Este documento discute a urbanização e o urbanismo no Brasil Imperial entre 1808 e 1889, abordando três tópicos principais: 1) O processo de urbanização no Brasil Imperial e o desenvolvimento de infraestrutura como estradas, portos e ferrovias. 2) A cidade do Rio de Janeiro como capital de um império escravista e seus desafios de saneamento e infraestrutura. 3) As cidades do Vale do Paraíba.
1. Brasil-Império (1808-1889): o jogo das
temporalidades.
Continuidades e rupturas nas políticas de urbanização e
urbanismo.
2. REIS,N. G. Quadro da Arquitetura no Brasil. 1970.
REIS FILHO, N. G. “Urbanização e modernidade: entre o passado e o futuro (1808-
1945)”. In: MOTA, Carlos Guilherme (org). Viagem incompleta. A experiência
brasileira (1500-2000). A grande transação. 2000.
CAVALCANTI, N. O RJ setecentista: a vida e a construção da cidade da invasão
francesa até a chegada da Corte. 2004. (Décimas Urbanas)
SALGADO, Ivone. Condições sanitárias nas cidades brasileiras de fins do período
colonial (1777-1822): teorias e práticas em debate. 2001.
SCHULTZ, Kirsten. Versalhes tropical. Império, monarquia e a corte real
portuguesa no RJ, 1808-1821, 2008.
BELUZZO, Ana Maria. O Brasil dos Viajantes. 3 vols.
3. Estrutura da aula
1. O processo de urbanização no Brasil-Império
2. A escala do espaço intra-urbano: o Rio de Janeiro como capital de
um Império escravista
3. As cidades do Vale do Paraíba
5. 1. O processo de urbanização no Brasil Império
•1823 - Criação das Províncias e Presidentes de Província (indicado pelo poder central).
• 1824 – Constituição do Império.
• 1828 - Lei de Organização Municipal (reduz poder Câmaras).
• 1834 - Ato Adicional - Assembléias Provinciais (Repartições de Obras Públicas)
• Lei 12/05/1840 - retirada dos instrumentos políticos do poder local (juízes/ delegados nomeados)
Câmara: “restrição a atribuições administrativas, especialmente viárias, de higiene e saúde”
Câmaras Municipais x Assembléias Provinciais
Brasil-Império: agrário-exportador e escravista
Investimento em infra-estrutura de articulação territorial: estradas, pontes, portos e ferrovias
Rede urbana = sistema pé-de-galinha (Redefinição das capitais regionais)
Engenheiros Civis e Arquitetos
Cidades: partido urbanístico = traçado ortogonal (arruador), “Códigos de Posturas” (Câmaras)
10. O transporte de cargas até meados séc. XIX:
tropas de muares
11.
12.
13. Instalação de infra-
estrutura de transporte
Estradas para serviço de
diligências
(engenheiros militares/
civis)
1846 – Estrada Normal da Serra da
Estrela (Porto da Estrela –
Petrópolis)
1856-1861-Estrada União e Indústria
(Petrópolis-Juiz de Fora)
1852 – Estrada do Caxangá (PE –
Vauthier)
1840-1844 – Estrada da Maioridade
(SP-Santos)
1862-1863 – Estrada do Vergueiro
(SP-Santos)
14.
15. Os portos como polos
de convergência
Programa de
Modernização dos
portos marítimos
16. Infra-estrutura ferroviária
(iniciativa privada)
1852-1856 – 1a. ferrovia (Mauá) –
Porto da Estrela à raiz da Serra +
Diligências até Petrópolis
1855-1858 – Estrada de Ferro do Cabo
(PE)
1855-1864 – D. Pedro II
1859-1887 – E. F. de Ferro Cantagalo
(Porto de Caxias a Cantagalo)
1867- São Paulo Railway (Santos-
Jundiaí)
1872 – Cia Paulista
1875 – E. F. Mogiana e Sorocabana
1904 – E. F. Noroeste
17. Carta Régia 1810
Criação da Academia
Real Militar - RJ
“... Curso regular das
ciências exatas e de
Observações /..../ se formem
hábeis oficiais de artilharia,
engenharia, e ainda mesmo
oficiais da classe de
engenheiros geógrafos e
topógrafos, que possam
também ter o útil emprego de
dirigir objetos
administrativos de minas, de
caminhos, portos, canais,
pontes, fontes e calçadas...”
25. 2. A escala do intra-urbano:
RJ capital de um Império escravista
26. Periodização: continuidades e rupturas
1822 1840 1889
1808 1850 1888 (Abolição)
Vinda Família Real Proibição tráfico negreiro ($$)
Infra-estrutura urbana/território
RJ Capital do Império Luso Leis de Terras (1850)
12.000 reinóis...
Abertura Portos
Importação + Exportação/ Estrangeiros/Expedições Científicas
Intendência Geral de Polícia (Décimas Urbanas/ Códigos de Posturas)
Quadros técnicos:
Faculdade de Medicina: Relatórios médicos/ Política Higienista
Academia e Arquivo Real Militar (Engenheiro Militar/Civil) (1808/1810)
Escola de Ciências, Artes e Ofícios (1816)
31. O livre comércio entre as nações amigas e o Império luso
Europa Brasil
32. O comércio fino:
Rua Direita e Rua do Ouvidor
Rua Direita
“verdadeira rua Saint Honoré, de
Paris, ocupada pelas lojas dos
ricos comerciantes (...) e que
em sua maioria pertenciam às
firmas inglesas e portuguesas”
(Debret)
Rua do Ouvidor
“casas eram guarnecidas com
elegância que um estrangeiro
não espera encontrar, e muitas
têm janelas formadas de
grandes painéis de vidro,
semelhantes aos que são agora
tão comuns nas grandes
cidades da Grã-Bretanha. É a
Regent Street do Rio e aí se
encontram quase todos os
Richard Bate, 1845 (a partir de esboço de c. 1820/1822) objetos de luxo europeus”
(1836 – George Gardner)
36. A criação da “Intendência
Geral de Polícia” (1809)
O que revela a
“Décima Urbana”?
1o. Imposto Predial: define o perímetro
urbano, nomeia as ruas e estabelece a
numeração dos imóveis
41. “Nova Lisboa ou
pequena África?”
Rua Direita - J. M. Rugendas (1822-1829), Expedição Lansdorff
42. Rio de Janeiro: de capital da colônia a capital do Império luso
Estrutura e imagem não condizentes ao novo
papel político
“Nova Lisboa” ou “Pequena África”?
“ A grandeza desta cidade de pouca extensão é mui
semelhante aí ao Sítio de Alfama, ou fazendo-
lhe muito favor, ao Bairro Alto nos seus
distritos mais porcos e imundos. Ora, quem vem
de Lisboa aqui desmaia e esmorece...”
Luiz Joaquim Santos Marrocos
52. “As ruas são retas e estreitas, não existem
passeios mais altos ou separados e, em
geral, pelo meio da rua, corre um canal de
águas servidas”.
“Se acontece desabar um súbito aguaceiro,
logo surgem em geral essas tinas, despeja-
se-lhe o conteúdo em plena rua, deixando-
se que a enxurrada a leve”.
John Luccock
54. CÓDIGOS DE POSTURAS POLICIAIS
Os relatórios médicos
e a teoria miasmática
Dr. Manoel Vieira da Silva, “Reflexões sobre alguns dos meios
propostos por mais conducentes para melhorar o clima da
cidade do Rio de Janeiro”. RJ: Imprensa Régia, 1808.
Causas da insalubridade:
• Estagnação das águas;
• direção e largura das ruas;
• inumações junto às igrejas;
• trânsito de boiadas na cidade em direção aos matadouros e
currais;
• transporte de carne nas cidades;
• falta de asseio nos matadouros.
55. Os relatórios dos engenheiros militares/civis
José Joaquim de Santa Anna, Capitão do Real Corpo de
Engenheiros e Architectos do Rio de Janeiro. “Memória
sobre o enxugo geral da cidade do Rio de Janeiro”. RJ:
Imprensa Régia, 1811/5.
56. O debate contra as inumações intra-muros
1773 – Hugues Maret (Montpellier)
1774 – Scipião Piatolli
1778 – Vicq d'Azir (Académie des Sciences)
1800 – Vicente Coelho de Seabra (MG/ lente na Univ. Coimbra).
1812 – José Correia Picanço. “Ensaio sobre os perigos das sepulturas
dentro das cidades, e nos seus contornos”. (PE/Univ. Montpellier/
Lente Univ. Coimbra/Faculdade de Medicina Bahia)
1831 - Manuel Maurício Rebouças. “Dissertation sur les inhumations
em géneral, leur résultats fâcheux lors qu'on les pratique dans les
églises et dans l'enceinte des villes, et les moyens d'y rémedier par les
cimitières extra-muros”. Tese defendida na Escola de Medicina de
Paris.
57. POLÍTICA HIGIENISTA
O 1o. Código de Posturas
Policiais do Império (1832)
Zoneamento de funções
Cemitérios fora do perímetro urbano
58. O 1o. Código de Posturas Policiais (1832)
Contra as boiadas nas cidades
59. O 1o. Código de Posturas Policiais (1832)
Zoneamento de funções
Matadouros e curtumes fora das cidades
60. O 1o. Código de Posturas Policiais (1832)
Açougues deslocados para as extremidades da cidade
61. O 1o. Código de Posturas Policiais
Contra as águas estagnadas
62. O 1o. Código de Posturas Policiais (1832)
Calçamento de ruas e praças
Debret.
63. Clamor por vegetação nas cidades
Plantar é sanear
“Onde achar fresco, a
brisa, a sombra? Não há
árvores, não há galerias
nas grandes praças. O
LARGO DO PAÇO /.../
não passa de um lugar
árido, calcinante, sem
arbusto, sem uma
simples cobertura” /.../
Charles Rybeirolles, 1858
64. “No LARGO DO ROCIO, nome que se dá à Praça da Constituição,
vegetam num chão de areia algumas plantas enfezadas que não
recordam muito a terra das palmeiras.” /.../
Charles Rybeirolles, 1858
65. “E quanto ao CAMPO DA ACLAMAÇÃO, vasto quadrilátero que comportaria
dois squares de Londres, é tão desnudo como um deserto da África. Porque esse
ódio às árvores, esse desdém da folhagem tão ridente nas paisagens quentes?
Ignora-se porventura que a vegetação arborescente, radicada no solo, absorve as
águas, os detritos orgânicos alteráveis, os sais, e alivia, purifica os terrenos por
suas transudações capilares? /.../ A vegetação faz, pois, o serviço da idilidade
pública. PLANTAR É SANEAR”
Charles Rybeirolles,
1858
Thomas Ender.
66. POLÍTICA HIGIENISTA
Os Códigos de Posturas
Policiais do Império
Normas edilícias:
a luta contra as rótulas e muxarabis
luz e ventilação
67. Intendência Geral de Polícia (1809):
eliminação dos traços coloniais (rótulas)
Thomas Ender (1817), Expedição Austríaca.
68. O Rio de Janeiro de William J. Burchell
(1825-1829)
69. Códigos de Posturas Policiais do Império
Normas edilícias: luz, ventilação e umidade
(porões, pé-direito, bandeiras, vidraças, tijolo)
73. Segregação de fluxos de pedestres e veículos e
calçamento das principais ruas
com paralelepípedos vindos da Inglaterra:
Ruas S. José, Assembléia, Ouvidor, São Pedro,
Direita, Quitanda e Ourives
Pieter Bertichem, meados do séc. XIX.
77. Infra-estrutura urbana:
iluminação a gás
The Rio de Janeiro Gás Co. Ltd.
(1854-1886)
Manuel Antônio Galvão, João Jorge
Young, Barão de Mauá, William
Gilbert Ginty
79. Linhas de bondes de tração animal
Companhia Carris de Ferro da Tijuca (1859)
Centro – Alto da Boa Vista
Thomas Cochrane
Augusto Malta, 1906.
80. Sistema de esgotos
The Rio de Janeiro City Improvements Co. Ltda. (1853)- John
Frederick Russel
Hamburgo;
Londres – 1832;
Nova York; Rio de
Janeiro; Paris –
1853;
São Paulo (Cia
Cantareira) –
1877/1881
Debret.
81.
82. A Quinta da Boa Vista - São
Cristovão
Chácara doada por Elias Antônio
Lopes
Taunay.
86. Chácaras de I. E.
Wright, do Russell,
Mr. Fox, Mr.
Derbyshire,
87. Residência de Sir Sidney Smith (1827)
Praia de Bragança
“atravessando o Porto, em
direção ao Nordeste, a partir
da Praça do Palácio, está a
propriedade doada pelo Rei
de Portugal a Sir Sidney
Smith, logo após a sua
chegada da Europa em 1808,
e batizada de Bragança, em
homenagem à Família Real.
A casa é pequena mas
cômoda e a vista da espaçosa
varanda é particularmente
interessante e charmosa...”
Henry Chamberlain
William Havell, Cena de jardim na Praia de Bragança, 1827.
99. Arquiteto Régio José da Costa e Silva, a
Missão Artística Francesa e a Escola de
Ciências, Artes e Ofícios (Grandjean de
Montigny):
a introdução do Neoclássico no Brasil
Programa de obras públicas monumentais
1816-Academia Real de Ciências, Artes e
Ofícios (futura Academia Imperial de
Belas Artes - 1826)
1819/20 -Bolsa do Rio de Janeiro, depois
Alfândega
1825 – Plano urbano e Palácio Imperial
no Largo do Paço
1827 – Praça monumental no Campo da
Aclamação (Biblioteca Imperial,
Catedral de S. Pedro de Alcântara)
1834 - Mercado
1836 – Praça semi-circular defronte a
Academia
1848 - Paço do Senado – Largo do Rocio
100. José da Costa e Silva – Arquitetoi Régio
Autor do projeto do Teatro São João no LARGO DO ROCIO e Teatro São Carlos de
Lisboa.
101.
102.
103.
104.
105. Grandjean de Montigny projeto uma praça monumental para o CAMPO DA
ACLAMAÇÃO , com Biblioteca Régia e a Catedral de São Pedro de Alcântara.
Thomas Ender.