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Robson Moura Ma-rînho
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 Comunicação
na Homilética
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Robson Moura Marinho
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Ia. edição: 1999
Reimpressão: 1999
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Printed in Brazil / Impresso no Brasil
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Coordenação de produção • Ro ger L. MALKÕMES
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Dados inteínacionais de catalogação na publicação (cip)
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Marinho, Robson Moura
A arte de pregar:a comunicação na homilética /
Robson Moura Marinho. — São Paulo:Vida Nova, 1999.
Bibliografia.
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1. Cristianismo. 2.Pregação. 3.Teologia Pastoral
I.Título.
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índices para catálogo sistem ático:
1. Pregação:Cristianismo 251
2. Pregação: Homilética:Cristianismo 251
Seminário Concórdia
Biblioteca
SiSt. r ,
Req. c c ■-
Proc cx
Data -o ^ < -
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> ç-.fa
Dedico este livro a três mulheres de ouro,
as ouvintes mais assíduas de meus sermões:
Rozenia, esposa querida, que com extrema sensibilidade
percebe quando uma idéia pode ser mais bem colocada, dando-me
preciosas sugestões.
Ronísia, primeira filha, que me dá boas idéias para sermões
e me ajuda a sintonizar-me com as necessidades do público jovem.
Rosiley, minha caçula, que muito contribui para tornar meus
sermões atraentes, pois sua cabeça de adolescente só fica “ligada*
se o sermão for realmente interessante.
E mais: a um casal muito especial, a que devo minha vida -
Edvaldo e Amélia, papai e mamãe.
Dedicatória 5
Prefácio do Autor 11
Primeira Parte
Um Milagre: O P oder da Pregação 13
1. O milagre da pregação 15
O milagre das palavras 17
2. Como pregar sem atrapalhar o culto 19
Sermões que atrapalham o culto 20
S egunda Parte
C omunicação: O Veículo da Pregação 25
3. Oratória secular e oratória sacra 27
Elementos da oratória 29
4. Qualidades do pregador 33
5. Aproveite o medo 39
Os maiores medos da humanidade 40
Como lidar com o medo 40
A psicologia do medo 45
A Arte de Pregar
6. O audiovisual do pregador 49
Expressão corporal 50
A importância da voz 52
7. Como evitar o sermão salada de frutas 57
Características do corpo do sermão 58
A arte de esboçar 62
8. O aperitivo do sermão 67
Características da boa introdução 68
O que evitar na introdução 72
Tipos e formas de introdução 74
9. A sobremesa do sermão 81
Partes da conclusão 82
Cuidados na conclusão 83
Sugestões sobre a forma de concluir 85
10. Como pregar o que interessa 89
Conheça seu objetivo 90
Conheça seus ouvintes 90
Conheça seu assunto 97
11. Não pregue no escuro 99
O efeito das ilustrações 100
Fontes de ilustração 101
Características da boa ilustração 102
Tipos de ilustração 103
/
12. Aprimore seu estilo 109
Segredos de um bom estilo 110
O treinamento do estilo 116
O estilo e a forma literária 116
O estilo no púlpito 119
Conteúdo
Teceira Parte
A Bíblia: A Fonte da Pregação 123
13. Teologia da pregação 125
A Palavra: essência da pregação 126
O imperativo da pregação 128
Pregação e missão através da História 129
14. Tipos de sermão 133
0 sermão temático 135
0 sermão textual 139
O sermão expositivo 143
15. O poder do sermão expositivo 145
Diferença entre o textual e o expositivo 145
Vantagens do método expositivo 146
Desvantagens do método 147
A importância da pregação expositiva 147
O falso sermão expositivo 148
Características do sermão expositivo 150
Enfrentando a dificuldade do texto 151
Como organizar o sermão expositivo 152
16. Explore a riqueza do texto 157
Ferramentas de trabalho 159
Princípios de interpretação 160
Como escolher um texto 162
Passos na interpretação do texto 164
17. Coloque o sermão no dia-a-dia das pessoas 169
Características da boa aplicação 170
Passos para uma boa aplicação 172
Tipos de aplicação 173
O momento da aplicação 178
Apêndice 181
Bibliografia 189
izem os cientistas do humor, parafraseando Lavoisier, que
“nada se perde, nada se cria, tudo se copia”. Por isso, escrever
um livro é quase uma frustração, já que ninguém consegue ser
original e apresentar idéias completamente novas. Até mesmo
quando se tem uma idéia brilhante, se pesquisar bem, a gente acaba
descobrindo que alguém um dia já pensou e escreveu sobre aquilo.
Como diz um pensador: “O problema é que ‘
os antigos roubaram
as nossas melhores idéias'”.
De fato, a nossa desvantagem é ter vivido depois de Sócrates,
Platão e Aristóteles, que já pensaram tudo que os seres humanos
tinham direito de pensar no campo da cultura geral. E no campo da
teologia, depois de Moisés. Salomão, Cristo, Paulo e Joâo, sobra
pouco ou nada para inovar. Aliás, foi o próprio Salomão quem disse
que não existe nada novo debaixo do sol (Ec 1.9).
Mesmo assim, a gente ainda se dá ao trabalho exaustivo e
desgastante de escrever um livro. Como disse alguém referindo-se à
dolorosa obra de escrever: “Um livro é um parto do espírito”. Ou,
nas palavras de Salomão: náo há limite para fazer livros, e o
muito estudar é enfado da carne” (Ec 12.12).
Como náo há muito de original que acrescentar, este livro é
uma pesquisa feita naquilo que se escreveu de bom no campo da
comunicação e da pregação bíblica, com a intenção de ajudar os
amantes da pregação bíblica a ter uma ferramenta a mais de
trabalho, nessa sublime tarefa que é a exposição da Palavra. A no­
vidade fica por conta de umas poucas experiências pessoais vividas
A Arte de Pregar
em dezoito anos de ministério pastoral, lidando com pregação e
com ouvintes de todos os tipos.
Nosso desejo é partilhar com os leitores algumas idéias
práticas que deram resultado em nosso trabalho, as quais esperamos
sejam úteis para outros. Foi com essa intenção e com o fascínio
causado pela beleza do texto bíblico que surgiu este livro: A arte de
pregar. Bom proveito.
Robson Marinho
Um Milagre:
O Poder da Pregação
O Milagre da Pregação
“Como maçãs de ouro em saluas de prata,
assim é a palavra dita a seu tempo. ”
Salomão
pregação bíblica é um milagre duplo. O primeiro milagre é
Deus usar um homem imperfeito, pecador e cheio de defeitos
para transmitir a perfeita e infalível Palavra de Deus. Trata-se de
um Ser perfeito usando um ser imperfeito como seu porta-voz. Só
um milagre pode tomar isso possível. O segundo milagre é Deus
fazer com que os ouvintes aceitem o porta-voz imperfeito, escutem
a mensagem por intermédio do pecador e finalmente sejam
transformados por essa mensagem. Esse é o grande milagre da
pregação!
Ao iniciar um livro sobre as técnicas da boa pregação, algo
deve ser dito: as técnicas são indispensáveis, até porque foram
pesquisadas em diversos autores considerados especialistas no
assunto e são comprovadas pela experiência de pregadores bem-
sucedidos. Contudo, uma coisa precisa ficar muito clara: todas as
técnicas reunidas e colocadas em prática não fazem de alguém um
Um Milagre: O Pader da Pregação
pregador. Para ser um bom pregador é preciso ter técnica e algo
mais. Esse algo mais é o milagre do Espírito Santo.
Aos quarenta anos de idade, Moisés conhecia todas as
técnicas dos mais variados ramos do conhecimento humano, inclu­
sive a arte de falar em público em diferentes línguas. Anos depois,
quando Deus o desafiou a tornar-se pregador, o erudito Moisés
respondeu: “
Ah! SenhorfEu nunca fui eloqüente...” (Êx4.10J. Faltava
a Moisés algo mais: o milagre! Foi esse milagre que Deus lhe ofereceu
quando disse: “Vai, pois, agora, e eu serei com a tua boca, e te
ensinarei o que hás de falar” (4.12). Mesmo com relutância, Moisés
aceitou o milagre e tornou-se pregador e líder.
Ao contemplar a santidade de Deus, Isaías sentiu-se um inútil
pecador e exclamou: “Ai de mim... porque sou homem de lábios
impuros” {Is 6.5). Ele sentiu que seus lábios impuros o desqualifi­
cavam para qualquer contato com a Divindade, principalmente para
ser-lhe um porta-voz. Faltava a Isaías um milagre. Finalmente, um
anjo tocou-lhe os lábios com a brasa viva do altar de Deus, e, só
após esse milagre, Isaías sentiu-se em condições de ser um porta-
voz de Deus e aceitou o desafio: “Eis-me aqui, envia-me a mim”
(6.8). Da mesma forma, o pregador de hoje também é homem de
impuros lábios, mas que, tocado pela brasa viva do altar, pode
tornar-se um porta-voz de Deus e ser usado no milagre da pregação,
vei ::s Por incrível que pareça, é essa mistura do humano com o
divino que dá poder à pregação. Segundo Phillips Brooks, a pregação
é a “apresentação da verdade através da personalidade”,1 e foi
Deus quem escolheu essa combinação da verdade perfeita com a
personalidade imperfeita para dar poder à pregação. Em outras
palavras, o pregador usa as características de sua personalidade,
como conhecimento, habilidade, voz, pensamento, e a sua vida para
transmitir a verdade divina, e essa união do divino com o humano
tem o poder de alcançar outros seres humanos e transformá-los.
Isto é pregação: um poderoso milagre de Deus, o infinito
fluindo por via finita, o perfeito chegando até nós por meio do
imperfeito, a santidade sendo transmitida através- de pecadores, e
isso tem o poder de transformar outros pecadores.
O Miíagre da Pregação
Com essa visão da pregação como um milagre de Deus,
passemos a considerar os elementos técnicos e estratégicos que Deus
deseja utilizar nessa mistura do humano com o divino, ou seja, os
recursos da personalidade para transmitir a verdade.
O MILAGRE DAS PALAVRAS
No sentido humano, as palavras também fazem milagres.
Deus colocou na comunicação um poder quase infinito. As palavras
têm o poder de produzir sentimentos, pensamentos e ações. Uma
única palavra pode produzir amor ou ódio, alegria ou tristeza,
motivação ou depressão, pensamentos positivos ou negativos.
Imagine, por exemplo, o efeito das palavras românticas proferidas
entre um casal de namorados ou de noivos. Elas são capazes de
gerar um campo afetivo cujo desfecho é o casamento. Agora imagine
o efeito de palavras sarcásticas, agressivas e desrespeitosas proferidas
num momento de desentendimento entre marido e mulher. São
capazes de gerar um campo de hostilidade cujo desenlace pode ser
o divórcio. Tal é o poder das palavras.
As palavras, portanto, são polivalentes, podendo ajudar ou
atrapalhar. Podem encorajar, inspirar e tranquilizar, mas também
podem decepcionar, desunir e oprimir, Foram as palavras que
preservaram a verdade bíblica até os nossos dias, bem como
preservaram a história da humanidade e as descobertas da ciência.
Mas da mesma forma elas contribuíram para desencadear guerras,
homicídios e torturas.2 Hitler, por exemplo, manipulou uma nação
e torturou o mundo com o uso tendencioso das palavras. Jesus Cristo,
por outro lado, estabeleceu o cristianismo e o evangelho com o uso
do mesmo recurso: palavras.
As palavras podem fazer ou deixar de fazer milagres na vida
das pessoas. E aí está o poder que será utilizado como ferramenta
do pregador. Cada pregador tem a oportunidade e a responsabili­
dade de escolher e combinar as palavras de tal maneira que produ­
zam o melhor efeito na vida espiritual das pessoas.
A própria Bíblia diz: “Procura apresentar-te a Deus
aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que
Um Milagre: O Poder da Pregação
maneja bem a palavra da verdade” (2Tm 2.15). Talvez, parafra­
seando, pudéssemos dizer que o pregador só será aprovado por
Deus se manejar bem a Verdade e manejar bem as palavras. Ser
pregador, portanto, é ter o poder do Espírito para usar o milagre das
palavras no milagre da pregação.
Notas
1Andrew Watterson Blackwood, A Preparaçãode Sermões (São Paulo, ASTE,
1965), p. 15.
2Raymond W. McLaughlin, Communication for the Church (Grand Rapids,
Zondervan Publishing House, 1968), p. 51.
/
m
Como Pregar sem
Atrapalhar o Culto
“Seja sua fala melhor do que o silêncio -
ou então fique calado. ”
Dionísio
lguns sermões têm a capacidade de atrapalhar o culto. Você
pode achar estranho, mas é isso mesmo que estou querendo
dizer: algumas vezes o culto seria melhor se não houvesse o sermão!
Aliás, sempre que a pregação for vazia e sem poder, atrapalhará o
culto. As vezes o culto começa bem, com um poderoso hino
congregacional, orações fervorosas, uma inspiradora mensagem
musical, e tudo vai muito bem até o momento em que começa o
sermão. Nesse ponto, algumas vezes, um sermão malpreparado e
sem conteúdo começa a torturar os adoradores com frases repetitivas
e de pouco sentido, destruindo todo o clima espiritual criado pelo
louvor. E, o que é pior, o pregador não se contenta em ativar essa
câmara de tortura por apenas meia hora -não raro se estende por
uma hora ou mais.
Um Milagre: O Poder da Pregação
Talvez pareça exagero dizer que o sermão prejudica o culto,
mas a Bíblia adverte contra pastores que apascentam tão mal que
fazem as ovelhas fugir: “Portanto assim diz o Senhor, o Deus de Israel,
acerca dos pastores que apascentam o meu povo: Vós dispersastes
as minhas ovelhas, e as afugentastes...” (Jr 23.2). Segundo Buttrick,
citado na revista Ministry, “as pessoas abandonam a igreja não tanto
por uma verdade rigorosa que as tome incomodadas, mas pelas fracas
ninharias que as tomam desinteressadas”.
Em outras palavras, sermões vazios não só atrapalham o culto
como podem acabar afastando as pessoas da igreja, criando nelas
um total desinteresse pela adoração. Pode até ser que Deus faça o
milagre de ajudar alguém com um sermão desses, mas isso não
justifica o despreparo do pregador.
SERMÕES QUE ATRAPALHAM O CULTO
Apenas para ilustrar, vamos fazer uma rápida classificação
dos sermões que mais atrapalham o culto. Se você freqüenta igreja
há vários anos, é provável que já se tenha encontrado com alguns
desses sermões mais de uma vez. A seguir, descrevem-se os tipos de
sermão que atrapalham o culto.
O serm ão sedativo
É aquele qlie parece anestesia geral. Mal o pregador começou
a falar e a congregação já está quase roncando. Caracteriza-se pelo
tom de voz monótono, arrastado, e pelo linguajar pesado, típico do
começo do século, com expressões arcaicas e carregadas de chavões
deste tipo: “Prezados irmãos, estamos chegando aos derradeiros
meandros desta senda”.Por que não dizer: “Irmãos, estamos chegando
às últimas curvas do caminho”? Seria tão mais fácil de entender.
Ficar acordado num sermão desse tipo é quase uma prova de
resistência física. Como dizia Spurgeon: “Há colegas de ministério
que pregam de modo intolerável: ou nos provocam raivai ou nos dão
sono. Nenhum anestésico pode igualar-se a alguns discursos nas
propriedades soníferas. Nenhum ser humano que não seja dotado de
Como Pregar sem Atrapalhar o Culto
infinita paciência poderia suportar ouvi-los, e bem faz a natureza em
libertá-lo por meio do sono”.1
O serm ão insípido
Esse sermão pode até ter uma linguagem mais moderna e um
tom de voz melhor, mas não tem gosto e é duro de engolir. As idéias
são pálidas, sem nenhum brilho que as tome interessantes. Muitas
vezes é um sermão sobre temas profundos, porém sem o sabor de
uma aplicação contemporânea, ou sem o bom gosto de uma ilustração.
E como se fosse comida sem sal. E como pregar sobre as profecias de
Apocalipse, por exemplo, sem mostrar a importância disso para a
vida prática. O pregador não tem o direito de apresentar uma
mensagem insípida, porque a Bíblia não é insípida. O pregador tem
o dever de explorar as belezas da Bíblia, selecioná-las, pois são tantas,
e esbanjá-las perante a congregação.
O serm ão óbvio
E aquele sermão que diz apenas o que todo mundo já sabe e
está cansado de ouvir. O ouvinte é quase capaz de adivinhar o final
de cada frase de tanto que já a ouviu. E como ficar dizendo que
roubar é pecado ou que quem se perder não vai se salvar (é óbvio).
Isso é uma verdade, mas tudo o que se fala no púlpito é verdade.
Com raras exceções, ninguém diz inverdades no púlpito. O que falta
é apenas revestir essa verdade de um interesse presente e imediato.
O serm ão indiscreto
É aquele que fala de coisas apropriadas para qualquer
ambiente menos para uma igreja, onde as pessoas estão famintas
do pão da vida. As vezes, o assunto é impróprio até para outros
ambientes. Certa ocasião ouvi um pregador descrever o pecado de
Davi com Bate-Seba com tantos detalhes que quase criou um clima
erótico na congregação. Noutra ocasião, uma senhora que
costumava visitar a igreja confessou-me que perdeu o interesse
porque ouviu um sermão em que noventa por cento do assunto
m
Um Milagre: 0 Poder da Pregação
girava em torno dos casos de prostituição da Bíblia, descritos com
detalhes. E acrescentou: “Achei repugnante. Se eu quiser ouvir sobre
prostituição, ligo a tv”.
. De outra vez, um amigo me contou de um sermão que o fez
sairtraumatizado da igreja, pois o pregador gastou metade do tempo
relatando as cenas horrorosas de um caso de estupro. Por favor,
pregadores: o púlpito não é para isso. Para esse tipo de matéria
existem os noticiários policiais.
O sermão-reportagem
É aquele que fala de tudo, menos da Bíblia. ínspira-se nas
notícias de jornais, manchetes de revistas e reportagens da televisão.
Parece uma compilação das notícias de maior impacto da semana.
É um sermão totalmente desprovido do poder do Espírito Santo e
da beleza de Jesus Cristo. E uma tentativa de aproveitar o interesse
despertado pela mídia para substituir a falta de estudo da Palavra
de Deus. Notícias podem ser usadas esporadicamente para rápidas
ilustrações, nunca como base de um sermão.
O sermão de marketing ' .
.
É aquele usado para promovere divulgar os projetos da igreja
ou as atividades dos diversos departamentos. Usar o púlpito, por
exemplo, para promover congressos, divulgar literatura, prestar
relatórios financeiros ou estatísticos, ou fazer campanhas para
angariar fundos, seja qual for a finalidade, destrói o verdadeiro
espírito da adoração e, portanto, atrapalha o culto. A igreja precisa
de marketing, e deve haver um espaço para isso, mas nunca np
púlpito. Isso deve ser feito preferivelmente em reuniões administra­
tivas.
O sermão-metralhadora
É usado para disparar, machucar e ferir. Às vezés a crítica é
contra um grupo com idéias opostas, contra administradores da
igreja, contra uma pessoa pecadora ou rival, ou mesmo contra toda
Como Pregar sem Atrapalhar o Culto
a congregação. Seja qual for o destino, o púlpito não é uma arma
para disparar contra ninguém. As vezes o pregador não tem a
coragem cristã de ir pessoalmente falar com um membro faltoso e
se protege atrás de um microfone, onde ninguém vai refutá-ló, e
dispara contra uma única pessoa, sob o pretexto de “chamar o
pecado pelo nome”. Resultado: a pessoa fica ferida, todas as outras,
famintas, e o sermão não ajuda em nada.
As vezes o disparo é contra um grupo de adultos ou de jovens
supostamente em pecado. Não é essa a maneira de ajudá-los.
Convém ressaltar que chamar o pecado pelo nome não é chamar o
pecador pelo nome. Chamar o pecado pelo nome significa orar com
o pecador e se preciso chorar com ele na luta pela vitória. A
congregação passa a semana machucando-se nas batalhas de um
mundo pecaminoso e de uma vida difícil e chega ao culto precisando
de remédio para as feridas espirituais, não de condenação por estar
ferida. Em vez de chumbá-la com uma lista de reprovações e
obrigações, o pregador tem o dever santo de oferecer o bálsamo de
Gileade, o perdão de Cristo como esperança de restauração. As
obrigações, todo mundo conhece. Nenhum cristão desconhece os
deveres do evangelho. Em vez de apenas dizer que o cristão tem de
ser honesto, por exemplo, mostre-lhe como ser honesto pelo poder
de Cristo. Isso é pregação com poder.
Todos esses sermões mencionados acima atrapalham o culto
mais do que ajudam. Prejudicam o adorador, prejudicam a
adoração. São vazios de poder. Se você quer ser um pregador de
poder, busque a Deus, gaste dezenas de horas no estudo da Bíblia
antes de pregá-la, experimente o perdão de Cristo e estude os recursos
da comunicação que ajudam a chegar ao coração das pessoas.
Esse é o assunto dos próximos capítulos.
Nota
1C. H. Spurgeon, Lições aos Meus A/unos (São Paulo, Publicações Evan­
gélicas Selecionadas, 1990}, vol. 1, p. 32.
Comunicação:
O Veículo da Pregação
seminário concoroia
Oratória Secular e
Oratória Sacra
“
A oratória é a rainha das artes, e o orador,
o rei dos artistas!”
Alues Mendes
esde os tempos bíblicos, a arte da oratória teve papel de
destaque na vida dos povos antigos. Os profetas hebreus
eram verdadeiros artistas da palavra, cada um deles com sua
especialidade. Isaías, por exemplo, era mestre no uso de figuras de
linguagem e fina ironia. Jeremias enchia os discursos de emoção,
como se pode ver em suas Lamentações. Malaquias era hábil no
uso de perguntas retóricas. Cristo falava com autoridade, e Paulo
era um orador erudito.
Do ponto de vista clássico, a oratória surgiu com Corácio,
grego de Siracusa, que viveu cinco séculos antes de Cristo.1 Ao
longo da história, a oratória teve grandes expoentes. Na Grécia
antiga, era ensinada pelos filósofos e praticada nos debates
intelectuais e jurídicos. De todos os oradores gregos, Demóstenes
foi o maior. Entre os romanos, a oratória era praticada por juristas
e políticos e teve em Cícero o seu expoente mais famoso.
Uma classificação geral da oratória divide-a em: acadêmica,
forense, política, sagrada e popular.2 Em nosso estudo, vamos ver
como os princípios gerais da comunicação se aplicam à oratória
sacra, chamada nos cursos de teologia de homilética.
Tanto na oratória secular como na sacra foi-se o tempo em
que ser orador era falar bonito e gritar. Nessa fase da oratória estética
e sonora, os melhores oradores eram os que falavam forte e com
frases enfeitadas. Mas essa época já passou há muito tempo, embora
alguns oradores de hoje ainda permaneçam ingenuamente nessa
fase. Entre esses “ingênuos”, as maiores vítimas são políticos e
pregadores, alguns dos quais abusam da paciência dos ouvintes.
Hoje o que importa não é o volume ou o enfeite, mas o
conteúdo e a forma. Pode-se falar muito bonito e não dizer absoluta­
mente nada. Veja esse quadro publicado na revista Seleções,3 no
qual 27 palavras combinadas entre si produzem lindas frases que
não dizem nada:
0. Programação
1. Estratégia
2. Mobilidade
3. Planificação
4. Dinâmica
5. Flexibilidade
6. Implementação
7. Instrumentação
8. Retroação
9. Projeção
Comunicação: O Veículo da Pregação
0. Funcional
1. Operacional
2. Dimensional
3. Transacional
4. Estrutural
5. Global
6. Direcional
7. Opcional
8. Central
9. Logística
0. Sistemática
1. Integrada
2. Equilibrada
3. Totalizada
4. Insumida
5. Balanceada
6. Coordenada
7. Combinada
8. Estabilizada
9. Paralela
Basta escolher uma palavra qualquer da primeira coluna e
juntá-la com outra qualquer da segunda e outra qualquer da terceira
para ter uma frase bonita sem nenhum significado concreto. Por
exemplo: planificação estrutural integrada. Trata-se de um grupo de
palavras composto de um substantivo mais dois adjetivos pratica-
Oratória Secular e Oratória Sacra
mente sem sentido. Esse tipo de frase é usado comumente na política,
na economia, às vezes no púlpito, e não diz absolutamente nada.
Falar bonito é fácil. Difícil é comunicar uma idéia. A oratória
de hoje resume-se em três passos: ter uma idéia, organizá-la e
transmiti-la.
ELEMENTOS DA ORATÓRIA
A oratória é uma arte ou uma ciência? É um talento natural
ou uma habilidade adquirida? E herdada ou conquistada? Essas
perguntas podem ter, em resumo, a seguinte resposta: A oratória é
uma arte porque requer criatividade, e uma ciência porque exige o
conhecimento de técnicas e princípios. E a obra da natureza, da
arte e da prática, segundo os antigos. Vejamos a seguir alguns
elementos indispensáveis à boa oratória.
Eficiência
A eficiência é a característica básica da oratória moderna.
Ou seja, para ter sucesso, a oratória tem de atingir determinada
finalidade. Segundo Hugo Blain, pregador escocês do século xvm,
oratória é “a arte de falar de maneira que se consiga o fim para o
qual se fala”.4 A oratória de hoje se caracteriza por objetividade,
concisão, simplicidade e praticabilidade, em contraste com
grandiloqüência, verbosidade e linguagem quase poética do passado.
Cristo revolucionou a oratória de seu tempo, porque viveu
na época da verbosidade e utilizou a objetividade e a simplicidade
de hoje. Pode-se dizer que ele foi um precursor da oratória moderna.
Todas as qualidades atrativas e desejáveis num orador, como
boa voz, facilidade de expressão e simpatia pessoal, são úteis, mas
não são suficientes. Com essas qualidades você pode até agradar,
mas falhará se não atingir objetivos práticos.
Retórica
Retórica é a arte de ordenar o discurso.5 É a capacidade de
organizar as idéias e os argumentos. Sem retórica o discurso fica
ESI
uma salada, com idéias repetidas ou fora de lugar. Quanto mais
retórica, mais claro e convincente o discurso.
São poucos os oradores que dominam a arte da retórica,
que sabem manter uma ordem lógica do começo ao fim do discurso.
O fato é que alguns oradores não querem pagar o preço e gastar o
tempo necessário organizando as idéias, escolhendo a seqüência
correta e distribuindo os argumentos por ordem de prioridade. Por
isso mesmo é que há tão poucos bons oradores, daqueles que dá
gosto ouvir e cujas idéias parecem penetrar com suavidade em nossa
mente.
Não pense que retórica é coisa do passado. A influência de
um discurso é diretamente proporcional à organização das idéias.
Adiante há um capítulo dedicado à organização das idéias.
Comunicação: O Veículo da Pregação
Eloqüência
Eloqüência é a arte de persuadir.6 Existem livros inteiros
sobre as leis da persuasão, até nas transações comerciais e nas
relações entre vendedor e cliente.
No caso do orador, a eloqüência é muito mais do que um
conjunto de técnicas destinadas a convencer. Aliás, em oratória, a
eloqüência não se limita a palavras. Podem ser eloqüentes o olhar,
os gestos, um suspiro, o andar e até o silêncio. A própria postura do
orador tem influência no efeito do seu discurso sobre o ouvinte.
Ser eloqüepte é fazer um discurso bem-sucedido, que alcance
os objetivos. No passado, ser eloqüente era fazer um discurso
sofisticado. Hoje, a eloqüência está mais ligada à simplicidade e à
naturalidade. Leon Fletcher menciona dois segredos que levam os
oradores profissionais a ter sucesso na eloqüência:7
1
1. Não tentar imitar nenhuma outra pessoa, mas ser um orador
com personalidade própria, independente e natural. Seja você
mesmo.
2. Não fazer nenhum discurso sem se preparar devidamente.
Afinal de contas: “A eloqüência consiste em dizer tudo o que
Oratória Secular e Oratória Sacra
deveria ser dito, e não tudo o que poderia ser dito”.8 Tome
o tempo necessário para preparar-se.
Em resumo, ser eloqüente é ser um bom orador. Como
conseguir isso é exatamente o assunto dos próximos capítulos.
Notas
1Ignez B. C. D’Araújo, Oratória Eficiente de Hoje, (Rio de Janeiro, Editora
Agir, 1974), p. 20.
2Osmar Barbosa, A Arte de Falar em Público, (Rio de Janeiro, Editora
Tecnoprint), p. 25.
3 Maurício Góis, Curso Prático de Comunicação Verbal (Curitiba, Bolsa
Nacional do Livro, 1989), p. 23.
4Oratória Eficiente de Hoje, p. 23.
5Idem, p. 19.
6Idem, p. 20.
7Leon Fletcher, Como Falar como um Profissional (Rio de Janeiro, Editora
Record, 1983), p. 15-16.
8Duane Litfin, Public Speaking (Grand Rapids, Baker Book House, 1992),
p. 114.
EH
Capítulo 4
Qualidades do Pregador
“
A boca fala do que o coração está cheio. ”
Jesus Cristo
H
esus Cristo resumiu numa frase todo o segredo do poder de
um orador: o coração! No caso do orador, como de qualquer
outro profissional, o que dá poder e autoridade é o que a pessoa é,
não o que ela faz ou como o faz. Aqui está a razão por que tantas
pessoas talentosas não conseguem irmuito longe no sucesso pessoal.
Muitos profissionais fazem treinamento e mais treinamento, cursos
de qualidade total, cursos de técnicas para o sucesso, mas acabam
não mudando muito na prática, porque não adianta mudar a forma
sem mudar o conteúdo, não adianta enfeitar o exterior se o interior
está vazio.
O bom orador, especialmente o pregador, preci
qualidades técnicas e um estilo de vida elevado. Juntas, essas
qualidades lhe darão estrutura pessoal. Vejamos algumas dessas
qualidades.
Comunicação: O Veículo da Pregação
CARÁTER
O orador precisa “ser dotado, principalmente, de qualida
morais, de honestidade, critério e integridade a fim de que suas
palavras e ações mereçam crédito e possam comunicar, com
sinceridade, ao auditório, a verdade, o bem e o belo".1 Ninguém
quer ouvir um orador mentiroso e desonesto. Para ser cativante, ele
precisa ter um caráter atraente e respeitável. Mesmo no mundo dos
negócios, os profissionais de maior sucesso não são os que
conhecem melhor a técnica de conquistar os clientes, mas os que
respeitam de verdade e se interessam realmente pelo bem-estar dos
clientes. No caso do pregador, isso é ainda mais verdadeiro, pois
ele tem de viver aquilo que prega. Para falar de maneira cativante,
ele tem que viver de maneira atraente e conquistar o respeito e a
aprovação dos ouvintes.
ENTUSIASMO
O entusiasmo é o combustível da expressão verbal. O ora
precisa vibrar em cada afirmação e empolgar-se com cada idéia.
Se a idéia não empolgar o orador, não merece ser dita, e nunca irá
empolgar o auditório. Para falar com entusiasmo é preciso viver
com entusiasmo. Para vibrar com as idéias, é preciso vibrar com a
vida. Talvez seja essa a razão por que há tão poucos oradores
entusiastas. Ou seja, se você se deixa arrastar por uma vida sem
vibração, é difícil vibrar como orador ou pregador. Os gregos
chamavam ao entusiasmo “Deus interior”,2 ou Deus dentro, segundo
a etimologia da palavra. Talvez não haja maneira melhor de descrever
o pregador, que, mais do que ninguém, precisa ter Deus dentro de
si. Somente com entusiasmo consegue-se realizar grandes coisas, e
é ele o responsável pelas grandes façanhas da humanidade.
DETERMINAÇÃO
Determinação é a vontade indomável de conseguir o que se
pretende. Resolva falar bem e tire tempo para se preparar até
conseguir. Thomas Edison, inventor da lâmpada elétrica, atribuía
Qualidades do Pregador
seu sucesso a 1 por cento de inspiração e 99 por cento de
transpiração. E preciso lutar pelo que se deseja. Mais uma vez, porém,
se não houver determinação na vida, não vai haver determinação
no púlpito.
INSPIRAÇÃO
E a forma como o orador cria o discurso. E a busca de
melhores idéias. No discurso secular, a inspiração é natural. No
sermão, é sobrenatural. No discurso, é uma espécie de luz que brilha
com o surgimento de uma idéia rica. No sermão, é a iluminação
que brilha da comunhão com Deus, do estudo intenso da Bíblia, do
senso de ser um porta-voz da Divindade, da sensação de ter uma
idéia de origem divina. Também é importante que a vida do pregador
seja inspiração para os outros, pois isso contribuirá para que suas
idéias dêem inspiração.
SENSIBILIDADE
É a capacidade de adaptar a mensagem ao interesse e à
necessidade do ouvinte. A sensibilidade só será desenvolvida pelo
contato com as pessoas e pelo interesse real no bem-estar de cada
uma. Não se trata de inteligência para decidir o que é melhor para
o ouvinte, mas é antes um envolvimento com o ouvinte, uma empatia
que faz o pregador sentir o problema das pessoas. No caso do pastor,
muito disso pode ser conseguido com visitação aos lares e
envolvimento em atividades com a juventude. Essa sensibilidade se
consegue ouvindo as pessoas, sorrindo com elas e às vezes chorando
e orando com elas.
OBSERVAÇÃO
A observação pode ser desenvolvida pela prática. O orador
deve estar sempre atento para captar fatos interessantes e diferentes
nas diversas situações da vida. Conheci um pregador que costumava
andar com uma caderneta só para anotar suas observações do
dia-a-dia. O hábito de observar dará ao orador a habilidade de
perceber também pequenos incidentes relevantes no auditório e a
reação dos ouvintes, a fim de orientar a atuação no discurso.
CAPACIDADE DE SÍNTESE
Conheci um pregador que escrevia todo o seu sermão após
a pesquisa e a reflexão. Em seguida, fa2ia uma primeira leitura,
cortando todas as frases e palavras que julgava supérfluas ou
desnecessárias, às vezes substituindo-as por expressões menores.
Finalmente, fazia uma segunda leitura, cortando mais algumas
palavras que haviam escapado à primeira leitura. Quando subia
ao púlpito, apresentava uma mensagem breve, em que cada palavra
ou expressão era rica em significado e beleza. Essa é uma boa
maneira de exercitar a capacidade de síntese, tão necessária ao
orador.
A capacidade de síntese habilita o orador a dizer tudo o que
for preciso, somente o que for preciso, e nada mais do que preciso.
Como é cansativo ouvir discursos e sermões cheios de longas
expressões que não acrescentam quase nada ao conteúdo. Se você
vai contar uma experiência, elimine os detalhes que não contribuem
para o propósito da ilustração. Se vai fazer uma aplicação, vá direto
ao ponto. Se tudo que você falar for consistente e objetivo, o ouvinte
terá menos oportunidade de desviar a atenção. A melhor comuni­
cação é a que expressa mais idéias com menos palavras. Observe
os comerciais de*televisão: veja quantas idéias eles expressam em
10 ou 15 segundos! Aprenda com os comerciais de rv.
IMAGINAÇÃO E CRIATIVIDADE
A imaginação é a ferramenta da criatividade. E a capacidade
de criar imagens agradáveis para tornar os argumentos mais vivos
e convincentes. Em vez de dizer as coisas do mesmo jeito que todo
mundo diz, imagine uma forma diferente para torná-las interessantes.
Alejandro Bullón, pastor e evangelista, num de $gus sermões descreve
“
'Moisés sonhando com a terra prometida, onde pretendia desfrutar
a aposentadoria sentado numa cadeira de balanço e brincando com
Comunicação: O Veículo da Pregação
Qualidades do Pregador
os netinhos”. Observe a imagem rica que foi criada com um texto
bíblico tão conhecido.
A maior fonte de imaginação é a própria Bíblia. Cristo era
um artista na capacidade de imaginar. Analise como ele contou,
por exemplo, a parábola da ovelha perdida. Veja como Jesus
imaginou os detalhes da parábola, o número de ovelhas, o pastor
colocando a perdida nos ombros, e depois a festa dos amigos pela
ovelha encontrada. Aprenda com Jesus a desenvolver sua
imaginação.
MEMÓRIA
O orador tem necessidade de cultivar a memória. Não
precisa ser um gênio para se habituar a memorizar coisas essenciais.
Também não há necessidade de decorar discursos ou sermões, o
que aliás é até desaconselhável. Mas uma coisa indispensável ao
orador é ter sempre em mente a finalidade do discurso e a ordem
das idéias. Em nenhum momento você deve esquecer o objetivo do
discurso, para não perder o rumo e introduzir matéria estranha. Ter
a seqüência na cabeça também ajuda a não ficar muito preso ao
papel.
BOA APARÊNCIA
Nenhum orador precisa ser modelo fotográfico ou capa de
revista, mas deve cuidar para que sua aparência não atrapalhe.
Boa aparência ajuda a causar boa impressão. Cabelos despenteados,
roupa amarrotada ou suja, gravata com o nó torto ou frouxo são
coisas que indispõem o ouvinte para apreciar a mensagem. Outro
problema é a combinação da roupa. Imagine um orador coin um
paletó verde, uma camisa azul e uma gravata marrom! Na medida
do possível, você deve primar pela aparência. A indumentária deve
revelar bom gosto e asseio pessoal. O orador deve ser sempre
discreto, de acordo com o ambiente, hora e assunto. Ao procurar
combinar as cores, evite cores berrantes.
Comunicação: O Veículo da Pregação
VOCABULÁRIO
O melhor vocabulário é o que se adapta a qualquer
auditório. Deve ser amplo e variado, mas simples e claro para que
qualquer criança consiga entender. Afinal, os auditórios estão
cheios de crianças, e elas também merecem ouvir. Sempre evite a
vulgaridade, a gíria, a sofisticação e palavras técnicas, como
escatologia e pneumatologia, por exemplo. A melhor maneira de
enriquecer o vocabulário é praticar o hábito da leitura constante.
HUMILDADE
Todas as qualidades acima destinam-se a ajudar o pregador
a desempenhar com eficiência sua tarefa. Isso não significa que
ele deva sentir-se um herói ou uma estrela ao desenvolver essas
qualidades, mas deve reconhecer suas limitações e pequenez. Se
domina um assunto, deve lembrar-se de que há muitos outros que
não o dominam. Acima de tudo, o pregador deve ter consciência
de sua total dependência de Deus para o cumprimento de sua
missão. Por isso, nunca assuma o ar de que é o dono da verdade
ou a estrela de primeira grandeza.
Entretanto, cuidado: humildade não se finge. Os ouvintes
percebem facilmente se o orador é arrogante ou humilde, se se
sente superior ou igual a todos, se está ali para servir ou para
promover-se. Isso demonstra-se no semblante e nas expressões.
Um espírito sereno e humilde acrescenta poder à mensagem, da
mesma forma que a arrogância destrói o poder. Mas lembre-se
mais uma vez: para ser humilde no púlpito é preciso ser humilde
na vida pessoal e no relacionamento com as pessoas.
Notas
1Oratória Eficiente de Hoje, p. 26.
2Reinaldo Polito, Como Falar Corretamente e sem Inibições (São Paulo,
Saraiva, 1990), p. 46.
Aproveite o Medo
“O medo é o alarme do subconsciente,
avisando que o consciente precisa
de mais preparo. ”
Maurício Góis
utro dia um orador iniciante, amigo meu, contou-me sua
experiência traumática. Ele preparou um bom sermão,
ensaiou a apresentação e cronometrou-a para 30 minutos. Quando
chegou ao púlpito, estava gelado. As mãos suavam frio, a voz
engasgava, e por alguns instantes ele pensou que não ia sair nada.
Finalmente conseguiu começar. Quando estava terminando, olhou
o relógio e haviam-se passado apenas oito minutos. Tentando evitar
o vexame, falou: “Mas como eu disse para os irmãos...”, e pregou
todo o sermão novamente.
Que orador nunca passou por uma situação parecida? Pois
é, o medo faz isso. E o terror de saber que todo mundo o está
avaliando, é o receio de cometer erros, é o medo de falar em público,
que poderíamos chamar de “verbofobia” ou “pulpitofobia”. Mas o
que fazer para vencer a “verbofobia”?
Comunicação: 0 Veículo da Pregação
Diante do medo, existem duas alternativas: fugir ou enfrentar.
Se escolher a primeira, nunca será um orador. Se escolher a segunda,
tem tudo para ser um orador. Durante muito tempo escolhi a primeira
alternativa. Desde a infância até o início da faculdade, sempre fugi
de qualquer convite ou oportunidade para falar em público. Era
assunto resolvido, eu nem pensava duas vezes. Até o dia em que fiz
um curso de oratória e resolvi enfrentar. Só então consegui mudar
de atitude.
A título de curiosidade, veja o resultado de uma pesquisa
feita com três mil pessoas às quais se perguntou: “De que você tem
mais medo?”. Veja o percentual das respostas:1
OS MAIORES MEDOS DA HUMANIDADE
1. Falar em público 41%
2. Medo de altura 32%
3 .Insetos 22%
3. Problemas financeiros 22%
3. Aguas profundas 22%
4. Doença 19%
5. Morte 19%
6. Viagem aérea 18%
7. Solidão 14%
8. Cachorro 11%
9. Dirigir Ou andar de carro 9%
10. Escuridão 8%
11. Elevadores 8%
12. Escada rolante 5%
Observe que o medo de falar em público está no topo da
lista. Portanto, não é nada incomum ter medo de auditório. O
importante é saber lidar com esse medo.
COMO LIDAR COM O MEDO -
Existem várias atitudes que ajudam a vencer o medo. Cada
autor tem uma lista enorme de dicas e sugestões, todas válidas.
KD
Aproveite o Medo
Dentre essas várias listas, resolvi comentar algumas atitudes que
julgo mais eficazes na luta contra o medo. Vejamos:
Lem bre-se de que você não é o único
Sempre que tiver medo do auditório, sinta-se orgulhoso. Isso
mesmo: orgulhe-se porque, pelo menos num aspecto, você é igual
aos grandes oradores de todos os tempos. Sempre que tem medo,
você está muito bem-acompanhado. Sinta-se na companhia de
Demóstenes, Cícero, Churchill, John Kennedy e Rui Barbosa. Se
todo mundo tem medo de falar em público, você não vai querer ser
a única exceção da humanidade a falar sem medo! Ou vai?
Conta-se que Sara Bernhardt, famosa atriz do passado, certa
vez contou numa roda de amigos que tremia de medo cada vez que
subia no palco. Uma atriz iniciante, querendo chamar a atenção,
disse: “Interessante, eu não sinto medo nenhum”. Sara respondeu:
“Não se preocupe, minha filha, o talento vem com o tempo...”. E
tinha razão: quanto maior o talento, maior a responsabilidade de
manter a credibilidade, e maior o medo da responsabilidade.
N ão tenha m edo do m edo
Se não tiver medo do medo, você terá um medo a menos.
Isto é, o medo se reduz pela metade. Isso é psicológico. Basta pôr na
cabeça que o medo faz parte da natureza.
A consciência de que o medo é natural ajuda-o a encará-lo
de maneira natural. Se não há outra opção, então acostume-se com
o medo. Ponha na cabeça que você sempre vai sentir medo antes
de falar em público e aprenda a conviver com o medo. Só há duas
opções: ou sente medo de falar em público, ou não fala em público.
Chegue à conclusão de que a decisão mais inteligente é escolher a
primeira opção. E, ao conviver com o medo, você vai perder, pelo
menos, o medo de ter medo.
m
Comunicação: O Veículo da Pregação
Aproveite o seu m edo
O medo e o nervosismo indicam que o corpo se está
preparando para entrar em ação. Cada vez que você tem medo, o
organismo joga no sangue certa quantidade de uma substância
chamada adrenalina. A adrenalina faz que o sangue circule mais
rápido, o coração bata mais acelerado, todos os sentidos fiquem
mais aguçados e que seu corpo fique em condições de fazer o que
for necessário para “escapar do perigo”. E um mecanismo natural
de defesa e reação.
Com isso, tudo em você passa a funcionar com maior
intensidade; logo, sua capacidade de percepção aumenta, e você
consegue pensar mais rápido e até ter mais idéias. Se canalizar
toda essa energia para pô-la em ação, você terá um grande auxílio
na difícil tarefa de enfrentar o auditório. Aproveite esse “estado de
emergência” e utilize o potencial energético que o medo lhe oferece.
R esolva correr o risco
Não tenha medo de fracassar. Diz um pensamento: “O risco
do fracasso é o preço do sucesso”. Só obtém sucesso quem corre o
risco de fracassar. E se cometer alguns erros, ou mesmo chegar a
fracassar algumas vezes, qual é o problema? Perder uma batalha
não significa perder a guerra. Tente outra vez. Assuma o fato de que
falar é importante e necessário para você, ainda que cometa erros.
Abraão Lmcoln é um exemplo típico de sucesso construído
em cima de fracassos. Veja o currículo dele:2
— Perdeu o emprego em 1832
— Derrotado na legislatura de Illinois em 1834
— Fracassou nos negócios pessoais em 1833
— Morre-lhe a eleita do coração em 1835
— Sofreu de uma enfermidade em 1836
— Derrotado novamente na legislatura de Illinois em 1838
— Derrotado na indicação para o Congresso £m 1844
— Perdeu a segunda indicação em 1848
“ Derrotado para o Senado em 1854
E9
Aproveite o Medo
— Derrotado para a indicação de vice-presidente em 1856
— Novamente derrotado para o Senado em 1858
— Eleito presidente dos Estados Unidos em 1860!
U se a descontração
Primeiramente procure descontrair-se você mesmo. Alguns
exercícios de relaxamento pouco antes de falar podem ajudar. Uma
técnica bastante recomendada pelos especialistas é a respiração
profunda, várias vezes antes de começar a falar e, se preciso, também
durante o discurso.
Em segundo lugar, procure descontrair o auditório. Para isso
nada melhor que uma pitada de bom humor. Levar o auditório a
um riso discreto descontrai tanto o orador quanto os ouvirttes, e o
auditório descontraído automaticamente torna-se receptivo. Conta-
se que Abraão Lincoln estava muito nervoso ao participar de um
debate político. Seu oponente, que o antecedeu, acusou-o com
sarcasmo de ter duas caras. Assim que o rival terminou, Lincoln
levantou-se para falar. Como tinha a fama de ser muito feio, Lincoln
começou o discurso com estas palavras: ‘Acham vocês que se eu
tivesse duas caras iria aparecer em público logo com essa?”.A risada
foi geral, e dizem que Lincoln começou a ganhar o debate com essa
frase. Lembre-se do ditado: “Quem ri comigo não ri de mim!”.
Prepare-se
O melhor remédio contra o medo e o nervosismo é estar
bem-preparado e saber o que vai dizer. Lembre-se: “O medo é um
aviso do subconsciente de que o consciente precisa de mais preparo”.
Prepare-se o melhor que puder. Se sabe o que vai dizer, você se
sentirá seguro por sentir que, mesmo com medo, você tem um bom
conteúdo a oferecer. Muitas vezes a maior causa de medo são a
insegurança e a falta de preparo.
Daniel Webster disse que preferia apresentar-se meio despido
diante do auditório do que meio despreparado.3 De fato, o despre­
paro é a nudez do espírito, porque permite que todos enxerguem o
vazio que há dentro de nós.
ES
Comunicação: O Veículo da Pregação
Quando adolescente, eu estudava piano. Lembro-me muito
bem de uma ocasião em que tive de fazer uma audição perante os
alunos e professores do conservatório. A audição era a quatro mãos
-eu e meu irmão. Ele estava preparado, mas eu estava nervoso
porque não me havia preparado suficientemente. Começamos a
tocar, e no meio da peça eu não conseguia mais ler a partitura nem
tocar de memória. Se estivesse sozinho teria parado, mas como
estava acompanhado, achei que não podia parar. Em pânico e sem
ter tempo para resolver o que fazer, comecei a “bater” descoorde-
nadamente em todas as teclas do piano, produzindo uma desar­
monia infernal. Meu irmão começou a rir e também se desconcen­
trou. Daí para a frente eram dois descoordenados. Até hoje não
entendo por que não paramos de imediato. Ríamos para não chorar.
Após o fiasco, alguns complacentes vieram dizer: “Parabéns”. Não
adiantou nada: naquele dia encerrei minha carreira de pianista (hoje
reconheço que devia ter perseverado).
A mesma coisa ocorre com um orador despreparado. Seu
discurso não passará de uma seqüência de sons descoordenados
produzindo desarmonia, sem nenhuma linha nítida de pensamento.
Quando falta o conteúdo, e você não quer parar de falar, certamente
dirá bobagens e assuntos desencontrados que não levam a lugar
nenhum. E o que alguns autores chamam de “verborréia". Se você
não se preparou, pare de falar, ou nem comece.
9
M antenha pensam entos positivos
O auditório não está ali para vê-lo fracassar, mas, sim, para
ouvi-lo. Se não acreditassem em você, não ficariam para escutá-lo.
Portanto, mantenha o pensamento de que eles o apreciam. Não
torne as coisas piores do que são na realidade. Evite pensar que
será “terrível” falar para “aquela multidão”. Pense na contribuição
que você vai dar aos ouvintes e nas coisas boas que irá dizer. Para
isso você precisa ter certeza de que preparou um bom conteúdo.
No caso da pregação, pense na ajuda espirifual que você
vai oferecer aos ouvintes. Pense em quantas pessoas quebrantadas
ou fracas precisam ser fortalecidas com sua mensagem. Pense
Aproveite o Medo
também no fato de que você não está ali em causa própria, mas a
serviço de uma missão superior, cumprindo uma ordem divina, e
que o interesse de êxito é primeiramente de Deus, mais do que o
seu próprio desejo de sucesso. Pense também na unção e no poder
do Espírito, que o comissionou e o capacitará para o cumprimento
de sua missão.
Seja perseverante
Não desista diante dos primeiros fracassos. Em todas as
áreas da vida, o sucesso depende da persistência e da insistência
na busca de um ideal. Todos os grandes oradores tiveram fracassos
no começo. O pastor Robert Pierson conta que quando estudante
foi aconselhado por um professor a abandonar o seminário porque
era gago e nunca conseguiria ser um orador. Mas ele persistiu e
tornou-se um grande pregador.
Talvez o exemplo mais clássico seja o de Demóstenes. Conta-
se que a primeira vez em que ocupou uma tribuna deixou-a sob as
vaias da platéia, porque tinha cacoetes e problemas de dicção. Mas,
mesmo derrotado pela tribuna, não foi derrotado por si mesmo. Para
corrigir os cacoetes, discursava em casa com uma espada pendurada
apontando para o ombro, e cada vez que o ombro se erguia
nervosamente, era ferido pela espada, até que o reflexo condicionado
corrigiu o defeito. Para corrigir a dicção, discursava com a boca
cheia de seixos, para aprender a controlar a língua. Não foi por
acaso que se tornou o maior orador de todos os tempos.
A PSICOLOGIA DO MEDO
No estudo das relações interpessoais, os psicólogos Joseph
Luft e Harry Ingram criaram uma ferramenta interessante que ficou
conhecida com o nome de Janela de Johari. Consiste numa “janela”
com quatro “vidraças”, cada uma com um rótulo identificador,
indicando a maneira pela qual as pessoas administram a persona­
lidade perante os outros.4 Essa ferramenta aplicada à comunicação
ajuda a compreender o comportamento do orador perante o
auditório. A janela tem a seguinte forma:
ESI
Comunicação: O Veículo da Pregação
Janela de Johari
ÁREA ÁREA
ABERTA CEGA
ÁREA ÁREA
OCULTA FECHADA
Vejamos como funciona cada uma dessas áreas:
1. Área aberta. Essa é a vidraça transparente, permite
visibilidade por dentro e por fora. São aquelas coisas que
conhecemos sobre nós mesmos e os outros também conhecem.
Nosso eu é aberto, conhecido por nós e pelos outros. É a nossa
pessoa pública, em que nada é oculto. E a área dos atos conscientes.
Nessa área, o orador não tem medo. Ele admite sua personalidade
perante o auditório. Quanto maior for essa área, menor será o medo.
Dentro dos limites do bom senso, o orador deve tornar-se conhecido
do auditório.
2. Área cega. Essa vidraça é como se fosse de um vidro
escuro, com visibilidade só de um lado, ou seja, os outros nos
enxergam, mas nós não nos enxergamos. Nessa área da personali­
dade ficam aqueles aspectos que desconhecemos sobre nós mesmos,
mas que os outros conhecem. Nosso eu é cego, desconhecido por
nós e conhecido pelos outros. E a mancha cega da janela. Isso quer
dizer que o que imaginamos ser não corresponde ao que os outros
imaginam. Nosso auto-retrato é totalmente diferente do retrato
pintado pelos outros. E a área dos atos inconscientes. Nessa área. o
orador é insensível à resposta do auditório. Ele pensa que está
produzindo um efeito, que na realidade não está ocorrendo. Pensa
que se está comunicando bem, por exemplo, mas os ouvintes acham
que se está comunicando mal. Ou o contrário: o auditório gosta do
Aproveite o Medo
orador, mas ele acha que não agrada a ninguém. Essa é a área dos
complexos de inferioridade ou de superioridade. Por falta de
intercâmbio, o orador não cresce e sente-se inseguro por não
alcançar os objetivos. É preciso que o orador seja receptivo ao que
os outros dizem a fim de saber o que eles conhecem dele.
3. Área oculta. Essa vidraça também tem visibilidade de um
lado só, mas no sentido oposto, ou seja, nós enxergamos, mas os
outros não enxergam. É a área secreta da personalidade. Aqui estão
as coisas que conhecemos sobre nós mesmos, mas que os outros
nada sabem. São coisas que não revelamos aos outros porque
acreditamos não serão bem aceitas ou porque correspondem a coisas
particulares e sensíveis de nosso caráter. Essa é a área de maior
medo, porque o orador teme expor-se e revelar sua timidez, sua
falta de conhecimento e seus defeitos. E como se estivesse escondido
por trás de uma fachada. Às vezes não revela seus pontos de vista
com medo de que outros discordem, numa espécie de covardia
intelectual. O orador precisa criar coragem e diminuir essa área
secreta. E evidente que sempre terá o lado secreto da personalidade
e nunca poderá revelar tudo de si mesmo, mas esse lado interior
deve ser coerente com sua personalidade exterior.
4. Área fechada. Aqui a vidraça está fechada. É a área
inacessível da personalidade, que ninguém conhece. Aqui está um
eu totalmente desconhecido, pois nessa área ficam as coisas que
não sabemos a nosso respeito e que também ninguém sabe. E a
grande área do desconhecido e inexplorado. Aos poucos o orador
precisa conhecer mais de si próprio e de sua estrutura psicológica
para aumentar sua segurança própria, pois quanto mais conhecer-
se, mais saberá lidar com os próprios sentimentos.
Essas quatro áreas sempre existirão dentro de cada pessoa,
e o ideal é que haja equilíbrio entre elas para que a personalidade
seja natural e agradável. Contudo, o orador eficaz entende que todo
bom comunicador precisa aumentar a área aberta de sua persona­
lidade, o que o leva a diminuir a área secreta. Precisa transmitir
informações a seu próprio respeito, ou seja, deixar sua personalidade
fluir para o auditório espontaneamente, sem bloqueios psicológicos,
sem fingimento e sem atitudes camufladas. Isso não significa fornecer
os dados pessoais, mas sim deixar transparecer as riquezas de uma
personalidade liberta de ansiedade e desconfiança.5
Em outras palavras, uma personalidade transparente e na­
tural poderia ser representada, na Janela de Johari, mais ou menos
da seguinte maneira:
Comunicação: O Veículo da Pregação
ÁREA
ABERTA
ÁREA
CEGA
ÁREA OCULTA
ÁREA
FECHADA
N otas
1Public Speaking, p. 329.
2Curso Prático de Comunicação Verbal, p. 427-428.
3 Idem, p. 86.
"Harris W. Lee, Effective Church Leadership (Minneapolis, Augsburg, 1989),
p. 55-56.
5Curso Prático de Comunicação Verbal, p. 95-103.
Capítulo f
O Audiovisual do
Pregador
“O coração alegre aformoseia o rosto. ”
Salomão
os 30 minutos do sermão, tudo que acontece no púlpito influi
na comunicação da mensagem. E aí que entra a importân­
cia do visual do pregador e do fator sonoro, ou seja, sua voz. Na
realidade, o pregador é um audiovisual vivo, de carne e osso.
Um estudo feito pelo psicólogo Albert Mehrabian revela que
apenas 7 por cento da nossa comunicação é representada pelas
palavras, 38 por cento pelo tom de voz e qualidade do som e 55 por
cento pela expressão fisionômica e corporal!1 Isso significa que o
conteúdo verbal comunica apenas 7 por cento, e que 93 por cento
da comunicação é de conteúdo não-verbal. E por isso que é possível
alguém comunicar-se sem palavras, somente com gestos. E por isso
também que você percebe quando um amigo está triste ou alegre
Comunicação: O Veículo da Pregação
sem que ele diga palavra nenhuma. Aliás, isso é bíblico, pois Salomão
já dizia: “O coração alegre aformoseia o rosto” (Pv 15.13). Portanto,
é indiscutível a importância da voz e da expressão fisionômica e
corporal na comunicação.
EXPRESSÃO CORPORAL
Em decorrência dessa realidade, todos os apontamentos que
o pregador leva horas para preparar vão comunicar apenas sete
por cento do sermão! Assim sendo, é indispensável manter uma
fisionomia agradável, refletindo os sentimentos do conteúdo verbal,
com um sorriso simpático de vez em quando e gestos suaves. Isso
não significa que devemos planejar um conjunto de gestos ensaiados
e artificiais, o que seria pior que a ausência deles. Alguns oradores
que ensaiam fisionomia acabam fazendo careta para o auditório.
O segredo é a naturalidade. O orador precisa sentir-se bem
para comunicar bem. Precisa estar feliz consigo mesmo e com a
mensagem para transmitir isso por meio da fisionomia e da expressão
corporal. “A gesticulação obedece mesmo a um processo natural.
Pensamos na mensagem ao mesmo tempo que informamos ao corpo
o movimento a ser executado; o corpo reage e só depois pronuncia­
mos as palavras. Por isso o gesto vem antes da palavra ou junto
com ela, não depois.”2
Procure descontrair-se e deixar os gestos acontecerem
naturalmente. Lembro-me da única vez em que ensaiei a gesticulação
de um sermão. No auditório estava o meu pai, amante da boa
oratória. Após o sermão, com a franqueza que lhe é peculiar, falou-
me jeitosamente: “Alguns gestos seus estavam exagerados”. Foi a
primeira e última vez que ensaiei gesticulação.
Em vez de aprender a gesticular, aprenda a não impedir a
gesticulação. Tente descontrair-se para não ficar inibido ou tenso,
pois a tensão restringe a naturalidade dos gestos. A medida que
adquirir experiência, você se acostumará a falar com o auditório
como se estivesse numa conversa informal, e os gestos acontecerão
naturalmente.
O olhar e a expressão fisionôm ica
0 grande orador romano Cícero (106-43 a.C.) declarou: “Na
alocução, em seguida à voz e à eficácia, vem a fisionomia; e esta é
dominada pelos olhos. O poder da expressão do olhar humano é
tão grande que, de certa maneira, ele determina a expressão do
semblante todo”.3
Os olhos revelam se a pessoa está triste ou alegre, sentindo-
se bem ou mal e, conseqüentemente, se o que ela está dizendo é
natural ou artificial. Estudos têm demonstrado que as pupilas se
dilatam quando a pessoa sente prazer e se contraem com os
sentimentos negativos. Por isso, mesmo sem ter consciência disso,
reagimos calorosamente a alguém de pupilas grandes. Um olhar
pode ameaçar como uma arma, insultar como uma vaia ou agradar
como uma carícia. Dificilmente conseguimos enganar com os olhos.
Quando chega ao púlpito, o pregador vê à sua frente um
mar de olhos, todos fixos nele. Isso pode amedrontá-lo e levá-lo a
não olhar nos olhos do ouvinte, o que prejudica terrivelmente a
comunicação.
Para conquistar o ouvinte, o pregador precisa olhar
diretamente para o auditório, como o faria se estivesse conversando
com uma única pessoa. Para cada ouvinte, o pregador é um
interlocutor num diálogo pessoa a pessoa. Por isso, o pregador deve
olhar nos olhos dos ouvintes, percorrendo com os olhos todo o
auditório. Se o pregador não olha na direção dos ouvintes, eles se
sentem ignorados.
Outra expressão fisionômica que revela nossos sentimentos
é o sorriso. Também é difícil mentir com o sorriso, pois os lábios
manifestam as emoções, e é muito difícil disfarçá-las. Quando
sorrimos para fingir alegria ou bem-estar, dificilmente conseguimos
sustentar o sorriso.4
Por tudo isso, o pregador precisa estar bem consigo mesmo
e com Deus, imbuído da mensagem e deixá-la transbordar em si,
para que seus sentimentos interiores comuniquem paz e segurança
pela expressão fisionômica.
O Audiouisual do Pregador ■
m
Comunicação: O Veículo da Pregação
A IMPORTÂNCIA DA VOZ
A voz está intimamente relacionada com a mensagem, de
tal maneira que quanto melhor for a voz mais ela atrai a atenção
para a mensagem, e não para si mesma. O ouvinte pode distrair-se
apenas se o tom de voz não combinar com o conteúdo do discurso.
E apropriado, por exemplo, que assuntos de muita importância sejam
falados pausadamente. Temas solenes, por sua vez, geralmente são
expressos melhor por uma voz mais grave e com volume mais baixo.
Em outras palavras, o tom da voz deve refletir o tom da mensagem.
Analisando nossa reação às pessoas que têm boa voz,
geralmente concluímos que elas também são eficientes como
pessoas. A voz, ou qualquer outro atributo humano, não é apenas
um traço independente ou diferente do restante do comportamento.
Em outras palavras, a qualidade da voz reflete a qualidade da pessoa.
Não necessariamente o timbre da voz, mas a entonação e a maneira
de pronunciar as palavras.5
Algumas pessoas têm boa voz por natureza. Isso é um
excelente recurso para a boa oratória. Mas, seja qual for o tipo de
voz, é possível desenvolver algumas qualidades que a tornem
agradável e eficiente na comunicação. Qualquer voz pode tornar-se
eficiente. Os principais fatores que afetam a qualidade da voz são
descritos a seguir.
O tom de voz*
A voz chega até nossos ouvidos em tons agudos, graves e
médios. A maioria dos problemas da voz não esxá no fato de a voz
natural ser aguda ou grave, mas no mal posicionamento do tom de
voz entre agudos e graves. 0 grande problema é que muitas vezes a
pessoa quer falar mais grave ou mais agudo, e sua voz não fica bem
no tom desejado, tornando-se artificial, dissonante ou estridente.
A melhor maneira de encontrar o tom de voz ideal é identificar
a nota mais aguda e a mais grave que consegue alcançar com
naturalidade e, então, localizar a nota central dessa escala. Essa
nota central é o seu melhor tom de voz, que você deve acostumar-se
a usar e, a partir do qual, vai fazer as entonações necessárias.
E3
O Audiovisual do Pregador
Encontrando o tom de voz ideal você terá espaço para dar
flexibilidade à voz, acima e abaixo. Não importa seja a voz natural
grave ou aguda.
Na maioria dos casos, esse é um exercício fácil, que pode
ser praticado com ajuda de um piano ou de outro instrumento.
Algumas pessoas, entretanto, podem precisar de ajuda profissional,
até porque o uso da voz às vezes está ligado a problemas psicológicos
da infância. Certo estudante de teologia falava com uma voz
excessivamente aguda, em falsete, e isso prejudicava suas aspirações
ao ministério. Um terapeuta descobriu que ele adotara essa voz
como defesa contra críticas recebidas na adolescência, quando
estava mudando de voz. Com um tratamento psicológico, o problema
foi resolvido.6
Entonação. Quanto à entonação das palavras, procure
ondular a voz de acordo com as diferentes ênfases de seu discurso.
Não use tom de voz artificial ou clerical. Alguns pregadores parecem
estar rezando ave-maria. O melhor tom de voz é o coloquial, ou
seja, falar com os ouvintes em vez de falar para eles. Jamais grite.
A dicção
A dicção é a maneira de dizer as palavras e está relacionada
com duas funções básicas: a articulação e a pronúncia. Embora
essas duas funções estejam intimamente ligadas, a articulação refere-
se à enunciação completa das palavras, sem omitir, ou “engolir”,
vogais, consoantes ou sílabas. Um erro muito comum de articulação
é engolir o “s” do final dos plurais, como por exemplo em “fizemo”
no lugar de “fizemos”, ou “forno” no lugar de “fomos”. Outro erro
comum é engolir o “r” do final dos infinitivos, como por exemplo:
“andá” no lugar de “andar” ou “ficá” no lugar de “ficar”.
A pronúncia, por sua vez, refere-se mais ao som correto das
palavras, com a devida ênfase das sílabas tônicas. Um erro comum
de pronúncia é falar “
Jesuis” no lugar de “
Jesus”, ou “trêis” no lugar
de “três”. A pronúncia também tem que ver com os sotaques
regionais. A princípio, todos os sotaques são corretos, e cada um
tem o seu charme peculiar. Apenas deve-se tomar cuidado quando
Comunicação: O Veículo da Pregação
o sotaque é muito carregado a ponto de chamar atenção. Nesse
caso é recomendável corrigir os excessos.
A regra geral é pronunciar as palavras completas, com os
sons corretos. Um bom exercício para isso é a leitura pausada em
voz alta.
O volum e
Saber dar o volume certo para cada tipo de auditório é uma
habilidade que o pregador precisa desenvolver. Nada é mais incômodo
do que o ouvinte ter de esforçar-se para ouvir um pregador que fala
para dentro, cujas palavras parecem não sair, ou quando o som é
amplificado de maneira insuficiente. Por outro lado, nada é mais
irritante do que ouvir os berros de um orador, ou uma amplificação
de som exagerada, que agride os ouvidos. Alguns ouvintes são muito
sensíveis e sentem-se mal com um volume acima do suficiente.
Os equipamentos de som hoje são uma ferramenta muito útil
para o pregador, quando devidamente operados. Você pode falar para
milhares de pessoas e ser ouvido por todos, mesmo quando sussurra,
o que em alguns momentos faz um bom efeito de voz. Alguns
pregadores gostam de exibir a capacidade vocal falando sem
microfone para grandes auditórios. Esse tempo já passou. Por mais
que sejam ouvidos, a comparação com o som amplificado faz com
que a voz natural pareça gritada e inferior.
Um bom*operador de som pode contribuir muito para o
sucesso de um sermão, e é aconselhável o pregador combinar alguns
detalhes com o operador. Nas igrejas que pastoreei, eu sempre
combinava com os operadores de som, e eles já sabiam exatamente
o volume que eu preferia, bem como o nível de graves e agudos.
A velocidade
Não há uma regra fixa para a velocidade da fala. Depende
muito do assunto. A princípio, não fale rápido demais como que
engolindo as palavras, nem tão devagar como se estivesse morrendo.
A fala pode ser pausada ou acelerada de acordo com o tema.
OAudiovisual do Pregador
Numa conversação normal, usam-se em média cerca de 120
palavras por minuto, e é bom variar entre expressões mais rápidas e
expressões mais lentas. Sobretudo, tenha o cuidado de não atropelar
as palavras e de não engolir o final das frases. Fale as palavras
completas.
A respiração
“A respiração mais indicada para falar é aquela que utiliza
respiração costo-diafragmática e expiração costo-abdominal, como
fazem os bebês, principalmente quando estão dormindo.”7 Isso
significa que a respiração ideal é aquela que movimenta mais o
abdômen do que os pulmões.
Outro cuidado necessário é o “sincronismo fono-respirató-
rio”. Isto é, evite falar quando estiver inspirando, ou continuar a
falar quando o ar praticamente já terminou. Aprenda a usar a
respiração abdominal e a fazê-lo de maneira natural entre as frases,
não no meio das palavras, como se estivesse ofegante.
N otas
;Carol Kent, Speak Up With Confidence (Nashville, Thomas Nelson Publishers,
1987), p. 89.
2 Reinaldo Polito, Gestos e Postura Para Falar Melhor (São Paulo, Saraiva,
1990), p. 15.
3Hans Ulrich Reifler, Pregação ao Alcance de Todos (São Paulo, Edições
Vida Nova, 1993), p. 112.
1
1Aurélio Bolsanello e Maria Augusta Bolsanello, Conselhos - Análise do
Comportamento Flumano em Psicologia (Curitiba, Editora Educacional
Brasileira S.A., 1986), p. 626-630.
5Jon Eisenson, The Improvement ofVoice and Diction (Nova York, Macmillan
Company, 1967), p. 3 e 12.
0Jam es Cox, Preaching (San Francisco, Harper & Row, Publishers, 1985), p.
249-252.
7Como Falar Corretamente e Sem Inibições, p. 56.
SEMINÁRIO CONCORDIA
Como Evitar o
Sermão Salada
de Frutas
“
Quando um homem não sabe a que porto
quer chegar, nenhum vento é o vento certo. ’
Sêneca
e fosse descrever o sabor de uma salada de frutas, a que
fruta você compararia a salada? Ela tem sabor de banana,
mamão, laranja ou maçã? Difícil, não é? Na realidade ela tem sabor
de tudo, e por isso mesmo o sabor é indefinido. O sermão não pode
ser assim, senão o ouvinte vai sair da igreja indefinido, sem saber
qual foi o sabor do sermão, isto é, sem saber qual é a mensagem
para sua vida prática. E aí que se nota a importância da estrutura
do sermão, da organização das idéias, da distribuição do assunto
em partes, de maneira que se comunique o máximo possível.
0 primeiro passo na organização de um sermão é a sua
divisão em três partes: introdução, corpo e conclusão.1 Em outras
Comunicação: O Veículo da Pregação
palavras, o sermão tem de ter começo, meio e fim. No passado,
alguns autores dividiam o discurso em cinco ou mais partes, mas
hoje a tendência é simplificar essa divisão em apenas três partes. É
mais prático. Neste capítulo, vamos nos preocupar apenas com o
corpo do sermão e sua estrutura.
Quanto mais organizado estiver o sermão, mais ele vai ser
captado pelo ouvinte e surtir efeito duradouro. Estudos revelam que
a pessoa comum se lembra apenas de 25 por cento do que ouve. E
conserva isso na memória por pouco tempo. Após 48 horas, a maioria
só se lembra de 10 por cento de um discurso.2 Esse é mais um
motivo para que as idéias estejam muito bem organizadas. Vejamos
como organizar as idéias do sermão.
CARACTERÍSTICAS DO CORPO DO SERMÃO
O corpo é o sermão propriamente dito. E a mensagem que
vai ficar na mente e no coração do ouvinte. É a exposição das idéias
e o desenvolvimento do assunto. Para ser eficaz, o corpo do sermão
precisa de algumas características indispensáveis. Vejamos.
U nidade absoluta
Um cidadão estava lendo um dicionário, e um amigo
perguntou-lhe o que estava lendo. Em resposta, disse: “Parece que
tem um monte de informações boas, mas não consegui descobrir a
linha de raciocínio!”. No dicionário, o termo anterior e o posterior
nada têm que ver com o do meio. Alguns pregadores pregam
sermões-dicionário, que têm um monte de informações boas, mas
ninguém descobre a linha de raciocínio.
Isso não pode acontecer no corpo do sermão nem no sermão
como um todo. O sermão não pode ter duas ou três idéias centrais.
Pelo contrário, tem de ter uma idéia central única, grande, luminosa e
presente em todo ele. Tudo o que se diz no sermão tem de estar debaixo
dessa idéia e contribuir para ela. Qualquer outra idéia que não reforce
ou esclareça a idéia central deve ser abandonada sem piedade. Uma
boa solução é guardar essas idéias “extras” para outros sermões.
Como Euitar o Sermão Salada de Frutas
Se você pregar sobre a volta de Jesus, não fale nesse sermão
sobre a doutrina do santuário. Se pregar sobre a fé, não misture
com o tema da origem do mal. Se pregar sobre oração, não misture
com educação cristã. É claro que todos os temas bíblicos se inter-
relacionam, mas você deve apresentar apenas um de cada vez, para
que a mensagem tenha unidade e poder.
Muitos membros de igreja voltam para casa como aquele
homem a quem, ao chegar do culto, a esposa perguntou: “Sobre
que assunto o pastor pregou?”. O homem respondeu: “Sobre o
pecado”. Quando a esposa insistiu em saber o que o pastor disse
sobre o pecado, o homem respondeu: “Acho que ele era contra”.
É muito comum ouvir sermões do tipo salada de frutas. Aliás,
a triste realidade é que é mais comum ouvir sermões desorganizados
do que sermões organizados. Alguns pregadores percorrem a Bíblia
de Gênesis a Apocalipse e misturam todas as doutrinas num só
sermão. Quando terminam, ninguém sabe dizer sobre que falaram.
A razão não é a falta de inteligência, e sim de dedicação, porque
pregar sobre dez assuntos dá menos trabalho do que pregar sobre
um só.
A escolha de um assunto exige bastante tempo e estudo.
Duane Litfin apresenta quatro passos básicos na escolha do assunto
e da idéia central:
— Determine o assunto geral sobre o qual você gostaria de falar
— Faça uma boa pesquisa sobre esse assunto
— Decida o tópico que você quer abordar dentro do assunto
— Estabeleça a idéia central, única, que vai governar a
construção do sermão3
Aliás, ao escolher a idéia central, você está determinando a
unidade do sermão. John Henry Jowet escreveu: “Tenho a convicção
de que nenhum sermão está pronto para ser pregado, ou para ser
escrito por extenso, até que possamos expressar seu tema numa
frase curta e fecunda, clara como cristal”.4
Comunicação: 0 Veículo da Pregação
Propósito claro
Definido o assunto, estabeleça o propósito que quer alcançar
com esse assunto. Muitas vezes o processo pode ser inverso: você
tem um propósito e escolhe um assunto para atingir esse propósito.
Não importa a ordem, o importante é que tenha um assunto e um
propósito.
“O propósito declara aquilo que esperamos que aconteça
com o ouvinte como resultado da pregação desse sermão. O propósito
difere da idéia do sermão, assim como o alvo é diferente da flecha...
Ao passo que a idéia declara a verdade, o propósito define o que
aquela verdade deve levar a efeito.”5
Exemplificando, suponhamos que o assunto escolhido seja
o perdão. A idéia central poderia ser: “Deus não se cansa de
perdoar”. O propósito seria levar o ouvinte a buscar o perdão, mesmo
após repetidos fracassos.
D ivisões paralelas
Tendo o assunto, a idéia central e o propósito, fica fácil
organizar o restante do sermão. O passo seguinte é dividir a idéia
central em três tópicos específicos, que seriam as divisões da idéia.
Essa regra não é inflexível, e você pode usar duas ou quatro divisões
esporadicamente. Alguns autores admitem até mais de quatro
divisões, o que, porém, não é muito didático. Quanto menor o
número de tópicos, maiores a clareza e a força da idéia central. Por
isso o ideal é usar somente três divisões, ou excepcionalmente duas.
Quatro divisões, só em casos bem especiais.
Vamos tomar o exemplo acima e acrescentar as três divisões
da idéia central:
IDÉIA CENTRAL: Deus não se cansa de perdoar
DIVISÕES: A. Não se cansou de perdoar a Davi
B. Não se cansou de perdoar a Pedro
C. Não se cansa de perdoar-lhe
[39
Como Euitar o Sermão Salada de Frutas
Observe que as três divisões são enfoques que apoiam a
idéia central e com esta formam uma unidade absoluta. Tudo está
dentro do mesmo tema e tem o mesmo propósito. Observe também
o paralelismo das divisões, ou seja, elas são semelhantes entre si.
Isso é possível mediante o uso de uma palavra-chave repetida em
todas as divisões. No caso acima, a palavra-chave é “perdoar”,
que amarra as três divisões, mantendo-as paralelas. Quanto mais
palavras-chave, maior o paralelismo. No exemplo acima, o verbo
“cansar-se” e a palavra “não” também ajudam a fortalecer o
paralelismo.
Progressão
Todo sermão deve ter movimento, e esse movimento tem de
progredir em direção a um clímax. O pregador precisa levar o ouvinte
de um ponto de partida para um ponto de chegada. Progressão é a
maneira que o pregador conduz o ouvinte, envolvendo-o pouco a
pouco no propósito da mensagem. Assim, ao preparar as divisões
do sermão, você deve dar-lhes uma ordem lógica de progresso em
direção ao clímax do sermão.
No exemplo já citado, observe a progressão das divisões.
Primeiro, o foco é o perdão a Davi, lá no Antigo Testamento. Depois
vem o perdão a Pedro, um pouco mais próximo, por ser no Novo
Testamento. Finalmente vem o clímax do sermão, que é o perdão ao
próprio ouvinte: “Deus não se cansa de perdoar-lhe”.
Vejamos o exemplo de um discurso sobre o tema da
temperança. Observe como a idéia central apóia-se nos tópicos das
divisões e progride com eles:
IDÉIA CENTRAL: O alcoolismo é um inimigo que destrói
DIVISÕES: A. Destrói o indivíduo
B. Destrói a família
C. Destrói a sociedade
O discurso tem como ponto de partida o prejuízo que o álcool
causa à própria pessoa que o ingere. Na segunda divisão esse
prejuízo é ampliado para toda a família. Na terceira, o prejuízo
atinge toda a sociedade. A ordem também poderia ser inversa, pois
você escolhe o clímax de acordo com o enfoque que deseja dar,
contanto que haja movimento em direção a um ponto culminante.
Observe também que o paralelismo ocorre com a palavra-chave
“destrói”.
Comunicação: O Veículo da Pregação
A ARTE DE ESBOÇAR
Para que o sermão tenha as características de unidade,
propósito, paralelismo e progressão, é indispensável que essas
qualidades estejam esquematizadas em forma de esboço. O esboço
nada mais é do que o esqueleto que dá sustentação às idéias. Assim
como no corpo humano o esqueleto nunca aparece, o esboço
também se esconde atrás do revestimento das idéias. O esqueleto
humano é uma estrutura feia que sustenta um corpo bonito.
Nenhuma pessoa bonita pode dizer que não precisa de esqueleto.
Da mesma forma, não pode haver sermão sem esboço. Quanto mais
bonito o sermão, mais precisa de um esboço.
A forma do esb oço
O esboço é a distribuição da idéia central com as divisões e
subdivisões. Diferentes autores sugerem diferentes formas para o
esboço, umas mais simples, outras mais complexas. O formato
abaixo parece ser o mais didático e mais prático para qualquer tipo
de discurso ou sermão:61
1. INTRODUÇÃO
A. Captar a atenção
B. Resumo do que vai dizer
Como Euitar o Sermão Salada de Frutas
II. APRESENTAÇÃO
A. Pontos principais
B. Ordem lógica
C. Progressão
III. CONCLUSÃO
A. Resumo
B. Apelo
Note, por exemplo, como o discurso sobre o alcoolismo,
citado anteriormente, pode ser construído com esse formato de
esboço, com as divisões e subdivisões da idéia central:
I. INTRODUÇÃO
A. Ilustração
1. Adolescentes bêbados
2. Adolescentes viciados
B. A ilusão do vício
1. O vício é uma fuga da realidade
2. O vício é um inimigo perigoso
II. O ÁLCOOL É UM INIMIGO QUE DESTRÓI
A. Destrói o indivíduo
1. Prejudica o sistema nervoso
2. Prejudica a mente
3. Transição
B. Destrói a família
1. Prejudica o orçamento familiar
2. Prejudica o relacionamento familiar
3. Transição
Comunicação: O Veículo da Pregação
C. Destrói a sociedade
1. Aumenta o desemprego
2. Aumenta a marginalidade
3. Transição
III. CONCLUSÃO
A. Quem usa bebida alcoólica não é feliz
1. Vive sem saúde
2. Vive mal com a família
3. Vive à margem da sociedade
B. Você precisa ser feliz
1. Vença o alcoolismo
2. Vença-se a você mesmo
O esboço também pode incluir outros segmentos, que são
as sub-subdivisões, onde podem entrar ilustrações e aplicações.
Uma preocupação que deve ser levada em conta é o tempo
destinado a cada parte do sermão. Não há uma regra fixa, mas em
média recomendam-se 15 por cento do tempo para a introdução,
75 por cento para o corpo e 10 por cento para a conclusão. Assim,
um sermão de 20 minutos poderia ter a seguinte distribuição de
tempo:
— 3 minutds para a introdução
— 15 minutos para o corpo
— 2 minutos para a conclusão
Essa é uma sugestão geral, que pode ser adaptada de acordo
com a necessidade. O importante é que o corpo seja a parte principal
e mais extensa do sermão.
E xem plos de esb oços
Um mesmo assunto pode ter dezenas de esboços diferentes,
dependendo do ponto focalizado. Aliás, uma das grandes utilidades
Como Euitar o Sermão Salada de Frutas
do esboço é direcionar o assunto em diferentes abordagens.
Tomando, por exemplo, o assunto da justificaçãopelafé, veja quantos
esboços diferentes podem ser construídos:
1. Abordagem das definições
A. Que é justificação
B. Que é fé
C. Que é justificação pela fé
2. Abordagem das personagens
A. Quem justifica
B. Quem é justificado
C. Quem paga a pena
3. Abordagem cronológica
A. O homem antes da justificação
B. O homem durante a justificação
C. O homem após a justificação
4. Abordagem espacial
A. A justificação e o céu
B. A justificação e o Calvário
C. A justificação e o coração do homem
5. Abordagem ética
A. A justificação e a consciência
B. A justificação e as intenções
C. A justificação e o comportamento
6. Abordagem jurídica
A. A justificação e a acusação do pecador
B. A justificação e a defesa do pecador
C. A justificação e a absolvição do pecador
Comunicação: O Veículo da Pregação
7. Abordagem psicológica
A. A justificação e o senso de culpa
B. Á justificação e a ansiedade
C. A justificação e a paz de espírito
Cada abordagem dessas implica um esboço diferente e,
portanto, um sermão diferente. Essa lista pode ser ampliada
indefinidamente, pois não há limite aos ângulos que abordar dentro
de cada assunto. Por isso, o esboço é um recurso valiosíssimo para
direcionar os diferentes tratamentos de um assunto. Vale a pena
desenvolver uma mentalidade voltada para o esboço.
N otas
1Como Falar Como um Profissional, p. 70.
2 Idem, p. 18.
3Public Speaking, p. 96-117.
4Donald E. Demaray, An Introduction to Homiletics (Grand Rapids, Baker
Book House, 1990), p. 104.
r>Idem, p. 73-74.
6 Como Falar Como um Profissional, p. 70.
Capítulo 8
O Aperitivo do Sermão
“Você nunca tem uma segunda chance de
causar uma primeira impressão!”
Duane Litfin
m bom sermão abre o apetite mental do ouvinte nas
primeiras palavras. Assim que começa a mensagem, o bom
pregador lança palavras aperitivas, que deixam o ouvinte com “água
na boca” para ouvir o sermão.
Essas palavras aperitivas são chamadas introdução. São elas
que vão cativar a atenção do ouvinte e dríái' expectativa quanto ao
sabor do sermão. Por isso a introdução é tão importante. Se não for
bem-feita, o sermão pode parecer seco e sem sabor, e até fazer com
que o ouvinte perca o apetite no primeiro momento.
Um detalhe: em todo sermão, só há uma oportunidade de
fazer uma boa introdução. Se errar o primeiro tiro, a caça está
perdida. Ou seja, se errar as primeiras palavras, é muito difícil
consertar a introdução. Ou como diz o pensamento acima: “Você
nunca tem uma segunda chance de causar uma primeira impres­
são!”. Há alguns recursos que podem tomar a introdução um saboroso
aperitivo. Vamos conhecer os segredos que abrem o apetite para o
sermão.
Comunicação: O Veículo da Pregação
CARACTERÍSTICAS DA BOA INTRODUÇÃO
Todos os objetivos da introdução resumem-se numa só frase:
conquistar o auditório. Para isso, a introdução deve ganhar a
simpatia dos ouvintes e despertar interesse pelo tema, desafiando o
pensamento do ouvinte. Se o pregador não conseguir isso na
introdução, é quase impossível consegui-lo depois. Ou como dizia
Sangster: “O pregador deve certificar-se de que as sentenças iniciais
do sermão possuam ‘garras de ferro’para prenderem de imediato a
mente de seus ouvintes”.1
Um professor meu dizia que a introdução deve “assaltar” a
atenção dos ouvintes, de maneira tal que os deixe eletrizados para
o sermão. Fazer isso com eficiência e sem exageros inconvenientes
é uma arte que poucos conseguem dominar. Analisemos as
características de uma boa introdução.
Atratividade
Por tudo que já foi dito, a introdução tem obrigação de ser
atraente e interessante para despertar a atenção do público. Se não
for interessante, é melhor não haver introdução, porque ela com
toda certeza vai.fazer exatamente o efeito contrário. Ou o ouvinte
interessa-se pelo assunto, ou desinteressa-se. Não há meio termo.
Ouvintes meio interessados são ouvintes desinteressados.
Por isso, a introdução é considerada o ponto estratégico do
sermão, para não dizer o ponto mais importante. Não adianta o
sermão ser poderoso, se o ouvinte não for conquistado para ouvi-lo.
Aliás, diga-se de passagem que não existe sermão poderoso sem
introdução poderosa! Ou a introdução torna o sermão simpático
ou torna-o antipático. Ou o ouvinte pensa consigo: “Quero ouvir
esse assunto”, ou diz: “Isso não me interessa”.
m
O Aperitivo do Sermão
O bjetividade
A introdução não tem de explicar o sermão, mas precisa,
pelo menos, explicar-se a si mesma, ou seja, ter uma razão de ser.
Para isso, tem de ser objetiva e vincular-se ao tema do sermão, para
servir de ponte entre a atenção do auditório e o assunto do sermão.
Quando fiz o curso de oratória no seminário, cada aluno
deveria fazer um sermão de cinco minutos, aplicando todas as
técnicas aprendidas. Lembro-me de um colega, que se dirigiu ao
púlpito com uma caixa embrulhada em papel de presente.
Imediatamente, atraiu a atenção de todos. Nota dez para o impacto
da introdução. Mas infelizmente ele começou e terminou o sermão
sem fazer nenhuma referência ao presente. No meio da pregação
alguns estavam prestando mais atenção ao presente que ao sermão,
e outros já começavam a rir. Faltou sentido, explicação ou ligação
com o tema do sermão.
C oncisão
Aqui entra a capacidade de síntese como qualidade do
orador. Se há um ponto do sermão em que o pregador não pode ser
prolixo, é a introdução. Se em todo o sermão ele deve ser objetivo e
conciso, na introdução ainda mais, porque se não for direto ao ponto,
o ouvinte percebe que ele está rodeando e perde o interesse. Portanto,
não deve haver nenhum elemento supérfluo, ou seja, deve ficar fora
tudo que não for indispensável. Isso é válido mesmo para uma
história interessante, que, aliás, para ser interessante não pode conter
detalhes irrelevantes ou que não estejam relacionados com o objetivo
principal. Como disse Voltaire: “O segredo para a gente ser enfa­
donha é contar tudo”.2
Brevidade
Mesmo sendo interessante e concisa, a introdução não deve
ser longa, pois o ouvinte pode ficar sem saber aonde o pregador
quer chegar. Talvez pudéssemos comparar a introdução a uma
pedrada, que em poucos segundos chama a atenção, causa impacto,
Comunicação: O Veículo da Pregação
quebra a vidraça, mostra o que há no interior do aposento e
desaparece. Ninguém vê mais a pedra, todos ficam olhando para o
aposento!
Note que uma pedrada na vidraça tem o poder de acordar
todos os que estiverem dormindo nas proximidades e fazer com que
todos olhem na sua direção. Assim deve ser a introdução: tem de
acordar os dorminhocos. Agora, se você ficar meia hora atirando
pedras na parede sem acertar a vidraça, todo mundo se acostuma
com as pedradas, e elas já não causam mais impacto (e ainda há o
perigo de você acabar acertando o ouvinte). Em outras palavras, a
introdução deve durar só o suficiente para conquistar a atenção e
introduzir o assunto.
M odéstia
Cuidado para não fazer promessa de alguns políticos na
introdução, ou seja, prometer o que não vai falar. Em vez de exagerar
e dar a impressão de arrogância, seja modesto, deixe que o conteúdo
fale por si mesmo e revele-se coerente. Não diga, por exemplo: “Hoje
vou falar tudo que vocês precisam saber sobre as profecias” ou
“hoje vamos esgotar a doutrina do novo nascimento”. Em vez disso,
diga: “Hoje vamos abordar alguns aspectos da profecia bíblica”
ou: “o novo nascimento tem três pontos fundamentais”, e assim por
diante.
Bom sen so
A introdução tem de ser coerente com o tema, com a
congregação e com o espírito cristão. Não fica bem numa igreja
usar na introdução elementos seculares inconvenientes. Certa ocasião
ouvi um pregador introduzir um sermão sobre Apocalipse, colocando
no serviço de som da igreja a música “Apocalipse”, do cantor secular
Roberto Carlos. Embora tenha conseguido o efeito de atrair a
atenção, desfez o efeito porque feriu a sensibilidade espiritual da
maioria da congregação. Foi uma introdução imprópria.
Por outro lado, ouvi um pregador usar o mesmo recurso de
maneira apropriada. Era um acampamento de jovens num local
KQ
O Aperitivo do Sermão
neutro, não religioso, e ele introduziu a mensagem usando a música
“Tema da Saudade”, em memória de Ayrton Senna, para falar sobre
a brevidade da vida. O efeito foi positivo. Tudo depende do bom
senso e da sensibilidade espiritual.
Clareza
O ouvinte não tem de fazer força para entender a introdução,
pois, afinal de contas, é a introdução que deve conquistá-lo, não ele
conquistar a introdução. Não é conveniente usar argumentos difíceis
nem uma complicada linha de raciocínio. Também não se devem
usar palavras difíceis, que façam o ouvinte precisar de um dicionário
para entender. A introdução tem de ser clara nas palavras, clara
nas idéias e clara nas intenções. Não use ilustrações com objetos
desconhecidos ou alguma lei científica difícil de entender. Seja claro
e simples.
Planejam ento
Mais uma vez o preparo é fundamental. Alguns pregadores
têm a ingenuidade de preparar o corpo do sermão e deixar a
introdução para o improviso. Não faça isso nunca. Recomenda-se
de fato preparar a introdução por último, quando já tiver pronto o
sermão, para saber que rumo dar à introdução, mas ela precisa
estar muito bem preparada, pois é a parte do sermão em que você
precisa demonstrar a maior segurança possível, para ganhar a
confiança do ouvinte.
Haddon Robinson afirma que o pregador “deve aproveitar
ao máximo suas primeiras vinte e cinco palavras para prender a
atenção”,3 porque elas decidem o sucesso ou o fracasso do sermão.
Isso significa que não sobra espaço para agradecimentos nem
homenagens, porque as primeiras 25 palavras devem ser a “pedrada”
que vai “assaltar” a atenção do ouvinte. Ou como dizia um professor
meu: “Se não obtém a atenção dos ouvintes nos primeiros 60
segundos, você pode não conseguir mais”. Por isso, planeje muito
bem as suas primeiras 25 palavras!
m
Comunicação: O Veículo da Pregação
O QUE EVITAR NA INTRODUÇÃO
Pedir desculpas
Se você não se preparou bem, então não fale. Se falar, não
peça desculpas. Essa história de dizer que recebeu o convite de
última hora ou que houve um imprevisto e não deu tempo de
preparar-se é desculpa esfarrapada que surte efeito negativo. No
fundo, o auditório percebe que você não o considera suficientemente
importante para tirar tempo e preparar-se.
O pior é que alguns pregadores ainda cometem um erro
duplo ao dizerem: “Segundo os especialistas em oratória, não se
deve pedir desculpas. Mas vou abrir uma exceção e pedir que os
irmãos me perdoem...”. Além de cometer um erro grave, ainda
informa ao auditório que o erro é premeditado.
Pedir desculpas pode até fazer que o auditório tenha dó de
você, mas não consegue a atenção dele. Pelo contrário, é um aviso
ao auditório de que o sermão não vai prestar, porque não está
preparado, e o que não se prepara não é bom. E um convite ao
desvio de atenção imediato. Se você não está preparado, deixe que
o auditório descubra por si mesmo. Se houver conteúdo, pode até
ser que o ouvinte não fique sabendo do seu despreparo.
Sensacionali$m o
Alguns pregadores parecem sentir necessidade de referir-se
às últimas manchetes dos jornais, ou a personalidades famosas como
artistas de televisão e líderes políticos, a fim de tornar sensacional a
mensagem. Isso não passa de uma tentativa de preencher um
conteúdo vazio, e a pregação não precisa disso. As vezes dá a
impressão de que o orador quer usar a fama de alguém para dar
prestígio ao sermão ou para exibir o próprio prestígio. Lembre-se
de que o prestígio do sermão vem da Bíblia.
OAperitivo do Sermão
Piadas
O humor refinado é um excelente recurso na comunicação
e pode ser usado com eficiência pelo pregador. Fatos bem-
humorados a respeito do próprio pregador ou do auditório surtem
bom resultado, mas esse humor deve ser equilibrado. O púlpito nunca
deve ser usado para piadas ou anedotas, ou qualquer tipo de
vulgaridade que comprometa o bom nível de um ambiente sagrado.
Falsa hum ildade
No passado, a falsa humildade era uma técnica da boa
oratória. Silveira Bueno, por exemplo, cita como modelo de boa
introdução um discurso de Coelho Neto que começa assim: “Mui
piedosamente iniciaste a vossa obra de misericórdia, escolhendo-
me para seu pregoeiro... Outros exporiam com mais eloqüência...”4
Isso fez muito sucesso, mas no tempo de Coelho Neto, hoje não.
Infelizmente, alguns pregadores ainda estão nesse tempo e
começam seus sermões dizendo: “Diante de tantas pessoas capazes,
não sei por que fui o escolhido para falar” ou “eu, o mais humilde e
sem preparo de todos os presentes...”. Hoje, esse tipo de colocação
soa como pedantismo e falsidade. Portanto, seja humilde, mas não
precisa anunciar isso. Quando a humildade realmente existe, ela
aparece naturalmente. Se a humildade for anunciada é porque não
existe.
Jargões e expressões rotineiras
Se quiser matar a introdução e perder toda a atenção do
ouvinte, comece usando as mesmas frases surradas que todo mundo
já usou um milhão de vezes. Veja alguns exemplos de frases
destruidoras da atenção: “Não tenho palavras para expressar a
minha satisfação...” —todo mundo sabe que não é verdade e que
você está dizendo isso porque não tem palavras para expressar coisa
nenhuma—; “sinto-me honrado em poder ocupar esse púlpito...”
—mesmo que seja verdade, o povo já não acredita mais, porque
Comunicação: 0 Veículo da Pregação
todo mundo diz a mesma coisa, e o povo já percebeu que isso serve
só para preencher espaço.
Da mesma forma, evite ditados populares excessivamente
comuns, que só causaram impacto na primeira vez que foram ditos.
Por exemplo: “Quem não comunica se trumbica” ou “A união faz a
força”, e assim por diante.
D ogm atism o
No momento em que você se posiciona, definindo sua opinião
sobre um assunto polêmico, instantaneamente divide o auditório. Por
isso, deve deixar a tomada de posição, se for necessária, para a
conclusão do sermão ou discurso, depois de uma sólida argumentação
que justifique sua posição. Na introdução, isso cria um clima
desfavorável para a argumentação.
Se, por exemplo, você vai mostrar o ponto de vista da igreja
sobre o divórcio, não comece dizendo que a igreja é contra o divórcio.
Introduza o assunto de maneira discreta, e depois argumente com
equilíbrio, sem radicalismo, apresentando o princípio bíblico. A mesma
coisa sobre aborto, jugo desigual, casamento com descrentes e assim
por diante.
TIPOS E FORMAS DE INTRODUÇÃO
Existem basicamente dois tipos de introdução: a direta e a
indireta. A direta é aquela que declara sem rodeios o objetivo do
discurso ou do sermão. Aindireta é aquela que utiliza alguma ilustração
ou outro recurso para servir de ponte para o tema a ser abordado.5
Analisemos alguns exemplos de introdução direta e de indireta.
Tipos de introdução direta
Introdução ousada
O pregador entra diretamente na idéia central, sem prepa­
ração, mas com ousadia, de maneira que surpreende o auditório. É
um tipo difícil de prender a atenção porque o assunto precisa ser
m
O Aperitivo do Sermão
realmente interessante, ou ser dito de maneira interessante para poder
causar impacto. Por exemplo, o pregador poderia começar assim:
“Hoje vou falar sobre a doutrina mais importante da Bíblia’ . Essa
afirmação causa impacto, porque desperta curiosidade imediata.
Todo mundo fica querendo saber qual é a doutrina mais importante.
Antes de dizer qual é a doutrina, ele pode começar a citar argumentos
atraentes para provar que ela é realmente a doutrina mais
importante. Certamente uma introdução assim serviria bem para
um sermão sobre a doutrina da salvação.
Introdução temática
Essa já começa explicando a importância do tema. Para
ficar interessante, não basta referir-se ao assunto, mas precisa usar
frases de efeito para tornar o assunto atraente. Por exemplo, para
um sermão sobre a honestidade, o pregador poderia introduzir
assim: “A honestidade é a marca do cristão. É impossível ser cristão
e desonesto ao mesmo tempo”. Isso pode soar como uma agressão
ao auditório, e por isso mesmo vai chamar a atenção, mas o pregador
tem de ser habilidoso para aliviar a tensão, talvez provando isso
com argumentos atraentes.
Introdução textual
O pregador inicia direto com a leitura de um texto bíblico.
Essa introdução parece não ser atraente, mas é bom lembrar que
uma leitura bíblica bem feita, com boa voz e entonação, possui um
elemento de poder por ser a Palavra de Deus e é respeitada como a
voz de Deus. Essa leitura tem de ser seguida de um comentário
interessante e diferente sobre o texto lido, para manter presa a
atenção.6 Essa introdução também pode começar com uma citação,
pensamento ou provérbio, mas é preciso que seja algo realmente
interessante.
SENUNM»0 CONCORD»*
m
Comunicação: O Veículo da Pregação
Tipos de introdução indireta
Introdução circunstancial
Essa introdução se dirige às circunstâncias em que o sermão
é proferido, como o local, as pessoas, ou a própria ocasião da
reunião. Por exemplo: “Alguns anos atrás eu fazia parte deste
auditório''. Essa é uma referência ao local e pode ser completada
com possíveis comparações entre o momento atual e a época
anterior.
Um exemplo de referência à data ou à ocasião poderia ser:
“Hoje comemora-se a independência do Brasil”. Essa afirmação
pode ser completada com algum tipo de comparação entre a
independência e o tema a ser apresentado. Uma referência direta
às pessoas do auditório poderia vir em forma de pergunta: “Quantos
aqui são alunos desta escola?” ou “quantos pertencem a esta igreja
há mais de cinco anos?”. Em ambos os casos, um discreto elogio
pode servir de transição para o tema.
Introdução histórica
Essa introdução poderia ser uma referência à época ou à
região em que foi escrito o texto a ser usado. Difere da introdução
textual pelo fato de a história vir antes do texto. É preciso ter cuidado
porque temas hisíóricos tendem a ser meio cansativos. Para ficar
interessante, deve haver elementos de comparação entre a história
e o presente. Por exemplo: antes de falar das bodas de Caná, você
pode contar como era o casamento na Palestina daquela época. Só
que, para ficar interessante, procure inserir termos como marcha
nupcial, véu e grinalda, etc., para estabelecer uma relação entre o
passado e o presente, a fim de que o ouvinte não perca o interesse.
Lembre-se de que o propósito supremo da introdução é conquistar
o auditório, e para isso você precisa utilizar todos os recursos da
comunicação.
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A Arte de Pregar-a Comunicacao Na Homiletica- Robson M Marinho.pdf

  • 1. Robson Moura Ma-rînho r Comunicação na Homilética
  • 2. ) ^ d ^ yd rte de j^recicir na Momilética . ■ : ' 5 031 « * Sçww&wn r.oNcnwn» Robson Moura Marinho
  • 3. Copyright © 1999 Robson Moura Marinho Ia. edição: 1999 Reimpressão: 1999 Publicado com a devida autorização e com todos os direitos reservados por Sociedade Religiosa Edições Vida N ova, Caixa Postal 21486. São Paulo-SP 04602-970 Proibida a reprodução por quaisquer meios (mecânicos, eletrônicos, xerográficos, fotográficos, gravação, estocagem em banco de dados, etc.), a não ser em citações breves com indicação de fonte. ISBN 85-275-0268-2 Printed in Brazil / Impresso no Brasil Coordenação editorial • ROBINSON Malkõmes P r e p a r a ç ã o d e te x to • LENITA ANANIAS DO NASCIMENTO Coordenação de produção • Ro ger L. MALKÕMES Capa • R icardo M artins M elo D ia g ra m a ç ã o • S ér g io SIQUEIRA MOURA Dados inteínacionais de catalogação na publicação (cip) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Marinho, Robson Moura A arte de pregar:a comunicação na homilética / Robson Moura Marinho. — São Paulo:Vida Nova, 1999. Bibliografia. ISBN 85-275-0268-2 1. Cristianismo. 2.Pregação. 3.Teologia Pastoral I.Título. 99-1503________________________________________________cdd-251 índices para catálogo sistem ático: 1. Pregação:Cristianismo 251 2. Pregação: Homilética:Cristianismo 251
  • 4. Seminário Concórdia Biblioteca SiSt. r , Req. c c ■- Proc cx Data -o ^ < - ■ > ç-.fa Dedico este livro a três mulheres de ouro, as ouvintes mais assíduas de meus sermões: Rozenia, esposa querida, que com extrema sensibilidade percebe quando uma idéia pode ser mais bem colocada, dando-me preciosas sugestões. Ronísia, primeira filha, que me dá boas idéias para sermões e me ajuda a sintonizar-me com as necessidades do público jovem. Rosiley, minha caçula, que muito contribui para tornar meus sermões atraentes, pois sua cabeça de adolescente só fica “ligada* se o sermão for realmente interessante. E mais: a um casal muito especial, a que devo minha vida - Edvaldo e Amélia, papai e mamãe.
  • 5. Dedicatória 5 Prefácio do Autor 11 Primeira Parte Um Milagre: O P oder da Pregação 13 1. O milagre da pregação 15 O milagre das palavras 17 2. Como pregar sem atrapalhar o culto 19 Sermões que atrapalham o culto 20 S egunda Parte C omunicação: O Veículo da Pregação 25 3. Oratória secular e oratória sacra 27 Elementos da oratória 29 4. Qualidades do pregador 33 5. Aproveite o medo 39 Os maiores medos da humanidade 40 Como lidar com o medo 40 A psicologia do medo 45
  • 6. A Arte de Pregar 6. O audiovisual do pregador 49 Expressão corporal 50 A importância da voz 52 7. Como evitar o sermão salada de frutas 57 Características do corpo do sermão 58 A arte de esboçar 62 8. O aperitivo do sermão 67 Características da boa introdução 68 O que evitar na introdução 72 Tipos e formas de introdução 74 9. A sobremesa do sermão 81 Partes da conclusão 82 Cuidados na conclusão 83 Sugestões sobre a forma de concluir 85 10. Como pregar o que interessa 89 Conheça seu objetivo 90 Conheça seus ouvintes 90 Conheça seu assunto 97 11. Não pregue no escuro 99 O efeito das ilustrações 100 Fontes de ilustração 101 Características da boa ilustração 102 Tipos de ilustração 103 / 12. Aprimore seu estilo 109 Segredos de um bom estilo 110 O treinamento do estilo 116 O estilo e a forma literária 116 O estilo no púlpito 119
  • 7. Conteúdo Teceira Parte A Bíblia: A Fonte da Pregação 123 13. Teologia da pregação 125 A Palavra: essência da pregação 126 O imperativo da pregação 128 Pregação e missão através da História 129 14. Tipos de sermão 133 0 sermão temático 135 0 sermão textual 139 O sermão expositivo 143 15. O poder do sermão expositivo 145 Diferença entre o textual e o expositivo 145 Vantagens do método expositivo 146 Desvantagens do método 147 A importância da pregação expositiva 147 O falso sermão expositivo 148 Características do sermão expositivo 150 Enfrentando a dificuldade do texto 151 Como organizar o sermão expositivo 152 16. Explore a riqueza do texto 157 Ferramentas de trabalho 159 Princípios de interpretação 160 Como escolher um texto 162 Passos na interpretação do texto 164 17. Coloque o sermão no dia-a-dia das pessoas 169 Características da boa aplicação 170 Passos para uma boa aplicação 172 Tipos de aplicação 173 O momento da aplicação 178 Apêndice 181 Bibliografia 189
  • 8. izem os cientistas do humor, parafraseando Lavoisier, que “nada se perde, nada se cria, tudo se copia”. Por isso, escrever um livro é quase uma frustração, já que ninguém consegue ser original e apresentar idéias completamente novas. Até mesmo quando se tem uma idéia brilhante, se pesquisar bem, a gente acaba descobrindo que alguém um dia já pensou e escreveu sobre aquilo. Como diz um pensador: “O problema é que ‘ os antigos roubaram as nossas melhores idéias'”. De fato, a nossa desvantagem é ter vivido depois de Sócrates, Platão e Aristóteles, que já pensaram tudo que os seres humanos tinham direito de pensar no campo da cultura geral. E no campo da teologia, depois de Moisés. Salomão, Cristo, Paulo e Joâo, sobra pouco ou nada para inovar. Aliás, foi o próprio Salomão quem disse que não existe nada novo debaixo do sol (Ec 1.9). Mesmo assim, a gente ainda se dá ao trabalho exaustivo e desgastante de escrever um livro. Como disse alguém referindo-se à dolorosa obra de escrever: “Um livro é um parto do espírito”. Ou, nas palavras de Salomão: náo há limite para fazer livros, e o muito estudar é enfado da carne” (Ec 12.12). Como náo há muito de original que acrescentar, este livro é uma pesquisa feita naquilo que se escreveu de bom no campo da comunicação e da pregação bíblica, com a intenção de ajudar os amantes da pregação bíblica a ter uma ferramenta a mais de trabalho, nessa sublime tarefa que é a exposição da Palavra. A no­ vidade fica por conta de umas poucas experiências pessoais vividas
  • 9. A Arte de Pregar em dezoito anos de ministério pastoral, lidando com pregação e com ouvintes de todos os tipos. Nosso desejo é partilhar com os leitores algumas idéias práticas que deram resultado em nosso trabalho, as quais esperamos sejam úteis para outros. Foi com essa intenção e com o fascínio causado pela beleza do texto bíblico que surgiu este livro: A arte de pregar. Bom proveito. Robson Marinho
  • 10. Um Milagre: O Poder da Pregação
  • 11. O Milagre da Pregação “Como maçãs de ouro em saluas de prata, assim é a palavra dita a seu tempo. ” Salomão pregação bíblica é um milagre duplo. O primeiro milagre é Deus usar um homem imperfeito, pecador e cheio de defeitos para transmitir a perfeita e infalível Palavra de Deus. Trata-se de um Ser perfeito usando um ser imperfeito como seu porta-voz. Só um milagre pode tomar isso possível. O segundo milagre é Deus fazer com que os ouvintes aceitem o porta-voz imperfeito, escutem a mensagem por intermédio do pecador e finalmente sejam transformados por essa mensagem. Esse é o grande milagre da pregação! Ao iniciar um livro sobre as técnicas da boa pregação, algo deve ser dito: as técnicas são indispensáveis, até porque foram pesquisadas em diversos autores considerados especialistas no assunto e são comprovadas pela experiência de pregadores bem- sucedidos. Contudo, uma coisa precisa ficar muito clara: todas as técnicas reunidas e colocadas em prática não fazem de alguém um
  • 12. Um Milagre: O Pader da Pregação pregador. Para ser um bom pregador é preciso ter técnica e algo mais. Esse algo mais é o milagre do Espírito Santo. Aos quarenta anos de idade, Moisés conhecia todas as técnicas dos mais variados ramos do conhecimento humano, inclu­ sive a arte de falar em público em diferentes línguas. Anos depois, quando Deus o desafiou a tornar-se pregador, o erudito Moisés respondeu: “ Ah! SenhorfEu nunca fui eloqüente...” (Êx4.10J. Faltava a Moisés algo mais: o milagre! Foi esse milagre que Deus lhe ofereceu quando disse: “Vai, pois, agora, e eu serei com a tua boca, e te ensinarei o que hás de falar” (4.12). Mesmo com relutância, Moisés aceitou o milagre e tornou-se pregador e líder. Ao contemplar a santidade de Deus, Isaías sentiu-se um inútil pecador e exclamou: “Ai de mim... porque sou homem de lábios impuros” {Is 6.5). Ele sentiu que seus lábios impuros o desqualifi­ cavam para qualquer contato com a Divindade, principalmente para ser-lhe um porta-voz. Faltava a Isaías um milagre. Finalmente, um anjo tocou-lhe os lábios com a brasa viva do altar de Deus, e, só após esse milagre, Isaías sentiu-se em condições de ser um porta- voz de Deus e aceitou o desafio: “Eis-me aqui, envia-me a mim” (6.8). Da mesma forma, o pregador de hoje também é homem de impuros lábios, mas que, tocado pela brasa viva do altar, pode tornar-se um porta-voz de Deus e ser usado no milagre da pregação, vei ::s Por incrível que pareça, é essa mistura do humano com o divino que dá poder à pregação. Segundo Phillips Brooks, a pregação é a “apresentação da verdade através da personalidade”,1 e foi Deus quem escolheu essa combinação da verdade perfeita com a personalidade imperfeita para dar poder à pregação. Em outras palavras, o pregador usa as características de sua personalidade, como conhecimento, habilidade, voz, pensamento, e a sua vida para transmitir a verdade divina, e essa união do divino com o humano tem o poder de alcançar outros seres humanos e transformá-los. Isto é pregação: um poderoso milagre de Deus, o infinito fluindo por via finita, o perfeito chegando até nós por meio do imperfeito, a santidade sendo transmitida através- de pecadores, e isso tem o poder de transformar outros pecadores.
  • 13. O Miíagre da Pregação Com essa visão da pregação como um milagre de Deus, passemos a considerar os elementos técnicos e estratégicos que Deus deseja utilizar nessa mistura do humano com o divino, ou seja, os recursos da personalidade para transmitir a verdade. O MILAGRE DAS PALAVRAS No sentido humano, as palavras também fazem milagres. Deus colocou na comunicação um poder quase infinito. As palavras têm o poder de produzir sentimentos, pensamentos e ações. Uma única palavra pode produzir amor ou ódio, alegria ou tristeza, motivação ou depressão, pensamentos positivos ou negativos. Imagine, por exemplo, o efeito das palavras românticas proferidas entre um casal de namorados ou de noivos. Elas são capazes de gerar um campo afetivo cujo desfecho é o casamento. Agora imagine o efeito de palavras sarcásticas, agressivas e desrespeitosas proferidas num momento de desentendimento entre marido e mulher. São capazes de gerar um campo de hostilidade cujo desenlace pode ser o divórcio. Tal é o poder das palavras. As palavras, portanto, são polivalentes, podendo ajudar ou atrapalhar. Podem encorajar, inspirar e tranquilizar, mas também podem decepcionar, desunir e oprimir, Foram as palavras que preservaram a verdade bíblica até os nossos dias, bem como preservaram a história da humanidade e as descobertas da ciência. Mas da mesma forma elas contribuíram para desencadear guerras, homicídios e torturas.2 Hitler, por exemplo, manipulou uma nação e torturou o mundo com o uso tendencioso das palavras. Jesus Cristo, por outro lado, estabeleceu o cristianismo e o evangelho com o uso do mesmo recurso: palavras. As palavras podem fazer ou deixar de fazer milagres na vida das pessoas. E aí está o poder que será utilizado como ferramenta do pregador. Cada pregador tem a oportunidade e a responsabili­ dade de escolher e combinar as palavras de tal maneira que produ­ zam o melhor efeito na vida espiritual das pessoas. A própria Bíblia diz: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que
  • 14. Um Milagre: O Poder da Pregação maneja bem a palavra da verdade” (2Tm 2.15). Talvez, parafra­ seando, pudéssemos dizer que o pregador só será aprovado por Deus se manejar bem a Verdade e manejar bem as palavras. Ser pregador, portanto, é ter o poder do Espírito para usar o milagre das palavras no milagre da pregação. Notas 1Andrew Watterson Blackwood, A Preparaçãode Sermões (São Paulo, ASTE, 1965), p. 15. 2Raymond W. McLaughlin, Communication for the Church (Grand Rapids, Zondervan Publishing House, 1968), p. 51. / m
  • 15. Como Pregar sem Atrapalhar o Culto “Seja sua fala melhor do que o silêncio - ou então fique calado. ” Dionísio lguns sermões têm a capacidade de atrapalhar o culto. Você pode achar estranho, mas é isso mesmo que estou querendo dizer: algumas vezes o culto seria melhor se não houvesse o sermão! Aliás, sempre que a pregação for vazia e sem poder, atrapalhará o culto. As vezes o culto começa bem, com um poderoso hino congregacional, orações fervorosas, uma inspiradora mensagem musical, e tudo vai muito bem até o momento em que começa o sermão. Nesse ponto, algumas vezes, um sermão malpreparado e sem conteúdo começa a torturar os adoradores com frases repetitivas e de pouco sentido, destruindo todo o clima espiritual criado pelo louvor. E, o que é pior, o pregador não se contenta em ativar essa câmara de tortura por apenas meia hora -não raro se estende por uma hora ou mais.
  • 16. Um Milagre: O Poder da Pregação Talvez pareça exagero dizer que o sermão prejudica o culto, mas a Bíblia adverte contra pastores que apascentam tão mal que fazem as ovelhas fugir: “Portanto assim diz o Senhor, o Deus de Israel, acerca dos pastores que apascentam o meu povo: Vós dispersastes as minhas ovelhas, e as afugentastes...” (Jr 23.2). Segundo Buttrick, citado na revista Ministry, “as pessoas abandonam a igreja não tanto por uma verdade rigorosa que as tome incomodadas, mas pelas fracas ninharias que as tomam desinteressadas”. Em outras palavras, sermões vazios não só atrapalham o culto como podem acabar afastando as pessoas da igreja, criando nelas um total desinteresse pela adoração. Pode até ser que Deus faça o milagre de ajudar alguém com um sermão desses, mas isso não justifica o despreparo do pregador. SERMÕES QUE ATRAPALHAM O CULTO Apenas para ilustrar, vamos fazer uma rápida classificação dos sermões que mais atrapalham o culto. Se você freqüenta igreja há vários anos, é provável que já se tenha encontrado com alguns desses sermões mais de uma vez. A seguir, descrevem-se os tipos de sermão que atrapalham o culto. O serm ão sedativo É aquele qlie parece anestesia geral. Mal o pregador começou a falar e a congregação já está quase roncando. Caracteriza-se pelo tom de voz monótono, arrastado, e pelo linguajar pesado, típico do começo do século, com expressões arcaicas e carregadas de chavões deste tipo: “Prezados irmãos, estamos chegando aos derradeiros meandros desta senda”.Por que não dizer: “Irmãos, estamos chegando às últimas curvas do caminho”? Seria tão mais fácil de entender. Ficar acordado num sermão desse tipo é quase uma prova de resistência física. Como dizia Spurgeon: “Há colegas de ministério que pregam de modo intolerável: ou nos provocam raivai ou nos dão sono. Nenhum anestésico pode igualar-se a alguns discursos nas propriedades soníferas. Nenhum ser humano que não seja dotado de
  • 17. Como Pregar sem Atrapalhar o Culto infinita paciência poderia suportar ouvi-los, e bem faz a natureza em libertá-lo por meio do sono”.1 O serm ão insípido Esse sermão pode até ter uma linguagem mais moderna e um tom de voz melhor, mas não tem gosto e é duro de engolir. As idéias são pálidas, sem nenhum brilho que as tome interessantes. Muitas vezes é um sermão sobre temas profundos, porém sem o sabor de uma aplicação contemporânea, ou sem o bom gosto de uma ilustração. E como se fosse comida sem sal. E como pregar sobre as profecias de Apocalipse, por exemplo, sem mostrar a importância disso para a vida prática. O pregador não tem o direito de apresentar uma mensagem insípida, porque a Bíblia não é insípida. O pregador tem o dever de explorar as belezas da Bíblia, selecioná-las, pois são tantas, e esbanjá-las perante a congregação. O serm ão óbvio E aquele sermão que diz apenas o que todo mundo já sabe e está cansado de ouvir. O ouvinte é quase capaz de adivinhar o final de cada frase de tanto que já a ouviu. E como ficar dizendo que roubar é pecado ou que quem se perder não vai se salvar (é óbvio). Isso é uma verdade, mas tudo o que se fala no púlpito é verdade. Com raras exceções, ninguém diz inverdades no púlpito. O que falta é apenas revestir essa verdade de um interesse presente e imediato. O serm ão indiscreto É aquele que fala de coisas apropriadas para qualquer ambiente menos para uma igreja, onde as pessoas estão famintas do pão da vida. As vezes, o assunto é impróprio até para outros ambientes. Certa ocasião ouvi um pregador descrever o pecado de Davi com Bate-Seba com tantos detalhes que quase criou um clima erótico na congregação. Noutra ocasião, uma senhora que costumava visitar a igreja confessou-me que perdeu o interesse porque ouviu um sermão em que noventa por cento do assunto m
  • 18. Um Milagre: 0 Poder da Pregação girava em torno dos casos de prostituição da Bíblia, descritos com detalhes. E acrescentou: “Achei repugnante. Se eu quiser ouvir sobre prostituição, ligo a tv”. . De outra vez, um amigo me contou de um sermão que o fez sairtraumatizado da igreja, pois o pregador gastou metade do tempo relatando as cenas horrorosas de um caso de estupro. Por favor, pregadores: o púlpito não é para isso. Para esse tipo de matéria existem os noticiários policiais. O sermão-reportagem É aquele que fala de tudo, menos da Bíblia. ínspira-se nas notícias de jornais, manchetes de revistas e reportagens da televisão. Parece uma compilação das notícias de maior impacto da semana. É um sermão totalmente desprovido do poder do Espírito Santo e da beleza de Jesus Cristo. E uma tentativa de aproveitar o interesse despertado pela mídia para substituir a falta de estudo da Palavra de Deus. Notícias podem ser usadas esporadicamente para rápidas ilustrações, nunca como base de um sermão. O sermão de marketing ' . . É aquele usado para promovere divulgar os projetos da igreja ou as atividades dos diversos departamentos. Usar o púlpito, por exemplo, para promover congressos, divulgar literatura, prestar relatórios financeiros ou estatísticos, ou fazer campanhas para angariar fundos, seja qual for a finalidade, destrói o verdadeiro espírito da adoração e, portanto, atrapalha o culto. A igreja precisa de marketing, e deve haver um espaço para isso, mas nunca np púlpito. Isso deve ser feito preferivelmente em reuniões administra­ tivas. O sermão-metralhadora É usado para disparar, machucar e ferir. Às vezés a crítica é contra um grupo com idéias opostas, contra administradores da igreja, contra uma pessoa pecadora ou rival, ou mesmo contra toda
  • 19. Como Pregar sem Atrapalhar o Culto a congregação. Seja qual for o destino, o púlpito não é uma arma para disparar contra ninguém. As vezes o pregador não tem a coragem cristã de ir pessoalmente falar com um membro faltoso e se protege atrás de um microfone, onde ninguém vai refutá-ló, e dispara contra uma única pessoa, sob o pretexto de “chamar o pecado pelo nome”. Resultado: a pessoa fica ferida, todas as outras, famintas, e o sermão não ajuda em nada. As vezes o disparo é contra um grupo de adultos ou de jovens supostamente em pecado. Não é essa a maneira de ajudá-los. Convém ressaltar que chamar o pecado pelo nome não é chamar o pecador pelo nome. Chamar o pecado pelo nome significa orar com o pecador e se preciso chorar com ele na luta pela vitória. A congregação passa a semana machucando-se nas batalhas de um mundo pecaminoso e de uma vida difícil e chega ao culto precisando de remédio para as feridas espirituais, não de condenação por estar ferida. Em vez de chumbá-la com uma lista de reprovações e obrigações, o pregador tem o dever santo de oferecer o bálsamo de Gileade, o perdão de Cristo como esperança de restauração. As obrigações, todo mundo conhece. Nenhum cristão desconhece os deveres do evangelho. Em vez de apenas dizer que o cristão tem de ser honesto, por exemplo, mostre-lhe como ser honesto pelo poder de Cristo. Isso é pregação com poder. Todos esses sermões mencionados acima atrapalham o culto mais do que ajudam. Prejudicam o adorador, prejudicam a adoração. São vazios de poder. Se você quer ser um pregador de poder, busque a Deus, gaste dezenas de horas no estudo da Bíblia antes de pregá-la, experimente o perdão de Cristo e estude os recursos da comunicação que ajudam a chegar ao coração das pessoas. Esse é o assunto dos próximos capítulos. Nota 1C. H. Spurgeon, Lições aos Meus A/unos (São Paulo, Publicações Evan­ gélicas Selecionadas, 1990}, vol. 1, p. 32.
  • 20. Comunicação: O Veículo da Pregação seminário concoroia
  • 21. Oratória Secular e Oratória Sacra “ A oratória é a rainha das artes, e o orador, o rei dos artistas!” Alues Mendes esde os tempos bíblicos, a arte da oratória teve papel de destaque na vida dos povos antigos. Os profetas hebreus eram verdadeiros artistas da palavra, cada um deles com sua especialidade. Isaías, por exemplo, era mestre no uso de figuras de linguagem e fina ironia. Jeremias enchia os discursos de emoção, como se pode ver em suas Lamentações. Malaquias era hábil no uso de perguntas retóricas. Cristo falava com autoridade, e Paulo era um orador erudito. Do ponto de vista clássico, a oratória surgiu com Corácio, grego de Siracusa, que viveu cinco séculos antes de Cristo.1 Ao longo da história, a oratória teve grandes expoentes. Na Grécia antiga, era ensinada pelos filósofos e praticada nos debates
  • 22. intelectuais e jurídicos. De todos os oradores gregos, Demóstenes foi o maior. Entre os romanos, a oratória era praticada por juristas e políticos e teve em Cícero o seu expoente mais famoso. Uma classificação geral da oratória divide-a em: acadêmica, forense, política, sagrada e popular.2 Em nosso estudo, vamos ver como os princípios gerais da comunicação se aplicam à oratória sacra, chamada nos cursos de teologia de homilética. Tanto na oratória secular como na sacra foi-se o tempo em que ser orador era falar bonito e gritar. Nessa fase da oratória estética e sonora, os melhores oradores eram os que falavam forte e com frases enfeitadas. Mas essa época já passou há muito tempo, embora alguns oradores de hoje ainda permaneçam ingenuamente nessa fase. Entre esses “ingênuos”, as maiores vítimas são políticos e pregadores, alguns dos quais abusam da paciência dos ouvintes. Hoje o que importa não é o volume ou o enfeite, mas o conteúdo e a forma. Pode-se falar muito bonito e não dizer absoluta­ mente nada. Veja esse quadro publicado na revista Seleções,3 no qual 27 palavras combinadas entre si produzem lindas frases que não dizem nada: 0. Programação 1. Estratégia 2. Mobilidade 3. Planificação 4. Dinâmica 5. Flexibilidade 6. Implementação 7. Instrumentação 8. Retroação 9. Projeção Comunicação: O Veículo da Pregação 0. Funcional 1. Operacional 2. Dimensional 3. Transacional 4. Estrutural 5. Global 6. Direcional 7. Opcional 8. Central 9. Logística 0. Sistemática 1. Integrada 2. Equilibrada 3. Totalizada 4. Insumida 5. Balanceada 6. Coordenada 7. Combinada 8. Estabilizada 9. Paralela Basta escolher uma palavra qualquer da primeira coluna e juntá-la com outra qualquer da segunda e outra qualquer da terceira para ter uma frase bonita sem nenhum significado concreto. Por exemplo: planificação estrutural integrada. Trata-se de um grupo de palavras composto de um substantivo mais dois adjetivos pratica-
  • 23. Oratória Secular e Oratória Sacra mente sem sentido. Esse tipo de frase é usado comumente na política, na economia, às vezes no púlpito, e não diz absolutamente nada. Falar bonito é fácil. Difícil é comunicar uma idéia. A oratória de hoje resume-se em três passos: ter uma idéia, organizá-la e transmiti-la. ELEMENTOS DA ORATÓRIA A oratória é uma arte ou uma ciência? É um talento natural ou uma habilidade adquirida? E herdada ou conquistada? Essas perguntas podem ter, em resumo, a seguinte resposta: A oratória é uma arte porque requer criatividade, e uma ciência porque exige o conhecimento de técnicas e princípios. E a obra da natureza, da arte e da prática, segundo os antigos. Vejamos a seguir alguns elementos indispensáveis à boa oratória. Eficiência A eficiência é a característica básica da oratória moderna. Ou seja, para ter sucesso, a oratória tem de atingir determinada finalidade. Segundo Hugo Blain, pregador escocês do século xvm, oratória é “a arte de falar de maneira que se consiga o fim para o qual se fala”.4 A oratória de hoje se caracteriza por objetividade, concisão, simplicidade e praticabilidade, em contraste com grandiloqüência, verbosidade e linguagem quase poética do passado. Cristo revolucionou a oratória de seu tempo, porque viveu na época da verbosidade e utilizou a objetividade e a simplicidade de hoje. Pode-se dizer que ele foi um precursor da oratória moderna. Todas as qualidades atrativas e desejáveis num orador, como boa voz, facilidade de expressão e simpatia pessoal, são úteis, mas não são suficientes. Com essas qualidades você pode até agradar, mas falhará se não atingir objetivos práticos. Retórica Retórica é a arte de ordenar o discurso.5 É a capacidade de organizar as idéias e os argumentos. Sem retórica o discurso fica ESI
  • 24. uma salada, com idéias repetidas ou fora de lugar. Quanto mais retórica, mais claro e convincente o discurso. São poucos os oradores que dominam a arte da retórica, que sabem manter uma ordem lógica do começo ao fim do discurso. O fato é que alguns oradores não querem pagar o preço e gastar o tempo necessário organizando as idéias, escolhendo a seqüência correta e distribuindo os argumentos por ordem de prioridade. Por isso mesmo é que há tão poucos bons oradores, daqueles que dá gosto ouvir e cujas idéias parecem penetrar com suavidade em nossa mente. Não pense que retórica é coisa do passado. A influência de um discurso é diretamente proporcional à organização das idéias. Adiante há um capítulo dedicado à organização das idéias. Comunicação: O Veículo da Pregação Eloqüência Eloqüência é a arte de persuadir.6 Existem livros inteiros sobre as leis da persuasão, até nas transações comerciais e nas relações entre vendedor e cliente. No caso do orador, a eloqüência é muito mais do que um conjunto de técnicas destinadas a convencer. Aliás, em oratória, a eloqüência não se limita a palavras. Podem ser eloqüentes o olhar, os gestos, um suspiro, o andar e até o silêncio. A própria postura do orador tem influência no efeito do seu discurso sobre o ouvinte. Ser eloqüepte é fazer um discurso bem-sucedido, que alcance os objetivos. No passado, ser eloqüente era fazer um discurso sofisticado. Hoje, a eloqüência está mais ligada à simplicidade e à naturalidade. Leon Fletcher menciona dois segredos que levam os oradores profissionais a ter sucesso na eloqüência:7 1 1. Não tentar imitar nenhuma outra pessoa, mas ser um orador com personalidade própria, independente e natural. Seja você mesmo. 2. Não fazer nenhum discurso sem se preparar devidamente. Afinal de contas: “A eloqüência consiste em dizer tudo o que
  • 25. Oratória Secular e Oratória Sacra deveria ser dito, e não tudo o que poderia ser dito”.8 Tome o tempo necessário para preparar-se. Em resumo, ser eloqüente é ser um bom orador. Como conseguir isso é exatamente o assunto dos próximos capítulos. Notas 1Ignez B. C. D’Araújo, Oratória Eficiente de Hoje, (Rio de Janeiro, Editora Agir, 1974), p. 20. 2Osmar Barbosa, A Arte de Falar em Público, (Rio de Janeiro, Editora Tecnoprint), p. 25. 3 Maurício Góis, Curso Prático de Comunicação Verbal (Curitiba, Bolsa Nacional do Livro, 1989), p. 23. 4Oratória Eficiente de Hoje, p. 23. 5Idem, p. 19. 6Idem, p. 20. 7Leon Fletcher, Como Falar como um Profissional (Rio de Janeiro, Editora Record, 1983), p. 15-16. 8Duane Litfin, Public Speaking (Grand Rapids, Baker Book House, 1992), p. 114. EH
  • 26. Capítulo 4 Qualidades do Pregador “ A boca fala do que o coração está cheio. ” Jesus Cristo H esus Cristo resumiu numa frase todo o segredo do poder de um orador: o coração! No caso do orador, como de qualquer outro profissional, o que dá poder e autoridade é o que a pessoa é, não o que ela faz ou como o faz. Aqui está a razão por que tantas pessoas talentosas não conseguem irmuito longe no sucesso pessoal. Muitos profissionais fazem treinamento e mais treinamento, cursos de qualidade total, cursos de técnicas para o sucesso, mas acabam não mudando muito na prática, porque não adianta mudar a forma sem mudar o conteúdo, não adianta enfeitar o exterior se o interior está vazio. O bom orador, especialmente o pregador, preci qualidades técnicas e um estilo de vida elevado. Juntas, essas qualidades lhe darão estrutura pessoal. Vejamos algumas dessas qualidades.
  • 27. Comunicação: O Veículo da Pregação CARÁTER O orador precisa “ser dotado, principalmente, de qualida morais, de honestidade, critério e integridade a fim de que suas palavras e ações mereçam crédito e possam comunicar, com sinceridade, ao auditório, a verdade, o bem e o belo".1 Ninguém quer ouvir um orador mentiroso e desonesto. Para ser cativante, ele precisa ter um caráter atraente e respeitável. Mesmo no mundo dos negócios, os profissionais de maior sucesso não são os que conhecem melhor a técnica de conquistar os clientes, mas os que respeitam de verdade e se interessam realmente pelo bem-estar dos clientes. No caso do pregador, isso é ainda mais verdadeiro, pois ele tem de viver aquilo que prega. Para falar de maneira cativante, ele tem que viver de maneira atraente e conquistar o respeito e a aprovação dos ouvintes. ENTUSIASMO O entusiasmo é o combustível da expressão verbal. O ora precisa vibrar em cada afirmação e empolgar-se com cada idéia. Se a idéia não empolgar o orador, não merece ser dita, e nunca irá empolgar o auditório. Para falar com entusiasmo é preciso viver com entusiasmo. Para vibrar com as idéias, é preciso vibrar com a vida. Talvez seja essa a razão por que há tão poucos oradores entusiastas. Ou seja, se você se deixa arrastar por uma vida sem vibração, é difícil vibrar como orador ou pregador. Os gregos chamavam ao entusiasmo “Deus interior”,2 ou Deus dentro, segundo a etimologia da palavra. Talvez não haja maneira melhor de descrever o pregador, que, mais do que ninguém, precisa ter Deus dentro de si. Somente com entusiasmo consegue-se realizar grandes coisas, e é ele o responsável pelas grandes façanhas da humanidade. DETERMINAÇÃO Determinação é a vontade indomável de conseguir o que se pretende. Resolva falar bem e tire tempo para se preparar até conseguir. Thomas Edison, inventor da lâmpada elétrica, atribuía
  • 28. Qualidades do Pregador seu sucesso a 1 por cento de inspiração e 99 por cento de transpiração. E preciso lutar pelo que se deseja. Mais uma vez, porém, se não houver determinação na vida, não vai haver determinação no púlpito. INSPIRAÇÃO E a forma como o orador cria o discurso. E a busca de melhores idéias. No discurso secular, a inspiração é natural. No sermão, é sobrenatural. No discurso, é uma espécie de luz que brilha com o surgimento de uma idéia rica. No sermão, é a iluminação que brilha da comunhão com Deus, do estudo intenso da Bíblia, do senso de ser um porta-voz da Divindade, da sensação de ter uma idéia de origem divina. Também é importante que a vida do pregador seja inspiração para os outros, pois isso contribuirá para que suas idéias dêem inspiração. SENSIBILIDADE É a capacidade de adaptar a mensagem ao interesse e à necessidade do ouvinte. A sensibilidade só será desenvolvida pelo contato com as pessoas e pelo interesse real no bem-estar de cada uma. Não se trata de inteligência para decidir o que é melhor para o ouvinte, mas é antes um envolvimento com o ouvinte, uma empatia que faz o pregador sentir o problema das pessoas. No caso do pastor, muito disso pode ser conseguido com visitação aos lares e envolvimento em atividades com a juventude. Essa sensibilidade se consegue ouvindo as pessoas, sorrindo com elas e às vezes chorando e orando com elas. OBSERVAÇÃO A observação pode ser desenvolvida pela prática. O orador deve estar sempre atento para captar fatos interessantes e diferentes nas diversas situações da vida. Conheci um pregador que costumava andar com uma caderneta só para anotar suas observações do dia-a-dia. O hábito de observar dará ao orador a habilidade de
  • 29. perceber também pequenos incidentes relevantes no auditório e a reação dos ouvintes, a fim de orientar a atuação no discurso. CAPACIDADE DE SÍNTESE Conheci um pregador que escrevia todo o seu sermão após a pesquisa e a reflexão. Em seguida, fa2ia uma primeira leitura, cortando todas as frases e palavras que julgava supérfluas ou desnecessárias, às vezes substituindo-as por expressões menores. Finalmente, fazia uma segunda leitura, cortando mais algumas palavras que haviam escapado à primeira leitura. Quando subia ao púlpito, apresentava uma mensagem breve, em que cada palavra ou expressão era rica em significado e beleza. Essa é uma boa maneira de exercitar a capacidade de síntese, tão necessária ao orador. A capacidade de síntese habilita o orador a dizer tudo o que for preciso, somente o que for preciso, e nada mais do que preciso. Como é cansativo ouvir discursos e sermões cheios de longas expressões que não acrescentam quase nada ao conteúdo. Se você vai contar uma experiência, elimine os detalhes que não contribuem para o propósito da ilustração. Se vai fazer uma aplicação, vá direto ao ponto. Se tudo que você falar for consistente e objetivo, o ouvinte terá menos oportunidade de desviar a atenção. A melhor comuni­ cação é a que expressa mais idéias com menos palavras. Observe os comerciais de*televisão: veja quantas idéias eles expressam em 10 ou 15 segundos! Aprenda com os comerciais de rv. IMAGINAÇÃO E CRIATIVIDADE A imaginação é a ferramenta da criatividade. E a capacidade de criar imagens agradáveis para tornar os argumentos mais vivos e convincentes. Em vez de dizer as coisas do mesmo jeito que todo mundo diz, imagine uma forma diferente para torná-las interessantes. Alejandro Bullón, pastor e evangelista, num de $gus sermões descreve “ 'Moisés sonhando com a terra prometida, onde pretendia desfrutar a aposentadoria sentado numa cadeira de balanço e brincando com Comunicação: O Veículo da Pregação
  • 30. Qualidades do Pregador os netinhos”. Observe a imagem rica que foi criada com um texto bíblico tão conhecido. A maior fonte de imaginação é a própria Bíblia. Cristo era um artista na capacidade de imaginar. Analise como ele contou, por exemplo, a parábola da ovelha perdida. Veja como Jesus imaginou os detalhes da parábola, o número de ovelhas, o pastor colocando a perdida nos ombros, e depois a festa dos amigos pela ovelha encontrada. Aprenda com Jesus a desenvolver sua imaginação. MEMÓRIA O orador tem necessidade de cultivar a memória. Não precisa ser um gênio para se habituar a memorizar coisas essenciais. Também não há necessidade de decorar discursos ou sermões, o que aliás é até desaconselhável. Mas uma coisa indispensável ao orador é ter sempre em mente a finalidade do discurso e a ordem das idéias. Em nenhum momento você deve esquecer o objetivo do discurso, para não perder o rumo e introduzir matéria estranha. Ter a seqüência na cabeça também ajuda a não ficar muito preso ao papel. BOA APARÊNCIA Nenhum orador precisa ser modelo fotográfico ou capa de revista, mas deve cuidar para que sua aparência não atrapalhe. Boa aparência ajuda a causar boa impressão. Cabelos despenteados, roupa amarrotada ou suja, gravata com o nó torto ou frouxo são coisas que indispõem o ouvinte para apreciar a mensagem. Outro problema é a combinação da roupa. Imagine um orador coin um paletó verde, uma camisa azul e uma gravata marrom! Na medida do possível, você deve primar pela aparência. A indumentária deve revelar bom gosto e asseio pessoal. O orador deve ser sempre discreto, de acordo com o ambiente, hora e assunto. Ao procurar combinar as cores, evite cores berrantes.
  • 31. Comunicação: O Veículo da Pregação VOCABULÁRIO O melhor vocabulário é o que se adapta a qualquer auditório. Deve ser amplo e variado, mas simples e claro para que qualquer criança consiga entender. Afinal, os auditórios estão cheios de crianças, e elas também merecem ouvir. Sempre evite a vulgaridade, a gíria, a sofisticação e palavras técnicas, como escatologia e pneumatologia, por exemplo. A melhor maneira de enriquecer o vocabulário é praticar o hábito da leitura constante. HUMILDADE Todas as qualidades acima destinam-se a ajudar o pregador a desempenhar com eficiência sua tarefa. Isso não significa que ele deva sentir-se um herói ou uma estrela ao desenvolver essas qualidades, mas deve reconhecer suas limitações e pequenez. Se domina um assunto, deve lembrar-se de que há muitos outros que não o dominam. Acima de tudo, o pregador deve ter consciência de sua total dependência de Deus para o cumprimento de sua missão. Por isso, nunca assuma o ar de que é o dono da verdade ou a estrela de primeira grandeza. Entretanto, cuidado: humildade não se finge. Os ouvintes percebem facilmente se o orador é arrogante ou humilde, se se sente superior ou igual a todos, se está ali para servir ou para promover-se. Isso demonstra-se no semblante e nas expressões. Um espírito sereno e humilde acrescenta poder à mensagem, da mesma forma que a arrogância destrói o poder. Mas lembre-se mais uma vez: para ser humilde no púlpito é preciso ser humilde na vida pessoal e no relacionamento com as pessoas. Notas 1Oratória Eficiente de Hoje, p. 26. 2Reinaldo Polito, Como Falar Corretamente e sem Inibições (São Paulo, Saraiva, 1990), p. 46.
  • 32. Aproveite o Medo “O medo é o alarme do subconsciente, avisando que o consciente precisa de mais preparo. ” Maurício Góis utro dia um orador iniciante, amigo meu, contou-me sua experiência traumática. Ele preparou um bom sermão, ensaiou a apresentação e cronometrou-a para 30 minutos. Quando chegou ao púlpito, estava gelado. As mãos suavam frio, a voz engasgava, e por alguns instantes ele pensou que não ia sair nada. Finalmente conseguiu começar. Quando estava terminando, olhou o relógio e haviam-se passado apenas oito minutos. Tentando evitar o vexame, falou: “Mas como eu disse para os irmãos...”, e pregou todo o sermão novamente. Que orador nunca passou por uma situação parecida? Pois é, o medo faz isso. E o terror de saber que todo mundo o está avaliando, é o receio de cometer erros, é o medo de falar em público, que poderíamos chamar de “verbofobia” ou “pulpitofobia”. Mas o que fazer para vencer a “verbofobia”?
  • 33. Comunicação: 0 Veículo da Pregação Diante do medo, existem duas alternativas: fugir ou enfrentar. Se escolher a primeira, nunca será um orador. Se escolher a segunda, tem tudo para ser um orador. Durante muito tempo escolhi a primeira alternativa. Desde a infância até o início da faculdade, sempre fugi de qualquer convite ou oportunidade para falar em público. Era assunto resolvido, eu nem pensava duas vezes. Até o dia em que fiz um curso de oratória e resolvi enfrentar. Só então consegui mudar de atitude. A título de curiosidade, veja o resultado de uma pesquisa feita com três mil pessoas às quais se perguntou: “De que você tem mais medo?”. Veja o percentual das respostas:1 OS MAIORES MEDOS DA HUMANIDADE 1. Falar em público 41% 2. Medo de altura 32% 3 .Insetos 22% 3. Problemas financeiros 22% 3. Aguas profundas 22% 4. Doença 19% 5. Morte 19% 6. Viagem aérea 18% 7. Solidão 14% 8. Cachorro 11% 9. Dirigir Ou andar de carro 9% 10. Escuridão 8% 11. Elevadores 8% 12. Escada rolante 5% Observe que o medo de falar em público está no topo da lista. Portanto, não é nada incomum ter medo de auditório. O importante é saber lidar com esse medo. COMO LIDAR COM O MEDO - Existem várias atitudes que ajudam a vencer o medo. Cada autor tem uma lista enorme de dicas e sugestões, todas válidas. KD
  • 34. Aproveite o Medo Dentre essas várias listas, resolvi comentar algumas atitudes que julgo mais eficazes na luta contra o medo. Vejamos: Lem bre-se de que você não é o único Sempre que tiver medo do auditório, sinta-se orgulhoso. Isso mesmo: orgulhe-se porque, pelo menos num aspecto, você é igual aos grandes oradores de todos os tempos. Sempre que tem medo, você está muito bem-acompanhado. Sinta-se na companhia de Demóstenes, Cícero, Churchill, John Kennedy e Rui Barbosa. Se todo mundo tem medo de falar em público, você não vai querer ser a única exceção da humanidade a falar sem medo! Ou vai? Conta-se que Sara Bernhardt, famosa atriz do passado, certa vez contou numa roda de amigos que tremia de medo cada vez que subia no palco. Uma atriz iniciante, querendo chamar a atenção, disse: “Interessante, eu não sinto medo nenhum”. Sara respondeu: “Não se preocupe, minha filha, o talento vem com o tempo...”. E tinha razão: quanto maior o talento, maior a responsabilidade de manter a credibilidade, e maior o medo da responsabilidade. N ão tenha m edo do m edo Se não tiver medo do medo, você terá um medo a menos. Isto é, o medo se reduz pela metade. Isso é psicológico. Basta pôr na cabeça que o medo faz parte da natureza. A consciência de que o medo é natural ajuda-o a encará-lo de maneira natural. Se não há outra opção, então acostume-se com o medo. Ponha na cabeça que você sempre vai sentir medo antes de falar em público e aprenda a conviver com o medo. Só há duas opções: ou sente medo de falar em público, ou não fala em público. Chegue à conclusão de que a decisão mais inteligente é escolher a primeira opção. E, ao conviver com o medo, você vai perder, pelo menos, o medo de ter medo. m
  • 35. Comunicação: O Veículo da Pregação Aproveite o seu m edo O medo e o nervosismo indicam que o corpo se está preparando para entrar em ação. Cada vez que você tem medo, o organismo joga no sangue certa quantidade de uma substância chamada adrenalina. A adrenalina faz que o sangue circule mais rápido, o coração bata mais acelerado, todos os sentidos fiquem mais aguçados e que seu corpo fique em condições de fazer o que for necessário para “escapar do perigo”. E um mecanismo natural de defesa e reação. Com isso, tudo em você passa a funcionar com maior intensidade; logo, sua capacidade de percepção aumenta, e você consegue pensar mais rápido e até ter mais idéias. Se canalizar toda essa energia para pô-la em ação, você terá um grande auxílio na difícil tarefa de enfrentar o auditório. Aproveite esse “estado de emergência” e utilize o potencial energético que o medo lhe oferece. R esolva correr o risco Não tenha medo de fracassar. Diz um pensamento: “O risco do fracasso é o preço do sucesso”. Só obtém sucesso quem corre o risco de fracassar. E se cometer alguns erros, ou mesmo chegar a fracassar algumas vezes, qual é o problema? Perder uma batalha não significa perder a guerra. Tente outra vez. Assuma o fato de que falar é importante e necessário para você, ainda que cometa erros. Abraão Lmcoln é um exemplo típico de sucesso construído em cima de fracassos. Veja o currículo dele:2 — Perdeu o emprego em 1832 — Derrotado na legislatura de Illinois em 1834 — Fracassou nos negócios pessoais em 1833 — Morre-lhe a eleita do coração em 1835 — Sofreu de uma enfermidade em 1836 — Derrotado novamente na legislatura de Illinois em 1838 — Derrotado na indicação para o Congresso £m 1844 — Perdeu a segunda indicação em 1848 “ Derrotado para o Senado em 1854 E9
  • 36. Aproveite o Medo — Derrotado para a indicação de vice-presidente em 1856 — Novamente derrotado para o Senado em 1858 — Eleito presidente dos Estados Unidos em 1860! U se a descontração Primeiramente procure descontrair-se você mesmo. Alguns exercícios de relaxamento pouco antes de falar podem ajudar. Uma técnica bastante recomendada pelos especialistas é a respiração profunda, várias vezes antes de começar a falar e, se preciso, também durante o discurso. Em segundo lugar, procure descontrair o auditório. Para isso nada melhor que uma pitada de bom humor. Levar o auditório a um riso discreto descontrai tanto o orador quanto os ouvirttes, e o auditório descontraído automaticamente torna-se receptivo. Conta- se que Abraão Lincoln estava muito nervoso ao participar de um debate político. Seu oponente, que o antecedeu, acusou-o com sarcasmo de ter duas caras. Assim que o rival terminou, Lincoln levantou-se para falar. Como tinha a fama de ser muito feio, Lincoln começou o discurso com estas palavras: ‘Acham vocês que se eu tivesse duas caras iria aparecer em público logo com essa?”.A risada foi geral, e dizem que Lincoln começou a ganhar o debate com essa frase. Lembre-se do ditado: “Quem ri comigo não ri de mim!”. Prepare-se O melhor remédio contra o medo e o nervosismo é estar bem-preparado e saber o que vai dizer. Lembre-se: “O medo é um aviso do subconsciente de que o consciente precisa de mais preparo”. Prepare-se o melhor que puder. Se sabe o que vai dizer, você se sentirá seguro por sentir que, mesmo com medo, você tem um bom conteúdo a oferecer. Muitas vezes a maior causa de medo são a insegurança e a falta de preparo. Daniel Webster disse que preferia apresentar-se meio despido diante do auditório do que meio despreparado.3 De fato, o despre­ paro é a nudez do espírito, porque permite que todos enxerguem o vazio que há dentro de nós. ES
  • 37. Comunicação: O Veículo da Pregação Quando adolescente, eu estudava piano. Lembro-me muito bem de uma ocasião em que tive de fazer uma audição perante os alunos e professores do conservatório. A audição era a quatro mãos -eu e meu irmão. Ele estava preparado, mas eu estava nervoso porque não me havia preparado suficientemente. Começamos a tocar, e no meio da peça eu não conseguia mais ler a partitura nem tocar de memória. Se estivesse sozinho teria parado, mas como estava acompanhado, achei que não podia parar. Em pânico e sem ter tempo para resolver o que fazer, comecei a “bater” descoorde- nadamente em todas as teclas do piano, produzindo uma desar­ monia infernal. Meu irmão começou a rir e também se desconcen­ trou. Daí para a frente eram dois descoordenados. Até hoje não entendo por que não paramos de imediato. Ríamos para não chorar. Após o fiasco, alguns complacentes vieram dizer: “Parabéns”. Não adiantou nada: naquele dia encerrei minha carreira de pianista (hoje reconheço que devia ter perseverado). A mesma coisa ocorre com um orador despreparado. Seu discurso não passará de uma seqüência de sons descoordenados produzindo desarmonia, sem nenhuma linha nítida de pensamento. Quando falta o conteúdo, e você não quer parar de falar, certamente dirá bobagens e assuntos desencontrados que não levam a lugar nenhum. E o que alguns autores chamam de “verborréia". Se você não se preparou, pare de falar, ou nem comece. 9 M antenha pensam entos positivos O auditório não está ali para vê-lo fracassar, mas, sim, para ouvi-lo. Se não acreditassem em você, não ficariam para escutá-lo. Portanto, mantenha o pensamento de que eles o apreciam. Não torne as coisas piores do que são na realidade. Evite pensar que será “terrível” falar para “aquela multidão”. Pense na contribuição que você vai dar aos ouvintes e nas coisas boas que irá dizer. Para isso você precisa ter certeza de que preparou um bom conteúdo. No caso da pregação, pense na ajuda espirifual que você vai oferecer aos ouvintes. Pense em quantas pessoas quebrantadas ou fracas precisam ser fortalecidas com sua mensagem. Pense
  • 38. Aproveite o Medo também no fato de que você não está ali em causa própria, mas a serviço de uma missão superior, cumprindo uma ordem divina, e que o interesse de êxito é primeiramente de Deus, mais do que o seu próprio desejo de sucesso. Pense também na unção e no poder do Espírito, que o comissionou e o capacitará para o cumprimento de sua missão. Seja perseverante Não desista diante dos primeiros fracassos. Em todas as áreas da vida, o sucesso depende da persistência e da insistência na busca de um ideal. Todos os grandes oradores tiveram fracassos no começo. O pastor Robert Pierson conta que quando estudante foi aconselhado por um professor a abandonar o seminário porque era gago e nunca conseguiria ser um orador. Mas ele persistiu e tornou-se um grande pregador. Talvez o exemplo mais clássico seja o de Demóstenes. Conta- se que a primeira vez em que ocupou uma tribuna deixou-a sob as vaias da platéia, porque tinha cacoetes e problemas de dicção. Mas, mesmo derrotado pela tribuna, não foi derrotado por si mesmo. Para corrigir os cacoetes, discursava em casa com uma espada pendurada apontando para o ombro, e cada vez que o ombro se erguia nervosamente, era ferido pela espada, até que o reflexo condicionado corrigiu o defeito. Para corrigir a dicção, discursava com a boca cheia de seixos, para aprender a controlar a língua. Não foi por acaso que se tornou o maior orador de todos os tempos. A PSICOLOGIA DO MEDO No estudo das relações interpessoais, os psicólogos Joseph Luft e Harry Ingram criaram uma ferramenta interessante que ficou conhecida com o nome de Janela de Johari. Consiste numa “janela” com quatro “vidraças”, cada uma com um rótulo identificador, indicando a maneira pela qual as pessoas administram a persona­ lidade perante os outros.4 Essa ferramenta aplicada à comunicação ajuda a compreender o comportamento do orador perante o auditório. A janela tem a seguinte forma: ESI
  • 39. Comunicação: O Veículo da Pregação Janela de Johari ÁREA ÁREA ABERTA CEGA ÁREA ÁREA OCULTA FECHADA Vejamos como funciona cada uma dessas áreas: 1. Área aberta. Essa é a vidraça transparente, permite visibilidade por dentro e por fora. São aquelas coisas que conhecemos sobre nós mesmos e os outros também conhecem. Nosso eu é aberto, conhecido por nós e pelos outros. É a nossa pessoa pública, em que nada é oculto. E a área dos atos conscientes. Nessa área, o orador não tem medo. Ele admite sua personalidade perante o auditório. Quanto maior for essa área, menor será o medo. Dentro dos limites do bom senso, o orador deve tornar-se conhecido do auditório. 2. Área cega. Essa vidraça é como se fosse de um vidro escuro, com visibilidade só de um lado, ou seja, os outros nos enxergam, mas nós não nos enxergamos. Nessa área da personali­ dade ficam aqueles aspectos que desconhecemos sobre nós mesmos, mas que os outros conhecem. Nosso eu é cego, desconhecido por nós e conhecido pelos outros. E a mancha cega da janela. Isso quer dizer que o que imaginamos ser não corresponde ao que os outros imaginam. Nosso auto-retrato é totalmente diferente do retrato pintado pelos outros. E a área dos atos inconscientes. Nessa área. o orador é insensível à resposta do auditório. Ele pensa que está produzindo um efeito, que na realidade não está ocorrendo. Pensa que se está comunicando bem, por exemplo, mas os ouvintes acham que se está comunicando mal. Ou o contrário: o auditório gosta do
  • 40. Aproveite o Medo orador, mas ele acha que não agrada a ninguém. Essa é a área dos complexos de inferioridade ou de superioridade. Por falta de intercâmbio, o orador não cresce e sente-se inseguro por não alcançar os objetivos. É preciso que o orador seja receptivo ao que os outros dizem a fim de saber o que eles conhecem dele. 3. Área oculta. Essa vidraça também tem visibilidade de um lado só, mas no sentido oposto, ou seja, nós enxergamos, mas os outros não enxergam. É a área secreta da personalidade. Aqui estão as coisas que conhecemos sobre nós mesmos, mas que os outros nada sabem. São coisas que não revelamos aos outros porque acreditamos não serão bem aceitas ou porque correspondem a coisas particulares e sensíveis de nosso caráter. Essa é a área de maior medo, porque o orador teme expor-se e revelar sua timidez, sua falta de conhecimento e seus defeitos. E como se estivesse escondido por trás de uma fachada. Às vezes não revela seus pontos de vista com medo de que outros discordem, numa espécie de covardia intelectual. O orador precisa criar coragem e diminuir essa área secreta. E evidente que sempre terá o lado secreto da personalidade e nunca poderá revelar tudo de si mesmo, mas esse lado interior deve ser coerente com sua personalidade exterior. 4. Área fechada. Aqui a vidraça está fechada. É a área inacessível da personalidade, que ninguém conhece. Aqui está um eu totalmente desconhecido, pois nessa área ficam as coisas que não sabemos a nosso respeito e que também ninguém sabe. E a grande área do desconhecido e inexplorado. Aos poucos o orador precisa conhecer mais de si próprio e de sua estrutura psicológica para aumentar sua segurança própria, pois quanto mais conhecer- se, mais saberá lidar com os próprios sentimentos. Essas quatro áreas sempre existirão dentro de cada pessoa, e o ideal é que haja equilíbrio entre elas para que a personalidade seja natural e agradável. Contudo, o orador eficaz entende que todo bom comunicador precisa aumentar a área aberta de sua persona­ lidade, o que o leva a diminuir a área secreta. Precisa transmitir
  • 41. informações a seu próprio respeito, ou seja, deixar sua personalidade fluir para o auditório espontaneamente, sem bloqueios psicológicos, sem fingimento e sem atitudes camufladas. Isso não significa fornecer os dados pessoais, mas sim deixar transparecer as riquezas de uma personalidade liberta de ansiedade e desconfiança.5 Em outras palavras, uma personalidade transparente e na­ tural poderia ser representada, na Janela de Johari, mais ou menos da seguinte maneira: Comunicação: O Veículo da Pregação ÁREA ABERTA ÁREA CEGA ÁREA OCULTA ÁREA FECHADA N otas 1Public Speaking, p. 329. 2Curso Prático de Comunicação Verbal, p. 427-428. 3 Idem, p. 86. "Harris W. Lee, Effective Church Leadership (Minneapolis, Augsburg, 1989), p. 55-56. 5Curso Prático de Comunicação Verbal, p. 95-103.
  • 42. Capítulo f O Audiovisual do Pregador “O coração alegre aformoseia o rosto. ” Salomão os 30 minutos do sermão, tudo que acontece no púlpito influi na comunicação da mensagem. E aí que entra a importân­ cia do visual do pregador e do fator sonoro, ou seja, sua voz. Na realidade, o pregador é um audiovisual vivo, de carne e osso. Um estudo feito pelo psicólogo Albert Mehrabian revela que apenas 7 por cento da nossa comunicação é representada pelas palavras, 38 por cento pelo tom de voz e qualidade do som e 55 por cento pela expressão fisionômica e corporal!1 Isso significa que o conteúdo verbal comunica apenas 7 por cento, e que 93 por cento da comunicação é de conteúdo não-verbal. E por isso que é possível alguém comunicar-se sem palavras, somente com gestos. E por isso também que você percebe quando um amigo está triste ou alegre
  • 43. Comunicação: O Veículo da Pregação sem que ele diga palavra nenhuma. Aliás, isso é bíblico, pois Salomão já dizia: “O coração alegre aformoseia o rosto” (Pv 15.13). Portanto, é indiscutível a importância da voz e da expressão fisionômica e corporal na comunicação. EXPRESSÃO CORPORAL Em decorrência dessa realidade, todos os apontamentos que o pregador leva horas para preparar vão comunicar apenas sete por cento do sermão! Assim sendo, é indispensável manter uma fisionomia agradável, refletindo os sentimentos do conteúdo verbal, com um sorriso simpático de vez em quando e gestos suaves. Isso não significa que devemos planejar um conjunto de gestos ensaiados e artificiais, o que seria pior que a ausência deles. Alguns oradores que ensaiam fisionomia acabam fazendo careta para o auditório. O segredo é a naturalidade. O orador precisa sentir-se bem para comunicar bem. Precisa estar feliz consigo mesmo e com a mensagem para transmitir isso por meio da fisionomia e da expressão corporal. “A gesticulação obedece mesmo a um processo natural. Pensamos na mensagem ao mesmo tempo que informamos ao corpo o movimento a ser executado; o corpo reage e só depois pronuncia­ mos as palavras. Por isso o gesto vem antes da palavra ou junto com ela, não depois.”2 Procure descontrair-se e deixar os gestos acontecerem naturalmente. Lembro-me da única vez em que ensaiei a gesticulação de um sermão. No auditório estava o meu pai, amante da boa oratória. Após o sermão, com a franqueza que lhe é peculiar, falou- me jeitosamente: “Alguns gestos seus estavam exagerados”. Foi a primeira e última vez que ensaiei gesticulação. Em vez de aprender a gesticular, aprenda a não impedir a gesticulação. Tente descontrair-se para não ficar inibido ou tenso, pois a tensão restringe a naturalidade dos gestos. A medida que adquirir experiência, você se acostumará a falar com o auditório como se estivesse numa conversa informal, e os gestos acontecerão naturalmente.
  • 44. O olhar e a expressão fisionôm ica 0 grande orador romano Cícero (106-43 a.C.) declarou: “Na alocução, em seguida à voz e à eficácia, vem a fisionomia; e esta é dominada pelos olhos. O poder da expressão do olhar humano é tão grande que, de certa maneira, ele determina a expressão do semblante todo”.3 Os olhos revelam se a pessoa está triste ou alegre, sentindo- se bem ou mal e, conseqüentemente, se o que ela está dizendo é natural ou artificial. Estudos têm demonstrado que as pupilas se dilatam quando a pessoa sente prazer e se contraem com os sentimentos negativos. Por isso, mesmo sem ter consciência disso, reagimos calorosamente a alguém de pupilas grandes. Um olhar pode ameaçar como uma arma, insultar como uma vaia ou agradar como uma carícia. Dificilmente conseguimos enganar com os olhos. Quando chega ao púlpito, o pregador vê à sua frente um mar de olhos, todos fixos nele. Isso pode amedrontá-lo e levá-lo a não olhar nos olhos do ouvinte, o que prejudica terrivelmente a comunicação. Para conquistar o ouvinte, o pregador precisa olhar diretamente para o auditório, como o faria se estivesse conversando com uma única pessoa. Para cada ouvinte, o pregador é um interlocutor num diálogo pessoa a pessoa. Por isso, o pregador deve olhar nos olhos dos ouvintes, percorrendo com os olhos todo o auditório. Se o pregador não olha na direção dos ouvintes, eles se sentem ignorados. Outra expressão fisionômica que revela nossos sentimentos é o sorriso. Também é difícil mentir com o sorriso, pois os lábios manifestam as emoções, e é muito difícil disfarçá-las. Quando sorrimos para fingir alegria ou bem-estar, dificilmente conseguimos sustentar o sorriso.4 Por tudo isso, o pregador precisa estar bem consigo mesmo e com Deus, imbuído da mensagem e deixá-la transbordar em si, para que seus sentimentos interiores comuniquem paz e segurança pela expressão fisionômica. O Audiouisual do Pregador ■ m
  • 45. Comunicação: O Veículo da Pregação A IMPORTÂNCIA DA VOZ A voz está intimamente relacionada com a mensagem, de tal maneira que quanto melhor for a voz mais ela atrai a atenção para a mensagem, e não para si mesma. O ouvinte pode distrair-se apenas se o tom de voz não combinar com o conteúdo do discurso. E apropriado, por exemplo, que assuntos de muita importância sejam falados pausadamente. Temas solenes, por sua vez, geralmente são expressos melhor por uma voz mais grave e com volume mais baixo. Em outras palavras, o tom da voz deve refletir o tom da mensagem. Analisando nossa reação às pessoas que têm boa voz, geralmente concluímos que elas também são eficientes como pessoas. A voz, ou qualquer outro atributo humano, não é apenas um traço independente ou diferente do restante do comportamento. Em outras palavras, a qualidade da voz reflete a qualidade da pessoa. Não necessariamente o timbre da voz, mas a entonação e a maneira de pronunciar as palavras.5 Algumas pessoas têm boa voz por natureza. Isso é um excelente recurso para a boa oratória. Mas, seja qual for o tipo de voz, é possível desenvolver algumas qualidades que a tornem agradável e eficiente na comunicação. Qualquer voz pode tornar-se eficiente. Os principais fatores que afetam a qualidade da voz são descritos a seguir. O tom de voz* A voz chega até nossos ouvidos em tons agudos, graves e médios. A maioria dos problemas da voz não esxá no fato de a voz natural ser aguda ou grave, mas no mal posicionamento do tom de voz entre agudos e graves. 0 grande problema é que muitas vezes a pessoa quer falar mais grave ou mais agudo, e sua voz não fica bem no tom desejado, tornando-se artificial, dissonante ou estridente. A melhor maneira de encontrar o tom de voz ideal é identificar a nota mais aguda e a mais grave que consegue alcançar com naturalidade e, então, localizar a nota central dessa escala. Essa nota central é o seu melhor tom de voz, que você deve acostumar-se a usar e, a partir do qual, vai fazer as entonações necessárias. E3
  • 46. O Audiovisual do Pregador Encontrando o tom de voz ideal você terá espaço para dar flexibilidade à voz, acima e abaixo. Não importa seja a voz natural grave ou aguda. Na maioria dos casos, esse é um exercício fácil, que pode ser praticado com ajuda de um piano ou de outro instrumento. Algumas pessoas, entretanto, podem precisar de ajuda profissional, até porque o uso da voz às vezes está ligado a problemas psicológicos da infância. Certo estudante de teologia falava com uma voz excessivamente aguda, em falsete, e isso prejudicava suas aspirações ao ministério. Um terapeuta descobriu que ele adotara essa voz como defesa contra críticas recebidas na adolescência, quando estava mudando de voz. Com um tratamento psicológico, o problema foi resolvido.6 Entonação. Quanto à entonação das palavras, procure ondular a voz de acordo com as diferentes ênfases de seu discurso. Não use tom de voz artificial ou clerical. Alguns pregadores parecem estar rezando ave-maria. O melhor tom de voz é o coloquial, ou seja, falar com os ouvintes em vez de falar para eles. Jamais grite. A dicção A dicção é a maneira de dizer as palavras e está relacionada com duas funções básicas: a articulação e a pronúncia. Embora essas duas funções estejam intimamente ligadas, a articulação refere- se à enunciação completa das palavras, sem omitir, ou “engolir”, vogais, consoantes ou sílabas. Um erro muito comum de articulação é engolir o “s” do final dos plurais, como por exemplo em “fizemo” no lugar de “fizemos”, ou “forno” no lugar de “fomos”. Outro erro comum é engolir o “r” do final dos infinitivos, como por exemplo: “andá” no lugar de “andar” ou “ficá” no lugar de “ficar”. A pronúncia, por sua vez, refere-se mais ao som correto das palavras, com a devida ênfase das sílabas tônicas. Um erro comum de pronúncia é falar “ Jesuis” no lugar de “ Jesus”, ou “trêis” no lugar de “três”. A pronúncia também tem que ver com os sotaques regionais. A princípio, todos os sotaques são corretos, e cada um tem o seu charme peculiar. Apenas deve-se tomar cuidado quando
  • 47. Comunicação: O Veículo da Pregação o sotaque é muito carregado a ponto de chamar atenção. Nesse caso é recomendável corrigir os excessos. A regra geral é pronunciar as palavras completas, com os sons corretos. Um bom exercício para isso é a leitura pausada em voz alta. O volum e Saber dar o volume certo para cada tipo de auditório é uma habilidade que o pregador precisa desenvolver. Nada é mais incômodo do que o ouvinte ter de esforçar-se para ouvir um pregador que fala para dentro, cujas palavras parecem não sair, ou quando o som é amplificado de maneira insuficiente. Por outro lado, nada é mais irritante do que ouvir os berros de um orador, ou uma amplificação de som exagerada, que agride os ouvidos. Alguns ouvintes são muito sensíveis e sentem-se mal com um volume acima do suficiente. Os equipamentos de som hoje são uma ferramenta muito útil para o pregador, quando devidamente operados. Você pode falar para milhares de pessoas e ser ouvido por todos, mesmo quando sussurra, o que em alguns momentos faz um bom efeito de voz. Alguns pregadores gostam de exibir a capacidade vocal falando sem microfone para grandes auditórios. Esse tempo já passou. Por mais que sejam ouvidos, a comparação com o som amplificado faz com que a voz natural pareça gritada e inferior. Um bom*operador de som pode contribuir muito para o sucesso de um sermão, e é aconselhável o pregador combinar alguns detalhes com o operador. Nas igrejas que pastoreei, eu sempre combinava com os operadores de som, e eles já sabiam exatamente o volume que eu preferia, bem como o nível de graves e agudos. A velocidade Não há uma regra fixa para a velocidade da fala. Depende muito do assunto. A princípio, não fale rápido demais como que engolindo as palavras, nem tão devagar como se estivesse morrendo. A fala pode ser pausada ou acelerada de acordo com o tema.
  • 48. OAudiovisual do Pregador Numa conversação normal, usam-se em média cerca de 120 palavras por minuto, e é bom variar entre expressões mais rápidas e expressões mais lentas. Sobretudo, tenha o cuidado de não atropelar as palavras e de não engolir o final das frases. Fale as palavras completas. A respiração “A respiração mais indicada para falar é aquela que utiliza respiração costo-diafragmática e expiração costo-abdominal, como fazem os bebês, principalmente quando estão dormindo.”7 Isso significa que a respiração ideal é aquela que movimenta mais o abdômen do que os pulmões. Outro cuidado necessário é o “sincronismo fono-respirató- rio”. Isto é, evite falar quando estiver inspirando, ou continuar a falar quando o ar praticamente já terminou. Aprenda a usar a respiração abdominal e a fazê-lo de maneira natural entre as frases, não no meio das palavras, como se estivesse ofegante. N otas ;Carol Kent, Speak Up With Confidence (Nashville, Thomas Nelson Publishers, 1987), p. 89. 2 Reinaldo Polito, Gestos e Postura Para Falar Melhor (São Paulo, Saraiva, 1990), p. 15. 3Hans Ulrich Reifler, Pregação ao Alcance de Todos (São Paulo, Edições Vida Nova, 1993), p. 112. 1 1Aurélio Bolsanello e Maria Augusta Bolsanello, Conselhos - Análise do Comportamento Flumano em Psicologia (Curitiba, Editora Educacional Brasileira S.A., 1986), p. 626-630. 5Jon Eisenson, The Improvement ofVoice and Diction (Nova York, Macmillan Company, 1967), p. 3 e 12. 0Jam es Cox, Preaching (San Francisco, Harper & Row, Publishers, 1985), p. 249-252. 7Como Falar Corretamente e Sem Inibições, p. 56. SEMINÁRIO CONCORDIA
  • 49. Como Evitar o Sermão Salada de Frutas “ Quando um homem não sabe a que porto quer chegar, nenhum vento é o vento certo. ’ Sêneca e fosse descrever o sabor de uma salada de frutas, a que fruta você compararia a salada? Ela tem sabor de banana, mamão, laranja ou maçã? Difícil, não é? Na realidade ela tem sabor de tudo, e por isso mesmo o sabor é indefinido. O sermão não pode ser assim, senão o ouvinte vai sair da igreja indefinido, sem saber qual foi o sabor do sermão, isto é, sem saber qual é a mensagem para sua vida prática. E aí que se nota a importância da estrutura do sermão, da organização das idéias, da distribuição do assunto em partes, de maneira que se comunique o máximo possível. 0 primeiro passo na organização de um sermão é a sua divisão em três partes: introdução, corpo e conclusão.1 Em outras
  • 50. Comunicação: O Veículo da Pregação palavras, o sermão tem de ter começo, meio e fim. No passado, alguns autores dividiam o discurso em cinco ou mais partes, mas hoje a tendência é simplificar essa divisão em apenas três partes. É mais prático. Neste capítulo, vamos nos preocupar apenas com o corpo do sermão e sua estrutura. Quanto mais organizado estiver o sermão, mais ele vai ser captado pelo ouvinte e surtir efeito duradouro. Estudos revelam que a pessoa comum se lembra apenas de 25 por cento do que ouve. E conserva isso na memória por pouco tempo. Após 48 horas, a maioria só se lembra de 10 por cento de um discurso.2 Esse é mais um motivo para que as idéias estejam muito bem organizadas. Vejamos como organizar as idéias do sermão. CARACTERÍSTICAS DO CORPO DO SERMÃO O corpo é o sermão propriamente dito. E a mensagem que vai ficar na mente e no coração do ouvinte. É a exposição das idéias e o desenvolvimento do assunto. Para ser eficaz, o corpo do sermão precisa de algumas características indispensáveis. Vejamos. U nidade absoluta Um cidadão estava lendo um dicionário, e um amigo perguntou-lhe o que estava lendo. Em resposta, disse: “Parece que tem um monte de informações boas, mas não consegui descobrir a linha de raciocínio!”. No dicionário, o termo anterior e o posterior nada têm que ver com o do meio. Alguns pregadores pregam sermões-dicionário, que têm um monte de informações boas, mas ninguém descobre a linha de raciocínio. Isso não pode acontecer no corpo do sermão nem no sermão como um todo. O sermão não pode ter duas ou três idéias centrais. Pelo contrário, tem de ter uma idéia central única, grande, luminosa e presente em todo ele. Tudo o que se diz no sermão tem de estar debaixo dessa idéia e contribuir para ela. Qualquer outra idéia que não reforce ou esclareça a idéia central deve ser abandonada sem piedade. Uma boa solução é guardar essas idéias “extras” para outros sermões.
  • 51. Como Euitar o Sermão Salada de Frutas Se você pregar sobre a volta de Jesus, não fale nesse sermão sobre a doutrina do santuário. Se pregar sobre a fé, não misture com o tema da origem do mal. Se pregar sobre oração, não misture com educação cristã. É claro que todos os temas bíblicos se inter- relacionam, mas você deve apresentar apenas um de cada vez, para que a mensagem tenha unidade e poder. Muitos membros de igreja voltam para casa como aquele homem a quem, ao chegar do culto, a esposa perguntou: “Sobre que assunto o pastor pregou?”. O homem respondeu: “Sobre o pecado”. Quando a esposa insistiu em saber o que o pastor disse sobre o pecado, o homem respondeu: “Acho que ele era contra”. É muito comum ouvir sermões do tipo salada de frutas. Aliás, a triste realidade é que é mais comum ouvir sermões desorganizados do que sermões organizados. Alguns pregadores percorrem a Bíblia de Gênesis a Apocalipse e misturam todas as doutrinas num só sermão. Quando terminam, ninguém sabe dizer sobre que falaram. A razão não é a falta de inteligência, e sim de dedicação, porque pregar sobre dez assuntos dá menos trabalho do que pregar sobre um só. A escolha de um assunto exige bastante tempo e estudo. Duane Litfin apresenta quatro passos básicos na escolha do assunto e da idéia central: — Determine o assunto geral sobre o qual você gostaria de falar — Faça uma boa pesquisa sobre esse assunto — Decida o tópico que você quer abordar dentro do assunto — Estabeleça a idéia central, única, que vai governar a construção do sermão3 Aliás, ao escolher a idéia central, você está determinando a unidade do sermão. John Henry Jowet escreveu: “Tenho a convicção de que nenhum sermão está pronto para ser pregado, ou para ser escrito por extenso, até que possamos expressar seu tema numa frase curta e fecunda, clara como cristal”.4
  • 52. Comunicação: 0 Veículo da Pregação Propósito claro Definido o assunto, estabeleça o propósito que quer alcançar com esse assunto. Muitas vezes o processo pode ser inverso: você tem um propósito e escolhe um assunto para atingir esse propósito. Não importa a ordem, o importante é que tenha um assunto e um propósito. “O propósito declara aquilo que esperamos que aconteça com o ouvinte como resultado da pregação desse sermão. O propósito difere da idéia do sermão, assim como o alvo é diferente da flecha... Ao passo que a idéia declara a verdade, o propósito define o que aquela verdade deve levar a efeito.”5 Exemplificando, suponhamos que o assunto escolhido seja o perdão. A idéia central poderia ser: “Deus não se cansa de perdoar”. O propósito seria levar o ouvinte a buscar o perdão, mesmo após repetidos fracassos. D ivisões paralelas Tendo o assunto, a idéia central e o propósito, fica fácil organizar o restante do sermão. O passo seguinte é dividir a idéia central em três tópicos específicos, que seriam as divisões da idéia. Essa regra não é inflexível, e você pode usar duas ou quatro divisões esporadicamente. Alguns autores admitem até mais de quatro divisões, o que, porém, não é muito didático. Quanto menor o número de tópicos, maiores a clareza e a força da idéia central. Por isso o ideal é usar somente três divisões, ou excepcionalmente duas. Quatro divisões, só em casos bem especiais. Vamos tomar o exemplo acima e acrescentar as três divisões da idéia central: IDÉIA CENTRAL: Deus não se cansa de perdoar DIVISÕES: A. Não se cansou de perdoar a Davi B. Não se cansou de perdoar a Pedro C. Não se cansa de perdoar-lhe [39
  • 53. Como Euitar o Sermão Salada de Frutas Observe que as três divisões são enfoques que apoiam a idéia central e com esta formam uma unidade absoluta. Tudo está dentro do mesmo tema e tem o mesmo propósito. Observe também o paralelismo das divisões, ou seja, elas são semelhantes entre si. Isso é possível mediante o uso de uma palavra-chave repetida em todas as divisões. No caso acima, a palavra-chave é “perdoar”, que amarra as três divisões, mantendo-as paralelas. Quanto mais palavras-chave, maior o paralelismo. No exemplo acima, o verbo “cansar-se” e a palavra “não” também ajudam a fortalecer o paralelismo. Progressão Todo sermão deve ter movimento, e esse movimento tem de progredir em direção a um clímax. O pregador precisa levar o ouvinte de um ponto de partida para um ponto de chegada. Progressão é a maneira que o pregador conduz o ouvinte, envolvendo-o pouco a pouco no propósito da mensagem. Assim, ao preparar as divisões do sermão, você deve dar-lhes uma ordem lógica de progresso em direção ao clímax do sermão. No exemplo já citado, observe a progressão das divisões. Primeiro, o foco é o perdão a Davi, lá no Antigo Testamento. Depois vem o perdão a Pedro, um pouco mais próximo, por ser no Novo Testamento. Finalmente vem o clímax do sermão, que é o perdão ao próprio ouvinte: “Deus não se cansa de perdoar-lhe”. Vejamos o exemplo de um discurso sobre o tema da temperança. Observe como a idéia central apóia-se nos tópicos das divisões e progride com eles: IDÉIA CENTRAL: O alcoolismo é um inimigo que destrói DIVISÕES: A. Destrói o indivíduo B. Destrói a família C. Destrói a sociedade
  • 54. O discurso tem como ponto de partida o prejuízo que o álcool causa à própria pessoa que o ingere. Na segunda divisão esse prejuízo é ampliado para toda a família. Na terceira, o prejuízo atinge toda a sociedade. A ordem também poderia ser inversa, pois você escolhe o clímax de acordo com o enfoque que deseja dar, contanto que haja movimento em direção a um ponto culminante. Observe também que o paralelismo ocorre com a palavra-chave “destrói”. Comunicação: O Veículo da Pregação A ARTE DE ESBOÇAR Para que o sermão tenha as características de unidade, propósito, paralelismo e progressão, é indispensável que essas qualidades estejam esquematizadas em forma de esboço. O esboço nada mais é do que o esqueleto que dá sustentação às idéias. Assim como no corpo humano o esqueleto nunca aparece, o esboço também se esconde atrás do revestimento das idéias. O esqueleto humano é uma estrutura feia que sustenta um corpo bonito. Nenhuma pessoa bonita pode dizer que não precisa de esqueleto. Da mesma forma, não pode haver sermão sem esboço. Quanto mais bonito o sermão, mais precisa de um esboço. A forma do esb oço O esboço é a distribuição da idéia central com as divisões e subdivisões. Diferentes autores sugerem diferentes formas para o esboço, umas mais simples, outras mais complexas. O formato abaixo parece ser o mais didático e mais prático para qualquer tipo de discurso ou sermão:61 1. INTRODUÇÃO A. Captar a atenção B. Resumo do que vai dizer
  • 55. Como Euitar o Sermão Salada de Frutas II. APRESENTAÇÃO A. Pontos principais B. Ordem lógica C. Progressão III. CONCLUSÃO A. Resumo B. Apelo Note, por exemplo, como o discurso sobre o alcoolismo, citado anteriormente, pode ser construído com esse formato de esboço, com as divisões e subdivisões da idéia central: I. INTRODUÇÃO A. Ilustração 1. Adolescentes bêbados 2. Adolescentes viciados B. A ilusão do vício 1. O vício é uma fuga da realidade 2. O vício é um inimigo perigoso II. O ÁLCOOL É UM INIMIGO QUE DESTRÓI A. Destrói o indivíduo 1. Prejudica o sistema nervoso 2. Prejudica a mente 3. Transição B. Destrói a família 1. Prejudica o orçamento familiar 2. Prejudica o relacionamento familiar 3. Transição
  • 56. Comunicação: O Veículo da Pregação C. Destrói a sociedade 1. Aumenta o desemprego 2. Aumenta a marginalidade 3. Transição III. CONCLUSÃO A. Quem usa bebida alcoólica não é feliz 1. Vive sem saúde 2. Vive mal com a família 3. Vive à margem da sociedade B. Você precisa ser feliz 1. Vença o alcoolismo 2. Vença-se a você mesmo O esboço também pode incluir outros segmentos, que são as sub-subdivisões, onde podem entrar ilustrações e aplicações. Uma preocupação que deve ser levada em conta é o tempo destinado a cada parte do sermão. Não há uma regra fixa, mas em média recomendam-se 15 por cento do tempo para a introdução, 75 por cento para o corpo e 10 por cento para a conclusão. Assim, um sermão de 20 minutos poderia ter a seguinte distribuição de tempo: — 3 minutds para a introdução — 15 minutos para o corpo — 2 minutos para a conclusão Essa é uma sugestão geral, que pode ser adaptada de acordo com a necessidade. O importante é que o corpo seja a parte principal e mais extensa do sermão. E xem plos de esb oços Um mesmo assunto pode ter dezenas de esboços diferentes, dependendo do ponto focalizado. Aliás, uma das grandes utilidades
  • 57. Como Euitar o Sermão Salada de Frutas do esboço é direcionar o assunto em diferentes abordagens. Tomando, por exemplo, o assunto da justificaçãopelafé, veja quantos esboços diferentes podem ser construídos: 1. Abordagem das definições A. Que é justificação B. Que é fé C. Que é justificação pela fé 2. Abordagem das personagens A. Quem justifica B. Quem é justificado C. Quem paga a pena 3. Abordagem cronológica A. O homem antes da justificação B. O homem durante a justificação C. O homem após a justificação 4. Abordagem espacial A. A justificação e o céu B. A justificação e o Calvário C. A justificação e o coração do homem 5. Abordagem ética A. A justificação e a consciência B. A justificação e as intenções C. A justificação e o comportamento 6. Abordagem jurídica A. A justificação e a acusação do pecador B. A justificação e a defesa do pecador C. A justificação e a absolvição do pecador
  • 58. Comunicação: O Veículo da Pregação 7. Abordagem psicológica A. A justificação e o senso de culpa B. Á justificação e a ansiedade C. A justificação e a paz de espírito Cada abordagem dessas implica um esboço diferente e, portanto, um sermão diferente. Essa lista pode ser ampliada indefinidamente, pois não há limite aos ângulos que abordar dentro de cada assunto. Por isso, o esboço é um recurso valiosíssimo para direcionar os diferentes tratamentos de um assunto. Vale a pena desenvolver uma mentalidade voltada para o esboço. N otas 1Como Falar Como um Profissional, p. 70. 2 Idem, p. 18. 3Public Speaking, p. 96-117. 4Donald E. Demaray, An Introduction to Homiletics (Grand Rapids, Baker Book House, 1990), p. 104. r>Idem, p. 73-74. 6 Como Falar Como um Profissional, p. 70.
  • 59. Capítulo 8 O Aperitivo do Sermão “Você nunca tem uma segunda chance de causar uma primeira impressão!” Duane Litfin m bom sermão abre o apetite mental do ouvinte nas primeiras palavras. Assim que começa a mensagem, o bom pregador lança palavras aperitivas, que deixam o ouvinte com “água na boca” para ouvir o sermão. Essas palavras aperitivas são chamadas introdução. São elas que vão cativar a atenção do ouvinte e dríái' expectativa quanto ao sabor do sermão. Por isso a introdução é tão importante. Se não for bem-feita, o sermão pode parecer seco e sem sabor, e até fazer com que o ouvinte perca o apetite no primeiro momento. Um detalhe: em todo sermão, só há uma oportunidade de fazer uma boa introdução. Se errar o primeiro tiro, a caça está perdida. Ou seja, se errar as primeiras palavras, é muito difícil consertar a introdução. Ou como diz o pensamento acima: “Você nunca tem uma segunda chance de causar uma primeira impres­ são!”. Há alguns recursos que podem tomar a introdução um saboroso
  • 60. aperitivo. Vamos conhecer os segredos que abrem o apetite para o sermão. Comunicação: O Veículo da Pregação CARACTERÍSTICAS DA BOA INTRODUÇÃO Todos os objetivos da introdução resumem-se numa só frase: conquistar o auditório. Para isso, a introdução deve ganhar a simpatia dos ouvintes e despertar interesse pelo tema, desafiando o pensamento do ouvinte. Se o pregador não conseguir isso na introdução, é quase impossível consegui-lo depois. Ou como dizia Sangster: “O pregador deve certificar-se de que as sentenças iniciais do sermão possuam ‘garras de ferro’para prenderem de imediato a mente de seus ouvintes”.1 Um professor meu dizia que a introdução deve “assaltar” a atenção dos ouvintes, de maneira tal que os deixe eletrizados para o sermão. Fazer isso com eficiência e sem exageros inconvenientes é uma arte que poucos conseguem dominar. Analisemos as características de uma boa introdução. Atratividade Por tudo que já foi dito, a introdução tem obrigação de ser atraente e interessante para despertar a atenção do público. Se não for interessante, é melhor não haver introdução, porque ela com toda certeza vai.fazer exatamente o efeito contrário. Ou o ouvinte interessa-se pelo assunto, ou desinteressa-se. Não há meio termo. Ouvintes meio interessados são ouvintes desinteressados. Por isso, a introdução é considerada o ponto estratégico do sermão, para não dizer o ponto mais importante. Não adianta o sermão ser poderoso, se o ouvinte não for conquistado para ouvi-lo. Aliás, diga-se de passagem que não existe sermão poderoso sem introdução poderosa! Ou a introdução torna o sermão simpático ou torna-o antipático. Ou o ouvinte pensa consigo: “Quero ouvir esse assunto”, ou diz: “Isso não me interessa”. m
  • 61. O Aperitivo do Sermão O bjetividade A introdução não tem de explicar o sermão, mas precisa, pelo menos, explicar-se a si mesma, ou seja, ter uma razão de ser. Para isso, tem de ser objetiva e vincular-se ao tema do sermão, para servir de ponte entre a atenção do auditório e o assunto do sermão. Quando fiz o curso de oratória no seminário, cada aluno deveria fazer um sermão de cinco minutos, aplicando todas as técnicas aprendidas. Lembro-me de um colega, que se dirigiu ao púlpito com uma caixa embrulhada em papel de presente. Imediatamente, atraiu a atenção de todos. Nota dez para o impacto da introdução. Mas infelizmente ele começou e terminou o sermão sem fazer nenhuma referência ao presente. No meio da pregação alguns estavam prestando mais atenção ao presente que ao sermão, e outros já começavam a rir. Faltou sentido, explicação ou ligação com o tema do sermão. C oncisão Aqui entra a capacidade de síntese como qualidade do orador. Se há um ponto do sermão em que o pregador não pode ser prolixo, é a introdução. Se em todo o sermão ele deve ser objetivo e conciso, na introdução ainda mais, porque se não for direto ao ponto, o ouvinte percebe que ele está rodeando e perde o interesse. Portanto, não deve haver nenhum elemento supérfluo, ou seja, deve ficar fora tudo que não for indispensável. Isso é válido mesmo para uma história interessante, que, aliás, para ser interessante não pode conter detalhes irrelevantes ou que não estejam relacionados com o objetivo principal. Como disse Voltaire: “O segredo para a gente ser enfa­ donha é contar tudo”.2 Brevidade Mesmo sendo interessante e concisa, a introdução não deve ser longa, pois o ouvinte pode ficar sem saber aonde o pregador quer chegar. Talvez pudéssemos comparar a introdução a uma pedrada, que em poucos segundos chama a atenção, causa impacto,
  • 62. Comunicação: O Veículo da Pregação quebra a vidraça, mostra o que há no interior do aposento e desaparece. Ninguém vê mais a pedra, todos ficam olhando para o aposento! Note que uma pedrada na vidraça tem o poder de acordar todos os que estiverem dormindo nas proximidades e fazer com que todos olhem na sua direção. Assim deve ser a introdução: tem de acordar os dorminhocos. Agora, se você ficar meia hora atirando pedras na parede sem acertar a vidraça, todo mundo se acostuma com as pedradas, e elas já não causam mais impacto (e ainda há o perigo de você acabar acertando o ouvinte). Em outras palavras, a introdução deve durar só o suficiente para conquistar a atenção e introduzir o assunto. M odéstia Cuidado para não fazer promessa de alguns políticos na introdução, ou seja, prometer o que não vai falar. Em vez de exagerar e dar a impressão de arrogância, seja modesto, deixe que o conteúdo fale por si mesmo e revele-se coerente. Não diga, por exemplo: “Hoje vou falar tudo que vocês precisam saber sobre as profecias” ou “hoje vamos esgotar a doutrina do novo nascimento”. Em vez disso, diga: “Hoje vamos abordar alguns aspectos da profecia bíblica” ou: “o novo nascimento tem três pontos fundamentais”, e assim por diante. Bom sen so A introdução tem de ser coerente com o tema, com a congregação e com o espírito cristão. Não fica bem numa igreja usar na introdução elementos seculares inconvenientes. Certa ocasião ouvi um pregador introduzir um sermão sobre Apocalipse, colocando no serviço de som da igreja a música “Apocalipse”, do cantor secular Roberto Carlos. Embora tenha conseguido o efeito de atrair a atenção, desfez o efeito porque feriu a sensibilidade espiritual da maioria da congregação. Foi uma introdução imprópria. Por outro lado, ouvi um pregador usar o mesmo recurso de maneira apropriada. Era um acampamento de jovens num local KQ
  • 63. O Aperitivo do Sermão neutro, não religioso, e ele introduziu a mensagem usando a música “Tema da Saudade”, em memória de Ayrton Senna, para falar sobre a brevidade da vida. O efeito foi positivo. Tudo depende do bom senso e da sensibilidade espiritual. Clareza O ouvinte não tem de fazer força para entender a introdução, pois, afinal de contas, é a introdução que deve conquistá-lo, não ele conquistar a introdução. Não é conveniente usar argumentos difíceis nem uma complicada linha de raciocínio. Também não se devem usar palavras difíceis, que façam o ouvinte precisar de um dicionário para entender. A introdução tem de ser clara nas palavras, clara nas idéias e clara nas intenções. Não use ilustrações com objetos desconhecidos ou alguma lei científica difícil de entender. Seja claro e simples. Planejam ento Mais uma vez o preparo é fundamental. Alguns pregadores têm a ingenuidade de preparar o corpo do sermão e deixar a introdução para o improviso. Não faça isso nunca. Recomenda-se de fato preparar a introdução por último, quando já tiver pronto o sermão, para saber que rumo dar à introdução, mas ela precisa estar muito bem preparada, pois é a parte do sermão em que você precisa demonstrar a maior segurança possível, para ganhar a confiança do ouvinte. Haddon Robinson afirma que o pregador “deve aproveitar ao máximo suas primeiras vinte e cinco palavras para prender a atenção”,3 porque elas decidem o sucesso ou o fracasso do sermão. Isso significa que não sobra espaço para agradecimentos nem homenagens, porque as primeiras 25 palavras devem ser a “pedrada” que vai “assaltar” a atenção do ouvinte. Ou como dizia um professor meu: “Se não obtém a atenção dos ouvintes nos primeiros 60 segundos, você pode não conseguir mais”. Por isso, planeje muito bem as suas primeiras 25 palavras! m
  • 64. Comunicação: O Veículo da Pregação O QUE EVITAR NA INTRODUÇÃO Pedir desculpas Se você não se preparou bem, então não fale. Se falar, não peça desculpas. Essa história de dizer que recebeu o convite de última hora ou que houve um imprevisto e não deu tempo de preparar-se é desculpa esfarrapada que surte efeito negativo. No fundo, o auditório percebe que você não o considera suficientemente importante para tirar tempo e preparar-se. O pior é que alguns pregadores ainda cometem um erro duplo ao dizerem: “Segundo os especialistas em oratória, não se deve pedir desculpas. Mas vou abrir uma exceção e pedir que os irmãos me perdoem...”. Além de cometer um erro grave, ainda informa ao auditório que o erro é premeditado. Pedir desculpas pode até fazer que o auditório tenha dó de você, mas não consegue a atenção dele. Pelo contrário, é um aviso ao auditório de que o sermão não vai prestar, porque não está preparado, e o que não se prepara não é bom. E um convite ao desvio de atenção imediato. Se você não está preparado, deixe que o auditório descubra por si mesmo. Se houver conteúdo, pode até ser que o ouvinte não fique sabendo do seu despreparo. Sensacionali$m o Alguns pregadores parecem sentir necessidade de referir-se às últimas manchetes dos jornais, ou a personalidades famosas como artistas de televisão e líderes políticos, a fim de tornar sensacional a mensagem. Isso não passa de uma tentativa de preencher um conteúdo vazio, e a pregação não precisa disso. As vezes dá a impressão de que o orador quer usar a fama de alguém para dar prestígio ao sermão ou para exibir o próprio prestígio. Lembre-se de que o prestígio do sermão vem da Bíblia.
  • 65. OAperitivo do Sermão Piadas O humor refinado é um excelente recurso na comunicação e pode ser usado com eficiência pelo pregador. Fatos bem- humorados a respeito do próprio pregador ou do auditório surtem bom resultado, mas esse humor deve ser equilibrado. O púlpito nunca deve ser usado para piadas ou anedotas, ou qualquer tipo de vulgaridade que comprometa o bom nível de um ambiente sagrado. Falsa hum ildade No passado, a falsa humildade era uma técnica da boa oratória. Silveira Bueno, por exemplo, cita como modelo de boa introdução um discurso de Coelho Neto que começa assim: “Mui piedosamente iniciaste a vossa obra de misericórdia, escolhendo- me para seu pregoeiro... Outros exporiam com mais eloqüência...”4 Isso fez muito sucesso, mas no tempo de Coelho Neto, hoje não. Infelizmente, alguns pregadores ainda estão nesse tempo e começam seus sermões dizendo: “Diante de tantas pessoas capazes, não sei por que fui o escolhido para falar” ou “eu, o mais humilde e sem preparo de todos os presentes...”. Hoje, esse tipo de colocação soa como pedantismo e falsidade. Portanto, seja humilde, mas não precisa anunciar isso. Quando a humildade realmente existe, ela aparece naturalmente. Se a humildade for anunciada é porque não existe. Jargões e expressões rotineiras Se quiser matar a introdução e perder toda a atenção do ouvinte, comece usando as mesmas frases surradas que todo mundo já usou um milhão de vezes. Veja alguns exemplos de frases destruidoras da atenção: “Não tenho palavras para expressar a minha satisfação...” —todo mundo sabe que não é verdade e que você está dizendo isso porque não tem palavras para expressar coisa nenhuma—; “sinto-me honrado em poder ocupar esse púlpito...” —mesmo que seja verdade, o povo já não acredita mais, porque
  • 66. Comunicação: 0 Veículo da Pregação todo mundo diz a mesma coisa, e o povo já percebeu que isso serve só para preencher espaço. Da mesma forma, evite ditados populares excessivamente comuns, que só causaram impacto na primeira vez que foram ditos. Por exemplo: “Quem não comunica se trumbica” ou “A união faz a força”, e assim por diante. D ogm atism o No momento em que você se posiciona, definindo sua opinião sobre um assunto polêmico, instantaneamente divide o auditório. Por isso, deve deixar a tomada de posição, se for necessária, para a conclusão do sermão ou discurso, depois de uma sólida argumentação que justifique sua posição. Na introdução, isso cria um clima desfavorável para a argumentação. Se, por exemplo, você vai mostrar o ponto de vista da igreja sobre o divórcio, não comece dizendo que a igreja é contra o divórcio. Introduza o assunto de maneira discreta, e depois argumente com equilíbrio, sem radicalismo, apresentando o princípio bíblico. A mesma coisa sobre aborto, jugo desigual, casamento com descrentes e assim por diante. TIPOS E FORMAS DE INTRODUÇÃO Existem basicamente dois tipos de introdução: a direta e a indireta. A direta é aquela que declara sem rodeios o objetivo do discurso ou do sermão. Aindireta é aquela que utiliza alguma ilustração ou outro recurso para servir de ponte para o tema a ser abordado.5 Analisemos alguns exemplos de introdução direta e de indireta. Tipos de introdução direta Introdução ousada O pregador entra diretamente na idéia central, sem prepa­ ração, mas com ousadia, de maneira que surpreende o auditório. É um tipo difícil de prender a atenção porque o assunto precisa ser m
  • 67. O Aperitivo do Sermão realmente interessante, ou ser dito de maneira interessante para poder causar impacto. Por exemplo, o pregador poderia começar assim: “Hoje vou falar sobre a doutrina mais importante da Bíblia’ . Essa afirmação causa impacto, porque desperta curiosidade imediata. Todo mundo fica querendo saber qual é a doutrina mais importante. Antes de dizer qual é a doutrina, ele pode começar a citar argumentos atraentes para provar que ela é realmente a doutrina mais importante. Certamente uma introdução assim serviria bem para um sermão sobre a doutrina da salvação. Introdução temática Essa já começa explicando a importância do tema. Para ficar interessante, não basta referir-se ao assunto, mas precisa usar frases de efeito para tornar o assunto atraente. Por exemplo, para um sermão sobre a honestidade, o pregador poderia introduzir assim: “A honestidade é a marca do cristão. É impossível ser cristão e desonesto ao mesmo tempo”. Isso pode soar como uma agressão ao auditório, e por isso mesmo vai chamar a atenção, mas o pregador tem de ser habilidoso para aliviar a tensão, talvez provando isso com argumentos atraentes. Introdução textual O pregador inicia direto com a leitura de um texto bíblico. Essa introdução parece não ser atraente, mas é bom lembrar que uma leitura bíblica bem feita, com boa voz e entonação, possui um elemento de poder por ser a Palavra de Deus e é respeitada como a voz de Deus. Essa leitura tem de ser seguida de um comentário interessante e diferente sobre o texto lido, para manter presa a atenção.6 Essa introdução também pode começar com uma citação, pensamento ou provérbio, mas é preciso que seja algo realmente interessante. SENUNM»0 CONCORD»* m
  • 68. Comunicação: O Veículo da Pregação Tipos de introdução indireta Introdução circunstancial Essa introdução se dirige às circunstâncias em que o sermão é proferido, como o local, as pessoas, ou a própria ocasião da reunião. Por exemplo: “Alguns anos atrás eu fazia parte deste auditório''. Essa é uma referência ao local e pode ser completada com possíveis comparações entre o momento atual e a época anterior. Um exemplo de referência à data ou à ocasião poderia ser: “Hoje comemora-se a independência do Brasil”. Essa afirmação pode ser completada com algum tipo de comparação entre a independência e o tema a ser apresentado. Uma referência direta às pessoas do auditório poderia vir em forma de pergunta: “Quantos aqui são alunos desta escola?” ou “quantos pertencem a esta igreja há mais de cinco anos?”. Em ambos os casos, um discreto elogio pode servir de transição para o tema. Introdução histórica Essa introdução poderia ser uma referência à época ou à região em que foi escrito o texto a ser usado. Difere da introdução textual pelo fato de a história vir antes do texto. É preciso ter cuidado porque temas hisíóricos tendem a ser meio cansativos. Para ficar interessante, deve haver elementos de comparação entre a história e o presente. Por exemplo: antes de falar das bodas de Caná, você pode contar como era o casamento na Palestina daquela época. Só que, para ficar interessante, procure inserir termos como marcha nupcial, véu e grinalda, etc., para estabelecer uma relação entre o passado e o presente, a fim de que o ouvinte não perca o interesse. Lembre-se de que o propósito supremo da introdução é conquistar o auditório, e para isso você precisa utilizar todos os recursos da comunicação. m