é afirmação da identidade moçambicana, das suas
tradições e demais valores socioculturais. Razão pela qual, promove-se anualmente o traje
tipicamente afro-moçambicano através de competição em Festivais Culturais conforme
orienta o Regulamento do VIII Festival Nacional da Cultura no seu artigo 35, ponto um: a
competição envolve exclusivamente o vestuário e todas as formas de expressão própria ao
vestuário moçambicano e em todas as fases do festival deve-se privilegiar as tradições
indumentária e adorno locais, realçando a modéstia, bom senso e usando a capulana como
símbolo do seu traje. Tem-se ainda, o Vodacom Mozambique Fashion Week, que é um dos
eventos que exaltam anualmente a capulana afro-moçambicana. Pode olhar-se também, o uso
do traje afro por parte de algumas figuras públicas como: Maria da Luz (Ex-Primeira Dama da
República de Moçambique), Cidália Chaúque (Ministra do Género, Criança e Acção Social) e
Maria Helena Taipo (Governadora de Sofala). Sendo que a televisão divulga até certa medida
esta contribuição cultural. Ainda mais, nas escolas secundárias de Chibuto e de Mandlakazi
13
são implementadas as saias cumpridas (maxi-saias), com o objectivo de se minimizar as saias
curtas (mini-saias), e promover-se a decência, que é um dos fundamentos dos valores estético-
culturais afro-moçambicanos. Existe também, um programa na Rádio Moçambique Emissor
Provincial de Gaza que aborda os hábitos e costumes locais, onde se destaca a maneira de se
trajar da mulher moçambicana. Na vertente tecnológica, nas Redes Sociais existem páginas
que visam promover o traje feminino afro, com títulos como: Ideias para Uso de Capulana,
Mulher Moçambicana, Capulana, Moda Moçambicana, e Mulher Africana.
Apesar desta tendência, visualmente falando, a maior parte das Adolescentes e Jovens da
Cidade de Xai-Xai apresenta no traje do dia-a-dia tendências ocidentais. Estas Adolescentes e
Jovens, usam saias curtas que não cobrem os joelhos, calças ou vestidos curtos ou
transparentes, blusas ou vestidos que mostram parcialmente a coluna ou os seios. Enfim,
trajam-se assim, nas vias públicas, nos transportes semi-colectivos, nos mercados, nas escolas
e nas igrejas, demonstrando tendências ocidentais e projectando-se a perda de valores
estético-culturais afro-moçambicanos. Sendo assim, a questão central foi:
 Que alternativas podem ser adoptadas para maior valorização da estética do traje
feminino afro-moçambicano na Cidade de Xai-Xai?
1.3. Questões científicas
Um factor importante que deve se observar é que MALINOWSKI (1965, apud GRUPO
ESCOLAR, 2015:2)2
adianta que a cultura não é estática e que acompanha as modificações da
sociedade, e segundo RAMOS (2009:9), o tipo de vestes acompanha essa renovação de
maneira praticamente simultânea. Portanto, lançaram-se as seguintes questões científicas:
 Quais os pontos de vista de Adolescentes e Jovens, Costureiros, Jovens Masculinos,
Encarregados de Educação, Colaboradora da Casa Provincial da Cultura, Psicólogo e
Antropólogo em relação a beleza do traje feminino afro-moçambicano?
 Até que ponto o traje feminino afro-moçambicano é dado valor pelas Adolescentes e
Jovens da Cidade de Xai-Xai?
 Quais as principais motivações que conduzem as Adolescentes e Jovens da Cidade de
Xai-Xai às tendências ocidentais no seu traje?
 Quais as alternativas que podem contribuir para maior valorização da estética do traje
feminino afro-moçambicano na Cidade de Xai-Xai?
2
Disponível na Internet via: http://www.grupoescolar.com/pesquisa/cultura-um-conceito-antropologico.html
14
1.4. Objectivos
1.4.1. Objectivo geral
 Contribuir com alternativas para maior valorização da estética do traje feminino afro-
moçambicano na Cidade de Xai-Xai.
1.4.2. Objectivos específicos
 Identificar os pontos de vista de Adolescentes e Jovens, Costureiros, Encarregados de
Educação, Jovens Masculinos, Colaboradora da Casa Provincial da Cultura, Psicólogo
e Antropólogo em relação a beleza do traje feminino afro-moçambicano;
 Verificar o valor dado ao traje feminino afro-moçambicano pelas Adolescentes e
Jovens na Cidade de Xai-Xai;
 Revelar as principais motivações que conduzem as Adolescentes e Jovens da Cidade
de Xai-Xai às tendências ocidentais no seu traje;
 Sugerir alternativas para maior valorização da estética do traje feminino afro-
moçambicano na Cidade de Xai-Xai.
1.5. Justificativa
É importante referenciar-se que as Artes Visuais são as formas de arte que normalmente
lidam com a visão como o seu meio principal de apreciação.3
Portanto, a moda sendo uma
arte visual, e por ser um tema da actualidade, importa sublinhar-se que o interesse começou
pela observação e acompanhamento das críticas feitas na sociedade moçambicana em relação
as formas de trajar das Adolescentes e Jovens. Parte cientificamente como aposta para estudo,
durante o início do curso de Educação Visual, na disciplina de Educação Estética, no Capítulo
das Teorias Estéticas, e constituiu motivo por se pensar em dar um contributo para maior
valorização da riqueza estética da moda feminina afro-moçambicana.
Destaca-se ainda, que várias pesquisas anteriores sobre a moda feminina, tais como Evolução
da moda; A moda pelo olhar adolescente; O papel social da moda; A imagem da mulher na
moda; Capulana, representação histórica e identidade da população de Moçambique, e outras,
deixaram uma lacuna no que concerne a valorização dos contornos estético-culturais da moda
feminina de um povo específico.
3
Conceito disponível na internet via: www.artesvisuais.net
15
Além do mais, GARCIA (2011:126), sustenta este estudo, ao assegurar que a moda é uma
arte que, tal como todas as outras, necessita de constante reavaliação, pois, está em
constante mudança. Foi no mesmo raciocínio, que FERRARI (2013:36) justificou dizendo
que a moda é tida como um poderoso instrumento de análise social capaz de traduzir, ou ao
menos indicar, os rumos que a sociedade contemporânea toma.
Neste sentido, se Moçambique está a ser corrompido pelo ocidente (como mostram as figuras
01 e 02) e ainda vai a tempo de salvar certos valores estético-culturais, então, este estudo faz
uma reflexão sobre a moda afro-moçambicana em Adolescentes e Jovens e serve de um dos
suportes para pesquisas futuras, que visam promover o traje afro-moçambicano na Cidade
Xai-Xai e não só.
Fig. 01. Jovens numa das paragens movimentadas da Baixa da Cidade de Xai-Xai.
Fonte: Arquivo do autor, 2015.
Fig. 02. Jovens dentro de um transporte semi-colectivo na Cidade de Xai-Xai.
Fonte: Arquivo do autor, 2015.
Como alicerce à presente pesquisa, é apresentado a seguir, o capítulo da teoria que discute os
pontos de intersecção de outros autores que fizeram estudos similares.
16
CAPÍTULO II - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2. Referencial Teórico
No presente capítulo, baseia-se em autores como HÖGE (2000), SUASSUNA (2004),
CAMPOS (2013), VINICIUS (2014), e outros, para fazer-se uma abordagem em três planos
que alicerçam o presente estudo. No primeiro plano, discute-se os conceitos fundamentais. No
segundo, discute-se em linhas gerais, os tópicos que descrevem o valor estético-cultural da
moda, os contornos psicológicos das Adolescentes e Jovens, a Moda, o Movimento de
Contracultura e a estética do traje feminino afro-moçambicano. No terceiro plano, faz-se uma
relação do presente tema com a disciplina de Educação Visual.
2.1. Conceitos básicos
2.1.1. Cultura
O conceito etimológico da cultura é sublinhado no sítio www.tokstok.com.br, ao referir-se
que cultura vem do latim culturae, que quer dizer, encontrar-se habitualmente, cultivar, morar
em, (…), praticar, honrar, venerar, respeitar.
De forma específica, conceitua-se cultura4
como sendo o conjunto de manifestações artísticas,
sociais, linguísticas e comportamentais de um povo ou civilização.
Numa outra vertente, RAMOS (2009:10), afirma que a definição mais aceite e utilizada foi
elaborada por Edward Tylor, que diz ser a cultura todo complexo que inclui conhecimento,
crenças, arte, morais, leis, costumes e outras aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como
membro da sociedade. Tylor, procura esclarecer que um indivíduo adopta seus hábitos e
valores como sendo a mais correcta expressão de mundo, e enxerga os demais sistemas
culturais a partir do seu.
Sem discordar com Tylor, TURNER (apud LÓSSIO & PEREIRA, 2007:2) clarifica que
cultura é um sistema de símbolos que uma população cria e usa para organizar-se, facilitar a
interacção e para regular o pensamento.
Em suma, pode-se dizer que cultura é o conjunto de formas e expressões que inclui respeito,
costumes, crenças, práticas comuns, regras, símbolos, traje, religião, rituais e maneiras de ser
de uma sociedade específica.
4
No sítio: www.suapesquisa.com
17
2.1.2. Estética
Etimologicamente, o termo Estética provém do grego aisthesis que significa percepção ou
sensação, ou ainda inspirar o mundo. A Estética no período de Aristóteles e Platão era
estudada fundida com a lógica e a ética. O belo, o bom e o verdadeiro formavam uma unidade
com a obra (NICOLA, 1996:26). Isto coaduna com a ideia de que a base para toda razão
moral é a capacidade do homem de agir racionalmente (KANT, apud HÖGE, 2000:59). No
entanto, JIMENEZ (apud VITELLI, 2005:9) sublinha a ideia do Hegel que em substituição ao
nome estética propôs o nome: filosofia da arte.
Noutra face, os sentimentos de prazer e desprazer em Emanuel Kant estão ligados as
sensações estéticas e pertencem ao sujeito, são estes sentimentos subjectivos, que emitem o
conceito do belo, são eles que formam o juízo do gosto (HÖGE, 2000:67).
Para mais esclarecimento, SUASSUNA (2004:14) lembra que Sócrates olhava a estética
como sendo um ramo da filosofia que tem por objecto o estudo da natureza do belo e dos
fundamentos da arte.
Nesta ordem de ideias, e olhando para Kant como suporte, pode-se afirmar que a estética é a
ciência que estuda a essência do belo e todos fundamentos da criação humana. Normalmente
esta é designada por arte que tem procurado estabilizar o juízo do gosto e sensações humanas.
2.1.3. Arte
O termo arte, etimologicamente vem do latim ars, que significa técnica e/ ou habilidade
(www.wikipedia.com). Importa referir-se que definir o que é arte tem sido discutido desde os
primeiros filósofos da arte até os dias actuais, devido a sua subjectividade e contraste entre as
diferentes gerações e em diferentes lugares. No entanto, apresenta-se a seguir, algumas ideias
que colaboram para a percepção do termo arte.
Na visão de DUROZOI & ROUSSEL (2000:142), arte é:
Qualquer procedimento utilizado em vista de uma produção que testemunhe o
Saber-Fazer do artesão ou, mais especialmente, do artista quando, neste
último caso, as técnicas utilizadas visam satisfazer o sentimento estético ou
artístico.
Para o sítio www.brasilescola.com, a arte é vista como uma forma de o ser humano expressar
suas emoções, sua história e sua cultura através de alguns valores estéticos, como beleza,
harmonia e equilíbrio.
18
Numa outra vertente, VINICIUS (2013:3) levanta muitas dúvidas quanto ao conceito de arte,
argumentando da seguinte maneira:
Podemos mostrar que algumas pessoas não sentem qualquer tipo de emoção
perante certas obras que são consideradas arte. Quer dizer que essas obras
podem ser arte para uns e não o ser para os outros? Neste caso, o critério
para diferenciar as obras de arte das outras de que serviria? Teríamos, então,
obras de arte que não são obras de arte, o que não faz sentido.
Este autor, procura clarificar que não se deve definir a arte num só sentido fechado como as
outras teorias estéticas, e que o ideal é definir-se a arte baseando-se em seu período e lugar,
pois, o conceito fechado por um motivo, serve para falar da característica de tal época.
Importa salientar-se que todas estas fontes deixam claro que a arte é um termo que significa
técnica ou habilidade humana. No entanto, advertem que, a definição de arte varia de acordo
com a época e a cultura. Com isto, pode-se dizer que a arte é uma habilidade humana que tem
um dos focos a satisfação interior do homem carregada de sensibilidade estética. Esta
habilidade inclui a criatividade diária do ser humano na produção da sua vestimenta que
identifica-lhe de forma particular, originando assim a moda.
2.1.4. Moda
Moda é um termo considerado por grande parte de seus teóricos, uma área que levanta muita
transversalidade dado ao seu carácter multidisciplinar, abrangendo aspectos como estéticos,
geográficos, psicológicos, antropológicos e sociológicos. Este termo, etimologicamente
provém do latim modus, que significa costume.5
De acordo com DUROZOI & ROUSSEL (2000:142), na linguagem corrente, assim como em
sociologia, a moda evoca o conjunto de usos, comportamentos, hábitos de vestuário,
alimentos, mas também intelectuais.
A pesquisa feita por GARCIA (2011:1) corrobora com DUROZOI & ROUSSEL (2000), ao
referir que moda é um movimento sociocultural que expressa os valores da sociedade num
determinado tempo e espaço.
5
Disponível na Internet via: www.wikipédia.com
19
Numa outra abordagem considera-se moda o mecanismo que regula as escolhas e as
preferências das pessoas, já que devido a uma espécie de pressão social, indica-lhes aquilo
que devem consumir, utilizar, usar ou fazer.6
A partir destes estudos, pode-se dizer que, moda é o conjunto de hábitos (em particular
vestuários ou traje) de um grupo sociocultural em um período específico, ou seja, a tendência
de consumo da actualidade numa sociedade. Neste grupo social e período específico, é
importante referir-se que existe também as questões de status social7
e de estações do ano ou
mesmo o clima local no uso do traje.
2.1.5. Traje
Segundo o DICIONÁRIO ETIMOLÓGICO, a palavra traje vem do verbo latino "trahere", de
onde tira-se os verbos trazer, atrair, contrair, extrair, distrair, etc..
De outra forma, traje é derivação regressiva do português arcaico trager, e trata-se de o que
traz vestido; vestuário habitual; fato; vestido; modo de trajar (DICIONÁRIO DA LÍNGUA
PORTUGUÊS, 2003-2016).8
O sítio oficial da wikipédia9
especificando esta explicação, clarifica que traje, trajo ou
costume pode se referir as roupas em geral, ou ao estilo distintivo das roupas de um povo,
classe ou período.
Decifrando o significado deste termo, o DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUÊS10
corrobora com o sítio anterior, ao referenciar que traje é o mesmo que: vestuário habitual;
vestuário próprio de alguma profissão; vestes; roupa; trajo.
Neste olhar, pode-se dizer em suma que, traje é qualquer objecto particular e típico de um
povo que é usado normalmente para cobrir certas partes do corpo humano. No entanto, um
traje é usado por necessidade e por questões de hábitos ou símbolos culturais de um povo.
6
Disponível na Internet via: www.conceito.de/moda.com
7
Status significa a posição social de um indivíduo, o lugar que uma pessoa ocupa na sociedade, e é um termo
latim. Entretanto, status social é o prestígio que um indivíduo tem na sociedade, através da sua posição social
(http://www.dicionarioinformal.com.br).
8
Disponível na Internet via: www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa
9
Disponível na Internet via: www.wikipedia.com
10
Disponível na Internet via: www.dicio.com.br/traje
20
2.2. Enquadramento teórico
Na visão de DUROZOI & ROUSSEL (2000:143):
A estética moderna tendo, em geral, renunciado a referenciar as normas do
belo, faz incidir as suas investigações quer no estudo das próprias formas no
seu desenvolvimento histórico, quer nas relações que podem existir entre uma
obra e o seu criador ou ainda no seu meio social.
Portanto, neste plano, procura-se descrever as incidências das investigações feitas no seu meio
social.
2.2.1. Moda como valor sociocultural
Faz parte da cultura de um povo a música, a moda (figura 03), o teatro, os rituais religiosos, a
língua (falada e escrita), a dança, a arquitectura, as invenções, os pensamentos, etc..11
Diante da moda (no traje) como cultura, várias obras como de MARTINS (2009:1) e SILVA
(2015:2)12
, relatam que não se sabe ao certo quando é que o uso do traje por parte do ser
humano começou, mas acredita-se que começou e se espalhou provavelmente para
providenciar protecção contra factores naturais e pelos papéis sociais em cada povo.
Fig. 03. Diferentes designs de moda feminina.
Fonte: Arquivo do autor, 2015.
É nessa última perspectiva que, os papéis sociais também estão presentes na estética das
vestimentas e as referências das vestimentas passam agora a ser a moda massificada,
promovida pela indústria de vestuário (THUM, 2013:2). Nesta linha de pensamento, CARON
(2008:3), entende que:
A utilização da roupa (traje, moda) é determinada por questões culturais,
temporais, pelos valores de uma sociedade, por seus mitos, crenças e produção
intelectual. Da mesma forma o corpo tem sua aparência pautada determinada
pela cultura.
11
Com base em: www.suapesquisa.com/moda/cultura
12
Disponível em: https://www.scribd.com/doc/14773040/conforto-termico. Acesso no dia 11 de Maio de 2015.
21
Numa outra vertente, BARNARD (1996, apud VANINI, 2009:24), é enfático ao afirmar que
a moda e as roupas são artefactos, práticas e instituições que constituem as crenças, os
valores, as ideias e as experiências de uma sociedade.
Para RAMOS (2009:10), a moda é uma forma de expressão cultural, pois através dela uma
pessoa pode se identificar socialmente, ao mesmo tempo em que se diferencia das outras.
Nesta visão, a moda pode ser encarada como um elemento de expressão colectiva, do
momento em que por ela mostram-se valores, hábitos e costumes do seu grupo social.
Compreende-se assim, que a moda tem um valor sociocultural na medida em que carrega
expressões, símbolos, hábitos, costumes de um povo. Sendo assim, a moda, uma ferramenta
para o desenvolvimento do design do traje.
2.2.1.1. Traje como Obra de Arte e Objecto Estético
Como já discutido, a arte é uma criação humana com valores estéticos, como beleza,
equilíbrio, harmonia. Portanto, parafraseando: a arte está ligada à estética, porque é
considerada uma faculdade ou acto pelo qual, trabalhando uma matéria, (…) o Homem cria
beleza ao se esforçar por dar expressão ao mundo material que o inspira.13
E daí pode-se
também, observar que o traje é uma obra de arte e através da sensibilidade e harmonia torna-
se objecto estético.
Sendo um dos grandes pesquisadores da área da Estética, VENTOS (apud CIDREIRA,
2008:39), assegura que o traje converte-se em estilo (artístico), à medida que responde à
necessidade de exprimir uma nova ideia ou conteúdo da realidade cultural e social.
2.2.2. As Adolescentes, as Jovens, a Moda e o Movimento da Contracultura
Especialistas reconhecem que a adolescência é um período muito decisivo na vida do ser
humano (SUÁREZ, 2005:11). Trata-se de um conceito psicossocial como alicerça ROCHA
(2009:13). O período em discussão representa a passagem de uma condição social mais
dependente a uma outra mais independente, a vida social adulta. Nota-se também, uma vida
social na qual a adolescência e a juventude são influenciadas por uma sociedade fortemente
virada para o consumo de moda, interferindo na manutenção de valores sociais e culturais,
produzidos e reproduzidos permanentemente (VITELLI, 2005:1).
13
Disponível na Internet via: www.significados.com.br
22
Do ponto de vista psicológico, MELO (2009:21), na sua obra sobre a Teoria Psicossocial do
Desenvolvimento em Erik Erikson, afirma que o quinto estágio (12 a 18 anos) do
Desenvolvimento Humano (adolescência) ganha contornos diferentes (dos anteriores) devido
à crise psicossocial que nele acontece, ou seja, Identidade e Confusão (positiva e negativa).
Esta autora é enfática ao afirmar que a juventude é a fase em que o interesse, além do
profissional, gira em torno da construção de relações profundas e duradouras (íntimas).
O Psicólogo Erikson, em seus estudos, ressalta que o adolescente precisa de segurança frente
a todas as transformações (físicas e psicológicas) do período. Essa segurança (ele) encontra na
forma de sua identidade, que foi construída por seu ego em todos os estágios anteriores. Esse
sentimento de identidade se expressa nas seguintes questões, presentes para o adolescente:
Sou diferente dos meus pais? O que sou? O que quero ser? Respondendo a essas questões, o
adolescente pretende se encaixar em algum papel social (RABELLO & PASSOS, 2012:3).
Para ERIKSON (apud RABELLO & PASSOS, 2012:6), o ser humano precisa sentir que
determinado grupo apoia suas ideias e sua identidade. Neste sentido, o adolescente se
influencia facilmente pelas opiniões alheias. Na Teoria Eriksoniana, quanto mais bem vividas
as crises anteriores, ou seja, quando a Confiança Básica, a Autonomia, a Iniciativa e a
Diligência têm desfechos positivos, mais fácil se torna a superação da Crise de Identidade.
Na vertente das idades, o sítio oficial da UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância,
do inglês: United Nations Children's Fund)14
sublinha que a fase de adolescência enquadra-
se na segunda década de vida. Em Moçambique considera-se jovem, toda pessoa com idade
entre 18 e 35 anos.15
Em relação ao traje, independentemente da faixa etária, GARCIA (2011:1) sublinha que este
transmite comportamentos, educação e dele podemos extrair diversas conclusões do ser
humano e até da sua história. Esta autora alerta que há a hipótese de haver dois tipos de
moda: a permitida e a desejada. Seguindo o mesmo raciocínio, a primeira baseia-se na
necessidade que o ser humano tem de se vestir. A segunda é a moda enquanto movimento
artístico e cultural, consumista, isto é, a moda como negócio.
Diante daquele último tipo de moda e as duas fases em estudo, CATOIRA (2008:18), relata
que os jovens começaram a ter suas posições na sociedade a partir do final dos anos 50 e
14
Disponível na Internet via: www.unicef.org.br./adolescentes.
15
Disponível na Internet via: http://www.portaldogoverno.gov.mz/Servicos/juventude_desp/
23
acabaram por criar um código estético que influenciou e criou novos estilos de vestir,
surgindo assim o Movimento da Contracultura. De acordo com este autor, esse estilo (figura
04) foi muito divulgado pela impressa e pelo cinema, que mostrou, além do visual, a atitude
dos Adolescentes e Jovens. Em suma, pode-se afirmar que, a Contracultura foi um movimento
global, em que a estética do traje foi marcada pelos visuais e atitudes contraditórias dos
Adolescentes e Jovens.
Fig. 04. Tendência de realçar a coluna na moda feminina em adolescentes.
Fonte: Arquivo do autor, 2015.
2.2.3. Traje Feminino Afro-Moçambicano
2.2.3.1. Características do Traje Feminino Afro-Moçambicano
Hoje, como sempre, debate-se a questão do traje único das mulheres moçambicanas, mas,
COTRIM (2009:3) defende que a capulana é o traje típico das mulheres moçambicanas. A
Capulana (origem tsonga) é o nome que se dá, em Moçambique, a um pano que,
tradicionalmente é usado pelas mulheres para cingir o corpo, fazendo as vezes de saia
(REVISTA ÍDOLO, 2014).
Numa outra face clarifica-se que a Capulana é um pano rectangular de algodão, misturado
com fibras sintéticas, com motivos estampados e com cores fortes (CAMPOS, 2013). Neste
fio de pensamento, HONWANA (apud COTRIM, 2009:4) explica que normalmente de cores
vivas, com motivos africanos, e padrões geométricos variáveis. A riqueza de cores e motivos
constitui-se numa característica da riqueza cultural do país. Nesta face, parafraseando o ponto
de vista apontando no JORNAL DOMINGO16
datado a 15 de Setembro de 2013, o que existe
como alicerce para a beleza ou estética no traje afro-moçambicano é a decência e o decoro.
16
Disponível na Internet via: www.jornaldomingo.co.mz
24
2.2.3.2. A capulana como símbolo do Traje Feminino Afro-Moçambicano
2.2.3.2.1. Breve historial da capulana moçambicana
A capulana representa hoje a roupa africana, mas é herança das relações comerciais que se
estabeleceram com os povos asiáticos e árabes, posteriormente a chegada dos europeus
(CAMPOS, 2013:14). O autor conta ainda que o comércio colonial em Moçambique tinha
como moeda de troca o ouro e o marfim. Como contrapartida, os comerciantes estrangeiros
traziam o pano da Índia e a missanga de Veneza principalmente no período colonial
português. Na mesma abordagem, COTRIM (2009:4), revela que, a mulher agrícola passou a
ter acesso a estes panos mediante a troca de vários produtos como castanha de cajú,
amendoim, gergelim, etc..
Vários autores como CHAÚQUE (2009) e CAMPOS (2013) sublinham a história relatada por
TORCATO & ROLLETTA (2006) que dizia que a origem da capulana continua um enigma,
mas que na África Oriental falante de Swahili diz-se que a maneira de vestir a capulana surgiu
no século XIX quando as mulheres começaram a comprar lenços de tecido de algodão
estampado e colorido (como mostra a figura 05), trazido pelos mercadores portugueses.
Fig. 05. Capulanas afro-moçambicanas dobradas.
Fonte: https://www.google.com/search?q=capulana&client=opera.
25
2.2.3.2.2. Educação, uso e simbologia da capulana moçambicana
De acordo com estudos realizados por COTRIM (2009) e CAMPOS (2013), pode-se dizer
que em vários momentos sociais, as mulheres jovens recebem ensinamentos das mais velhas.
Num outro desenvolvimento, TORCATO & ROLLETTA (2006) relatam que a capulana é
usada para se vestir, para embrulhar as crianças, para amarrar às costas, para cingir o corpo
(figura 06), como toalha e como cortina. Isto coaduna com a chamada de atenção dada por
COTRIM (2009:15):
A capulana moçambicana não serve apenas como traje, ela é usada em todas
as fases da vida, nos rituais de iniciação, para carregar os bebés (figura 07),
para cobrir o defunto, para decorar a casa, para carregar doentes, para
cobrir o corpo.
Fig. 06. Uso de capulana como cingilo do corpo feminino.
Fonte: Arquivo do autor, 2015.
Fig. 07. Uso de capulana para amarrar e carregar bebé.
Fonte: Arquivo do autor, 2015.
26
2.2.3.3. Observações feitas por Samora Machel e por Avelino Mondlane
 Observação Estética no traje afro-moçambicano, feita por Samora Machel e o
pensamento de Karl Max
Durante a contradição na construção do socialismo, o saudoso Presidente Samora Machel
comentou de acordo com o CD (23min 57s)17
, o seguinte: eles querem provar que o
socialismo é uma coisa má… (…) quiseram condicionar o gosto do povo, então encontramos
tecidos com padrões iguais (padrões feios). (…) o inimigo faz tudo em nome do socialismo,
com o objectivo de afastar o povo da direcção.
Com esta visão, percebe-se que MAX (apud HÖGE 2000:122), apoia alertando que (…) a
estética mal usada é embriagante e esconde a realidade desse povo.
Apresentadas estas duas citações, nota-se que realmente uma sociedade sem direcção é uma
sociedade sem estética própria no seu traje, portanto, a estética é essencial no
desenvolvimento sociocultural de um povo.
 Observação Estética no traje afro-moçambicano, feita por Avelino Mondlane18
O músico Avelino Mondlane contribuiu bastante pelas suas observações estética-culturais no
traje feminino afro-moçambicano. Numa das suas emblemáticas músicas ele diz: Udlokile ti
mpahla ta kuxonga ni taku dura kambe tikususa a lisima tombi (…), ou seja vestiste roupa
bonita e cara mas te tira valor jovem.19
Depois de ter dito isto, o autor aconselha a moça a vestir-se bem para que seja apreciada, e a
vestimenta ideal segundo ele, seria a capulana: Tsimba capulana dzaku xonga ndzi ta ku
randza mina (…), ou seja, amara capulana bonita para eu gostar de ti.
É de salientar que essa posição do Avelino Mondlane corrobora com os pensadores como
PLATÃO (apud SUASSUNA, 2004:11) ao repisar que o belo serviria para conduzir o
Homem à perfeição e com BAUMGARTEM (apud ALLESCH, 1987)20
ao afirmar que o fim
de toda estética é a perfeição da cognição sensível em si. Pois, isto é que revela a beleza.
17
CD-ROM com o título: Samora Vive 1ª parte.
18
Uma figura pública moçambicana, que faz da música o seu quotidiano.
19
Tradução livre do autor (CHITLANGO).
20
HÖGE et al.. Educação Estética e Artística - Abordagens Transdisciplinares. Fundação Gulbenkian, Lisboa,
2000.
27
2.3. Relação do presente tema com a disciplina de Educação Visual
A Educação Estética oportuniza uma experiência que não é uma simples
manifestação da sensibilidade desconectada da sociedade, mas que sintetiza
um conjunto de relações significativas e universais.
Este tema enquadra-se na primeira linha de pesquisa do curso de Licenciatura em Educação
Visual (História, Crítica e Teoria do Design). Falar de Educação Visual pode entender-se
como sendo educação de espírito crítico e construtivo na Comunicação Visual através de
várias formas de expressão humana (artes plásticas/ design de moda/ etc.).
É importante salientar-se que:
Pode-se dizer ainda que, o educador precisa propiciar ao aluno um diálogo
íntimo e profundo com produções culturais, para que ele amplie horizontes
particulares, pois, quanto maior for o contacto com os bens culturais, à
medida que ele compreende e dialoga com a cultura que o cerca, como estão
configuradas os elementos construtivos e qual é o contexto estético, social e
histórico, maior será o desenvolvimento e aprendizado do aluno (CASTILHO
& FERNANDES, 2007:11).
De maneira geral, a Educação Estética pressupõe a formação integral do
aluno, tanto em seus aspectos sensíveis e cognitivos, que contemple a arte
como forma de propiciar um processo de Ensino e Aprendizagem mais
significativo e amplo, tendo a arte como base para a Educação Integral do
Homem (idem, 2007:12).
Noutra faceta, RODRIGUES (2006:26) lembra que:
Autores como FORQUIM (1993), CANDAU (2000; 2002), entre outros, que
enfatizam a relação existente entre escola e cultura, nos instigam a buscar
uma melhor compreensão acerca das influências das raízes culturais nas
práticas pedagógicas.
Portanto, um olhar que focaliza a valorização da cultura contribui, para a promoção da riqueza
dos valores estético-culturais afro-moçambicanos. Ainda nesta ordem de ideias, TERROSO
(2014:3), sublinhou que uma reflexão sobre a relação cultura e arte no contexto da Prática
Pedagógica contribui para que se atinjam os objectivos gerais e específicos da disciplina de
Desenho e Educação Visual, e melhora a formação e a educação do gosto pela sensibilidade
artística, da criatividade e inovação, que são indispensáveis no design do traje afro-
moçambicano.
28
CAPÍTULO III - MÉTODOS E TÉCNICAS
3. Metodologia
3.1. Tipo de pesquisa
Sendo um tema que enquadrou-se na esfera cultural, com procedimentos técnicos de um
estudo de caso, teve uma abordagem qualitativa, dado a preocupação de investigar hábitos e
tendências de comportamentos perante o design de moda (LAKATOS & MARCONI,
2009:106). E tratou-se de uma pesquisa aplicada, pois objectivou gerar conhecimentos para
aplicação prática (GIL, 1991, apud DA SILVA & MENEZES, 2001:20).
3.2. Método de abordagem
O desenvolvimento da presente pesquisa, baseou-se no Método Indutivo, que para chegar-se
ao conhecimento científico, parte de factos particulares observados e tira-se uma conclusão
genérica (GIL, 2008:10). É importante referenciar-se que a conclusão tirada da amostra serviu
para todas Adolescentes e Jovens de 13 a 23 anos de idade residentes da Cidade de Xai-Xai.
3.3. Procedimentos metodológicos
 Método Exploratório
Usou-se as conversas informais com várias pessoas e o levantamento bibliográfico que
consistiu na leitura e acompanhamento de principais documentos e trabalhos realizados
(manuais, teses, sítios, gravações áudios e vídeos, jornais nacionais e internacionais, redes
sociais, etc.), que auxiliaram na apresentação do alicerce teórico do presente estudo. Um dado
importante é que foi explorado um número acima de 50 fontes (PRODANOV & FREITAS,
2013:37).
 Método Observacional
Este estudo baseou-se também no Método Observacional por ser um dos mais modernos que
possibilita maior precisão nas pesquisas qualitativas. Portanto, fez-se um trabalho de campo,
onde o enfoque foi de recolher vários pontos de vista em relação aos factos da realidade
quotidiana da moda actual em Adolescentes e Jovens da Cidade de Xai-Xai (idem, 2013:51).
3.4. Técnicas e instrumentos de recolha de dados
 Observação Directa Intensiva
A Observação Directa Intensiva usou-se para colecta de dados (LAKATOS & MARCONI,
2009:190). Esta técnica permitiu observar os elementos estético-culturais ocidentais no traje
29
feminino na Cidade de Xai-Xai. Para tal, com auxílio de uma Grelha de Observação21
, e uma
máquina fotográfica, visitou-se do dia 21 até 26 de Setembro, alguns pontos estratégicos com
maior concentração de Adolescentes e Jovens, a saber: Cruzamento, BP Xai-Xai, Partido,
Podido e Parvim.
 Entrevista
A colecta de dados deu-se também por meio de entrevista semi-estruturada pois, não exige
rigidez de guião e as questões são abertas mas dentro da lógica relacional (OLIVEIRA apud
DYNIEWICZ, 2006:14). Portanto, na base de quatro guiões de entrevista22
e um gravador
audiovisual, imparcialmente recolheu-se os dados relacionados com a moda feminina em
Adolescentes e Jovens da Cidade de Xai-Xai.
3.5. Público-alvo e amostra
Teve-se como alvo do estudo, as Adolescentes e Jovens com idade entre 13 e 23 anos,
residentes na Cidade de Xai-Xai. Importa lembrar-se que numa Pesquisa Qualitativa, para a
delimitação do número de entrevistas utiliza-se o critério de saturação, no qual efectua-se
entrevistas em número suficiente e que garante um máximo de diversificação e abrangência,
não sendo prioridade o critério numérico (MINAYO, apud DYNIEWICZ, 2006:22). Portanto,
adoptou-se uma Amostra Aleatória Estratificada (GIL, 2008:92), onde foram abrangidas 40
Adolescentes e Jovens do sexo feminino, com idades entre 13 e 23 anos.
A estratificação usada para permitir a representatividade nas entrevistadas foi:
 Primeiro estrato (13 a 15 anos): 11 adolescentes;
 Segundo estrato (16 a 17 anos): sete (7) adolescentes;
 Terceiro estrato (18 a 20 anos): 11 jovens;
 Quarto estrato (21 a 23 anos): 11 jovens.
De forma específica, no dia 17 de Outubro (domingo) entrevistou-se:
 Três adolescentes e três jovens da Igreja Evangélica Assembleia de Deus BP Xai-Xai;
 Três adolescentes e três jovens da Igreja Católica São João Baptista.
Seguidamente, na semana de 25 a 31 de Outubro entrevistou-se:
 Seis adolescentes e oito jovens da Escola Secundária de Xai-Xai;
 Seis adolescentes e oito jovens da Escola Secundária Joaquim Chissano.
21
Vide em apêndice I.
22
Vide em apêndices III, IV, V e VI.
30
Para o sustento da pesquisa, depois das entrevistas direccionadas ao público-alvo
(Adolescentes e Jovens femininos de 13 a 23 anos), em três semanas consecutivas (01 a 21 de
Novembro) entrevistou-se ainda 13 pessoas, que foram: quatro Costureiros (Estilistas/
Modistas), três Jovens Masculinos, três Encarregados de Educação (duas senhoras e um
senhor), uma colaboradora da Casa Provincial de Cultura, um Psicólogo e um Antropólogo.
3.6. Procedimentos para análise e interpretação de dados
Nas pesquisas qualitativas, a análise dos dados depende muito da capacidade e do estilo do
pesquisador (GIL, 2008:175). Depois de analisar-se as imagens capturadas antes das
entrevistas, com intuito de facilitar a percepção e alcance dos objectivos deste estudo, através
de quatro categorias (Beleza, Valorização, Motivações e Alternativas) traçadas na base dos
objectivos específicos, a análise e interpretação de dados baseou-se na Análise de Conteúdo
que seguiu os seguintes passos propostos por DYNIEWICZ (2006:32):
 Leitura das descrições dos dados sem buscar qualquer interpretação;
 Duas Novas leituras para discriminar as unidades de significado em função das
categorias em análise;
 Análise de todas as unidades de significado em função da estruturação de categorias;
 Interpretação do raciocínio de cada entrevistado em função das quatro categorias, onde
tirou-se uma relação com o raciocínio de outros entrevistados.
3.7. Breve descrição da área de estudo (Cidade de Xai-Xai)23
A Cidade de Xai-Xai é a capital da província de Gaza em Moçambique. Várias fontes como
FERNANDES (2006) e SOUSA (2011) relatam que, antigamente era Povoação de Chai-Chai.
Em 1928, denominou-se Vila de João Belo. Em 1961, foi elevada a categoria de cidade e em
1975 resgatou-se o nome Xai-Xai. Situa-se no vale do Limpopo, a 210 km a norte da cidade
de Maputo, limitando-se a sul pela Localidade de Chilaulane e pelo Índico; a este pelo Posto
Administrativo de Chongoene, a oeste pelo Posto Administrativo de Chicumbane, e a norte
pelos rios Limpopo e Ponela. É um destino turístico devido as suas praias e no mês de
Janeiro, a temperatura média é de 26.2 °C. Em Julho, a temperatura média é de 18.4 °C. Esta
cidade, com quatro postos administrativos, tem uma população de cerca de 116.343 habitantes
(Censo da População 2007) e é, administrativamente, um município com um governo local
eleito.
23
Vide em anexo I, as figuras do enquadramento da área do estudo.
31
CAPÍTULO IV - ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS
4. Estética do Traje Feminino Afro-Moçambicano na Cidade de Xai-Xai
Este capítulo comporta duas esferas: a observação e as entrevistas realizadas. Na primeira,
partindo das imagens capturadas antes das entrevistas, verificou-se as tendências ocidentais na
moda feminina na Cidade de Xai-Xai, o que auxiliou na interpretação do raciocínio de cada
entrevistado (a). Na segunda esfera, apresenta-se e interpreta-se o raciocínio dos (as)
entrevistados (as), e está subdividida em quatro categorias a saber: Beleza, Valorização,
Motivações e Alternativas.
4.1. Traje com elementos estético-culturais ocidentais na Cidade de Xai-Xai
As imagens abaixo, foram capturadas nos principais pontos estratégicos (locais públicos) que
permitiram a observação24
das tendências ocidentais no traje feminino na Cidade de Xai-Xai.
Fig. 08. Uma jovem na Baixa da Cidade de Xai-Xai.
Fonte: Arquivo do autor, 2015.
Fig. 09. Três Adolescentes em grupo de estudos.
Fonte: Arquivo do autor, 2015.
24
Vide em apêndice II, as cinco (05) grelhas preenchidas durante a Observação Directa Intensiva.
32
Fig. 10. Uma jovem de saia com 10 cm acima do joelho.
Fonte: Arquivo do autor, 2015.
Fig. 11. Uma adolescente de vestido de capulana, curto, com coluna não coberta.
Fonte: Arquivo do autor, 2015.
Fig. 12. Duas adolescentes, uma de vestido cai-cai e outra de estica sem mangas.
Fonte: Arquivo do autor, 2015.
Nestas imagens, pode-se verificar que superficialmente, a tendência das Adolescentes e
Jovens é de usar trajes cada vez mais simples e curtos (por exemplo):
 Saias e vestidos com 10 centímetros acima do joelho: figuras 08, 09, 10 e 11. Neste
ponto, interessa dizer que esta é a tendência que se verificou no traje das Adolescentes
e Jovens da Cidade de Xai-Xai durante a pesquisa;
 Uso da capulana para traje que mostra a coluna: figura 11;
 Blusas e vestidos sem mangas: figuras 11 e 12.
33
4.2. Percepção do fenómeno
Nesta esfera, o que se buscou, foi traçar pontos de convergência e distanciamento no que diz
respeito ao traje feminino afro-moçambicano e sua percepção pelo público entrevistado.
Durante a apresentação dos pontos de vista das Adolescentes e Jovens nas escolas (exemplo:
figura 13) e nas igrejas (exemplo: figura 14), optou-se em usar nomes fictícios e para os
Costureiros optou-se em usar as primeiras duas letras dos seus nomes, de modo a proteger as
sensibilidades individuais.
Fig. 13. Adolescentes e Jovens da Escola Secundária de Xai-Xai.
Fonte: Arquivo do autor, 2015.
Fig. 14. Adolescentes e Jovens da Igreja Católica São João Baptista.
Fonte: Arquivo do autor, 2015.
4.2.1. A beleza do traje feminino afro-moçambicano
Nesta secção, apresenta-se e interpreta-se os pontos de vista de Adolescentes e Jovens,
Costureiros, Encarregados de Educação, Jovens Masculinos, Colaboradora da Casa Provincial
da Cultura, Psicólogo e Antropólogo na Cidade de Xai-Xai em torno da moda feminina afro-
moçambicana. Procurou-se colher as opiniões em volta da beleza deste traje.
34
 Adolescentes e Jovens
Muitas Adolescentes e Jovens, questionadas sobre a beleza da moda feminina afro-
moçambicana, deram os seguintes pontos de vista:
O traje feito a capulana é bonito sem dúvida (Balbina, 13 anos, 2015, cp.).
Gosto do traje afro-moçambicano pois espelha a nossa cultura de vestir. Mas,
só para produzir o traje (Jeny, 15 anos, 2015, cp.).
Na minha ideia, a capulana é o melhor tecido em termos da qualidade e
diversidade de cores (Zubaida, 17 anos, 2015, cp.).
Não sei que parâmetro é considerado afro-moçambicano. Odeio usar a
capulana para amarar, porque isso já está fora da moda, mas para fazer
vestido e saia gosto muito (Mariana, 19 anos, 2015, cp.).
Bom, não sei se é bela ou não. (…) O que sei, é que muitas mulheres usam
muito a capulana para dias especiais, e isso faz-me perceber que é muito
bonita (Inês, 23 anos, 2015, cp.).
Diante destes pontos de vista percebe-se que de forma similar as Adolescentes e Jovens
reconhecem a beleza da capulana, até mesmo considerarem-na ideal para produzir traje,
embora não para amará-la, justificando que esta prática já está ultrapassada.
É de salientar-se que a posição da maior parte das adolescentes (13 a 17 anos) é explicada
pela Teoria Eriksoniana que diz que a adolescente, em certos momentos se acha diferente dos
pais, e ao tentar responder uma série de perguntas, pretende encaixar-se em algum papel
social (RABELLO & PASSOS, 2012:17).
Numa outra perspectiva, pode-se perceber que a maioria está informada que a capulana
simboliza o traje feminino afro-moçambicano, e que é bela. No entanto, apesar de não ser em
grande parte, algumas jovens (18 a 23 anos) têm um dado importante a se observar quando
por exemplo a Mira diz:
A moda afro-moçambicana é bela. Mas em algum momento é preciso alternar.
Se esta for muito vulgar, então deixará de ser interessante e muito bela para
nós mulheres (23 anos, 2015, cp.).
Aqui, nota-se que em alguns casos, o traje feito a capulana ou mesmo amarrar a capulana é
alternativa para momentos especiais das jovens da Cidade de Xai-Xai, e não para o uso
quotidiano delas como mostra (por exemplo) a figura 15.
35
Fig. 15. Alguns trajes femininos na Cidade de Xai-Xai.
Fonte: Arquivo do autor, 2015.
Com estas opiniões, pode-se dizer que o traje feminino afro-moçambicano é reconhecido
pelas Adolescentes e Jovens como belo, e a maior parte delas sublinhou parâmetros que
considera suporte a este traje, que são: o uso da capulana (cobrir ou produzir o traje), a
decência e o decoro. Mas, vale ressalvar-se que elas preferem não usá-la com maior
frequência, pois pode deixar de ser especial, tornando-se vulgar.
 Costureiros (Estilistas/ Modistas)
Questionados em relação a moda feminina na Cidade de Xai-Xai, os quatro Costureiros, com
uma experiência de trabalho acima de cinco anos, apresentaram as seguintes posições:
Vejo a moda como sendo a tendência do consumo dos clientes. Faço aquilo
que elas escolhem. Mas há casos em que dou os panfletos para apreciarem e
escolherem a moda que preferem (SE, 2015, cp.).
A capulana faz maravilhas. Tenho usado muito como tecido para o traje,
principalmente quando há casamentos. São as preferências delas (AS, 2015,
cp.).
Elas têm feito poucas encomendas aqui. Mas acho que não é porque não é
roupa bonita. Faço o que elas escolherem, mas por vezes coloco minhas
propostas (SD, 2015, cp.).
O traje afro-moçambicano é admirável em vários cantos do mundo, e eu
particularmente, vejo esse como um indicador de ser um traje bonito. Me
baseio na minha criatividade e nos panfletos para facilitar o trabalho (MJ,
2015, cp.).
36
Estes pontos de vista, fazem perceber-se que a maior parte dos Costureiros, projecta o olhar
para a tendência dos gostos das Adolescentes e Jovens. Esta projecção alia-se a Teoria
Garciana, que defende haver dois tipos de moda: a permitida que baseia-se na necessidade que
o ser humano tem de se vestir (questões climáticas e socioculturais) e a desejada que é a moda
como negócio (GARCIA, 2011:1). Em suma, os Costureiros reconhecem a beleza do traje
feminino afro-moçambicano mas, a maior parte do design destes (Costureiros) tem tendência
consumista (como negócio).
 Jovens Masculinos
Questionados sobre a beleza do traje feminino afro-moçambicano, os três Jovens Masculinos
responderam similarmente desta forma:
Toda mulher é muito bonita dentro da capulana. (Fernando, 2015, cp.).
Aprecio muito a capulana, por ser atractiva e como tecido faz traje especial
(Celso, 2015, cp.).
(…) sem dúvida, uma mulher quando veste como africana ou moçambicana é
muito bonita (João, 2015, cp).
Estas observações não retiram as palavras das Adolescentes e Jovens, e dos Costureiros, visto
que no traje afro-moçambicano, está presente o belo, que serve para conduzir o Homem a
perfeição, como referenciou o estudo feito por PLATÃO (apud SUASSUNA 2004:11) e
como sublinhou o músico Avelino Mondlane.
 Encarregados de Educação
Numa outra fase de entrevistas, há uma intersecção entre as ideias dos Encarregados de
Educação em relação à moda feminina afro-moçambicana. A Senhora Bia e o Senhor Sabino
revelaram, respectivamente, durante a entrevista que:
(…) sem muitos comentários, todos sabemos que a nossa forma de vestir é
muito bonita, pois, apresenta uma variedade de estilos e é confortável (2015,
cp.).
Meu filho, o traje feito a capulana, é lindo, para além de que preserva o corpo
feminino (2015, cp.).
Estes pontos de vista deixam claro que a beleza do traje afro-moçambicano é sustentada pela
harmonia das cores, preservação dos valores socioculturais e existência de vários estilos. Isto
coaduna com a ideia sublinhada pelo JORNAL DOMINGO datado a 15 de Setembro de 2013,
que o alicerce para a beleza do traje afro-moçambicano é a decência e o decoro.
37
 Colaboradora da Casa Provincial de Cultura
Numa outra entrevista dirigida a uma Colaboradora da Casa Provincial de Cultura, notou-se a
seguinte vertente:
O nosso traje é bonito e importante no quotidiano das mulheres moçambicanas
de forma geral. Um aspecto a salientar, é que temos a capulana como pano
para a produção da nossa roupa e para outras funções diárias. Isto constitui
fundamento da beleza do traje afro (Arcênia, 2015, cp.).25
Interessa aqui, sublinhar-se a intersecção da maior parte dos pontos de vista anteriormente
discutidos com o raciocínio desta pesquisadora social, que é o facto de referenciar-se a
capulana em duas faces que sustentam a sua beleza: a de usar-se a capulana para cobrir
simplesmente o corpo e a de usá-la como tecido (figura 16) com valores estético-culturais que
são a decência e o decoro na produção do traje. Como revelou a pesquisa realizada por
GARCIA em 2011, onde afirma que a moda deve expressar valores de uma sociedade
específica.
Fig. 16. A capulana como tecido para cingir o corpo da mulher.
Fonte: Arquivo do autor, 2015.
 Psicólogo
Entrevistado sobre a dinâmica actual da moda e a beleza do traje feminino afro-moçambicano,
Chirrime, como Psicólogo, revelou que vive-se nos últimos cinco ou 10 anos uma
preocupação quântica, ou seja, numa Sociedade Quântica. Para este académico, o que
acontece é que olha-se mais para a escolaridade e não para a educação. Para Chirrime:
Escolaridade tem a ver com o domínio das ciências (por exemplo: domínio de
Desenho, domínio de Biologia, domínio de Geografia, etc.), enquanto,
Educação tem a ver com o ensino de valores éticos, sociais e culturais (2015,
cp.).
25
Colaboradora da Casa Provincial de Cultura, formada pela Universidade Pedagógica, História Política.
38
Chirrime (2015, cp.) reconheceu ainda que o traje feminino afro-moçambicano é belo, além
de carregar os valores éticos, sociais e culturais. Pela análise deste Psicólogo, estas
Adolescentes e Jovens poderão transportar este comportamento para a fase adulta. O
comportamento revelado por este académico, é a maneira como estas Adolescentes se
apresentam nos locais públicos como por exemplo na figura 17.
Fig. 17. Saia com 10 cm acima de joelho.
Fonte: Arquivo do autor, 2015.
 Antropólogo
Perguntado sobre este fenómeno, Chachuaio (2015, cp) reconheceu a beleza do traje feminino
afro-moçambicano. No entanto, afirmou que não se pode admirar o que está acontecer na
moda feminina em Adolescentes e Jovens pois, trata-se de um momento de contingência
cultural. Para este Antropólogo:
Contingência Cultural é o momento em que a sociedade verifica a
incorporação de novos elementos na sua cultura, sendo que anos depois, esses
elementos podem ficar ou serem rejeitados pela própria sociedade de forma
inconsciente (2015, cp.).
Isto coaduna com a Teoria Eriksoniana sublinhada por RABELLO & PASSOS (2012:6), na
qual refere que o adolescente e o jovem precisam sentir que determinado grupo apoia suas
ideias e sua identidade, para determinar a sua identidade e postura definitiva.
 Breve resumo da primeira categoria (Beleza)
Diante desta abordagem, verificou-se que todos os entrevistados revelaram reconhecimento
pela beleza do traje feminino afro-moçambicano, destacando os seus valores socioculturais
que são: o uso da capulana (cobrir ou produzir o traje), a decência e o decoro. Notou-se que
em alguns casos a capulana é alternativa para momentos especiais das jovens, e não para o
uso quotidiano delas, considerando esta prática ultrapassada.
39
4.2.2. O valor do traje feminino afro-moçambicano
Nesta secção, buscou-se apenas verificar o valor que as Adolescentes e Jovens dão ao traje
feminino afro-moçambicano. Com idades compreendidas entre 13 e 23 anos, foram
entrevistadas sobre esta categoria (valorização), e muitas delas revelaram o seguinte:
(…) minha mãe tem dito as vezes que a capulana identifica-nos. E tenho usado
por vezes nos domingos quando vou a igreja (Salima, 13 anos, 2015, cp,).
(…) algumas adolescentes na escola põem uniforme curto, e nas igrejas põe
roupa que respeita o seu corpo (Cidália, 16 anos, 2015, cp.).
A moda moçambicana para mim é algo especial. Uso quando vou as festas de
amigas e outros eventos especiais da família (…) (Estrela, 17 anos, 2015, cp.).
Tenho dois vestidos de capulana e uma saia. Mas só para dias especiais como
dias de casamentos. Sou fã de calças e blusas (Olívia, 20 anos, 2015, cp.).
Adoro a capulana para produzir o traje. Principalmente para casamentos (…)
(Josefa, 21 anos, 2015, cp.).
(...) o traje é dinâmico. É preciso aceitarmos isso. Agora não podemos ficar
apegados a um simples traje. É preciso variarmos (Jéssica, 22 anos, 2015, cp.).
(…) estou ciente de que sou mulher de valor quando estou dentro do traje feito
a capulana (Ivone, 23 anos, 2015, cp.).
Diante destes pontos de referência, continua notável a tendência de se olhar para o traje feito a
capulana como a alternativa exclusiva para alguns dias e locais (Cerimónias Sociais), como
disseram as adolescentes Salima, Cidália e Estrela, e ainda as jovens Olívia e Ivone. A Jéssica
posicionou-se na ideia da dinâmica cultural defendida por MALINOWSKI citado por
GRUPO ESCOLAR (2015). Nesta abordagem, percebe-se que a maior parte das Adolescentes
e Jovens valoriza o traje afro-moçambicano (sem nenhum controlo padronizado) nas
Cerimónias Sociais. Isto coaduna com o estudo de SANTOS (2010:49), que concluiu que não
é possível estabelecer um padrão uniforme para a formação da cultura.
 Breve resumo da segunda categoria (Valorização)
Em suma, as Adolescentes e Jovens têm a tendência de olharem para o traje feito a capulana
como alternativa exclusiva para Cerimónias Sociais. Fica claro que a maioria delas coloca
como Centro das Atenções, a tendência da vida contemporânea ocidental, baseada na
diversidade e liberdade na escolha do traje. Portanto, revela-se seguidamente, as opiniões que
tendem a revelar as principais motivações para que haja esta tendência ocidental.
40
4.2.3. As principais motivações que conduzem às tendências ocidentais
Nesta secção, apresenta-se os vários posicionamentos em torno daquilo que principalmente
motiva as Adolescentes e Jovens a terem tendências ocidentais no seu traje diário.
 Adolescentes e Jovens
Questionadas sobre as principais motivações, as Adolescentes e Jovens responderam de duas
formas diferentes. Verificou-se que os primeiros dois estratos (13 a 15 anos e 16 a 17 anos) do
grupo-alvo, apesar de acreditarem que a moda afro-moçambicana é bela e que tem valor,
continuam influenciadas por amigas nos grupos, como revelaram nos seguintes argumentos:
Para mim, é difícil dizer concretamente o que constitui maior motivação para
não usar a roupa feita a capulana. Uma coisa importante, é que na minha casa
ensinaram-me a vestir adequadamente, respeitar o meu corpo como mulher,
isto é, não usar roupa curta nem roupa transparente. Mas quando estou com
minhas amigas sinto que estou fora da moda porque elas estão usando roupas
curtas e simples possíveis (Cristência, 14 anos, 2015, cp.).
Aqui no Xai-Xai, o que está a bater é deixar algumas partes sensuais visíveis,
(…) com isso sim, faz parte da nossa team26
(Amélia, 17 anos, 2015, cp.).
Algumas adolescentes, questionadas sobre o que as motivava a vestirem-se de forma afro-
moçambicana, expressaram-se da seguinte maneira:
Uso desta forma decente, para as pessoas não falarem mal de mim (Ednilse,
15 anos, 2015, cp.).
Minha religião proíbe mostrar partes íntimas do meu corpo e eu sigo pois, é
boa coisa (Doninha, 16 anos, 2015, cp.).
Numa outra vertente, os dois outros estratos (18 a 20 anos e 21 a 23 anos) do grupo estudado,
consideraram ser tendência delas a escolha de tecidos simples, finos e curtos. Elas deram
respostas semelhantes a estas:
Não entendo nada de moda. Por vezes tenho que colocar umas coisas melhores
porque os homens gostam. Mas aprecio sempre e muito as actrizes das
telenovelas brasileiras (Celeste, 19 anos, 2015, cp.).
Os actores famosos são a nossa fonte de inspiração. Mas sabemos que não é
da mesma forma como se vestem no palco ou nas novelas, como se vestem
quando estão nas suas próprias casas (Elvira, 20 anos, 2015, cp.).
26
Com a palavra team, estava a referir-se ao grupo de adolescentes. Tradução livre do autor (CHITLANGO).
41
Nisto pode perceber-se que como diz CANCLINI (1995 apud FERRARI, 2013:25), a
identidade contemporânea está directamente relacionada com aquilo que cada um deseja
possuir, pautada por reflexos de grupos e influências. No entanto, um detalhe importante é
que apesar de a maioria das Adolescentes e Jovens durante as entrevistas (exemplo na figura
18) estar em sintonia com a ideia enfatizada por este autor, existe outras que não usam o traje
de tecido de capulana, alegando o processo moroso de aquisição deste, desde a escolha de
capulana, passando pela escolha do modelo, até a produção final do traje (incluindo os
custos), como referenciou a Sónia, jovem de 22 anos de idade:
Para mim, o que influencia é o processo para a aquisição do traje trabalhado
a capulana. Pois é preciso ter tempo de procurar capulana, ir à modista e com
demora para ter o produto final. Daí que a maior parte das mulheres não tem
mais de quatro peças deste tipo de traje (2015, cp.).
Fig. 18. Entrevista as Adolescentes e Jovens na Igreja Evangélica Assembleia de Deus.
Fonte: Arquivo do autor, 2015.
A abordagem feita aqui, pressupõe que as Adolescentes e Jovens da Cidade de Xai-Xai são
fortemente motivadas pelos grupos onde estão inseridas (principalmente nas escolas) e pela
televisão, como concluiu o estudo feito por SANTOS (2010:26):
As imagens a que assistimos, diariamente, são apenas sombras das vidas das
pessoas, já que elas não representam a realidade em seu tempo e espaço.
Entretanto, ocorre que grande parte da população crê na veracidade das
figuras projectadas pelas mídias, tornando-se assim vulneráveis ao seu forte
poder de persuasão. Aprendemos a viver a partir das mídias, mais do que pela
própria experiência. As imagens com as quais somos bombardeados
diariamente revelam o nascer de uma nova cultura.
42
 Costureiros (Estilistas/ Modistas)
Os Costureiros, colaborando na busca daquilo que motiva em grande medida as Adolescentes
e Jovens, a optarem pelas tendências ocidentais no seu traje, responderam as perguntas da
entrevista, da seguinte maneira:
Aqui na Cidade de Xai-Xai, usamos em grande parte, o tecido de capulana.
Mas um detalhe importante é que nós temos feito o que elas pedem. É claro
que em algum momento aconselhamos, mas elas são determinantes no que
querem (SE, 2015, cp.).
O traje feito a capulana requer uma paciência do lado de quem deseja. E as
lojas têm roupa já feita em países do ocidente, e não têm roupa produzida a
capulana. Daí que as Adolescentes e Jovens, não têm alternativas e acabam
caindo nas roupas do ocidente. Estou falando das roupas transparentes e com
tecidos finos (MJ, 2015, cp.).
Eu acho que as lojas que vendem roupa e os ensinamentos familiares
influenciam bastante na determinação daquilo que estas Adolescentes e Jovens
devem usar (SD, 2015, cp.).
Com estas posições, percebe-se que a tendência é de se aliar à teoria de GARCIA (2011:125),
que explica que isto acontece porque o design de moda (actual) é influenciada pelo negócio,
quebrando as barreiras estéticas locais. Isto porque, os Costureiros seguem a tendência do
consumo das Adolescentes e Jovens, pois para eles é negócio. Para este autor, os designers de
moda (costureiros/ estilistas/ modistas), deixam de inovar nas suas próprias culturas,
envolvendo-se em contexto de dependência do que é o interesse do consumidor que
pressupõe-se estar sendo influenciando fortemente pelas actrizes como as jovens
referenciaram anteriormente.
Um dado importante a se salientar, é a intersecção dos pontos de vista de algumas Jovens
como a Sónia (22 anos) e o Costureiro MJ quando destacam a hipótese de o processo de
aquisição do traje ser o principal motivo. De salientar que esta hipótese não tem maior
destaque tanto para a maioria do grupo-alvo, assim como para os outros entrevistados desta
pesquisa. Portanto, pode ser um dos motivos, mas não um dos principais motivos.
Num outro momento, procurou-se saber da forma de publicação das obras feitas a capulana, e
os quatro Costureiros responderam similarmente ao senhor AS:
Não tenho tido algo concreto, que serve de marketing dos meus trabalhos. O
que posso dizer é que, uso panfletos e as pessoas quando me mandam fazer
trabalhos, depois propagam a minha imagem aos demais. Essa é a forma que
garante a manutenção e conquista de clientes (2015, cp.).
43
Verificou-se durante o contacto com os Costureiros (Estilistas/ Modistas) nos seus ateliês, que
usam basicamente os panfletos sul-africanos e nigerianos para a réplica de tendências da
moda feminina afro, como mostram as figuras 19 e 20.
Fig. 19. Num dos ateliês com panfletos colados na parede.
Fonte: Arquivo do autor, 2015.
Fig. 20. Panfletos usados pelos Costureiros (Estilistas/ Modistas).
Fonte: Arquivo do autor, 2015.
44
 Jovens Masculinos
Quanto as motivações entrevistou-se ainda três Jovens Masculinos que responderam de forma
semelhante ao João:
O que eu acho como homem é que as Adolescentes e Jovens se iludem pelas
novelas e aparições das suas admiradoras americanas (2015, cp.).
Este ponto de vista alia-se a ideia do SANTOS (2010:14) ao destacar que não se pode negar
que, de certa forma a cultura de massa (virada para o negócio) influencia no consumo como
por exemplo, através das novelas no âmbito da moda sob o vestuário feminino.
 Encarregados de Educação
Do ponto de vista dos três encarregados de educação, o que têm motivado as Adolescentes e
Jovens a se vestirem de roupa com tendências ocidentais são as telenovelas brasileiras. Isto
revela-se na comparação directa destacada na figura 21, que é ocidental para a Jovem e afro-
moçambicano para a Senhora, de esquerda a direita respectivamente.
Fig. 21. Comparação directa de dois tipos de trajes.
Fonte: Arquivo do autor, 2015.
Estes encarregados, deram ainda respostas como da Senhora Adelaide:
Os tempos são outros e a dinâmica da tecnologia é outra. Sendo que aquela
forma escandalosa de vestir que temos acompanhado nas ruas da nossa
Cidade, é a realidade da juventude actual (2015, cp.).
45
 Colaboradora da Casa Provincial de Cultura
Questionada sobre as principais motivações que conduzem as Adolescente e Jovens da Cidade
de Xai-Xai às tendências ocidentais no traje feminino, a colaboradora da Casa Provincial de
Cultura disse:
O grande desafio está na fase de transição da infância para a juventude e
seguidamente para a fase adulta. (…) A que se repensar na forma como a
educação dos valores éticos, morais e visuais é feita aqui. Visto que,
antigamente, valorizava-se muito o momento da passagem da infância para
adolescência, e da adolescência para a juventude, através de conversas
secretas entre mãe e filha, o que agora já não acontece com frequência
(Arcênia, 2015, cp.).
Percebe-se aqui, que a forma de educação tradicional era estratégica no comportamento e as
atitudes das Adolescentes e Jovens. Esta pesquisadora social deixou claro que estas estão
vulneráveis a qualquer influência, pois a educação no momento mais estratégico não foi forte.
 Psicólogo
Do ponto de vista psicológico, Chirrime assegurou que as adolescentes ainda não têm a
capacidade elevada de analisar e concluírem que o traje que vê na televisão ou em outros
meios visuais é ético localmente ou não. Para este académico, estas adolescentes são
vulneráveis pois, estão numa fase em que tudo é novidade, então se aparece alguém sendo
familiar, é apreciada e se o admirarem, tendem a fazer uma réplica na busca de identidade
própria. E sabe-se que os adolescentes têm dificuldades em avaliar a extensão e o impacto das
consequências do próprio comportamento. Mas também, tem dois lados importantes a saber:
- Na família. Aqui, o que acontece é que muitas Adolescentes não têm tido
oportunidade para conversar com seus pais. E isto trás consequências graves
como estas que assistimos nas ruas.
- Na escola. Aqui, o que acontece é que não se verifica a aplicabilidade da
educação, limita-se a escolaridade. Com isto tudo, as adolescentes ficam
expostas a qualquer tendência seja de qualquer via (Chirrime, 2015, cp.).
Sumariamente, o psicólogo revela três dados importantes que influenciam na educação das
Adolescentes e Jovens sobre a maneira de se trajar, a saber:
 (i) dificuldades de análise selectiva da informação que passa na televisão;
 (ii) falta de diálogo frequente nas famílias (principalmente na fase de adolescência); e
 (iii) vertente escolar (educação de valores morais e sociais).
46
 Antropólogo
Na análise antropológica que busca identificar as principais motivações que conduzem a
maior parte das Adolescentes e Jovens a optarem pelas tendências ocidentais no traje,
Chachuaio afirmou que:
De uma ou de qualquer forma, há necessidade de deixar claro que a cultura é
dinâmica, e isto acontece de forma incondicional. Neste momento, pode não se
dizer que as Adolescentes e Jovens estão desvalorizando o traje afro-
moçambicano, e sim procurar-se entender a própria dinâmica. Com isto vejo
que existem tantos factores que influenciam, por exemplo a televisão, a relação
interpessoal entre estas Adolescentes e Jovens, ou mesmo o tipo de família
(2015, cp.).
Este académico esclareceu que tendo em conta o dinamismo cultural, os factores resumem-se
na vida quotidiana destas Adolescentes e Jovens. E este raciocínio coaduna com o do
Psicólogo, quando referenciou a casa e escola como os lugares onde a educação ocorre com
muita força.
 Breve resumo da terceira categoria (Motivações)
Verifica-se que os Encarregados de Educação tendem a se afastar da educação tradicional das
filhas pois, como referenciaram, torna-se difícil devido a forte influência das telenovelas que
passam pelas televisões. Isto fortifica a hipótese de que nos próximos anos, ter-se-á, como
disse o Psicólogo, mães com um traje curto (figura 22) e/ou transparente e sem capulana.
Fig. 22. Uma adolescente de saia indo a escola.
Fonte: Arquivo do autor, 2015.
Olhando-se para a maioria dos pontos de vista, pode-se perceber que a escolha do traje em
Adolescentes e Jovens da Cidade de Xai-Xai é fortificada pela influência de amigas
(principalmente nas escolas) e pela influência da televisão (aparição de modelos ou actrizes
internacionais ocidentais e cantoras nos palcos durante as actuações televisivas), como
concluíram os estudos feitos por BALDANZA & ABREU (2006), SANTOS (2010), NETO
(2012) e SILVA (2014).
47
4.2.4. As alternativas para maior valorização da estética do traje afro-moçambicano
Na última categoria, os entrevistados deram as seguintes propostas:
Podia-se promover palestras nas escolas, nas igrejas e nos bairros. (…) Seria
uma vantagem também, se tivéssemos facilidades de adquirir o traje feito a
capulana nas lojas (…) (Adolescentes e Jovens, 2015).
O Governo em coordenação com os seus parceiros devia promover festivais de
capulana (…); Nós temos uma experiência larga na costura, mas falta-nos
algumas bases de como inventar um novo modelo de roupa sem copiar o que
vem nos panfletos Sul-africanos e Nigerianos (Costureiros/ Estilistas/
Modistas, 2015).
Minha visão vai longe, palestras e leis específicas podem ajudar (Jovens
Masculinos, 2015).
Devia-se diminuir as novelas ocidentais nas televisões moçambicanas (…)
(Encarregados de Educação, 2015).
As cantoras moçambicanas, quando estiverem nos palcos de actuação e
figuras governantes, deviam valorizar ainda mais a capulana, valorizar o
corpo da mulher moçambicana. O essencial é fortificar a educação dos valores
sociais tanto na comunidade, assim como nas escolas e igrejas, através de
palestras, e outros tipos de eventos (Arcênia, 2015, cp.).
O Psicólogo deixou a sua opinião dizendo que as famílias e as escolas deviam concentrar-se
também na educação de valores morais, não só na escolarização como dizia anteriormente
(Chirrime, 2015, cp.).
O Antropólogo, pelo seu ponto de vista, não se deve dizer categoricamente que as
Adolescentes e Jovens estão desvalorizando o traje afro-moçambicano, deve-se (sim), olhar
para dinâmica cultural da moda. O que seria importante fazer é demonstrar-se o lado negativo
dos novos elementos estético-culturais ocidentais que as Adolescentes e Jovens incorporam na
cultura moçambicana, de modo que elas percebam que estão perdendo sua própria identidade
(Chachuaio, 2015, cp.).
 Breve resumo da quarta categoria (Alternativas)
De acordo com estas contribuições, as alternativas que podem contribuir para maior
valorização da estética do traje feminino afro-moçambicano na Cidade de Xai-Xai são:
promoção de palestras nas escolas e nas igrejas, realização de workshops e festivais de
capulana, atenção especial à fase de adolescência, capacitação dos Costureiros em matéria de
inovação artística na moda e intervenção da sociedade de forma geral.
48
CAPÍTULO V - CONCLUSÕES E SUGESTÕES
5. Conclusão
No presente estudo, com destaque na Ciência que estuda o belo (a Estética), visava-se
fundamentalmente, contribuir com alternativas para maior valorização do traje feminino afro-
moçambicano na Cidade de Xai-Xai, partindo dos pontos de vista das tendências do consumo
actuais. Desta feita, durante o estudo, constatou-se de forma geral que existem Adolescentes e
Jovens mais tradicionalistas (minoria) e outras que estão no ritmo do design do ocidente
(maioria).
Em relação ao traje feminino afro-moçambicano na Cidade de Xai-Xai ficou concluído que
todos entrevistados reconhecem que é belo, justificando que é sustentado pelos seus valores
socioculturais: o uso da capulana (cobrir ou produzir o traje), a decência e o decoro. Ainda
neste ponto, constatou-se que na maioria dos casos a capulana (ou o traje feito a capulana) é
alternativa exclusiva para momentos especiais das jovens, e não para o uso quotidiano delas,
considerando esta prática ultrapassada.
Na abordagem sobre valorização, as Adolescentes e Jovens dos 13 aos 23 anos de idade na
Cidade de Xai-Xai reconhecem o valor da capulana, razão pela qual na maioria das vezes
usam o traje afro-moçambicano (feito a capulana) nas cerimónias como lobolo (casamento
tradicional) e casamento civil, sendo que neste último caso, quando são cortejos ou protocolo.
Nesta abordagem, interessa destacar-se que estas Adolescentes e Jovens colocam como foco,
a tendência contemporânea ocidental, baseada na diversidade e liberdade na escolha do traje,
e a capulana está sendo mais valorizada, no entanto, por senhoras com idade pós-juventude.
Os resultados emergentes deste estudo indicam que na Cidade de Xai-Xai, as Adolescentes e
Jovens dos 13 aos 23 anos de idade, ao optarem por um traje curto ou transparente ou mesmo
sem capulana não estão no âmbito da Contracultura como um estilo, mas sim, estão sendo
motivadas pela influência da televisão (aparição de modelos ou actrizes internacionais
ocidentais e cantoras nos palcos durante as actuações televisivas) e influência de amigas.
Diante destas duas principais influências (e outras), as alternativas que podem contribuir para
maior valorização da estética do traje feminino afro-moçambicano na Cidade de Xai-Xai são:
promoção de palestras nas escolas e nas igrejas, realização de workshops e festivais de
capulana, atenção especial à fase de adolescência e capacitação dos Costureiros (Estilistas) em
matéria de inovação artística na moda e intervenção da sociedade de forma geral.
49
5.1. Constrangimentos
 Recepção dos credenciais27
para realização do estudo nas igrejas;
 Roubo da primeira selecção das imagens capturadas para o sustento do estudo.
5.2. Sugestões
 Ao Governo ou aos parceiros:
 Que se promova palestras, realização workshops, festivais de capulana e capacitações
em design do traje feminino aos costureiros.
 Aos Encarregados de Educação:
 Que fiquem mais atentos à fase da adolescência (13 anos a 17 anos), de modo a
explicarem aspectos importantes sobre a forma como uma mulher deve-se trajar e
comportar perante as tendências da moda. Pois, é o momento mais ideal para a
adolescente ter bases sólidas na sua vida juvenil e adulta.
 As Adolescentes e Jovens:
 Que valorizem mais os seus corpos através da beleza do traje afro-moçambicano;
 Que se dediquem em saber diferenciar os momentos de lazer (em casa, na praia e nas
instituições nocturnas) com os momentos de actividades sociais quotidianas (nas ruas,
nas paragens, nos mercados, nas instituições formais como escolas, igrejas,
instituições estatais e privadas, etc.).
 Aos Costureiros (Estilistas/ Modistas):
 Que se fortifiquem mais na inovação trabalhando com o tecido de capulana para a
produção de trajes;
 Que deixem claro a orientação de cada tipo de traje que produzem;
 Que industrializem as suas obras de capulana, para conquistar o mercado profissional.
 A imprensa:
 Que divulgue com mais frequência conteúdos que valorizam o bom uso do traje afro.
 As igrejas e escolas:
 Que continuem dando ensinamentos específicos sobre a maneira de se trajar,
explorando os valores estéticos da capulana.
27
Vide em anexo II, os credenciais usados na pesquisa.
50
5.3. Propostas para estudos similares
Sendo um tema amplo, apresenta-se de seguida as propostas para pesquisas futuras similares
com o foco no design da moda afro-moçambicana:
 Traje Feminino: uma reflexão sobre a diferenciação dos momentos;
 Capulana: Uma alternativa para o uniforme nas escolas primárias moçambicanas;
 Traje afro-moçambicano versus tendência do Design de moda contemporânea;
 Moda versus Assédio Sexual;
 Influência do Traje Feminino no Abuso Sexual da Rapariga.
51
Referências bibliográficas
 ANDRIOLI, António Inácio. Efeitos culturais da globalização. 2012. [online]
Disponível na Internet via: http://www.espacoacademico.com.br/026/26andrioli.htm.
Acesso no dia 01 de Setembro de 2014;
 BALDANZA, Renata F. e DE ABREU, Nelsio R.. A Comunicação na Mídia e os
Símbolos de Beleza: Reflexões Sobre Influência da Indústria Cultural da Difusão de
Valores Estéticos. In: Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da
Comunicação INTERCOM SUDESTE 2006 – XI Simpósio de Ciências da
Comunicação na Região Sudeste. Ribeirão Preto, SP - 22 a 24 de Maio de 2006;
 CAMPOS, C. R.. Capulana, representação e identidade da população de
Moçambique. Ulbra/ RS, Editorial Presença, 2013;
 CARON, C.. Influência da Moda da Ditadura da Beleza Feminina. Faculdade de
Tecnologia Senai Blumenau, 2008. [online] Disponível na Internet via:
http://www.fiepr.org.br/nospodemosparana/uploadAddress/moda%5B24229%5D.pdf.
Acesso no dia 06 de Abril de 2015;
 CARVALHO, Alexandra Azevedo e LOPES, Bruna Stefanie. A Evolução da Estética
através das Décadas. 2012. [online] Disponível na Internet via:
revistas.unincor.br/índex.php/iniciacaocientifica/article/viewFile/462/380. Acesso no
dia 20 de Maio de 2015;
 CASTILHO, Ana L. S. e FERNANDES, Vera L. P.. Questão Estética no Ensino de
Artes no Ensino Fundamental. 2007. [online] Disponível na Internet via:
http://www.histedbr.fe.unicamp.br/.../questão%20estética%20no%ensino%20de%artes
%no...pdf. Acesso no dia 10 de Junho de 2015;
 CATOIRA, Lu. A construção da estética jovem no quotidiano da contracultura: ideais
de liberdades políticas, comportamentais, éticas e sexuais 1968. 1ª Ed. Aparecida, São
Paulo: Ideias e Letras, 2008;
 CHAÚQUE, Alexandre (2009). Origem da capulana. [online] Disponível na Internet
via: http://www.verdade.co.mz/mulher/717-origem-da-capulana. Acesso no dia 15 de
Maio de 2013;
 CIDREIRA, R.. A moda nos anos 60 a 70(Comportamento, Aparência e Estilo).Revista
do Centro de Artes, Humanidades e Letras, Vol. 2. 2008. [online] Disponível na
Internet via: http://www2.ufrb.edu.br/reconcavos/edicoes/n02/pdf/Renata.pdf. Acesso
no dia 06 de Abril de 2015;
52
 CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. Lei dos objectivos fundamentais do Estado
moçambicano. In: Constituição da República, 16 de Novembro de 2004. [online]
Disponível na Internet via: http://www.mozambique.mz/pdf/constituicao.pdf. Acesso
no dia 10 de Junho de 2015;
 COTRIM, Teresa (2009). Trajes: A capulana é o traje típico das mulheres
moçambicanas. [online] Disponível na Internet via: http://viajar.sapo.mz/descubra-o-
pais/lazer-e-cultura/trajes. Acesso no dia 09 de Agosto de 2013;
 DA SILVA, Edna Lúcia e MENEZES, Estera Muszkat. Metodologia da Pesquisa e
Elaboração de Dissertação. 3a
Edição revisada e actualizada. Florianópolis, 2001;
 DICIONÁRIO DA LÍNGUA PORTUGUÊS, 2003-2016. Porto Editora. [online]
Disponível Internet via: www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa. Acesso no
dia 13 de Abril de 2015;
 DICIONÁRIO ETIMOLÓGICO. [online] Disponível na Internet via:
www.etimologias.dechile.net/%3Ftraje. Acesso no dia 09 de Abril de 2015;
 DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUÊS. [online] Disponível na Internet via:
www.dicio.com.br/traje. Acesso no dia 10 de Agosto de 2014;
 DUROZOI, G. e ROUSSEL, A.. Dicionário de Filosofia. Porto, Porto Editora, 2a
Edição, 2000;
 DYNIEWICZ, Ana M.. Amostragem e instrumentos com enfoque qualitativo e
processamento e análise da informação qualitativa. Curso de avaliação de efetividade
de promoção à saúde, Curitiba, 15 de julho de 2006;
 FERRARI, Fernanda Bonizol. O homem contemporâneo e sua relação com a moda.
Monografia apresentada ao Programa de Pós Graduação do Instituto de Artes e Design
da Universidade Federal de Juiz de Fora 2013;
 GARCIA, Ana V. P.. A Moda feminina no Estado Novo. Dissertação Para Obtenção do
Grau de Mestre em Design de Moda, Universidade Técnica de Lisboa Faculdade de
Arquitectura, Lisboa, 2011. [online] Disponível na Internet via:
https://www.repository.utl.pt/bitstream/10400.5/3311/1/A%20moda%20feminina%20n
o%20Estado%20Novo.pdf. Acesso no dia 06 de Agosto de 2012;
 GIL, António Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6ª Edição. São Paulo:
Atlas, 2008;
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  • 1. i Eusébio Fernando Chitlango Estudo atribuído 17,0 Valores na Defesa em 2016. (Autorizo o uso desta produção científica, desde que seja citada devidamente) Valorização da Estética do Traje Feminino Afro-Moçambicano: Caso das Adolescentes e Jovens da Cidade de Xai-Xai. Licenciatura em Educação Visual com Habilitação em Ensino de Desenho de Construção Universidade Pedagógica Gaza 2016
  • 2. i Eusébio Fernando Chitlango Valorização da Estética do Traje Feminino Afro-Moçambicano: Caso das Adolescentes e Jovens da Cidade de Xai-Xai. Universidade Pedagógica Gaza 2016 Monografia Científica a ser entregue e apresentada no Departamento da Escola Superior Técnica Delegação de Gaza, para a obtenção do grau académico de Licenciatura em Educação Visual com Habilitação em Ensino de Desenho de Construção. Supervisor: dr. Sérgio Cumbucane Estefáneo Witimisse
  • 3. ii Índice Agradecimentos.........................................................................................................................iv Dedicatória..................................................................................................................................v Declaração de Honra .................................................................................................................vi Lista de abreviaturas.................................................................................................................vii Lista de figuras ........................................................................................................................viii Resumo......................................................................................................................................ix Abstract......................................................................................................................................ix Epígrafe ......................................................................................................................................x CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO ...........................................................................................11 1. Introdução.............................................................................................................................11 1.1. Delimitação do tema .........................................................................................................12 1.2. Problema...........................................................................................................................12 1.3. Questões científicas ..........................................................................................................13 1.4. Objectivos.........................................................................................................................14 1.4.1. Objectivo geral...........................................................................................................14 1.4.2. Objectivos específicos................................................................................................14 1.5. Justificativa.......................................................................................................................14 CAPÍTULO II - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................16 2. Referencial Teórico ..............................................................................................................16 2.1. Conceitos básicos..............................................................................................................16 2.1.1. Cultura........................................................................................................................16 2.1.2. Estética.......................................................................................................................17 2.1.3. Arte.............................................................................................................................17 2.1.4. Moda ..........................................................................................................................18 2.1.5. Traje ...........................................................................................................................19 2.2. Enquadramento teórico.....................................................................................................20 2.2.1. Moda como valor sociocultural..................................................................................20 2.2.1.1. Traje como Obra de Arte e Objecto Estético ...................................................21 2.2.2. As Adolescentes, as Jovens, a Moda e o Movimento da Contracultura ....................21 2.2.3. Traje Feminino Afro-Moçambicano ..........................................................................23 2.2.3.1. Características do Traje Feminino Afro-Moçambicano...................................23 2.2.3.2. A capulana como símbolo do Traje Feminino Afro-Moçambicano ................24
  • 4. iii 2.2.3.2.1. Breve historial da capulana moçambicana..........................................24 2.2.3.2.2. Educação, uso e simbologia da capulana moçambicana.....................25 2.2.3.3. Observações feitas por Samora Machel e por Avelino Mondlane ..................26 2.3. Relação do presente tema com a disciplina de Educação Visual .....................................27 CAPÍTULO III - MÉTODOS E TÉCNICAS ......................................................................28 3. Metodologia..........................................................................................................................28 3.1. Tipo de pesquisa ...............................................................................................................28 3.2. Método de abordagem ......................................................................................................28 3.3. Procedimentos metodológicos ..........................................................................................28 3.4. Técnicas e instrumentos de recolha de dados ...................................................................28 3.5. Público-alvo e amostra......................................................................................................29 3.6. Procedimentos para análise e interpretação de dados.......................................................30 3.7. Breve descrição da área de estudo (Cidade de Xai-Xai) ..................................................30 CAPÍTULO IV - ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS ....................................31 4. Estética do Traje Feminino Afro-Moçambicano na Cidade de Xai-Xai ..............................31 4.1. Traje com elementos estético-culturais ocidentais na Cidade de Xai-Xai........................31 4.2. Percepção do fenómeno....................................................................................................33 4.2.1. A beleza do traje feminino afro-moçambicano..........................................................33 4.2.2. O valor do traje feminino afro-moçambicano............................................................39 4.2.3. As principais motivações que conduzem às tendências ocidentais............................40 4.2.4. As alternativas para maior valorização da estética do traje afro-moçambicano........47 CAPÍTULO V - CONCLUSÕES E SUGESTÕES..............................................................48 5. Conclusão .............................................................................................................................48 5.1. Constrangimentos .............................................................................................................49 5.2. Sugestões ..........................................................................................................................49 5.3. Propostas para estudos similares.......................................................................................50 Referências bibliográficas........................................................................................................51 Bibliografia recomendada........................................................................................................56 APÊNDICES ...........................................................................................................................58 ANEXOS .................................................................................................................................65
  • 5. iv Agradecimentos Meus agradecimentos vão: À Deus omnipotente, omnisciente e omnipresente, pelo amparo neste todo percurso de vida. Ao meu supervisor, dr. Sérgio Cumbucane Estefáneo Witimisse, pela motivação, pela compreensão, pela paciência e pelo apoio na orientação que tornou possível a conclusão deste estudo. Aos meus pais, Fernando Jivanisse e Maria Macomane, pela oportunidade de crescimento que dão-me a partir das suas estéticas de cuidados e pelo apoio dia após dia. Aos meus 16 irmãos, em particular ao mano Monteiro Matola pelo todo apoio concedido. Ao meu cunhado Mateus Ubisse e a minha cunhada Esta António pelo apoio constante. Aos meus padrinhos de baptismo, dr. Sebastião Massingue e Dona Equinência Massingue, pelo carinho e encorajamento. Ao meu amor, Assucena Mambo e ao meu primogénito, Hernandes pela linda companhia, principalmente nos dias difíceis da minha formação. Às direcções das escolas e das igrejas, que permitiram fazer-se este estudo com facilidade. Às 40 Adolescentes e Jovens que participaram neste estudo, contribuindo com os seus pontos de vista. Aos outros participantes da pesquisa, Costureiros, Jovens Masculinos, Encarregados de Educação, Colaboradora da Casa Provincial de Cultura, Psicólogo e Antropólogo. Às minhas amigas, Clara Mafumo (amiga virtual), Amélia Ruco (costureira/ estilista), dra. Arsénia Rodrigues (Socióloga) e dra. Patrocínia Mugabe (Psicóloga Social), pelos debates a partir das Redes Sociais. Aos meus amigos fiéis António Munguambe e Vasco Chaúque, e aos meus colegas do curso e em particular os do grupo de estudos, Fernando Mate, Inocêncio Sigaúque, Odemiro Zeus e Simão M. Simão, que sempre estiveram ao meu lado e tornaram este desafio maravilhoso. E, por fim, a todos que directa ou indirectamente com muito carinho, não mediram esforços para apoiarem-me até eu chegar aqui.
  • 6. v Dedicatória À minha Professora da 1a Classe (1996), Vovó Arminda Dgedge. Por abrir a minha mente com sucesso!
  • 7. vi Declaração de Honra Declaro que esta Monografia Científica é resultado da minha investigação pessoal e das orientações do meu supervisor, o seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente mencionadas no texto e nas referências bibliográficas. Declaro ainda que este estudo não foi apresentado em nenhuma outra instituição para obtenção de qualquer grau académico. Xai-Xai, 28 de Junho de 2016 _______________________________ (Eusébio Fernando Chitlango)
  • 8. vii Lista de abreviaturas Afro Africano; CD Disco Compacto; Fig. Figura; UNICEF Fundo das Nações Unidas para Infância.
  • 9. viii Lista de figuras Fig. 01. Jovens numa das paragens movimentadas da Baixa da Cidade de Xai-Xai...............15 Fig. 02. Jovens dentro de um transporte semi-colectivo na Cidade de Xai-Xai. .....................15 Fig. 03. Diferentes designs de moda feminina. ........................................................................20 Fig. 04. Tendência de realçar a coluna na moda feminina em adolescentes............................23 Fig. 05. Capulanas afro-moçambicanas dobradas....................................................................24 Fig. 06. Uso de capulana como cingilo do corpo feminino......................................................25 Fig. 07. Uso de capulana para amarrar e carregar bebé. ..........................................................25 Fig. 08. Uma jovem na Baixa da Cidade de Xai-Xai...............................................................31 Fig. 09. Três Adolescentes em grupo de estudos. ....................................................................31 Fig. 10. Uma Jovem de saia com 10 cm acima do joelho........................................................32 Fig. 11. Uma adolescente de vestido de capulana, curto, com coluna não coberta..................32 Fig. 12. Duas Adolescentes, uma de vestido cai-cai e outra de estica sem mangas. ...............32 Fig. 13. Adolescentes e Jovens da Escola Secundária de Xai-Xai...........................................33 Fig. 14. Adolescentes e Jovens da Igreja Católica São João Baptista......................................33 Fig. 15. Alguns trajes femininos na Cidade de Xai-Xai...........................................................35 Fig. 16. A capulana como tecido para cingir o corpo da mulher. ............................................37 Fig. 17. Saia com 10 cm acima de joelho.................................................................................38 Fig. 18. Entrevista as Adolescentes e Jovens na Igreja Evangélica Assembleia de Deus........41 Fig. 19. Num dos ateliês com panfletos colados na parede......................................................43 Fig. 20. Panfletos usados pelos Costureiros.............................................................................43 Fig. 21. Comparação directa de dois tipos de trajes.................................................................44 Fig. 22. Uma adolescente de saia indo a escola. ......................................................................46 Fig. 23. Enquadramento da Província de Gaza em Moçambique. ...........................................66 Fig. 24. Enquadramento da Cidade de Xai-Xai na Província de Gaza. ...................................66
  • 10. ix Resumo Trata-se de uma abordagem transversal, sustentada pela visão estética-cultural. Este estudo objectivou contribuir com alternativas para maior Valorização da Estética do Traje Feminino Afro-Moçambicano. Metodologicamente falando, trata-se de uma Pesquisa Qualitativa, em que participaram 40 Adolescentes e Jovens das escolas secundárias de Xai-Xai e Joaquim Chissano e de igrejas Evangélica Assembleia de Deus BP Xai-Xai e Católica São João Baptista, com o foco nas idades entre 13 e 23 anos. Participaram também: quatro Costureiros (Estilistas/ Modistas), três Jovens Masculinos, três Encarregados de Educação, uma Colaboradora da Casa Provincial de Cultura, um Psicólogo e um Antropólogo. Foi a partir de uma Amostra Aleatória Estratificada que com base em duas técnicas, observação directa intensiva e entrevista semi-estruturada recolheu-se os dados. A análise e interpretação de dados, baseou-se nas imagens capturadas durante a observação e seguidamente, em função das quatro categorias de estudo, usou-se a técnica de análise de conteúdo. Os resultados emergentes do estudo indicam que na Cidade de Xai-Xai o traje feminino afro-moçambicano é considerado belo por todos entrevistados, mas as Adolescentes e Jovens valorizam-no mais nas Cerimónias Sociais. Nesta Cidade, a escolha do traje em Adolescentes e Jovens dos 13 aos 23 anos tem como principais influências a televisão (aparição de modelos ou actrizes internacionais ocidentais e cantoras nos palcos durante as actuações televisivas) e amigas em grupo. Diante destas influências, para maior Valorização da Estética do Traje Feminino Afro- Moçambicano, propôs-se a promoção de palestras nas escolas e igrejas, realização de workshops e festivais de capulana, atenção especial na adolescência, capacitação dos Costureiros em inovação artística na moda e intervenção da sociedade no geral. Palavras-chave: cultura, arte, estética, moda, traje. Abstract This is about a transversal approach, sustained by an aesthetical-cultural vision. This study has the objective of contributing with alternatives for the Afro-Mozambican Female Costume Aesthetics major Appreciation. Concerning to the methodologies, we may say that this is a qualitative research, in which take part 40 teenagers and young people from school like: Xai- Xai Secondary School and Joaquim Chissano Secondary School, and Evangélica Assembleia de Deus church as well as São João Batista Catholic Church, focusing in ages around 13 to 23.We also had the participation of four Couturiers (Stylists/ Fashion Designers), three Young Men, three Sponsors of Education, a Collaborator from the Provincial Hall of Culture, a Psychologist and an Anthropologist. It was through a random stratified sample which relied in two techniques: intensive direct observation and the interview for the data collection. The data analysis and interpretations were based on images captured during the observation then through the four categories of the study. The results emerging from the studies indicate that in Xai-Xai city the afro-mozambican female costume is considered beautiful by all interviewed, not withstanding teenagers and younger people only value it in social ceremonies. In this city, the choice of costume between teenagers and younger has been influenced by those from the TVs (international models and actresses and singers on stages during TV shows) and friends in groups. In front of these influences, to Afro-Mozambican Female Costume Aesthetics major Appreciation it was proposed to promoting lectures at schools and churches, realization of workshops and capulana festival, focused specially on teenagers, building capacities to the dressmakers in artistic innovation in fashion and in general society intervention.1 Key-words: culture, art, aesthetics, fashion, costume. 1 Tradução: Ilídio dos Anjos (Licenciado em Ensino de Português pela Universidade Pedagógica – Gaza).
  • 11. x Epígrafe Ao olharmos para uma pessoa e para o que traz vestida podemos perceber o seu estilo, hábitos, costumes, personalidade e até o seu estado de espírito. Muitos de nós, e muitas vezes, nem temos a noção da dimensão, importância e, consequente, influência que este fenómeno tem nas nossas vidas (GARCIA, 2011:1).
  • 12. 11 CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO 1. Introdução Visualmente falando, o tema desenvolvido gira em torno da Valorização da Estética do Traje Feminino Afro-Moçambicano por Adolescentes e Jovens da Cidade de Xai-Xai. Tem-se a convicção de que é sempre um grande desafio tratar de um tema transversal como a moda, pois, toda pessoa, independentemente do seu nível académico ou crença, tem algo a comentar a respeito. Apesar disto, é importante salientar-se que qualquer estudo na disciplina de Educação Estética remete ao campo da Arte, onde enquadram-se as Artes Visuais, incluindo a moda. Neste contexto, o presente estudo é fruto da observação quotidiana da valorização da riqueza estética-cultural africana. Assim, vários estudos como de SOUZA (2008), SAMPAIO (2012) e CARVALHO & LOPES (2012) sublinham que, a Estética teve desde sempre um papel importante ligado à beleza, bem-estar, sedução e arte, e que este conceito nasce na Grécia Antiga como disciplina da Filosofia que estuda as formas de manifestação da beleza natural ou artística. Para estes autores, a noção de estética foi evoluindo ao longo das épocas, sempre em busca de um equilíbrio entre vários elementos e destacou-se a partir do século XX. Tendo em vista este foco geral, ao invés de se olhar a Estética no seu sentido mais filosófico, o olhar foi no sentido da sua funcionalidade no design de moda (meio social). Sobre este ponto, GARCIA (2011:1) introduz afirmando que a moda é um movimento sociocultural que expressa os valores da sociedade num determinado tempo e espaço. No mesmo raciocínio, ao tratar da estética no seu meio social, especificando o traje feminino, OLIVEIRA (2011:7) assegura que o conhecimento histórico sobre a mulher tem-se deparado há muito tempo com questões relacionadas às suas representações culturais na sociedade. Apesar de ANDRIOLI (2012:9) dizer que nós vivemos na era da globalização, tudo converge, os limites vão desaparecendo, esta, é uma discussão que está na actualidade e está no centro do debate. A partir desta abordagem, durante o desenrolar do trabalho, traça-se, os contornos introdutórios no presente capítulo. No segundo capítulo debruça-se em três planos, os conceitos básicos, os resultados de estudos similares e a relação do tema com a vertente pedagógica. No terceiro, expõe-se a metodologia para o alcance dos objectivos deste estudo. No quarto capítulo, apresenta-se os resultados e sua discussão em simultâneo. No último capítulo, são dadas as conclusões e as sugestões em volta do estudo feito, e ilustra-se seguidamente, as referências bibliográficas, os apêndices e os anexos.
  • 13. 12 1.1. Delimitação do tema O estudo foi desenvolvido entre Setembro e Dezembro de 2015, na Cidade de Xai-Xai, capital da Província de Gaza. Baseando-se num sorteio, foram envolvidas as escolas secundárias de Xai-Xai e Joaquim Chissano, assim como as igrejas Evangélica Assembleia de Deus BP Xai- Xai e Católica São João Baptista. Trabalhou-se com Adolescentes e Jovens com idades compreendidas entre 13 e 23 anos. Portanto, com o foco principal na visão estética-cultural, o estudo cingiu-se na busca de alternativas para maior Valorização da Estética do Traje Feminino Afro-Moçambicano. 1.2. Problema A maneira de trajar tem sempre uma relação com o tempo que se vive e tem assim, uma explicação social (GARCIA, 2011:1). Esta autora acredita que é no vestuário feminino que sempre se observam maiores mudanças e radicalismos, por ter mais opções de coordenação. Neste sentido, nas últimas décadas, vive-se em uma sociedade complexa, na qual a troca de informações, referências e produtos entre povos distintos acontece dia após dia, através de importantes mídias como a internet e a televisão (MARINHO, 2008:1). Desta forma, a cultura nas Adolescentes e Jovens está num ritmo bastante acelerado, como afirma CHIARI (apud VITELLI, 2005:19) a globalização espalha a cultura jovem com mais velocidade. Diante deste fenómeno visual, em Moçambique, na arena cultural, de acordo com a CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA no seu artigo 11 alínea i), um dos objectivos fundamentais do Estado moçambicano é afirmação da identidade moçambicana, das suas tradições e demais valores socioculturais. Razão pela qual, promove-se anualmente o traje tipicamente afro-moçambicano através de competição em Festivais Culturais conforme orienta o Regulamento do VIII Festival Nacional da Cultura no seu artigo 35, ponto um: a competição envolve exclusivamente o vestuário e todas as formas de expressão própria ao vestuário moçambicano e em todas as fases do festival deve-se privilegiar as tradições indumentária e adorno locais, realçando a modéstia, bom senso e usando a capulana como símbolo do seu traje. Tem-se ainda, o Vodacom Mozambique Fashion Week, que é um dos eventos que exaltam anualmente a capulana afro-moçambicana. Pode olhar-se também, o uso do traje afro por parte de algumas figuras públicas como: Maria da Luz (Ex-Primeira Dama da República de Moçambique), Cidália Chaúque (Ministra do Género, Criança e Acção Social) e Maria Helena Taipo (Governadora de Sofala). Sendo que a televisão divulga até certa medida esta contribuição cultural. Ainda mais, nas escolas secundárias de Chibuto e de Mandlakazi
  • 14. 13 são implementadas as saias cumpridas (maxi-saias), com o objectivo de se minimizar as saias curtas (mini-saias), e promover-se a decência, que é um dos fundamentos dos valores estético- culturais afro-moçambicanos. Existe também, um programa na Rádio Moçambique Emissor Provincial de Gaza que aborda os hábitos e costumes locais, onde se destaca a maneira de se trajar da mulher moçambicana. Na vertente tecnológica, nas Redes Sociais existem páginas que visam promover o traje feminino afro, com títulos como: Ideias para Uso de Capulana, Mulher Moçambicana, Capulana, Moda Moçambicana, e Mulher Africana. Apesar desta tendência, visualmente falando, a maior parte das Adolescentes e Jovens da Cidade de Xai-Xai apresenta no traje do dia-a-dia tendências ocidentais. Estas Adolescentes e Jovens, usam saias curtas que não cobrem os joelhos, calças ou vestidos curtos ou transparentes, blusas ou vestidos que mostram parcialmente a coluna ou os seios. Enfim, trajam-se assim, nas vias públicas, nos transportes semi-colectivos, nos mercados, nas escolas e nas igrejas, demonstrando tendências ocidentais e projectando-se a perda de valores estético-culturais afro-moçambicanos. Sendo assim, a questão central foi:  Que alternativas podem ser adoptadas para maior valorização da estética do traje feminino afro-moçambicano na Cidade de Xai-Xai? 1.3. Questões científicas Um factor importante que deve se observar é que MALINOWSKI (1965, apud GRUPO ESCOLAR, 2015:2)2 adianta que a cultura não é estática e que acompanha as modificações da sociedade, e segundo RAMOS (2009:9), o tipo de vestes acompanha essa renovação de maneira praticamente simultânea. Portanto, lançaram-se as seguintes questões científicas:  Quais os pontos de vista de Adolescentes e Jovens, Costureiros, Jovens Masculinos, Encarregados de Educação, Colaboradora da Casa Provincial da Cultura, Psicólogo e Antropólogo em relação a beleza do traje feminino afro-moçambicano?  Até que ponto o traje feminino afro-moçambicano é dado valor pelas Adolescentes e Jovens da Cidade de Xai-Xai?  Quais as principais motivações que conduzem as Adolescentes e Jovens da Cidade de Xai-Xai às tendências ocidentais no seu traje?  Quais as alternativas que podem contribuir para maior valorização da estética do traje feminino afro-moçambicano na Cidade de Xai-Xai? 2 Disponível na Internet via: http://www.grupoescolar.com/pesquisa/cultura-um-conceito-antropologico.html
  • 15. 14 1.4. Objectivos 1.4.1. Objectivo geral  Contribuir com alternativas para maior valorização da estética do traje feminino afro- moçambicano na Cidade de Xai-Xai. 1.4.2. Objectivos específicos  Identificar os pontos de vista de Adolescentes e Jovens, Costureiros, Encarregados de Educação, Jovens Masculinos, Colaboradora da Casa Provincial da Cultura, Psicólogo e Antropólogo em relação a beleza do traje feminino afro-moçambicano;  Verificar o valor dado ao traje feminino afro-moçambicano pelas Adolescentes e Jovens na Cidade de Xai-Xai;  Revelar as principais motivações que conduzem as Adolescentes e Jovens da Cidade de Xai-Xai às tendências ocidentais no seu traje;  Sugerir alternativas para maior valorização da estética do traje feminino afro- moçambicano na Cidade de Xai-Xai. 1.5. Justificativa É importante referenciar-se que as Artes Visuais são as formas de arte que normalmente lidam com a visão como o seu meio principal de apreciação.3 Portanto, a moda sendo uma arte visual, e por ser um tema da actualidade, importa sublinhar-se que o interesse começou pela observação e acompanhamento das críticas feitas na sociedade moçambicana em relação as formas de trajar das Adolescentes e Jovens. Parte cientificamente como aposta para estudo, durante o início do curso de Educação Visual, na disciplina de Educação Estética, no Capítulo das Teorias Estéticas, e constituiu motivo por se pensar em dar um contributo para maior valorização da riqueza estética da moda feminina afro-moçambicana. Destaca-se ainda, que várias pesquisas anteriores sobre a moda feminina, tais como Evolução da moda; A moda pelo olhar adolescente; O papel social da moda; A imagem da mulher na moda; Capulana, representação histórica e identidade da população de Moçambique, e outras, deixaram uma lacuna no que concerne a valorização dos contornos estético-culturais da moda feminina de um povo específico. 3 Conceito disponível na internet via: www.artesvisuais.net
  • 16. 15 Além do mais, GARCIA (2011:126), sustenta este estudo, ao assegurar que a moda é uma arte que, tal como todas as outras, necessita de constante reavaliação, pois, está em constante mudança. Foi no mesmo raciocínio, que FERRARI (2013:36) justificou dizendo que a moda é tida como um poderoso instrumento de análise social capaz de traduzir, ou ao menos indicar, os rumos que a sociedade contemporânea toma. Neste sentido, se Moçambique está a ser corrompido pelo ocidente (como mostram as figuras 01 e 02) e ainda vai a tempo de salvar certos valores estético-culturais, então, este estudo faz uma reflexão sobre a moda afro-moçambicana em Adolescentes e Jovens e serve de um dos suportes para pesquisas futuras, que visam promover o traje afro-moçambicano na Cidade Xai-Xai e não só. Fig. 01. Jovens numa das paragens movimentadas da Baixa da Cidade de Xai-Xai. Fonte: Arquivo do autor, 2015. Fig. 02. Jovens dentro de um transporte semi-colectivo na Cidade de Xai-Xai. Fonte: Arquivo do autor, 2015. Como alicerce à presente pesquisa, é apresentado a seguir, o capítulo da teoria que discute os pontos de intersecção de outros autores que fizeram estudos similares.
  • 17. 16 CAPÍTULO II - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2. Referencial Teórico No presente capítulo, baseia-se em autores como HÖGE (2000), SUASSUNA (2004), CAMPOS (2013), VINICIUS (2014), e outros, para fazer-se uma abordagem em três planos que alicerçam o presente estudo. No primeiro plano, discute-se os conceitos fundamentais. No segundo, discute-se em linhas gerais, os tópicos que descrevem o valor estético-cultural da moda, os contornos psicológicos das Adolescentes e Jovens, a Moda, o Movimento de Contracultura e a estética do traje feminino afro-moçambicano. No terceiro plano, faz-se uma relação do presente tema com a disciplina de Educação Visual. 2.1. Conceitos básicos 2.1.1. Cultura O conceito etimológico da cultura é sublinhado no sítio www.tokstok.com.br, ao referir-se que cultura vem do latim culturae, que quer dizer, encontrar-se habitualmente, cultivar, morar em, (…), praticar, honrar, venerar, respeitar. De forma específica, conceitua-se cultura4 como sendo o conjunto de manifestações artísticas, sociais, linguísticas e comportamentais de um povo ou civilização. Numa outra vertente, RAMOS (2009:10), afirma que a definição mais aceite e utilizada foi elaborada por Edward Tylor, que diz ser a cultura todo complexo que inclui conhecimento, crenças, arte, morais, leis, costumes e outras aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade. Tylor, procura esclarecer que um indivíduo adopta seus hábitos e valores como sendo a mais correcta expressão de mundo, e enxerga os demais sistemas culturais a partir do seu. Sem discordar com Tylor, TURNER (apud LÓSSIO & PEREIRA, 2007:2) clarifica que cultura é um sistema de símbolos que uma população cria e usa para organizar-se, facilitar a interacção e para regular o pensamento. Em suma, pode-se dizer que cultura é o conjunto de formas e expressões que inclui respeito, costumes, crenças, práticas comuns, regras, símbolos, traje, religião, rituais e maneiras de ser de uma sociedade específica. 4 No sítio: www.suapesquisa.com
  • 18. 17 2.1.2. Estética Etimologicamente, o termo Estética provém do grego aisthesis que significa percepção ou sensação, ou ainda inspirar o mundo. A Estética no período de Aristóteles e Platão era estudada fundida com a lógica e a ética. O belo, o bom e o verdadeiro formavam uma unidade com a obra (NICOLA, 1996:26). Isto coaduna com a ideia de que a base para toda razão moral é a capacidade do homem de agir racionalmente (KANT, apud HÖGE, 2000:59). No entanto, JIMENEZ (apud VITELLI, 2005:9) sublinha a ideia do Hegel que em substituição ao nome estética propôs o nome: filosofia da arte. Noutra face, os sentimentos de prazer e desprazer em Emanuel Kant estão ligados as sensações estéticas e pertencem ao sujeito, são estes sentimentos subjectivos, que emitem o conceito do belo, são eles que formam o juízo do gosto (HÖGE, 2000:67). Para mais esclarecimento, SUASSUNA (2004:14) lembra que Sócrates olhava a estética como sendo um ramo da filosofia que tem por objecto o estudo da natureza do belo e dos fundamentos da arte. Nesta ordem de ideias, e olhando para Kant como suporte, pode-se afirmar que a estética é a ciência que estuda a essência do belo e todos fundamentos da criação humana. Normalmente esta é designada por arte que tem procurado estabilizar o juízo do gosto e sensações humanas. 2.1.3. Arte O termo arte, etimologicamente vem do latim ars, que significa técnica e/ ou habilidade (www.wikipedia.com). Importa referir-se que definir o que é arte tem sido discutido desde os primeiros filósofos da arte até os dias actuais, devido a sua subjectividade e contraste entre as diferentes gerações e em diferentes lugares. No entanto, apresenta-se a seguir, algumas ideias que colaboram para a percepção do termo arte. Na visão de DUROZOI & ROUSSEL (2000:142), arte é: Qualquer procedimento utilizado em vista de uma produção que testemunhe o Saber-Fazer do artesão ou, mais especialmente, do artista quando, neste último caso, as técnicas utilizadas visam satisfazer o sentimento estético ou artístico. Para o sítio www.brasilescola.com, a arte é vista como uma forma de o ser humano expressar suas emoções, sua história e sua cultura através de alguns valores estéticos, como beleza, harmonia e equilíbrio.
  • 19. 18 Numa outra vertente, VINICIUS (2013:3) levanta muitas dúvidas quanto ao conceito de arte, argumentando da seguinte maneira: Podemos mostrar que algumas pessoas não sentem qualquer tipo de emoção perante certas obras que são consideradas arte. Quer dizer que essas obras podem ser arte para uns e não o ser para os outros? Neste caso, o critério para diferenciar as obras de arte das outras de que serviria? Teríamos, então, obras de arte que não são obras de arte, o que não faz sentido. Este autor, procura clarificar que não se deve definir a arte num só sentido fechado como as outras teorias estéticas, e que o ideal é definir-se a arte baseando-se em seu período e lugar, pois, o conceito fechado por um motivo, serve para falar da característica de tal época. Importa salientar-se que todas estas fontes deixam claro que a arte é um termo que significa técnica ou habilidade humana. No entanto, advertem que, a definição de arte varia de acordo com a época e a cultura. Com isto, pode-se dizer que a arte é uma habilidade humana que tem um dos focos a satisfação interior do homem carregada de sensibilidade estética. Esta habilidade inclui a criatividade diária do ser humano na produção da sua vestimenta que identifica-lhe de forma particular, originando assim a moda. 2.1.4. Moda Moda é um termo considerado por grande parte de seus teóricos, uma área que levanta muita transversalidade dado ao seu carácter multidisciplinar, abrangendo aspectos como estéticos, geográficos, psicológicos, antropológicos e sociológicos. Este termo, etimologicamente provém do latim modus, que significa costume.5 De acordo com DUROZOI & ROUSSEL (2000:142), na linguagem corrente, assim como em sociologia, a moda evoca o conjunto de usos, comportamentos, hábitos de vestuário, alimentos, mas também intelectuais. A pesquisa feita por GARCIA (2011:1) corrobora com DUROZOI & ROUSSEL (2000), ao referir que moda é um movimento sociocultural que expressa os valores da sociedade num determinado tempo e espaço. 5 Disponível na Internet via: www.wikipédia.com
  • 20. 19 Numa outra abordagem considera-se moda o mecanismo que regula as escolhas e as preferências das pessoas, já que devido a uma espécie de pressão social, indica-lhes aquilo que devem consumir, utilizar, usar ou fazer.6 A partir destes estudos, pode-se dizer que, moda é o conjunto de hábitos (em particular vestuários ou traje) de um grupo sociocultural em um período específico, ou seja, a tendência de consumo da actualidade numa sociedade. Neste grupo social e período específico, é importante referir-se que existe também as questões de status social7 e de estações do ano ou mesmo o clima local no uso do traje. 2.1.5. Traje Segundo o DICIONÁRIO ETIMOLÓGICO, a palavra traje vem do verbo latino "trahere", de onde tira-se os verbos trazer, atrair, contrair, extrair, distrair, etc.. De outra forma, traje é derivação regressiva do português arcaico trager, e trata-se de o que traz vestido; vestuário habitual; fato; vestido; modo de trajar (DICIONÁRIO DA LÍNGUA PORTUGUÊS, 2003-2016).8 O sítio oficial da wikipédia9 especificando esta explicação, clarifica que traje, trajo ou costume pode se referir as roupas em geral, ou ao estilo distintivo das roupas de um povo, classe ou período. Decifrando o significado deste termo, o DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUÊS10 corrobora com o sítio anterior, ao referenciar que traje é o mesmo que: vestuário habitual; vestuário próprio de alguma profissão; vestes; roupa; trajo. Neste olhar, pode-se dizer em suma que, traje é qualquer objecto particular e típico de um povo que é usado normalmente para cobrir certas partes do corpo humano. No entanto, um traje é usado por necessidade e por questões de hábitos ou símbolos culturais de um povo. 6 Disponível na Internet via: www.conceito.de/moda.com 7 Status significa a posição social de um indivíduo, o lugar que uma pessoa ocupa na sociedade, e é um termo latim. Entretanto, status social é o prestígio que um indivíduo tem na sociedade, através da sua posição social (http://www.dicionarioinformal.com.br). 8 Disponível na Internet via: www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa 9 Disponível na Internet via: www.wikipedia.com 10 Disponível na Internet via: www.dicio.com.br/traje
  • 21. 20 2.2. Enquadramento teórico Na visão de DUROZOI & ROUSSEL (2000:143): A estética moderna tendo, em geral, renunciado a referenciar as normas do belo, faz incidir as suas investigações quer no estudo das próprias formas no seu desenvolvimento histórico, quer nas relações que podem existir entre uma obra e o seu criador ou ainda no seu meio social. Portanto, neste plano, procura-se descrever as incidências das investigações feitas no seu meio social. 2.2.1. Moda como valor sociocultural Faz parte da cultura de um povo a música, a moda (figura 03), o teatro, os rituais religiosos, a língua (falada e escrita), a dança, a arquitectura, as invenções, os pensamentos, etc..11 Diante da moda (no traje) como cultura, várias obras como de MARTINS (2009:1) e SILVA (2015:2)12 , relatam que não se sabe ao certo quando é que o uso do traje por parte do ser humano começou, mas acredita-se que começou e se espalhou provavelmente para providenciar protecção contra factores naturais e pelos papéis sociais em cada povo. Fig. 03. Diferentes designs de moda feminina. Fonte: Arquivo do autor, 2015. É nessa última perspectiva que, os papéis sociais também estão presentes na estética das vestimentas e as referências das vestimentas passam agora a ser a moda massificada, promovida pela indústria de vestuário (THUM, 2013:2). Nesta linha de pensamento, CARON (2008:3), entende que: A utilização da roupa (traje, moda) é determinada por questões culturais, temporais, pelos valores de uma sociedade, por seus mitos, crenças e produção intelectual. Da mesma forma o corpo tem sua aparência pautada determinada pela cultura. 11 Com base em: www.suapesquisa.com/moda/cultura 12 Disponível em: https://www.scribd.com/doc/14773040/conforto-termico. Acesso no dia 11 de Maio de 2015.
  • 22. 21 Numa outra vertente, BARNARD (1996, apud VANINI, 2009:24), é enfático ao afirmar que a moda e as roupas são artefactos, práticas e instituições que constituem as crenças, os valores, as ideias e as experiências de uma sociedade. Para RAMOS (2009:10), a moda é uma forma de expressão cultural, pois através dela uma pessoa pode se identificar socialmente, ao mesmo tempo em que se diferencia das outras. Nesta visão, a moda pode ser encarada como um elemento de expressão colectiva, do momento em que por ela mostram-se valores, hábitos e costumes do seu grupo social. Compreende-se assim, que a moda tem um valor sociocultural na medida em que carrega expressões, símbolos, hábitos, costumes de um povo. Sendo assim, a moda, uma ferramenta para o desenvolvimento do design do traje. 2.2.1.1. Traje como Obra de Arte e Objecto Estético Como já discutido, a arte é uma criação humana com valores estéticos, como beleza, equilíbrio, harmonia. Portanto, parafraseando: a arte está ligada à estética, porque é considerada uma faculdade ou acto pelo qual, trabalhando uma matéria, (…) o Homem cria beleza ao se esforçar por dar expressão ao mundo material que o inspira.13 E daí pode-se também, observar que o traje é uma obra de arte e através da sensibilidade e harmonia torna- se objecto estético. Sendo um dos grandes pesquisadores da área da Estética, VENTOS (apud CIDREIRA, 2008:39), assegura que o traje converte-se em estilo (artístico), à medida que responde à necessidade de exprimir uma nova ideia ou conteúdo da realidade cultural e social. 2.2.2. As Adolescentes, as Jovens, a Moda e o Movimento da Contracultura Especialistas reconhecem que a adolescência é um período muito decisivo na vida do ser humano (SUÁREZ, 2005:11). Trata-se de um conceito psicossocial como alicerça ROCHA (2009:13). O período em discussão representa a passagem de uma condição social mais dependente a uma outra mais independente, a vida social adulta. Nota-se também, uma vida social na qual a adolescência e a juventude são influenciadas por uma sociedade fortemente virada para o consumo de moda, interferindo na manutenção de valores sociais e culturais, produzidos e reproduzidos permanentemente (VITELLI, 2005:1). 13 Disponível na Internet via: www.significados.com.br
  • 23. 22 Do ponto de vista psicológico, MELO (2009:21), na sua obra sobre a Teoria Psicossocial do Desenvolvimento em Erik Erikson, afirma que o quinto estágio (12 a 18 anos) do Desenvolvimento Humano (adolescência) ganha contornos diferentes (dos anteriores) devido à crise psicossocial que nele acontece, ou seja, Identidade e Confusão (positiva e negativa). Esta autora é enfática ao afirmar que a juventude é a fase em que o interesse, além do profissional, gira em torno da construção de relações profundas e duradouras (íntimas). O Psicólogo Erikson, em seus estudos, ressalta que o adolescente precisa de segurança frente a todas as transformações (físicas e psicológicas) do período. Essa segurança (ele) encontra na forma de sua identidade, que foi construída por seu ego em todos os estágios anteriores. Esse sentimento de identidade se expressa nas seguintes questões, presentes para o adolescente: Sou diferente dos meus pais? O que sou? O que quero ser? Respondendo a essas questões, o adolescente pretende se encaixar em algum papel social (RABELLO & PASSOS, 2012:3). Para ERIKSON (apud RABELLO & PASSOS, 2012:6), o ser humano precisa sentir que determinado grupo apoia suas ideias e sua identidade. Neste sentido, o adolescente se influencia facilmente pelas opiniões alheias. Na Teoria Eriksoniana, quanto mais bem vividas as crises anteriores, ou seja, quando a Confiança Básica, a Autonomia, a Iniciativa e a Diligência têm desfechos positivos, mais fácil se torna a superação da Crise de Identidade. Na vertente das idades, o sítio oficial da UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância, do inglês: United Nations Children's Fund)14 sublinha que a fase de adolescência enquadra- se na segunda década de vida. Em Moçambique considera-se jovem, toda pessoa com idade entre 18 e 35 anos.15 Em relação ao traje, independentemente da faixa etária, GARCIA (2011:1) sublinha que este transmite comportamentos, educação e dele podemos extrair diversas conclusões do ser humano e até da sua história. Esta autora alerta que há a hipótese de haver dois tipos de moda: a permitida e a desejada. Seguindo o mesmo raciocínio, a primeira baseia-se na necessidade que o ser humano tem de se vestir. A segunda é a moda enquanto movimento artístico e cultural, consumista, isto é, a moda como negócio. Diante daquele último tipo de moda e as duas fases em estudo, CATOIRA (2008:18), relata que os jovens começaram a ter suas posições na sociedade a partir do final dos anos 50 e 14 Disponível na Internet via: www.unicef.org.br./adolescentes. 15 Disponível na Internet via: http://www.portaldogoverno.gov.mz/Servicos/juventude_desp/
  • 24. 23 acabaram por criar um código estético que influenciou e criou novos estilos de vestir, surgindo assim o Movimento da Contracultura. De acordo com este autor, esse estilo (figura 04) foi muito divulgado pela impressa e pelo cinema, que mostrou, além do visual, a atitude dos Adolescentes e Jovens. Em suma, pode-se afirmar que, a Contracultura foi um movimento global, em que a estética do traje foi marcada pelos visuais e atitudes contraditórias dos Adolescentes e Jovens. Fig. 04. Tendência de realçar a coluna na moda feminina em adolescentes. Fonte: Arquivo do autor, 2015. 2.2.3. Traje Feminino Afro-Moçambicano 2.2.3.1. Características do Traje Feminino Afro-Moçambicano Hoje, como sempre, debate-se a questão do traje único das mulheres moçambicanas, mas, COTRIM (2009:3) defende que a capulana é o traje típico das mulheres moçambicanas. A Capulana (origem tsonga) é o nome que se dá, em Moçambique, a um pano que, tradicionalmente é usado pelas mulheres para cingir o corpo, fazendo as vezes de saia (REVISTA ÍDOLO, 2014). Numa outra face clarifica-se que a Capulana é um pano rectangular de algodão, misturado com fibras sintéticas, com motivos estampados e com cores fortes (CAMPOS, 2013). Neste fio de pensamento, HONWANA (apud COTRIM, 2009:4) explica que normalmente de cores vivas, com motivos africanos, e padrões geométricos variáveis. A riqueza de cores e motivos constitui-se numa característica da riqueza cultural do país. Nesta face, parafraseando o ponto de vista apontando no JORNAL DOMINGO16 datado a 15 de Setembro de 2013, o que existe como alicerce para a beleza ou estética no traje afro-moçambicano é a decência e o decoro. 16 Disponível na Internet via: www.jornaldomingo.co.mz
  • 25. 24 2.2.3.2. A capulana como símbolo do Traje Feminino Afro-Moçambicano 2.2.3.2.1. Breve historial da capulana moçambicana A capulana representa hoje a roupa africana, mas é herança das relações comerciais que se estabeleceram com os povos asiáticos e árabes, posteriormente a chegada dos europeus (CAMPOS, 2013:14). O autor conta ainda que o comércio colonial em Moçambique tinha como moeda de troca o ouro e o marfim. Como contrapartida, os comerciantes estrangeiros traziam o pano da Índia e a missanga de Veneza principalmente no período colonial português. Na mesma abordagem, COTRIM (2009:4), revela que, a mulher agrícola passou a ter acesso a estes panos mediante a troca de vários produtos como castanha de cajú, amendoim, gergelim, etc.. Vários autores como CHAÚQUE (2009) e CAMPOS (2013) sublinham a história relatada por TORCATO & ROLLETTA (2006) que dizia que a origem da capulana continua um enigma, mas que na África Oriental falante de Swahili diz-se que a maneira de vestir a capulana surgiu no século XIX quando as mulheres começaram a comprar lenços de tecido de algodão estampado e colorido (como mostra a figura 05), trazido pelos mercadores portugueses. Fig. 05. Capulanas afro-moçambicanas dobradas. Fonte: https://www.google.com/search?q=capulana&client=opera.
  • 26. 25 2.2.3.2.2. Educação, uso e simbologia da capulana moçambicana De acordo com estudos realizados por COTRIM (2009) e CAMPOS (2013), pode-se dizer que em vários momentos sociais, as mulheres jovens recebem ensinamentos das mais velhas. Num outro desenvolvimento, TORCATO & ROLLETTA (2006) relatam que a capulana é usada para se vestir, para embrulhar as crianças, para amarrar às costas, para cingir o corpo (figura 06), como toalha e como cortina. Isto coaduna com a chamada de atenção dada por COTRIM (2009:15): A capulana moçambicana não serve apenas como traje, ela é usada em todas as fases da vida, nos rituais de iniciação, para carregar os bebés (figura 07), para cobrir o defunto, para decorar a casa, para carregar doentes, para cobrir o corpo. Fig. 06. Uso de capulana como cingilo do corpo feminino. Fonte: Arquivo do autor, 2015. Fig. 07. Uso de capulana para amarrar e carregar bebé. Fonte: Arquivo do autor, 2015.
  • 27. 26 2.2.3.3. Observações feitas por Samora Machel e por Avelino Mondlane  Observação Estética no traje afro-moçambicano, feita por Samora Machel e o pensamento de Karl Max Durante a contradição na construção do socialismo, o saudoso Presidente Samora Machel comentou de acordo com o CD (23min 57s)17 , o seguinte: eles querem provar que o socialismo é uma coisa má… (…) quiseram condicionar o gosto do povo, então encontramos tecidos com padrões iguais (padrões feios). (…) o inimigo faz tudo em nome do socialismo, com o objectivo de afastar o povo da direcção. Com esta visão, percebe-se que MAX (apud HÖGE 2000:122), apoia alertando que (…) a estética mal usada é embriagante e esconde a realidade desse povo. Apresentadas estas duas citações, nota-se que realmente uma sociedade sem direcção é uma sociedade sem estética própria no seu traje, portanto, a estética é essencial no desenvolvimento sociocultural de um povo.  Observação Estética no traje afro-moçambicano, feita por Avelino Mondlane18 O músico Avelino Mondlane contribuiu bastante pelas suas observações estética-culturais no traje feminino afro-moçambicano. Numa das suas emblemáticas músicas ele diz: Udlokile ti mpahla ta kuxonga ni taku dura kambe tikususa a lisima tombi (…), ou seja vestiste roupa bonita e cara mas te tira valor jovem.19 Depois de ter dito isto, o autor aconselha a moça a vestir-se bem para que seja apreciada, e a vestimenta ideal segundo ele, seria a capulana: Tsimba capulana dzaku xonga ndzi ta ku randza mina (…), ou seja, amara capulana bonita para eu gostar de ti. É de salientar que essa posição do Avelino Mondlane corrobora com os pensadores como PLATÃO (apud SUASSUNA, 2004:11) ao repisar que o belo serviria para conduzir o Homem à perfeição e com BAUMGARTEM (apud ALLESCH, 1987)20 ao afirmar que o fim de toda estética é a perfeição da cognição sensível em si. Pois, isto é que revela a beleza. 17 CD-ROM com o título: Samora Vive 1ª parte. 18 Uma figura pública moçambicana, que faz da música o seu quotidiano. 19 Tradução livre do autor (CHITLANGO). 20 HÖGE et al.. Educação Estética e Artística - Abordagens Transdisciplinares. Fundação Gulbenkian, Lisboa, 2000.
  • 28. 27 2.3. Relação do presente tema com a disciplina de Educação Visual A Educação Estética oportuniza uma experiência que não é uma simples manifestação da sensibilidade desconectada da sociedade, mas que sintetiza um conjunto de relações significativas e universais. Este tema enquadra-se na primeira linha de pesquisa do curso de Licenciatura em Educação Visual (História, Crítica e Teoria do Design). Falar de Educação Visual pode entender-se como sendo educação de espírito crítico e construtivo na Comunicação Visual através de várias formas de expressão humana (artes plásticas/ design de moda/ etc.). É importante salientar-se que: Pode-se dizer ainda que, o educador precisa propiciar ao aluno um diálogo íntimo e profundo com produções culturais, para que ele amplie horizontes particulares, pois, quanto maior for o contacto com os bens culturais, à medida que ele compreende e dialoga com a cultura que o cerca, como estão configuradas os elementos construtivos e qual é o contexto estético, social e histórico, maior será o desenvolvimento e aprendizado do aluno (CASTILHO & FERNANDES, 2007:11). De maneira geral, a Educação Estética pressupõe a formação integral do aluno, tanto em seus aspectos sensíveis e cognitivos, que contemple a arte como forma de propiciar um processo de Ensino e Aprendizagem mais significativo e amplo, tendo a arte como base para a Educação Integral do Homem (idem, 2007:12). Noutra faceta, RODRIGUES (2006:26) lembra que: Autores como FORQUIM (1993), CANDAU (2000; 2002), entre outros, que enfatizam a relação existente entre escola e cultura, nos instigam a buscar uma melhor compreensão acerca das influências das raízes culturais nas práticas pedagógicas. Portanto, um olhar que focaliza a valorização da cultura contribui, para a promoção da riqueza dos valores estético-culturais afro-moçambicanos. Ainda nesta ordem de ideias, TERROSO (2014:3), sublinhou que uma reflexão sobre a relação cultura e arte no contexto da Prática Pedagógica contribui para que se atinjam os objectivos gerais e específicos da disciplina de Desenho e Educação Visual, e melhora a formação e a educação do gosto pela sensibilidade artística, da criatividade e inovação, que são indispensáveis no design do traje afro- moçambicano.
  • 29. 28 CAPÍTULO III - MÉTODOS E TÉCNICAS 3. Metodologia 3.1. Tipo de pesquisa Sendo um tema que enquadrou-se na esfera cultural, com procedimentos técnicos de um estudo de caso, teve uma abordagem qualitativa, dado a preocupação de investigar hábitos e tendências de comportamentos perante o design de moda (LAKATOS & MARCONI, 2009:106). E tratou-se de uma pesquisa aplicada, pois objectivou gerar conhecimentos para aplicação prática (GIL, 1991, apud DA SILVA & MENEZES, 2001:20). 3.2. Método de abordagem O desenvolvimento da presente pesquisa, baseou-se no Método Indutivo, que para chegar-se ao conhecimento científico, parte de factos particulares observados e tira-se uma conclusão genérica (GIL, 2008:10). É importante referenciar-se que a conclusão tirada da amostra serviu para todas Adolescentes e Jovens de 13 a 23 anos de idade residentes da Cidade de Xai-Xai. 3.3. Procedimentos metodológicos  Método Exploratório Usou-se as conversas informais com várias pessoas e o levantamento bibliográfico que consistiu na leitura e acompanhamento de principais documentos e trabalhos realizados (manuais, teses, sítios, gravações áudios e vídeos, jornais nacionais e internacionais, redes sociais, etc.), que auxiliaram na apresentação do alicerce teórico do presente estudo. Um dado importante é que foi explorado um número acima de 50 fontes (PRODANOV & FREITAS, 2013:37).  Método Observacional Este estudo baseou-se também no Método Observacional por ser um dos mais modernos que possibilita maior precisão nas pesquisas qualitativas. Portanto, fez-se um trabalho de campo, onde o enfoque foi de recolher vários pontos de vista em relação aos factos da realidade quotidiana da moda actual em Adolescentes e Jovens da Cidade de Xai-Xai (idem, 2013:51). 3.4. Técnicas e instrumentos de recolha de dados  Observação Directa Intensiva A Observação Directa Intensiva usou-se para colecta de dados (LAKATOS & MARCONI, 2009:190). Esta técnica permitiu observar os elementos estético-culturais ocidentais no traje
  • 30. 29 feminino na Cidade de Xai-Xai. Para tal, com auxílio de uma Grelha de Observação21 , e uma máquina fotográfica, visitou-se do dia 21 até 26 de Setembro, alguns pontos estratégicos com maior concentração de Adolescentes e Jovens, a saber: Cruzamento, BP Xai-Xai, Partido, Podido e Parvim.  Entrevista A colecta de dados deu-se também por meio de entrevista semi-estruturada pois, não exige rigidez de guião e as questões são abertas mas dentro da lógica relacional (OLIVEIRA apud DYNIEWICZ, 2006:14). Portanto, na base de quatro guiões de entrevista22 e um gravador audiovisual, imparcialmente recolheu-se os dados relacionados com a moda feminina em Adolescentes e Jovens da Cidade de Xai-Xai. 3.5. Público-alvo e amostra Teve-se como alvo do estudo, as Adolescentes e Jovens com idade entre 13 e 23 anos, residentes na Cidade de Xai-Xai. Importa lembrar-se que numa Pesquisa Qualitativa, para a delimitação do número de entrevistas utiliza-se o critério de saturação, no qual efectua-se entrevistas em número suficiente e que garante um máximo de diversificação e abrangência, não sendo prioridade o critério numérico (MINAYO, apud DYNIEWICZ, 2006:22). Portanto, adoptou-se uma Amostra Aleatória Estratificada (GIL, 2008:92), onde foram abrangidas 40 Adolescentes e Jovens do sexo feminino, com idades entre 13 e 23 anos. A estratificação usada para permitir a representatividade nas entrevistadas foi:  Primeiro estrato (13 a 15 anos): 11 adolescentes;  Segundo estrato (16 a 17 anos): sete (7) adolescentes;  Terceiro estrato (18 a 20 anos): 11 jovens;  Quarto estrato (21 a 23 anos): 11 jovens. De forma específica, no dia 17 de Outubro (domingo) entrevistou-se:  Três adolescentes e três jovens da Igreja Evangélica Assembleia de Deus BP Xai-Xai;  Três adolescentes e três jovens da Igreja Católica São João Baptista. Seguidamente, na semana de 25 a 31 de Outubro entrevistou-se:  Seis adolescentes e oito jovens da Escola Secundária de Xai-Xai;  Seis adolescentes e oito jovens da Escola Secundária Joaquim Chissano. 21 Vide em apêndice I. 22 Vide em apêndices III, IV, V e VI.
  • 31. 30 Para o sustento da pesquisa, depois das entrevistas direccionadas ao público-alvo (Adolescentes e Jovens femininos de 13 a 23 anos), em três semanas consecutivas (01 a 21 de Novembro) entrevistou-se ainda 13 pessoas, que foram: quatro Costureiros (Estilistas/ Modistas), três Jovens Masculinos, três Encarregados de Educação (duas senhoras e um senhor), uma colaboradora da Casa Provincial de Cultura, um Psicólogo e um Antropólogo. 3.6. Procedimentos para análise e interpretação de dados Nas pesquisas qualitativas, a análise dos dados depende muito da capacidade e do estilo do pesquisador (GIL, 2008:175). Depois de analisar-se as imagens capturadas antes das entrevistas, com intuito de facilitar a percepção e alcance dos objectivos deste estudo, através de quatro categorias (Beleza, Valorização, Motivações e Alternativas) traçadas na base dos objectivos específicos, a análise e interpretação de dados baseou-se na Análise de Conteúdo que seguiu os seguintes passos propostos por DYNIEWICZ (2006:32):  Leitura das descrições dos dados sem buscar qualquer interpretação;  Duas Novas leituras para discriminar as unidades de significado em função das categorias em análise;  Análise de todas as unidades de significado em função da estruturação de categorias;  Interpretação do raciocínio de cada entrevistado em função das quatro categorias, onde tirou-se uma relação com o raciocínio de outros entrevistados. 3.7. Breve descrição da área de estudo (Cidade de Xai-Xai)23 A Cidade de Xai-Xai é a capital da província de Gaza em Moçambique. Várias fontes como FERNANDES (2006) e SOUSA (2011) relatam que, antigamente era Povoação de Chai-Chai. Em 1928, denominou-se Vila de João Belo. Em 1961, foi elevada a categoria de cidade e em 1975 resgatou-se o nome Xai-Xai. Situa-se no vale do Limpopo, a 210 km a norte da cidade de Maputo, limitando-se a sul pela Localidade de Chilaulane e pelo Índico; a este pelo Posto Administrativo de Chongoene, a oeste pelo Posto Administrativo de Chicumbane, e a norte pelos rios Limpopo e Ponela. É um destino turístico devido as suas praias e no mês de Janeiro, a temperatura média é de 26.2 °C. Em Julho, a temperatura média é de 18.4 °C. Esta cidade, com quatro postos administrativos, tem uma população de cerca de 116.343 habitantes (Censo da População 2007) e é, administrativamente, um município com um governo local eleito. 23 Vide em anexo I, as figuras do enquadramento da área do estudo.
  • 32. 31 CAPÍTULO IV - ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS 4. Estética do Traje Feminino Afro-Moçambicano na Cidade de Xai-Xai Este capítulo comporta duas esferas: a observação e as entrevistas realizadas. Na primeira, partindo das imagens capturadas antes das entrevistas, verificou-se as tendências ocidentais na moda feminina na Cidade de Xai-Xai, o que auxiliou na interpretação do raciocínio de cada entrevistado (a). Na segunda esfera, apresenta-se e interpreta-se o raciocínio dos (as) entrevistados (as), e está subdividida em quatro categorias a saber: Beleza, Valorização, Motivações e Alternativas. 4.1. Traje com elementos estético-culturais ocidentais na Cidade de Xai-Xai As imagens abaixo, foram capturadas nos principais pontos estratégicos (locais públicos) que permitiram a observação24 das tendências ocidentais no traje feminino na Cidade de Xai-Xai. Fig. 08. Uma jovem na Baixa da Cidade de Xai-Xai. Fonte: Arquivo do autor, 2015. Fig. 09. Três Adolescentes em grupo de estudos. Fonte: Arquivo do autor, 2015. 24 Vide em apêndice II, as cinco (05) grelhas preenchidas durante a Observação Directa Intensiva.
  • 33. 32 Fig. 10. Uma jovem de saia com 10 cm acima do joelho. Fonte: Arquivo do autor, 2015. Fig. 11. Uma adolescente de vestido de capulana, curto, com coluna não coberta. Fonte: Arquivo do autor, 2015. Fig. 12. Duas adolescentes, uma de vestido cai-cai e outra de estica sem mangas. Fonte: Arquivo do autor, 2015. Nestas imagens, pode-se verificar que superficialmente, a tendência das Adolescentes e Jovens é de usar trajes cada vez mais simples e curtos (por exemplo):  Saias e vestidos com 10 centímetros acima do joelho: figuras 08, 09, 10 e 11. Neste ponto, interessa dizer que esta é a tendência que se verificou no traje das Adolescentes e Jovens da Cidade de Xai-Xai durante a pesquisa;  Uso da capulana para traje que mostra a coluna: figura 11;  Blusas e vestidos sem mangas: figuras 11 e 12.
  • 34. 33 4.2. Percepção do fenómeno Nesta esfera, o que se buscou, foi traçar pontos de convergência e distanciamento no que diz respeito ao traje feminino afro-moçambicano e sua percepção pelo público entrevistado. Durante a apresentação dos pontos de vista das Adolescentes e Jovens nas escolas (exemplo: figura 13) e nas igrejas (exemplo: figura 14), optou-se em usar nomes fictícios e para os Costureiros optou-se em usar as primeiras duas letras dos seus nomes, de modo a proteger as sensibilidades individuais. Fig. 13. Adolescentes e Jovens da Escola Secundária de Xai-Xai. Fonte: Arquivo do autor, 2015. Fig. 14. Adolescentes e Jovens da Igreja Católica São João Baptista. Fonte: Arquivo do autor, 2015. 4.2.1. A beleza do traje feminino afro-moçambicano Nesta secção, apresenta-se e interpreta-se os pontos de vista de Adolescentes e Jovens, Costureiros, Encarregados de Educação, Jovens Masculinos, Colaboradora da Casa Provincial da Cultura, Psicólogo e Antropólogo na Cidade de Xai-Xai em torno da moda feminina afro- moçambicana. Procurou-se colher as opiniões em volta da beleza deste traje.
  • 35. 34  Adolescentes e Jovens Muitas Adolescentes e Jovens, questionadas sobre a beleza da moda feminina afro- moçambicana, deram os seguintes pontos de vista: O traje feito a capulana é bonito sem dúvida (Balbina, 13 anos, 2015, cp.). Gosto do traje afro-moçambicano pois espelha a nossa cultura de vestir. Mas, só para produzir o traje (Jeny, 15 anos, 2015, cp.). Na minha ideia, a capulana é o melhor tecido em termos da qualidade e diversidade de cores (Zubaida, 17 anos, 2015, cp.). Não sei que parâmetro é considerado afro-moçambicano. Odeio usar a capulana para amarar, porque isso já está fora da moda, mas para fazer vestido e saia gosto muito (Mariana, 19 anos, 2015, cp.). Bom, não sei se é bela ou não. (…) O que sei, é que muitas mulheres usam muito a capulana para dias especiais, e isso faz-me perceber que é muito bonita (Inês, 23 anos, 2015, cp.). Diante destes pontos de vista percebe-se que de forma similar as Adolescentes e Jovens reconhecem a beleza da capulana, até mesmo considerarem-na ideal para produzir traje, embora não para amará-la, justificando que esta prática já está ultrapassada. É de salientar-se que a posição da maior parte das adolescentes (13 a 17 anos) é explicada pela Teoria Eriksoniana que diz que a adolescente, em certos momentos se acha diferente dos pais, e ao tentar responder uma série de perguntas, pretende encaixar-se em algum papel social (RABELLO & PASSOS, 2012:17). Numa outra perspectiva, pode-se perceber que a maioria está informada que a capulana simboliza o traje feminino afro-moçambicano, e que é bela. No entanto, apesar de não ser em grande parte, algumas jovens (18 a 23 anos) têm um dado importante a se observar quando por exemplo a Mira diz: A moda afro-moçambicana é bela. Mas em algum momento é preciso alternar. Se esta for muito vulgar, então deixará de ser interessante e muito bela para nós mulheres (23 anos, 2015, cp.). Aqui, nota-se que em alguns casos, o traje feito a capulana ou mesmo amarrar a capulana é alternativa para momentos especiais das jovens da Cidade de Xai-Xai, e não para o uso quotidiano delas como mostra (por exemplo) a figura 15.
  • 36. 35 Fig. 15. Alguns trajes femininos na Cidade de Xai-Xai. Fonte: Arquivo do autor, 2015. Com estas opiniões, pode-se dizer que o traje feminino afro-moçambicano é reconhecido pelas Adolescentes e Jovens como belo, e a maior parte delas sublinhou parâmetros que considera suporte a este traje, que são: o uso da capulana (cobrir ou produzir o traje), a decência e o decoro. Mas, vale ressalvar-se que elas preferem não usá-la com maior frequência, pois pode deixar de ser especial, tornando-se vulgar.  Costureiros (Estilistas/ Modistas) Questionados em relação a moda feminina na Cidade de Xai-Xai, os quatro Costureiros, com uma experiência de trabalho acima de cinco anos, apresentaram as seguintes posições: Vejo a moda como sendo a tendência do consumo dos clientes. Faço aquilo que elas escolhem. Mas há casos em que dou os panfletos para apreciarem e escolherem a moda que preferem (SE, 2015, cp.). A capulana faz maravilhas. Tenho usado muito como tecido para o traje, principalmente quando há casamentos. São as preferências delas (AS, 2015, cp.). Elas têm feito poucas encomendas aqui. Mas acho que não é porque não é roupa bonita. Faço o que elas escolherem, mas por vezes coloco minhas propostas (SD, 2015, cp.). O traje afro-moçambicano é admirável em vários cantos do mundo, e eu particularmente, vejo esse como um indicador de ser um traje bonito. Me baseio na minha criatividade e nos panfletos para facilitar o trabalho (MJ, 2015, cp.).
  • 37. 36 Estes pontos de vista, fazem perceber-se que a maior parte dos Costureiros, projecta o olhar para a tendência dos gostos das Adolescentes e Jovens. Esta projecção alia-se a Teoria Garciana, que defende haver dois tipos de moda: a permitida que baseia-se na necessidade que o ser humano tem de se vestir (questões climáticas e socioculturais) e a desejada que é a moda como negócio (GARCIA, 2011:1). Em suma, os Costureiros reconhecem a beleza do traje feminino afro-moçambicano mas, a maior parte do design destes (Costureiros) tem tendência consumista (como negócio).  Jovens Masculinos Questionados sobre a beleza do traje feminino afro-moçambicano, os três Jovens Masculinos responderam similarmente desta forma: Toda mulher é muito bonita dentro da capulana. (Fernando, 2015, cp.). Aprecio muito a capulana, por ser atractiva e como tecido faz traje especial (Celso, 2015, cp.). (…) sem dúvida, uma mulher quando veste como africana ou moçambicana é muito bonita (João, 2015, cp). Estas observações não retiram as palavras das Adolescentes e Jovens, e dos Costureiros, visto que no traje afro-moçambicano, está presente o belo, que serve para conduzir o Homem a perfeição, como referenciou o estudo feito por PLATÃO (apud SUASSUNA 2004:11) e como sublinhou o músico Avelino Mondlane.  Encarregados de Educação Numa outra fase de entrevistas, há uma intersecção entre as ideias dos Encarregados de Educação em relação à moda feminina afro-moçambicana. A Senhora Bia e o Senhor Sabino revelaram, respectivamente, durante a entrevista que: (…) sem muitos comentários, todos sabemos que a nossa forma de vestir é muito bonita, pois, apresenta uma variedade de estilos e é confortável (2015, cp.). Meu filho, o traje feito a capulana, é lindo, para além de que preserva o corpo feminino (2015, cp.). Estes pontos de vista deixam claro que a beleza do traje afro-moçambicano é sustentada pela harmonia das cores, preservação dos valores socioculturais e existência de vários estilos. Isto coaduna com a ideia sublinhada pelo JORNAL DOMINGO datado a 15 de Setembro de 2013, que o alicerce para a beleza do traje afro-moçambicano é a decência e o decoro.
  • 38. 37  Colaboradora da Casa Provincial de Cultura Numa outra entrevista dirigida a uma Colaboradora da Casa Provincial de Cultura, notou-se a seguinte vertente: O nosso traje é bonito e importante no quotidiano das mulheres moçambicanas de forma geral. Um aspecto a salientar, é que temos a capulana como pano para a produção da nossa roupa e para outras funções diárias. Isto constitui fundamento da beleza do traje afro (Arcênia, 2015, cp.).25 Interessa aqui, sublinhar-se a intersecção da maior parte dos pontos de vista anteriormente discutidos com o raciocínio desta pesquisadora social, que é o facto de referenciar-se a capulana em duas faces que sustentam a sua beleza: a de usar-se a capulana para cobrir simplesmente o corpo e a de usá-la como tecido (figura 16) com valores estético-culturais que são a decência e o decoro na produção do traje. Como revelou a pesquisa realizada por GARCIA em 2011, onde afirma que a moda deve expressar valores de uma sociedade específica. Fig. 16. A capulana como tecido para cingir o corpo da mulher. Fonte: Arquivo do autor, 2015.  Psicólogo Entrevistado sobre a dinâmica actual da moda e a beleza do traje feminino afro-moçambicano, Chirrime, como Psicólogo, revelou que vive-se nos últimos cinco ou 10 anos uma preocupação quântica, ou seja, numa Sociedade Quântica. Para este académico, o que acontece é que olha-se mais para a escolaridade e não para a educação. Para Chirrime: Escolaridade tem a ver com o domínio das ciências (por exemplo: domínio de Desenho, domínio de Biologia, domínio de Geografia, etc.), enquanto, Educação tem a ver com o ensino de valores éticos, sociais e culturais (2015, cp.). 25 Colaboradora da Casa Provincial de Cultura, formada pela Universidade Pedagógica, História Política.
  • 39. 38 Chirrime (2015, cp.) reconheceu ainda que o traje feminino afro-moçambicano é belo, além de carregar os valores éticos, sociais e culturais. Pela análise deste Psicólogo, estas Adolescentes e Jovens poderão transportar este comportamento para a fase adulta. O comportamento revelado por este académico, é a maneira como estas Adolescentes se apresentam nos locais públicos como por exemplo na figura 17. Fig. 17. Saia com 10 cm acima de joelho. Fonte: Arquivo do autor, 2015.  Antropólogo Perguntado sobre este fenómeno, Chachuaio (2015, cp) reconheceu a beleza do traje feminino afro-moçambicano. No entanto, afirmou que não se pode admirar o que está acontecer na moda feminina em Adolescentes e Jovens pois, trata-se de um momento de contingência cultural. Para este Antropólogo: Contingência Cultural é o momento em que a sociedade verifica a incorporação de novos elementos na sua cultura, sendo que anos depois, esses elementos podem ficar ou serem rejeitados pela própria sociedade de forma inconsciente (2015, cp.). Isto coaduna com a Teoria Eriksoniana sublinhada por RABELLO & PASSOS (2012:6), na qual refere que o adolescente e o jovem precisam sentir que determinado grupo apoia suas ideias e sua identidade, para determinar a sua identidade e postura definitiva.  Breve resumo da primeira categoria (Beleza) Diante desta abordagem, verificou-se que todos os entrevistados revelaram reconhecimento pela beleza do traje feminino afro-moçambicano, destacando os seus valores socioculturais que são: o uso da capulana (cobrir ou produzir o traje), a decência e o decoro. Notou-se que em alguns casos a capulana é alternativa para momentos especiais das jovens, e não para o uso quotidiano delas, considerando esta prática ultrapassada.
  • 40. 39 4.2.2. O valor do traje feminino afro-moçambicano Nesta secção, buscou-se apenas verificar o valor que as Adolescentes e Jovens dão ao traje feminino afro-moçambicano. Com idades compreendidas entre 13 e 23 anos, foram entrevistadas sobre esta categoria (valorização), e muitas delas revelaram o seguinte: (…) minha mãe tem dito as vezes que a capulana identifica-nos. E tenho usado por vezes nos domingos quando vou a igreja (Salima, 13 anos, 2015, cp,). (…) algumas adolescentes na escola põem uniforme curto, e nas igrejas põe roupa que respeita o seu corpo (Cidália, 16 anos, 2015, cp.). A moda moçambicana para mim é algo especial. Uso quando vou as festas de amigas e outros eventos especiais da família (…) (Estrela, 17 anos, 2015, cp.). Tenho dois vestidos de capulana e uma saia. Mas só para dias especiais como dias de casamentos. Sou fã de calças e blusas (Olívia, 20 anos, 2015, cp.). Adoro a capulana para produzir o traje. Principalmente para casamentos (…) (Josefa, 21 anos, 2015, cp.). (...) o traje é dinâmico. É preciso aceitarmos isso. Agora não podemos ficar apegados a um simples traje. É preciso variarmos (Jéssica, 22 anos, 2015, cp.). (…) estou ciente de que sou mulher de valor quando estou dentro do traje feito a capulana (Ivone, 23 anos, 2015, cp.). Diante destes pontos de referência, continua notável a tendência de se olhar para o traje feito a capulana como a alternativa exclusiva para alguns dias e locais (Cerimónias Sociais), como disseram as adolescentes Salima, Cidália e Estrela, e ainda as jovens Olívia e Ivone. A Jéssica posicionou-se na ideia da dinâmica cultural defendida por MALINOWSKI citado por GRUPO ESCOLAR (2015). Nesta abordagem, percebe-se que a maior parte das Adolescentes e Jovens valoriza o traje afro-moçambicano (sem nenhum controlo padronizado) nas Cerimónias Sociais. Isto coaduna com o estudo de SANTOS (2010:49), que concluiu que não é possível estabelecer um padrão uniforme para a formação da cultura.  Breve resumo da segunda categoria (Valorização) Em suma, as Adolescentes e Jovens têm a tendência de olharem para o traje feito a capulana como alternativa exclusiva para Cerimónias Sociais. Fica claro que a maioria delas coloca como Centro das Atenções, a tendência da vida contemporânea ocidental, baseada na diversidade e liberdade na escolha do traje. Portanto, revela-se seguidamente, as opiniões que tendem a revelar as principais motivações para que haja esta tendência ocidental.
  • 41. 40 4.2.3. As principais motivações que conduzem às tendências ocidentais Nesta secção, apresenta-se os vários posicionamentos em torno daquilo que principalmente motiva as Adolescentes e Jovens a terem tendências ocidentais no seu traje diário.  Adolescentes e Jovens Questionadas sobre as principais motivações, as Adolescentes e Jovens responderam de duas formas diferentes. Verificou-se que os primeiros dois estratos (13 a 15 anos e 16 a 17 anos) do grupo-alvo, apesar de acreditarem que a moda afro-moçambicana é bela e que tem valor, continuam influenciadas por amigas nos grupos, como revelaram nos seguintes argumentos: Para mim, é difícil dizer concretamente o que constitui maior motivação para não usar a roupa feita a capulana. Uma coisa importante, é que na minha casa ensinaram-me a vestir adequadamente, respeitar o meu corpo como mulher, isto é, não usar roupa curta nem roupa transparente. Mas quando estou com minhas amigas sinto que estou fora da moda porque elas estão usando roupas curtas e simples possíveis (Cristência, 14 anos, 2015, cp.). Aqui no Xai-Xai, o que está a bater é deixar algumas partes sensuais visíveis, (…) com isso sim, faz parte da nossa team26 (Amélia, 17 anos, 2015, cp.). Algumas adolescentes, questionadas sobre o que as motivava a vestirem-se de forma afro- moçambicana, expressaram-se da seguinte maneira: Uso desta forma decente, para as pessoas não falarem mal de mim (Ednilse, 15 anos, 2015, cp.). Minha religião proíbe mostrar partes íntimas do meu corpo e eu sigo pois, é boa coisa (Doninha, 16 anos, 2015, cp.). Numa outra vertente, os dois outros estratos (18 a 20 anos e 21 a 23 anos) do grupo estudado, consideraram ser tendência delas a escolha de tecidos simples, finos e curtos. Elas deram respostas semelhantes a estas: Não entendo nada de moda. Por vezes tenho que colocar umas coisas melhores porque os homens gostam. Mas aprecio sempre e muito as actrizes das telenovelas brasileiras (Celeste, 19 anos, 2015, cp.). Os actores famosos são a nossa fonte de inspiração. Mas sabemos que não é da mesma forma como se vestem no palco ou nas novelas, como se vestem quando estão nas suas próprias casas (Elvira, 20 anos, 2015, cp.). 26 Com a palavra team, estava a referir-se ao grupo de adolescentes. Tradução livre do autor (CHITLANGO).
  • 42. 41 Nisto pode perceber-se que como diz CANCLINI (1995 apud FERRARI, 2013:25), a identidade contemporânea está directamente relacionada com aquilo que cada um deseja possuir, pautada por reflexos de grupos e influências. No entanto, um detalhe importante é que apesar de a maioria das Adolescentes e Jovens durante as entrevistas (exemplo na figura 18) estar em sintonia com a ideia enfatizada por este autor, existe outras que não usam o traje de tecido de capulana, alegando o processo moroso de aquisição deste, desde a escolha de capulana, passando pela escolha do modelo, até a produção final do traje (incluindo os custos), como referenciou a Sónia, jovem de 22 anos de idade: Para mim, o que influencia é o processo para a aquisição do traje trabalhado a capulana. Pois é preciso ter tempo de procurar capulana, ir à modista e com demora para ter o produto final. Daí que a maior parte das mulheres não tem mais de quatro peças deste tipo de traje (2015, cp.). Fig. 18. Entrevista as Adolescentes e Jovens na Igreja Evangélica Assembleia de Deus. Fonte: Arquivo do autor, 2015. A abordagem feita aqui, pressupõe que as Adolescentes e Jovens da Cidade de Xai-Xai são fortemente motivadas pelos grupos onde estão inseridas (principalmente nas escolas) e pela televisão, como concluiu o estudo feito por SANTOS (2010:26): As imagens a que assistimos, diariamente, são apenas sombras das vidas das pessoas, já que elas não representam a realidade em seu tempo e espaço. Entretanto, ocorre que grande parte da população crê na veracidade das figuras projectadas pelas mídias, tornando-se assim vulneráveis ao seu forte poder de persuasão. Aprendemos a viver a partir das mídias, mais do que pela própria experiência. As imagens com as quais somos bombardeados diariamente revelam o nascer de uma nova cultura.
  • 43. 42  Costureiros (Estilistas/ Modistas) Os Costureiros, colaborando na busca daquilo que motiva em grande medida as Adolescentes e Jovens, a optarem pelas tendências ocidentais no seu traje, responderam as perguntas da entrevista, da seguinte maneira: Aqui na Cidade de Xai-Xai, usamos em grande parte, o tecido de capulana. Mas um detalhe importante é que nós temos feito o que elas pedem. É claro que em algum momento aconselhamos, mas elas são determinantes no que querem (SE, 2015, cp.). O traje feito a capulana requer uma paciência do lado de quem deseja. E as lojas têm roupa já feita em países do ocidente, e não têm roupa produzida a capulana. Daí que as Adolescentes e Jovens, não têm alternativas e acabam caindo nas roupas do ocidente. Estou falando das roupas transparentes e com tecidos finos (MJ, 2015, cp.). Eu acho que as lojas que vendem roupa e os ensinamentos familiares influenciam bastante na determinação daquilo que estas Adolescentes e Jovens devem usar (SD, 2015, cp.). Com estas posições, percebe-se que a tendência é de se aliar à teoria de GARCIA (2011:125), que explica que isto acontece porque o design de moda (actual) é influenciada pelo negócio, quebrando as barreiras estéticas locais. Isto porque, os Costureiros seguem a tendência do consumo das Adolescentes e Jovens, pois para eles é negócio. Para este autor, os designers de moda (costureiros/ estilistas/ modistas), deixam de inovar nas suas próprias culturas, envolvendo-se em contexto de dependência do que é o interesse do consumidor que pressupõe-se estar sendo influenciando fortemente pelas actrizes como as jovens referenciaram anteriormente. Um dado importante a se salientar, é a intersecção dos pontos de vista de algumas Jovens como a Sónia (22 anos) e o Costureiro MJ quando destacam a hipótese de o processo de aquisição do traje ser o principal motivo. De salientar que esta hipótese não tem maior destaque tanto para a maioria do grupo-alvo, assim como para os outros entrevistados desta pesquisa. Portanto, pode ser um dos motivos, mas não um dos principais motivos. Num outro momento, procurou-se saber da forma de publicação das obras feitas a capulana, e os quatro Costureiros responderam similarmente ao senhor AS: Não tenho tido algo concreto, que serve de marketing dos meus trabalhos. O que posso dizer é que, uso panfletos e as pessoas quando me mandam fazer trabalhos, depois propagam a minha imagem aos demais. Essa é a forma que garante a manutenção e conquista de clientes (2015, cp.).
  • 44. 43 Verificou-se durante o contacto com os Costureiros (Estilistas/ Modistas) nos seus ateliês, que usam basicamente os panfletos sul-africanos e nigerianos para a réplica de tendências da moda feminina afro, como mostram as figuras 19 e 20. Fig. 19. Num dos ateliês com panfletos colados na parede. Fonte: Arquivo do autor, 2015. Fig. 20. Panfletos usados pelos Costureiros (Estilistas/ Modistas). Fonte: Arquivo do autor, 2015.
  • 45. 44  Jovens Masculinos Quanto as motivações entrevistou-se ainda três Jovens Masculinos que responderam de forma semelhante ao João: O que eu acho como homem é que as Adolescentes e Jovens se iludem pelas novelas e aparições das suas admiradoras americanas (2015, cp.). Este ponto de vista alia-se a ideia do SANTOS (2010:14) ao destacar que não se pode negar que, de certa forma a cultura de massa (virada para o negócio) influencia no consumo como por exemplo, através das novelas no âmbito da moda sob o vestuário feminino.  Encarregados de Educação Do ponto de vista dos três encarregados de educação, o que têm motivado as Adolescentes e Jovens a se vestirem de roupa com tendências ocidentais são as telenovelas brasileiras. Isto revela-se na comparação directa destacada na figura 21, que é ocidental para a Jovem e afro- moçambicano para a Senhora, de esquerda a direita respectivamente. Fig. 21. Comparação directa de dois tipos de trajes. Fonte: Arquivo do autor, 2015. Estes encarregados, deram ainda respostas como da Senhora Adelaide: Os tempos são outros e a dinâmica da tecnologia é outra. Sendo que aquela forma escandalosa de vestir que temos acompanhado nas ruas da nossa Cidade, é a realidade da juventude actual (2015, cp.).
  • 46. 45  Colaboradora da Casa Provincial de Cultura Questionada sobre as principais motivações que conduzem as Adolescente e Jovens da Cidade de Xai-Xai às tendências ocidentais no traje feminino, a colaboradora da Casa Provincial de Cultura disse: O grande desafio está na fase de transição da infância para a juventude e seguidamente para a fase adulta. (…) A que se repensar na forma como a educação dos valores éticos, morais e visuais é feita aqui. Visto que, antigamente, valorizava-se muito o momento da passagem da infância para adolescência, e da adolescência para a juventude, através de conversas secretas entre mãe e filha, o que agora já não acontece com frequência (Arcênia, 2015, cp.). Percebe-se aqui, que a forma de educação tradicional era estratégica no comportamento e as atitudes das Adolescentes e Jovens. Esta pesquisadora social deixou claro que estas estão vulneráveis a qualquer influência, pois a educação no momento mais estratégico não foi forte.  Psicólogo Do ponto de vista psicológico, Chirrime assegurou que as adolescentes ainda não têm a capacidade elevada de analisar e concluírem que o traje que vê na televisão ou em outros meios visuais é ético localmente ou não. Para este académico, estas adolescentes são vulneráveis pois, estão numa fase em que tudo é novidade, então se aparece alguém sendo familiar, é apreciada e se o admirarem, tendem a fazer uma réplica na busca de identidade própria. E sabe-se que os adolescentes têm dificuldades em avaliar a extensão e o impacto das consequências do próprio comportamento. Mas também, tem dois lados importantes a saber: - Na família. Aqui, o que acontece é que muitas Adolescentes não têm tido oportunidade para conversar com seus pais. E isto trás consequências graves como estas que assistimos nas ruas. - Na escola. Aqui, o que acontece é que não se verifica a aplicabilidade da educação, limita-se a escolaridade. Com isto tudo, as adolescentes ficam expostas a qualquer tendência seja de qualquer via (Chirrime, 2015, cp.). Sumariamente, o psicólogo revela três dados importantes que influenciam na educação das Adolescentes e Jovens sobre a maneira de se trajar, a saber:  (i) dificuldades de análise selectiva da informação que passa na televisão;  (ii) falta de diálogo frequente nas famílias (principalmente na fase de adolescência); e  (iii) vertente escolar (educação de valores morais e sociais).
  • 47. 46  Antropólogo Na análise antropológica que busca identificar as principais motivações que conduzem a maior parte das Adolescentes e Jovens a optarem pelas tendências ocidentais no traje, Chachuaio afirmou que: De uma ou de qualquer forma, há necessidade de deixar claro que a cultura é dinâmica, e isto acontece de forma incondicional. Neste momento, pode não se dizer que as Adolescentes e Jovens estão desvalorizando o traje afro- moçambicano, e sim procurar-se entender a própria dinâmica. Com isto vejo que existem tantos factores que influenciam, por exemplo a televisão, a relação interpessoal entre estas Adolescentes e Jovens, ou mesmo o tipo de família (2015, cp.). Este académico esclareceu que tendo em conta o dinamismo cultural, os factores resumem-se na vida quotidiana destas Adolescentes e Jovens. E este raciocínio coaduna com o do Psicólogo, quando referenciou a casa e escola como os lugares onde a educação ocorre com muita força.  Breve resumo da terceira categoria (Motivações) Verifica-se que os Encarregados de Educação tendem a se afastar da educação tradicional das filhas pois, como referenciaram, torna-se difícil devido a forte influência das telenovelas que passam pelas televisões. Isto fortifica a hipótese de que nos próximos anos, ter-se-á, como disse o Psicólogo, mães com um traje curto (figura 22) e/ou transparente e sem capulana. Fig. 22. Uma adolescente de saia indo a escola. Fonte: Arquivo do autor, 2015. Olhando-se para a maioria dos pontos de vista, pode-se perceber que a escolha do traje em Adolescentes e Jovens da Cidade de Xai-Xai é fortificada pela influência de amigas (principalmente nas escolas) e pela influência da televisão (aparição de modelos ou actrizes internacionais ocidentais e cantoras nos palcos durante as actuações televisivas), como concluíram os estudos feitos por BALDANZA & ABREU (2006), SANTOS (2010), NETO (2012) e SILVA (2014).
  • 48. 47 4.2.4. As alternativas para maior valorização da estética do traje afro-moçambicano Na última categoria, os entrevistados deram as seguintes propostas: Podia-se promover palestras nas escolas, nas igrejas e nos bairros. (…) Seria uma vantagem também, se tivéssemos facilidades de adquirir o traje feito a capulana nas lojas (…) (Adolescentes e Jovens, 2015). O Governo em coordenação com os seus parceiros devia promover festivais de capulana (…); Nós temos uma experiência larga na costura, mas falta-nos algumas bases de como inventar um novo modelo de roupa sem copiar o que vem nos panfletos Sul-africanos e Nigerianos (Costureiros/ Estilistas/ Modistas, 2015). Minha visão vai longe, palestras e leis específicas podem ajudar (Jovens Masculinos, 2015). Devia-se diminuir as novelas ocidentais nas televisões moçambicanas (…) (Encarregados de Educação, 2015). As cantoras moçambicanas, quando estiverem nos palcos de actuação e figuras governantes, deviam valorizar ainda mais a capulana, valorizar o corpo da mulher moçambicana. O essencial é fortificar a educação dos valores sociais tanto na comunidade, assim como nas escolas e igrejas, através de palestras, e outros tipos de eventos (Arcênia, 2015, cp.). O Psicólogo deixou a sua opinião dizendo que as famílias e as escolas deviam concentrar-se também na educação de valores morais, não só na escolarização como dizia anteriormente (Chirrime, 2015, cp.). O Antropólogo, pelo seu ponto de vista, não se deve dizer categoricamente que as Adolescentes e Jovens estão desvalorizando o traje afro-moçambicano, deve-se (sim), olhar para dinâmica cultural da moda. O que seria importante fazer é demonstrar-se o lado negativo dos novos elementos estético-culturais ocidentais que as Adolescentes e Jovens incorporam na cultura moçambicana, de modo que elas percebam que estão perdendo sua própria identidade (Chachuaio, 2015, cp.).  Breve resumo da quarta categoria (Alternativas) De acordo com estas contribuições, as alternativas que podem contribuir para maior valorização da estética do traje feminino afro-moçambicano na Cidade de Xai-Xai são: promoção de palestras nas escolas e nas igrejas, realização de workshops e festivais de capulana, atenção especial à fase de adolescência, capacitação dos Costureiros em matéria de inovação artística na moda e intervenção da sociedade de forma geral.
  • 49. 48 CAPÍTULO V - CONCLUSÕES E SUGESTÕES 5. Conclusão No presente estudo, com destaque na Ciência que estuda o belo (a Estética), visava-se fundamentalmente, contribuir com alternativas para maior valorização do traje feminino afro- moçambicano na Cidade de Xai-Xai, partindo dos pontos de vista das tendências do consumo actuais. Desta feita, durante o estudo, constatou-se de forma geral que existem Adolescentes e Jovens mais tradicionalistas (minoria) e outras que estão no ritmo do design do ocidente (maioria). Em relação ao traje feminino afro-moçambicano na Cidade de Xai-Xai ficou concluído que todos entrevistados reconhecem que é belo, justificando que é sustentado pelos seus valores socioculturais: o uso da capulana (cobrir ou produzir o traje), a decência e o decoro. Ainda neste ponto, constatou-se que na maioria dos casos a capulana (ou o traje feito a capulana) é alternativa exclusiva para momentos especiais das jovens, e não para o uso quotidiano delas, considerando esta prática ultrapassada. Na abordagem sobre valorização, as Adolescentes e Jovens dos 13 aos 23 anos de idade na Cidade de Xai-Xai reconhecem o valor da capulana, razão pela qual na maioria das vezes usam o traje afro-moçambicano (feito a capulana) nas cerimónias como lobolo (casamento tradicional) e casamento civil, sendo que neste último caso, quando são cortejos ou protocolo. Nesta abordagem, interessa destacar-se que estas Adolescentes e Jovens colocam como foco, a tendência contemporânea ocidental, baseada na diversidade e liberdade na escolha do traje, e a capulana está sendo mais valorizada, no entanto, por senhoras com idade pós-juventude. Os resultados emergentes deste estudo indicam que na Cidade de Xai-Xai, as Adolescentes e Jovens dos 13 aos 23 anos de idade, ao optarem por um traje curto ou transparente ou mesmo sem capulana não estão no âmbito da Contracultura como um estilo, mas sim, estão sendo motivadas pela influência da televisão (aparição de modelos ou actrizes internacionais ocidentais e cantoras nos palcos durante as actuações televisivas) e influência de amigas. Diante destas duas principais influências (e outras), as alternativas que podem contribuir para maior valorização da estética do traje feminino afro-moçambicano na Cidade de Xai-Xai são: promoção de palestras nas escolas e nas igrejas, realização de workshops e festivais de capulana, atenção especial à fase de adolescência e capacitação dos Costureiros (Estilistas) em matéria de inovação artística na moda e intervenção da sociedade de forma geral.
  • 50. 49 5.1. Constrangimentos  Recepção dos credenciais27 para realização do estudo nas igrejas;  Roubo da primeira selecção das imagens capturadas para o sustento do estudo. 5.2. Sugestões  Ao Governo ou aos parceiros:  Que se promova palestras, realização workshops, festivais de capulana e capacitações em design do traje feminino aos costureiros.  Aos Encarregados de Educação:  Que fiquem mais atentos à fase da adolescência (13 anos a 17 anos), de modo a explicarem aspectos importantes sobre a forma como uma mulher deve-se trajar e comportar perante as tendências da moda. Pois, é o momento mais ideal para a adolescente ter bases sólidas na sua vida juvenil e adulta.  As Adolescentes e Jovens:  Que valorizem mais os seus corpos através da beleza do traje afro-moçambicano;  Que se dediquem em saber diferenciar os momentos de lazer (em casa, na praia e nas instituições nocturnas) com os momentos de actividades sociais quotidianas (nas ruas, nas paragens, nos mercados, nas instituições formais como escolas, igrejas, instituições estatais e privadas, etc.).  Aos Costureiros (Estilistas/ Modistas):  Que se fortifiquem mais na inovação trabalhando com o tecido de capulana para a produção de trajes;  Que deixem claro a orientação de cada tipo de traje que produzem;  Que industrializem as suas obras de capulana, para conquistar o mercado profissional.  A imprensa:  Que divulgue com mais frequência conteúdos que valorizam o bom uso do traje afro.  As igrejas e escolas:  Que continuem dando ensinamentos específicos sobre a maneira de se trajar, explorando os valores estéticos da capulana. 27 Vide em anexo II, os credenciais usados na pesquisa.
  • 51. 50 5.3. Propostas para estudos similares Sendo um tema amplo, apresenta-se de seguida as propostas para pesquisas futuras similares com o foco no design da moda afro-moçambicana:  Traje Feminino: uma reflexão sobre a diferenciação dos momentos;  Capulana: Uma alternativa para o uniforme nas escolas primárias moçambicanas;  Traje afro-moçambicano versus tendência do Design de moda contemporânea;  Moda versus Assédio Sexual;  Influência do Traje Feminino no Abuso Sexual da Rapariga.
  • 52. 51 Referências bibliográficas  ANDRIOLI, António Inácio. Efeitos culturais da globalização. 2012. [online] Disponível na Internet via: http://www.espacoacademico.com.br/026/26andrioli.htm. Acesso no dia 01 de Setembro de 2014;  BALDANZA, Renata F. e DE ABREU, Nelsio R.. A Comunicação na Mídia e os Símbolos de Beleza: Reflexões Sobre Influência da Indústria Cultural da Difusão de Valores Estéticos. In: Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação INTERCOM SUDESTE 2006 – XI Simpósio de Ciências da Comunicação na Região Sudeste. Ribeirão Preto, SP - 22 a 24 de Maio de 2006;  CAMPOS, C. R.. Capulana, representação e identidade da população de Moçambique. Ulbra/ RS, Editorial Presença, 2013;  CARON, C.. Influência da Moda da Ditadura da Beleza Feminina. Faculdade de Tecnologia Senai Blumenau, 2008. [online] Disponível na Internet via: http://www.fiepr.org.br/nospodemosparana/uploadAddress/moda%5B24229%5D.pdf. Acesso no dia 06 de Abril de 2015;  CARVALHO, Alexandra Azevedo e LOPES, Bruna Stefanie. A Evolução da Estética através das Décadas. 2012. [online] Disponível na Internet via: revistas.unincor.br/índex.php/iniciacaocientifica/article/viewFile/462/380. Acesso no dia 20 de Maio de 2015;  CASTILHO, Ana L. S. e FERNANDES, Vera L. P.. Questão Estética no Ensino de Artes no Ensino Fundamental. 2007. [online] Disponível na Internet via: http://www.histedbr.fe.unicamp.br/.../questão%20estética%20no%ensino%20de%artes %no...pdf. Acesso no dia 10 de Junho de 2015;  CATOIRA, Lu. A construção da estética jovem no quotidiano da contracultura: ideais de liberdades políticas, comportamentais, éticas e sexuais 1968. 1ª Ed. Aparecida, São Paulo: Ideias e Letras, 2008;  CHAÚQUE, Alexandre (2009). Origem da capulana. [online] Disponível na Internet via: http://www.verdade.co.mz/mulher/717-origem-da-capulana. Acesso no dia 15 de Maio de 2013;  CIDREIRA, R.. A moda nos anos 60 a 70(Comportamento, Aparência e Estilo).Revista do Centro de Artes, Humanidades e Letras, Vol. 2. 2008. [online] Disponível na Internet via: http://www2.ufrb.edu.br/reconcavos/edicoes/n02/pdf/Renata.pdf. Acesso no dia 06 de Abril de 2015;
  • 53. 52  CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. Lei dos objectivos fundamentais do Estado moçambicano. In: Constituição da República, 16 de Novembro de 2004. [online] Disponível na Internet via: http://www.mozambique.mz/pdf/constituicao.pdf. Acesso no dia 10 de Junho de 2015;  COTRIM, Teresa (2009). Trajes: A capulana é o traje típico das mulheres moçambicanas. [online] Disponível na Internet via: http://viajar.sapo.mz/descubra-o- pais/lazer-e-cultura/trajes. Acesso no dia 09 de Agosto de 2013;  DA SILVA, Edna Lúcia e MENEZES, Estera Muszkat. Metodologia da Pesquisa e Elaboração de Dissertação. 3a Edição revisada e actualizada. Florianópolis, 2001;  DICIONÁRIO DA LÍNGUA PORTUGUÊS, 2003-2016. Porto Editora. [online] Disponível Internet via: www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa. Acesso no dia 13 de Abril de 2015;  DICIONÁRIO ETIMOLÓGICO. [online] Disponível na Internet via: www.etimologias.dechile.net/%3Ftraje. Acesso no dia 09 de Abril de 2015;  DICIONÁRIO ONLINE DE PORTUGUÊS. [online] Disponível na Internet via: www.dicio.com.br/traje. Acesso no dia 10 de Agosto de 2014;  DUROZOI, G. e ROUSSEL, A.. Dicionário de Filosofia. Porto, Porto Editora, 2a Edição, 2000;  DYNIEWICZ, Ana M.. Amostragem e instrumentos com enfoque qualitativo e processamento e análise da informação qualitativa. Curso de avaliação de efetividade de promoção à saúde, Curitiba, 15 de julho de 2006;  FERRARI, Fernanda Bonizol. O homem contemporâneo e sua relação com a moda. Monografia apresentada ao Programa de Pós Graduação do Instituto de Artes e Design da Universidade Federal de Juiz de Fora 2013;  GARCIA, Ana V. P.. A Moda feminina no Estado Novo. Dissertação Para Obtenção do Grau de Mestre em Design de Moda, Universidade Técnica de Lisboa Faculdade de Arquitectura, Lisboa, 2011. [online] Disponível na Internet via: https://www.repository.utl.pt/bitstream/10400.5/3311/1/A%20moda%20feminina%20n o%20Estado%20Novo.pdf. Acesso no dia 06 de Agosto de 2012;  GIL, António Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6ª Edição. São Paulo: Atlas, 2008;