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CURRENT ISSUES
Agosto 2010 volume 10 número 4
Mudanças Climáticas
Antonio Carlos Porto Araujo
As mudanças climáticas, numa análise macroeconômica, são consideradas como o principal fator
de risco para a economia mundial. Elas deverão acarretar até 2012, movimentações financeiras
diretas e anuais da ordem de mais de US$ 200 bilhões. Grande parte em prejuízos decorrentes
de indenizações em seguros e adequações às políticas nacionais de cada país no controle de
emissões de gases de efeito estufa.
Não é exagero supor que o clima poderá se
tornar ponto primordial de todas as questões
relacionadas com a segurança e soberania
das nações. Nesse conjunto de fragilidades,
o Brasil é obrigado a manter programas
emergenciais para minimizar os sintomas e
efeitos da devastação ambiental provocada
essencialmente por ações antrópicas do ho-
mem moderno.
Poderíamos continuar a elencar todo o tipo
de preocupação que cada profissional con-
vive no seu dia a dia em função da deterio-
ração da qualidade ambiental e climática no
mundo e, em especial, no Brasil.
As estimativas econômicas desses impactos
e a análise de custos das movimentações fi-
nanceiras correspondentes levaram ao apro-
fundamento da compreensão de riscos do
clima, e a recente crise de preços dos ali-
mentos fizeram com que a discussão ultra-
passasse todas as barreiras geográficas, tor-
nando-se uma questão mundial.
No Brasil, tivemos de enfrentar um falso di-
lema, que é a disputa entre alimentos ou
combustíveis, já que muitos países desenvol-
vidos afirmavam que a competição na produ-
ção agrícola estaria pressionando os preços
dos alimentos.
Pior é a acusação de que nossa produção de
combustíveis renováveis expandiria a fron-
teira agrícola para a floresta amazônica.
Trata-se de uma visão obtusa acerca da ex-
tensão territorial do Brasil, principalmente
comparável às extensões dos países da Eu-
ropa.
C U R R E N T I S S U E S
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DELTA ECONOMICS & FINANCE 2
Nosso país precisa insistir na argumentação
de que a maior parte da produção de etanol
está a uma distância superior a 2.000 quilô-
metros da floresta amazônica brasileira. Isso
significa uma distância semelhante entre
Roma e Jerusalém.
Ocorre que, como toda a questão, as mu-
danças climáticas repercutem diretamente
com impactos financeiros e econômicos.
Não se trata de deixar de lado a questão so-
cial, nem de discutir qual questão merece
maior preocupação. Trata-se de articular as
preocupações e procurar um equaciona-
mento economicamente viável, ambiental-
mente amigável, politicamente exequível, so-
cialmente justo.
No Brasil, essa questão também tem tido ex-
pressão. Repercutem os estudos e ensaios
sobre o problema, com os consequentes ris-
cos e prejuízos. Biólogos alertam para a
perda da biodiversidade, uma ameaça cada
vez mais presente, com graves resultados, já
que a qualidade da biodiversidade no Brasil
é incomparável à do redor do mundo.
Os ambientalistas alertam que o aqueci-
mento pode provocar alterações na estrutura
do nosso clima, com possibilidade de apare-
cimento de fenômenos como furacões e tu-
fões, até então praticamente desconhecidos
no nosso território.
Diversos estudos concluem que já se encon-
tram visíveis sinais de maior quantidade e
maior intensidade de tempestades e desas-
tres naturais relacionados ao clima. Com a
recente tendência de se mensurar o valor
econômico do meio ambiente e também dos
impactos financeiros decorrentes direta-
mente da alteração climatológica, também
através de estudos econométricos, supõe-se
que um grande fenômeno ou catástrofe cli-
mática possa causar um impacto de 0,6% do
PIB do país vitimado.
Os sanitaristas preocupam-se com as epide-
mias que podem ser potencializadas com as
enchentes e inundações decorrentes das
grandes chuvas. O Brasil ainda é vítima de
um sistema de saneamento e esgoto alta-
mente ineficiente – quando não inexistente –
e em caso de inundações os riscos de proli-
feração de pragas e desencadeamento de
doenças são exponencialmente provocados.
Em outros países, a situação não é melhor,
sobretudo nos países emergentes. Como
exemplo, na Bolívia viu-se aumentados os
casos de malária, controlados em cerca de
600 ao ano para algo em torno de 100.000
em 2008.
A maior demanda por serviços públicos de
saúde em decorrência do aumento da tem-
peratura, da diminuição da qualidade do ar,
das epidemias, dentre outras, poderá criar
necessidades de gastos anuais na ordem de
R$ 8 bilhões.
As mudanças climáticas também deverão
provocar grandes efeitos negativos sobre os
sistemas socioeconômicos. A quebra de pro-
dução agrícola com secas e enchentes, a
perda em armazenagem e transporte devem
gerar prejuízos no Produto Interno Bruto (PIB)
agrícola de cerca de R$ 10 bilhões. Há
pouco tempo foi anunciado pelo IBGE uma
diminuição da safra 2008-2009 em cerca de
7%, sendo uma parte disso diretamente li-
gada a eventos climáticos. Trata-se da con-
sequência direta do clima sobre as atividades
humanas e ainda sobre os ecossistemas que
fornecem importantes serviços em termos
econômicos.
C U R R E N T I S S U E S
__________________________________________________________________________________
DELTA ECONOMICS & FINANCE 3
Fazendo um cálculo conservador, no Brasil,
os prejuízos decorrentes das alterações cli-
máticas e a perda de geração de receita nos
diversos setores produtivos poderão repre-
sentar um montante de cerca de R$ 47 bi-
lhões durante o ano de 2009, igual a todo o
PIB do Uruguai e Paraguai somados.
Essas impressionantes movimentações fi-
nanceiras têm um agravante ainda mais per-
verso ao se analisar a qualidade dos gastos
públicos. Enquanto vivemos um período de
crise financeira mundial, é cada vez mais im-
portante que as despesas da máquina pú-
blica em custeio e atendimento a catástrofes
sejam reduzidas para permitir uma melhor
possibilidade de investimento em modelos
de produção e geração de emprego e renda.
Não podemos desperdiçar recursos vultosos
tão escassos.
Se essa ineficiência puder ser evitada, os be-
nefícios serão percebidos distributivamente.
Melhor qualidade no emprego das receitas
públicas, maior capacidade de investimento
na produção – viabilidade de retorno ao in-
vestimento prudente – enorme poder de ge-
ração de emprego e renda.
Importante observar que a questão não é
motivo de enfrentamento de uma forma unâ-
nime. Deve-se ressalvar o fato de que as al-
terações climáticas e o aquecimento global
podem significar alguns benefícios isolados.
Algumas regiões do mundo poderão se be-
neficiar no curto e médios prazos, já que a
diminuição de geleiras poderia permitir uma
expansão de fronteira agrícola, como por
exemplo, parte do Canadá que contém muita
área coberta por gelo e imprópria para a agri-
cultura nesse momento. Como lutar, então,
com esses conflitos de modo a incentivar
uma solução global?
Para o Brasil, em especial, e para o mundo
em geral, a solução, então, é enfrentar esse
desafio com esforços conjuntos da socie-
dade para a sustentabilidade e com o fo-
mento da administração pública, para que a
questão ambiental seja trabalhada dentro do
conceito que possamos sair perdendo me-
nos com isso.
Observadas as tendências do mercado glo-
balizado cada vez mais competitivo e a velo-
cidade com que a informação é transmitida,
pode-se dizer que a geração de lucro para as
empresas passa necessariamente pela ges-
tão sustentável e a disseminação dessas
práticas para seu público. Somente assim as
empresas têm condições de responder satis-
fatoriamente às pressões exercidas por leis e
regulações, pressões sociais e negociais.
Muito mais do que em qualquer época, a
empresa passou a ser vista pela sociedade
como parte integrante dela, com todos os
deveres de atuação ambientalmente amigá-
vel e socialmente justa. Esse comporta-
mento cria mais chances de desenvolver re-
lacionamentos duradouros com toda sua ca-
deia de produção e clientes, aumentando as
possibilidades de apresentar resultados eco-
nômico-financeiros positivos no longo prazo.
Dessa forma, se cria instrumentos de pere-
nidade para a vida da empresa, imprescindí-
vel na manutenção da aceitação social,
mantendo assim sua "licença social para
operar". Trata-se de critério de seleção tam-
bém para o investidor, que supõe como con-
sequência desse investimento em sustenta-
bilidade um “subproduto” muito importante,
que agrega valor à imagem da empresa.
Consoante a essa lógica econômica, as em-
presas visualizam como sendo as maiores
oportunidades desse novo século a atuação
no setor dos chamados "produtos verdes",
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DELTA ECONOMICS & FINANCE 4
adequados ao crescimento do consumo sus-
tentável. Trata-se então, de nova abordagem
de conscientização ambiental. Assim, o lucro
passa a ser assegurado controlando-se os
custos, reduzindo perdas ou ineficiências, já
que não é mais possível transferi-las para o
preço do produto. Os ineficientes são substi-
tuídos pelos "produtos verdes".
"Produtos verdes" são aqueles que apresen-
tam melhor desempenho, se comparado aos
similares antecessores e, principalmente,
aos concorrentes. Em uma antiquada abor-
dagem, as ineficiências dos produtos eram
repassadas para o preço final de qualquer
jeito. Já na atual abordagem, apoiada na
ação consciente, se praticam ações que pre-
tendem assegurar o lucro, porém contro-
lando custos, reduzindo perdas ou ineficiên-
cias.
Como uma avaliação social é fundamental
para a realização hoje do trabalho do profis-
sional de investimento, as práticas de produ-
ção e prestação de serviços através de ações
sustentáveis, inexoravelmente são protago-
nistas dessa nova percepção e geração de
melhor qualidade de vida às empresas.
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Antônio Carlos Porto Araujo, advogado, é consultor associado da Delta Economics & Finance.
As opiniões expressas nesse estudo são de responsabilidade exclusiva do(s) autor(es) e não expressam,
necessariamente, a opinião da Delta Economics & Finance.
Sobre a Delta
Fundada em 2000, a Delta é uma empresa brasileira de consultoria econômica e financeira. Nossa missão
é oferecer soluções de qualidade aos nossos clientes mediante um compromisso com ética, inovação,
trabalho em equipe, alianças estratégicas e capacidade analítica.
Disponibilizamos sofisticadas soluções em Desenvolvimento Local & Logística, Estratégia & Operações, Fi-
nanças Corporativas e Regulação Econômica. O diferencial destas soluções está na utilização de modernos
métodos analíticos.
Nossos profissionais possuem extensa experiência em vários setores de atividade econômica, dentre eles,
automotivo, bancário, construção, energético, imobiliário, óleo e gás, petroquímico, transportes e saúde.
Para maiores informações, visite nosso site:
www.deltaef.com
Disclaimer
A Delta não realizou uma verificação independente das informações de fontes públicas (nacional e internacional) contidas nesses
Documentos. A Delta e seus profissionais, direta ou indiretamente, não expressam nenhuma opinião, nem assumem qualquer
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A Delta pode ter elaborado Documentos que consideram conceitos, hipóteses e métodos analíticos distintos e chegar a conclusões
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CI - 2010 - mudanças climáticas

  • 1. CURRENT ISSUES Agosto 2010 volume 10 número 4 Mudanças Climáticas Antonio Carlos Porto Araujo As mudanças climáticas, numa análise macroeconômica, são consideradas como o principal fator de risco para a economia mundial. Elas deverão acarretar até 2012, movimentações financeiras diretas e anuais da ordem de mais de US$ 200 bilhões. Grande parte em prejuízos decorrentes de indenizações em seguros e adequações às políticas nacionais de cada país no controle de emissões de gases de efeito estufa. Não é exagero supor que o clima poderá se tornar ponto primordial de todas as questões relacionadas com a segurança e soberania das nações. Nesse conjunto de fragilidades, o Brasil é obrigado a manter programas emergenciais para minimizar os sintomas e efeitos da devastação ambiental provocada essencialmente por ações antrópicas do ho- mem moderno. Poderíamos continuar a elencar todo o tipo de preocupação que cada profissional con- vive no seu dia a dia em função da deterio- ração da qualidade ambiental e climática no mundo e, em especial, no Brasil. As estimativas econômicas desses impactos e a análise de custos das movimentações fi- nanceiras correspondentes levaram ao apro- fundamento da compreensão de riscos do clima, e a recente crise de preços dos ali- mentos fizeram com que a discussão ultra- passasse todas as barreiras geográficas, tor- nando-se uma questão mundial. No Brasil, tivemos de enfrentar um falso di- lema, que é a disputa entre alimentos ou combustíveis, já que muitos países desenvol- vidos afirmavam que a competição na produ- ção agrícola estaria pressionando os preços dos alimentos. Pior é a acusação de que nossa produção de combustíveis renováveis expandiria a fron- teira agrícola para a floresta amazônica. Trata-se de uma visão obtusa acerca da ex- tensão territorial do Brasil, principalmente comparável às extensões dos países da Eu- ropa.
  • 2. C U R R E N T I S S U E S __________________________________________________________________________________ DELTA ECONOMICS & FINANCE 2 Nosso país precisa insistir na argumentação de que a maior parte da produção de etanol está a uma distância superior a 2.000 quilô- metros da floresta amazônica brasileira. Isso significa uma distância semelhante entre Roma e Jerusalém. Ocorre que, como toda a questão, as mu- danças climáticas repercutem diretamente com impactos financeiros e econômicos. Não se trata de deixar de lado a questão so- cial, nem de discutir qual questão merece maior preocupação. Trata-se de articular as preocupações e procurar um equaciona- mento economicamente viável, ambiental- mente amigável, politicamente exequível, so- cialmente justo. No Brasil, essa questão também tem tido ex- pressão. Repercutem os estudos e ensaios sobre o problema, com os consequentes ris- cos e prejuízos. Biólogos alertam para a perda da biodiversidade, uma ameaça cada vez mais presente, com graves resultados, já que a qualidade da biodiversidade no Brasil é incomparável à do redor do mundo. Os ambientalistas alertam que o aqueci- mento pode provocar alterações na estrutura do nosso clima, com possibilidade de apare- cimento de fenômenos como furacões e tu- fões, até então praticamente desconhecidos no nosso território. Diversos estudos concluem que já se encon- tram visíveis sinais de maior quantidade e maior intensidade de tempestades e desas- tres naturais relacionados ao clima. Com a recente tendência de se mensurar o valor econômico do meio ambiente e também dos impactos financeiros decorrentes direta- mente da alteração climatológica, também através de estudos econométricos, supõe-se que um grande fenômeno ou catástrofe cli- mática possa causar um impacto de 0,6% do PIB do país vitimado. Os sanitaristas preocupam-se com as epide- mias que podem ser potencializadas com as enchentes e inundações decorrentes das grandes chuvas. O Brasil ainda é vítima de um sistema de saneamento e esgoto alta- mente ineficiente – quando não inexistente – e em caso de inundações os riscos de proli- feração de pragas e desencadeamento de doenças são exponencialmente provocados. Em outros países, a situação não é melhor, sobretudo nos países emergentes. Como exemplo, na Bolívia viu-se aumentados os casos de malária, controlados em cerca de 600 ao ano para algo em torno de 100.000 em 2008. A maior demanda por serviços públicos de saúde em decorrência do aumento da tem- peratura, da diminuição da qualidade do ar, das epidemias, dentre outras, poderá criar necessidades de gastos anuais na ordem de R$ 8 bilhões. As mudanças climáticas também deverão provocar grandes efeitos negativos sobre os sistemas socioeconômicos. A quebra de pro- dução agrícola com secas e enchentes, a perda em armazenagem e transporte devem gerar prejuízos no Produto Interno Bruto (PIB) agrícola de cerca de R$ 10 bilhões. Há pouco tempo foi anunciado pelo IBGE uma diminuição da safra 2008-2009 em cerca de 7%, sendo uma parte disso diretamente li- gada a eventos climáticos. Trata-se da con- sequência direta do clima sobre as atividades humanas e ainda sobre os ecossistemas que fornecem importantes serviços em termos econômicos.
  • 3. C U R R E N T I S S U E S __________________________________________________________________________________ DELTA ECONOMICS & FINANCE 3 Fazendo um cálculo conservador, no Brasil, os prejuízos decorrentes das alterações cli- máticas e a perda de geração de receita nos diversos setores produtivos poderão repre- sentar um montante de cerca de R$ 47 bi- lhões durante o ano de 2009, igual a todo o PIB do Uruguai e Paraguai somados. Essas impressionantes movimentações fi- nanceiras têm um agravante ainda mais per- verso ao se analisar a qualidade dos gastos públicos. Enquanto vivemos um período de crise financeira mundial, é cada vez mais im- portante que as despesas da máquina pú- blica em custeio e atendimento a catástrofes sejam reduzidas para permitir uma melhor possibilidade de investimento em modelos de produção e geração de emprego e renda. Não podemos desperdiçar recursos vultosos tão escassos. Se essa ineficiência puder ser evitada, os be- nefícios serão percebidos distributivamente. Melhor qualidade no emprego das receitas públicas, maior capacidade de investimento na produção – viabilidade de retorno ao in- vestimento prudente – enorme poder de ge- ração de emprego e renda. Importante observar que a questão não é motivo de enfrentamento de uma forma unâ- nime. Deve-se ressalvar o fato de que as al- terações climáticas e o aquecimento global podem significar alguns benefícios isolados. Algumas regiões do mundo poderão se be- neficiar no curto e médios prazos, já que a diminuição de geleiras poderia permitir uma expansão de fronteira agrícola, como por exemplo, parte do Canadá que contém muita área coberta por gelo e imprópria para a agri- cultura nesse momento. Como lutar, então, com esses conflitos de modo a incentivar uma solução global? Para o Brasil, em especial, e para o mundo em geral, a solução, então, é enfrentar esse desafio com esforços conjuntos da socie- dade para a sustentabilidade e com o fo- mento da administração pública, para que a questão ambiental seja trabalhada dentro do conceito que possamos sair perdendo me- nos com isso. Observadas as tendências do mercado glo- balizado cada vez mais competitivo e a velo- cidade com que a informação é transmitida, pode-se dizer que a geração de lucro para as empresas passa necessariamente pela ges- tão sustentável e a disseminação dessas práticas para seu público. Somente assim as empresas têm condições de responder satis- fatoriamente às pressões exercidas por leis e regulações, pressões sociais e negociais. Muito mais do que em qualquer época, a empresa passou a ser vista pela sociedade como parte integrante dela, com todos os deveres de atuação ambientalmente amigá- vel e socialmente justa. Esse comporta- mento cria mais chances de desenvolver re- lacionamentos duradouros com toda sua ca- deia de produção e clientes, aumentando as possibilidades de apresentar resultados eco- nômico-financeiros positivos no longo prazo. Dessa forma, se cria instrumentos de pere- nidade para a vida da empresa, imprescindí- vel na manutenção da aceitação social, mantendo assim sua "licença social para operar". Trata-se de critério de seleção tam- bém para o investidor, que supõe como con- sequência desse investimento em sustenta- bilidade um “subproduto” muito importante, que agrega valor à imagem da empresa. Consoante a essa lógica econômica, as em- presas visualizam como sendo as maiores oportunidades desse novo século a atuação no setor dos chamados "produtos verdes",
  • 4. C U R R E N T I S S U E S __________________________________________________________________________________ DELTA ECONOMICS & FINANCE 4 adequados ao crescimento do consumo sus- tentável. Trata-se então, de nova abordagem de conscientização ambiental. Assim, o lucro passa a ser assegurado controlando-se os custos, reduzindo perdas ou ineficiências, já que não é mais possível transferi-las para o preço do produto. Os ineficientes são substi- tuídos pelos "produtos verdes". "Produtos verdes" são aqueles que apresen- tam melhor desempenho, se comparado aos similares antecessores e, principalmente, aos concorrentes. Em uma antiquada abor- dagem, as ineficiências dos produtos eram repassadas para o preço final de qualquer jeito. Já na atual abordagem, apoiada na ação consciente, se praticam ações que pre- tendem assegurar o lucro, porém contro- lando custos, reduzindo perdas ou ineficiên- cias. Como uma avaliação social é fundamental para a realização hoje do trabalho do profis- sional de investimento, as práticas de produ- ção e prestação de serviços através de ações sustentáveis, inexoravelmente são protago- nistas dessa nova percepção e geração de melhor qualidade de vida às empresas.
  • 5. C U R R E N T I S S U E S __________________________________________________________________________________ DELTA ECONOMICS & FINANCE 5 Antônio Carlos Porto Araujo, advogado, é consultor associado da Delta Economics & Finance. As opiniões expressas nesse estudo são de responsabilidade exclusiva do(s) autor(es) e não expressam, necessariamente, a opinião da Delta Economics & Finance. Sobre a Delta Fundada em 2000, a Delta é uma empresa brasileira de consultoria econômica e financeira. Nossa missão é oferecer soluções de qualidade aos nossos clientes mediante um compromisso com ética, inovação, trabalho em equipe, alianças estratégicas e capacidade analítica. Disponibilizamos sofisticadas soluções em Desenvolvimento Local & Logística, Estratégia & Operações, Fi- nanças Corporativas e Regulação Econômica. O diferencial destas soluções está na utilização de modernos métodos analíticos. Nossos profissionais possuem extensa experiência em vários setores de atividade econômica, dentre eles, automotivo, bancário, construção, energético, imobiliário, óleo e gás, petroquímico, transportes e saúde. Para maiores informações, visite nosso site: www.deltaef.com Disclaimer A Delta não realizou uma verificação independente das informações de fontes públicas (nacional e internacional) contidas nesses Documentos. A Delta e seus profissionais, direta ou indiretamente, não expressam nenhuma opinião, nem assumem qualquer responsabilidade pela veracidade, qualidade, suficiência, consistência ou completude de qualquer das informações e conclusões apresentadas em cada um dos Documentos, ou por qualquer omissão com relação a elas. As informações e conclusões de cada Documento refletem o julgamento do autor original quando da publicação, sem levar em conta a data em que o Usuário tomou conhecimento, e estão sujeitas a alteração sem aviso prévio. A Delta reserva-se o direito de modificar as informações e conclusões de cada Documento a qualquer momento sem aviso prévio, bem como de não as atualizar ou interrompê-las completamente. A Delta pode ter elaborado Documentos que consideram conceitos, hipóteses e métodos analíticos distintos e chegar a conclusões diferentes. Esses Documentos podem refletir diferentes conceitos, hipóteses e métodos analíticos dos profissionais que participaram da sua elaboração. Cada uma das conclusões não deve ser tomada como uma indicação, ou mesmo garantia, de conclusões futuras, e nenhuma representação ou garantia, expressa ou implícita, é dada em relação a conclusões futuras. Cada um desses Documentos é protegido por direitos autorais, sendo que copiar e/ou transmitir, no todo ou em parte, qualquer Documento sem autorização prévia e expressa da Delta implica em violação destes direitos. A Delta incentiva a divulgação do seu trabalho e, em geral, poderá conceder prontamente permissão para a cópia ou transmissão. © 2010 – all rights reserved Delta Economics & Finance