O documento discute os melhores momentos para se automatizar processos de teste de software, argumentando que (1) as empresas precisam ter processos bem estabelecidos e uma cultura orientada à melhoria contínua antes de automatizar, (2) a automação só trará ganhos se a empresa estiver preparada, e (3) é necessário investir com planejamento para avançar de forma sustentável.
1. Automatização de Processo de Teste: Qual o melhor momento?
Por Edwagney Luz
Consideramos a área de automação de teste bastante interessante, e não nos surpreende
que seja a menina dos olhos de muitas companhias quando se fala em implantação de
processo de teste de software. Assim como em todo este nosso imenso país, estamos
ainda engatinhando em relação à disciplina de Teste de Software e o mercado goiano
não é diferente, o qual, em meu ponto de vista, está aquém do restante do país. Algo
precisa ser feito rápido, caso os empresários queiram realmente fazer frente às demais
empresas de software do país e principalmente do exterior.
Histórica e culturalmente no Brasil, temos a idéia de que vamos encontrar uma
ferramenta que resolverá todos os nossos problemas, e de um dia para o outro tudo
estará solucionado sem grandes esforços ou investimentos. Mas a realidade é bem
diferente disso.
A automação é algo extraordinário e realmente faz com que a empresa tenha ganhos
substanciais também no que tange ao processo de teste de software. Entretanto, se, e
somente se, a empresa estiver preparada para tal.
Certa vez assisti a uma palestra do consultor de empresas Waldez Ludwig, na qual
afirmara que se um processo não é bem executado, a automatização somente faria com
que esse mesmo processo continuasse sendo mal executado, só que de forma bem mais
rápida. Acredito que não é exatamente esse o objetivo que almejamos para nossas
empresas.
Em algumas das empresas nas quais prestei consultorias, existia a crença de que a
aquisição pura e simples de uma ferramenta para automatização do teste trará agilidade
à empresa. Vejo isso com receios, pois se na organização não existir processo bem
fundamentado, pessoas engajadas e conhecedoras desse processo, e não existir
principalmente uma cultura voltada ao funcionamento e melhora contínua do processo,
como vão conseguir agilidade simplesmente na aquisição de uma ferramenta de
automação? Como vão conseguir agilidade em algo que ainda não sabem realmente
como fazer?
É preciso investir? É preciso ser ágil? A resposta é sim, entretanto investir de forma
correta, com planejamento, cuidado e principalmente sabendo em que terreno estamos
pisando. Quantificar o risco é fundamental quando falamos em implantar algo novo em
uma empresa. Acreditamos firmemente que avançar sem sustentabilidade não seja o
melhor caminho para se alcançar o objetivo almejado e atingir a tão sonhada agilidade.
Recentemente li o livro "The Mythical Man-Month" sob autoria de Frederick P. Brooks
Jr, onde faz ensaios sobre o processo de desenvolvimento e gerenciamento de projetos
de software. Uma das analogias que chama a atenção foi a transcrição de um trecho do
“menu” de um restaurante de “New Orleans” (EUA): "Cozinhar bem leva tempo. Se
fazemos você esperar é para servi-lo melhor e deixá-lo satisfeito." Essa frase faz todo
sentido em um processo de software e podemos perfeitamente transcrevê-la para
projetos de implantação de processos. Precisamos seguir com cuidado, analisando cada
2. passo, cada resultado e avançar até atingirmos um produto realmente consistente,
"saboroso".
Vejam que não estamos falando de qual fogão, panela ou colher escolher para se fazer
um belo e saboroso prato. Estamos falando primeiro de processo. Sem saber o como
preparar e cozinhar o alimento, de que adianta termos um belo fogão e um belo aparelho
de jantar? A necessidade em se ter excelência é antes de tudo conhecer bem o processo
pelo qual usaremos para chegar ao nosso objetivo. À medida que aprimoramos esse
processo, sentimos a necessidade de evolução, e é essa necessidade que nos remete à
busca da agilidade, automatização.
Precisamos compreender que as empresas são feitas e conduzidas por pessoas e sem
elas o negócio não existe. E todos nós, como seres humanos, nascemos e crescemos em
diferentes ambientes e isto, por si só nos faz adquirir hábitos e culturas diferentes.
Assim também são as empresas, cada qual com seu ambiente e sua cultura. Ao
adotarmos um processo, afetamos diretamente a cultura organizacional que deve ser
trabalhada de forma contínua, sem atropelos e com todos engajados pela mudança.
Somente assim conseguiremos atingir a maturidade na execução do processo e
saberemos com maior assertividade escolher qual(is) ferramenta(s) de automatização
processual mais se adequa(m) à organização, eliminando equívocos e principalmente
gastos desnecessários.
Atingimos então, a tão sonhada agilidade e porque não, a uma redução de custo. Mas o
melhor de tudo isso é que chegamos a qualquer custo. Chegamos de forma consistente,
sustentável, de forma sistemática e principalmente criteriosa. Diz o ditado, “Se não
sabemos onde queremos chegar, qualquer caminho é um caminho válido.” O problema
disso, é que às vezes o caminho pode ser longo e tortuoso. A escolha, no entanto, fica a
critério de cada um.
Edwagney Luz é Consultor em Tecnologia da Informação com ênfase em Qualidade e
Teste de Software pela Qualyx Software e Soluções, professor dos cursos de Pós-
Graduação em Qualidade e Gestão de Software e Governança de TI pela PUC Goiás,
graduado em Ciência da Computação pela PUC Goiás, pós-graduado em Engenharia de
Software pela Unicamp, Gerenciamento de Sistema de Informação pela PUC Campinas
e MBA em Gestão da Tecnologia da Informação pela FIA-USP –
edwagney@qualyxsolucoes.com