O documento descreve a relação entre raça e futebol no Brasil ao longo do século XX. Inicialmente, apenas brancos podiam jogar futebol profissionalmente. Ao longo do tempo, negros começaram a ter mais espaço no esporte, mas ainda enfrentavam preconceito. Figuras como Pelé ajudaram a quebrar barreiras raciais e a afirmar a identidade negra no país.
2. “EU JÁ FUI PRETO E SEI O QUE É
ISSO”
Robson, jogador do Fluminense
Para jogar o jogo, era preciso ser branco, mesmo sem
ter a pele branca era preciso se sentir branco. Ainda
que os negros, através do futebol tenham se inserido
em uma sociedade que os manteve afastados e se
sentissem, agora, brasileiros, pela inclusão e o
reconhecimento que o esporte proporcionava, era
inegável que, para tanto, eles passaram por um
processo de “embranquecimento”, imposto de forma
velada pela sociedade. Quando abandonavam o
futebol, os jogadores negros, subitamente
“empreteciam” novamente.
3.
4. QUESTÃO RACIAL NO BRASIL
Ganha espaço no final do Século XIX, entre
a camada intelectual, com nomes como Nina
Rodrigues e Oliveira Vianna;
“Embranquecimento”: ligada á política de
imigração; visava embranquecer o país para
modernizá-lo, pois os negros eram vistos
como um “entrave” á modernização
Negro,
mestiço,mulato:mau,nefasto,depravado.
5. POR QUÊ O NEGRO ERA VISTO COMO
MAU?
Atráves dos estudos do
médico italiano Cesare
Lombroso;
Com seus estudos de
frenologia – medida
dos crânios –
Lombroso acreditava
ser capaz de julgar o
caráter de uma pessoa
pelo tamanho de seu
crânio
6. O CRIMINOSO NATO
O “criminoso
nato”:tatuado, vaidoso,
cínico, testa
protuberante,zigomas
protuberantes, lábios
grossos, braços longos,
mãos grandes....Não se
parece com.....
7.
8. FUTEBOL NO BRASIL
Chegou em 1894, através
de Charles Miller;
1º Jogo 14/04/1895:
Companhia de Gás X São
Paulo Railway (time de
Miller): 2X4
Local:Várzea do Carmo –
atual Rua do Gasômetro, no
Brás
Os primeiros times tinham
origem operária:SPAC,
Corinthians, Juventus,
Bangu....
9. O NEGRO NO FUTEBOL BRASILEIRO
Escrito por Mário Filho, em
1947.Revisado em 1964;
Analisa as origens do futebol no
Rio de Janeiro;
Marco inicial:1900, com a fundação
do Fluminense;
Futebol, para Mário Filho, era o
elemento de união nacional;
Gilberto Freyre: meio de expressão, moral
e socialmente aprovado pela nossa gente (...)
de energias psíquicas e de impulsos irracionais
que sem o desenvolvimento do futebol (...)
teriam provavelmente assumido formas de
expressão violentamente contrarias a
moralidade dominante em nosso meio”
Forte influência da teoria de
“Democracia Racial”, de Gilberto
Freyre
10. DEMOCRACIA RACIAL
Explicado por Gilberto
Freyre no livro “Casagrande
& Senzala”;
O brasileiro é a mistura
perfeita de três raças:
Branco, Índio e Negro;
Todas as raças têm seu
espaço;
Duramente criticado: ignora
o racismo, que existe de
maneira velada
11. PRETO E BRANCO NÃO SE
MISTURAM!!
Futebol apenas para a elite, era
preciso ser de “boa família”
para jogar;
Forte herança inglesa: Goal,
keeper, hands, forward....
Times amadores;
Time operário: The Bangu
Athletic Club, time da
companhia têxtil de Bangu;
Formado por operários pobres
e um mestiço:Francisco
Carregal
12. Para se sentir menos negro ou, talvez, para se adequar ao
ambiente branco em que viviam, os negros que ousassem
jogar futebol deveriam zelar pelo seu comportamento,
como esmiúça Mario Filho sobre Carregal:
“era o mais bem vestido dos jogadores do Bangu. Um verdadeiro dândi em
campo. (...) No meio de ingleses, portugueses, italianos, sentia-se mais
mulato, queria parecer menos, quase branco. Passava perfeitamente. Pelo
menos não ofendia ninguém”.
Mas eis que, em 1923, ocorre algo significativo para os
negros.....
13. O CAMPO E A PELADA
Campo:local do jogo, para
as elites; Pelada:local de
diversão, para os negros e
pobres;
Vasco da Gama de 1923:
primeiro campeão com um
time de pobres, negros e
mestiços
Baque dos times de
elite:como um time de
“segunda” ganha um
campeonato?
Será essa a vez do negro??
14. A REVOLTA DO PRETO
Com a vitória do Vasco, os times de elite provocam
uma divisão da Liga Metropolitana;
Liga:representa os times de elite;
AMEA (Associação Metropolitana de Esportes
Atléticos):times de pobres, negros e mulatos;
Ganha a vida com futebol?Proibido de jogar;
Como os negros eram pagos pra jogar, racismo
volta com força
Não foi a vez do negro, afinal!
15. PROFISSIONAIS, AFINAL
1933:Profissionalismo no futebol;
Negros começam a surgir em times brancos. Por
que??
Com a profissionalização vem a necessidade de
ganhar dinheiro e gerar receita;
Sucessivas derrotas poderia prejudicar as finanças
de um time;
Buscam-se bons jogadores, sem barreiras de cor;
Surgem, assim, os primeiros jogadores negros,
mestiços ou mulatos de destaque
16.
17. O MARACANAZZO - 1950
Final da Copa do Mundo de
50:Brasil X Uruguai. 2 X 1
Uruguai Campeão;
O culpado? Barbosa, goleiro
do Brasil;
Negros culpados:indolentes,
preguiçosos, não sabiam
lidar com a pressão;
Volta do Racismo no futebol;
Muitos jogadores negros
nunca mais foram
convocados
18. A REVIRAVOLTA – PANAMERICANO
DE 1952
Brasil 4 X 2 Uruguai;
Redenção dos negros;
Recepção de Campeão Mundial;
Segundo Mário Filho:
“Já não se podia acusar o negro de não agüentar o rojão, embora, acusando o
negro, o brasileiro se acusasse a si mesmo. Tanto que, além dos pretos que
foram os bodes expiatórios, Barbosa, Juvenal e Bigode, o brasileiro se
xingava de sub raça. Raça de mestiços. Ely do Amparo metera o braço em
Obdúlio Varela em nome não só dos pretos e mulatos mas, também, dos
brancos do Brasil. Os brancos tinham esta satisfação. Ely do Amparo não dera
sozinho. Os brancos, os mulatos e os pretos do escrete brasileiro foram iguais
uns aos outros.”
19. COPA DO MUNDO DA SUÍÇA - 1954
Brasil X Hungria: 4 x 2.Hungria classificada;
Jogo violento, brigas, expulsões;
Os brigões foram os jogadores brancos
Os negros não podiam ser culpados pela derrota, pois
“quem meteu o pé em Zurique, quem tocou o braço, quem atirou chuteira, foi
o branco, só o branco. Os mulatos e pretos ficaram quietos. Tinham pago,
mais de uma vez, a dívida de 16 de Julho. Em todo o jogo contra os uruguaios
nem discutiam. Mas diante dos húngaros se sentiram apenas jogadores de
futebol.”
A Redenção, afinal!! Mas muitos negros ainda se sentiam como
brancos...como resolver isso???
20. COPA DO MUNDO DA SUÉCIA -1958
Seleção majoritariamente branca, pois,
acreditava-se, o negro não aguentaria o frio;
Entre brancos e negros, escolhia-se
brancos;
Com mais habilidade e graças a contusões,
negros ganham espaço;
Brasil X Suécia: 5 X 2. Brasil campeão!
22. O FUTEBOL BRASILEIRO
Na mistura entre o futebol negro e o futebol
branco, nasceu o “nosso” futebol;
Atráves da relação negros/brancos, nasceu
nosso país;
Através dos conflitos, das idas e voltas, da história quase cíclica entre a relação negro-
branco no futebol que nosso país se constitui. Acompanhando as efervescências da
sociedade, o futebol se desenvolveu em um elemento, talvez o único, naquele período,
para que o negro, marginalizado e discriminado, pudesse se inserir na sociedade que o
renegara e, mais que tudo, pudesse se sentir brasileiro.
23. PELÉ: O CRIOULO QUE
“EMPRETECEU” OS NEGROS
“Se Pelé é preto, pode-se ser preto. Quem é
preto deve ser preto. Faltava alguém assim
como Pelé para completar a obra da Princesa
Isabel. O preto era livre, mas sentia a maldição
da cor. A escravidão da cor. Donde tanto preto
não querendo ser preto. Quanto mais alto
estivesse, o preto menos queria ser preto. (...)
O futebol apagara a linha de cor. (...) Se era
‘REI’, o que eram aqueles pretos admiráveis
que o formaram, que o modelaram, que só lhe
ensinaram o que era bom? Eis o que todos
precisavam conhecer. Pra isso ele tinha que ser
o que era: um preto. (...) Assim Pelé cumpria
uma missão. A de exaltar a cor de Dondinho e
de Dona Celeste. (...) Para permitir que os
pretos, brasileiros e de todo o mundo,
pudessem livremente ser pretos. Enquanto isso
não se realizar, Pelé cresce como uma grande
figura solitária. A do ‘Preto’. A do ‘Crioulo’, como
todos os pretos o chamam para se
acostumarem a ser pretos.” MÁRIO FILHO
24. Referências Bibliográficas
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25. FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala. São Paulo: Círculo do Livro, s/d.
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