SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 176
Baixar para ler offline
autor do original
MARIA BEATRIZ GAMEIRO
1ª edição
SESES
rio de janeiro  2015
LÍNGUA PORTUGUESA
Conselho editorial  luís cláudio dallier, roberto paes e gladis linhares
Autor do original  maria beatriz gameiro
Projeto editorial  roberto paes
Coordenação de produção  gladis linhares
Projeto gráfico  paulo vitor bastos
Diagramação  andré lage e paulo vitor bastos
Validação de conteúdo  fábio macedo simas e luciana varga
Imagem de capa  cienpies design — shutterstock
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2015.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)
G184	Gameiro, Maria Beatriz
	 Língua Portuguesa
	 — Rio de Janeiro: Editora Universidade Estácio de Sá, 2015.
	 176 p
	 isbn: 978-85-5548-156-7
	 1. Linguagem. 2. Português. 3. Educação. I. Título.
cdd 469.5
Diretoria de Ensino — Fábrica de Conhecimento
Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus João Uchôa
Rio Comprido — Rio de Janeiro — rj — cep 20261-063
Sumário
Apresentação							 7
1.	Nem todo brasileiro fala do mesmo jeito	 21
Fala e escrita	 26
Norma padrão, norma culta e norma popular	 28
Construções da norma padrão e da norma coloquial: 	
correções dos desvios mais comuns	 29
2.	Noções básicas de sintaxe: 	
regência e concordância	 39
Noções básicas da sintaxe	 41
A transitividade verbal	 41
A regência verbal	 45
Regência nominal	 52
A variação linguística e a concordância verbal	 53
A concordância nominal	 63
3.	Usos da língua: pontuação, 	
acentuação e ortografia.	 73
Introdução à clareza e à pontuação: a ordem direta no português brasileiro	 75
Regras de acentuação	 86
O novo Acordo Ortográfico	 91
Regras ortográficas 	 98
A crase	 101
O internetês e a ortografia	 104
Importância da escrita para o mercado do trabalho	 108
4.	A estrutura do parágrafo, a coesão e a coerência	 113
A estrutura do parágrafo	 114
As qualidades do parágrafo	 118
Coesão e coerência	 128
A coerência	 133
5.	Leitura e significação	 137
O Sincretismo de linguagens	 138
O texto literário e o não-literário	 139
Principais critérios para distinção entre o texto literário e o não literário	142
A construção do significado no texto: a conotação e a denotação	 143
Figuras de Linguagem	 146
5
PRÓLOGO A ESTE LIVRO,
Por Deonísio da Silva
Nunca uma palavra foi tão apropriada: prólogo. Veio do Grego, passou pelo Latim “prolo-
gus” e chegou ao Português “prólogo”. Designava a primeira parte da tragédia, também
uma palavra vinda do Grego “tragoidía”, composta de “tragos”, bode, e “oidé”, canção,
significando “canção do bode”: nas tragédias gregas era sacrificado um bode enquanto
o coro cantava.
Nós vivemos uma tragédia no ensino do Português. Faz décadas que professores,
pagos pelo Estado, por mantenedoras privadas ou por universidades comunitárias para
ensinar a norma culta do Português, deformam este ensino à base de um vale-tudo, em
que a norma culta não vale nada, praticando crimes de lesa-língua. E fazem isso com
uma disciplina estratégica, pois todas as outras disciplinas são ensinadas em Português!
Na Universidade Estácio de Sá, como em outras instituições de qualidade, o ensino
do Português vem merecendo atenção especial. A Língua Portuguesa é a menina dos
olhos da Estácio.
Meia dúzia de coisas que nunca falharam: você vai ouvir, falar, ler e escrever
melhor (e passar com folga em todas as AVs), se:
1) Assistir a todas as aulas;
2) Fizer as tarefas que os professores indicarem;
3) Ler todos os dias, nem que seja um pequeno trecho;
4) Consultar as obras de referência, como gramáticas e dicionários;
5) Ler os livros indicados;
6) Escrever alguma coisa todos os dias, nem que seja um recado a seus amigos.
1  As Palavras
O brasileiro fala bastante. E fala bem. Talvez não preste a devida atenção ao que
o outro fala. Começa na infância."Quantas vezes eu já te disse para não fazer
isso, menino?". Ou: "Eu já te disse mil vezes que eu não quero ouvir palavrão
nesta casa", "eu te mato" etc.
Esta mãe imaginária usava bem o vocativo, com a pausa antes dele, que
na escrita levou uma vírgula. Ela invocava expressões de linguagem que to-
6
dos conhecemos.
Mil vezes? Ainda que as admoestações fossem muito repetidas, talvez não
passassem de algumas dezenas, acompanhadas de ameaças de morte de brin-
cadeirinha, como faz toda mãe. Ela sabia que a língua portuguesa, ao lado de
olhares e gestos repreensivos ou de aprovação, era poderoso recurso para edu-
car os filhos.
Como se sabe, a educação começa em casa. Foi lá, aliás, que você aprendeu
a ouvir e a falar em Português. Seu pai foi seu primeiro professor. Sua mãe foi
sua primeira professora. Por isso, a língua portuguesa é sua língua materna,
palavra que veio do Latim materna, isto é, que se refere à mater, "mãe".
Escolas e universidades dão instrução e ajudam a educar os alunos, mas to-
dos os professores sabem que os alunos estão sob seus cuidados apenas um
sexto do dia. E os mestres precisam ensinar-lhes um cesto de coisas. O tempo é
pouco. Se a casa, a empresa, a mídia e a rua (lugares onde os discípulos passam
a maior parte do tempo) não colaboram com a escola e com a universidade, a
tarefa fica muito mais difícil. Sim, a boa empresa facilita a formação de seus
empregados, isto é um investimento para ela.
Nas ruas, nas estradas e em outros lugares públicos, cartazes com erros de
Português infiltram na mente de todos formas erradas de escrever! Programas
de baixo nível, no rádio, na televisão, na internet etc. são outros empecilhos
na tarefa de ensinar. Como se sabe, muito ajuda quem não atrapalha. E esses
erros são como uma virose. Se o organismo não tem as devidas defesas, contrai
doença de escrever mal antes de aprender a escrever bem.
Mas, se falamos bem, por que escrevemos tão mal? Uma campanha convida
ou ordena "Avança Brasil". Foram gastos milhões de reais para imprimi-la em
cartazes e exibi-la na televisão e na internet. Está errada. Não puseram vírgula
depois de "avança" e antes de "Brasil".
Hora do recreio
O “site” www.simplesmenteportugues.com.br apresenta este divertido e curio-
so exercício sobre a vírgula, ao apresentar o texto de um moribundo – ele mor-
reu antes de fazer a pontuação -, numa espécie de minitestamento: “Deixo
meus bens a minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a conta do pa-
deiro nada dou aos pobres”.
Eram quatro os herdeiros. Como ele distribiu a herança? Como exercício,
7
os alunos devem pontuar o texto como se fossem os advogados dos herdeiros.
Divididos em quatro grupos, cada um dos grupos deve defender o sobrinho (1),
a irmã (2), o padeiro (3) ou os pobres (4).
As respostas corretas são:
1) O sobrinho pontuaria assim: Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu
sobrinho. Jamais será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.
2) A irmã, assim: Deixo meus bens à minha irmã. Não a meu sobrinho. Ja-
mais será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.
3) O padeiro, assim: Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho?
Jamais! Será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.
4) Os pobres, assim: Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho?
Jamais! Será paga a conta do padeiro? Nada! Dou aos pobres
Erros de ortografia
Os erros mais numerosos são de ortografia. Até um professor anunciou:
"aulas de reforsso escolar, todas matérias". Está errado. As suas são de reforço
escolar e é necessário o artigo em "todas AS matérias".
Um quiosque quis melhorar as vendas de sorvetes e de picolés e anunciou
"temos picolé premeado". Está errado. O certo é premiado.
Certa padaria avisou: "nossos produtos não tem glúteos". Está errado. O
certo é "nossos produtos não têm glúten". Glute também estaria correto, mas
glúteo é nádega; veio do Grego gloutós, "nádega".
Uma cabeleireira anunciou que fazia "itradação" de pele e cabelos. Está er-
rado. O certo é hidratação.
Uma floricultura oferecia "violentas" a menos de cinco reais. Está errado. O
certo é violetas.
Um açougue avisou os clientes que tinha "frango bovino". Ora, a carne à
venda era de frango ou de boi! O açougueiro não cruzou uma galinha e um touro
(boi ainda não castrado), ou um galo e uma vaca para produzir a tal carne.
A maioria das pessoas comete erros ortográficos, não porque seja difícil es-
crever corretamente, mas sim porque elas leem pouco. Esta é a grande causa.
A ortografia do Português não é tão simples como a do Espanhol e a do
Italiano, mas não é complicada como a do Inglês, por exemplo. Estão errados
aqueles que dizem que a do Inglês é mais simples. Não é.
Cláudio Moreno, nosso colega de docência na Estácio há muitos anos, em
8
Guia Prático do Português Correto (vol. 1 - Ortografia), livro indicado na biblio-
grafia desta disciplina, lembra que em Inglês a palavra lives é pronunciada /
livz/ quando significa "vive, mora, reside", e /laivz/ quando quer dizer "vidas".
Você escreve key e pronuncia o conjunto "ey" como /i/, mas no pronome they
(eles, elas), a pronúncia é /êi/. Em he goes ("ele vai"), você diz /gous/, mas o mes-
mo encontro "oes", pronunciado /ous/ neste verbo, muda para /us/ em my shoes
("meus sapatos"), que você pronuncia /mai shus/.
Outras amostras de que o Português tem uma grafia mais simples do que a
do Inglês: para typography, pharmacy, theater, psychology, escrevemos tipo-
grafia, farmácia, teatro, psicologia.
O objetivo deste livro é ajudar os alunos a aprender a Língua Portuguesa. É
uma língua que os alunos já sabem, mas ainda não sabem o suficiente. De todo
modo, não é uma língua estrangeira. Se estivéssemos ensinando Inglês, Espa-
nhol, Latim, Russo ou Mandarim, os métodos seriam outros.
Mas por que ensinamos Português? Porque os alunos precisam muito
aprender a ler e a escrever numa língua que já entendem e falam.
Se o professor disser ou escrever "minha colega ficou RUBICUNDA, mas
abriu uma EXCEÇÃO e deu um ÓSCULO no MANCEBO", provavelmente o alu-
no irá ao dicionário em busca de saber como se escreve e o que querem dizer as
palavras escritas em maiúsculas. De 14 palavras, ele provavelmente não sabe o
significado de apenas três. E tem dúvida de como se escreve exceção.
É um índice muito alto de conhecimento do vocabulário que ele precisa
saber para compreender o texto, uma vez que já conhece 78,58% das palavras
empregadas.
Na verdade, quando você lê qualquer texto ― uma notícia, uma petição, um
salmo, uma bula de remédio, um relatório, um poema, um conto, um trecho de
romance etc. - é provável que você conheça a maioria das palavras que ali apare-
cem, pois elas se repetem muito.
Se você gosta mais de números do que de letras, faça um exercício curioso.
Aplique ao texto escolhido a Lei de Zipf, formulada pelo filólogo, linguista e es-
tatístico George Kingsley Zipf, da prestigiosa Universidade de Harvard.
Estudando a obra de James Joyce, famoso escritor irlandês de língua inglesa,
ele mostrou que no livro Ulisses, tido como um dos romances mais difíceis de
ser lido e entendido em todos os tempos (inclusive nas traduções), a palavra mais
comum aparece 8.000 vezes. Examinando muitos outros textos, concluiu que a
maior parte de qualquer texto é coberta pelas palavras mais usadas na língua.
9
Concluímos desta lei que somos capazes de entender qualquer texto, tendo
um bom vocabulário. E que para as palavras desconhecidas, só o que precisa-
mos é de um dicionário.
Quando ouvirem o texto "minha colega ficou RUBICUNDA, mas abriu uma
EXCEÇÃO e deu um ÓSCULO no MANCEBO", os alunos provavelmente irão ao
dicionário para certificar-se de como se escreve exceção, mas eles sabem que
exceção quer dizer "exclusão, algo fora da norma, fora do comum" naquele con-
texto. E provavelmente sabem também, sem consultar o dicionário, como são
escritas as três restantes, marcadas em vermelho, embora sejam de uso raro,
pois elas são escritas como pronunciadas. Talvez aqueles que não conhecem
a forma correta mancebo, escrevam a forma errada "mansebo"... Mas, então, o
problema será facilmente resolvido, pois "mansebo" não existe...
O ditado, uma antiga prática das salas de aula, ajudava muito nisso. Nas pri-
meiras séries do ensino fundamental, a professora pronunciava palavras que os
alunos deveriam escrever.
O passo seguinte é saber o significado das palavras até então desconheci-
das, aquelas três marcadas em maiúsculas: rubicunda, ósculo e mancebo.
Um bom dicionário ou um bom professor ou uma boa professora lhes ex-
plicará que rubicunda é da mesma família de rubrica, porque antigamente as
primeiras letras dos capítulos dos livros eram escritas com tinta vermelha. E
também é parecida com rubéola, infecção percebida por exantema de manchas
vermelhas. Também são parentes o rubor nas faces e a cor rubro-negra de clu-
bes, com o Flamengo, duas cores que, juntas ou separadas, estão nos uniformes
de muitos clubes brasileiros de futebol, como o Corinthians, o Internacional, o
Sport do Recife, o Vasco, o Grêmio, a Ponte Preta, o Atlético (do PR, de MG etc.).
Mas, voltemos à palavra exantema, que o dicionário usou para explicar ou-
tra. Não se assustem! Os dicionários às vezes usam palavras ainda mais desco-
nhecidas para explicar aquela que você procurou.
Aliás, é um lado bom dos dicionários, longe de ser um defeito. Você atira
no que viu, acerta no que não viu, como diz o ditado, talvez antiecológico. Você
procura exantema e descobre que a nova palavra, que você não procurou, veio
do Grego eksanthéma, "florescência, florido", porque as feridas de tal enfermi-
dade semelham flores desabrochando sobre a pele.
O dicionário é uma festa, onde você vai com quem já conhece e descobre
desconhecidos que são ainda mais interessantes. E que você não procurava,
mas que podem vir a ser seus novos amigos.
10
A seguir, você procura ósculo, cujo significado é "beijo", que veio do Latim
osculum, "boquinha", diminutivo de os, "boca", assim como minúculo veio do
Latim minisculum, diminutivo de minus, que significa "pequeno". Então, mi-
núsculo quer dizer "muito pequeno".
Por fim, procura mancebo, que quer dizer "jovem, moço". Na antiga Roma,
manceps, de onde veio a palavra, era o escravo jovem que ficava no quarto, to-
mava as roupas do senhor nas mãos e o ajudava a vestir-se.
Os escravos foram cartões de crédito e de débito, ainda antes de existirem
estes plásticos de tanta utilidade: ninguém fazia nada sem eles!
O feminino manceba designou a amante, a concubina, a mulher jovem que
ficava no quarto do senhor fazendo mais do que segurar as roupas dele, aju-
dando-o a vestir-se. Talvez o ajudasse mais a desvestir-se, ela mesma se des-
pindo junto. Outras palavras e expressões vieram do mesmo étimo, de que são
exemplos mancebia e amancebado, palavras que aparecem em numerosos do-
cumentos do Brasil colonial e imperial, dando conta de que os senhores das
casas-grandes não apenas visitam as senzalas, como frequentemente viviam
amancebados com as próprias escravas, com elas gerando filhos, que eram
escravizados também. A expressão "Fulano tem um pé na cozinha" também
exemplifica isso, apesar do ponto de vista preconceituoso, pois poderia ser des-
cendente de um escravo com um pé no quarto da casa-grande....
Como vimos, é preciso conhecer o vocabulário empregado num texto, não
apenas porque esta tarefa é indispensável para compreender o texto, como tam-
bém pela viagem que as palavras nos levam a fazer, cheia de escalas em pontos
e portos interessantíssimos
Na busca pelo significado das palavras que ainda lhe são desconhecidas,
você não pode desprezar o contexto em que foram empregadas. O mancebo de
que fala o texto não é o "móvel ou o pedaço de pau em forma de cabide", uma
vez que "minha colega ficou rubicunda, mas abriu uma exceção e deu um óscu-
lo no mancebo". Ela não ficaria vermelha se tivesse que beijar um móvel...
11
2  Reflexões para você estudar Português
1. O domínio da língua materna é o requisito fundamental para o sucesso
em qualquer campo de atividade. Independentemente do curso escolhido na
Universidade, ler e escrever com proficiência é indispensável para que o acadê-
mico possa participar da sua área de saber, qualquer que seja ela.
2. A ausência desse conhecimento básico compromete todas as suas formas
de expressão; sem ele, até mesmo o seu contato com os textos imprescindíveis
a cada especialidade fica prejudicado.
3. Em geral, o aluno brasileiro deixa de estudar português no momento em
que conclui o Ensino Médio e ingressa na universidade ou no mercado de tra-
balho. Quase todos nós passamos por isso e conhecemos muito bem esse traje-
to: por algum tempo, absorvidos por nossas novas ocupações, passamos a dar
pouca ou nenhuma atenção àqueles conteúdos gramaticais que, na opinião da
maior parte dos adolescentes, constituem um emaranhado de regrinhas capri-
chosas e desnecessárias.
4. A vida profissional ou acadêmica, no entanto, logo faz dissipar essa ilusão
e muda nossa maneira de ver as coisas, pois descobrimos finalmente que aque-
las regras que considerávamos supérfluas são instrumentos indispensáveis para
o sucesso pessoal. Este curso se destina exatamente àqueles que perceberam a
importância do domínio da língua materna para sua vida e sua carreira e que pre-
tendematualizarseusconhecimentosgramaticais.Osmesmosfatoseprincípios
que você estudou na escola voltam agora sob novo enfoque, selecionados e orga-
nizados para solucionar, na prática, as dúvidas e hesitações que afligem quem
escreve. Este curso apresenta, por isso mesmo, o mínimo de teoria necessário
para entender os fenômenos explicados: o seu foco é a gramática do uso culto.
5. A língua é transmissora da cultura e da civilização. Ela é um sistema orgâni-
co de regras e princípios, estabelecido, de geração em geração, século por século,
pelasomadosdiscursosdetodososindivíduosquetêmoPortuguêscomolíngua
materna. A língua que estou usando hoje para falar com vocês vem sendo usada
há quase mil anos. Foi usada por cruzados, por navegadores, por carrascos e por
vítimas da Inquisição. Quando o Brasil foi descoberto, o escrivão da frota, nosso
12
Pero Vaz e Caminha, relatou .... Camões cantou seus amores, Vieira pregou na
Igreja contra as invasões holandesas, falando a colonos, índios e escravos.
6. Foi por causa disso, por exemplo, que a escola dispendeu tanto esforço
para ensinar a vocês a conjugação completa dos verbos, incluindo o vós. Como
entender uma frase clássica como "Vinde a mim as criancinhas" sem conhecer
a flexão do verbo na 2ª pessoa do plural?
7. Mito: "Como nunca pretendo usar essas formas, elas não são importan-
tes para mim". Na verdade, "usamos" um vocábulo tanto quando o emprega-
mos numa frase, quando o compreendemos ao vê-lo num texto de outrem. Por
exemplo, o costume de não trabalhar, na escola, com a 2ª pessoa do plural na
conjugação dos verbos — sob a alegação infantil de que "ninguém usa mais esta
forma" — acarreta uma série de problemas na compreensão de textos tão sim-
ples e fundamentais como, por exemplo, as orações: “Pai nosso que estais nos
céus, santificado seja o vosso nome; venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa
vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos daí hoje;
perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem
ofendido; e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Amém.”.
Ou: “Ave, Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco; bendita sois vós entre as
mulheres, bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus,
rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém”.
8. Nosso propósito é levá-lo a posicionar-se criticamente sobre tudo aquilo
que já aprendeu sobre nosso idioma (que é, acredite, muito mais do que você
imagina). Viajando pela história de nossa língua, você vai entender o quanto
devemos ao Grego e ao Latim; além disso, vai poder avaliar a dívida cultural
que temos para com os árabes e os povos indígenas e africanos. Com base nas
leituras escolhidas, queremos mostrar a você que os fatos mais corriqueiros da
língua influem na nossa interpretação de um texto literário, e que os escrito-
res sabem, como ninguém, utilizar a seu favor as várias escolhas que têm à sua
disposição — e você vai entender de que maneira um autor como Machado de
Assis, utilizando a mesma língua que você usa (e praticamente o mesmo voca-
bulário) construiu verdadeiras obras-primas.
13
9. A língua é um sistema desenvolvido no tempo e no espaço, formado pelo
trabalho de milhões de falantes. Outra coisa bem diferente é o uso que cada
um de nós faz desse repertório. Cada um de vocês tem um discurso próprio —
cada um usa o sistema à sua maneira, de acordo com sua formação, sua idade,
sua região ou simplesmente o grau de consciência com que se relaciona com
a linguagem. Por isso, ver como os outros usam ou usaram a língua aumenta
o nosso repertório de possibilidades e nos ajuda a definir o estilo que preferi-
mos e o que realmente nos desagrada. O uso individual pode mudar a língua?
Se houver a concordância de muitos indivíduos, sim. Há quem se escandalize
com as mudanças, mas não podemos esquecer que, se ocorrerem, tudo vai se
dar dentro do sistema próprio do nosso idioma. Invariavelmente, elas são feitas
para tornar o sistema ainda mais homogêneo. Os "erros" que as pessoas come-
tem — que, não por acaso, são os mesmos em todo o país — revelam pontos de
atrito com a norma culta, em que os discursos individuais acabarão inconscien-
te, mas inexoravelmente, limando e polindo o sistema.
10. A evolução do sistema. As mudanças que ocorrem, no entanto, sempre
se dão dentro da direção de tendência — como o sentido dos pelos do veludo,
ou, mais domesticamente, o sentido dos pelos do gato. Um exemplo que está
em processamento é a transformação do vocábulo grama (unidade de medida),
considerado substantivo masculino. A tendência é transformá-lo em feminino
— como lama, cama, rama, etc. É por isso que a maioria dos falantes brasilei-
ros vem aderindo à mudança, inclusive com a adesão de autores tão importantes
quanto Machado de Assis, o patrono deste curso. Machado de Assis, por exem-
plo, em crônica publicada em A Semana, fez como os falantes de hoje: usou gra-
ma (peso) no feminino “O caso da grama. Contaram algumas folhas, esta sema-
na,queumhomem,nãoquerendopagarporumquilodecarnepreçosuperiorao
taxado pela prefeitura, ouvira do açougueiro que poderia pagar o dito preço, mas
que o quilo seria mal pesado. [...] Um quilo mal pesado. Pela lei, um quilo mal
pesado não é tudo, são novecentas e tantas gramas, ou só novecentas. E voltou
aofemininodegrama(peso)nestaoutra,publicadaemBalasdeEstalo:“Podeser
que haja nesta confissão uma ou duas gramas de cinismo; mas o cinismo, que é
a sinceridade dos patifes, pode contaminar uma consciência reta, pura e elevada,
do mesmo modo que o bicho pode roer os mais sublimes livros do mundo.”
14
3  Frase, Oração, Período, Parágrafo, Texto
“Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei no trem da Central um
rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu”. (abertura de Dom Casmurro)
“Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.” (final de
Memórias Póstumas de Brás Cubas)
“Naquele dia – já lá vão dez anos! -, o dr. Félix levantou-se tarde, abriu a janela e cum-
primentou o sol. (...) Alegres com vermos o ano que desponta, não reparamos que ele é
também um passo para a morte. (abertura de Ressurreição)
Estas frases, orações e período integram (1) o primeiro parágrafo do roman-
ce Dom Casmurro, (2) o fechamento de Memórias Póstumas de Brás Cubas e
(3) a abertura de Ressurreição, três romances de Joaquim Maria Machado de
Assis, o maior escritor brasileiro de todos os tempos, mulato, descendente de
escravos, filho de família pobre, epiléptico, gago.
Francisco José de Assis, seu pai, filho de escravos alforriados, era pintor de
paredes; Maria Leopoldina da Câmara Machado, sua mãe, imigrante portugue-
sa dos Açores, era lavadeira.
Machado foi autodidata (estudou por conta própria) e jamais frequentou
uma universidade. Escreveu nove romances, cerca de duzentos contos, seiscen-
tas crônicas, além de peças de teatro, poemas e ensaios.
Sua madrinha se chamava Maria, e seu padrinho, Joaquim. Foi por isso que
o pai lhe deu este nome: Joaquim Maria (do padrinho e da madrinha) Machado
(sobrenome da mãe) de Assis (sobrenome do pai).
Aos dez anos, ficou órfão de mãe e passou a ser cuidado pela madrasta, Ma-
ria Inês da Silva, que fazia doces que Machado vendia nas ruas, como hoje fa-
zem adolescentes e jovens nos faróis. Isto levou o menino a ter contato com
um padeiro que lhe ensinou Francês. Tornou-se também coroinha e sacristão,
e aprendeu Latim com o padre.
Aos 17 anos teve seu primeiro emprego: aprendiz de revisor e de tipógrafo
na Imprensa Nacional, onde foi orientado e ajudado por Manuel Antônio de
Almeida, autor de Memórias de um Sargento de Milícias. Em seguida, recebeu
15
ajuda de Quintino Bocaiúva (homenageado no nome de um bairro no Rio, co-
nhecido mais como Quintino apenas, onde nasceu o jogador Zico) e de Salda-
nha Marinho (pernambucano, que governou São Paulo e foi um dos autores de
nossa primeira Constituição).
Mas quem mais ajudou Machado de Assis foi a portuguesa Carolina Augus-
ta Xavier de Novais, uma solteirona de 35 anos, bonita, culta e elegante, que
ele desposou aos trinta anos. Ela vinha de uma desilusão amorosa com um
português, e a família dela não queria que a moça casasse com um mulato. O
casamento aconteceu, mas eles não tiveram filhos. O motivo foi confessado
em complexas sutilezas, como era de seu estilo, no fechamento de Memórias
Póstumas de Brás Cubas: “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o
legado da nossa miséria”.
Porqueestasexplicaçõeseporqueestestrechos?Olivroéopãonossodecada
dia, o pão do espírito. Ele nos alimenta a alma. E nos ajuda a aprender Português.
Depois do vocabulário, vamos às frases e orações que compõem um período.
Um ou mais períodos formam um parágrafo. Um ou mais parágrafos foram um
texto, que pode ser dividido em capítulos, como faz Machado nos seus romances.
O Português tem algumas singularidades. A maioria das palavras não tem
acento. A maioria das palavras são paroxítonas, isto é, a sílaba mais forte é a
penúltima: abacate, bergamota, cavalo, ditado, escola, faculdade, ginecologis-
ta, hospedagem, idealista, juramento, laranja, moleque, narciso, obcecado, po-
tranca, quadrado, recado, sulfato, timaço, umbanda, varanda, xavante, zeloso.
A ordem direta é predominante no Português. Isto é, para arrumar as pala-
vras e construir frases e orações, a ordem é a seguinte: primeiro o sujeito; de-
pois o verbo; por último, o(s) complemento (s). O professor ensinou concor-
dância verbal (ontem, na aula à distância, com exemplos na lousa eletrônica).
O aluno aprendeu a lição (com leitura, exemplos e exercícios feitos em casa).
Mas podemos construir frases também com outras ordens: complemento,
verbo, sujeito; verbo, complemento, sujeito; verbo, sujeito, complemento.
Machado de Assis, na abertura de Dom Casmurro, usou complemento(s)
(uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo), sujeito oculto, ver-
bo (encontrei), complemento(s) de novo (no trem da Central um rapaz aqui do
bairro, que eu conheço de vista e de chapéu).
No fechamento de Memórias Póstumas de Brás Cubas, ele usa a ordem dire-
ta: sujeito oculto, verbo (Não tive) complemento (filhos), e a seguir emenda outra
16
frase com sujeito oculto, verbo (não transmiti) complementos (a nenhuma cria-
tura o legado da nossa miséria).
Notem que as frases ou orações formam um ou mais períodos, como tam-
bém ocorre neste último caso, na abertura do romance Ressurreição, quando
ele usa complementos (“Naquele dia – já lá vão dez anos!”), sujeito (o dr. Félix)
verbo(s) (levantou-se tarde, abriu a janela e cumprimentou o sol). (...) sujeito
oculto, verbo (estamos) complementos (Alegres com vermos o ano que des-
ponta), e sujeito oculto de novo, verbo (não reparamos), complementos (que
ele é também um passo para a morte)”.
Ele nos disse que:
1) O dr. Félix levantou-se tarde;
2) (O dr. Félix) abriu a janela;
3) (O dr. Félix) cumprimentou o sol;
4) (o Dr. Félix fez as três coisas): “naquele dia”, “já lá vão dez anos”;
5) (Nós ficamos) alegres com vermos o ano que desponta;
6) (Nós) não reparamos que ele é também um passo para a morte.
Arrumandoumaboaordemtambémparaosperíodos,fazemosumparágrafo:
1) Capítulo I de Dom Casmurro. Primeiro parágrafo.
Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei no trem da
Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu. Cumpri-
mentou-me, sentou-se ao pé de mim, falou da Lua e dos ministros, e acabou
recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos pode ser que não fossem
inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, como eu estava cansado, fechei os
olhos três ou quatro vezes; tanto bastou para que ele interrompesse a leitura e
metesse os versos no bolso.
2) Capítulo I de Ressurreição. Primeiro parágrafo.
“Naquele dia, — já lá vão dez anos! — o Dr. Félix levantou-se tarde, abriu a jane-
la e cumprimentou o sol. O dia estava esplêndido; uma fresca bafagem do mar
vinha quebrar um pouco os ardores do estio; algumas raras nuvenzinhas bran-
cas, finas e transparentes se destacavam no azul do céu. Chilreavam na chácara
17
vizinha à casa do doutor algumas aves afeitas à vida semi-urbana, semi-silvestre
que lhes pode oferecer uma chácara nas Laranjeiras. Parecia que toda a natu-
reza colaborava na inauguração do ano. Aqueles para quem a idade já desfez
o viço dos primeiros tempos, não se terão esquecido do fervor com que esse
dia é saudado na meninice e na adolescência. Tudo nos parece melhor e mais
belo, — fruto da nossa ilusão, — e alegres com vermos o ano que desponta, não
reparamos que ele é também um passo para a morte.”
3) Capítulo CLX de Memórias Póstumas de Brás Cubas Último parágrafo.
“Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do em-
plasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que,
ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor
do meu rosto. Mais; não padeci a morte de D. Plácida, nem a semidemência do
Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que
não houve míngua nem sobra, e conseguintemente que saí quite com a vida. E
imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com
um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: —
Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.”
Por fim, recomendamos que você faça boas leituras. Como estas, de Macha-
do de Assis, nosso maior escritor. Você vai aprender Português com os mestres
da língua portuguesa. E este é o maior deles. (fim).
18
Nem todo brasileiro
fala do mesmo jeito
1
22 • capítulo 1
Apresentação do capítulo
Neste primeiro capítulo, discutiremos algumas diferenças entre “fala” e “es-
crita” e ainda as noções de variação linguística e adequação da linguagem.
Compreender o funcionamento básico da linguagem é essencial para utilizá-la
adequadamente. Além disso, é preciso aprender a norma padrão, estabelecida
pelas gramáticas, pois é ela que é exigida em contextos formais, assim, apre-
sentaremos alguns casos básicos que geram muita dúvida ao escrever e falar.
Esperamos que você conheça passe a usar os aspectos da norma padrão nos
contextos em que eles são exigidos.
OBJETIVOS
• Conceber fala e escrita não como modalidades opostas, mas como um continuum de diferenças;
• Apreender a variação linguística e a adequação da linguagem;
• Analisar as diferenças entre a norma padrão, culta e coloquial;
• Conhecer alguns usos linguísticos recomendados pela norma padrão.
REFLEXÃO
Você se lembra?
Você já parou para refletir sobre o papel central que a língua ocupa em nossas vidas? Cer-
tamente sim, pois utilizamos a língua e a linguagem nas mais diversas situações. A todo mo-
mento, usamos a fala, a escrita, gestos, símbolos, sinais e outras formas nos comunicarmos.
Mas você já observou que a língua que usamos para falar em situações informais com nossos
amigos íntimos e parentes é diferente da língua que empregamos em situações formais, com
chefes no trabalho, em reuniões de negócio, pessoas com as quais não temos intimidade etc.
Reparou também que dependendo do canal onde nos comunicamos ou nos expressamos, a
nossa língua muda? A linguagem das redes sociais é distinta das encontradas em romances,
artigos de opinião veiculados em jornais etc. Toda essa reflexão envolve uma teoria básica
sobre língua, linguagem, gêneros textuais, adequação da linguagem e outros termos que
você conhecerá nesse capítulo.
capítulo 1 • 23
O professor Luís Cláudio Dallier, no livro Comunicação e Expressão, trata
da variação linguística. Ele a define como o fenômeno de uma língua que sofre
variações ao longo do tempo, do espaço geográfico, do espaço ou da estrutura
social, da situação ou do contexto de uso. Isso significa dizer que uma língua
está sujeita a reajustar-se no tempo e no espaço para satisfazer às necessidades
de expressão e de comunicação, individual ou coletiva, de seus usuários.
Podemos abordar a variação linguística sob diversas perspectivas. Se levar-
mos em conta uma situação de comunicação qualquer, teremos alguns ele-
mentos que vão apontar para variedades no modo de usar a língua.
Por exemplo:
• Quem fala?
• Para quem fala?
• Quando fala?
• Como fala?
• Por que fala?
Essas perguntas evidenciam que nossa fala pode variar de acordo com a si-
tuação ou com o contexto da comunicação, conforme as pessoas que nos ou-
vem, o assunto de que estamos tratando ou a intenção de nossa mensagem.
Outra forma de abordarmos a variação linguística é por meio da constata-
24 • capítulo 1
ção de variações no uso da língua em algumas dimensões:
a) Dimensão geográfica ou regional: um mesmo idioma pode variar de um
lugar para o outro.
Por exemplo, o Português tem variações nas nove nações lusófonas, isto
é, aquelas em que é a língua oficial ou uma das línguas oficiais: Angola, Bra-
sil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São
Tomé e Príncipe, Timor Leste. É muito falada também em regiões como Macau
(na China), Goa (na Índia), Galiza (na Espanha), sem contar regiões do Para-
guai, Uruguai e EUA.
Às vezes, há variações também dentro do próprio país em que o Português
é a língua oficial. Na escrita, que adota a norma culta, é mais uniforme, mas
na fala, não! O gaúcho fala de um modo que é só seu; o catarinense falado em
Florianópolis, uma ilha, não é o mesmo do resto do litoral, nem o da região ser-
rana, que é muito mas semelhante ao modo de falar do gaúcho. Os brasileiros
que habitam o Nordeste falam com variações, que se subdividem se os falantes
são baianos ou cearenses. Temos também o falar caipira, próprio do interior
do estado de São Paulo. Em Minas, a palavra “trem” tem tantos usos que num
dicionário do mineirês, seria um dos verbetes mais extensos.
Essas variações não atrapalham, antes enriquecem a língua portuguesa,
com um dia já foi enriquecida por árabes, judeus, espanhóis, índios, africanos,
alemães, franceses, italianos, poloneses etc. Por exemplo: quantos nomes de
pratos culinários são franceses ou de origem africana? Quantos nomes de rios,
lagoas e montanhas são indígenas? Quantas danças e canções foram trazidas
por imigrantes e ainda são cantadas na língua original? Quem já não ouviu a
expressão “mamma mia”, “porca miséria”
b) Dimensão social: a classe social dos falantes pode influenciar seu modo
de dizer as coisas. Por que acontece isso? Porque, por norma, quem está situa-
do do meio da pirâmide social para cima convive com quem fala de acordo com
a norma culta, uma vez que é maior a possibilidade de acesso ao ensino e aos
bens culturais (livros, bibliotecas, teatro, cinema etc.). E quem está na base da
pirâmide social lê pouco, não vai ao cinema, não vai ao teatro. não assina jornal
ou revista. Mas ainda assim sofre grande influência do rádio e da televisão, por
exemplo. E, mais recentemente, também da internet.
capítulo 1 • 25
Este cartum mostra um exemplo de variação na dimensão social.
c) Dimensão da idade: Pessoas de idades diferentes (crianças, jovens, adul-
tos e idosos) podem apresentar um modo variado de usar a língua. Veja o se-
guinte exemplo:
Situação: um jovem falando com seu pai ao telefone.
O jovem fala: Ô velho, já faz um tempão que sou dono do meu nariz... Sem-
pre batalhei, arrumei um trampo, dou um duro danado!
Me empresta o carango pr’eu sair com a gata hoje?
O pai responde: Só se você conseguir traduzir o que disse para uma lingua-
gem que eu gosto de ouvir de meu filho!
d) Dimensão do sexo: Em função de condicionamentos culturais e sociais,
homens e mulheres podem usar a língua ou se expressarem de forma diferente.
Vamos a um exemplo:
Homem: Cara, comprei uma camisa muito legal!
Mulher: Menina, comprei uma blusinha linda! Ela ficou “maaaaravilhosa”!
e) Dimensão da geração: Está relacionada com a variação histórica no uso
da língua. Veja o exemplo:
Jornal O Estado de S. Paulo, de 11 de março de 1900: “O dr. Vital Brasil se-
guiu hontem para Sorocaba, afim de obter aguas remanciais (...) para ser exami-
26 • capítulo 1
nada aqui bacteriologica e chimicamente, aver se pode servir o abastecimento
de agua daquela cidade.”
Jornal O Estado de S. Paulo, de 11 de março de 2000:
“O governador do Rio, Anthony Garotinho, disse ontem que a principal cau-
sa da morte de 132 toneladas de peixes e crustáceos na Lagoa Rodrigo de Freitas
(...) foi o excesso de peixes e não o lançamento clandestino de esgoto.”
1.1  Fala e escrita
É comum ouvirmos que a fala é informal e a escrita, formal, que a fala não é
planejada e que a escrita é planejada, que a fala é repleta de “erros” e a escrita
não, que a fala é contextualizada e a escrita, descontextualizada etc. Porém,
essa visão dicotômica não está correta, visto que há muitos gêneros textuais
de língua falada que seguem os preceitos da norma padrão, como por exem-
plo, uma conferência, as notícias veiculadas nos grandes telejornais, uma
sentença proferida por um juiz, um discurso político bem planejado, uma
mesa-redonda etc. Por outro lado, existem exemplos de escrita informal,
como bilhetes, recados em redes sociais e outros repletos de informalidades,
como bem explica Marcuschi (2010, p. 9):
Em certos casos, as proximidades entre fala e escrita são tão estreitas que parece
haver uma mescla, quase uma fusão de ambas, numa sobreposição bastante grande
tanto nas estratégias textuais como nos contextos de realização. Em outros, a distância
é mais marcada, mas não a ponto de se ter dois sistemas linguísticos ou duas línguas,
como se disse por muito tempo. Uma vez concebidas dentro de um quadro de inter-re-
lações, sobreposições, gradações e mesclas, as relações entre fala e escrita recebem
um tratamento mais adequado, permitindo aos usuários da língua maior conforto em
suas atividades discursivas.
Dessa forma, Marcuschi sugere uma distinção entre fala e escrita baseada
em suas características estruturais, tais como se evidencia no quadro a seguir:
FALA ESCRITA
Plano da oralidade (prática social interativa)
Plano do letramento (diversas práticas
da escrita)
capítulo 1 • 27
Usa aparato biológico do ser humano Usa “tecnologia” escrita
Sons articulados e significativos; aspec-
tos prosódicos, recursos expressivos
como gestualidade, movimentos do cor-
po, mímica etc.
Unidades alfabéticas, ideogramas ou
unidades iconográficas
Aspecto sonoro Aspecto gráfico
Quadro 2- Fala e escrita
(Elaborado pela autora com base em Marcuschi, 2010, p. 25-26)
Com base na concepção discursiva e no meio de produção, Marcuschi apre-
senta o seguinte gráfico:
GÊNEROSTEXTUAIS MEIODEPPRODUÇÃO
CONCEPÇÃO
DISCURSIVA
DOMÍNIO
Sonoro Gráfico Oral Escrita
Conversação
espontânea
X X A
Artigo científico X X D
Notícia de TV X X C
Entrevista publi-
cada na Veja
X X B
(MARCUSCHI, L. A., 2010, p. 40)
A produção do domínio “a” −conversação espontânea− é protótipo da orali-
dade por ser um texto tipicamente oral, visto que é sonoro e oral. A produção do
domínio “b” –entrevista publicada na revista Veja –não é um protótipo nem da
escrita nem da oralidade por ser um texto misto, já que é gráfico apesar de oral.
28 • capítulo 1
A produção do domínio “c” –notícia de TV –também não é um protótipo, é mis-
to, uma vez que é sonoro apesar de escrito. A produção do domínio “d” –artigo
científico− é protótipo da escrita, uma vez que é um texto tipicamente escrito,
pois é gráfico e escrito.
Marcuschi (201, p. 35) expressa claramente que: “(...) assim como a fala não
apresenta propriedades intrínsecas negativas, também a escrita não tem pro-
priedades intrínsecas privilegiadas.” O que ocorre é que na língua falada es-
pontaneamente com pessoas com quem se tem intimidade, é comum desvios
gramaticais, pausas, repetições, uso de marcadores conversacionais como “né,
então, aí”, tomadas de turnos, apagamento dos /r/ finais, elevação das vogais,
como “iscola”, “mininu”, dentre outras coloquialidades. Deve ficar claro que
não defendemos aqui uma ou outra modalidade, nem pregamos o uso da nor-
ma coloquial, apenas ressalvo a importância de que você, falante do idioma,
saiba que as conversas espontâneas comumente distanciam-se da norma pa-
drão, e que em contextos formais, mesmo que você empregue a língua falada,
precisará usar a norma padrão. Mas você conhece os conceitos: norma padrão,
norma coloquial, norma culta etc.?
1.2  Norma padrão, norma culta e norma popular
A Linguística discute o conceito de “norma” relacionando-o aos comportamen-
tos linguísticos dos indivíduos e ao sistema ideal de valores. Para você, estudan-
te de nível superior, as discussões aprofundadas sobre tais conceitos podem
não ser essenciais, mas é preciso conhecer a diferença entre os termos “norma
culta e norma padrão”, usados como sinônimos no cotidiano.
Lucchesi (2002, p. 64) explica-nos que a norma padrão diz respeito às for-
mas contidas e prescritas pelas gramáticas normativas, como por exemplo, a
recomendação para usar a mesóclise com verbos no futuro do presente do indi-
cativo ou no futuro do pretérito (Dar-te-ei um prêmio se acertar a resposta! Dar-
te-ia um prêmio se acertasse a resposta). Já a norma culta contém as “formas
efetivamente depreendidas da fala dos segmentos plenamente escolarizados,
ou seja, dos falantes com curso superior completo”. Com base nos estudos lin-
guísticos feitos sobre a língua falada culta em diversas regiões do país, como
o Projeto NURC, por exemplo, é possível afirmar que nem mesmo na norma
culta, isto é, nem mesmo os falantes escolarizados, ditos cultos, utilizam a nor-
ma padrão em todos os momentos. Todavia, é possível que os falantes cultos
capítulo 1 • 29
não sejam mal avaliados por não usarem a mesóclise porque esta norma não é
estigmatizada. Já um indivíduo que diga: “Nóis vai, nóis qué” provavelmente,
será mal avaliado e poderá sofrer preconceito linguístico porque a ausência de
concordância verbal é uma variante estigmatizada. Entre esses extremos, há a
norma coloquial, usada no dia-a-dia, nas conversas informais com amigos, nos
bilhetes, nas redes sociais etc. É considerada uma linguagem mais descontraí-
da, sem formalidades, com gírias, diminutivos afetivos, termos regionais, abre-
viações, contrações etc. Nela, são comuns construções como: “A gente qué” (ao
invés da construção padrão: “Nós queremos”); “As menina adora” (ao invés da
padrão: “As meninas adoram”), “O filme que eu assisti” (ao invés da padrão:
“O filme a que eu assisti”); “Me empresta o lápis” (ao invés de: “Empreste-me
o lápis”) etc. Poderíamos apresentar uma imensa lista com desvios da norma
padrão muito comuns na linguagem coloquial (também chamada de popular)
porque a norma padrão está mito distante do uso que os falantes fazem, em
geral, da língua. Porém, é importante frisar três aspectos aqui discutidos, explí-
cita ou implicitamente:
1) A língua varia de acordo com a situação e ouros fatores sociais como, es-
colaridade, sexo, nível social etc.;
2) Não se deve julgar, menosprezar ou demonstrar preconceito pelo modo
como alguém ala ou escreve, pois não há uma forma linguística superior à outra;
3) Embora não se deva julgar ou condenar alguém pelo uso linguístico que
faz, você deve saber utilizar a norma padrão nos contextos em que ela é exigida.
Diante das considerações feitas, serão apresentadas, ao fim desse capítulo,
algumas construções típicas da linguagem coloquial, mas que devem ser evita-
das em situações formais, quando a norma padrão é a esperada, como em con-
ferências, seminários, redações de vestibulares, notícias, reportagens, artigos
científicos, trabalhos acadêmicos, dentre outros.
1.3  Construções da norma padrão e da norma coloquial: correções
dos desvios mais comuns
As discussões sobre “adequação da linguagem” e norma padrão/culta/popular
ilustram a importância do conhecimento da norma padrão principalmente
nos contextos formais das relações profissionais. É preciso dominar as regras
gramaticais, saber conjugar os verbos, usar a concordância, os pronomes, a
acentuação, a pontuação, as preposições, dentre outros itens gramaticais im-
30 • capítulo 1
portantes tanto para uma boa redação como para uma boa interpretação textu-
al. Na linguagem cotidiana, cometemos muitos desvios em relação ao padrão,
entretanto, quanto for usar a língua em situações formais, precisará obedecer
aos preceitos do padrão.
	 A seguir, apresentam-se algumas construções típicas da linguagem po-
pular, coloquial, sobre as quais, muitos falantes têm dúvidas.
1- ONDE x AONDE
Utiliza-se “aonde” quando o verbo expressar movimento, como em: “Aonde
você vai?”; já quando indica permanência em um lugar, o correto é usar “onde”,
como em: “Onde você está?”. Veja outros exemplos:
O político sabia bem aonde queria chegar.
Orgulho-me muito do lugar vivo.
2- HÁ x A
Inúmeros estudantes cometem desvios do padrão usando “há” no lugar de “a”
e vice-versa. A regra é a seguinte:
a) usa-se “há” quando se flexiona o verbo “haver” no presente do indicativo,
para expressar “existência”, como em: “Há muitas pessoas nesse show.”
b) usa-se “há” quando se flexiona o verbo “haver” no presente do indicativo,
paraexpressar“tempojápassado”,comoem:“Háalgunsanos,visiteiestacidade.”
Atenção: Muitas pessoas usam a expressão “há anos atrás”, que é conside-
rada pleonasmo vicioso, pois o haver já indicaria passado, sendo desnecessário
usar “atrás”.
Veja o seguinte exemplo:
Já o uso de “A” ocorre nos seguintes casos:
a) Como artigo definido:
A professora explicou a matéria.
b) Como tempo futuro:
Ela fará o discurso daqui a 10 minutos.
Daqui a pouco, iniciaremos a reunião.
Se “daqui a pouco” indica futuro...não pode ser “há”.
capítulo 1 • 31
3- MAU x MAL
Nocotidiano,muitaspessoasusamindistintamente“malemau”,porém,“mau”
é adjetivo e “mal”, advérbio. Existe um famoso macete para não errar mais:
MAL é o oposto de BEM
MAU é o oposto de BOM
O macete é bom para decorar o uso, mas entenda o motivo, veja:
a) O homem mau ignora os outros.
b)	 O homem está passando mal.
Nesses dois exemplos, você percebe que em “O homem MAU”, a palavra
mau se refere ao substantivo homem. Logo, trata-se de um adjetivo, que é uma
classe gramatical que se flexiona em gênero, número e grau:
- Os homens maus (flexão de número);
- As mulheres más (flexão de gênero: masc./fem.)
- Os homens são tão maus quanto as mulheres (grau comparativo).
Já no exemplo B, mal é um advérbio, por isso não pode sofrer variação. Ob-
serve que se alterarmos o gênero e o número de “homem” em “b”, “mal” não
sofrerá nenhuma alteração:
- Os homens estão passando mal.
- As mulheres estão passando mal.
Obs.: A palavra MAL pode ser substantivo, por exemplo: “Este é um mal ne-
cessário”. Mas, nesse caso, haverá sempre um determinante qualquer, como o
artigo UM, e pode haver plural: “Os males da vida são muitos.”
4- MENOS x MENAS
A palavra “menos” também é muito usada como advérbio para indicar “menor
grau, menor intensidade e quantidade” e, como um advérbio, é invariável. Con-
tudo, no cotidiano, as pessoas a flexionam incorretamente em gênero e dizem:
“Comi menas comida hoje.”. Como “menos” é adverbio, é sempre invariável
e ficará sempre no singular, portanto, o correto, de acordo com o padrão é:
“Comi menos comida hoje.”
32 • capítulo 1
5- “AO ENCONTRO DE” E “DE ENCONTRO A”
As expressões “ao encontro de” e “de encontro a” são extremamente usadas por
jornalistas e até em conversas cotidianas. Mas muitos a utilizam da forma in-
correta! Para não errar, atente-se às normas de uso de tais locuções:1
Ao encontro de: significado “estar de acordo com”, “em direção a”, “favorá-
vel a”, “para junto de”. (está de acordo)
Exemplo: Meu texto está ao encontro do que o professor solicitou.
De encontro a: tem significado de “contra”, “em oposição a”, “para chocar-
se com”.
Exemplo: Meu texto está do encontro ao que o professor solicitou. (está em
desacordo)
A fim de ilustrar a importância da gramática para o sentido, apresentamos,
a seguir, uma frase de uma notícia que relata a iniciativa da prefeitura de São
Paulo de oferecer moradia, trabalho remunerado e treinamento profissional
a dependentes químicos da região conhecida como Cracolândia. Veja como o
conhecimento da língua é relevante para o sentido, pois se mudarmos apenas
uma preposição, o significado da frase altera-se totalmente:
“Dar trabalho e moradia aos usuários de drogas vai ao encontro do que a
Organização das Nações Unidas (ONU) defende para combater o vício” (Época,
13 jan. de 2014, p. 11).
O jornalista usou adequadamente a locução prepositiva “ao encontro do”,
transmitindo a ideia de acordo com o contexto da notícia, isto é, a ação rea-
lizada pela prefeitura de São Paulo está em conformidade com o que defen-
de a ONU. Entretanto, muitas pessoas não sabem quando devem utilizar “ao
encontro ou de encontro”. Imagine se a frase tivesse sido escrita dessa forma:
“Dar trabalho e moradia aos usuários de drogas vai de encontro do que a Or-
ganização das Nações Unidas (ONU) defende para combater o vício”. Usando
“de encontro”, o sentido da frase seria o oposto, a atitude da prefeitura de São
Paulo não estaria de acordo com o que defende a ONU. Percebeu a importância
do conhecimento da língua tanto para a interpretação como para a redação?
1 Todo o conteúdo desse item foi retirado de: CORDEIRO, M.B.G. Redação e Interpretação Textual. Estácio: Ribeirão
Preto, 2014, p. 28-29
capítulo 1 • 33
ATIVIDADE
Analise a linguagem usada no cartum a seguir para responder à questão 1.
1. Analise a variação linguística presente na tirinha e as considerações a seguir:
I. A situação retratada pode ilustrar a variação diatópica, referente às diferenças entre
as regiões no modo de falar (semântica, sintaxe, fonologia, morfologia), pois mostra uma
forma típica dos gaúchos se comunicarem.
II. A situação retratada pode ilustrar a variação diastrática, referente a fatores sociais,
tais como: faixa etária, profissão, estrato social, escolaridade, gênero etc., pois mostra os
dialetos diferentes de um garoto e de um senhor.
III. A situação retratada pode ilustrar a variação diafásica, referente ao contexto comu-
nicativo; a situação exigirá o uso de um modo de falar distinto, pois os falantes encon-
tram-se em uma situação informal e usam expressões populares.
IV. A linguagem usada constitui exemplo de vernáculo no sentido do uso específico,
regional que se faz da língua.
V. A linguagem usada constitui exemplo de vernáculo no sentido de língua nacional de
um país.
Estão corretas as afirmativas feitas em:
a) Todas, exceto V.
b) I e II, apenas.
c) I, II e III.
34 • capítulo 1
d) Todas, exceto IV.
e) II e IV, apenas.
2. Assinale a única alternativa que apresenta uma informação INCORRETA sobre o texto
oral e o escrito.
a) As diferenças entre fala e escrita ocorrem mediante uma gradação, esta é baseada no
meio de distribuição (sonoro ou gráfico) e na concepção discursiva (oral ou escrita) de
acordo com uma maior ou menor aproximação de uma ou de outra modalidade (gêneros
de fala e de escrita).
b) Gêneros orais espontâneos, como uma conversa informal, por exemplo, apresentam
relativa fragmentação: frases curtas e margeadas por pausas.
c) Nos gêneros orais espontâneos, como uma conversa informal, por exemplo, há pre-
sença explícita de hesitação, pois o planejamento e a execução são simultâneos.
d) Frases mais longas, encadeamento sintático complexo (coordenação e subordinação) são
características de gêneros escritos formais, como teses, dissertações, artigos científicos etc.
e) São características distintivas da fala e da escrita: A fala é contextualizada e a escrita,
descontextualizada. A fala não é planejada e a escrita é; a fala não é normatizada e a
escrita sim; a fala é pouco elaborada e a escrita é complexa.
Com base no cartum, responda às questões a seguir:
capítulo 1 • 35
3- Analise as informações sobre variação linguística, norma e uso em relação à fala da
personagem da charge.
I. A fala da personagem exemplifica a variação linguística, pois o protagonista usa uma
variante típica da linguagem informal: a abreviação do verbo “está” para “tá”.
II. Não há erro gramatical na charge, pois a informalidade expressa na fala do protago-
nista representa uma linguagem coloquial, na qual não se exige o cumprimento rigoroso
das normas gramaticais.
III. Há erro linguístico na charge, pois o cartunista deveria ter usado a norma padrão, já
que a charge é um gênero destinado principalmente a um público culto.
IV. Se o enunciado da charge fosse produzido em um pronunciamento oficial do Governo,
por exemplo, deveria ser usada uma linguagem culta, de acordo com o padrão.
Estão corretas as afirmações feitas em:
a) I e II, apenas.
b) I e III, apenas.
c) I e IV, apenas.
d) II e IV, apenas.
e) I, II e IV.
4- A fala da personagem ilustra, essencialmente, a(s) variação(ções):
a) Diatópica, apenas;
b) Diastrática e diafásica;
c) Diafásica, apenas;
d) Diastrática, penas.
e) Diafásica e diatópica.
5- Relacione os conceitos às respectivas nomenclaturas:
I. Norma culta;
II. Norma padrão;
III. Gramática Normativa;
IV. Prescrição;
V. Uso.
( ) Norma estabelecida pela tradição gramatical; prestígio social.
( ) O verbo deve concordar com o sujeito.
( ) O uso linguístico feito por falantes escolarizados que normalmente conhecem a nor-
ma padrão.
( ) Diminuiu os casos de fome no país.
36 • capítulo 1
( ) Pilar da norma padrão; deve ser trabalhada na universidade, pois é esperado que
falantes escolarizados a dominem nas situações de uso formais.
Assinale a alternativa que relaciona corretamente as nomenclaturas às suas definições:
a) (I); (II); (III); (IV); (V);
b) (V); (IV); (III); (II); (I);
c) (I); (IV); (II); (V); (III);
d) (II); (IV); (I); (V); (III);
e) (II); (III); (I); (V); (IV).
REFLEXÃO
Encerramos a reflexão deste capítulo com as palavras de Leite e Callou (2002), que, de
forma brilhante, explicam a íntima relação entre língua e sociedade, evidenciando o caráter
simbólico que os usos linguísticos apresentam.
É através da linguagem que uma sociedade se comunica e retrata o conhecimento e
entendimento de si própria e do mundo que a cerca. É na linguagem que se refletem a identi-
ficação e a diferenciação de cada comunidade e também inserção do indivíduo em diferentes
agrupamentos, estratos social, faixas etárias, gêneros, graus de escolaridade. A fala tem,
assim, um caráter emblemático, que indica se o falante é brasileiro ou português, francês ou
italiano, e mais ainda, sendo brasileiro, se é nordestino ou carioca. A linguagem também ofe-
rece pistas que permitem dizer se o locutor é homem ou mulher, se é jovem ou idoso, se tem
curso primário, universitário ou se é iletrado. E, por ser um parâmetro que permite classificar o
indivíduo de acordo com sua nacionalidade e naturalidade, sua condição econômica ou social
e seu grau de instrução, é frequentemente usada para discriminar e estigmatizar o falante. De
uma perspectiva estritamente linguística, não se justificam julgamentos de valor, uma vez que
a faculdade da linguagem é inata e comum a toda espécie humana. As diferenças existentes
entre as línguas representam apenas formas de atualização distintas dessa faculdade uni-
versal. Assim, para o linguista, todo homem é igual não só perante a lei, mas também frente
a sua capacidade linguística. (LEITE, Y.; CALLOU, D. 2002, p. 7-8)
capítulo 1 • 37
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BEZERRA, M. A.; SOUTO MAIOR, A. C.; BARROS, A. C. S. A gíria: do registro coloquial ao
registro formal. In: IV Congresso Nacional de Linguística e Filologia, Rio de Janeiro, v. I, nº 3,
p. 37, 2000.
CORDEIRO, M.B.G. Redação e Interpretação Textual. Estácio: Ribeirão Preto, 2015.
DALLIER, L.C. Comunicação e expressão. Ribeirão Preto: UNISEB, 2011, p. 53-56
LUCCHESI, D. Norma linguística e realidade social. In: BAGNO, M. (Org.) Linguística da nor-
ma. São Paulo: Loyola, 2002.
LEITE, Y.; CALLOU, D. Como falam os brasileiros. Rio de janeiro: Jorge Zahar, 2002.
NERY, Alfredina. A língua muda conforme situação. In: Pág.3 Pedagogia e comunicação.
Disponível em: http://educacao.uol.com.br/portugues/ ult1706u80.jhtm. Acessando em: 10
de dezembro de 2009.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. São Paulo: Cultrix, 2004.
SEVERO, R. T. Língua e linguagem como organizadoras do pensamento em Saussure e Ben-
veniste. Entretextos, Londrina, v. 13, n. 1, p. 80-96, jan./jun. 2013
No próximo capítulo
No próximo capítulo, apresentaremos algumas prescrições da norma padrão.
As recomendações apontadas referem-se a algumas noções básicas de sintaxe,
tais como a regência nominal e verbal; verbos transitivos e intransitivos e con-
cordância verbal e nominal. Vamos despertar a curiosidade e aprender?
38 • capítulo 1
ANOTAÇÕES
Noções básicas de
sintaxe: regência e
concordância
2
38 • capítulo 2
Apresentação do Capítulo
Neste capítulo, vamos expor algumas prescrições gramaticais, construções tí-
picas da norma padrão e que devem ser respeitadas em contextos formais. As
lições básicas da sintaxe, da estrutura da oração são o sujeito e o predicado, são
funções elementares em torno das quais se organiza o enunciado, e, portanto,
você deve conhecê-las. A regência e a concordância, lições apresentadas neste
capítulo, relacionam-se indiretamente ao sujeito e predicado e constituem te-
mas muito explorados em concursos. Tanto na comunicação oral, como na es-
crita, são itens de avaliação, indicando claramente se o emissor é escolarizado
ou não. Desejamos que vocês sejam bem avaliados tanto na fala como na escrita!
OBJETIVOS
•  Apresentar o conceito de sintaxe;
•  Ensinar a transitividade de alguns verbos;
•  Listar algumas regras de regência verbal e nominal e suas implicações semânticas;
•  Comparar o uso da regência e da concordância verbal na norma padrão e na linguagem
coloquial;
•  Elencar as regras gerais e alguns dos casos especiais de concordância nominal.
REFLEXÃO
Você se Lembra?
Você se recorda de ter ouvido alguma pessoa dizendo: “Assisti o filme”; “O livro
que preciso”, “As menina amam essa música”, “Segue os documentos anexo.” e
outras construções típicas da linguagem cotidiana? Certamente a resposta será
positiva. Mas você sabe que essas construções não obedecem à norma padrão?
De acordo com as regras da Gramática, o adequado seria: “Assisti ao filme”;
“O livro de que preciso”, “As meninas amam essa música”; “Seguem os docu-
mentos anexos.”. Para conhecer essas e outras regras, mergulhe no segundo
capítulo para usar corretamente as regras básicas de regência e concordância.
capítulo 2 • 39
1.1  Noções básicas da sintaxe
O termo “sintaxe” vem do grego “sintaxis” e significa: ordem, disposição. A es-
tudiosa Svobodová (2014) explica que além de estudar a organização das pa-
lavras na frase, a sintaxe analisa a relação lógica entre as palavras e as frases.
Na Gramática tradicional, a sintaxe estuda não só a ordem e disposição dos
termos, mas a relação entre eles e a função que desempenham na oração. A
classificação dos vocábulos de acordo com sua função sintática é dividida em
três grupos: os termos essenciais, os acessórios e os integrantes (SVOBODOVÁ,
2014, p. 7). Portanto, são estudadas funções sintáticas como as de sujeito, obje-
to, predicado, adjuntos adverbiais e adnominais, complemento nominal, tran-
sitividade verbal, regência, concordância etc. Neste capítulo, serão estudadas
apenas as três últimas funções sintáticas.
Você pode estar se perguntando por que estudar essa teoria, e a resposta é
rápida e simples: o capítulo 1 demonstrou claramente a necessidade de obe-
decer à norma padrão em contextos formais e as regras sintáticas do padrão
nem sempre são seguidas no uso coloquial da língua. Quem não segue as regras
sintáticas prescritas pela gramática comete um vício de linguagem denomina-
do “solecismo”. Bonito o nome né? Ele é mais comum do que se imagina na
linguagem usual, como por exemplo na frase: “Haviam dez alunos na sala”. En-
controu o solecismo? Não? Então, aprenda algumas regras básicas para evitar
tal vício de linguagem.
1.2  A transitividade verbal
Na Língua Portuguesa, os verbos são de diferentes tipos, podendo ter sentido
completo ou incompleto. São justamente os verbos o elemento central da ora-
ção, pois é em torno deles que se acrescentam complementos, adjuntos etc.
Dessa forma, o predicado é um elemento essencial da oração que traz a infor-
mação básica sobre o sujeito (ser de quem se declara algo) e é nele que se en-
contram os verbos.
40 • capítulo 2
“Chama-se predicação verbal o modo pelo qual o verbo forma o predicado.
Há verbos que, por natureza, têm sentido completo, podendo, por si mesmos,
constituir o predicado: são os verbos de predicação completa, denominados in-
transitivos” (CEGALLA, 2009, p. 335). Veja o exemplo a seguir:
O cão late.
Sujeito Predicado (Verbo Intransitivo: VI)
Quanto à transitividade, os verbos são classificados em:
a) Intransitivos: VI
b) Transitivos diretos: VTD
c) Transitivos indiretos: VTI
d) Bitransitivos: VTDI
http://www.alunosonline.com.br/portugues/transitividade-intransitividade-verbal.html
a) Verbos intransitivos: VI
Os verbos intransitivos são aqueles que contêm toda a significação do pre-
dicado sem a necessidade de qualquer complemento, basta apenas a presença
do sujeito, como em:
“Marcos caiu”; “A bomba explodiu”; “O bebê dormiu”; “O sorvete derreteu”;
“A estrela brilha” etc. Note que nesses exemplos, o verbo traz a significação es-
sencial, não havendo necessidade de um termo para completar a ideia central.
Caso o falante queira acrescentar alguma informação adicional (e não obriga-
capítulo 2 • 41
tória, portanto), pode acrescentar termos acessórios, como os adjuntos adver-
biais: “Marcos caiu ontem”; “A bomba explodiu rapidamente”; “O bebê dormiu
logo”; “O sorvete derreteu rapidamente”; “A estrela brilha intensamente” etc.
Segundo Kury (2002, p. 28-29), há três tipos de verbos intransitivos:
• Verbos de fenômenos naturais ou acidentais: chover, ventar, nascer, mor-
rer, acontecer, ocorrer, cair, surgir, acordar, dormir, brilhar, morrer, girar etc.
“Um acidente aconteceu”; “A criança acordou”; “O vaso caiu” etc.
• Certos verbos de ação que exprimem fatos causados por um agente capaz
de executá-los: ler, brincar, trabalhar, correr, voar, etc.
Exemplos:“Ascriançasbrincameospaistrabalham”;“Ospássarosvoam”etc.
• Verbos de movimento ou situação: chegar, vir, morar etc.
“O pai chegou”; “Ela mora aqui”.
Você, caro estudante, pode ser tentando a considerar estes últimos verbos
como transitivos, pois parece que precisam de um “complemento”. No entan-
to, os termos que podem acompanhá-los são acessórios, como os adjuntos ad-
verbiais de lugar e tempo, por exemplo. Assim, “Cheguei ao local”; o termo “ao
local” é adjunto adverbial e não objeto, isto é, não se classifica como comple-
mento verbal. Para frisar:
Verbos intransitivos expressam uma ideia completa, e por isso, não preci-
sam de complemento.
b) Verbos transitivos: são aqueles que necessitam de um complemento, isto
é, seu sentido é incompleto, precisando de um complemento, chamado “obje-
to”. Eles classificam-se em transitivos diretos e indiretos:
- Transitivos diretos (VTD): ligam-se ao complemento sem preposição obri-
gatória: amar, pegar, ver, derrubar, olhar, ter etc.
42 • capítulo 2
ATENÇÃO
Recorde as principais preposições: a – ante – até – após – com – contra – de – desde – em
– entre – para – por – perante – sem – sob – sobre
Você precisa saber diferenciar quando o “a” é artigo e quando é preposição:
Vi a menina caindo. (a=artigo)
Obedeço à professora (a=preposição)
O estudante deve saber ainda que há alguns verbos transitivos diretos que podem ser
usados com preposição por questões estilísticas e de sentido, e nesses casos, os objetos
serão considerados objetos diretos preposicionados, como em: “Amo a Deus, primeiramente!”
- Transitivos indiretos (VTI): ligam-se ao complemento obrigatoriamente
por meio de uma preposição: gostar (de); pensar (em); necessitar (de); consistir
(em); obedecer (a); responder (a); simpatizar/antipatizar (com) etc...
- Verbos transitivos diretos e indiretos (VTDI): transitam duas vezes e por
isso, têm um objeto direto e um indireto: Agradecer X a Y; Perdoar X a Y;e Pagar
X a Y; Dar X a Y etc.
ATENÇÃO
A transitividade verbal deverá ser analisada no contexto, pois pode mudar dependendo da
frase. Por exemplo, na frase: “Paguei a conta”, o verbo “pagar”, nesse contexto, é apenas VTD,
transita apenas uma vez e tem apenas o objeto direto.
capítulo 2 • 43
Conhecer a transitividade verbal, conforme as recomendações das gramáti-
cas tradicionais, é essencial para escrever melhor (adequado ao padrão) e tam-
bém para interpretar. Quando se conhece a transitividade, utiliza-se a regência
padrão, os pronomes adequadamente, a crase e outras normas. Quanto à inte-
pretação, é preciso saber que a regência dos verbos pode alterar seu sentido,
então, estude algumas regras de regência, a seguir.
1.3  A regência verbal
Cegalla (2008, p. 483) explica que a regência trata das “relações de dependência
que as palavras mantêm na frase”. Há dois tipos de regência: a verbal, que trata
das relações entre o verbo e seus complementos, e a nominal, que cuida dos
arranjos entre os nomes (substantivos e adjetivos) e os termos a eles ligados.
Exemplos:
a) É um homem propenso ao vício.
Adjetivo complemento
O adjetivo “propenso” é o termo regente, e “ao vício”, o termo regido. Como
o adjetivo é considerado um nome, trata-se de um caso de regência nominal.
b) Assistimos à peça de teatro.
Verbo complemento
O verbo “assistimos” é o termo regente, e “à peça”, o termo regido. Quando
a relação se dá entre o verbo e seu complemento, ocorre um caso de regência
verbal.
Assisti a peça de teatro (auxiliei) Assisti à peça de teatro (presenciei)
44 • capítulo 2
Se você escrever: “Assisti a peça de teatro”, sem o acento grave (indicativo de
“crase”), sua frase poderá ser entendida da seguinte forma: “Auxiliei a monta-
gem da peça de teatro”, e não “presenciei”.
Após a definição, Cegalla (2008, p. 490) orienta que a regência dos verbos
pode alterar seu sentido, como, por exemplo, em:
Aspirei o aroma das flores (VTD: sorver, absorver).
Aspirei ao sacerdócio (VTI: desejar, pretender).
Ele assistiu ao jogo (VTD: presenciar, ver).
O médico assistiu o enfermo (VTI: prestar assistência, ajudar).
Aqui, cabe a seguinte ressalva: Na linguagem informal, popular, “assistir
mesmo com o sentido de presenciar, tem sido empregado como VTD, isto é,
sem preposição. Assim, são comuns construções populares como: “Assisti o fil-
me”. Porém, quando se exigir o padrão, você já sabe que deve dizer ou escrever:
“Assisti ao filme”.
Olhe para ele (VTI: fixar o olhar).
Olhe por ele (VTI: cuidar, interessar-se).
Ele não precisou a quantia (VTD: informar com exatidão).
Ele não precisou da quantia (VTI: necessitar).
A cadela agradava o filhote (VTD: acariciar).
A música não agradou aos fãs (VTI: ser agradável).
Queria as férias logo (VTD: desejar).
A mãe quer aos filhos igualmente (VTI: ter afeto).
O atirador visou o alvo (VTD- apontar)
O professor visou meu caderno (VTD: pôr visto)
Muitos visam aos cargos melhores (VTI: desejar, ter em vista)
capítulo 2 • 45
Lembre-se disso: se você não usar “visar” com preposição,
o sentido do verbo será o de “dar visto, assinar”!
O juiz procedeu adequadamente (VI: agir).
Estas mercadorias procedem da China (VI seguido de adjunto adverbial de
origem, com preposição de: originar-se)
Seu argumento não procede (VI: ter fundamento)
O juiz procedeu ao julgamento. (VTI: dar sequência, dar continuidade)
Cegalla (2008, p. 490-515) recomenda a regência de vários verbos, dentre os
quais listamos os seguintes:2
a) Abdicar (desistir, renunciar ao poder, cargo, título, dignidade) pode ser
transitivo direto (TD) ou transitivo indireto (TI) (preposição de):
Exemplos:
- D. Pedro I abdicou em 1831 (VI).
- Não abdicarei a coroa (VTD).
- Não abdicarei de meus direitos (VTI).
b) Agradar (causar agrado, contentar, satisfazer, aprazer): usa-se, atualmen-
te, com mais frequência, com objeto indireto, sendo o sujeito da oração nome
de coisa (uma coisa agrada a alguém):
- A canção agradou ao público.
-Minha proposta não lhe agradou.
2 Todo o conteúdo desse item foi retirado de: CORDEIRO, M.B.G. Produção Textual I. Estácio: Ribeirão Preto, 2015
46 • capítulo 2
ATENÇÃO
Quando o sujeito da oração é nome de pessoa (alguém agrada alguém), é comum usar o
objeto direto, isto é, sem preposição:
- O pai agrada os filhos. [alguém agrada alguém]
- Procura agradá-lo de todas as formas.
*Usa-se o verbo como intransitivo na acepção de causar satisfação, ser
agradável ou atraente.
- A exibição do balé não agradou.
- Em certas horas, nada agrada tanto quanto uma boa música.
*Apresenta-se com a forma pronominal, no sentido de gostar:
- Leila agradou-se muito do rapaz.
- A virtude de que Deus mais se agrada é a humildade.
c) Ajudar (alguém, prestar ajuda, auxiliar a alguém) é TD:
- Antônio ajudava o pai.
- Nós os ajudaremos.
- Elas não queriam que as ajudássemos.
d) Aludir (fazer alusão, referir-se a) é VTI, isto é, constrói-se com OI:
- Na conversa, aludiu-se brevemente ao seu novo projeto.
- A que o senhor está aludindo?
- O jornal a que o ministro aludiu lhe fazia duras críticas.
ATENÇÃO
Não admite, como complemento, o pronome lhe, mesmo sendo VTI:
Como era melindroso, não aludi a ele (e não lhe aludi).
Aquela moça o destratara, mas ele nem sequer aludiu a ela.
Outros verbos TI também não admitem o complemento lhe(s), sendo, por isso, construí-
dos com as formas preposicionadas:
capítulo 2 • 47
Aspiro ao título. 	 Aspiro a ele.
Assistimos à festa. 	 Assistimos a ela.
Refiro-me a João. 	 Refiro-me a ele.
Recorri ao ministro. Recorri a ele.
Dependo de Deus. 	 Dependo dEle.
Prescindimos de armas. Prescindimos delas.
e) Ansiar (desejar ardentemente) é TI. Use-o com a preposição [por]:
-Ansiou por ir ao seu encontro.
- Ansiava por me ver fora de casa.
Ansiar (= causar mal-estar, angustiar) é TD:
- O cansaço ansiava o trabalhador.
O cansaço ansiava-o.
f) Atender (acolher ou receber alguém com atenção): VTD:
- O diretor atendeu os alunos.
- O médico sempre os atende bem.
- O tenista não atendeu o repórter.
* Atender (dar atenção a alguém, ouvir-lhe os conselhos, levar em conside-
ração o que alguém nos diz): VTI:
- Não atendera aos amigos, fora entregar-se a impostores.
* Atender (considerar, prestar atenção, levar em consideração, satisfazer):
- Atenda bem ao que lhe digo.
O Corpo de Bombeiros atendeu a doze pedidos de socorro.
g) Bater (dar pancadas): VTI:
- Os colegas mais fortes batiam nos mais fracos.
- Por que batiam no menino? Por que lhe batiam?
*Bater (bater a porta, fechar com força): VTD
- Furioso, bateu a porta.
48 • capítulo 2
*Bater (junto à porta para que abram ou atendam): VTI
- Bateram à porta e fui atender.
Ao estudar pela primeira vez a regência, pode parecer um assunto difícil, mas com o
tempo, assimilam-se os diferentes casos.
1.3.1  Regência verbal: variação, uso e norma gramatical
A regência é um fator que sofre variação, isto é, realiza-se de formas diferentes
no uso linguístico. Há o uso padrão, valorizado socialmente, e o uso coloquial,
que não segue as prescrições gramaticais. Para finalizar a regência, listamos
alguns desses casos.
a) Chegar com o sentido “atingir data ou local”.
- Na linguagem coloquial (informal), o verbo chegar é usado indevidamente
com a preposição em:
“Chegamos em casa; chegamos no porão”;
- Na linguagem padrão (formal), o verbo chegar deve ser usado com a pre-
posição “a”:
“Chegamos a casa; chegamos ao porão”.
b) Esquecer; esquecer-se/lembrar; lembrar-se:
- Na linguagem coloquial (informal), o verbo esquecer é usado indistinta-
mente com ou sem a preposição de:
“Esquecemos do calendário; esquecemos o calendário”;
- Na linguagem padrão (formal), o verbo esquecer deve ser usado sem a pre-
posição de quando não ocorre em sua forma pronominal:
“Esquecemos o calendário”;
Contudo, em sua forma nominal (esquecer-se), deve ser usado com a pre-
posição:
“Esquecemo-nos do calendário”.
capítulo 2 • 49
ATENÇÃO
“lembrar”/”lembrar-se” segue a mesma regra:
“Lembrei o compromisso de hoje.” OU: “Lembrei-me do compromisso de hoje.”
c) Implicar com o sentido de “causar”:
- Na linguagem coloquial (informal), muitos falantes usam o verbo impli-
car como transitivo indireto, como em: “O aumento da inflação implicou no
aumento dos preços.”
- Na linguagem padrão (formal), o verbo implicar deve ser usado sem a pre-
posição em:
“O aumento da inflação implicou o aumento dos preços.”
d) Namorar:
- Na linguagem coloquial (informal), muitos falantes usam o verbo namo-
rar como transitivo indireto, como em: “Namorei com Paulo por muitos anos.”
- Na linguagem padrão (formal), o verbo namorar deve ser usado sem a pre-
posição com:
“Namorei Paulo por muitos anos.”
e) Preferir:
- Na linguagem coloquial (informal), muitos falantes usam o verbo preferir
com a locução prepositiva “do que”; “Prefiro X do que Y”, como em: “Prefiro
assistir à TV do que ler.”
- Na linguagem padrão (formal), o verbo preferir deve ser usado sem a pre-
posição a:
“Prefiro assistir à TV a ler.”
f) Ir (para indicar direção):
- Na linguagem coloquial (informal), muitos falantes usam o verbo com a
preposição em: “Vou no mercado”; “Fui no shopping”.
- Na linguagem padrão (formal), devem ser regidos pelas preposições “a” e
“para”.
“Vou ao mercado./ Fui à feira.”
50 • capítulo 2
g) Obedecer e desobedecer:
Devem ser complementados pela preposição “a”, de acordo com a norma
padrão.
Obedeça à sinalização.
Obedecer aos pais sempre foi recomendado.
Cada vez mais vemos empresas desobedecendo ao código do consumidor.
h) Emprestar:
Deve ser usado somente no sentido de ceder por empréstimo, de acordo
com a norma padrão.
Emprestei os livros à diretora da empresa.
i) Morar e residir:
Devem ser empregados com a preposição “em”, antes do local de moradia
ou residência, de acordo com a norma padrão.
Moro na Avenida Marechal Rondom.
O diretor reside na Avenida Independência.
OBS.: expressões como residente e situado(a) devem ser seguidas da prepo-
sição “em”:
Amando Franco, residente na Avenida Central.
Casa Silva, situada na Avenida Quintino de Abreu
1.4  Regência nominal
É muito comum alguns termos regidos serem ligados aos regentes por meio
de preposições. Por isso, estudar regência é importante não só para saber se
determinado termo exige preposição ou não, mas também para conhecer qual
a preposição usada com tal termo regente e regido. A regência nominal estuda
a relação dos nomes (adjetivos, substantivos e até advérbios) com seus comple-
mentos.
Veja, agora, a lista de substantivos e adjetivos acompanhados das preposi-
ções mais usuais que Cegalla (2008, p. 487-488) apresenta. Note que, em alguns
casos, admite-se mais de uma preposição:
capítulo 2 • 51
Acessível a
Afável com, para com
Afeição a, por
Aflito com, por
Ansioso por, de
Atentatório a, de
Aversão a, para, por
Alheio a, de
Avesso a
Aliado a, com
Análogo a
Antipatia a, contra, por
Apto a, para
Atencioso com, para com
Imune a, de
Indulgente com, para com
Inerente a
Coerente com
Compaixão de, para com, por
Compatível com
Conforme a, com
Constituído de, com, por
Contente com, por, de, em
Contíguo a
Cruel com, para, para com
Curioso de, por
Desgostoso de, com
Desprezo a, de, por
Devoção a, para com, por
Devoto a, de
Dúvida acerca de, de, em, sobre
Empenho de, em, por
Fácil a, de, para
Falho de, em
Feliz com, de, em, por
Fértil de, em
Hostil a, para com
Junto a, com
Lento em
Pasmado de
Passível de
Peculiar a
Pendente de
Preferível a
Propício a
Próximo a, de
Rente a
Residente em
Respeito a, com, de, para com, por
Simpatia a, para com, por
Situado a, em, entre
Solidário com
Suspeito a, de
Último a, de, em
União a, com, entre
Versado em
Vizinho a, com, de
Observe também a regência de alguns advérbios: Longe de; Perto de; Parale-
lamente a; Relativamente a (PASQUALE & ULISSES, 1999, P. 527).
1.5  A variação linguística e a concordância verbal
Antes de estudarmos como a Gramática prescreve as regras gramaticais sobre
52 • capítulo 2
concordância, apresentaremos, a seguir, uma breve explicação sobre a variação
linguística, adaptada da dissertação de Gameiro (2005, p. 49-71): “A variação na
concordância verbal na língua falada na região central do Estado de São Paulo”.
Ao estudarmos determinada língua, é possível notar variações em todos
os níveis da estrutura linguística: no morfológico, no fonológico, no sintáti-
co e no lexical.
A língua portuguesa falada no Brasil, como todo sistema linguístico, com-
porta em seu interior a variação e, assim, está continuamente em processo de
mudança. Embora a mudança seja natural à língua, ela incomoda alguns gra-
máticos e também alguns falantes nativos mais tradicionais e conservadores,
que acreditam que a variação constitui uma “degradação” da língua.
As gramáticas tradicionais veiculam uma norma padrão em detrimento da
popular, porém, esta norma padrão vem se afastando do uso concreto da língua
em situações menos formais.
No início de sua instituição, a norma foi justificada devido à ameaça da lín-
gua grega ser corrompida pela língua dos “bárbaros”. Entretanto, atualmente,
nossa língua não está ameaçada de extinção, por isso, Neves (2003) questiona
o porquê das gramáticas continuarem a veicular padrões sem reflexão alguma
e desconsiderarem o uso real da língua. A autora ressalta que as preocupações
atuais para a organização das gramáticas são totalmente diferentes das que le-
varam à instituição da disciplina gramatical.
A partir de estudos científicos da linguagem, a língua foi desvinculada de
qualquer valor político, social ou até mesmo de beleza estética. Dentre estes es-
tudos, destacamos a Sociolinguística, que passou a considerar o social no uso
da linguagem, demonstrando que os diferentes usos são adequados a diferentes
situações contextos. Para Neves, “a existência de registros não-padrão constitui
garantia de eficiência de uso” (2003, p. 34). A Sociolinguística, através de seus
estudos variacionistas que consideram o uso vinculado a padrões, registros e
eficácia, passou a considerar a diferença como garantia de eficiência e não mais
como deficiência, como era vista antes. O “padrão” foi relativizado nos estudos
de conversação ao ser vinculado à modalidade de língua (falada ou escrita).
Desta mesma forma, a Linguística demonstrou que não se deve atribuir va-
lor a qualquer modalidade da língua. Porém, apesar de todo este avanço nos
estudos linguísticos, as gramáticas continuam a apresentar uma norma padrão
que cada vez mais se afasta do uso real, como é o caso, por exemplo, dos prono-
mes oblíquos, e outros. Embora muitos de nossos gramáticos, ou “os verdadei-
capítulo 2 • 53
ros”, como afirma Neves, saibam disto, tais descobertas da Linguística não são
comumente aproveitadas pela disciplina gramatical.
Não se reconhece que a variação linguística faz parte da essência da lingua-
gem, que toda língua possui uma “deriva” (mudança interna). Ao contrário,
mesmo a par de todas estas descobertas é comum o preconceito linguístico por
parte de cidadãos comuns e até mesmo de professores. Há sim, um padrão lin-
guístico que é valorizado socialmente, mas não há nada intrinsecamente que o
faça “melhor”, “mais bonito” ou “mais correto” que a variante não prestigiada.
Trata-se de uma questão sociocultural.
Na sociedade em geral e principalmente em países como o Brasil, por exem-
plo, as pessoas que têm maior acesso à cultura são as de maior poder econômi-
co e isto sustenta a vinculação entre valor social e valor intelectual. Tal concep-
ção é mais evidente nas concepções leigas sobre o assunto e não baseadas em
estudos científicos. Desta forma, para um leigo, conhecer a língua é conhecer
a norma padrão, saber o que é certo e o que é errado e, por isso, tais pessoas
vivem cobrando do professor de português o que se deve e o que não se deve
dizer/escrever.
Neves (2003, p.54) acredita que o leigo seja “a força de sustentação de um
padrão modelar” à medida em que busca esta norma por diferentes motivos.
Para nós, a mitificação do “bom uso da linguagem”, não é construída apenas
pelo povo, pelo falante em geral, mas sim também pelos gramáticos tradicio-
nais e as instituições que eles representam ou às quais se associam, como es-
cola e mídia, por exemplo. Acreditamos, que o leigo represente uma influência
importante para a sustentação de um padrão modelar à medida que tenta man-
tê-lo ou aprendê-lo, entretanto, motivos sociais, tais como um emprego ou uma
posição social levam-no a buscar este modelo, este padrão.
Quem fala corretamente, bonito, como muitos dizem, desperta um prestí-
gio social por parte de quem o ouve, por isto, muitos buscam manuais com re-
gras explícitas do que se pode e o que não se pode utilizar na linguagem visando
a diferentes objetivos. Assim, basta observarmos o sucesso de professores de
português que ditam regras na TV e nos jornais e a baixa popularidade dos lin-
guistas, cuja missão de registrar as formas em variação não é compreendida
por muitos intelectuais.
Devido a esta pressão social, mesmo ocupando posição central no dia-a-dia
das pessoas, a língua falada é vista de modo negativo, como o lugar do erro e
do antimodelo. Porém, é nela que observamos as alterações que a língua so-
54 • capítulo 2
fre através dos tempos. Parte da responsabilidade por esta visão deturpada da
modalidade falada deve-se à própria tradição dos estudos linguísticos, uma vez
que, até pouco tempo, a Linguística tomava como objeto de análise ou a escrita,
ou um modelo de fala idealizada, artificial e não a fala autêntica.
Lemle (in Sylvestre, 2001) ressalta que a heterogeneidade linguística é um
fato natural em uma comunidade tão extensa como a brasileira. A heteroge-
neidade linguística decorre da própria heterogeneidade social, geográfica e de
registro. A heterogeneidade geográfica é a variação entre comunidades linguís-
ticas localizadas em espaços fisicamente distantes entre si. Já a heterogeneida-
de social determina divergência linguística entre os subgrupos de uma comu-
nidade; neste nível, podemos destacar as seguintes variáveis:
- socioeconômica: classe baixa, média e alta;
- faixa etária: crianças, jovens, adultos e idosos;
- sexo: masculino e feminino;
- ocupação profissional: trabalhador braçal, profissões de nível médio e alto;
- desejo dos falantes em diferenciarem-se de outros grupos pelo uso de cer-
tas características linguísticas.
A variação no registro de uso ou nível de formalidade apresenta uma escala
que abarca desde o estilo mais formal até o mais coloquial. As variações que ocor-
rem na língua são mais frequentes em níveis informais, ou de baixa formalidade.
Podemos pensar, portanto, que o sistema linguístico sofre pressão de duas
forças que atuam no sentido da variedade e da unidade, no caso, fatores inter-
nos e externos em competição entre si. Segundo Mollica:
Esse princípio opera por meio da interação e da tensão de impulsos contrá-
rios, de tal modo que as línguas exibem inovações mantendo-se, contudo,
coesas: de um lado, o impulso à variação e possivelmente à mudança; de
outro, o impulso à convergência, base para a noção de comunidade lin-
guística, caracterizada por padrões estruturais e estilísticos (2003, p.12)..
Atualmente, vários fenômenos em variação no português brasileiro (dora-
vante PB) têm sido analisados pelos estudiosos, e um dos fatos que mais tem
nos despertado interesse é a variação na concordância verbal na fala informal
capítulo 2 • 55
das pessoas de um modo geral.
A questão da concordância é um dos fatos morfossintáticos da gramática
da fala brasileira que tem sido estudado com mais precisão e rigor entre os so-
ciolinguistas. Iniciados esses estudos por Naro (1977), com seu trabalho clássi-
co “The social and structural dimensions of a syntatic change” têm hoje Marta
Scherre como a sociolinguista que mais vem se dedicando ao assunto. (...)
A ausência de marcas formais de plural em alguns contextos constitui uma
variante estigmatizada, como em: “Nóis vai”, por exemplo. Embora a concor-
dância verbal (doravante CV) seja um fato estigmatizado, fato que poderia favo-
recer a aquisição da regra, quando o registro é informal e os contextos de apli-
cação da regra não são muito salientes, é interessante notar que até mesmo os
falantes ditos cultos deixam de utilizar a regra de concordância. Desta forma,
Ribeiro (2003, p.373) exemplificou alguns casos que não servem de indicadores
da norma culta ou popular, pois são realizados de um modo geral pelos falantes
brasileiros, não caracterizando uma ou outra variedade:
(1) Segue as blusas (CV)
(2) Vende-se casas (CV)
(3) Pega essas cadeira aí e coloca tudo ali, naquele lugar.3 (CN)
Por outro lado, apresenta casos em que a ausência de concordância caracte-
riza a norma popular:
(4) Minhas filha pequena saiu (CV e CN)
(5) Nós vai (CV)
(6) As folha cai no outono (CV e CN)
(7) Os meu filho (CN)
Partindo de exemplos de variações que ocorrem comumente na fala dos
brasileiros de um modo geral, tais como o uso do pronome tônico como obje-
to (encontrei ele), o caso das relativas (cortadora: Vi o artista que te falei ontem;
lembrete: Conheço uma moça que ela gosta só de música sertaneja) e outros, a
autora acredita que saindo das questões relacionadas à concordância, estes e ou-
tros fatores em variação que têm caracterizado a fala dos brasileiros, não podem
definir padrões de normas cultas e populares, já que tanto falantes cultos quanto
3 Este exemplo foi retirado de uma fala de um estudante universitário que fazia Letras.
56 • capítulo 2
não cultos utilizam estas construções em situações de menor formalidade.
Após essas considerações feitas por Gameiro (2005), esperamos que você te-
nha compreendido um pouco mais sobre a variação da língua e especificamen-
te, a variação na concordância verbal (CV). Você deve ter notado que embora a
variação seja comum e natural, é preciso conhecer o padrão para falar e escrever
adequadamente nos contextos em que ele é exigido, por isso, passamos a des-
crever as regras de concordância verbal estipuladas pela Gramática Normativa.
1.5.1  As regras de concordância verbal de acordo com as Gramáticas Normativas
Recorremos à Said Ali Said, em sua Gramática Histórica da Língua Portu-
guesa (1965) para definir a concordância verbal:
Consiste a concordância em dar a certas palavras flexionáveis as formas
de gênero, número ou pessoa correspondentes à palavra que no discurso
se referem (...) A concordância não é, como parece à primeira vista, uma
necessidade imperiosamente ditada pela lógica. Repetir num termo deter-
minante ou informativo o gênero ou pessoa já marcados no termo deter-
minado de que se fala, é antes de tudo uma redundância. (ALI, 1965, p.279
apud GAMEIRO, 2005, p.65).
Bechara é mais sucinto e explica que a concordância, em geral, consiste “em
se adaptar a palavra determinante ao gênero, número e pessoa da palavra de-
terminada” (2000, p.543 apud GAMEIRO, 2005, p. 65). Dizer que um termo está
em concordância com outro termo significaria, portanto, dizer que ambos es-
tão de acordo em alguns aspectos, que eles concordam.
Após a definição de concordância, expõem-se as duas regras categóricas en-
contradas nas principais gramáticas:
1.5.1.1  1- Sujeito simples:
Se o sujeito simples estiver no singular, o verbo vai acompanhá-lo. Se estiver no
plural, o verbo terá o mesmo número. Cegalla (2008) nos explica que isto ocorre
porque há uma íntima relação entre sujeito e predicado, já que “sujeito é o ser
de quem se declara algo e o predicado é a declaração que se refere ao sujeito”.
capítulo 2 • 57
Exemplos:
CONCEITO
Você, embora seja usado como pronome pessoal para se referir à segunda pessoa do dis-
curso, é considerado pela Gramática Tradicional como um “Pronome de tratamento, usado
quando alguém se dirige a outrem, a uma segunda pessoa, mas que obriga à concordância
com o verbo na terceira pessoa (ex.: você foi indelicado; vocês tenham juízo)”"você", in Dicio-
nário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/
voc%C3%AA [consultado em 27-04-2015].
1.5.1.2  2- Sujeito composto:
Se o sujeito apresentar mais de um núcleo, ou seja, for composto, o verbo irá
para o plural:
“João e Maria foram abandonados.”
“Patrões e empregados brigam na justiça”.
58 • capítulo 2
Além dessas duas regras categóricas, existem os chamados casos especiais,
em que pode ocorrer certa flexibilidade na obrigatoriedade, havendo, em al-
guns casos, a possibilidade de se utilizar as duas alternativas: o verbo pode ir
tanto para o singular quanto para o plural. Observemos alguns dos principais
casos que geram dúvidas.4
1.5.1.3  Verbo haver e fazer:
O verbo haver, quando indica existência ou acontecimento, é impessoal, deven-
do permanecer sempre na terceira pessoa do singular. Haver e fazer são impes-
soais quando indicam ideia de tempo, nesse caso, devem também permanecer
na terceira pessoa do singular.
Há informações que não podemos desprezar.
Havia três pessoas na reunião.
Deve ter havido sérios problemas com o computador.
Há anos não o procuro.
Faz anos que não o procuro.
Fazia dez anos que não encontrava aquele amigo.
1.5.1.4  Verbo e a partícula se:
Quando o “se” indica indeterminação do sujeito, o verbo fica na terceira pessoa
do singular. Quando o “se” é pronome apassivador, o verbo concorda com o
sujeito da oração.
4
Este exemplo foi retirado de uma fala de um estudante universitário que fazia Letras.
Aos sábados, assiste-se a um movimento enorme no comércio.
Precisa-se de gerentes.
Confia-se, equivocadamente, em pessoas que impressionam apenas pela
aparência.
Construiu-se um novo centro de tecnologia.
Construíram-se dois centros tecnológicos na cidade.
Alugam-se casas.
Aluga-se casa.
1.5.1.5  Sujeitos formados por expressões partitivas
Quando o sujeito é constituído por “a maioria de”, “grande parte de”, “a maior
parte de” ou “grande número de” mais o nome no plural, teremos a possibilida-
capítulo 2 • 59
de de colocar o verbo no singular ou plural.
A maior parte dos trabalhadores aceitou a orientação do sindicato.
A maior parte dos trabalhadores aceitaram a orientação do sindicato.
1.5.1.6  Expressão mais de um
O verbo deve ficar no singular. Apenas quando a expressão “mais de um” vier
repetida ou houver o sentido de reciprocidade é que o verbo irá ao plural.
Mais de um aluno faltou à aula.
As autoridades afirmaram que mais de um quarteirão está interditado.
Mais de um policial, mais de um bandido, foram mortos.
1.5.1.7  Nomes no plural
Títulos ou nomes de lugares precedidos de artigo no plural: o verbo irá ao plural.
Os Lusíadas representam a grandeza da literatura portuguesa.
Os Estados Unidos enviaram mais soldados ao Afeganistão.
As Minas Gerais se destacam por cidades repletas de arte barroca.
Porém, se o nome não estiver acompanhado do artigo ou outra expressão
determinada, o verbo ficará no singular:
Estados Unidos enviou um relatório à ONU.
1.5.1.8  Sujeitos formados por expressões que indicam porcentagem: o verbo
deve concordar com o substantivo.
O gerente afirmou que 20% das mercadorias não foram remarcadas.
A oposição insiste em afirmar que 5% do orçamento sofreu alterações de
última hora.
A secretaria afirmou que 1% dos alunos faltaram à prova.
1% da população do município não tem acesso à água tratada.
ATENÇÃO
Se a expressão que indica porcentagem não for seguida de substantivo, o verbo deve con-
cordar com o número.
10% reprovam o governo.
1% aceitou a proposta.
60 • capítulo 2
1.5.1.9  Verbo ser indicando horas
O verbo ser, nas expressões que indicam tempo, concorda com a expressão
numérica mais próxima.
É uma hora.
São três horas.
Já é meio-dia.
São dez para o meio-dia.
Hoje são vinte de fevereiro.
Hoje é dia vinte de fevereiro.
Ao responder a pergunta: “Que horas são?”, o falante também deve observar
a concordância:
É uma hora ou São três horas.
1.5.1.10  Casos especiais do verbo ser:4
a) Quando o verbo ser é acompanhado de muito, pouco, bastante, suficiente
etc., usa-se apenas é, independentemente do número em que estiver o sujeito:
Dois dias é pouco tempo para aprender tudo isso.
Três mil reais é bastante por esta casa.
Vinte quilos é muito para uma criança carregar.
Dois metros de tecido é suficiente para fazer o seu terno.
Seis é demais para fazer o trabalho.
Há quem ache estranha a concordância do verbo ser em construções como:
Seis é demais. E acham que deveria ser: Seis são demais. A concordância no sin-
gular, embora estranha, acontece normalmente com as expressões que deno-
tam excesso (é demais), suficiência (é bastante), insuficiência (é pouco), etc. É
mais um caso de concordância ideológica: o sujeito, embora no plural, guarda
a ideia coletiva e o verbo no singular sintoniza com essa ideia.
b) Quando o sujeito for um dos pronomes tudo, o que, isto, isso, ou aquilo,
o verbo ser concordará com seu predicativo:
Tudo eram hipóteses.
4 Essas regras de especiais de concordância com o verbo “ser” foram retiradas do blog de Daniel Vícola: http://
gramaticadoprofessordaniel.blogspot.com.br/search?q=concord%C3%A2ncia+verbal
capítulo 2 • 61
Aquilo eram sintomas graves.
O que atrapalha bastante são as discussões.
ATENÇÃO
O verbo ser fica no singular quando o predicativo é formado de dois núcleos singulares:
Tudo o mais é saudade e silêncio.
c) Quando o sujeito e o predicativo são nomes de coisas e pertencem a núme-
ros diferentes, o verbo ser concorda, de preferência, com o que está no plural:
A cama (coisa) são umas palhas (coisa).
Essas vaidades são o seu segredo.
A causa eram seus projetos.
A vida não são rosas.
O sujeito ou predicativo sendo nome de pessoa ou pessoa, a concordância
se faz com a pessoa:
O homem é cinzas.
Paulo era só problemas.
Você é suas decisões.
Seu orgulho eram os velhinhos.
d) Quando um dos dois termos da frase – sujeito ou predicativo – for um
pronome pessoal, o verbo ser concordará com este pronome:
Todo eu era olhos e coração.
Nas minhas terras, o rei sou eu.
1.6  A concordância nominal
A concordância, de acordo com Cegalla (2008, p. 438), é um princípio sintático
em que palavras dependentes harmonizam-se, nas suas flexões (de gênero e nú-
mero), com as palavras de que dependem. A concordância nominal diz respeito
à adaptação de numerais, adjetivos, artigos e pronomes aos substantivos aos a
que se referem, como em:
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA
LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

59118853 questoes-de-variantes-linguisticas
59118853 questoes-de-variantes-linguisticas59118853 questoes-de-variantes-linguisticas
59118853 questoes-de-variantes-linguisticas
Olivier Fausti Olivier
 
APOSTILA DA PRIMEIRA SEMANA CURSO. LÍNGUA PORTUGUESA. PROFESSOR: ANTÔNIO FERN...
APOSTILA DA PRIMEIRA SEMANA CURSO. LÍNGUA PORTUGUESA. PROFESSOR: ANTÔNIO FERN...APOSTILA DA PRIMEIRA SEMANA CURSO. LÍNGUA PORTUGUESA. PROFESSOR: ANTÔNIO FERN...
APOSTILA DA PRIMEIRA SEMANA CURSO. LÍNGUA PORTUGUESA. PROFESSOR: ANTÔNIO FERN...
Antônio Fernandes
 
ApresentaçãO Para DéCimo Ano, Aula 91 92
ApresentaçãO Para DéCimo Ano, Aula 91 92ApresentaçãO Para DéCimo Ano, Aula 91 92
ApresentaçãO Para DéCimo Ano, Aula 91 92
luisprista
 
Apresentação para décimo ano de 2014 5, aula 129-130
Apresentação para décimo ano de 2014 5, aula 129-130Apresentação para décimo ano de 2014 5, aula 129-130
Apresentação para décimo ano de 2014 5, aula 129-130
luisprista
 
Apresentação para décimo ano de 2014 5, aula 9-10
Apresentação para décimo ano de 2014 5, aula 9-10Apresentação para décimo ano de 2014 5, aula 9-10
Apresentação para décimo ano de 2014 5, aula 9-10
luisprista
 
Apresentação para décimo ano de 2014 5, aula 87-88
Apresentação para décimo ano de 2014 5, aula 87-88Apresentação para décimo ano de 2014 5, aula 87-88
Apresentação para décimo ano de 2014 5, aula 87-88
luisprista
 
Apresentação para décimo primeiro ano de 2012 3, aula 23-24
Apresentação para décimo primeiro ano de 2012 3, aula 23-24Apresentação para décimo primeiro ano de 2012 3, aula 23-24
Apresentação para décimo primeiro ano de 2012 3, aula 23-24
luisprista
 

Mais procurados (17)

59118853 questoes-de-variantes-linguisticas
59118853 questoes-de-variantes-linguisticas59118853 questoes-de-variantes-linguisticas
59118853 questoes-de-variantes-linguisticas
 
Ingles vol5
Ingles vol5Ingles vol5
Ingles vol5
 
Ingles vol1
Ingles vol1Ingles vol1
Ingles vol1
 
Apostila cursinho estado apostila 1
Apostila cursinho estado apostila 1Apostila cursinho estado apostila 1
Apostila cursinho estado apostila 1
 
APOSTILA DA PRIMEIRA SEMANA CURSO. LÍNGUA PORTUGUESA. PROFESSOR: ANTÔNIO FERN...
APOSTILA DA PRIMEIRA SEMANA CURSO. LÍNGUA PORTUGUESA. PROFESSOR: ANTÔNIO FERN...APOSTILA DA PRIMEIRA SEMANA CURSO. LÍNGUA PORTUGUESA. PROFESSOR: ANTÔNIO FERN...
APOSTILA DA PRIMEIRA SEMANA CURSO. LÍNGUA PORTUGUESA. PROFESSOR: ANTÔNIO FERN...
 
Questões militares _extra__acentuacao__estrutura__ortografia - verbo
Questões militares _extra__acentuacao__estrutura__ortografia - verboQuestões militares _extra__acentuacao__estrutura__ortografia - verbo
Questões militares _extra__acentuacao__estrutura__ortografia - verbo
 
AULÃO - PRIMEIRO ANO
AULÃO - PRIMEIRO ANOAULÃO - PRIMEIRO ANO
AULÃO - PRIMEIRO ANO
 
ApresentaçãO Para DéCimo Ano, Aula 91 92
ApresentaçãO Para DéCimo Ano, Aula 91 92ApresentaçãO Para DéCimo Ano, Aula 91 92
ApresentaçãO Para DéCimo Ano, Aula 91 92
 
Esperanto sem mestre
Esperanto sem mestreEsperanto sem mestre
Esperanto sem mestre
 
Apresentação para décimo ano de 2014 5, aula 129-130
Apresentação para décimo ano de 2014 5, aula 129-130Apresentação para décimo ano de 2014 5, aula 129-130
Apresentação para décimo ano de 2014 5, aula 129-130
 
Apresentação para décimo ano de 2014 5, aula 9-10
Apresentação para décimo ano de 2014 5, aula 9-10Apresentação para décimo ano de 2014 5, aula 9-10
Apresentação para décimo ano de 2014 5, aula 9-10
 
Apresentação para décimo ano de 2014 5, aula 87-88
Apresentação para décimo ano de 2014 5, aula 87-88Apresentação para décimo ano de 2014 5, aula 87-88
Apresentação para décimo ano de 2014 5, aula 87-88
 
Ingles vol3
Ingles vol3Ingles vol3
Ingles vol3
 
Jornal 3 EDIÇÃO
Jornal 3 EDIÇÃOJornal 3 EDIÇÃO
Jornal 3 EDIÇÃO
 
Apresentação para décimo primeiro ano de 2012 3, aula 23-24
Apresentação para décimo primeiro ano de 2012 3, aula 23-24Apresentação para décimo primeiro ano de 2012 3, aula 23-24
Apresentação para décimo primeiro ano de 2012 3, aula 23-24
 
Sala de tecnologia I Consulesa
Sala de tecnologia I ConsulesaSala de tecnologia I Consulesa
Sala de tecnologia I Consulesa
 
Prova FASE
Prova FASEProva FASE
Prova FASE
 

Semelhante a LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA

Aula 08 de linguagens e códigos e suas tecnologias
Aula 08 de linguagens e códigos e suas tecnologiasAula 08 de linguagens e códigos e suas tecnologias
Aula 08 de linguagens e códigos e suas tecnologias
Homero Alves de Lima
 
Inglês para Leitura Instrumental.pdf
Inglês para Leitura Instrumental.pdfInglês para Leitura Instrumental.pdf
Inglês para Leitura Instrumental.pdf
Jonas185568
 
Variação lingüística e preconceito lingüístico..ppt
Variação lingüística e preconceito lingüístico..pptVariação lingüística e preconceito lingüístico..ppt
Variação lingüística e preconceito lingüístico..ppt
lucasicm
 
Livro: Português é legal
Livro: Português é legalLivro: Português é legal
Livro: Português é legal
Diogo Nascimento
 
Aula 02 de linguagens e códigos e suas tecnologias
Aula 02 de linguagens e códigos e suas tecnologiasAula 02 de linguagens e códigos e suas tecnologias
Aula 02 de linguagens e códigos e suas tecnologias
Homero Alves de Lima
 
Linguagem, língua e variabilidade versão resumida
Linguagem, língua e variabilidade versão resumidaLinguagem, língua e variabilidade versão resumida
Linguagem, língua e variabilidade versão resumida
Raquel Souza
 

Semelhante a LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA (20)

livro proprietario - lingua portuguesa.pdf
livro proprietario - lingua portuguesa.pdflivro proprietario - lingua portuguesa.pdf
livro proprietario - lingua portuguesa.pdf
 
Portuguesvol7
Portuguesvol7Portuguesvol7
Portuguesvol7
 
Aula 08 de linguagens e códigos e suas tecnologias
Aula 08 de linguagens e códigos e suas tecnologiasAula 08 de linguagens e códigos e suas tecnologias
Aula 08 de linguagens e códigos e suas tecnologias
 
Variação e preconceituos linguístico
Variação e preconceituos linguísticoVariação e preconceituos linguístico
Variação e preconceituos linguístico
 
Datashow
DatashowDatashow
Datashow
 
Inglês para Leitura Instrumental.pdf
Inglês para Leitura Instrumental.pdfInglês para Leitura Instrumental.pdf
Inglês para Leitura Instrumental.pdf
 
Pdf apostilha
Pdf apostilhaPdf apostilha
Pdf apostilha
 
Newsletter Smart Cursos Janeiro 2011
Newsletter Smart Cursos  Janeiro 2011Newsletter Smart Cursos  Janeiro 2011
Newsletter Smart Cursos Janeiro 2011
 
Variação lingüística e preconceito lingüístico..ppt
Variação lingüística e preconceito lingüístico..pptVariação lingüística e preconceito lingüístico..ppt
Variação lingüística e preconceito lingüístico..ppt
 
Variação lingüística e preconceito lingüístico..ppt
Variação lingüística e preconceito lingüístico..pptVariação lingüística e preconceito lingüístico..ppt
Variação lingüística e preconceito lingüístico..ppt
 
Variação lingüística e preconceito lingüístico..ppt
Variação lingüística e preconceito lingüístico..pptVariação lingüística e preconceito lingüístico..ppt
Variação lingüística e preconceito lingüístico..ppt
 
A importância do português.pptx
A importância do português.pptxA importância do português.pptx
A importância do português.pptx
 
APOSTILA V ATIVIDADES DOMICILIARES.pdf
APOSTILA V ATIVIDADES DOMICILIARES.pdfAPOSTILA V ATIVIDADES DOMICILIARES.pdf
APOSTILA V ATIVIDADES DOMICILIARES.pdf
 
Livro: Português é legal
Livro: Português é legalLivro: Português é legal
Livro: Português é legal
 
Aula 02 de linguagens e códigos e suas tecnologias
Aula 02 de linguagens e códigos e suas tecnologiasAula 02 de linguagens e códigos e suas tecnologias
Aula 02 de linguagens e códigos e suas tecnologias
 
Trabalho de fundamentos e metod. lingua portuguesa
Trabalho de fundamentos e metod. lingua portuguesaTrabalho de fundamentos e metod. lingua portuguesa
Trabalho de fundamentos e metod. lingua portuguesa
 
Linguagem, língua e variabilidade versão resumida
Linguagem, língua e variabilidade versão resumidaLinguagem, língua e variabilidade versão resumida
Linguagem, língua e variabilidade versão resumida
 
Produção de paráfrase (1)
Produção de paráfrase (1)Produção de paráfrase (1)
Produção de paráfrase (1)
 
Atividade podcast cl_ef_em_estrangeirismos
Atividade podcast cl_ef_em_estrangeirismosAtividade podcast cl_ef_em_estrangeirismos
Atividade podcast cl_ef_em_estrangeirismos
 
Atividade podcast cl_ef_em_estrangeirismos
Atividade podcast cl_ef_em_estrangeirismosAtividade podcast cl_ef_em_estrangeirismos
Atividade podcast cl_ef_em_estrangeirismos
 

Mais de Os Fantasmas !

Mais de Os Fantasmas ! (20)

Resposta dos Exercícios para Fixar Capítulo 01 à Capítulo 04 Livro Algoritmos...
Resposta dos Exercícios para Fixar Capítulo 01 à Capítulo 04 Livro Algoritmos...Resposta dos Exercícios para Fixar Capítulo 01 à Capítulo 04 Livro Algoritmos...
Resposta dos Exercícios para Fixar Capítulo 01 à Capítulo 04 Livro Algoritmos...
 
Exercício proposto em Algoritmos do Cotidiano _ Capítulo 01 Livro Algoritmos ...
Exercício proposto em Algoritmos do Cotidiano _ Capítulo 01 Livro Algoritmos ...Exercício proposto em Algoritmos do Cotidiano _ Capítulo 01 Livro Algoritmos ...
Exercício proposto em Algoritmos do Cotidiano _ Capítulo 01 Livro Algoritmos ...
 
Livro Algoritmos e Programação de Computadores Autores JR., Dilermando
Livro Algoritmos e Programação de Computadores Autores JR., DilermandoLivro Algoritmos e Programação de Computadores Autores JR., Dilermando
Livro Algoritmos e Programação de Computadores Autores JR., Dilermando
 
Links Interessantes Livro Algoritmos e Programação de Computadores Autores JR...
Links Interessantes Livro Algoritmos e Programação de Computadores Autores JR...Links Interessantes Livro Algoritmos e Programação de Computadores Autores JR...
Links Interessantes Livro Algoritmos e Programação de Computadores Autores JR...
 
Cap15 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...
Cap15 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...Cap15 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...
Cap15 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...
 
Cap14 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...
Cap14 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...Cap14 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...
Cap14 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...
 
Cap13 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...
Cap13 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...Cap13 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...
Cap13 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...
 
Cap09 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...
Cap09 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...Cap09 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...
Cap09 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...
 
Cap08 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...
Cap08 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...Cap08 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...
Cap08 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...
 
Cap07 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...
Cap07 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...Cap07 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...
Cap07 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...
 
Cap06 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...
Cap06 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...Cap06 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...
Cap06 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...
 
Cap05 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...
Cap05 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...Cap05 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...
Cap05 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...
 
Cap04 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...
Cap04 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...Cap04 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...
Cap04 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...
 
Cap03 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...
Cap03 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...Cap03 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...
Cap03 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...
 
Cap02 - Respostas dos Exercícios Propostos Cap01 - Respostas dos Exercícios P...
Cap02 - Respostas dos Exercícios Propostos Cap01 - Respostas dos Exercícios P...Cap02 - Respostas dos Exercícios Propostos Cap01 - Respostas dos Exercícios P...
Cap02 - Respostas dos Exercícios Propostos Cap01 - Respostas dos Exercícios P...
 
Cap01 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...
Cap01 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...Cap01 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...
Cap01 - Respostas dos Exercícios Propostos Livro Algoritmos e Programação de ...
 
Capítulo 16 Livro Algoritmos e Programação de Computadores Autores JR., Diler...
Capítulo 16 Livro Algoritmos e Programação de Computadores Autores JR., Diler...Capítulo 16 Livro Algoritmos e Programação de Computadores Autores JR., Diler...
Capítulo 16 Livro Algoritmos e Programação de Computadores Autores JR., Diler...
 
Capítulo 15 Livro Algoritmos e Programação de Computadores Autores JR., Diler...
Capítulo 15 Livro Algoritmos e Programação de Computadores Autores JR., Diler...Capítulo 15 Livro Algoritmos e Programação de Computadores Autores JR., Diler...
Capítulo 15 Livro Algoritmos e Programação de Computadores Autores JR., Diler...
 
Capítulo 14 Livro Algoritmos e Programação de Computadores Autores JR., Diler...
Capítulo 14 Livro Algoritmos e Programação de Computadores Autores JR., Diler...Capítulo 14 Livro Algoritmos e Programação de Computadores Autores JR., Diler...
Capítulo 14 Livro Algoritmos e Programação de Computadores Autores JR., Diler...
 
Capítulo 13 Livro Algoritmos e Programação de Computadores Autores JR., Diler...
Capítulo 13 Livro Algoritmos e Programação de Computadores Autores JR., Diler...Capítulo 13 Livro Algoritmos e Programação de Computadores Autores JR., Diler...
Capítulo 13 Livro Algoritmos e Programação de Computadores Autores JR., Diler...
 

Último

Expansão Marítima- Descobrimentos Portugueses século XV
Expansão Marítima- Descobrimentos Portugueses século XVExpansão Marítima- Descobrimentos Portugueses século XV
Expansão Marítima- Descobrimentos Portugueses século XV
lenapinto
 
ATIVIDADE 3 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 3 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024ATIVIDADE 3 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 3 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
azulassessoria9
 
Sistema articular aula 4 (1).pdf articulações e junturas
Sistema articular aula 4 (1).pdf articulações e junturasSistema articular aula 4 (1).pdf articulações e junturas
Sistema articular aula 4 (1).pdf articulações e junturas
rfmbrandao
 
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
PatriciaCaetano18
 
O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...
O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...
O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...
azulassessoria9
 

Último (20)

Slides 9º ano 2024.pptx- Geografia - exercicios
Slides 9º ano 2024.pptx- Geografia - exerciciosSlides 9º ano 2024.pptx- Geografia - exercicios
Slides 9º ano 2024.pptx- Geografia - exercicios
 
Expansão Marítima- Descobrimentos Portugueses século XV
Expansão Marítima- Descobrimentos Portugueses século XVExpansão Marítima- Descobrimentos Portugueses século XV
Expansão Marítima- Descobrimentos Portugueses século XV
 
Educação Financeira - Cartão de crédito665933.pptx
Educação Financeira - Cartão de crédito665933.pptxEducação Financeira - Cartão de crédito665933.pptx
Educação Financeira - Cartão de crédito665933.pptx
 
GUIA DE APRENDIZAGEM 2024 9º A - História 1 BI.doc
GUIA DE APRENDIZAGEM 2024 9º A - História 1 BI.docGUIA DE APRENDIZAGEM 2024 9º A - História 1 BI.doc
GUIA DE APRENDIZAGEM 2024 9º A - História 1 BI.doc
 
ATIVIDADE 3 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 3 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024ATIVIDADE 3 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
ATIVIDADE 3 - DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA - 52_2024
 
P P P 2024 - *CIEJA Santana / Tucuruvi*
P P P 2024  - *CIEJA Santana / Tucuruvi*P P P 2024  - *CIEJA Santana / Tucuruvi*
P P P 2024 - *CIEJA Santana / Tucuruvi*
 
Sistema articular aula 4 (1).pdf articulações e junturas
Sistema articular aula 4 (1).pdf articulações e junturasSistema articular aula 4 (1).pdf articulações e junturas
Sistema articular aula 4 (1).pdf articulações e junturas
 
Tema de redação - As dificuldades para barrar o casamento infantil no Brasil ...
Tema de redação - As dificuldades para barrar o casamento infantil no Brasil ...Tema de redação - As dificuldades para barrar o casamento infantil no Brasil ...
Tema de redação - As dificuldades para barrar o casamento infantil no Brasil ...
 
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 1)
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 1)Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 1)
Sopa de letras | Dia da Europa 2024 (nível 1)
 
apostila filosofia 1 ano 1s (1).pdf 1 ANO DO ENSINO MEDIO . CONCEITOSE CARAC...
apostila filosofia 1 ano  1s (1).pdf 1 ANO DO ENSINO MEDIO . CONCEITOSE CARAC...apostila filosofia 1 ano  1s (1).pdf 1 ANO DO ENSINO MEDIO . CONCEITOSE CARAC...
apostila filosofia 1 ano 1s (1).pdf 1 ANO DO ENSINO MEDIO . CONCEITOSE CARAC...
 
MESTRES DA CULTURA DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
MESTRES DA CULTURA DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfMESTRES DA CULTURA DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
MESTRES DA CULTURA DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
 
Novena de Pentecostes com textos de São João Eudes
Novena de Pentecostes com textos de São João EudesNovena de Pentecostes com textos de São João Eudes
Novena de Pentecostes com textos de São João Eudes
 
O que é arte. Definição de arte. História da arte.
O que é arte. Definição de arte. História da arte.O que é arte. Definição de arte. História da arte.
O que é arte. Definição de arte. História da arte.
 
INTERTEXTUALIDADE atividade muito boa para
INTERTEXTUALIDADE   atividade muito boa paraINTERTEXTUALIDADE   atividade muito boa para
INTERTEXTUALIDADE atividade muito boa para
 
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdfApresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
 
aprendizagem significatica, teórico David Ausubel
aprendizagem significatica, teórico David Ausubelaprendizagem significatica, teórico David Ausubel
aprendizagem significatica, teórico David Ausubel
 
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
A EDUCAÇÃO FÍSICA NO NOVO ENSINO MÉDIO: IMPLICAÇÕES E TENDÊNCIAS PROMOVIDAS P...
 
O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...
O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...
O estudo do controle motor nada mais é do que o estudo da natureza do movimen...
 
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptx
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptxCartão de crédito e fatura do cartão.pptx
Cartão de crédito e fatura do cartão.pptx
 
LENDA DA MANDIOCA - leitura e interpretação
LENDA DA MANDIOCA - leitura e interpretaçãoLENDA DA MANDIOCA - leitura e interpretação
LENDA DA MANDIOCA - leitura e interpretação
 

LIVRO PROPRIETÁRIO - LÍNGUA PORTUGUESA

  • 1. autor do original MARIA BEATRIZ GAMEIRO 1ª edição SESES rio de janeiro  2015 LÍNGUA PORTUGUESA
  • 2. Conselho editorial  luís cláudio dallier, roberto paes e gladis linhares Autor do original  maria beatriz gameiro Projeto editorial  roberto paes Coordenação de produção  gladis linhares Projeto gráfico  paulo vitor bastos Diagramação  andré lage e paulo vitor bastos Validação de conteúdo  fábio macedo simas e luciana varga Imagem de capa  cienpies design — shutterstock Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2015. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) G184 Gameiro, Maria Beatriz Língua Portuguesa — Rio de Janeiro: Editora Universidade Estácio de Sá, 2015. 176 p isbn: 978-85-5548-156-7 1. Linguagem. 2. Português. 3. Educação. I. Título. cdd 469.5 Diretoria de Ensino — Fábrica de Conhecimento Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus João Uchôa Rio Comprido — Rio de Janeiro — rj — cep 20261-063
  • 3. Sumário Apresentação 7 1. Nem todo brasileiro fala do mesmo jeito 21 Fala e escrita 26 Norma padrão, norma culta e norma popular 28 Construções da norma padrão e da norma coloquial: correções dos desvios mais comuns 29 2. Noções básicas de sintaxe: regência e concordância 39 Noções básicas da sintaxe 41 A transitividade verbal 41 A regência verbal 45 Regência nominal 52 A variação linguística e a concordância verbal 53 A concordância nominal 63 3. Usos da língua: pontuação, acentuação e ortografia. 73 Introdução à clareza e à pontuação: a ordem direta no português brasileiro 75 Regras de acentuação 86 O novo Acordo Ortográfico 91 Regras ortográficas 98 A crase 101 O internetês e a ortografia 104 Importância da escrita para o mercado do trabalho 108
  • 4. 4. A estrutura do parágrafo, a coesão e a coerência 113 A estrutura do parágrafo 114 As qualidades do parágrafo 118 Coesão e coerência 128 A coerência 133 5. Leitura e significação 137 O Sincretismo de linguagens 138 O texto literário e o não-literário 139 Principais critérios para distinção entre o texto literário e o não literário 142 A construção do significado no texto: a conotação e a denotação 143 Figuras de Linguagem 146
  • 5. 5 PRÓLOGO A ESTE LIVRO, Por Deonísio da Silva Nunca uma palavra foi tão apropriada: prólogo. Veio do Grego, passou pelo Latim “prolo- gus” e chegou ao Português “prólogo”. Designava a primeira parte da tragédia, também uma palavra vinda do Grego “tragoidía”, composta de “tragos”, bode, e “oidé”, canção, significando “canção do bode”: nas tragédias gregas era sacrificado um bode enquanto o coro cantava. Nós vivemos uma tragédia no ensino do Português. Faz décadas que professores, pagos pelo Estado, por mantenedoras privadas ou por universidades comunitárias para ensinar a norma culta do Português, deformam este ensino à base de um vale-tudo, em que a norma culta não vale nada, praticando crimes de lesa-língua. E fazem isso com uma disciplina estratégica, pois todas as outras disciplinas são ensinadas em Português! Na Universidade Estácio de Sá, como em outras instituições de qualidade, o ensino do Português vem merecendo atenção especial. A Língua Portuguesa é a menina dos olhos da Estácio. Meia dúzia de coisas que nunca falharam: você vai ouvir, falar, ler e escrever melhor (e passar com folga em todas as AVs), se: 1) Assistir a todas as aulas; 2) Fizer as tarefas que os professores indicarem; 3) Ler todos os dias, nem que seja um pequeno trecho; 4) Consultar as obras de referência, como gramáticas e dicionários; 5) Ler os livros indicados; 6) Escrever alguma coisa todos os dias, nem que seja um recado a seus amigos. 1  As Palavras O brasileiro fala bastante. E fala bem. Talvez não preste a devida atenção ao que o outro fala. Começa na infância."Quantas vezes eu já te disse para não fazer isso, menino?". Ou: "Eu já te disse mil vezes que eu não quero ouvir palavrão nesta casa", "eu te mato" etc. Esta mãe imaginária usava bem o vocativo, com a pausa antes dele, que na escrita levou uma vírgula. Ela invocava expressões de linguagem que to-
  • 6. 6 dos conhecemos. Mil vezes? Ainda que as admoestações fossem muito repetidas, talvez não passassem de algumas dezenas, acompanhadas de ameaças de morte de brin- cadeirinha, como faz toda mãe. Ela sabia que a língua portuguesa, ao lado de olhares e gestos repreensivos ou de aprovação, era poderoso recurso para edu- car os filhos. Como se sabe, a educação começa em casa. Foi lá, aliás, que você aprendeu a ouvir e a falar em Português. Seu pai foi seu primeiro professor. Sua mãe foi sua primeira professora. Por isso, a língua portuguesa é sua língua materna, palavra que veio do Latim materna, isto é, que se refere à mater, "mãe". Escolas e universidades dão instrução e ajudam a educar os alunos, mas to- dos os professores sabem que os alunos estão sob seus cuidados apenas um sexto do dia. E os mestres precisam ensinar-lhes um cesto de coisas. O tempo é pouco. Se a casa, a empresa, a mídia e a rua (lugares onde os discípulos passam a maior parte do tempo) não colaboram com a escola e com a universidade, a tarefa fica muito mais difícil. Sim, a boa empresa facilita a formação de seus empregados, isto é um investimento para ela. Nas ruas, nas estradas e em outros lugares públicos, cartazes com erros de Português infiltram na mente de todos formas erradas de escrever! Programas de baixo nível, no rádio, na televisão, na internet etc. são outros empecilhos na tarefa de ensinar. Como se sabe, muito ajuda quem não atrapalha. E esses erros são como uma virose. Se o organismo não tem as devidas defesas, contrai doença de escrever mal antes de aprender a escrever bem. Mas, se falamos bem, por que escrevemos tão mal? Uma campanha convida ou ordena "Avança Brasil". Foram gastos milhões de reais para imprimi-la em cartazes e exibi-la na televisão e na internet. Está errada. Não puseram vírgula depois de "avança" e antes de "Brasil". Hora do recreio O “site” www.simplesmenteportugues.com.br apresenta este divertido e curio- so exercício sobre a vírgula, ao apresentar o texto de um moribundo – ele mor- reu antes de fazer a pontuação -, numa espécie de minitestamento: “Deixo meus bens a minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a conta do pa- deiro nada dou aos pobres”. Eram quatro os herdeiros. Como ele distribiu a herança? Como exercício,
  • 7. 7 os alunos devem pontuar o texto como se fossem os advogados dos herdeiros. Divididos em quatro grupos, cada um dos grupos deve defender o sobrinho (1), a irmã (2), o padeiro (3) ou os pobres (4). As respostas corretas são: 1) O sobrinho pontuaria assim: Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho. Jamais será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres. 2) A irmã, assim: Deixo meus bens à minha irmã. Não a meu sobrinho. Ja- mais será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres. 3) O padeiro, assim: Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres. 4) Os pobres, assim: Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do padeiro? Nada! Dou aos pobres Erros de ortografia Os erros mais numerosos são de ortografia. Até um professor anunciou: "aulas de reforsso escolar, todas matérias". Está errado. As suas são de reforço escolar e é necessário o artigo em "todas AS matérias". Um quiosque quis melhorar as vendas de sorvetes e de picolés e anunciou "temos picolé premeado". Está errado. O certo é premiado. Certa padaria avisou: "nossos produtos não tem glúteos". Está errado. O certo é "nossos produtos não têm glúten". Glute também estaria correto, mas glúteo é nádega; veio do Grego gloutós, "nádega". Uma cabeleireira anunciou que fazia "itradação" de pele e cabelos. Está er- rado. O certo é hidratação. Uma floricultura oferecia "violentas" a menos de cinco reais. Está errado. O certo é violetas. Um açougue avisou os clientes que tinha "frango bovino". Ora, a carne à venda era de frango ou de boi! O açougueiro não cruzou uma galinha e um touro (boi ainda não castrado), ou um galo e uma vaca para produzir a tal carne. A maioria das pessoas comete erros ortográficos, não porque seja difícil es- crever corretamente, mas sim porque elas leem pouco. Esta é a grande causa. A ortografia do Português não é tão simples como a do Espanhol e a do Italiano, mas não é complicada como a do Inglês, por exemplo. Estão errados aqueles que dizem que a do Inglês é mais simples. Não é. Cláudio Moreno, nosso colega de docência na Estácio há muitos anos, em
  • 8. 8 Guia Prático do Português Correto (vol. 1 - Ortografia), livro indicado na biblio- grafia desta disciplina, lembra que em Inglês a palavra lives é pronunciada / livz/ quando significa "vive, mora, reside", e /laivz/ quando quer dizer "vidas". Você escreve key e pronuncia o conjunto "ey" como /i/, mas no pronome they (eles, elas), a pronúncia é /êi/. Em he goes ("ele vai"), você diz /gous/, mas o mes- mo encontro "oes", pronunciado /ous/ neste verbo, muda para /us/ em my shoes ("meus sapatos"), que você pronuncia /mai shus/. Outras amostras de que o Português tem uma grafia mais simples do que a do Inglês: para typography, pharmacy, theater, psychology, escrevemos tipo- grafia, farmácia, teatro, psicologia. O objetivo deste livro é ajudar os alunos a aprender a Língua Portuguesa. É uma língua que os alunos já sabem, mas ainda não sabem o suficiente. De todo modo, não é uma língua estrangeira. Se estivéssemos ensinando Inglês, Espa- nhol, Latim, Russo ou Mandarim, os métodos seriam outros. Mas por que ensinamos Português? Porque os alunos precisam muito aprender a ler e a escrever numa língua que já entendem e falam. Se o professor disser ou escrever "minha colega ficou RUBICUNDA, mas abriu uma EXCEÇÃO e deu um ÓSCULO no MANCEBO", provavelmente o alu- no irá ao dicionário em busca de saber como se escreve e o que querem dizer as palavras escritas em maiúsculas. De 14 palavras, ele provavelmente não sabe o significado de apenas três. E tem dúvida de como se escreve exceção. É um índice muito alto de conhecimento do vocabulário que ele precisa saber para compreender o texto, uma vez que já conhece 78,58% das palavras empregadas. Na verdade, quando você lê qualquer texto ― uma notícia, uma petição, um salmo, uma bula de remédio, um relatório, um poema, um conto, um trecho de romance etc. - é provável que você conheça a maioria das palavras que ali apare- cem, pois elas se repetem muito. Se você gosta mais de números do que de letras, faça um exercício curioso. Aplique ao texto escolhido a Lei de Zipf, formulada pelo filólogo, linguista e es- tatístico George Kingsley Zipf, da prestigiosa Universidade de Harvard. Estudando a obra de James Joyce, famoso escritor irlandês de língua inglesa, ele mostrou que no livro Ulisses, tido como um dos romances mais difíceis de ser lido e entendido em todos os tempos (inclusive nas traduções), a palavra mais comum aparece 8.000 vezes. Examinando muitos outros textos, concluiu que a maior parte de qualquer texto é coberta pelas palavras mais usadas na língua.
  • 9. 9 Concluímos desta lei que somos capazes de entender qualquer texto, tendo um bom vocabulário. E que para as palavras desconhecidas, só o que precisa- mos é de um dicionário. Quando ouvirem o texto "minha colega ficou RUBICUNDA, mas abriu uma EXCEÇÃO e deu um ÓSCULO no MANCEBO", os alunos provavelmente irão ao dicionário para certificar-se de como se escreve exceção, mas eles sabem que exceção quer dizer "exclusão, algo fora da norma, fora do comum" naquele con- texto. E provavelmente sabem também, sem consultar o dicionário, como são escritas as três restantes, marcadas em vermelho, embora sejam de uso raro, pois elas são escritas como pronunciadas. Talvez aqueles que não conhecem a forma correta mancebo, escrevam a forma errada "mansebo"... Mas, então, o problema será facilmente resolvido, pois "mansebo" não existe... O ditado, uma antiga prática das salas de aula, ajudava muito nisso. Nas pri- meiras séries do ensino fundamental, a professora pronunciava palavras que os alunos deveriam escrever. O passo seguinte é saber o significado das palavras até então desconheci- das, aquelas três marcadas em maiúsculas: rubicunda, ósculo e mancebo. Um bom dicionário ou um bom professor ou uma boa professora lhes ex- plicará que rubicunda é da mesma família de rubrica, porque antigamente as primeiras letras dos capítulos dos livros eram escritas com tinta vermelha. E também é parecida com rubéola, infecção percebida por exantema de manchas vermelhas. Também são parentes o rubor nas faces e a cor rubro-negra de clu- bes, com o Flamengo, duas cores que, juntas ou separadas, estão nos uniformes de muitos clubes brasileiros de futebol, como o Corinthians, o Internacional, o Sport do Recife, o Vasco, o Grêmio, a Ponte Preta, o Atlético (do PR, de MG etc.). Mas, voltemos à palavra exantema, que o dicionário usou para explicar ou- tra. Não se assustem! Os dicionários às vezes usam palavras ainda mais desco- nhecidas para explicar aquela que você procurou. Aliás, é um lado bom dos dicionários, longe de ser um defeito. Você atira no que viu, acerta no que não viu, como diz o ditado, talvez antiecológico. Você procura exantema e descobre que a nova palavra, que você não procurou, veio do Grego eksanthéma, "florescência, florido", porque as feridas de tal enfermi- dade semelham flores desabrochando sobre a pele. O dicionário é uma festa, onde você vai com quem já conhece e descobre desconhecidos que são ainda mais interessantes. E que você não procurava, mas que podem vir a ser seus novos amigos.
  • 10. 10 A seguir, você procura ósculo, cujo significado é "beijo", que veio do Latim osculum, "boquinha", diminutivo de os, "boca", assim como minúculo veio do Latim minisculum, diminutivo de minus, que significa "pequeno". Então, mi- núsculo quer dizer "muito pequeno". Por fim, procura mancebo, que quer dizer "jovem, moço". Na antiga Roma, manceps, de onde veio a palavra, era o escravo jovem que ficava no quarto, to- mava as roupas do senhor nas mãos e o ajudava a vestir-se. Os escravos foram cartões de crédito e de débito, ainda antes de existirem estes plásticos de tanta utilidade: ninguém fazia nada sem eles! O feminino manceba designou a amante, a concubina, a mulher jovem que ficava no quarto do senhor fazendo mais do que segurar as roupas dele, aju- dando-o a vestir-se. Talvez o ajudasse mais a desvestir-se, ela mesma se des- pindo junto. Outras palavras e expressões vieram do mesmo étimo, de que são exemplos mancebia e amancebado, palavras que aparecem em numerosos do- cumentos do Brasil colonial e imperial, dando conta de que os senhores das casas-grandes não apenas visitam as senzalas, como frequentemente viviam amancebados com as próprias escravas, com elas gerando filhos, que eram escravizados também. A expressão "Fulano tem um pé na cozinha" também exemplifica isso, apesar do ponto de vista preconceituoso, pois poderia ser des- cendente de um escravo com um pé no quarto da casa-grande.... Como vimos, é preciso conhecer o vocabulário empregado num texto, não apenas porque esta tarefa é indispensável para compreender o texto, como tam- bém pela viagem que as palavras nos levam a fazer, cheia de escalas em pontos e portos interessantíssimos Na busca pelo significado das palavras que ainda lhe são desconhecidas, você não pode desprezar o contexto em que foram empregadas. O mancebo de que fala o texto não é o "móvel ou o pedaço de pau em forma de cabide", uma vez que "minha colega ficou rubicunda, mas abriu uma exceção e deu um óscu- lo no mancebo". Ela não ficaria vermelha se tivesse que beijar um móvel...
  • 11. 11 2  Reflexões para você estudar Português 1. O domínio da língua materna é o requisito fundamental para o sucesso em qualquer campo de atividade. Independentemente do curso escolhido na Universidade, ler e escrever com proficiência é indispensável para que o acadê- mico possa participar da sua área de saber, qualquer que seja ela. 2. A ausência desse conhecimento básico compromete todas as suas formas de expressão; sem ele, até mesmo o seu contato com os textos imprescindíveis a cada especialidade fica prejudicado. 3. Em geral, o aluno brasileiro deixa de estudar português no momento em que conclui o Ensino Médio e ingressa na universidade ou no mercado de tra- balho. Quase todos nós passamos por isso e conhecemos muito bem esse traje- to: por algum tempo, absorvidos por nossas novas ocupações, passamos a dar pouca ou nenhuma atenção àqueles conteúdos gramaticais que, na opinião da maior parte dos adolescentes, constituem um emaranhado de regrinhas capri- chosas e desnecessárias. 4. A vida profissional ou acadêmica, no entanto, logo faz dissipar essa ilusão e muda nossa maneira de ver as coisas, pois descobrimos finalmente que aque- las regras que considerávamos supérfluas são instrumentos indispensáveis para o sucesso pessoal. Este curso se destina exatamente àqueles que perceberam a importância do domínio da língua materna para sua vida e sua carreira e que pre- tendematualizarseusconhecimentosgramaticais.Osmesmosfatoseprincípios que você estudou na escola voltam agora sob novo enfoque, selecionados e orga- nizados para solucionar, na prática, as dúvidas e hesitações que afligem quem escreve. Este curso apresenta, por isso mesmo, o mínimo de teoria necessário para entender os fenômenos explicados: o seu foco é a gramática do uso culto. 5. A língua é transmissora da cultura e da civilização. Ela é um sistema orgâni- co de regras e princípios, estabelecido, de geração em geração, século por século, pelasomadosdiscursosdetodososindivíduosquetêmoPortuguêscomolíngua materna. A língua que estou usando hoje para falar com vocês vem sendo usada há quase mil anos. Foi usada por cruzados, por navegadores, por carrascos e por vítimas da Inquisição. Quando o Brasil foi descoberto, o escrivão da frota, nosso
  • 12. 12 Pero Vaz e Caminha, relatou .... Camões cantou seus amores, Vieira pregou na Igreja contra as invasões holandesas, falando a colonos, índios e escravos. 6. Foi por causa disso, por exemplo, que a escola dispendeu tanto esforço para ensinar a vocês a conjugação completa dos verbos, incluindo o vós. Como entender uma frase clássica como "Vinde a mim as criancinhas" sem conhecer a flexão do verbo na 2ª pessoa do plural? 7. Mito: "Como nunca pretendo usar essas formas, elas não são importan- tes para mim". Na verdade, "usamos" um vocábulo tanto quando o emprega- mos numa frase, quando o compreendemos ao vê-lo num texto de outrem. Por exemplo, o costume de não trabalhar, na escola, com a 2ª pessoa do plural na conjugação dos verbos — sob a alegação infantil de que "ninguém usa mais esta forma" — acarreta uma série de problemas na compreensão de textos tão sim- ples e fundamentais como, por exemplo, as orações: “Pai nosso que estais nos céus, santificado seja o vosso nome; venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos daí hoje; perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido; e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Amém.”. Ou: “Ave, Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco; bendita sois vós entre as mulheres, bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém”. 8. Nosso propósito é levá-lo a posicionar-se criticamente sobre tudo aquilo que já aprendeu sobre nosso idioma (que é, acredite, muito mais do que você imagina). Viajando pela história de nossa língua, você vai entender o quanto devemos ao Grego e ao Latim; além disso, vai poder avaliar a dívida cultural que temos para com os árabes e os povos indígenas e africanos. Com base nas leituras escolhidas, queremos mostrar a você que os fatos mais corriqueiros da língua influem na nossa interpretação de um texto literário, e que os escrito- res sabem, como ninguém, utilizar a seu favor as várias escolhas que têm à sua disposição — e você vai entender de que maneira um autor como Machado de Assis, utilizando a mesma língua que você usa (e praticamente o mesmo voca- bulário) construiu verdadeiras obras-primas.
  • 13. 13 9. A língua é um sistema desenvolvido no tempo e no espaço, formado pelo trabalho de milhões de falantes. Outra coisa bem diferente é o uso que cada um de nós faz desse repertório. Cada um de vocês tem um discurso próprio — cada um usa o sistema à sua maneira, de acordo com sua formação, sua idade, sua região ou simplesmente o grau de consciência com que se relaciona com a linguagem. Por isso, ver como os outros usam ou usaram a língua aumenta o nosso repertório de possibilidades e nos ajuda a definir o estilo que preferi- mos e o que realmente nos desagrada. O uso individual pode mudar a língua? Se houver a concordância de muitos indivíduos, sim. Há quem se escandalize com as mudanças, mas não podemos esquecer que, se ocorrerem, tudo vai se dar dentro do sistema próprio do nosso idioma. Invariavelmente, elas são feitas para tornar o sistema ainda mais homogêneo. Os "erros" que as pessoas come- tem — que, não por acaso, são os mesmos em todo o país — revelam pontos de atrito com a norma culta, em que os discursos individuais acabarão inconscien- te, mas inexoravelmente, limando e polindo o sistema. 10. A evolução do sistema. As mudanças que ocorrem, no entanto, sempre se dão dentro da direção de tendência — como o sentido dos pelos do veludo, ou, mais domesticamente, o sentido dos pelos do gato. Um exemplo que está em processamento é a transformação do vocábulo grama (unidade de medida), considerado substantivo masculino. A tendência é transformá-lo em feminino — como lama, cama, rama, etc. É por isso que a maioria dos falantes brasilei- ros vem aderindo à mudança, inclusive com a adesão de autores tão importantes quanto Machado de Assis, o patrono deste curso. Machado de Assis, por exem- plo, em crônica publicada em A Semana, fez como os falantes de hoje: usou gra- ma (peso) no feminino “O caso da grama. Contaram algumas folhas, esta sema- na,queumhomem,nãoquerendopagarporumquilodecarnepreçosuperiorao taxado pela prefeitura, ouvira do açougueiro que poderia pagar o dito preço, mas que o quilo seria mal pesado. [...] Um quilo mal pesado. Pela lei, um quilo mal pesado não é tudo, são novecentas e tantas gramas, ou só novecentas. E voltou aofemininodegrama(peso)nestaoutra,publicadaemBalasdeEstalo:“Podeser que haja nesta confissão uma ou duas gramas de cinismo; mas o cinismo, que é a sinceridade dos patifes, pode contaminar uma consciência reta, pura e elevada, do mesmo modo que o bicho pode roer os mais sublimes livros do mundo.”
  • 14. 14 3  Frase, Oração, Período, Parágrafo, Texto “Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei no trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu”. (abertura de Dom Casmurro) “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.” (final de Memórias Póstumas de Brás Cubas) “Naquele dia – já lá vão dez anos! -, o dr. Félix levantou-se tarde, abriu a janela e cum- primentou o sol. (...) Alegres com vermos o ano que desponta, não reparamos que ele é também um passo para a morte. (abertura de Ressurreição) Estas frases, orações e período integram (1) o primeiro parágrafo do roman- ce Dom Casmurro, (2) o fechamento de Memórias Póstumas de Brás Cubas e (3) a abertura de Ressurreição, três romances de Joaquim Maria Machado de Assis, o maior escritor brasileiro de todos os tempos, mulato, descendente de escravos, filho de família pobre, epiléptico, gago. Francisco José de Assis, seu pai, filho de escravos alforriados, era pintor de paredes; Maria Leopoldina da Câmara Machado, sua mãe, imigrante portugue- sa dos Açores, era lavadeira. Machado foi autodidata (estudou por conta própria) e jamais frequentou uma universidade. Escreveu nove romances, cerca de duzentos contos, seiscen- tas crônicas, além de peças de teatro, poemas e ensaios. Sua madrinha se chamava Maria, e seu padrinho, Joaquim. Foi por isso que o pai lhe deu este nome: Joaquim Maria (do padrinho e da madrinha) Machado (sobrenome da mãe) de Assis (sobrenome do pai). Aos dez anos, ficou órfão de mãe e passou a ser cuidado pela madrasta, Ma- ria Inês da Silva, que fazia doces que Machado vendia nas ruas, como hoje fa- zem adolescentes e jovens nos faróis. Isto levou o menino a ter contato com um padeiro que lhe ensinou Francês. Tornou-se também coroinha e sacristão, e aprendeu Latim com o padre. Aos 17 anos teve seu primeiro emprego: aprendiz de revisor e de tipógrafo na Imprensa Nacional, onde foi orientado e ajudado por Manuel Antônio de Almeida, autor de Memórias de um Sargento de Milícias. Em seguida, recebeu
  • 15. 15 ajuda de Quintino Bocaiúva (homenageado no nome de um bairro no Rio, co- nhecido mais como Quintino apenas, onde nasceu o jogador Zico) e de Salda- nha Marinho (pernambucano, que governou São Paulo e foi um dos autores de nossa primeira Constituição). Mas quem mais ajudou Machado de Assis foi a portuguesa Carolina Augus- ta Xavier de Novais, uma solteirona de 35 anos, bonita, culta e elegante, que ele desposou aos trinta anos. Ela vinha de uma desilusão amorosa com um português, e a família dela não queria que a moça casasse com um mulato. O casamento aconteceu, mas eles não tiveram filhos. O motivo foi confessado em complexas sutilezas, como era de seu estilo, no fechamento de Memórias Póstumas de Brás Cubas: “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria”. Porqueestasexplicaçõeseporqueestestrechos?Olivroéopãonossodecada dia, o pão do espírito. Ele nos alimenta a alma. E nos ajuda a aprender Português. Depois do vocabulário, vamos às frases e orações que compõem um período. Um ou mais períodos formam um parágrafo. Um ou mais parágrafos foram um texto, que pode ser dividido em capítulos, como faz Machado nos seus romances. O Português tem algumas singularidades. A maioria das palavras não tem acento. A maioria das palavras são paroxítonas, isto é, a sílaba mais forte é a penúltima: abacate, bergamota, cavalo, ditado, escola, faculdade, ginecologis- ta, hospedagem, idealista, juramento, laranja, moleque, narciso, obcecado, po- tranca, quadrado, recado, sulfato, timaço, umbanda, varanda, xavante, zeloso. A ordem direta é predominante no Português. Isto é, para arrumar as pala- vras e construir frases e orações, a ordem é a seguinte: primeiro o sujeito; de- pois o verbo; por último, o(s) complemento (s). O professor ensinou concor- dância verbal (ontem, na aula à distância, com exemplos na lousa eletrônica). O aluno aprendeu a lição (com leitura, exemplos e exercícios feitos em casa). Mas podemos construir frases também com outras ordens: complemento, verbo, sujeito; verbo, complemento, sujeito; verbo, sujeito, complemento. Machado de Assis, na abertura de Dom Casmurro, usou complemento(s) (uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo), sujeito oculto, ver- bo (encontrei), complemento(s) de novo (no trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu). No fechamento de Memórias Póstumas de Brás Cubas, ele usa a ordem dire- ta: sujeito oculto, verbo (Não tive) complemento (filhos), e a seguir emenda outra
  • 16. 16 frase com sujeito oculto, verbo (não transmiti) complementos (a nenhuma cria- tura o legado da nossa miséria). Notem que as frases ou orações formam um ou mais períodos, como tam- bém ocorre neste último caso, na abertura do romance Ressurreição, quando ele usa complementos (“Naquele dia – já lá vão dez anos!”), sujeito (o dr. Félix) verbo(s) (levantou-se tarde, abriu a janela e cumprimentou o sol). (...) sujeito oculto, verbo (estamos) complementos (Alegres com vermos o ano que des- ponta), e sujeito oculto de novo, verbo (não reparamos), complementos (que ele é também um passo para a morte)”. Ele nos disse que: 1) O dr. Félix levantou-se tarde; 2) (O dr. Félix) abriu a janela; 3) (O dr. Félix) cumprimentou o sol; 4) (o Dr. Félix fez as três coisas): “naquele dia”, “já lá vão dez anos”; 5) (Nós ficamos) alegres com vermos o ano que desponta; 6) (Nós) não reparamos que ele é também um passo para a morte. Arrumandoumaboaordemtambémparaosperíodos,fazemosumparágrafo: 1) Capítulo I de Dom Casmurro. Primeiro parágrafo. Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei no trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu. Cumpri- mentou-me, sentou-se ao pé de mim, falou da Lua e dos ministros, e acabou recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos pode ser que não fossem inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, como eu estava cansado, fechei os olhos três ou quatro vezes; tanto bastou para que ele interrompesse a leitura e metesse os versos no bolso. 2) Capítulo I de Ressurreição. Primeiro parágrafo. “Naquele dia, — já lá vão dez anos! — o Dr. Félix levantou-se tarde, abriu a jane- la e cumprimentou o sol. O dia estava esplêndido; uma fresca bafagem do mar vinha quebrar um pouco os ardores do estio; algumas raras nuvenzinhas bran- cas, finas e transparentes se destacavam no azul do céu. Chilreavam na chácara
  • 17. 17 vizinha à casa do doutor algumas aves afeitas à vida semi-urbana, semi-silvestre que lhes pode oferecer uma chácara nas Laranjeiras. Parecia que toda a natu- reza colaborava na inauguração do ano. Aqueles para quem a idade já desfez o viço dos primeiros tempos, não se terão esquecido do fervor com que esse dia é saudado na meninice e na adolescência. Tudo nos parece melhor e mais belo, — fruto da nossa ilusão, — e alegres com vermos o ano que desponta, não reparamos que ele é também um passo para a morte.” 3) Capítulo CLX de Memórias Póstumas de Brás Cubas Último parágrafo. “Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do em- plasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de D. Plácida, nem a semidemência do Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e conseguintemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: — Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.” Por fim, recomendamos que você faça boas leituras. Como estas, de Macha- do de Assis, nosso maior escritor. Você vai aprender Português com os mestres da língua portuguesa. E este é o maior deles. (fim).
  • 18. 18
  • 19. Nem todo brasileiro fala do mesmo jeito 1
  • 20. 22 • capítulo 1 Apresentação do capítulo Neste primeiro capítulo, discutiremos algumas diferenças entre “fala” e “es- crita” e ainda as noções de variação linguística e adequação da linguagem. Compreender o funcionamento básico da linguagem é essencial para utilizá-la adequadamente. Além disso, é preciso aprender a norma padrão, estabelecida pelas gramáticas, pois é ela que é exigida em contextos formais, assim, apre- sentaremos alguns casos básicos que geram muita dúvida ao escrever e falar. Esperamos que você conheça passe a usar os aspectos da norma padrão nos contextos em que eles são exigidos. OBJETIVOS • Conceber fala e escrita não como modalidades opostas, mas como um continuum de diferenças; • Apreender a variação linguística e a adequação da linguagem; • Analisar as diferenças entre a norma padrão, culta e coloquial; • Conhecer alguns usos linguísticos recomendados pela norma padrão. REFLEXÃO Você se lembra? Você já parou para refletir sobre o papel central que a língua ocupa em nossas vidas? Cer- tamente sim, pois utilizamos a língua e a linguagem nas mais diversas situações. A todo mo- mento, usamos a fala, a escrita, gestos, símbolos, sinais e outras formas nos comunicarmos. Mas você já observou que a língua que usamos para falar em situações informais com nossos amigos íntimos e parentes é diferente da língua que empregamos em situações formais, com chefes no trabalho, em reuniões de negócio, pessoas com as quais não temos intimidade etc. Reparou também que dependendo do canal onde nos comunicamos ou nos expressamos, a nossa língua muda? A linguagem das redes sociais é distinta das encontradas em romances, artigos de opinião veiculados em jornais etc. Toda essa reflexão envolve uma teoria básica sobre língua, linguagem, gêneros textuais, adequação da linguagem e outros termos que você conhecerá nesse capítulo.
  • 21. capítulo 1 • 23 O professor Luís Cláudio Dallier, no livro Comunicação e Expressão, trata da variação linguística. Ele a define como o fenômeno de uma língua que sofre variações ao longo do tempo, do espaço geográfico, do espaço ou da estrutura social, da situação ou do contexto de uso. Isso significa dizer que uma língua está sujeita a reajustar-se no tempo e no espaço para satisfazer às necessidades de expressão e de comunicação, individual ou coletiva, de seus usuários. Podemos abordar a variação linguística sob diversas perspectivas. Se levar- mos em conta uma situação de comunicação qualquer, teremos alguns ele- mentos que vão apontar para variedades no modo de usar a língua. Por exemplo: • Quem fala? • Para quem fala? • Quando fala? • Como fala? • Por que fala? Essas perguntas evidenciam que nossa fala pode variar de acordo com a si- tuação ou com o contexto da comunicação, conforme as pessoas que nos ou- vem, o assunto de que estamos tratando ou a intenção de nossa mensagem. Outra forma de abordarmos a variação linguística é por meio da constata-
  • 22. 24 • capítulo 1 ção de variações no uso da língua em algumas dimensões: a) Dimensão geográfica ou regional: um mesmo idioma pode variar de um lugar para o outro. Por exemplo, o Português tem variações nas nove nações lusófonas, isto é, aquelas em que é a língua oficial ou uma das línguas oficiais: Angola, Bra- sil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor Leste. É muito falada também em regiões como Macau (na China), Goa (na Índia), Galiza (na Espanha), sem contar regiões do Para- guai, Uruguai e EUA. Às vezes, há variações também dentro do próprio país em que o Português é a língua oficial. Na escrita, que adota a norma culta, é mais uniforme, mas na fala, não! O gaúcho fala de um modo que é só seu; o catarinense falado em Florianópolis, uma ilha, não é o mesmo do resto do litoral, nem o da região ser- rana, que é muito mas semelhante ao modo de falar do gaúcho. Os brasileiros que habitam o Nordeste falam com variações, que se subdividem se os falantes são baianos ou cearenses. Temos também o falar caipira, próprio do interior do estado de São Paulo. Em Minas, a palavra “trem” tem tantos usos que num dicionário do mineirês, seria um dos verbetes mais extensos. Essas variações não atrapalham, antes enriquecem a língua portuguesa, com um dia já foi enriquecida por árabes, judeus, espanhóis, índios, africanos, alemães, franceses, italianos, poloneses etc. Por exemplo: quantos nomes de pratos culinários são franceses ou de origem africana? Quantos nomes de rios, lagoas e montanhas são indígenas? Quantas danças e canções foram trazidas por imigrantes e ainda são cantadas na língua original? Quem já não ouviu a expressão “mamma mia”, “porca miséria” b) Dimensão social: a classe social dos falantes pode influenciar seu modo de dizer as coisas. Por que acontece isso? Porque, por norma, quem está situa- do do meio da pirâmide social para cima convive com quem fala de acordo com a norma culta, uma vez que é maior a possibilidade de acesso ao ensino e aos bens culturais (livros, bibliotecas, teatro, cinema etc.). E quem está na base da pirâmide social lê pouco, não vai ao cinema, não vai ao teatro. não assina jornal ou revista. Mas ainda assim sofre grande influência do rádio e da televisão, por exemplo. E, mais recentemente, também da internet.
  • 23. capítulo 1 • 25 Este cartum mostra um exemplo de variação na dimensão social. c) Dimensão da idade: Pessoas de idades diferentes (crianças, jovens, adul- tos e idosos) podem apresentar um modo variado de usar a língua. Veja o se- guinte exemplo: Situação: um jovem falando com seu pai ao telefone. O jovem fala: Ô velho, já faz um tempão que sou dono do meu nariz... Sem- pre batalhei, arrumei um trampo, dou um duro danado! Me empresta o carango pr’eu sair com a gata hoje? O pai responde: Só se você conseguir traduzir o que disse para uma lingua- gem que eu gosto de ouvir de meu filho! d) Dimensão do sexo: Em função de condicionamentos culturais e sociais, homens e mulheres podem usar a língua ou se expressarem de forma diferente. Vamos a um exemplo: Homem: Cara, comprei uma camisa muito legal! Mulher: Menina, comprei uma blusinha linda! Ela ficou “maaaaravilhosa”! e) Dimensão da geração: Está relacionada com a variação histórica no uso da língua. Veja o exemplo: Jornal O Estado de S. Paulo, de 11 de março de 1900: “O dr. Vital Brasil se- guiu hontem para Sorocaba, afim de obter aguas remanciais (...) para ser exami-
  • 24. 26 • capítulo 1 nada aqui bacteriologica e chimicamente, aver se pode servir o abastecimento de agua daquela cidade.” Jornal O Estado de S. Paulo, de 11 de março de 2000: “O governador do Rio, Anthony Garotinho, disse ontem que a principal cau- sa da morte de 132 toneladas de peixes e crustáceos na Lagoa Rodrigo de Freitas (...) foi o excesso de peixes e não o lançamento clandestino de esgoto.” 1.1  Fala e escrita É comum ouvirmos que a fala é informal e a escrita, formal, que a fala não é planejada e que a escrita é planejada, que a fala é repleta de “erros” e a escrita não, que a fala é contextualizada e a escrita, descontextualizada etc. Porém, essa visão dicotômica não está correta, visto que há muitos gêneros textuais de língua falada que seguem os preceitos da norma padrão, como por exem- plo, uma conferência, as notícias veiculadas nos grandes telejornais, uma sentença proferida por um juiz, um discurso político bem planejado, uma mesa-redonda etc. Por outro lado, existem exemplos de escrita informal, como bilhetes, recados em redes sociais e outros repletos de informalidades, como bem explica Marcuschi (2010, p. 9): Em certos casos, as proximidades entre fala e escrita são tão estreitas que parece haver uma mescla, quase uma fusão de ambas, numa sobreposição bastante grande tanto nas estratégias textuais como nos contextos de realização. Em outros, a distância é mais marcada, mas não a ponto de se ter dois sistemas linguísticos ou duas línguas, como se disse por muito tempo. Uma vez concebidas dentro de um quadro de inter-re- lações, sobreposições, gradações e mesclas, as relações entre fala e escrita recebem um tratamento mais adequado, permitindo aos usuários da língua maior conforto em suas atividades discursivas. Dessa forma, Marcuschi sugere uma distinção entre fala e escrita baseada em suas características estruturais, tais como se evidencia no quadro a seguir: FALA ESCRITA Plano da oralidade (prática social interativa) Plano do letramento (diversas práticas da escrita)
  • 25. capítulo 1 • 27 Usa aparato biológico do ser humano Usa “tecnologia” escrita Sons articulados e significativos; aspec- tos prosódicos, recursos expressivos como gestualidade, movimentos do cor- po, mímica etc. Unidades alfabéticas, ideogramas ou unidades iconográficas Aspecto sonoro Aspecto gráfico Quadro 2- Fala e escrita (Elaborado pela autora com base em Marcuschi, 2010, p. 25-26) Com base na concepção discursiva e no meio de produção, Marcuschi apre- senta o seguinte gráfico: GÊNEROSTEXTUAIS MEIODEPPRODUÇÃO CONCEPÇÃO DISCURSIVA DOMÍNIO Sonoro Gráfico Oral Escrita Conversação espontânea X X A Artigo científico X X D Notícia de TV X X C Entrevista publi- cada na Veja X X B (MARCUSCHI, L. A., 2010, p. 40) A produção do domínio “a” −conversação espontânea− é protótipo da orali- dade por ser um texto tipicamente oral, visto que é sonoro e oral. A produção do domínio “b” –entrevista publicada na revista Veja –não é um protótipo nem da escrita nem da oralidade por ser um texto misto, já que é gráfico apesar de oral.
  • 26. 28 • capítulo 1 A produção do domínio “c” –notícia de TV –também não é um protótipo, é mis- to, uma vez que é sonoro apesar de escrito. A produção do domínio “d” –artigo científico− é protótipo da escrita, uma vez que é um texto tipicamente escrito, pois é gráfico e escrito. Marcuschi (201, p. 35) expressa claramente que: “(...) assim como a fala não apresenta propriedades intrínsecas negativas, também a escrita não tem pro- priedades intrínsecas privilegiadas.” O que ocorre é que na língua falada es- pontaneamente com pessoas com quem se tem intimidade, é comum desvios gramaticais, pausas, repetições, uso de marcadores conversacionais como “né, então, aí”, tomadas de turnos, apagamento dos /r/ finais, elevação das vogais, como “iscola”, “mininu”, dentre outras coloquialidades. Deve ficar claro que não defendemos aqui uma ou outra modalidade, nem pregamos o uso da nor- ma coloquial, apenas ressalvo a importância de que você, falante do idioma, saiba que as conversas espontâneas comumente distanciam-se da norma pa- drão, e que em contextos formais, mesmo que você empregue a língua falada, precisará usar a norma padrão. Mas você conhece os conceitos: norma padrão, norma coloquial, norma culta etc.? 1.2  Norma padrão, norma culta e norma popular A Linguística discute o conceito de “norma” relacionando-o aos comportamen- tos linguísticos dos indivíduos e ao sistema ideal de valores. Para você, estudan- te de nível superior, as discussões aprofundadas sobre tais conceitos podem não ser essenciais, mas é preciso conhecer a diferença entre os termos “norma culta e norma padrão”, usados como sinônimos no cotidiano. Lucchesi (2002, p. 64) explica-nos que a norma padrão diz respeito às for- mas contidas e prescritas pelas gramáticas normativas, como por exemplo, a recomendação para usar a mesóclise com verbos no futuro do presente do indi- cativo ou no futuro do pretérito (Dar-te-ei um prêmio se acertar a resposta! Dar- te-ia um prêmio se acertasse a resposta). Já a norma culta contém as “formas efetivamente depreendidas da fala dos segmentos plenamente escolarizados, ou seja, dos falantes com curso superior completo”. Com base nos estudos lin- guísticos feitos sobre a língua falada culta em diversas regiões do país, como o Projeto NURC, por exemplo, é possível afirmar que nem mesmo na norma culta, isto é, nem mesmo os falantes escolarizados, ditos cultos, utilizam a nor- ma padrão em todos os momentos. Todavia, é possível que os falantes cultos
  • 27. capítulo 1 • 29 não sejam mal avaliados por não usarem a mesóclise porque esta norma não é estigmatizada. Já um indivíduo que diga: “Nóis vai, nóis qué” provavelmente, será mal avaliado e poderá sofrer preconceito linguístico porque a ausência de concordância verbal é uma variante estigmatizada. Entre esses extremos, há a norma coloquial, usada no dia-a-dia, nas conversas informais com amigos, nos bilhetes, nas redes sociais etc. É considerada uma linguagem mais descontraí- da, sem formalidades, com gírias, diminutivos afetivos, termos regionais, abre- viações, contrações etc. Nela, são comuns construções como: “A gente qué” (ao invés da construção padrão: “Nós queremos”); “As menina adora” (ao invés da padrão: “As meninas adoram”), “O filme que eu assisti” (ao invés da padrão: “O filme a que eu assisti”); “Me empresta o lápis” (ao invés de: “Empreste-me o lápis”) etc. Poderíamos apresentar uma imensa lista com desvios da norma padrão muito comuns na linguagem coloquial (também chamada de popular) porque a norma padrão está mito distante do uso que os falantes fazem, em geral, da língua. Porém, é importante frisar três aspectos aqui discutidos, explí- cita ou implicitamente: 1) A língua varia de acordo com a situação e ouros fatores sociais como, es- colaridade, sexo, nível social etc.; 2) Não se deve julgar, menosprezar ou demonstrar preconceito pelo modo como alguém ala ou escreve, pois não há uma forma linguística superior à outra; 3) Embora não se deva julgar ou condenar alguém pelo uso linguístico que faz, você deve saber utilizar a norma padrão nos contextos em que ela é exigida. Diante das considerações feitas, serão apresentadas, ao fim desse capítulo, algumas construções típicas da linguagem coloquial, mas que devem ser evita- das em situações formais, quando a norma padrão é a esperada, como em con- ferências, seminários, redações de vestibulares, notícias, reportagens, artigos científicos, trabalhos acadêmicos, dentre outros. 1.3  Construções da norma padrão e da norma coloquial: correções dos desvios mais comuns As discussões sobre “adequação da linguagem” e norma padrão/culta/popular ilustram a importância do conhecimento da norma padrão principalmente nos contextos formais das relações profissionais. É preciso dominar as regras gramaticais, saber conjugar os verbos, usar a concordância, os pronomes, a acentuação, a pontuação, as preposições, dentre outros itens gramaticais im-
  • 28. 30 • capítulo 1 portantes tanto para uma boa redação como para uma boa interpretação textu- al. Na linguagem cotidiana, cometemos muitos desvios em relação ao padrão, entretanto, quanto for usar a língua em situações formais, precisará obedecer aos preceitos do padrão. A seguir, apresentam-se algumas construções típicas da linguagem po- pular, coloquial, sobre as quais, muitos falantes têm dúvidas. 1- ONDE x AONDE Utiliza-se “aonde” quando o verbo expressar movimento, como em: “Aonde você vai?”; já quando indica permanência em um lugar, o correto é usar “onde”, como em: “Onde você está?”. Veja outros exemplos: O político sabia bem aonde queria chegar. Orgulho-me muito do lugar vivo. 2- HÁ x A Inúmeros estudantes cometem desvios do padrão usando “há” no lugar de “a” e vice-versa. A regra é a seguinte: a) usa-se “há” quando se flexiona o verbo “haver” no presente do indicativo, para expressar “existência”, como em: “Há muitas pessoas nesse show.” b) usa-se “há” quando se flexiona o verbo “haver” no presente do indicativo, paraexpressar“tempojápassado”,comoem:“Háalgunsanos,visiteiestacidade.” Atenção: Muitas pessoas usam a expressão “há anos atrás”, que é conside- rada pleonasmo vicioso, pois o haver já indicaria passado, sendo desnecessário usar “atrás”. Veja o seguinte exemplo: Já o uso de “A” ocorre nos seguintes casos: a) Como artigo definido: A professora explicou a matéria. b) Como tempo futuro: Ela fará o discurso daqui a 10 minutos. Daqui a pouco, iniciaremos a reunião. Se “daqui a pouco” indica futuro...não pode ser “há”.
  • 29. capítulo 1 • 31 3- MAU x MAL Nocotidiano,muitaspessoasusamindistintamente“malemau”,porém,“mau” é adjetivo e “mal”, advérbio. Existe um famoso macete para não errar mais: MAL é o oposto de BEM MAU é o oposto de BOM O macete é bom para decorar o uso, mas entenda o motivo, veja: a) O homem mau ignora os outros. b) O homem está passando mal. Nesses dois exemplos, você percebe que em “O homem MAU”, a palavra mau se refere ao substantivo homem. Logo, trata-se de um adjetivo, que é uma classe gramatical que se flexiona em gênero, número e grau: - Os homens maus (flexão de número); - As mulheres más (flexão de gênero: masc./fem.) - Os homens são tão maus quanto as mulheres (grau comparativo). Já no exemplo B, mal é um advérbio, por isso não pode sofrer variação. Ob- serve que se alterarmos o gênero e o número de “homem” em “b”, “mal” não sofrerá nenhuma alteração: - Os homens estão passando mal. - As mulheres estão passando mal. Obs.: A palavra MAL pode ser substantivo, por exemplo: “Este é um mal ne- cessário”. Mas, nesse caso, haverá sempre um determinante qualquer, como o artigo UM, e pode haver plural: “Os males da vida são muitos.” 4- MENOS x MENAS A palavra “menos” também é muito usada como advérbio para indicar “menor grau, menor intensidade e quantidade” e, como um advérbio, é invariável. Con- tudo, no cotidiano, as pessoas a flexionam incorretamente em gênero e dizem: “Comi menas comida hoje.”. Como “menos” é adverbio, é sempre invariável e ficará sempre no singular, portanto, o correto, de acordo com o padrão é: “Comi menos comida hoje.”
  • 30. 32 • capítulo 1 5- “AO ENCONTRO DE” E “DE ENCONTRO A” As expressões “ao encontro de” e “de encontro a” são extremamente usadas por jornalistas e até em conversas cotidianas. Mas muitos a utilizam da forma in- correta! Para não errar, atente-se às normas de uso de tais locuções:1 Ao encontro de: significado “estar de acordo com”, “em direção a”, “favorá- vel a”, “para junto de”. (está de acordo) Exemplo: Meu texto está ao encontro do que o professor solicitou. De encontro a: tem significado de “contra”, “em oposição a”, “para chocar- se com”. Exemplo: Meu texto está do encontro ao que o professor solicitou. (está em desacordo) A fim de ilustrar a importância da gramática para o sentido, apresentamos, a seguir, uma frase de uma notícia que relata a iniciativa da prefeitura de São Paulo de oferecer moradia, trabalho remunerado e treinamento profissional a dependentes químicos da região conhecida como Cracolândia. Veja como o conhecimento da língua é relevante para o sentido, pois se mudarmos apenas uma preposição, o significado da frase altera-se totalmente: “Dar trabalho e moradia aos usuários de drogas vai ao encontro do que a Organização das Nações Unidas (ONU) defende para combater o vício” (Época, 13 jan. de 2014, p. 11). O jornalista usou adequadamente a locução prepositiva “ao encontro do”, transmitindo a ideia de acordo com o contexto da notícia, isto é, a ação rea- lizada pela prefeitura de São Paulo está em conformidade com o que defen- de a ONU. Entretanto, muitas pessoas não sabem quando devem utilizar “ao encontro ou de encontro”. Imagine se a frase tivesse sido escrita dessa forma: “Dar trabalho e moradia aos usuários de drogas vai de encontro do que a Or- ganização das Nações Unidas (ONU) defende para combater o vício”. Usando “de encontro”, o sentido da frase seria o oposto, a atitude da prefeitura de São Paulo não estaria de acordo com o que defende a ONU. Percebeu a importância do conhecimento da língua tanto para a interpretação como para a redação? 1 Todo o conteúdo desse item foi retirado de: CORDEIRO, M.B.G. Redação e Interpretação Textual. Estácio: Ribeirão Preto, 2014, p. 28-29
  • 31. capítulo 1 • 33 ATIVIDADE Analise a linguagem usada no cartum a seguir para responder à questão 1. 1. Analise a variação linguística presente na tirinha e as considerações a seguir: I. A situação retratada pode ilustrar a variação diatópica, referente às diferenças entre as regiões no modo de falar (semântica, sintaxe, fonologia, morfologia), pois mostra uma forma típica dos gaúchos se comunicarem. II. A situação retratada pode ilustrar a variação diastrática, referente a fatores sociais, tais como: faixa etária, profissão, estrato social, escolaridade, gênero etc., pois mostra os dialetos diferentes de um garoto e de um senhor. III. A situação retratada pode ilustrar a variação diafásica, referente ao contexto comu- nicativo; a situação exigirá o uso de um modo de falar distinto, pois os falantes encon- tram-se em uma situação informal e usam expressões populares. IV. A linguagem usada constitui exemplo de vernáculo no sentido do uso específico, regional que se faz da língua. V. A linguagem usada constitui exemplo de vernáculo no sentido de língua nacional de um país. Estão corretas as afirmativas feitas em: a) Todas, exceto V. b) I e II, apenas. c) I, II e III.
  • 32. 34 • capítulo 1 d) Todas, exceto IV. e) II e IV, apenas. 2. Assinale a única alternativa que apresenta uma informação INCORRETA sobre o texto oral e o escrito. a) As diferenças entre fala e escrita ocorrem mediante uma gradação, esta é baseada no meio de distribuição (sonoro ou gráfico) e na concepção discursiva (oral ou escrita) de acordo com uma maior ou menor aproximação de uma ou de outra modalidade (gêneros de fala e de escrita). b) Gêneros orais espontâneos, como uma conversa informal, por exemplo, apresentam relativa fragmentação: frases curtas e margeadas por pausas. c) Nos gêneros orais espontâneos, como uma conversa informal, por exemplo, há pre- sença explícita de hesitação, pois o planejamento e a execução são simultâneos. d) Frases mais longas, encadeamento sintático complexo (coordenação e subordinação) são características de gêneros escritos formais, como teses, dissertações, artigos científicos etc. e) São características distintivas da fala e da escrita: A fala é contextualizada e a escrita, descontextualizada. A fala não é planejada e a escrita é; a fala não é normatizada e a escrita sim; a fala é pouco elaborada e a escrita é complexa. Com base no cartum, responda às questões a seguir:
  • 33. capítulo 1 • 35 3- Analise as informações sobre variação linguística, norma e uso em relação à fala da personagem da charge. I. A fala da personagem exemplifica a variação linguística, pois o protagonista usa uma variante típica da linguagem informal: a abreviação do verbo “está” para “tá”. II. Não há erro gramatical na charge, pois a informalidade expressa na fala do protago- nista representa uma linguagem coloquial, na qual não se exige o cumprimento rigoroso das normas gramaticais. III. Há erro linguístico na charge, pois o cartunista deveria ter usado a norma padrão, já que a charge é um gênero destinado principalmente a um público culto. IV. Se o enunciado da charge fosse produzido em um pronunciamento oficial do Governo, por exemplo, deveria ser usada uma linguagem culta, de acordo com o padrão. Estão corretas as afirmações feitas em: a) I e II, apenas. b) I e III, apenas. c) I e IV, apenas. d) II e IV, apenas. e) I, II e IV. 4- A fala da personagem ilustra, essencialmente, a(s) variação(ções): a) Diatópica, apenas; b) Diastrática e diafásica; c) Diafásica, apenas; d) Diastrática, penas. e) Diafásica e diatópica. 5- Relacione os conceitos às respectivas nomenclaturas: I. Norma culta; II. Norma padrão; III. Gramática Normativa; IV. Prescrição; V. Uso. ( ) Norma estabelecida pela tradição gramatical; prestígio social. ( ) O verbo deve concordar com o sujeito. ( ) O uso linguístico feito por falantes escolarizados que normalmente conhecem a nor- ma padrão. ( ) Diminuiu os casos de fome no país.
  • 34. 36 • capítulo 1 ( ) Pilar da norma padrão; deve ser trabalhada na universidade, pois é esperado que falantes escolarizados a dominem nas situações de uso formais. Assinale a alternativa que relaciona corretamente as nomenclaturas às suas definições: a) (I); (II); (III); (IV); (V); b) (V); (IV); (III); (II); (I); c) (I); (IV); (II); (V); (III); d) (II); (IV); (I); (V); (III); e) (II); (III); (I); (V); (IV). REFLEXÃO Encerramos a reflexão deste capítulo com as palavras de Leite e Callou (2002), que, de forma brilhante, explicam a íntima relação entre língua e sociedade, evidenciando o caráter simbólico que os usos linguísticos apresentam. É através da linguagem que uma sociedade se comunica e retrata o conhecimento e entendimento de si própria e do mundo que a cerca. É na linguagem que se refletem a identi- ficação e a diferenciação de cada comunidade e também inserção do indivíduo em diferentes agrupamentos, estratos social, faixas etárias, gêneros, graus de escolaridade. A fala tem, assim, um caráter emblemático, que indica se o falante é brasileiro ou português, francês ou italiano, e mais ainda, sendo brasileiro, se é nordestino ou carioca. A linguagem também ofe- rece pistas que permitem dizer se o locutor é homem ou mulher, se é jovem ou idoso, se tem curso primário, universitário ou se é iletrado. E, por ser um parâmetro que permite classificar o indivíduo de acordo com sua nacionalidade e naturalidade, sua condição econômica ou social e seu grau de instrução, é frequentemente usada para discriminar e estigmatizar o falante. De uma perspectiva estritamente linguística, não se justificam julgamentos de valor, uma vez que a faculdade da linguagem é inata e comum a toda espécie humana. As diferenças existentes entre as línguas representam apenas formas de atualização distintas dessa faculdade uni- versal. Assim, para o linguista, todo homem é igual não só perante a lei, mas também frente a sua capacidade linguística. (LEITE, Y.; CALLOU, D. 2002, p. 7-8)
  • 35. capítulo 1 • 37 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BEZERRA, M. A.; SOUTO MAIOR, A. C.; BARROS, A. C. S. A gíria: do registro coloquial ao registro formal. In: IV Congresso Nacional de Linguística e Filologia, Rio de Janeiro, v. I, nº 3, p. 37, 2000. CORDEIRO, M.B.G. Redação e Interpretação Textual. Estácio: Ribeirão Preto, 2015. DALLIER, L.C. Comunicação e expressão. Ribeirão Preto: UNISEB, 2011, p. 53-56 LUCCHESI, D. Norma linguística e realidade social. In: BAGNO, M. (Org.) Linguística da nor- ma. São Paulo: Loyola, 2002. LEITE, Y.; CALLOU, D. Como falam os brasileiros. Rio de janeiro: Jorge Zahar, 2002. NERY, Alfredina. A língua muda conforme situação. In: Pág.3 Pedagogia e comunicação. Disponível em: http://educacao.uol.com.br/portugues/ ult1706u80.jhtm. Acessando em: 10 de dezembro de 2009. SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. São Paulo: Cultrix, 2004. SEVERO, R. T. Língua e linguagem como organizadoras do pensamento em Saussure e Ben- veniste. Entretextos, Londrina, v. 13, n. 1, p. 80-96, jan./jun. 2013 No próximo capítulo No próximo capítulo, apresentaremos algumas prescrições da norma padrão. As recomendações apontadas referem-se a algumas noções básicas de sintaxe, tais como a regência nominal e verbal; verbos transitivos e intransitivos e con- cordância verbal e nominal. Vamos despertar a curiosidade e aprender?
  • 36. 38 • capítulo 1 ANOTAÇÕES
  • 37. Noções básicas de sintaxe: regência e concordância 2
  • 38. 38 • capítulo 2 Apresentação do Capítulo Neste capítulo, vamos expor algumas prescrições gramaticais, construções tí- picas da norma padrão e que devem ser respeitadas em contextos formais. As lições básicas da sintaxe, da estrutura da oração são o sujeito e o predicado, são funções elementares em torno das quais se organiza o enunciado, e, portanto, você deve conhecê-las. A regência e a concordância, lições apresentadas neste capítulo, relacionam-se indiretamente ao sujeito e predicado e constituem te- mas muito explorados em concursos. Tanto na comunicação oral, como na es- crita, são itens de avaliação, indicando claramente se o emissor é escolarizado ou não. Desejamos que vocês sejam bem avaliados tanto na fala como na escrita! OBJETIVOS •  Apresentar o conceito de sintaxe; •  Ensinar a transitividade de alguns verbos; •  Listar algumas regras de regência verbal e nominal e suas implicações semânticas; •  Comparar o uso da regência e da concordância verbal na norma padrão e na linguagem coloquial; •  Elencar as regras gerais e alguns dos casos especiais de concordância nominal. REFLEXÃO Você se Lembra? Você se recorda de ter ouvido alguma pessoa dizendo: “Assisti o filme”; “O livro que preciso”, “As menina amam essa música”, “Segue os documentos anexo.” e outras construções típicas da linguagem cotidiana? Certamente a resposta será positiva. Mas você sabe que essas construções não obedecem à norma padrão? De acordo com as regras da Gramática, o adequado seria: “Assisti ao filme”; “O livro de que preciso”, “As meninas amam essa música”; “Seguem os docu- mentos anexos.”. Para conhecer essas e outras regras, mergulhe no segundo capítulo para usar corretamente as regras básicas de regência e concordância.
  • 39. capítulo 2 • 39 1.1  Noções básicas da sintaxe O termo “sintaxe” vem do grego “sintaxis” e significa: ordem, disposição. A es- tudiosa Svobodová (2014) explica que além de estudar a organização das pa- lavras na frase, a sintaxe analisa a relação lógica entre as palavras e as frases. Na Gramática tradicional, a sintaxe estuda não só a ordem e disposição dos termos, mas a relação entre eles e a função que desempenham na oração. A classificação dos vocábulos de acordo com sua função sintática é dividida em três grupos: os termos essenciais, os acessórios e os integrantes (SVOBODOVÁ, 2014, p. 7). Portanto, são estudadas funções sintáticas como as de sujeito, obje- to, predicado, adjuntos adverbiais e adnominais, complemento nominal, tran- sitividade verbal, regência, concordância etc. Neste capítulo, serão estudadas apenas as três últimas funções sintáticas. Você pode estar se perguntando por que estudar essa teoria, e a resposta é rápida e simples: o capítulo 1 demonstrou claramente a necessidade de obe- decer à norma padrão em contextos formais e as regras sintáticas do padrão nem sempre são seguidas no uso coloquial da língua. Quem não segue as regras sintáticas prescritas pela gramática comete um vício de linguagem denomina- do “solecismo”. Bonito o nome né? Ele é mais comum do que se imagina na linguagem usual, como por exemplo na frase: “Haviam dez alunos na sala”. En- controu o solecismo? Não? Então, aprenda algumas regras básicas para evitar tal vício de linguagem. 1.2  A transitividade verbal Na Língua Portuguesa, os verbos são de diferentes tipos, podendo ter sentido completo ou incompleto. São justamente os verbos o elemento central da ora- ção, pois é em torno deles que se acrescentam complementos, adjuntos etc. Dessa forma, o predicado é um elemento essencial da oração que traz a infor- mação básica sobre o sujeito (ser de quem se declara algo) e é nele que se en- contram os verbos.
  • 40. 40 • capítulo 2 “Chama-se predicação verbal o modo pelo qual o verbo forma o predicado. Há verbos que, por natureza, têm sentido completo, podendo, por si mesmos, constituir o predicado: são os verbos de predicação completa, denominados in- transitivos” (CEGALLA, 2009, p. 335). Veja o exemplo a seguir: O cão late. Sujeito Predicado (Verbo Intransitivo: VI) Quanto à transitividade, os verbos são classificados em: a) Intransitivos: VI b) Transitivos diretos: VTD c) Transitivos indiretos: VTI d) Bitransitivos: VTDI http://www.alunosonline.com.br/portugues/transitividade-intransitividade-verbal.html a) Verbos intransitivos: VI Os verbos intransitivos são aqueles que contêm toda a significação do pre- dicado sem a necessidade de qualquer complemento, basta apenas a presença do sujeito, como em: “Marcos caiu”; “A bomba explodiu”; “O bebê dormiu”; “O sorvete derreteu”; “A estrela brilha” etc. Note que nesses exemplos, o verbo traz a significação es- sencial, não havendo necessidade de um termo para completar a ideia central. Caso o falante queira acrescentar alguma informação adicional (e não obriga-
  • 41. capítulo 2 • 41 tória, portanto), pode acrescentar termos acessórios, como os adjuntos adver- biais: “Marcos caiu ontem”; “A bomba explodiu rapidamente”; “O bebê dormiu logo”; “O sorvete derreteu rapidamente”; “A estrela brilha intensamente” etc. Segundo Kury (2002, p. 28-29), há três tipos de verbos intransitivos: • Verbos de fenômenos naturais ou acidentais: chover, ventar, nascer, mor- rer, acontecer, ocorrer, cair, surgir, acordar, dormir, brilhar, morrer, girar etc. “Um acidente aconteceu”; “A criança acordou”; “O vaso caiu” etc. • Certos verbos de ação que exprimem fatos causados por um agente capaz de executá-los: ler, brincar, trabalhar, correr, voar, etc. Exemplos:“Ascriançasbrincameospaistrabalham”;“Ospássarosvoam”etc. • Verbos de movimento ou situação: chegar, vir, morar etc. “O pai chegou”; “Ela mora aqui”. Você, caro estudante, pode ser tentando a considerar estes últimos verbos como transitivos, pois parece que precisam de um “complemento”. No entan- to, os termos que podem acompanhá-los são acessórios, como os adjuntos ad- verbiais de lugar e tempo, por exemplo. Assim, “Cheguei ao local”; o termo “ao local” é adjunto adverbial e não objeto, isto é, não se classifica como comple- mento verbal. Para frisar: Verbos intransitivos expressam uma ideia completa, e por isso, não preci- sam de complemento. b) Verbos transitivos: são aqueles que necessitam de um complemento, isto é, seu sentido é incompleto, precisando de um complemento, chamado “obje- to”. Eles classificam-se em transitivos diretos e indiretos: - Transitivos diretos (VTD): ligam-se ao complemento sem preposição obri- gatória: amar, pegar, ver, derrubar, olhar, ter etc.
  • 42. 42 • capítulo 2 ATENÇÃO Recorde as principais preposições: a – ante – até – após – com – contra – de – desde – em – entre – para – por – perante – sem – sob – sobre Você precisa saber diferenciar quando o “a” é artigo e quando é preposição: Vi a menina caindo. (a=artigo) Obedeço à professora (a=preposição) O estudante deve saber ainda que há alguns verbos transitivos diretos que podem ser usados com preposição por questões estilísticas e de sentido, e nesses casos, os objetos serão considerados objetos diretos preposicionados, como em: “Amo a Deus, primeiramente!” - Transitivos indiretos (VTI): ligam-se ao complemento obrigatoriamente por meio de uma preposição: gostar (de); pensar (em); necessitar (de); consistir (em); obedecer (a); responder (a); simpatizar/antipatizar (com) etc... - Verbos transitivos diretos e indiretos (VTDI): transitam duas vezes e por isso, têm um objeto direto e um indireto: Agradecer X a Y; Perdoar X a Y;e Pagar X a Y; Dar X a Y etc. ATENÇÃO A transitividade verbal deverá ser analisada no contexto, pois pode mudar dependendo da frase. Por exemplo, na frase: “Paguei a conta”, o verbo “pagar”, nesse contexto, é apenas VTD, transita apenas uma vez e tem apenas o objeto direto.
  • 43. capítulo 2 • 43 Conhecer a transitividade verbal, conforme as recomendações das gramáti- cas tradicionais, é essencial para escrever melhor (adequado ao padrão) e tam- bém para interpretar. Quando se conhece a transitividade, utiliza-se a regência padrão, os pronomes adequadamente, a crase e outras normas. Quanto à inte- pretação, é preciso saber que a regência dos verbos pode alterar seu sentido, então, estude algumas regras de regência, a seguir. 1.3  A regência verbal Cegalla (2008, p. 483) explica que a regência trata das “relações de dependência que as palavras mantêm na frase”. Há dois tipos de regência: a verbal, que trata das relações entre o verbo e seus complementos, e a nominal, que cuida dos arranjos entre os nomes (substantivos e adjetivos) e os termos a eles ligados. Exemplos: a) É um homem propenso ao vício. Adjetivo complemento O adjetivo “propenso” é o termo regente, e “ao vício”, o termo regido. Como o adjetivo é considerado um nome, trata-se de um caso de regência nominal. b) Assistimos à peça de teatro. Verbo complemento O verbo “assistimos” é o termo regente, e “à peça”, o termo regido. Quando a relação se dá entre o verbo e seu complemento, ocorre um caso de regência verbal. Assisti a peça de teatro (auxiliei) Assisti à peça de teatro (presenciei)
  • 44. 44 • capítulo 2 Se você escrever: “Assisti a peça de teatro”, sem o acento grave (indicativo de “crase”), sua frase poderá ser entendida da seguinte forma: “Auxiliei a monta- gem da peça de teatro”, e não “presenciei”. Após a definição, Cegalla (2008, p. 490) orienta que a regência dos verbos pode alterar seu sentido, como, por exemplo, em: Aspirei o aroma das flores (VTD: sorver, absorver). Aspirei ao sacerdócio (VTI: desejar, pretender). Ele assistiu ao jogo (VTD: presenciar, ver). O médico assistiu o enfermo (VTI: prestar assistência, ajudar). Aqui, cabe a seguinte ressalva: Na linguagem informal, popular, “assistir mesmo com o sentido de presenciar, tem sido empregado como VTD, isto é, sem preposição. Assim, são comuns construções populares como: “Assisti o fil- me”. Porém, quando se exigir o padrão, você já sabe que deve dizer ou escrever: “Assisti ao filme”. Olhe para ele (VTI: fixar o olhar). Olhe por ele (VTI: cuidar, interessar-se). Ele não precisou a quantia (VTD: informar com exatidão). Ele não precisou da quantia (VTI: necessitar). A cadela agradava o filhote (VTD: acariciar). A música não agradou aos fãs (VTI: ser agradável). Queria as férias logo (VTD: desejar). A mãe quer aos filhos igualmente (VTI: ter afeto). O atirador visou o alvo (VTD- apontar) O professor visou meu caderno (VTD: pôr visto) Muitos visam aos cargos melhores (VTI: desejar, ter em vista)
  • 45. capítulo 2 • 45 Lembre-se disso: se você não usar “visar” com preposição, o sentido do verbo será o de “dar visto, assinar”! O juiz procedeu adequadamente (VI: agir). Estas mercadorias procedem da China (VI seguido de adjunto adverbial de origem, com preposição de: originar-se) Seu argumento não procede (VI: ter fundamento) O juiz procedeu ao julgamento. (VTI: dar sequência, dar continuidade) Cegalla (2008, p. 490-515) recomenda a regência de vários verbos, dentre os quais listamos os seguintes:2 a) Abdicar (desistir, renunciar ao poder, cargo, título, dignidade) pode ser transitivo direto (TD) ou transitivo indireto (TI) (preposição de): Exemplos: - D. Pedro I abdicou em 1831 (VI). - Não abdicarei a coroa (VTD). - Não abdicarei de meus direitos (VTI). b) Agradar (causar agrado, contentar, satisfazer, aprazer): usa-se, atualmen- te, com mais frequência, com objeto indireto, sendo o sujeito da oração nome de coisa (uma coisa agrada a alguém): - A canção agradou ao público. -Minha proposta não lhe agradou. 2 Todo o conteúdo desse item foi retirado de: CORDEIRO, M.B.G. Produção Textual I. Estácio: Ribeirão Preto, 2015
  • 46. 46 • capítulo 2 ATENÇÃO Quando o sujeito da oração é nome de pessoa (alguém agrada alguém), é comum usar o objeto direto, isto é, sem preposição: - O pai agrada os filhos. [alguém agrada alguém] - Procura agradá-lo de todas as formas. *Usa-se o verbo como intransitivo na acepção de causar satisfação, ser agradável ou atraente. - A exibição do balé não agradou. - Em certas horas, nada agrada tanto quanto uma boa música. *Apresenta-se com a forma pronominal, no sentido de gostar: - Leila agradou-se muito do rapaz. - A virtude de que Deus mais se agrada é a humildade. c) Ajudar (alguém, prestar ajuda, auxiliar a alguém) é TD: - Antônio ajudava o pai. - Nós os ajudaremos. - Elas não queriam que as ajudássemos. d) Aludir (fazer alusão, referir-se a) é VTI, isto é, constrói-se com OI: - Na conversa, aludiu-se brevemente ao seu novo projeto. - A que o senhor está aludindo? - O jornal a que o ministro aludiu lhe fazia duras críticas. ATENÇÃO Não admite, como complemento, o pronome lhe, mesmo sendo VTI: Como era melindroso, não aludi a ele (e não lhe aludi). Aquela moça o destratara, mas ele nem sequer aludiu a ela. Outros verbos TI também não admitem o complemento lhe(s), sendo, por isso, construí- dos com as formas preposicionadas:
  • 47. capítulo 2 • 47 Aspiro ao título. Aspiro a ele. Assistimos à festa. Assistimos a ela. Refiro-me a João. Refiro-me a ele. Recorri ao ministro. Recorri a ele. Dependo de Deus. Dependo dEle. Prescindimos de armas. Prescindimos delas. e) Ansiar (desejar ardentemente) é TI. Use-o com a preposição [por]: -Ansiou por ir ao seu encontro. - Ansiava por me ver fora de casa. Ansiar (= causar mal-estar, angustiar) é TD: - O cansaço ansiava o trabalhador. O cansaço ansiava-o. f) Atender (acolher ou receber alguém com atenção): VTD: - O diretor atendeu os alunos. - O médico sempre os atende bem. - O tenista não atendeu o repórter. * Atender (dar atenção a alguém, ouvir-lhe os conselhos, levar em conside- ração o que alguém nos diz): VTI: - Não atendera aos amigos, fora entregar-se a impostores. * Atender (considerar, prestar atenção, levar em consideração, satisfazer): - Atenda bem ao que lhe digo. O Corpo de Bombeiros atendeu a doze pedidos de socorro. g) Bater (dar pancadas): VTI: - Os colegas mais fortes batiam nos mais fracos. - Por que batiam no menino? Por que lhe batiam? *Bater (bater a porta, fechar com força): VTD - Furioso, bateu a porta.
  • 48. 48 • capítulo 2 *Bater (junto à porta para que abram ou atendam): VTI - Bateram à porta e fui atender. Ao estudar pela primeira vez a regência, pode parecer um assunto difícil, mas com o tempo, assimilam-se os diferentes casos. 1.3.1  Regência verbal: variação, uso e norma gramatical A regência é um fator que sofre variação, isto é, realiza-se de formas diferentes no uso linguístico. Há o uso padrão, valorizado socialmente, e o uso coloquial, que não segue as prescrições gramaticais. Para finalizar a regência, listamos alguns desses casos. a) Chegar com o sentido “atingir data ou local”. - Na linguagem coloquial (informal), o verbo chegar é usado indevidamente com a preposição em: “Chegamos em casa; chegamos no porão”; - Na linguagem padrão (formal), o verbo chegar deve ser usado com a pre- posição “a”: “Chegamos a casa; chegamos ao porão”. b) Esquecer; esquecer-se/lembrar; lembrar-se: - Na linguagem coloquial (informal), o verbo esquecer é usado indistinta- mente com ou sem a preposição de: “Esquecemos do calendário; esquecemos o calendário”; - Na linguagem padrão (formal), o verbo esquecer deve ser usado sem a pre- posição de quando não ocorre em sua forma pronominal: “Esquecemos o calendário”; Contudo, em sua forma nominal (esquecer-se), deve ser usado com a pre- posição: “Esquecemo-nos do calendário”.
  • 49. capítulo 2 • 49 ATENÇÃO “lembrar”/”lembrar-se” segue a mesma regra: “Lembrei o compromisso de hoje.” OU: “Lembrei-me do compromisso de hoje.” c) Implicar com o sentido de “causar”: - Na linguagem coloquial (informal), muitos falantes usam o verbo impli- car como transitivo indireto, como em: “O aumento da inflação implicou no aumento dos preços.” - Na linguagem padrão (formal), o verbo implicar deve ser usado sem a pre- posição em: “O aumento da inflação implicou o aumento dos preços.” d) Namorar: - Na linguagem coloquial (informal), muitos falantes usam o verbo namo- rar como transitivo indireto, como em: “Namorei com Paulo por muitos anos.” - Na linguagem padrão (formal), o verbo namorar deve ser usado sem a pre- posição com: “Namorei Paulo por muitos anos.” e) Preferir: - Na linguagem coloquial (informal), muitos falantes usam o verbo preferir com a locução prepositiva “do que”; “Prefiro X do que Y”, como em: “Prefiro assistir à TV do que ler.” - Na linguagem padrão (formal), o verbo preferir deve ser usado sem a pre- posição a: “Prefiro assistir à TV a ler.” f) Ir (para indicar direção): - Na linguagem coloquial (informal), muitos falantes usam o verbo com a preposição em: “Vou no mercado”; “Fui no shopping”. - Na linguagem padrão (formal), devem ser regidos pelas preposições “a” e “para”. “Vou ao mercado./ Fui à feira.”
  • 50. 50 • capítulo 2 g) Obedecer e desobedecer: Devem ser complementados pela preposição “a”, de acordo com a norma padrão. Obedeça à sinalização. Obedecer aos pais sempre foi recomendado. Cada vez mais vemos empresas desobedecendo ao código do consumidor. h) Emprestar: Deve ser usado somente no sentido de ceder por empréstimo, de acordo com a norma padrão. Emprestei os livros à diretora da empresa. i) Morar e residir: Devem ser empregados com a preposição “em”, antes do local de moradia ou residência, de acordo com a norma padrão. Moro na Avenida Marechal Rondom. O diretor reside na Avenida Independência. OBS.: expressões como residente e situado(a) devem ser seguidas da prepo- sição “em”: Amando Franco, residente na Avenida Central. Casa Silva, situada na Avenida Quintino de Abreu 1.4  Regência nominal É muito comum alguns termos regidos serem ligados aos regentes por meio de preposições. Por isso, estudar regência é importante não só para saber se determinado termo exige preposição ou não, mas também para conhecer qual a preposição usada com tal termo regente e regido. A regência nominal estuda a relação dos nomes (adjetivos, substantivos e até advérbios) com seus comple- mentos. Veja, agora, a lista de substantivos e adjetivos acompanhados das preposi- ções mais usuais que Cegalla (2008, p. 487-488) apresenta. Note que, em alguns casos, admite-se mais de uma preposição:
  • 51. capítulo 2 • 51 Acessível a Afável com, para com Afeição a, por Aflito com, por Ansioso por, de Atentatório a, de Aversão a, para, por Alheio a, de Avesso a Aliado a, com Análogo a Antipatia a, contra, por Apto a, para Atencioso com, para com Imune a, de Indulgente com, para com Inerente a Coerente com Compaixão de, para com, por Compatível com Conforme a, com Constituído de, com, por Contente com, por, de, em Contíguo a Cruel com, para, para com Curioso de, por Desgostoso de, com Desprezo a, de, por Devoção a, para com, por Devoto a, de Dúvida acerca de, de, em, sobre Empenho de, em, por Fácil a, de, para Falho de, em Feliz com, de, em, por Fértil de, em Hostil a, para com Junto a, com Lento em Pasmado de Passível de Peculiar a Pendente de Preferível a Propício a Próximo a, de Rente a Residente em Respeito a, com, de, para com, por Simpatia a, para com, por Situado a, em, entre Solidário com Suspeito a, de Último a, de, em União a, com, entre Versado em Vizinho a, com, de Observe também a regência de alguns advérbios: Longe de; Perto de; Parale- lamente a; Relativamente a (PASQUALE & ULISSES, 1999, P. 527). 1.5  A variação linguística e a concordância verbal Antes de estudarmos como a Gramática prescreve as regras gramaticais sobre
  • 52. 52 • capítulo 2 concordância, apresentaremos, a seguir, uma breve explicação sobre a variação linguística, adaptada da dissertação de Gameiro (2005, p. 49-71): “A variação na concordância verbal na língua falada na região central do Estado de São Paulo”. Ao estudarmos determinada língua, é possível notar variações em todos os níveis da estrutura linguística: no morfológico, no fonológico, no sintáti- co e no lexical. A língua portuguesa falada no Brasil, como todo sistema linguístico, com- porta em seu interior a variação e, assim, está continuamente em processo de mudança. Embora a mudança seja natural à língua, ela incomoda alguns gra- máticos e também alguns falantes nativos mais tradicionais e conservadores, que acreditam que a variação constitui uma “degradação” da língua. As gramáticas tradicionais veiculam uma norma padrão em detrimento da popular, porém, esta norma padrão vem se afastando do uso concreto da língua em situações menos formais. No início de sua instituição, a norma foi justificada devido à ameaça da lín- gua grega ser corrompida pela língua dos “bárbaros”. Entretanto, atualmente, nossa língua não está ameaçada de extinção, por isso, Neves (2003) questiona o porquê das gramáticas continuarem a veicular padrões sem reflexão alguma e desconsiderarem o uso real da língua. A autora ressalta que as preocupações atuais para a organização das gramáticas são totalmente diferentes das que le- varam à instituição da disciplina gramatical. A partir de estudos científicos da linguagem, a língua foi desvinculada de qualquer valor político, social ou até mesmo de beleza estética. Dentre estes es- tudos, destacamos a Sociolinguística, que passou a considerar o social no uso da linguagem, demonstrando que os diferentes usos são adequados a diferentes situações contextos. Para Neves, “a existência de registros não-padrão constitui garantia de eficiência de uso” (2003, p. 34). A Sociolinguística, através de seus estudos variacionistas que consideram o uso vinculado a padrões, registros e eficácia, passou a considerar a diferença como garantia de eficiência e não mais como deficiência, como era vista antes. O “padrão” foi relativizado nos estudos de conversação ao ser vinculado à modalidade de língua (falada ou escrita). Desta mesma forma, a Linguística demonstrou que não se deve atribuir va- lor a qualquer modalidade da língua. Porém, apesar de todo este avanço nos estudos linguísticos, as gramáticas continuam a apresentar uma norma padrão que cada vez mais se afasta do uso real, como é o caso, por exemplo, dos prono- mes oblíquos, e outros. Embora muitos de nossos gramáticos, ou “os verdadei-
  • 53. capítulo 2 • 53 ros”, como afirma Neves, saibam disto, tais descobertas da Linguística não são comumente aproveitadas pela disciplina gramatical. Não se reconhece que a variação linguística faz parte da essência da lingua- gem, que toda língua possui uma “deriva” (mudança interna). Ao contrário, mesmo a par de todas estas descobertas é comum o preconceito linguístico por parte de cidadãos comuns e até mesmo de professores. Há sim, um padrão lin- guístico que é valorizado socialmente, mas não há nada intrinsecamente que o faça “melhor”, “mais bonito” ou “mais correto” que a variante não prestigiada. Trata-se de uma questão sociocultural. Na sociedade em geral e principalmente em países como o Brasil, por exem- plo, as pessoas que têm maior acesso à cultura são as de maior poder econômi- co e isto sustenta a vinculação entre valor social e valor intelectual. Tal concep- ção é mais evidente nas concepções leigas sobre o assunto e não baseadas em estudos científicos. Desta forma, para um leigo, conhecer a língua é conhecer a norma padrão, saber o que é certo e o que é errado e, por isso, tais pessoas vivem cobrando do professor de português o que se deve e o que não se deve dizer/escrever. Neves (2003, p.54) acredita que o leigo seja “a força de sustentação de um padrão modelar” à medida em que busca esta norma por diferentes motivos. Para nós, a mitificação do “bom uso da linguagem”, não é construída apenas pelo povo, pelo falante em geral, mas sim também pelos gramáticos tradicio- nais e as instituições que eles representam ou às quais se associam, como es- cola e mídia, por exemplo. Acreditamos, que o leigo represente uma influência importante para a sustentação de um padrão modelar à medida que tenta man- tê-lo ou aprendê-lo, entretanto, motivos sociais, tais como um emprego ou uma posição social levam-no a buscar este modelo, este padrão. Quem fala corretamente, bonito, como muitos dizem, desperta um prestí- gio social por parte de quem o ouve, por isto, muitos buscam manuais com re- gras explícitas do que se pode e o que não se pode utilizar na linguagem visando a diferentes objetivos. Assim, basta observarmos o sucesso de professores de português que ditam regras na TV e nos jornais e a baixa popularidade dos lin- guistas, cuja missão de registrar as formas em variação não é compreendida por muitos intelectuais. Devido a esta pressão social, mesmo ocupando posição central no dia-a-dia das pessoas, a língua falada é vista de modo negativo, como o lugar do erro e do antimodelo. Porém, é nela que observamos as alterações que a língua so-
  • 54. 54 • capítulo 2 fre através dos tempos. Parte da responsabilidade por esta visão deturpada da modalidade falada deve-se à própria tradição dos estudos linguísticos, uma vez que, até pouco tempo, a Linguística tomava como objeto de análise ou a escrita, ou um modelo de fala idealizada, artificial e não a fala autêntica. Lemle (in Sylvestre, 2001) ressalta que a heterogeneidade linguística é um fato natural em uma comunidade tão extensa como a brasileira. A heteroge- neidade linguística decorre da própria heterogeneidade social, geográfica e de registro. A heterogeneidade geográfica é a variação entre comunidades linguís- ticas localizadas em espaços fisicamente distantes entre si. Já a heterogeneida- de social determina divergência linguística entre os subgrupos de uma comu- nidade; neste nível, podemos destacar as seguintes variáveis: - socioeconômica: classe baixa, média e alta; - faixa etária: crianças, jovens, adultos e idosos; - sexo: masculino e feminino; - ocupação profissional: trabalhador braçal, profissões de nível médio e alto; - desejo dos falantes em diferenciarem-se de outros grupos pelo uso de cer- tas características linguísticas. A variação no registro de uso ou nível de formalidade apresenta uma escala que abarca desde o estilo mais formal até o mais coloquial. As variações que ocor- rem na língua são mais frequentes em níveis informais, ou de baixa formalidade. Podemos pensar, portanto, que o sistema linguístico sofre pressão de duas forças que atuam no sentido da variedade e da unidade, no caso, fatores inter- nos e externos em competição entre si. Segundo Mollica: Esse princípio opera por meio da interação e da tensão de impulsos contrá- rios, de tal modo que as línguas exibem inovações mantendo-se, contudo, coesas: de um lado, o impulso à variação e possivelmente à mudança; de outro, o impulso à convergência, base para a noção de comunidade lin- guística, caracterizada por padrões estruturais e estilísticos (2003, p.12).. Atualmente, vários fenômenos em variação no português brasileiro (dora- vante PB) têm sido analisados pelos estudiosos, e um dos fatos que mais tem nos despertado interesse é a variação na concordância verbal na fala informal
  • 55. capítulo 2 • 55 das pessoas de um modo geral. A questão da concordância é um dos fatos morfossintáticos da gramática da fala brasileira que tem sido estudado com mais precisão e rigor entre os so- ciolinguistas. Iniciados esses estudos por Naro (1977), com seu trabalho clássi- co “The social and structural dimensions of a syntatic change” têm hoje Marta Scherre como a sociolinguista que mais vem se dedicando ao assunto. (...) A ausência de marcas formais de plural em alguns contextos constitui uma variante estigmatizada, como em: “Nóis vai”, por exemplo. Embora a concor- dância verbal (doravante CV) seja um fato estigmatizado, fato que poderia favo- recer a aquisição da regra, quando o registro é informal e os contextos de apli- cação da regra não são muito salientes, é interessante notar que até mesmo os falantes ditos cultos deixam de utilizar a regra de concordância. Desta forma, Ribeiro (2003, p.373) exemplificou alguns casos que não servem de indicadores da norma culta ou popular, pois são realizados de um modo geral pelos falantes brasileiros, não caracterizando uma ou outra variedade: (1) Segue as blusas (CV) (2) Vende-se casas (CV) (3) Pega essas cadeira aí e coloca tudo ali, naquele lugar.3 (CN) Por outro lado, apresenta casos em que a ausência de concordância caracte- riza a norma popular: (4) Minhas filha pequena saiu (CV e CN) (5) Nós vai (CV) (6) As folha cai no outono (CV e CN) (7) Os meu filho (CN) Partindo de exemplos de variações que ocorrem comumente na fala dos brasileiros de um modo geral, tais como o uso do pronome tônico como obje- to (encontrei ele), o caso das relativas (cortadora: Vi o artista que te falei ontem; lembrete: Conheço uma moça que ela gosta só de música sertaneja) e outros, a autora acredita que saindo das questões relacionadas à concordância, estes e ou- tros fatores em variação que têm caracterizado a fala dos brasileiros, não podem definir padrões de normas cultas e populares, já que tanto falantes cultos quanto 3 Este exemplo foi retirado de uma fala de um estudante universitário que fazia Letras.
  • 56. 56 • capítulo 2 não cultos utilizam estas construções em situações de menor formalidade. Após essas considerações feitas por Gameiro (2005), esperamos que você te- nha compreendido um pouco mais sobre a variação da língua e especificamen- te, a variação na concordância verbal (CV). Você deve ter notado que embora a variação seja comum e natural, é preciso conhecer o padrão para falar e escrever adequadamente nos contextos em que ele é exigido, por isso, passamos a des- crever as regras de concordância verbal estipuladas pela Gramática Normativa. 1.5.1  As regras de concordância verbal de acordo com as Gramáticas Normativas Recorremos à Said Ali Said, em sua Gramática Histórica da Língua Portu- guesa (1965) para definir a concordância verbal: Consiste a concordância em dar a certas palavras flexionáveis as formas de gênero, número ou pessoa correspondentes à palavra que no discurso se referem (...) A concordância não é, como parece à primeira vista, uma necessidade imperiosamente ditada pela lógica. Repetir num termo deter- minante ou informativo o gênero ou pessoa já marcados no termo deter- minado de que se fala, é antes de tudo uma redundância. (ALI, 1965, p.279 apud GAMEIRO, 2005, p.65). Bechara é mais sucinto e explica que a concordância, em geral, consiste “em se adaptar a palavra determinante ao gênero, número e pessoa da palavra de- terminada” (2000, p.543 apud GAMEIRO, 2005, p. 65). Dizer que um termo está em concordância com outro termo significaria, portanto, dizer que ambos es- tão de acordo em alguns aspectos, que eles concordam. Após a definição de concordância, expõem-se as duas regras categóricas en- contradas nas principais gramáticas: 1.5.1.1  1- Sujeito simples: Se o sujeito simples estiver no singular, o verbo vai acompanhá-lo. Se estiver no plural, o verbo terá o mesmo número. Cegalla (2008) nos explica que isto ocorre porque há uma íntima relação entre sujeito e predicado, já que “sujeito é o ser de quem se declara algo e o predicado é a declaração que se refere ao sujeito”.
  • 57. capítulo 2 • 57 Exemplos: CONCEITO Você, embora seja usado como pronome pessoal para se referir à segunda pessoa do dis- curso, é considerado pela Gramática Tradicional como um “Pronome de tratamento, usado quando alguém se dirige a outrem, a uma segunda pessoa, mas que obriga à concordância com o verbo na terceira pessoa (ex.: você foi indelicado; vocês tenham juízo)”"você", in Dicio- nário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/ voc%C3%AA [consultado em 27-04-2015]. 1.5.1.2  2- Sujeito composto: Se o sujeito apresentar mais de um núcleo, ou seja, for composto, o verbo irá para o plural: “João e Maria foram abandonados.” “Patrões e empregados brigam na justiça”.
  • 58. 58 • capítulo 2 Além dessas duas regras categóricas, existem os chamados casos especiais, em que pode ocorrer certa flexibilidade na obrigatoriedade, havendo, em al- guns casos, a possibilidade de se utilizar as duas alternativas: o verbo pode ir tanto para o singular quanto para o plural. Observemos alguns dos principais casos que geram dúvidas.4 1.5.1.3  Verbo haver e fazer: O verbo haver, quando indica existência ou acontecimento, é impessoal, deven- do permanecer sempre na terceira pessoa do singular. Haver e fazer são impes- soais quando indicam ideia de tempo, nesse caso, devem também permanecer na terceira pessoa do singular. Há informações que não podemos desprezar. Havia três pessoas na reunião. Deve ter havido sérios problemas com o computador. Há anos não o procuro. Faz anos que não o procuro. Fazia dez anos que não encontrava aquele amigo. 1.5.1.4  Verbo e a partícula se: Quando o “se” indica indeterminação do sujeito, o verbo fica na terceira pessoa do singular. Quando o “se” é pronome apassivador, o verbo concorda com o sujeito da oração. 4 Este exemplo foi retirado de uma fala de um estudante universitário que fazia Letras. Aos sábados, assiste-se a um movimento enorme no comércio. Precisa-se de gerentes. Confia-se, equivocadamente, em pessoas que impressionam apenas pela aparência. Construiu-se um novo centro de tecnologia. Construíram-se dois centros tecnológicos na cidade. Alugam-se casas. Aluga-se casa. 1.5.1.5  Sujeitos formados por expressões partitivas Quando o sujeito é constituído por “a maioria de”, “grande parte de”, “a maior parte de” ou “grande número de” mais o nome no plural, teremos a possibilida-
  • 59. capítulo 2 • 59 de de colocar o verbo no singular ou plural. A maior parte dos trabalhadores aceitou a orientação do sindicato. A maior parte dos trabalhadores aceitaram a orientação do sindicato. 1.5.1.6  Expressão mais de um O verbo deve ficar no singular. Apenas quando a expressão “mais de um” vier repetida ou houver o sentido de reciprocidade é que o verbo irá ao plural. Mais de um aluno faltou à aula. As autoridades afirmaram que mais de um quarteirão está interditado. Mais de um policial, mais de um bandido, foram mortos. 1.5.1.7  Nomes no plural Títulos ou nomes de lugares precedidos de artigo no plural: o verbo irá ao plural. Os Lusíadas representam a grandeza da literatura portuguesa. Os Estados Unidos enviaram mais soldados ao Afeganistão. As Minas Gerais se destacam por cidades repletas de arte barroca. Porém, se o nome não estiver acompanhado do artigo ou outra expressão determinada, o verbo ficará no singular: Estados Unidos enviou um relatório à ONU. 1.5.1.8  Sujeitos formados por expressões que indicam porcentagem: o verbo deve concordar com o substantivo. O gerente afirmou que 20% das mercadorias não foram remarcadas. A oposição insiste em afirmar que 5% do orçamento sofreu alterações de última hora. A secretaria afirmou que 1% dos alunos faltaram à prova. 1% da população do município não tem acesso à água tratada. ATENÇÃO Se a expressão que indica porcentagem não for seguida de substantivo, o verbo deve con- cordar com o número. 10% reprovam o governo. 1% aceitou a proposta.
  • 60. 60 • capítulo 2 1.5.1.9  Verbo ser indicando horas O verbo ser, nas expressões que indicam tempo, concorda com a expressão numérica mais próxima. É uma hora. São três horas. Já é meio-dia. São dez para o meio-dia. Hoje são vinte de fevereiro. Hoje é dia vinte de fevereiro. Ao responder a pergunta: “Que horas são?”, o falante também deve observar a concordância: É uma hora ou São três horas. 1.5.1.10  Casos especiais do verbo ser:4 a) Quando o verbo ser é acompanhado de muito, pouco, bastante, suficiente etc., usa-se apenas é, independentemente do número em que estiver o sujeito: Dois dias é pouco tempo para aprender tudo isso. Três mil reais é bastante por esta casa. Vinte quilos é muito para uma criança carregar. Dois metros de tecido é suficiente para fazer o seu terno. Seis é demais para fazer o trabalho. Há quem ache estranha a concordância do verbo ser em construções como: Seis é demais. E acham que deveria ser: Seis são demais. A concordância no sin- gular, embora estranha, acontece normalmente com as expressões que deno- tam excesso (é demais), suficiência (é bastante), insuficiência (é pouco), etc. É mais um caso de concordância ideológica: o sujeito, embora no plural, guarda a ideia coletiva e o verbo no singular sintoniza com essa ideia. b) Quando o sujeito for um dos pronomes tudo, o que, isto, isso, ou aquilo, o verbo ser concordará com seu predicativo: Tudo eram hipóteses. 4 Essas regras de especiais de concordância com o verbo “ser” foram retiradas do blog de Daniel Vícola: http:// gramaticadoprofessordaniel.blogspot.com.br/search?q=concord%C3%A2ncia+verbal
  • 61. capítulo 2 • 61 Aquilo eram sintomas graves. O que atrapalha bastante são as discussões. ATENÇÃO O verbo ser fica no singular quando o predicativo é formado de dois núcleos singulares: Tudo o mais é saudade e silêncio. c) Quando o sujeito e o predicativo são nomes de coisas e pertencem a núme- ros diferentes, o verbo ser concorda, de preferência, com o que está no plural: A cama (coisa) são umas palhas (coisa). Essas vaidades são o seu segredo. A causa eram seus projetos. A vida não são rosas. O sujeito ou predicativo sendo nome de pessoa ou pessoa, a concordância se faz com a pessoa: O homem é cinzas. Paulo era só problemas. Você é suas decisões. Seu orgulho eram os velhinhos. d) Quando um dos dois termos da frase – sujeito ou predicativo – for um pronome pessoal, o verbo ser concordará com este pronome: Todo eu era olhos e coração. Nas minhas terras, o rei sou eu. 1.6  A concordância nominal A concordância, de acordo com Cegalla (2008, p. 438), é um princípio sintático em que palavras dependentes harmonizam-se, nas suas flexões (de gênero e nú- mero), com as palavras de que dependem. A concordância nominal diz respeito à adaptação de numerais, adjetivos, artigos e pronomes aos substantivos aos a que se referem, como em: