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LIDERANÇAEOEXERCÍCIODAÉTICA
18
ARTIGO
Executivo de Gestão de Pessoas e Docente em Administração
“Empresas modernas
contam com
líderes que
incentivam e
promovem os
debates; assim, a
cultura ética nas
organizações se
instala e se
consolida por
meio do
exemplo.”
ILUSTRAÇÃO:LOVATTO
Emabrilúltimo,tiveoprivilégiodeassistiraumapalestradorenomadoprofessordeHarvard
MichaelSandel.Foiumaexcelenteoportunidadepararefletiracercadodelicadomomentovivido
pela sociedade brasileira, afinal, as feridas éticas do nosso país estão expostas graças ao triste
episódiodaOperaçãoLavaJato,quemanchouparasempre,ameuver,areputaçãodaPetrobrase
colocou o Brasil no centro dos debates sobre justiça e corrupção.
Para além do lado obviamente triste dos fatos revelados diariamente, vejo que estamos diante
de uma oportunidade única para refletirmos acerca da necessidade de definitivamente inserir a
questão ética na agenda de educação das pessoas em todos os níveis, com ênfase na formação dos
educadores.
Sempre acreditei, com convicção, na força transformadora das empresas em prol de uma
sociedadejusta,igualitáriaedemocrática.Temposdesafiadoresrequeremmaisliderançaemenos
“gerenciamento”.As companhias precisam de líderes que sejam capazes de conectar emocional-
mente as pessoas por uma missão e propósito, que propiciem o engajamento das pessoas, que as
façamaderiraoprojetoporconvicção.Nocontextoatual,háaindaoutratarefa:ajudaradiscutiro
que é o certo a se fazer. Naturalmente, esse processo leva ao debate sobre dilemas éticos.
Como bem pondera Sandel, há coisas que o dinheiro não pode comprar.As empresas devem
fomentar tais noções em seu corpo de líderes, incentivando o debate aberto, dando bons exem-
plos, fortalecendo a cultura ética perante os seus colaboradores, fornecedores e todos aqueles
envolvidos em sua cadeia produtiva.
É chegada a hora de cada um assumir seu papel de agente transformador. Ganhamos todos
com o fortalecimento da democracia. Empresas modernas contam com líderes que incentivam e
promovem os debates; assim, a cultura ética nas organizações se instala e se consolida por meio
do exemplo.
Foi exatamente isso que abordei em uma breve conversa com o acadêmico de Harvard.
Perguntei sem rodeios: qual é o papel de RH nesse contexto? Ele respondeu: “Garantir o cumpri-
mento das visões éticas da empresa por meio do exemplo. Se vocês não derem o exemplo, tudo
vairuir.Nãohádinheiro,bomproduto,nadaparaempésenãoexistirumaliderançacomcredibi-
lidade”.
NaNextel,porexemplo,efetivamentelidereiumaagendaparacolocarosprogramasdecom-
pliance no centro das atenções. Desenvolvemos diversos treinamentos com exemplos da reali-
dade brasileira, enquetes, sempre reforçando a importância de a liderança ser guardiã do compor-
tamento ético. E é esse o caminho, penso: a área de RH deve abraçar essa agenda, recrutando as
pessoas certas, questionando-as, estimulando a competição, mas não a qualquer custo.
Com as novas gerações, tal postura é também uma ótima ferramenta de atração, afinal, que
plano de employer branding não trabalha a divulgação dos valores e compromissos éticos da
organização? O RH não pode ter vergonha de advogar isso. Pelo contrário: para ser ético, é pre-
ciso coragem, preferir perder a se submeter a condições impróprias. Quantos RHs que você co-
nhece estão dispostos a liderar uma agenda eticamente coerente, de fato?

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