Slides Lição 6, CPAD, As Nossas Armas Espirituais, 2Tr24.pptx
CARTA NEABI.docx (1) (1).pdf
1. Prezados colegas,
É com profunda preocupação e tristeza que nos dirigimos a vocês para tratar de uma
situação que veio à tona recentemente: a divulgação de prints em um grupo no
WhatsApp, em que alguns estudantes demonstraram comportamentos extremamente
machistas e racistas, em relação às meninas de uma de nossas turmas. Diante desse
acontecimento, acreditamos que é nosso dever coletivo tomar uma posição incisiva
contra tais atitudes e trabalhar para promover um ambiente acadêmico inclusivo e
respeitoso.
Gostaríamos de iniciar apontando que é fundamental que não exponhamos os nomes
específicos das pessoas atingidas, conforme solicitado em nota da turma. No entanto,
considerando que a questão já se tornou pública, cabe agora direcionar nosso olhar para
o grupo das vítimas como um todo, oferecendo-lhes apoio e acolhimento. Elas não estão
sozinhas, e é essencial que elas saibam disso. Acreditamos que essa situação deva ser
abordada de maneira pedagógica, o que não exclui a necessidade de medidas
disciplinares, desde que planejadas com o objetivo de também promover a formação dos
envolvidos.
Portanto, é necessário repensar a forma como lidamos com essas questões, buscando
uma abordagem que seja formativa e transformadora. Sabemos que a direção tomará as
providências necessárias em relação a esse caso específico da turma em questão. No
entanto, precisamos evitar que novas ocorrências surjam, com um trabalho contínuo e
não apenas intervenções quando os casos surgem.
Vimos observando, ao longo da semana, que existem diferentes reações entre alunos e
alunas. O Grêmio, por exemplo, procurou se mobilizar e se posicionar em repúdio ao
ato, mas não citou nomes de nenhuma das meninas. Um dos professores do Núcleo teve
a oportunidade de conversar com algumas das pessoas afetadas por essa situação e o
clima entre elas é de profunda desolação. Elas estão revoltadas com a atitude do grêmio
estudantil ao expor o caso, mas também estão preocupadas com a possibilidade dos
autores permanecerem no anonimato. Além disso, algumas delas demonstraram uma
certa descrença em relação à efetividade das práticas pedagógicas adotadas até o
momento e à falta de recursos institucionais mais enérgicos para lidar com essa questão.
Diante dessas preocupações legítimas, é fundamental que, como comunidade
acadêmica, nos unamos para buscar soluções efetivas e construir um ambiente mais
seguro, respeitoso e inclusivo. Nesse sentido, sugerimos algumas medidas a serem
consideradas:
● Acolhimento e apoio às vítimas: É imprescindível oferecer às meninas atingidas
todo o apoio emocional necessário. Elas precisam saber que não estão sozinhas
nessa situação e que a comunidade acadêmica está ao lado delas. É importante
promover espaços de escuta e diálogo para que elas possam expressar suas
preocupações e contribuir para a construção de soluções.
● Medidas disciplinares e formativas: É preciso que haja medidas disciplinares
para os autores dos comportamentos machistas e racistas em âmbito externo, que
extrapolem o pedagógico e o institucional. A comunidade discente e docente
precisa saber que essa orientação e condução também ocorrem. Além disso,
precisamos adotar medidas com um caráter formativo, como prevê o
2. Regulamento de Convivência. É fundamental promover a reflexão sobre as
atitudes, sobre as consequências dos seus atos e incentivar mudanças
comportamentais duradouras. Isso pode ser feito por meio de cursos, oficinas e
projetos que fomentem a conscientização e o respeito mútuo.
● Proposição de uma Comissão Permanente: essa comissão pode atuar para
acolhida, escuta e encaminhamento de situações e eventos como esse. As atuais
vítimas e a comunidade como um todo precisa saber que a instituição se mantém
atenta a possibilidades de violências de gênero, de raça e de sexualidade. E que,
se ocorrerem, há uma comissão permanente institucional para ouvi-las/os,
atendê-las/os e defendê-los/as nas devidas instâncias superiores.
A abordagem pedagógica deve ser alicerçada na promoção da igualdade, do respeito e
da valorização da diversidade. Inclusive, com a implementação da Lei 10.639/03. É
necessário promover formações, leituras e debates sobre questões de gênero, raça,
misoginia, masculinidades e demais temas relacionados, envolvendo todos os
estudantes. Essas ações devem ir além das disciplinas tradicionalmente relacionadas,
buscando a integração de todos os cursos e áreas de conhecimento. Não obstante, é
preciso que, enquanto comunidade, estejamos atentos/as também às devidas medidas
disciplinares que cada situação demanda e aos devidos prazos prescricionais.
Esses encontros formativos poderiam ser realizados em conjunto com o NEABI e o
NUGEDS , promovendo uma educação contextualizada e participativa. Além disso, é
importante que os/as próprios/as alunos/as atuem como protagonistas nesse processo.
Essas medidas institucionais já demonstraram ser muito eficazes no combate a essas
violências.
A Universidade Estadual do Mato Grosso (UNEMAT), por exemplo, possui uma
política abrangente, implementada pela reitoria, que visa acolher alunos cotistas, por
meio de comissões políticas de permanência dos alunos e do Programa de Integração e
Inclusão Étnico-Racial da Universidade do Estado de Mato Grosso, que promove
diversas ações, inclusive um canal de comunicação com as vítimas de racismo através
de uma ouvidoria . Vemos essa iniciativa como um bom exemplo e acreditamos que
podemos utilizá-la como base para nossas proposições, ao abordar questões de raça e
gênero.
Logo, é importante a articulação institucional entre os diferentes setores da instituição,
como o grêmio estudantil, a direção, o NEABI , o NUGEDS, a CoTP, as/os professores
e demais agentes educacionais. Ações conjuntas e planejadas podem potencializar os
resultados e promover uma abordagem mais abrangente e eficaz.
Arraial do Cabo, 06 de junho de 2023.
NEABI - Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e indígenas